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UNIVERSIDADE PAULISTA-UNIP CURSO BACHAREL EM ENFERMAGEM FRANCISCA MAURICIANA DE SOUZA TIPOS DE ANEMIA PETROLINA-PE 2019 UNIVERSIDADE PAULISTA-UNIP TIPOS DE ANEMIA PETROLINA-PE 2019 Trabalho referente aos tipos de anemia do Curso de Bacharel em Enfermagem, do 3º Período da Universidade Paulista, da Disciplina Bases Diagnósticas. Docente: Luzineide Barbosa Aluna: Francisca Mauriciana De Souza SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 04 2 TIPOS DE ANEMIA 06 ANEMIA HEMOLITICA 06 ANEMIA MEGALOBLASTICA 07 ANEMIA PERNICIOSA 09 ANEMIA FERROPÉNIA 10 ANEMIA SIDEROBLASTICA 11 ANEMIA DE DOENÇAS CRONICAS 12 ANEMIA MACROCÍTICA 14 ANEMIA FERROPRIVA 15 ANEMIA MICROCÍTICA 17 ANEMIA FALCIFORME 18 ANEMIA HEMOLITICA AUTOIMUNE 21 3 CONCLUSÃO 23 4 REFERÊNCIAS BIBIOGRAFICAS 24 4 1 INTRODUÇÃO A anemia é uma das várias patologias sistêmicas que têm manifestações orais e outras implicações em Medicina Dentária. Esta é uma disfunção hematológica que resulta de uma diminuição no nível normal da hemoglobina (Hb) circulante (DEROSSI & RAGHAVENDRA, 2003), sendo definida por níveis de Hb abaixo de 13,5g/dl nos homens e abaixo de 12 g/dl nas mulheres, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (BALDUCCI, 2010). A Hb normal consiste numa molécula constituída por um grupo heme que contém ferro, e por quatro cadeias de globina (duas cadeias alfa e duas cadeias beta) (MUNCIE & CAMPBELL, 2009). Na medida em que estes valores são apenas concentrações e não medidas absolutas, devem ser considerados com atenção, e sempre no contexto do volume dos fluidos corporais, já que a sub-hidratação ou sobre-hidratação podem afetar os valores da concentração de Hb. Por outro lado, fatores como idade, gravidez, altitude, hábitos tabágicos e etnia, influenciam a concentração da Hb (HOLCOMB, 2005). Apesar de a anemia ser reconhecida como um problema de saúde pública desde há muitos anos, existe apenas um pequeno progresso no que diz respeito à sua melhoria, e, portanto a prevalência da mesma permanece bastante alta. Estima-se que mais de 3 mil milhões de pessoas no mundo são anêmicas, a maioria das quais nos países em desenvolvimento da África e Ásia (JAMIL et al., 2008). Este fato deve-se à grande incidência de hemoglobinopatias, infecções e deficiências nutricionais nestas regiões (HOLCOMB, 2005). A incidência e a prevalência da anemia aumentam com a idade. As mulheres têm maior tendência a terem anemia do que os homens (durante os anos reprodutivos), devido à menstruação. No entanto, a maioria dos estudos relata que depois dos 65 anos a anemia é mais comum nos homens do que nas mulheres (HOLCOMB, 2005; BALDUCCI, 2010). A anemia pode ser caracterizada por alterações na quantidade ou características da Hb presente nos eritrócitos, ou por alterações no tamanho dos eritrócitos circulantes. Uma ampla variedade de fatores pode causar anemia, incluindo doenças hereditárias, deficiências nutricionais (deficiência em ferro, vitamina B12 e ácido fólico, por exemplo), hemorragia, infecções, doenças crônicas e neoplasias. A anemia pode também ter origem imunológica, idiopática ou exógena (com por exemplo por uso de medicação ou de produtos químicos). A nível mundial, o tipo de anemia mais comum é a ferropénica (anemia por deficiência em ferro) (HOLCOMB, 2005). 5 A correção e a prevenção da anemia podem ajudar na esperança média de vida. Ao causar hipóxia, a anemia limita a energia disponível para a atividade celular e para a síntese de novas proteínas. A falta de atividade celular causa redução na síntese proteica, o que induz imunossupressão, aumentando assim a susceptibilidade para o aparecimento de infecções. Por outro lado, indivíduos com anemia, especialmente idosos, têm maior risco de morte por doença coronária e de virem a sofrer de demência (BALDUCCI, 2010). A anemia é uma patologia na maioria dos casos assintomática, sendo apenas descoberta geralmente em análises sanguíneas de rotina (HOLCOMB, 2005). No entanto, muitos tipos de anemia têm algumas causas, tratamentos e sintomatologia diferenciada, importante conhecermos suas praticas clinicas. 6 2 TIPOS DE ANEMIA ANEMIA HEMOLITICA DEFINIÇÃO As Anemias Hemolíticas constituem um grupo de doenças com maior frequência congênitas, ou adquiridas, e clinicamente variadas. A base fundamental dessas anemias consiste numa redução do tempo de sobrevida das hemácias (VIEIRA; LIMA; PETILIK, 1999). A destruição dos eritrócitos em geral ocorre depois de uma sobrevida média de 120 dias, quando as células são removidas extra vascularmente pelos macrófagos do sistema Retículo Endotelial (RE), em especial na medula óssea, mas também no fígado e no baço. A hemólise intravascular, onde ocorre ruptura dos eritrócitos dentro dos vasos sanguíneos, desempenha pequeno ou nenhum papel na destruição normal dos eritrócitos (HOFFBRAND, 2004). Quando há diminuição da sobrevida eritroide, diz-se haver hemólise. A redução desta sobrevida média é consequência direta do aumento da quantidade de hemácias destruídas diariamente. A hemólise será compensada enquanto a hiper-regeneração medular reacional, que consegue multiplicar a eritropoese até 6 a 8 vezes, mantiver as cifras hematimétricas dentro do normal. Se