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A base dos relacionamentos sociais está no comportamento verbal, visto que “nenhuma consideração sobre comportamento humano estará completa se não incluir a atividade verbal do homem. Sendo a forma de comportamento mais elevada e valiosa; mais que nenhuma outra o distingue dos animais inferiores; e nela estão entesouradas a herança cultural da filosofia, da ciência, da arte e da tecnologia, e, a partir dela, efetua-se a transmissão desse conhecimento acumulado de geração a geração.” (Keller, Schoenfeld, 1950, p. 393). A linguagem permite que nós transformemos elementos externos em comportamentos privados (que seria a subjetividade humana), assim como proporciona que os comportamentos privados se tornem comportamentos públicos – a arte, por exemplo, é uma forma de fazer com que isso aconteça. Skinner, em seu primeiro livro, propôs a substituição do termo “linguagem” por “comportamento verbal”, pois considerava o primeiro inadequado, visto que, para ele, o segundo era mais preciso. Em sua concepção, “linguagem” limitava-se ao comportamento falado/vocal, enquanto “comportamento verbal” inclui todos os tipos de comunicação, tanto a fala, quanto a comunicação motora (libras, por exemplo), não importando se o produto criado for auditivo, gráfico (como na partitura musical), cinestésico (Braille) ou em movimento (como nos gestos corporais ou faciais). Tais como quaisquer outros comportamentos operantes, os verbais resultam da interação contínua entre o organismo e o ambiente. No caso, o ambiente é chamado de “ambiente verbal”, e inclui necessariamente o ouvinte, o que ocorre porque, mesmo que um indivíduo converse, caso seu comportamento não seja reforçado por alguém que ouça o que ele tem a dizer, é provável que seu ato de falar diminua ou entre em extinção neste contexto. A diferença entre comportamentos não verbais e verbais é que, enquanto os primeiros produzem consequências de um modo mecânico e direto, os segundos produzem consequências de um modo sociocultural (saber usar as palavras, por exemplo, é um comportamento que passou por aprendizagem por meio de uma mediação sociocultural) e indireto, ao afetarem um ouvinte (outra pessoa ou a própria) que, em seguida, por ser especialmente treinado como tal, intervém na relação entre o comportamento verbal e suas consequências, isto é, a partir do momento em que meu comportamento verbal afeta o ouvinte, esse “afetar” acontece segundo um treino existente que corresponde ao repertório de aprendizagem do outro sujeito, o qual permite a compreensão do que estou REFERÊNCIA: Aula do professor Claudson Santana. UNIFACS. Psicologia Analítico Comportamental. falando. É indireto porque, por exemplo, numa sala de aula, o aluno pode não participar diretamente da discussão da classe, mas, ao ouvir, pode aprender e conseguir uma boa nota na avaliação. O comportamento verbal é controlado por variáveis ambientais, dependendo da condição em que a resposta verbal ocorre (o contexto do estímulo discriminativo – apresentando um trabalho e numa “resenha” com os amigos, por exemplo, o repertório verbal utilizado é diferente); da própria resposta (a forma como um indivíduo fala, controla o seu comportamento verbal); e da consequência do responder (se dentro de determinado contexto, um sujeito conversa com alguém que não responde, a tendência é que o seu comportamento entre em extinção. Assim como não entre, caso a outra pessoa responda). No comportamento verbal de uma pessoa está incutido elementos que fazem parte de seu campo privado, pois, muitas vezes, a forma como se fala algo demonstra sentimentos/emoções. Por exemplo, se na apresentação de um trabalho determinado aluno fala muito rápido, é perceptível o seu nervosismo. Skinner denominou “operantes verbais” para descrever as diferentes unidades funcionais da linguagem, os quais são: ecóico; textual; cópia; ditado; intraverbal; audiência (operantes de primeira ordem); e autoclíticos (operantes de segunda ordem). Operantes de primeira ordem: podem ser divididos em dois subconjuntos: 1) aqueles cujo controle advém de uma relação formal entre a resposta e a condição antecedente, com ou sem similaridade entre formas, mas com correspondência entre suas partes, que Skinner denominou “ponto a ponto”; e 2) aqueles cujo controle advém de uma relação temática entre a resposta e a condição antecedente e, portanto, sem similaridade/correspondência, pois a resposta está sob um controle discriminativo específico. Nos operantes de primeira ordem, a correspondência é dada por uma relação pontual entre partes da resposta e do estímulo, possível pelo “meio” similar (por exemplo, se um professor pede para os alunos transcreverem a frase “estou na rua”, que seria o estímulo discriminativo, de forma literal, os alunos transcreverão exatamente o “estou na rua”, ou seja, frases similares). Essa correspondência é o ponto central do estudo da linguística estrutural (ela que nos ajuda a compreender a base da composição da palavra), em geral, é o que se busca nos processos de ensino-aprendizagem que definem a alfabetização, especificamente o operante domínio textual. Por exemplo, a professora vai ensinar as vogais e soletra “a, e, i, o, u” e os alunos repetem. Relação verbal Ecóica: uma resposta vocal é controlada por um estímulo antecedente verbal auditivo. Exemplo: uma criança dizer “mamãe” após a mãe dizer “mamãe”. É possível notar que partes REFERÊNCIA: Aula do professor Claudson Santana. UNIFACS. Psicologia Analítico Comportamental. da resposta e do estímulo