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Seção 3 ESPELHO DE CORREÇÃO DIREITO CIVIL 2 Conforme demonstrado na situação-problema apresentada, após a proposição de Ação de Usucapião por Quinzinho Machado de Assis, a Sra. Maria Capitolina Santiago apresentou sua contestação, alegando matérias preliminares e, quanto ao mérito, a ausência de animus domini. Quando da proposição da mencionada ação, o autor requereu a concessão dos benefícios da gratuidade da justiça, os moldes dos arts. 98 a 102 c/c inciso LXXIV do art. 5º da CRFB, sendo que foi proferida decisão interlocutória que, além de receber a contestação apresentada, rejeitando as preliminares arguidas, indeferiu a gratuidade de justiça, sob o fundamento de que o autor trabalharia com agricultura, entendendo, assim, que este poderia arcar com as custas e demais despesas processuais. A fim de identificar a peça processual adequada para a defesa dos interesses de Quinzinho Machado de Assis, o aluno deve identificar que o pronunciamento realizado pelo magistrado se trata de decisão interlocutória, ou seja, decisão proferida durante o curso processual que não põe fim ao processo, nos termos do §2º do art. 202 do Código de Processo Civil. Com a correta identificação da espécie de pronunciamento, deve-se observar qual é o teor da decisão no que se refere aos pedidos de Quinzinho, ou seja, no que tange ao requerimento formulado por ele, houve o indeferimento do pedido de gratuidade de justiça. Tratando-se de decisão interlocutória que indefere pedido de gratuidade de justiça, o inciso V do art. 1.015 do Código de Processo Civil é claro ao impor o cabimento do Agravo de Instrumento. Antes de atacar diretamente a decisão, indispensável a observação do art. 1.016 e do art. 1.017 do Código de Processo Civil, posto que o primeiro traz os requisitos formais da peça processual, como a necessidade de constar da petição, especificamente: I - os nomes das partes; II - a exposição do fato e do direito; III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido; IV - o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo. O outro artigo, por sua Seção 3 DIREITO CIVIL Na prática! 3 vez, descreve a documentação que deve acompanhar a petição de Agravo, quais sejam: I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal; III - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis. Quanto ao teor da decisão agravada, em que pese Quinzinho ser agricultor, não há, no problema apresentado, qualquer indício de que ele possua condições financeiras aptas a afastar a presunção da hipossuficiência alegada. Nestes termos, estão decidindo os Tribunais: AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA. AGRICULTOR. MICROPRODUTOR. DECLARAÇÃO DE POBREZA. PRESUNÇÃO IURIS TANTUM. CONDIÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA. Sendo o autor agricultor, e inexistentes indícios de riqueza aptos a afastar a presunção de pobreza decorrente da declaração por ele acostada, o benefício da gratuidade judiciária pode ser obtido pela simples afirmação de que não está em condições de pagar as despesas processuais sem prejuízo de sua manutenção ou de sua família. (TRF-4 - AG: 50139989720204040000 5013998-97.2020.4.04.0000, Relator: JULIO GUILHERME BEREZOSKI SCHATTSCHNEIDER, Data de Julgamento: 16/09/2020, SEXTA TURMA) É importante que o Agravo seja fundamentado no art. 98 do Código de Processo Civil, apontando que toda pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios e, ainda, alegando que, quanto a pessoas naturais, há presunção de veracidade referente à alegada insuficiência de recursos. O aluno deve fundamentar ainda que a concessão da gratuidade de justiça é medida indispensável à garantia do acesso à justiça, frisando que, caso não seja concedido o benefício, o autor restará impossibilitado de buscar sua pretensão junto ao Judiciário, lembrando ainda que a Lei Federal nº 7.115, de 29 de agosto de 1983, dá presunção de veracidade às declarações de hipossuficiência. Por fim, deve ser requerido o conhecimento e o provimento do recurso, com a finalidade de reformar a decisão atacada, concedendo-se ao agravante os benefícios da gratuidade de justiça. 