a sobrevida diminuir aquém da capacidade máxima de reposição, haverá anemia hemolítica. Com esses mecanismos de compensação, hiperplasia eritropoética e expansão da medula óssea, a anemia hemolítica pode não ser observada até que a sobrevida eritrocitária seja inferior a 30 dias. Nas anemias hemolíticas, além dos sinais e sintomas gerais das anemias, costuma haver icterícia e esplenomegalia (FAILACE E COL, 2009; ZAGO, 2004). SINTOMAS A apresentação clínica dos pacientes com AH é variável e depende do mecanismo fisiopatológico subjacente, desde sintomas inerentes a qualquer tipo de anemia como fadiga, taquicardia ou dispneia até sinais mais específicos de hemólise como a icterícia, alteração da cor de urina, esplenomegália ou hepatomegália (PACKMAN CH., 2015; AUTOIMMUNE HEMOLYTIC ANEMIA 2013). A gravidade da anemia depende da intensidade e velocidade do processo hemolítico, bem como da resposta medular consequente. Assim, o quadro clínico pode variar desde assintomático a rapidamente fatal, podendo estar associado a enfarte agudo do miocárdio tipo 2 e insuficiência cardíaca. A hemólise inerente leva a alterações laboratoriais que apoiam a 7 suspeita clínica por parte do médico (AUTOIMMUNE HEMOLYTIC ANEMIA 2013; PARK S. 2016). CAUSAS É uma patologia que pode resultar de múltiplas causas e a apresentação clínica é variável de acordo com a etiologia. A AH pode ser classificada em hereditária ou adquirida, aguda ou crônica e, de acordo com o local predominante de hemólise, em intracorpuscular ou extracorpuscular e intravascular ou extravascular (STANLEY LS. 2016). A maioria das AH hereditárias resulta de defeitos intracorpusculares como as hemoglobinopatias, enzimopatias ou defeitos na membrana do eritrócito. As AH de causa adquirida estão frequentemente associadas a causas extracorpusculares, como é o caso de fenômenos autoimunes, infecções, toxicidade a químicos/fármacos, hiperesplenismo e destruição mecânica. A anemia hemolítica autoimune, pode ser subdividida de acordo com a etiologia de base: idiopática/ primária ou secundária a infecções, processos linfoproliferativos, doenças autoimunes, neoplasias ou fármacos (MURAHOVSCHI AC, COSTA A., 2013; ZEERLEDER S. 2011). TRATAMENTO O tratamento consiste nasuspensão do agente etiológico do episódio de hemólise, nomeadamente fármacos ou favas. Na eventualidade de ter sido uma infecção a precipitar o episódio hemolítico, deve tratar-se a mesma. Os doentes devem ser aconselhados sobre os fármacos e alimentos a evitar por poderem precipitar um episódio de anemia hemolítica aguda (ROBERTS-HAREWOOD M, 2009). O suporte transfunsional pode estar indicado quando a anemia é grave e sintomática (GREGG XT, PRCHAL JT., 2009). ANEMIA MEGALOBLASTICA DEFINIÇÃO As anemias megaloblásticas são ocasionadas por inúmeros defeitos na síntese do DNA ocasionando, assim, um conjunto comum de anormalidades hematológicas do sangue periférico e da medula óssea. Para a síntese normal do DNA e da hematopoese, são necessárias duas vitaminas: a Vitamina 9, conhecida como Ácido Fólico, e a Vitamina B12, 8 conhecida como Cobalamina. Quando há alguma deficiência de um destes fatores, as hemácias não conseguem produzir DNA, prejudicando a maturação nuclear (a hemácia em formação possui núcleo) (OLIVEIRA, 2009). SINTOMAS As manifestações clínicas dessa deficiência são polimórficas, variando de estados mais suaves até condições severas. Essa desordem, classificada como anemia megaloblástica, está associada a sintomas neurológicos com frequente aparecimento da tríade: fraqueza, glossite e parestesias. Alguns achados em lâminas são a presença de macro-ovalócitos, neutrófilos hipersegmentados, além de plaquetopenia. No estudo da medula óssea, a hipercelularidade na medula apresenta maturação anormal, relatam Paniz et al. (2005). Os sintomas, como cansaço e palidez acentuada, são características dos efeitos fisiopatológicos da anemia megaloblástica, assim como língua lisa e careca, ardor lingual, sensações parestésicas em membros inferiores e mãos (neuropatia periférica), dificuldade para locomoção, perturbações esfincterianas, hipo ou hiperflexia e perturbação mental mais ou menos acentuada (alucinações ou demência). Os sintomas neurológicos são decorrentes da degeneração dos cordões laterais e posteriores da medula espinhal, explica Lorenzi (2006). CAUSAS As causas dessa doença estão associadas a dietas inadequadas, perdas excessivas, má absorção e outras causas, como o alcoolismo e hepatopatias. Nas causas congênitas, podem ser por Acidúria orótica, Síndrome de Lesch-Nyham e anemia diseritropoética, enquanto nas adquiridas por drogas estão os contraceptivos, Fenintoína, Fenobarbital, Hidroxiureia, Primidona, Aciclovir, entre outras (LOUREIRO, 2007). Em crianças, praticamente, só ocorre por raríssimos defeitos genéticos e já nos adultos é muito raro, a sua incidência aumenta a partir da meia idade até a velhice. A dosagem do exame de vitamina B12 está se tornando um componente indispensável da revisão médica dos pacientes idosos e, com isso, vem apresentando uma prevalência de 2 a 3% aos 60 anos e aumento com o decorrer da idade (FAILACE et al., 2015). TRATAMENTO A deficiência dessa vitamina B12 é polimórfica e varia de estados mais brandos