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Hematologia Neutropenia Febril: INTRODUÇÃO: • A neutropenia é a queda abrupta na contagem de neutrófilos circulantes (polimorfonucleares + bastões). Os Polimorfonucleares (PMN) são as formas maduras e os bastões as formas jovens, imaturas, recém-liberadas da medula óssea. 90% na medula, 2,3% no sangue e 7-8% nos tecidos. DEFINIÇÃO: • A neutropenia febril é definida como uma única medida da temperatura oral >38.3°C ou ≥38.0°C mantida por 1 hora, com uma contagem absoluta de neutrófilos (ANC) <500 células/microlitro ou <1000 cél/microL com previsão de queda abaixo de 500 células/microlitro nas 48 horas seguintes. o < 500 = comprometimento no controle da flora endógena. Classificada como neutropenia severa. o < 200 = ausência de processo inflamatório. o < 100 = Classificada como neutropenia profunda. *A temperatura axilar não reflete de forma adequada a temperatura “central” do organismo. Como a verificação da temperatura retal encontra-se proibida no neutropênico (assim como qualquer manipulação do reto, pelo risco de disseminação dos germes da microbiota colônica), a maneira mais fidedigna de se detectar febre nesses doentes seria através do emprego de termômetros orais. ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA: • A neutropenia pode se desenvolver de forma aguda, resultante da destruição rápida dos neutrófilos, da produção diminuída, do acumulo periférico excessivo e por alguns antibióticos (SMZ-TMT, cloranfenicol), antirretroviral (zidovudina). • No caso da neutropenia febril, o principal agente causador e de maior prevalência clínica é a quimioterapia. • Todo “neutropênico febril” deve ser considerado portador de uma infecção grave potencialmente letal em curto espaço de tempo. • Nos pacientes neutropênicos comprovadamente infectados, A FEBRE COSTUMA SER O ÚNICO SINAL DE INFECÇÃO, pelo menos no início do quadro. Outras evidências de flogose (dor, calor, rubor, edema ou infiltrado no raio X de tórax) em geral estão ausentes ou atenuadas por efeito da diminuição do número de neutrófilos circulantes. Esta é a justificativa para o emprego de terapia antimicrobiana “empírica” (antes da confirmação microbiológica) em TODOS os casos de neutropenia febril. • A maioria das infecções são causadas pela flora endógena: o Bactérias Gram-positivas predominam (50-60%), pois os cateteres têm elevada colonização por germes da microbiota cutânea (em geral cocos Gram-positivos). o As bactérias mais encontradas nas hemoculturas são os Staphylococcus coagulase-negativos e Staphylococcus aureus. o 30-40% são bacilos Gram-negativos (52% enterobactérias – E. coli; Klebsiella spp; P. aeruginosa; Acinetobacter spp; e Haemophilus Influenzae). o Embora Gram + sejam mais frequentes, as formas negativas são mais virulentas (sepse). ABORDAGEM INICIAL: 1. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO: em função do grau de risco, definiremos a melhor estratégia terapêutica, por exemplo: antibiótico IV versus VO, internação hospitalar versus tratamento ambulatorial. A estratificação pode ser clínica, ou pelo escore de risco. 1.1 ESTRATIFICAÇÃO CLÍNICA: • Alto Risco: os pacientes que apresentam QUALQUER UM dos critérios da Tabela 3. Tais indivíduos devem ser internados no hospital para tratamento IV. • Baixo risco: os pacientes devem preencher TODOS os pré- requisitos listados na Tabela 4. Tais indivíduos podem ser manejados com tratamento VO ou IV, e podem receber alta para acompanhamento ambulatorial após um breve período inicial de observação hospitalar (ex.: primeiras 6-24h), local em que deve ser ministrada a primeira dose do antimicrobiano. 