antecedente mantém similaridade formal acústica e, portanto, correspondência ponto a ponto. “Ecóico” vem de “eco”. Relação verbal Ditado: uma resposta verbal motora-escrita é controlada pelo estímulo antecedente verbal-auditivo, produto do comportamento verbal-vocal de alguém. Por exemplo, um aluno escrever “casa” em seu caderno, após o professor ter dito “casa”. Relação verbal Cópia: o estímulo antecedente verbal (o produto do comportamento verbal motor- escrito prévio de alguém) é visual e a resposta verbal é motora-escrita. Por exemplo, escrever “lápis” diante dessa palavra escrita em uma lousa. Relação verbal Textual: o estímulo antecedente verbal é visual (também produto do comportamento verbal motor-escrito prévio de alguém) e a resposta verbal é vocal, a de ler (leitura decodificada) o estímulo. Por exemplo, dizer “lápis” após ler esta palavra em escrita em um livro. Relações verbais temáticas: o controle principal advém de uma relação temática entre a condição antecedente e a resposta verbal. A resposta está sob controle de estímulos verbais ou não verbais com funções discriminativas (evocativas ou seletivas) ou de operações de estímulo com funções motivacionais. Por exemplo, uma aula é uma relação verbal temática – o tema da aula desse assunto é “Psicologia Analítico Comportamental”, ou seja, o nome da disciplina. Nas relações temáticas tem outras categorias, as quais são: o mando, o tato e as relações intraverbais. Relação temática Tato: nesta, as respostas verbais, que podem ser vocais (fala) ou motoras (escrita ou gesto) são controladas por condições antecedentes não verbais com função discriminativa, podendo ser objetos, eventos (externos ou internos) ou propriedades desses objetos e eventos. Trata- se de relações entre o falante e o mundo não verbal: seu ambiente externo e interno (emoções), comportamentos e todas as suas propriedades (cor, forma etc.). Por exemplo, dizer “chuva” diante do fenômeno da natureza que se convencionou chamar assim. Nas temáticas não existe aquela relação ponta a ponta das relações anteriores. Relação temática Mando: envolve respostas vocais ou motoras controladas por antecedentes não verbais com função motivacional, a partir de estados de privação ou estimulação aversiva. Condições antecedentes estabelecem o valor reforçador da consequência a ser obtida(reforço positivo) ou eliminada (reforço negativo) pela mediação do ouvinte do Mando. Por exemplo, dizer “água, por favor”, após um período de privação, e diante de um ouvinte (com alta probabilidade de trazer um copo de água), é uma resposta de Mando. • A aprendizagem do Mando facilita muito a educação de crianças, pois, ao contrário do Tato, o Mando beneficia o falante ao informar o ouvinte o que se passa com ele (falante). REFERÊNCIA: Aula do professor Claudson Santana. UNIFACS. Psicologia Analítico Comportamental. • No operante Mando, as consequências são especificadas, diretamente ou não, pela resposta emitida. Um exemplo de Mando disfarçado pode ser “você se incomodaria se...?” ou “você pode me dar um copo de água?”. • O controle pode ser visto como temático: estar privado de água “serve de tema” para a emissão de operantes específicos. Relação temática Intraverbal: nesse operante, a relação de controle está entre cadeias de respostas verbais (vocais ou motoras) e estímulos verbais (vocais ou visuais) produzidos pelo comportamento de outra pessoa ou do próprio falante (na cadeia produzida pelo falante, respostas que precedem tem função de estímulos para as que se seguem, como na fala continuada). Dizer “tudo bem!” após a pergunta “como vai?” é um exemplo do operante intraverbal, assim como escrever ou dizer “quatro” diante da expressão dita ou escrita “quanto é dois mais dois?”. Existem três categorias para o modo como o controle temático-conceitual opera a relação: 1. Definição: é, por exemplo, aquilo que o leitor pensa falar sob o controle da pergunta “o que é Psicologia?”. 2. Exemplificação: é o pensar sob controle de “dê um exemplo de uma teoria psicológica”. 3. Identificação de exemplos: é o pensar sob controle de “dentre as seguintes alternativas – Watson, Descartes, Skinner –, responda qual é o autor monista”. Relações intraverbais são arbitrárias/não naturais (convencionais ou não), inicialmente mantidas por reforço generalizado-educacional que se mantém como generalizado-automático. Por exemplo, se você está em um local que a fila está enorme, você pode eventualmente comentar “nossa, parece que não vai chegar a minha vez” e, alguém, por educação, responder “aqui é sempre assim!”, o que, a partir dessa resposta, pode manter um diálogo cotidiano (mesmo que seja um desconhecido). Relação verbal temática Audiência: corresponde a um tipo de operante verbal diferente dos demais, por ser um grupo de respostas (vocais ou motoras) funcionalmente unificado. Advém de propriedades do ouvinte, que adquirem funções discriminativas evocativas desse grupo específico de respostas. Ouvintes selecionam tópicos ou temas (ou gestos) de conversas. Diferentes ouvintes controlam diferentes subgrupos de Audiências, a partir das suas funções discriminativas-seletivas, tanto do conteúdo quanto da maneira de apresentá-los aos ouvintes. Por exemplo, um debate ou uma roda de conversa de amigos que surge um tema em comum – a apresentação de sua opinião está sob o controle discriminativo do tema em comum que foi selecionado e das pessoas presentes. REFERÊNCIA: Aula do professor Claudson Santana. UNIFACS. Psicologia Analítico Comportamental.
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