até condições muito graves. É um transtorno que se manifesta por um quadro clássico, caracterizado por anemia megaloblástica (glóbulos vermelhos grandes e imaturos), associada 9 a sintomas neurológicos com frequente tríade: fraqueza, glossite e parestesia. O medicamento metotrexato age como antagonista do ácido fólico, podendo provocar anemia megaloblástica devido à deficiência do ácido fólico, e a maior incidência está entre os idosos e pessoas de renda baixa devido a dietas inadequadas, explica Oliveira (2009). ANEMIA PERNICIOSA DEFINIÇÃO A anemia perniciosa é uma das causas mais comuns de deficiência de cobalamina ou vitamina B12 (STABLER e ALLEN, 2004; apud OO e HERNANDEZ, 2017). A prevalência mundial desta patologia ainda é desconhecida. Muitos avanços em pesquisas levaram à conclusão de que a anemia perniciosa é uma doença autoimune caracterizada pela absorção deficiente da cobalamina da dieta (OO e HERNANDEZ, 2017). Roque et al (2015) apontam que a anemia perniciosa também é mais prevalente em indivíduos que sejam portadores de outras doenças imunes. A deficiência de vitamina B12 altera na função enzimática das células, gerando alteração em processos importantes como a metilação, o que consequentemente leva a elevação de um metabólito importante no metabolismo celular que é a Homocisteina. O excesso de homocisteina, por sua vez, pode interferir no funcionamento adequado de diversos órgãos e sistemas como cardiovascular e neurológico, colaborando para os sintomas e alterações da deficiência de vitamina b12 e levando ao paciente a chance de sequelas irreversíveis dependendo da gravidade da doença e do grau de hiper-homocisteinemia (GARCIA et al, 2005). SINTOMAS As manifestações clínicas da deficiência de vitamina B12 podem variar desde os sintomas relacionados a anemia megaloblástica a até os sintomas neurológicos como fraqueza, glossite e parestesias. A anemia pode ocorrer na ausência dos sintomas neurológicos e vice-versa. (PRADA D,et al., 2015; PANIZ C, et al., 2005) . CAUSAS As principais causas da anemia perniciosa são a mucosa gástrica atrofia por mecanismo autoimune – o que ocorre na gastrite autoimune; deficiência de fator intrínseco que pode ser genética ou autoimune; autoagressão contra células parietais gástricas e fator 10 intrínseco, tumores pancreáticos como o gastrinoma; doença celíaca devido a síndrome disabsortiva, deficiência de transcobalamina e enterite regional (PORTO, 2014). TRATAMENTO O tratamento clássico desta anemia consiste na correção da deficiência e é realizado através da reposição parenteral, via intramuscular, de vitamina B12, na posologia de 1.000 mcg por semana, por quatro semanas consecutivas, seguida de reposição mensal. Em casos de pacientes com repercussão neurológica devem receber injeções a cada duas semanas por seis meses e, então, mensalmente até o fim da vida1. Caso o paciente que apresente alguma contraindicação à reposição parenteral, como distúrbios de hemostasia, pode-se realizar a reposição via oral, na dose de 500 a 2000mcg por dia (MARTINS MA, et al., 2017). ANEMIA FERROPÉNIA DEFINIÇÃO Anemia ferropénica (anemia microcítica e hipocrómica) é a disfunção hematológica mais comum (Long et al., 1998), afetando aproximadamente 30% da população mundial. Em indivíduos do sul asiático há uma prevalência aumentada, em comparação com outras regiões, uma vez que a dieta dos mesmos é baseada em alimentos pobres em ferro (DEROSSI & RAGHAVENDRA, 2003). O ferro é um componente essencial do grupo heme da Hb, e, portanto, uma restrição na distribuição de ferro aos percussores de eritrócitos, pode limitar a eritropoiese (GOODNOUGH ET AL., 2010). SINTOMAS A principal manifestação da anemia ferropénica é a palidez, que pode ser observada na pele, mucosas, unhas e conjuntiva. A presença de icterícia é normalmente pouco evidente (DeRossi & Raghavendra, 2003), consistindo na cor amarelada das mucosas e pele. A presença de coiloníquia é também observada, sendo esta uma patologia que se caracteriza por unhas anormalmente finas que perderam a convexidade natural, tornando-se planas ou côncavas (unhas em forma de colher). No entanto, esta manifestação é raramente encontrada na prática clínica (TAKAHASHI et al., 2010). 11 CAUSAS A hemorragia é a principal causa de deficiência em ferro em adultos. A hemorragia gastrointestinal é causa principal de anemia ferropénica nos homens e em mulheres na pós- menopausa (Pasricha et al., 2010). Uma má absorção de ferro também pode causar anemia, o que se verifica após gastrectomia, ou devido a disfunções na mucosa intestinal. Acloridria (falta de ácido clorídrico) e a atrofia que se verifica na gastrite atrofia, também podem causar má absorção de ferro. A doença celíaca, que é uma patologia comum do intestino delgado, pode causar tantohemorragia oculta, como má absorção (DeRossi & Raghavendra, 2003). A colonização do estômago por Helicobacter pylori (H. pylori) está também associada com anemia ferropénica, pois pode impedir a absorção de ferro, tendo uma elevada prevalência na população em geral. A presença desta bactéria também é um fator de risco para a úlcera péptica e cancro do estômago (ANNIBALE et al., 2000). TRATAMENTO A maioria dos pacientes com anemia por deficiência em