4 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) DESEMBARGADOR(A) PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO QUINZINHO MACHADO DE ASSIS, (nacionalidade), casado, agricultor, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o nº ..., e-mail ..., junto a CAROLINA MACHADO DE ASSIS (nacionalidade), casada, (profissão), inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas sob o nº ..., e-mail ..., ambos residentes e domiciliados na rua ..., sem número, Bairro Quincas Borba, zona rural do Rio de Janeiro/RJ, por meio de seu advogado regularmente constituído, e-mail ..., cuja qualificação e indicação do escritório constam na procuração anexa, a qual aponta o endereço para receber notificações e intimações, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento no inciso V do art. 1.015 do CPC, interpor AGRAVO DE INSTRUMENTO contra decisão interlocutória que negou o pedido de concessão dos benefícios da justiça gratuita do ora agravante, proferida pelo juízo da 3ª Vara de Registros Públicos da Comarca do Rio de Janeiro, nos autos da Ação de Usucapião Especial Rural, distribuído sob o nº..., em que pugna pela declaração da concessão do domínio útil de imóvel localizado no Bairro Quincas Borba, s/n, zona rural da cidade do Rio de Janeiro/RJ, pelas razões abaixo aduzidas. O agravante deixa de efetuar o preparo relativo ao presente Agravo, requerendo neste ato a concessão da gratuidade de justiça. Neste ato de interposição, o agravante junta a documentação obrigatória constante do inciso I do art. 1.017 do Código de Processo Civil, requerendo que o presente recurso seja recebido e distribuído, sendo-lhe dado efeito suspensivo e, ao final, seja a decisão do juízo a quo reformada, deferindo ao agravante os benefícios da justiça gratuita, previstos no art. 98 e seguintes do Código de Processo Civil. Nestes termos, pugna pelo deferimento. Rio de Janeiro, dia, mês e ano. Nome, assinatura, advogado e OAB. Questão de ordem! 5 RAZÕES DE AGRAVO Processo nº ... Origem: 3ª Vara de Registros Públicos da Comarca do Rio de Janeiro/RJ Agravante: QUINZINHO MACHADO DE ASSIS e GABRIELA EGRÉGIO TRIBUNAL, COLENDA CÂMARA A respeitável decisão interlocutória agravada merece integral reforma, posto que proferida em franco confronto com que determina o inciso LXXIV do art. 5º da Carta Magna e o art. 98 do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/15). Nos termos em que foi proferida, a r. Decisão Interlocutória consubstanciará para o agravante uma situação de flagrante e inaceitável injustiça, se não for de imediato objeto de reforma. DA SÍNTESE FÁTICA O ora agravante propôs Ação de Usucapião Especial Rural em face de Maria Capitolina Santiago, visando obter declaração da concessão do domínio útil de imóvel localizado no Bairro Quincas Borba, s/n, zona rural da cidade do Rio de Janeiro/RJ. A fim de garantir seu acesso à justiça, o autor, que não possui condições financeiras de arcar com custas e demais despesas processuais, pugnou pela concessão dos benefícios da gratuidade de justiça, o que foi prontamente indeferido pelo juízo de primeirograu. Inconformado com a decisão interlocutória proferida, que negou o acesso do agravante à justiça, não restou alternativas ao proponente senão a interposição do presente Agravo de Instrumento. DO REQUERIMENTO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA Ao tratarmos de gratuidade de justiça, é importante frisar que a Lei Federal nº 7.115/83, em seu art. 1º, foi enfática ao dar presunção de veracidade às declarações de hipossuficiência, in verbis: “Art. 1º - A declaração destinada a fazer prova de vida, residência, pobreza, dependência econômica, homonímia ou bons antecedentes, quando firmada pelo próprio interessado ou por procurador bastante, e sob as penas da Lei, presume-se verdadeira” (BRASIL, 1983, [s. p.]). 