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- -1 LINGUAGEM TRIDIMENSIONAL UNIDADE 2 - A MODELAGEM E SUAS POSSIBILIDADES TÉCNICAS Autoria: Mariana da Silva Buôgo - Revisão técnica: Luciara Bruno Garcia - -2 Introdução Nesta unidade, faremos um estudo da técnica da modelagem. Podemos nos questionar sobre as possibilidades na modelagem da argila, se esta modifica sua consistência e plasticidade pela manipulação do artista. Trataremos de elucidar tais questões pela compreensão dos tipos de argila existentes, dos métodos e das ferramentas utilizadas em seu manuseio. Esta técnica requer materiais maleáveis que geralmente são posicionados sobre estruturas de madeira, metal ou outra base rígida, o que lhes dará força e sustentabilidade. Algumas formas de expressão artística que fizeram uso da argila serão exemplificadas, tanto por povos antigos, como por artistas contemporâneos. Bons estudos! 2.1 Definição de modelagem A modelagem, segundo o dicionário Michaelis, é um “processo pelo qual o escultor obtém um modelo, geralmente em argila ou cera, que será posteriormente fundido; moldagem” (MICHAELIS, 2020, [ ]), ou seja,s.p. um objeto modelado em argila poderá ser utilizado como molde para reproduzi-lo sob outros materiais. Diz ainda que é “representação da forma tridimensional, concebendo-se zonas de luz e sombra, a fim de se obter efeito de relevo”. A arte da modelagem se define por um processo de trabalho realizado diretamente sobre um material suave e maleável. A argila é o mais usual, porém a cera também é utilizada. Diferentemente do esculpir, a modelagem trabalha sob um processo aditivo, em que se forma o objeto pela maleabilidade do material. É um processo artístico que garante uma certa liberdade ao artista, que é capaz de controlar a estrutura do objeto modelado, e, caso queira, pode amassar o material e reiniciar o processo de modelagem (MIDGLEY, 1982). A expressão artística das sociedades se deu utilizando os materiais de que dispunham em seu entorno; locais com grande oferta de madeira permitiam a realização de figuras em entalhes, por exemplo. A modelagem é uma técnica utilizada desde os primórdios da humanidade, isso porque a argila foi de fácil acesso aos povos, e de fácil utilização, pela pouca exigência de ferramentas específicas (ROCHA, 2013). 2.2 Argila Pelos milhares de anos de decomposição de rochas ocorre a formação de argilas, originadas pela ação da chuva em rochas minerais e dos ácidos da decomposição de vegetais. São constituídas de minerais tais como magnésio, ferro, alumínio, sódio, potássio, titânio, entre outros. São os minérios mais abundantes nos locais de onde são extraídas que conferem a característica de cada argila. A plasticidade de sua massa é sua característica principal para a arte da modelagem, porém esse aspecto pode ser perdido caso receba água em excesso ou se torne rígida após sua secagem (LIMA, 2009). A figura “Modelagem em argila” mostra essa característica de maleabilidade. - -3 Figura 1 - Modelagem em argila Fonte: DedMityay, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: a figura mostra uma pessoa modelando a argila com as duas mãos. A cerâmica é o objeto que foi forjado em argila e passou pelo processo de queima. Portanto, essa técnica teve início com o domínio do fogo por nossos ancestrais, que provavelmente as coziam próximo às fogueiras (SCHMITT, 2013). Classificam-se os diferentes tipos de argila pelas variações na forma de modelagem, secagem e queima, esta última podendo ocorrer entre 800°C e 1.700°C. A queima, ou cozedura, é o processo que transforma a argila em um material tão durável, resistente e impermeável (LIMA, 2009). Veja a seguir os tipos de argila, exemplificados por Rocha (2013). Argila vermelha A temperatura de cozedura varia de 800°C a 1.000°C. Como argila tem cor acinzentada e alto teor de ferro. Bastante plástica, funde-se facilmente ao ultrapassar a temperatura de cozedura. Pasta resultante: terracota. Argila branca A