ferro responde à terapia oral com sulfato de ferro, 200 mg, 3 vezes ao dia. Foi demonstrado que o ácido ascórbico potencia a absorção do ferro, e deve ser considerado como um suplemento em pacientes que demonstram uma pobre resposta a administração de ferro (DEROSSI & RAGHAVENDRA, 2003). ANEMIA SIDEROBLASTICA DEFINIÇÃO A anemia sideroblástica constitui um grupo heterogêneo de disfunções sanguíneas, caracterizadas por um depósito de ferro intramitocondrial no interior dos eritroblastos. Este acúmulo de ferro ocorre na região perinuclear do eritroblasto, formando um anel parcial ou completo ao redor o núcleo, originando o que denomina- se “sideroblastos em anel” (BOTTOMLEY, 1999; VICARI et al., 2010). SINTOMAS Estes pacientes têm os sintomas usuais de anemia, incluindo fadiga, diminuição da tolerância à atividade física e tonturas. Investigação de história familiar detalhada procurando anemia, especialmente em parentes do sexo masculino, é importante. A maioria das anemias 12 sideroblásticas hereditárias manifesta-se na infância. No entanto, pode haver casos mais leves de anemia sideroblástica hereditária cujos sintomas não chamam a atenção até a idade adulta (BOTTOMLEY SS., 1982 e MAY A, 1994). CAUSAS Adicionalmente, a maior parte dos casos de anemia sideroblástica descritos na literatura é adquirida, ou seja, fatores extrínsecos estão envolvidos no desencadeamento da doença. Podemos observar uma disfunção clonal durante a eritropoiese, gerando diversos quadros de mielodisplasias, entretanto, temos relatos da relação de determinados grupos farmacológicos envolvidos nesta doença, além da deficiência sistêmica de cobre, intoxicação por zinco e por abuso de bebidas alcoólicas. Estas manifestações adquiridas da doença são quadros reversíveis, ou seja, ao retirar o agente agressor da eritropoiese, a medula óssea retoma a produção normal da linhagem de eritrócitos (FLEMING, 2002; BOTTOMLEY, 2006; CAMASCHELLA, 2009). TRATAMENTO O tratamento é realizado para controlar os sintomas da anemia e prevenir danos orgânicos devido à sobrecarga de ferro. A cura ainda não é possível, em mais do que 2/3 dos casos de anemia sideroblástica com herança ligada ao cromossomo X, o tratamento é com piridoxina e os níveis de hemoglobina são normalizados em metade dos casos (BOTTOMLEY, 1999). Os pacientes sem resposta e com a manifestação grave da anemia, o protocolo estabelecido é a transfusão periódica. Se ocorrer a documentação de sobrecarga de ferro pela biópsia hepática associada a um nível de ferritina sérica superior a 500 mcg/L, o protocolo adotado é a diminuição do ferro que deve ser realizada por flebotomia periódica se os níveis de hemoglobina forem superior a 9 g/dl (BOTTOMLEY, 1999). ANEMIA DE DOENÇAS CRÔNICAS DEFINIÇÃO A anemia de doença crônica é definida pela presença de uma doença crônica, infecciosa (fúngicas, bacterianas e virais), inflamatória ou neoplásica, anemia e hipoferremia, apesar de abundante quantidade de ferro nos macrófagos. Sua gravidade está muitas vezes relacionada ao grau de infecção (DALLMAN PR, YIP R, OSKI, F.A., 1994; LEE JR 1998). 13 SINTOMAS Na anemia de doença crônica ocorre encurtamento leve a moderada da sobrevida das hemácias (cerca de 80 dias, ao invés de 120 dias normais). Este fenômeno é atribuído ao estado de hiperatividade do sistema mononuclear fagocitário, desencadeado por processo infeccioso, inflamatório ou neoplásico, levando à remoção precoce dos eritrócitos circulantes. Outros fatores tais como a febre, a liberação de hemolisinas e a liberação de toxinas bacterianas, podem levar ao aumento da hemólise (CANÇADO RD & CHIATTONE CS., 2002). CAUSAS A ADC é a causa mais frequente de anemia em pacientes hospitalizados, sendo a segunda causa mais frequente de anemia (CANÇADO; CHIATTONE, 2002). Todos os estudos concordam com as três grandes causas clinicas: infecção, inflamação e neoplasia, que são responsáveis por 70% dos casos deste tipo de anemia (FITZSIMONS R BROCK, 2001). Estudos revelaram que 52% de pacientes anêmicos que não sofrem perdas sanguíneas preenchiam critérios laboratoriais de ADC; já pacientes com artrite reumatoide, a prevalência da ADC varia entre 27% e 58%, sendo que está frequência aumenta quando a doença de base encontra-se em atividade (CANÇADO; CHIATTONE, 2002). TRATAMENTO O Tratamento da ADC consiste na eliminação da doença de base (LORENZI, 2006). No caso de infecções e neoplasias onde o agente etiológico e as células neoplásicas necessitam do ferro para se multiplicar, alguns estudiosos sugerem a retenção de ferro na forma de deposito, nesta situação o ferro oral ou parenteral deve ser evitado. Em doenças inflamatórias se faz necessário o uso do ferro (CANÇADO; CHIATTONE, 2002). O uso da EPO tem sido uma opção para o tratamento da anemia em pacientes com doenças neoplásicas. Esta é capaz de manter os glóbulos vermelhos dentro dos valores de normalidade, assegurando o fornecimento de oxigênio ao organismo (CANCADO, 2007). A transfusão de hemácias também pode ser útil para o tratamento da ADC, principalmente nos pacientes idosos ou com doenças neoplásicas, através deste é possível observar uma elevação nos valores da hemoglobina e uma súbita melhora dos sintomas relacionados a anemia (CANÇADO, 2007). 