6 Ainda, o procedimento do agravante está em perfeita consonância com as devidas disposições legais, quando confrontado o seu requerimento junto aos documentos que disponibiliza no processo e as disposições do Código de Processo Civil, em especial do art. 98, que funciona tanto como regulamentação quanto dispositivo que pacifica o entendimento do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal, em relação ao requisito da comprovação de insuficiência de recursos. Não há na legislação pátria nenhum parâmetro que possa medir o nível de pobreza do cidadão e que determine quem deve receber o benefício e a quem ele deve ser negado. Em que pese o agravante, conforme exposto na exordial, ser agricultor, tal condição não demonstra a existência de recursos financeiros ou indícios de riqueza, pelo contrário, reforça a condição hipossuficiente dele, por se tratar de agricultura familiar. Os Tribunais já se manifestaram a este respeito, vejamos: AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA. AGRICULTOR. MICROPRODUTOR. DECLARAÇÃO DE POBREZA. PRESUNÇÃO IURIS TANTUM. CONDIÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA. Sendo o autor agricultor, e inexistentes indícios de riqueza aptos a afastar a presunção de pobreza decorrente da declaração por ele acostada, o benefício da gratuidade judiciária pode ser obtido pela simples afirmação de que não está em condições de pagar as despesas processuais sem prejuízo de sua manutenção ou de sua família. (TRF-4 - AG: 50139989720204040000 5013998-97.2020.4.04.0000, Relator: JULIO GUILHERME BEREZOSKI SCHATTSCHNEIDER, Data de Julgamento: 16/09/2020, SEXTA TURMA) AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. PESSOA FÍSICA. AGRICULTOR FAMILIAR. CABIMENTO. A comprovação da não entrega de declaração de imposto de renda, além da declaração de hipossuficiência de recursos financeiros, impõe a manutenção de presunção de pobreza, permitindo a concessão do benefício da Assistência Judiciária Gratuita pelo Julgador. RECURSO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70070344783, Vigésima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto Vescia Corssac, Julgado em 28/09/2016). (TJ-RS - AI: 70070344783 RS, Relator: Jorge Alberto Vescia Corssac, Data de Julgamento: 28/09/2016, Vigésima Quarta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 30/09/2016) Desta forma, verifica-se que a decisão do juízo é arbitrária, uma vez que a própria legislação atinente à matéria, bem como o pensamento uníssono da jurisprudência pátria, convergem para a orientação de que, para o deferimento do benefício da gratuidade de justiça, basta a simples afirmação da parte requerente. Desse modo, o Agravo deve ser provido para, reformando a r. decisão, deferir ao agravante o benefício pleiteado. 7 DO PEDIDO Realizados todos os apontamentos pertinentes em relação à r. decisão atacada, crédulo no aguçado senso de justiça deste Tribunal, requer o agravante: a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita nos termos do art. 98 e seguintes do Código de Processo Civil, por ser o agravante pobre da acepção jurídica do termo, não tendo condições de efetuar o preparo do presente Agravo sem prejuízo de seu próprio sustento. b) A reforma da decisão no que tange à negativa de concessão dos benefícios da justiça gratuita, posto que foram reunidas todas as condições necessárias. Nestes termos, pugna pelo deferimento. Rio de Janeiro, dia, mês e ano. Nome, assinatura, advogado e OAB. 1. Qual é a peça processual cabível em face de decisão que inadmite intervenção de terceiros? 2. Qual é o prazo para interposição de Embargos de Declaração? 3. No que importa a ausência de juntada de cópias do Agravo de Instrumento, devidamente acompanhado do comprovante de sua interposição e da relação de documentos que o instruíram, nos autos do processo principal, em se tratando de processo físico? 4. Qual é a peça processual cabível quando há intenção de atacar decisão interlocutória, cuja matéria não esteja no rol do art. 1.015? 5. Qual é a peça processual cabível em face de decisão que extingue o feito com base no inciso I do art. 485 do CPC? Resolução comentada 8 Referências BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 2 jun. 2021. BRASIL. Lei nº 7.115, de 29 de agosto de 1983. Dispõe sobre prova documental nos casos que indica e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7115.htm. Acesso em: 2 jun. 2021. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 2 jun. 2021. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7115.htm
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