temperatura de cozedura varia de 1.050°C a 1.150°C. Como argila tem cor cinzento-clara, depois de cozida tem cor marfim-clara. Bastante plástica também. Pasta resultante: louça. Argila de Grés A temperatura de cozedura varia de 1.100°C a 1.300°C, considerada de alta temperatura. Como argila é cinzento- escura, depois de cozida tem cor marfim-rosada. Composta por argila refratária, quartzo, caulim e feldspato. Aumenta de volume se passar a temperatura de cozedura. Pasta resultante: grés. Argila de porcelana A temperatura de cozedura varia de 1.100°C a 1.300°C, considerada de alta temperatura. Como argila é cinzento- clara, depois de cozida é branca. Muito pura, composta por caulino, quartzo e feldspato, sem óxido de ferro. Muito plástica. Pasta resultante: porcelana. A argila é um material que pode favorecer ou desfavorecer alguns tipos de expressão artística. Souza (1992 apud Rocha, 2013) cita algumas vantagens e desvantagens de seu uso. Vantagens São fáceis de encontrar na natureza e baratas. Não apresentam qualquer toxicidade. Têm ótima plasticidade de trabalho. Podem ser recicladas. São resistentes após seu cozimento, inclusive à umidade. - -4 São resistentes após seu cozimento, inclusive à umidade. Desvantagens Cada tipo de argila tem sua própria temperatura de queima, que geralmente são bastante altas. Caso sua temperatura não seja adequada, as peças podem quebrar ou trincar. O pó de argila pode causar doenças pulmonares. É preciso cuidado ao manusear o material, pois é frágil. As peças ocupam bastante espaço. Se não passar pelo processo de cozedura ou de esmaltação, este material acumulará facilmente a água. Tem pouco valor agregado. 2.2.1 A argila e sua história Remete-se à Mesopotâmia, na região situada entre os rios Tigre e Eufrates, o berço das primeiras obras realizadas com argila, há cerca de 5.000 a 4.000 a.C. (ROCHA, 2013). Este marco inicial é, porém, pouco preciso, pois se refere aos achados arqueológicos, mas não exclui a possibilidade de outros povos anteriores terem também dominado essa técnica. Schmitt (2013, p. 498) faz um alerta sobre a atribuição de um nascimento para a técnica: A história da cerâmica não pode ser datada, apenas pode supor-se que ao perceber-se que a terra próxima às fogueiras endurecia, tenha-se começado um processo de experimentação de modelagem ou moldagem de objetos de argila e possivelmente tenha sido realizado pelas mulheres, por ser um processo doméstico. A cerâmica, como forma de expressão dos povos, se caracteriza por técnicas de fabricação e decoração que os identificam cultural e socialmente, ou seja, pela forma artística das esculturas em cerâmica é possível atribuí-las a certos povos e conhecer um pouco sobre a maneira como se organizavam socialmente. Pileggi (1958, p. 499) explica que a cerâmica retrata a conjuntura social e econômica de cada povo, suas pretensões, sua capacidade,“ seu gosto, sua inteligência”. A atribuição do nome “cerâmica” vem do grego kéramos, que justamente significa “terra queimada” (SCHMITT, 2013). Por volta do século III a.C, os gregos já modelavam as chamadas Tanagras, estatuetas de terracota de figuras humanas modeladas sob pressão. São conhecidas também as esculturas de terracota do exército chinês, encontradas no mausoléu do imperador Qin Shihuang (260 a.C - 210 a.C) próximo a atual Xi'an (província de CASO A argila ou o barro está presente em diversos relatos mitológicos e religiosos. Lima (2009) narra alguns deles, como na Bíblia, em que se diz que Deus criou o homem a partir do barro, dando-lhe vida por meio do sopro primordial. Na Mesopotâmia, os povos acreditam que o homem foi criado de barro e sangue. Há um mito entre os índios waura, do Alto Xingu, que avisa aos artesões que se deve ter cuidado ao extrair a argila para não acordar uma serpente que devoraria as pessoas. O mito jirato sobre uma Senhora da argila e louça de barro define o período de extrair o material da terra, sob pena de rachar os potes durante a queima, ou