14 ANEMIA MACROCÍTICA DEFINIÇÃO A anemia macrocítica é caraterizada pela presença, no sangue periférico, de eritrócitos com aumento do tamanho superior ao normal, denominados de macrócitos, geralmente, com valores de VGM > 100 fL e valores normais de CHGM, conjuntamente com a presença de quadro anémico. O aumento da espessura dos eritrócitos é também uma caraterística presente nos macrócitos, que faz com que, na microscopia, estes padeçam da típica palidez central presente nos eritrócitos normocíticos. A macrocitose pode ser geral, ou afetar apenas parte da população eritrocitária, sendo que os macrócitos podem ser redondos ou ovais. Esta diferenciação apresenta significado clínico, contribuindo para a determinação da etiologia da anemia. Uma vez que o tempo médio de vida dos eritrócitos é cerca de 120 dias, não há um aumento significativo do VGM durante alguns meses, mesmo com o início da produção de macrócitos pela MO, dado que a substituição da população normocítica pela macrocítica é gradual (BAIN, 2016). SINTOMAS O nível clínico, os indivíduos sintomáticos com anemia macrocítica, apresentam sintomas comuns da anemia (como por exemplo: fadiga, palidez muco cutânea), podendo também estar associado à presença de icterícia, glossite, atrofia ótica, distúrbios neurológicos, entre outros. Consoante à causa subjacente à anemia e a sua severidade, assim varia a sintomatologia associada. No caso de indivíduos assintomáticos, o diagnóstico incide nas observações hematológicas, nomeadamente na avaliação do hemograma com presença de VGM elevado. A sintomatologia será abordada em mais pormenor, no capítulo seguinte (BAIN, 2016). CAUSAS As causas da anemia macrocítica e macrocitose isolada diferem e, geralmente, é necessária a realização de mais exames complementares para determinar, no entanto, as causas mais recorrentes consistem em deficiências nutricionais (p. ex., cobalamina e folatos), leucemias, síndrome mielodisplásico ou outras doenças crónicas. A ingestão continuada de álcool está intimamente interligada à presença de macrocitose, com ou sem doença hepáticaassociada, sendo das principais causas de anemia nãomegaloblástica (VEDA, 2013). 15 TRATAMENTO A terapia envolve, geralmente, injeções intramusculares de Cbl, que podem ser sob a forma de cianocobalamina ou hidroxicobalamina, na dose de 1000 µg diários por um período de duas semanas, passando depois para injeções semanais até estabilização do hematócrito. Após a estabilização, a manutenção consiste em injeções administradas uma vez por mês se for cianocobalamina, e uma injeção de três em três meses se se tratar de hidroxicobalamina (maior taxa de retenção), em qualquer dos casos até ao final da vida do indivíduo. Indivíduos cuja deficiência em Cbl se baseie em problemas relacionados com a sua absorção, são também indicados para terapia com Cbl intramuscular, dado que, dessa forma, o problema é ultrapassado (LONGO et al., 2013). A terapia com Cbl, por via oral, também é utilizada em doses de 1000-2000 µg, embora não seja eficaz em alguns indivíduos, sendo importante a monitorização das dosagens, de modo a obter a resposta desejada, uma vez que a absorção da vitamina pode variar nos doentes. É indicado para indivíduos com hemofilia, substituindo as injeções intramusculares. A terapia com uso de Cbl oral, tem a vantagem de ser melhor tolerada pelos doentes e mais barata. Por vezes, o tratamento engloba Cbl intramuscular numa fase inicial, e Cbl oral a partir do momento em que a situação já está estabilizada. Nos casos em que ocorra uma gastrectomia total, parcial ou resseção íleal, é conveniente iniciar uma terapia de substituição de modo a evitar o desenvolvimento de anemia megaloblástica. Em caso de desenvolvimento de reações alérgicas (raro) à terapêutica com Cbl, pode proceder-se a uma dessensibilização ou administração de anti-histamínicos ou glicocorticoides (LONGO et al., 2013). ANEMIA FERROPRIVA DEFINIÇÃO Anemia ferropriva é o distúrbio do ferro mais frequente em adultos e está associada à perda crônica de sangue, tanto por hipermenorreia ou menorragia (sítio mais frequente em mulheres em idade fértil), quanto pelo trato gastrointestinal (sítio mais frequente em homens e mulheres pós-menopausa). Cada mL de sangue perdido resulta em redução de cerca de 0,5 mg de ferro (ANDREWS NC, 1999). 16 SINTOMAS A anemia ferropriva apresenta-se na maioria dos casos com os sintomas de palidez, fraqueza e fadiga. Num estágio mais avançado podem-se verificar dores de cabeça latejantes, semelhantes à enxaqueca (HEMOPA - FUNDAÇÃO CENTRO DE HEMOTERAPIA E HEMATOLOGIA DO PARÁ, 2011). CAUSAS Por ser uma doença de desenvolvimento lento, pode passar despercebida por muito tempo. Também a anemia ferropriva pode causar outros problemas sobre o corpo humano, como o crescimento e o desenvolvimento físico e mental das crianças, acarretando sonolência, falta de fixar a atenção e diminuição na acuidade mental, levando assim ao baixo rendimento escolar (HEMOPA - FUNDAÇÃO CENTRO DE HEMOTERAPIA E HEMATOLOGIA DO PARÁ, 2011). TRATAMENTO O tratamento consiste da orientação nutricional, administração por via oral ou parenteral de compostos com ferro e, eventualmente, transfusão de hemácias. A correta identificação das causas que resultou no desenvolvimento da anemia ferropriva, associando-se à reposição de ferro na dose e tempo adequado, resultam na correção do estado patológico do paciente (CANÇADO; LOBO; FRIEDRICH, 2010). Ainda de acordo com Cançado, Lobo, Friedrich (2010) é necessário identificar as causas que estão desenvolvendo o surgimento da anemia ferropriva, caso contrário, pode-se perder a oportunidade de diagnosticar uma doença subjacente maligna em fase ainda potencialmente curável. A via oral é a melhor opção de reposição de ferro no organismo. A suplementação de ferro está condicionada à efetividade terapêutica, tolerância gastrointestinal ao fármaco, efeitos colaterais tipo, toxicidade, e doses diárias necessárias (CANÇADO; LOBO; FRIEDRICH, 2010). A quantidade básica de ferro necessária para manter o equilíbrio celular em um adulto é de 3 g a 4 g (45 mg/ kg de peso corporal), 1,5 g a 3,0 g de ferro estão ligados à hemoglobina (presente nas hemácias), que tem como função principal a oxigenação dos tecidos; no plasma encontramos de 3 mg a 4 mg de ferro; e o restante, de 600 mg a 1500 mg, são armazenados no fígado, no baço e na medula óssea (BRASIL, 2013). 17 A partir das hemácias velhas são recicladas de 20 mg a 30 mg de ferro, os macrófagos são os responsáveis por este procedimento na circulação sanguínea e voltam para a medula óssea e são armazenados para produção de novos glóbulos vermelhos (BRASIL, 2013). Os sais ferrosos, sais férricos, ferro aminoquelado, complexo de ferro polimaltosado (ferropolimaltose) e ferro carbonila destacam-se como os principais suplementos de ferro disponíveis em diferentes países, inclusive no Brasil (HEMOPA - FUNDAÇÃO CENTRO DE HEMOTERAPIA E HEMATOLOGIA DO PARÁ, 2011). ANEMIA MICROCÍTICA DEFINIÇÃO A anemia microcítica é aquela em que o volume corpuscular médio (VCM) é menor que o valor de referência para a espécie em questão. O VCM representa à média do volume de um eritrócito em fentolitros (fl). O VCM é determinado indiretamente pela divisão do hematócrito pela contagem de eritrócitos multiplicada por dez. Esse índice varia conforme a espécie e em alguns casos, conforme a raça do animal, por exemplo, cães da raça Akita têm normalmente menores valores de VCM do que a média estabelecida, mas esses animais não são anêmicos (HARVEY, 2000). SINTOMAS Segundo Gayton (1998), a viscosidade do sangue depende quase que inteiramente da concentração de hemácias. Na anemia grave, a viscosidade do sangue pode cair para uma vez e meia a da água, sendo que o normal é de três vezes a viscosidade da água. A diminuição da viscosidade reduz tanto a resistência ao fluxo sanguíneo nos vasos periféricos, que quantidades aumentadas de sangue retornam ao coração. Ademais, a hipóxia, devido ao transporte diminuído de oxigênio pelo sangue, faz com os vasos teciduais se dilatem, o que permite maior retorno de sangue para o coração, aumentando o débito cardíaco para um valor ainda mais elevado. Dessa forma, um dos principais efeitos da anemia é uma sobrecarga de trabalho extremamente aumentada sobre o coração. O débito cardíaco aumentado na anemia compensa parcialmente muitos dos seus efeitos, pois, mesmo que uma dada quantidade unitária de sangue carregue apenas pequenas quantidades de oxigênio, o fluxo sanguíneo pode ser tão incrementado que quantidades quase normais de oxigênio são liberadas nos tecidos. Entretanto, quando um indivíduo começa a realizar exercícios físicos, o coração não é capaz de aumentar muito mais a quantidade de 18 sangue que já se encontra bombeando. Em consequência disto, durante o exercício, que aumenta grandemente a demanda tecidual de oxigênio, ocorre uma hipóxia tecidual pronunciada que pode resultar em insuficiência cardíaca aguda (FERREIRA NETO, 1978). CAUSAS A anemia microcítica normalmente é hipocrômica e resulta da deficiência de ferro ou dos elementos que interferem no seu metabolismo. Ferro é uma parte essencial da hemoglobina, e baixos níveis desse mineral resultam em incorporação diminuída de hemoglobina em célula vermelha. Também pode ocorrer na deficiência de piridoxina. Nestes casos de anemias pode-se utilizar a transfusão sanguínea como indicação de urgência e em seguida administrar o elemento deficitário (COLES, 1984). A falta de ferro limita a formação de hemoglobina, mas a divisão celular na medula óssea cessa apenas quando a concentração de hemoglobina atinge quando a concentração de hemoglobina atinge um determinado nível. Isso significa que, em uma deficiência de ferro prolongada, em uma divisão celular extra ocorre, produzindo hemáceas menores (BUSH, 2004). TRATAMENTO Para tratamento antianêmico, asmedidas fundamentais consistem na administração de ferro e de uma alimentação abundante, particularmente em vitaminas e proteínas. Os alimentos mais ricos em ferro são fígado (de carneiro, porco ou gado), gema de ovo, as carnes e a maioria das frutas e legumes. A ferroterapia é feita de preferência com sais ferrosos, pelo fato de serem mais facilmente absorvíveis. A administração oral de sulfato ferroso, 200 mg, três vezes ao dia, mostra-se efetivo e barato, devendo-se prolongar por três meses depois que a concentração de hemoglobina ultrapassar os 12 g/mL (REY, 2002). ANEMIA FALCIFORME DEFINIÇÃO Descrita por Herrick em 1910, a anemia falciforme é originária da África vindo para a América através do comércio de escravos, disseminando-se heterogeneamente pelo Brasil até metade do século XIX, sendo hoje a doença hereditária mais comum em nosso país. (PERIN, 2002). 