haver epidemias e mortes entre aquele povo. - -5 encontradas no mausoléu do imperador Qin Shihuang (260 a.C - 210 a.C)próximo a atual Xi'an (província de Shaanxi), China. Figura 2 - Mausoleum of the first Qin Emperor Fonte: nimsri, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: a figura apresenta esculturas de soldados do exército chinês, em cerâmica. São diversas imagens humanas em tamanho real dispostas em fileiras. Tanto os gregos, os chineses e os povos pré-colombianos nas Américas fabricavam figuras e utensílios em argila, modelados e decorados, muitas vezes pintados com cores não cerâmicas (MIDGLEY, 1982). Os povos pré-colombianos, aqueles anteriores à chegada de Cristóvão Colombo em 1492, deixaram um importante legado em arte cerâmica: povos como os maias, os astecas e os incas, entre tantos outros, modelaram figuras interessantes, com formas puras, motivos geométricos e corpos humanos estilizados, objetos muitas vezes ligados às crenças desses povos, ou simplesmente utilitários (ARTE, 2020). Um exemplo disso está na figura Seated F igure , que mostra um incensário de cerâmica de Censer (Incensario) origem maia encontrado na Guatemala e exposto no Museu Met, Nova York. - -6 Figura 3 - Seated figure censer (Incensario) Fonte: The Metropolitan Museum of Art, 2020. #PraCegoVer: a imagem mostra um incensário maia com figura antropomorfa, realizado em cerâmica. A figura está sentada de pernas cruzadas com símbolos circulares em torno de sua cabeça e segura em seu colo uma cabeça humana ou máscara. Com a busca pela arte cada vez mais naturalista no Renascimento, o uso de argila perde espaço, sendo utilizado como meio transitório para a criação de obras em outros materiais, como moldes para esculturas em metal, ou simplesmente como forma de estudos preliminares (MIDGLEY, 1982). Essa técnica de moldagem (uso da modelagem em argila como molde para um produto final) é utilizada ainda por artistas modernos, como Giacomo Manzu (1908-1991), e contemporâneos, como Roberto Lugo (1981-) e Yun Hee Lee (1987-). A figura “Vaso com autorretrato de Roberto Lugo” é um exemplo (ESTES, 2017). - -7 2.2.2 A cerâmica no Brasil No Brasil, os achados cerâmicos mais remotos remetem ao povo marajoara, foram encontrados em escavações arqueológicas na Ilha de Marajó, com artefatos de figuras antropomorfas, urnas funerárias e materiais utilitários (PILEGGI, 1958). Os vasos de uso doméstico eram mais simples, porém os cerimoniais ou urnas funerárias eram bastante ricos e com decoração elaborada, com duas ou mais cores, incisões e desenhos em relevo (PROENÇA, 2010). A figura é um exemplo de cerâmica no Brasil.Urna Funerária Marajoara VOCÊ O CONHECE? Alguns artistas contemporâneos têm usado a cerâmica como forma de expressão, na atualidade suas obras transcendem a forma utilitária e ritualística em peças realmente criativas. Vamos conhecer alguns? Aneta Regel (1976-), inglesa que cresceu na Polônia, produz esculturas inspiradas em figuras humanas e da natureza, representa estados de metamorfose e passagem do tempo; além da argila, muitas vezes utiliza rochas vulcânicas e feldspatos em sua obra. Yun Hee Lee (1987-), natural da Coreia do Sul, utiliza a cerâmica de maneira narrativa, com contos de fada e figuras expressivas e cenas fantásticas; utiliza porcelana e detalhes dourados. Roberto Lugo (1981-), dos Estados Unidos, transforma vasos cerâmicos em peças de ativismo, figuras políticas ou lendas do hip-hop. Andile Dyalvane (1978-), da África do Sul, também mescla o utilitário: vasos, lâmpadas e móveis com elementos naturais criando formas e cores inspiradas na tradição xhosa. Geng Xue (1983-), chinesa que trabalha com porcelana, cria esculturas figurativas e abstratas, que remetem a um elo entre tradições orientais e ocidentais. Por fim, Ramesh Mario Nithiyendran, nascido no Sri Lanka, desenvolve sua arte totêmica, com figuras selvagens e irreverentes feitas de cerâmica; investiga a conexão do corpo com o pós- humanismo. - -8 Figura 4 - Urna funerária marajoara Fonte: Museu Nacional/UFRJ, 2020. #PraCegoVer: a imagem mostra uma u rna funerária de cerâmica marajoara com pintura em cor vermelha sobre fundo branco. Apresenta decoração de figura humana e motivos geométricos. É do estado de Pernambuco que vieram dois ícones da cerâmica brasileira: Vitalino Pereira dos Santos (1909- 1963), o Mestre Vitalino; e Francisco de Paula de Almeida Brennand (1927-2019). Mestre Vitalino, filho de lavradores em Caruaru, fez sua arte retratando a cultura e o viver do povo sertanejo, seu cotidiano, os rituais e o VOCÊ QUER LER? Foi confeccionado em 2017 pelo Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, uma organização sem fins lucrativos, . Nele, está documentada a sabedoria dasO Livro da Argila mulheres wayana e aparai, povos estabelecidos hoje às margens do rio Paru de Leste, ao extremo norte do estado do Pará, nas Terras Indígenas Parque do Tumucumaque e Rio Paru D´Este. Há relatos do misticismo da arte cerâmica destes povos, suas técnicas e os diferentes artefatos e grafismos neles aplicados. Acesse o livro pelo site: https://www.institutoiepe.org.br/infoteca/livros/ - -9 lavradores em Caruaru, fez sua arte retratando a cultura e o viver do povo sertanejo, seu cotidiano, os rituais e o imaginário da população do sertão nordestino brasileiro. A casa onde viveu hoje abriga a Casa Museu Mestre Vitalino, onde acontecem oficinas de cerâmica (MORAES, 2012). A figura Peças na Casa Museu Mestre Vitalino, mostra algumas de suas obras.Caruaru Figura 5 - Peças na Casa Museu Mestre Vitalino, Caruaru Fonte: Marcio Jose Bastos Silva, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: a imagem traz esculturas em cerâmica de Mestre Vitalino. As figuras representam homens sertanejos com vestimentas tradicionais, tocando instrumentos de percussão e sanfona. Brennand foi pintor e escultor, com toda uma vida dedicada à arte. Suas obras nasciam geralmente no bidimensional, em forma de desenho ou pintura, para então serem modeladas em barro. Seus temas são geralmente vinculados à natureza: fruto, pássaro, ovo, corpo, entre outros. Tem um acervo de obras pictóricas, no qual há repetição do tema utilizado nos dois meios. É uma obra mística, por vezes sensual e bastante figurativa. Muitas vezes retrata o feminino, a reprodução, a fertilidade e a sexualidade. Há também elementos orgânicos: pássaros, répteis, frutos e peixes. Suas esculturas têm bases, em algumas há um elemento de repetição: a figura que dá forma à obra se repete na base, em menor escala. Em Recife, é possível conhecer a Oficina Brennand, um grande museu ao ar livre com suas obras (ROCHA, 2013; LIMA, 2009). - -10 Figura 6 - Oficina Brennand, Recife Fonte: Marcio Jose Bastos Silva, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: a figura mostra o ateliê de Francisco Brennand, no Recife. Trata-se de um grande espaço com telhado e diversas esculturas expostas. Há vários pórticos na lateral esquerda da imagem. 2.3 Métodos de modelagem Para iniciar qualquer trabalho em argila, é necessário inicialmente prepará-la. Para garantir que toda a massa de argila tenha uma mesma consistência, é necessário amassar e mesclar a argila úmida. É possível amassá-la como se sova um pão, ou cortar a argila, colocando um pedaço sobre o outro, e voltando a golpear da mesma forma, processo este repetido por várias vezes. A preparação faz-se necessária para eliminar pedaços de outros materiais, observar inconsistências no material e eliminar as bolhas de ar. Caso a argila esteja um pouco dura, é viável cobri-la com água em um balde por um ou dois dias, para então deixá-la secar e ser possível então modelar a massa (MIDGLEY, 1982). 