19 A anemia falciforme é uma anemia hemolítica grave, resultante de fatores genéticos, no que diz respeito ao gene da hemoglobina, que resulta da substituição do ácido glutâmico por uma valina na posição da cadeia beta da hemoglobina, e com subsequente modificações físico-químicas na molécula, ocorre a transformação da hemoglobina normal, denominada hemoglobina A (HbA) em uma hemoglobina anormal, denominada hemoglobina S (HbS), caracterizada pela presença de eritrócitos em forma de foice e pela hemólise acelerada. (AQUINO; PASSOS, 2008). SINTOMAS A persistência hereditária de hemoglobina fetal associada à HbS diminui a gravidade clínica da anemia falciforme. A hemoglobina fetal (HbF) é predominante na vida fetal, mas declina rapidamente após o 6° mês de vida e representa em adultos menos de 1%, mas essa proporção pode ser maior em indivíduos falciformes para auxiliar no transporte de oxigênio. (STEINBERG, 2006; SANTOS, 2009). As manifestações clínicas que os pacientes falcêmicos apresentarão no decorrer da vida terminam por lesar progressivamente os diversos tecidos e órgãos, assim o acompanhamento ambulatorial visa avaliar periodicamente os diversos órgãos e sistemas, a fim de que precocemente sejam detectadas alterações, devendo ser ressaltado junto ao paciente e seus familiares sobre a necessidade da realização dos exames de rotina, uma vez que essas alterações podem se instalar de modo insidioso, sem expressão clínica exuberante. (BRAGA, 2007). CAUSAS O que causa a anemia falciforme é a alteração dos genes das globinas provocando defeitos hereditários da síntese da hemoglobina. A mutação no gene da globina é caracterizada pela substituição de uma base nitrogenada (GAG para GTG) no códon que codifica o sexto aminoácido da cadeia, originando valina ao invés de ácido glutâmico na superfície da cadeia beta variante, com consequente modificação da estrutura tridimensional da hemoglobina, originando a hemoglobina S (HbS). (STEINBERG, 2006). A hemoglobina mutante possui propriedades físico-químicas bastante diferentes da hemoglobina normal, devido à perda de duas cargas elétricas por molécula, apresenta ainda solubilidade e estabilidades diferentes, com forte tendência de formar polímeros, quando na sua forma desoxigenada. (SANTOS, 2009). 20 Em estados de baixa tensão de oxigênio, ocorre a polimerização da HbS, isso ocorre devido à valina ser um aminoácido neutro, permitindo a aproximação das moléculas de hemoglobina e, consequentemente a polimerização em estados desoxigenados, o que não ocorre com ácido glutâmico por ser carregado negativamente. A valina forma um bolso hidrofóbico na cadeia beta que pode interagir com a subunidade hidrofóbica de outra molécula de HbS vizinha, o que não é possível no estado oxigenado, sendo assim a membrana é o principal espelho onde se refletem alterações moleculares que estão ocorrendo no interior da célula. (SANTOS, 2009). A precipitação da hemoglobina, caracterizada pela formação de cristais, se agravam pelos constantes processos de oxigenação e desoxigenação da hemoglobina S, além da ocorrência de alguns fenômenos como: degradação oxidativa da HbS, precipitação de corpos de Henz, geração de radicais livres. Todas essas alterações atuam contra a estrutura do citoesqueleto do eritrócito provocando alterações morfológicas em sua estrutura podendo levar a formação de células em forma de foice, ou na pior situação lesarem a estrutura da membrana, fenômeno conhecido como hemólise. (NAOUM, 2000; BANDEIRA, 2006; MOUSINHO-RIBEIRO et al, 2008). Segundo Naoum (2000) os eritrócitos falcêmicos em nível circulatório, apresentam aspecto rígido e anormal desencadeado pela polimerização da HbS e possuem maior possibilidade de se aderirem ao endotélio vascular. Esta aderência decorre da interações entre as células endoteliais e os eritrócitos falcêmicos, com a participação de antígenos de superfície celular (CD36 E CD44) e proteínas plasmáticas, e como conseqüência da elevada adesão das hemácias falcêmicas ao endotélio vascular dos capilares, ocorre hipóxia tecidual, fato que leva mais moléculas de HbS ao estado desoxi-HbS, podendo ocorrer oclusão total dos capilares (vaso-oclusão) com trombose e formação de fibrose, principalmente no baço, medula óssea e placenta, com crises dolorosas e lesões crônicas de órgãos. TRATAMENTO O esquema recomendado pelo Ministério da Saúde, no Manual de Diagnóstico e Tratamento de Doenças Falciformes, 2002, é: • Penicilina V (oral): - 125mg V.O. (2 vezes ao dia) para crianças até 3 anos de idade ou 15 Kg. - 250mg VO (2 vezes ao dia) para crianças de 3 a 6anos de idade ou com 15 a 25kg. - 500mg VO (2 vezes ao dia) para crianças com mais de 25 kg. 21 • Penicilina benzatina - administrar Intra Muscular a cada 21 dias: - 300 000U para crianças até 10kg. - 600 000U para crianças de 10 a 25kg. - 1 200 000U para indivíduos com mais de 25kg. Em casos de alergia à penicilina, pode-se administrar 20mg/kg de eritromicina via oral, 2 vezes ao dia. ANEMIA