2.3.1 Modelagem à mão A modelagem à mão é a mais rudimentar das técnicas em argila, e a mais simples. As peças são confeccionadas utilizando somente as mãos ou ferramentas simples. Nessa técnica, as peças podem ficar irregulares, o que pode resultar em quebras das peças. Partindo de uma esfera de argila, é possível fabricar uma pequena vasilha. No centro da bola insere-se um dedo e aperta-se, a reentrância formada é então trabalhada com os dedos até afinar as paredes no tamanho e forma desejados(MIDGLEY, 1982). Com esse método, muitos povos criaram seus utensílios, a técnica porém evoluiu para o uso do rolo, com o qual há um maior controle na espessura e forma de VOCÊ SABIA? É importante bater e amassar a argila para remover as bolhas de ar, caso contrário, elas farão com que a peça se quebre durante a secagem ou exploda durante a queima. Depois de preparar o barro, o que não for utilizado deve ser embalado para trabalhos futuros. Ao fazer peças, mantenha sempre a mesma umidade da argila. No processo de execução do trabalho, sempre embrulhe o objeto de argila em um saco plástico e em um pano levemente úmido. - -11 utensílios, a técnica porém evoluiu para o uso do rolo, com o qual há um maior controle na espessura e forma de peça. Veja os passos da técnica do rolo. Primeiro, enrolam-se pedaços em tamanhos iguais, e então se fabricam os rolos de argila utilizando as palmas das mãos. Depois, em uma superfície lisa, corta-se uma base circular. Ou, ainda, pode-se construí-la a partir de um rolo aplainado em espiral. Sobre a base, coloca-se um rolo por vez. Para dar aderência, pode-se fazer ranhuras e utilizar a barbotina. Pode ir aumentando ou reduzindo o diâmetro da obra conforme a forma desejada. Quando pronta, fazem-se ranhuras com uma espátula para unir os rolos entre si e com a base. Siga trabalhando a superfície conforme desejar. Em algumas peças de cerâmica indígenas, podemos admirar o uso dessa técnica. Na cerâmica guarani, é possível observar peças que não recebem um alisamento final, por espátula ou outra ferramenta que dê esse efeito aplainado. Decorações na parte externa, como pequenas incisões, cumprem o papel de dar fixação à obra. A seguir, algumas sugestões de ferramentas para iniciar seus trabalhos em modelagem. Placa de madeira (para a base das peças), de preferência madeira naval. Pedaço de lona ou plástico para isolar a argila da superfície (ajuda na hora de retirar a peça da base). Garrote, usado para cortar a argila, feito de fio de metal ou nylon. Estecas (são ferramentas usadas para modelar, esculpir e dar acabamento nas peças). Rolo de madeira (para produzir placas de argila lisas, semelhantes aos rolos de pão). Espátula, ferramenta essencial que pode ser usada para cortar tiras de placas de argila e suavizar a superfície dos detritos. É fabricada em ferro triangular ou chapa de aço, com ponta e fácil de manusear. Recomenda-se selecionar várias arestas com 2,3 cm ou 5 cm ou mais, dependendo do tamanho da superfície a ser processada. Teques de arame, usados para cavar ou esvaziar blocos sólidos, ou seja, para extrair excesso de argila e suavizar a superfície. Eles têm formas diferentes, mas basicamente consistem em cabos de madeira ou plástico e ganchos de metal nas duas extremidades. Confira a figura “Exemplos de ferramentas para modelar argila”. VOCÊ SABIA? Barbotina consiste em um pedaço de argila misturada com água, resultando em um creme consistente. É empregada para fixar pedaços de argila na peça, ou para fazer pequenos reparos. - -12 Figura 7 - Exemplos de ferramentas para modelar argila Fonte: Kateryna Omelianchenko, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: na figura aparecem teques de arame, as feramentas com aremas nas extremidades, e estecas de diferentes formas, ferramentas constituídas por pedaços de madeira. Para confeccionar peças maiores, ou peças que terão bases mais leves em sua forma, existem algumas técnicas para facilitar sua construção. Uma delas é a armadura. Essa técnica se constitui na construção de uma estrutura preliminar que dará suporte à peça, como um esqueleto. Ainda, para dar suporte a este esqueleto, pode-se usar outra estrutura que a mantenha em pé, como blocos de ferro ou madeira. Com a estrutura pronta, a modelagem é manual, podendo-se usar blocos ou pedaços de argila e barbotina para dar adesão (MIDGLEY, 1982). Outra maneira é construir um oco nas peças maiores para, além de diminuir o peso, reduzir as possibilidades de algo dar errado na queima. A peça pode ser trabalhada utilizando-se uma estrutura de madeira, e para dar volume a ela utiliza-se papel de jornal. A peça é então moldada sobre essa estrutura. Depois de pronta, é preciso esperar que ela seque um pouco para que não fique tão maleável ao corte, que deverá se estender por toda a peça. Esse corte é feito para que se organize a parte interna da peça, para que a espessura de toda ela seja bem semelhante. Depois de pronto, unem-se novamente as partes, usando as técnicas de ranhuras e de barbotina. Dependendo da peça, é possível modelar sem a estrutura interna, fazendo a ocagem da mesma forma, ou seja, retirando os excessos da parte interna até as paredes terem espessuras parecidas (MIDGLEY, 1982). VAMOS PRATICAR? Que tal confeccionar suas próprias ferramentas para trabalhar com argila? Você pode utilizar pedaços de madeira ou bambu para o cabo; grampos de cabelo, arames ou pregos para as estecas e teques de arame, e uni-los com uma massa epóxi. Compartilhe seus resultados com os colegas. - -13 2.3.2 Técnica da placa Nesta técnica, utilizamos o rolo de madeira para esticar a argila e dois suportes, um para cada lado, que darão a espessura da placa. Estique a argila até atingir a espessura das ripas laterais. Espere secar um pouco para continuar com o corte da placa. Para um corte bem rente, pode-se usar o garrote. A figura “Técnica da placa” ilustra esse método. Figura 8 - Técnica da placa Fonte: Roman Bobyr, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: na imagem, é demonstrada a técnica da placa, com duas ripas nas laterais e a argila ao centro sendo espalhada por um rolo de madeira. VOCÊ QUER VER? Para trabalhar com argila, é necessária uma certa dedicação, desde a preparação do próprio material, das estruturas quando necessárias e também de alguns estudos da forma final. Neste vídeo, vemos o processo criativo de José Maria Ruiz Montes, escultor, durante a construção da obra da Nossa Senhora Puríssima Madre del Buen Camino, em Gamarra, Málaga. Observe o processo de construção da forma, o trabalho das superfícies, a junção das partes e a utilização das estruturas de sustentação. Inspire-se: https://www.youtube.com/watch?v=pYPcJN8ws60 - -14 2.3.3 Técnica do torno Ao que se sabe, os primeiros tornos para criação de peças simétricas foram criados na Mesopotâmia, há cerca de 3.600 anos a.C. A peça que será criada no torno terá sempre uma forma simétrica, que se dará pelo eixo de rotação do bloco de argila disposto no centro da ferramenta, e o oleiro, aquele que produz cerâmica, é quem dará esse formato, dependendo da disposição de sua mão sobre a massa de argila (LIMA, 2009). As ferramentas utilizadas nessa técnica são. Torno Instrumento composto por uma placa que gira a uma velocidade variável, pode ser manual ou elétrico. Palheta ou espátula Ferramenta usada para afinar a superfície, suas diferentes formas causam efeitos diferentes na peça. Garrote Usada para cortar argila e separar peças do torno. Para a técnica do torno, devem-se seguir as seguintes etapas. Encaixar a roda sobre o disco do torno, movimentá-lo umedecendo suavemente o disco, depois pará-lo. Separar um pedaço de argila e posicioná-lo sobre o centro do disco giratório do torno. Colocar novamente o disco em movimento e, com as mãos bem molhadas, segurar o pedaço de argila, primeiro de maneira leve, sentindo sua consistência e textura. Depois se inicia o processo de modelagem, pressione a argila para baixo, criando sua base, e então deslize a massa entre as mãos, pressionando com suavidade até obter a forma. Confira uma ilustração do processo na figura “Trabalho em torno, utilizando uma espátula”. VAMOS PRATICAR? Você pode usar essa técnica para criar uma peça em cubo ou