HEMOLITICA AUTOIMUNE DEFINIÇÃO A anemia hemolítica autoimune (AHAI) é uma condição clínica rara em que autoanticorpos se ligam à superfície das hemácias, ocasionando sua hemólise via sistema complemento ou sistema reticulo endotelial. A AHAI pode ser classificada de acordo com sua etiologia: idiopática ou primária e secundária, sendo esta associada a doenças linfoproliferativas, imunodeficiências, uso de medicamentos ou neoplasias. A AHAI também é classificada de acordo com a temperatura de reatividade dos anticorpos aos eritrócitos. Os autoanticorpos “frios” se ligam aos eritrócitos em temperaturas entre 4°-18° C, podendo levar à aglutinação de eritrócitos na circulação sanguínea, e, ao ser ativado o sistema complemento, ocorre à hemólise, já a os autoanticorpos “quentes” reagem mais fortemente à temperatura corporal (37°C), sendo incapazes de aglutinar as hemácias e a hemólise ocorre consequentemente no sistema reticulo endotelial ( MS, 2013). SINTOMAS O quadro clínico é inespecífico e comum aos demais tipos de anemia. O paciente pode cursar assintomático ou desenvolver quadros de astenia, fadiga, inapetência, letargia, confusão e dispneia. Ao exame físico, os pacientes podem apresentar sinais de descompensarão da doença, tais como palidez cutânea, icterícia, taquicardia, esplenomegalia, sopros cardíacos, edema, congestão pulmonar. A severidade do quadro depende de uma relação multifatorial. Fatores que influenciam a apresentação clínica incluem a análise quantitativa da hemoglobina e a observação da reposta do organismo à sua redução. Por exemplo, indivíduos previamente hígidos se comportarão de maneira diferente frente a uma anemia em comparação a um indivíduo com comorbidades cardíacas ou neurológicas. O quadro pode evoluir de forma grave e levar ao óbito (WEISKOPF et al., 1998). 22 CAUSAS As causas de AHAI permanecem desconhecidas. Algumas hipóteses são: a depressão do sistema imuneatravés de ação viral; alteração do equilíbrio entre as células T facilitadoras e supressoras; alteração dos antígenos de superfície dos eritrócitos por vírus ou drogas e; possível reação cruzada dos anticorpos induzidos por agentes infecciosos contra antígenos de superfície dos eritrócitos. A AHAI se expressa por meio de quadro clínico variável, no qual sobressai a anemia hemolítica (PIROFSKY B., 1975). TRATAMENTO O tratamento é realizado com o objetivo de reduzir a produção de autoanticorpos e a efetividade desses autoanticorpos. O manejo inicial sempre deve ser realizado através da estabilização clínica do doente, visto que a AHAI pode evoluir com risco de morte. O manejo da anemia através de transfusão sanguínea pode ser necessário em casos isolados e discutido com o banco de sangue, pois geralmente haverá aglutinação no teste de cross-over de compatibilidade das bolsas sanguíneas devido à fisiopatologia do quadro clínico. Nesses casos, as transfusões não devem ser adiadas (KING e NESS, 2005). Após estabilização clínica, devem ser descontinuadas as drogas que podem possuir relação causal com o quadro e a pesquisa de causas secundárias devem ser iniciadas. (ARNDT e GARRATTY, 2005). Aproximadamente 50% necessitam de terapia de manutenção e 30% de auxílio com terapia de segunda linha. O uso de pulsoterapia com metilprednisolona 250-1000 mg/dia por um período de uma três dias, deve ser restrito a pacientes com início abrupto da anemia que evoluíram com consequências clínicas importantes. O tratamento deve ser instituído com 1-1,5mg/kg de prednisona por dia até remissão da doença. A dose de manutenção deve ser reduzida até atingir a menor dose possível que mantenha a doença em remissão. Terapias adicionais incluem rituximabe, esplenectomia, drogas imunossupressoras e infusão de imunoglobulinas (ZANELLA e BARCELLINI, 2014; JAIME-PEREZ et al., 2013). 23 3 CONCLUSÃO A anemia mesmo não sendo uma doença pode causar anormalidades, as quais a dispersão ao ser descoberta desde o começo pode provocar danos e prejuízos irreparáveis na fase de crescimento de uma criança, o que pode ocasionar problemas graves na fase adulta, nas grávidas e nos idosos. Entende-se que a anemia desenvolve nos indivíduos que possui uma dieta alimentar deficiente em alimentos que contém ferro. Perante desta problemática, esta patologia aponta diversas causas, o que determina uma ação conjunta de inúmeras táticas para seu combate, dentre elas ações de Suplementação medicamentosa de ferro e fortificação com ferro em alimentos. Deste modo, a prevenção é a melhor maneira de evitar a doença garantindo uma melhor qualidade de vida e saúde. Desta maneira, é importante procurar um médico quando tiver uma suspeita de anemia, pois o diagnóstico e tratamento correto são de fundamental importância para se evitar e reduzir os riscos à saúde. 24 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ANNIBALE B, CAPURSO G, Martino G, Grossi C, Delle Fave G. Iron deficiency anaemia and Helicobacter pylori infection. Int J Antimicrob Agents. 2000. AUTOIMMUNE HEMOLYTIC ANEMIA. In: Hospital Physician Hematology Board Review Manual. Waine: Turner White Communications; 2013. ARNDT, PA; GARRATTY, G. The changing spectrum of drug-induced immune hemolytic anemia. 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