pirâmide. Faça um estudo preliminar, pode esboçar e mensurar em um papel, para em seguida recortar as chapas de argila. Uma dica é acrescentar texturas a essa peça. Você pode fazer leves incisões com as ferramentas que fabricou, ou ainda buscar objetos que tenham texturas interessantes, como um sapato, uma toalha de crochê(fica uma textura rendada muito bonita), objetos da natureza, como folhas, pedras, enfim, o que sua criatividade lhe aprouver. Outra técnica de decoração muito antiga é o engobe, que consiste em uma camada de barro colorido aplicada na superfície da peça, usada para mudar a cor ou apenas decorá-la. Compartilhe os seus achados e sua peça com seus colegas. - -15 Figura 9 - Trabalho em torno, utilizando uma espátula Fonte: Dalibar Co, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: a imagem mostra as mãos de uma oleira trabalhando em torno, utilizando uma espátula. 2.3.4 Moldagem A argila, como vimos, pode ser usada como um meio transitório para a construção de uma obra, sendo usada como um molde para outro material fim. Por exemplo: como no caso de metal fundido ou para reprodutibilidade da peça em cerâmica. A figura é modelada em argila, tira-se o molde em gesso. Há diferentes formas de trabalhar com a argila nessa técnica: o molde perdido, com o qual só é possível a realização de uma peça, pois acontece a quebra do molde ao final; pelo molde prensado, no qual a argila é assim pressionada sobre o molde até formar a peça, usam-se placas ou tiras do material (bastante utilizado para pratos ou meias esferas); e, ainda, o molde colado, no qual a argila em forma líquida, a barbotina, é despejada dentro do molde (feito em várias partes e amarrado), após a secagem, é aberto o molde para a retirada da peça (LIMA, 2009). 2.3.5 Queima ou cozedura A queima da argila, e sua consequente transformação em cerâmica, é necessária para alterar certas características físicas que garantem sua durabilidade e impermeabilidade. Veja os processos ocorridos durante a queima de uma peça, segundo Fiennes (1987). • Eliminação da umidade Antes de ir ao forno, é necessário que a peça seque ao ar livre, isso para que ao atingir 100°C no forno as peças não estourem pela expansão da água em evaporação. • Eliminação da água química Além da água que é eliminada pela secagem, a argila é composta de duas moléculas de água para duas de sílica e uma de alumina. Em 350°C as reações eliminarão essa água química, porém cuidado, essa água poderá fazer a peça explodir caso se ultrapassem 100°C/hora. • Inversão da sílica É uma alteração na estrutura cristalina, ocorrendo um aumento de volume. Acontece a 573°C e é nesse momento que podem ocorrer algumas rachaduras na peça. • • • - -16 É aconselhável que os fornos tenham indicadores de temperatura. Em grande parte das peças cerâmicas são feitas várias queimas. A primeira cozedura é o que chamamos de biscoito, com a temperatura geralmente entre 800-900°C, uma temperatura mais baixa que a da segunda queima. Na segunda, com a temperatura mais alta, é necessário grande atenção para que as peças não se toquem e acabem se fundindo. Observar a disposição das peças para que o calor se distribua por igual (MIDGLEY, 1982). Fiennes (1987) explica como deve ser feita a queima e quais são os cuidados a serem tomados. 1 ª h o r a (temperatura de 70°C) Secagem complementar. As peças devem estar secas. 2 ª h o r a (temperatura de 100°C) Evaporação da água. Se possível, deixar a porta do forno entreaberta. 100°C/hora (temperaturas de 100°C até 600°C) Eliminação da água química – se puder, manter a porta entreaberta até atingir 300°C; e inversão da sílica. Cerca de 150° C/hora (600° C a t é temperatura final) Queima, a elevação da temperatura dependerá do carregamento, da temperatura final e do tipo de forno. 3 0 – 5 0 minutos (temperatura final) Patamar final, temperatura uniformizada. Finalização Desligar o forno até temperatura ambiente. A temperatura final da queima e o forno utilizado podem interferir na cor e na textura da peça, mesmo sem qualquer revestimento cerâmico. A argila mais utilizada, a terracota, quando queimada a 1.000°C fica alaranjada, característica dos tijolos e telhas das residências, em 1.200°C torna-se rubra, parecendo ferrugem, apresentando já alguns sinais de deformação. 2.3.6 Pintura e esmaltação Esta é uma etapa por que nem todas as peças passarão, porém quando existe esse tratamento geralmente é aplicado após o biscoito. Lima (2009) explica que as substâncias que formam os esmaltes entram em fusão sob altas temperaturas, o que forma uma camada vítrea que adere à peça. Esses elementos garantem características diversas de acabamento, tais como brilho, opacidade, transparência, textura e temperatura de maturação, que pode variar em baixa, média e alta. Os diferentes óxidos metálicos empregados aos esmaltes cerâmicos é que garantirão as cores diferentes; para citar alguns, temos cobalto (azul), cobre (verde), manganês (violeta) e ferro (bege). Sobre as maneiras de aplicar a pintura e esmaltação, Lima (2009, p. 142-143) coloca que: - -17 Existem diferentes maneiras de se aplicar o esmalte: por imersão da peça em um recipiente que o contenha, derramando-o sobre a peça e escorrendo o seu excesso, por pulverização ou ainda com o uso de pincel. O esmalte, se aplicado em excesso sobre a superfície da peça, pode escorrer ou rachar- se e, se aplicado de modo que forme uma camada muito fina, não vitrificará. Só depois da secagem do esmalte ou pintura é que se dará a finalização do processo de queima. O escultor Brennand manipulava argilas de diferentes jazidas, provenientes principalmente do Piauí (Oeiras), da Paraíba (Junco) e de Pernambuco (Buíque e Cabo). Para o colorido de suas peças, empregou variados tipos de esmaltes e muitas de suas peças dão a ilusão de acabamentos em metal, chumbo e bronze (LIMA, 2009). Conclusão Chegamos ao fim da unidade. Aqui, estudamos a modelagem e os diversos tipos e técnicas de argila, e conhecemos também alguns artistas importantes da linguagem tridimensional. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • definir modelagem; • conhecer a argila e os diversos tipos; • aprender técnicas de modelagem. Bibliografia ARTE pré-colombiana. : ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: ,In Itaú Cultural 2020. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo907/arte-pre-colombiana. Acesso em: 13 jul. 2020. Verbete da Enciclopédia BRENNAND, F. . Recife, 2020. Disponível em: . Acesso em: 5Oficina Brennand https://www.brennand.com.br/ ago. 2020. ESTES 7 artistas estão moldando o futuro da cerâmica. , [s. l.], 24 fev. 2017. Disponível em:Arte | ref https://arteref.com/escultura/estes-7-artistas-estao-moldando-o-futuro-da-ceramica/. Acesso em: 14 jul. 2020. FIENNES, J. : Arte da Terra. São Paulo: Editora Callis, 1987.Cerâmica LIMA, C. da C. : aspectos da construção de uma obra em escultura cerâmica [online]. SãoFrancisco Brennand Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks /jvjh7/pdf/lima-9788579830402.pdf. Acesso em: 20 jul. 2020. MAUSOLEUM of the first Qin Emperor. China, [ca. 210 a.C.]. Esculturas, terracota. Unesco. Disponível em: . Acesso em: 4 ago. 2020.https://whc.unesco.org/en/list/441/ MICHAELIS. Modelagem. . [2020]. Disponível em: Portal Michaelis Dicionário da Língua Portuguesa . Acesso em: 14 jul.https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/modelagem/ 2020. Verbete do dicionário. MORAES, R. E. de. : estudos do uso da argila na arte-educação. 2012. MonografiaA poética da escultura (Licenciatura em Artes Plásticas) – Universidade de Brasília, Brasília, 2012. MIDGLEY, B. : Técnicas y Materiales. Madrid: HermanGuia completa de Escultura, Modelado y Cerâmica Blume, 1982. PILEGGI, A. . São Paulo: Livraria Martins, 1958.Cerâmica no Brasil e no Mundo PROCESSO creativo de NTRA. Purísima Madre del Buen Camino, Gamarra, Málaga. Canal do YouTube de José • • •
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