1.2 ESTRATIFICAÇÃO POR ESCORE DE RISCO: ESCORE DE MASCC: • Alto risco: <21 – tratado de forma intravenosa. • Baixo risco: >21 • Complicações graves chegam a ocorrer em 11% dos casos classificados como de baixo risco ESCORE DE CISNE (LABORATORIAL): • Utilizado quando escore de MASCC é de alto risco (valor preditivo baixo >21), OU em pacientes de baixo risco com tumores sólidos que foram submetidos a quimioterapia de intensidade leve a moderada e que parecem estarem estáveis; leva em consideração questões laboratoriais para avaliação possíveis complicações. • Quanto maior o escore, pior é o prognóstico. • Baixo risco = 0 pontos; • Risco intermediário = 1-2 pontos; (ambulatorial + ATB VO) • Alto Risco = >3 pontos. (internação + ATB IV) • Alto valor de CISNE + BAIXO de MASCC = pct com risco intermediário para complicações. • ECOG = Eastern Cooperative Oncology Group → outro escore de 1-5 pontos; para contar 2 pontos no CISNE o ECOG precisa estar acima de 2 (pct sintomático e que fica muito na cama durante o dia). 2. AVALIAÇÃO CLÍNICA GLOBAL: ANAMNESE + EXAME FÍSICO • Deve-se realizar uma anamnese e exame físico detalhados, objetivando detectar o possível foco infeccioso. • Os focos infecciosos mais comuns são: urinário, pele, cavidade oral, sítios de inserção de cateteres, região perianal e perineal. • Anamnese: checar história de colonização ou infecção prévia documentada por germes multirresistentes ou fungos, assim como a história de hospitalização recente, que também aumenta a chance de colonização por tais germes. Nestas situações é mandatório ampliar ainda mais o espectro antimicrobiano do tratamento empírico (cobrindo os referidos germes multirresistentes), especialmente se o paciente estiver instável. • Exame Físico: pesquisar eritema e dor. O toque retal está contraindicado (risco de translocação bacteriana). 3. AVALIAÇÃO LABORATORIAL: • O seguinte conjunto de exames deve ser solicitado para TODOS os doentes com neutropenia febril: o Pelo menos dois sets de hemocultura coletados de sítios diferentes (cada set = 20 ml divididos em um frasco para aeróbio e outro para anaeróbio). Se houver cateter venoso profundo, coletar um set de cada lúmen do cateter e pelo menos um set de uma veia periférica. o Hemograma Completo; o Função Hepática (aminotransferases e bilirrubina); o Função Renal (ureia e creatinina); o Eletrólitos; o Coagulograma; o Proteína C Reativa; não são obrigatórios. o Sumário de Urina; * exames adicionais deverão ser solicitados de acordo com a suspeita clínica (sinais e sintomas sugestivos de infecção nesses locais). o Radiografia de Tórax; fezes (se diarreia); pele (aspiração, raspagem, fezes se diarreia); escarro (tosse produtiva, ou SN (lavado brônquico); líquor (se sintomas de meningite); * Avaliação médica deverá ser feita em até 15 minutos e início de ATB de amplo espectro iniciado em até 60 minutos após coleta de culturais. TRATAMENTO ANTIMICROBIANO EMPÍRICO: • A principal causa de febre na neutropenia é a translocação de enterobactérias (em geral Gram- negativas) a partir do TGI. Uma das enterobactérias mais virulentas nesta situação é a Pseudomonas aeruginosa. Logo, o esquema antimicrobiano empírico sempre deve prover cobertura antipseudomonas. • Associação de antimicrobianos que façam a cobertura contra gram (+) só devem ser utilizadas em ‘’casos especiais’’, ou no doente muito grave: – Hipotensão arterial – Suspeita de infecção do cateter venoso profundo (febre + calafrios quando o cateter é usado; sinais flogísticos na região do cateter). – Infecção de pele ou partes moles; – Pneumonia; – História de colonização por MRSA; BAIXO RISCO: • Primeira dose de ATB IV, no hospital durante observação de pelo menos 4 horas. • Fluoroquinolona + Betalactâmico: o Ciprofloxacina 750 mg, 12/12 horas ou Levofloxacina 750 mg, 1x/d. + 5 a 7 dias. o Amoxacilina + Clavulanato 500 mg/125 mg 8/8h • CUIDADO: pacientes em uso de quinolonas como profilaxia possuem alto risco de resistência bacteriana (P. aeruginosa). Quinolonas são os únicos ATB VO contra P. aeruginosa. • Se febre persistente →alto risco → internação/ mudar esquema; o Devem ser tratados com drogas IV como se fossem de “alto risco” (ex.: trocar ciprofloxacina + amoxicilina-clavulanato VO por betalactâmico antipseudomonas IV). • Tempo médio para melhora da febre: o Baixo risco → 2 dias; o Alto risco → 5 dias; ALTO RISCO: • Anaeróbios: embora presentes na flora, não necessitam de cobertura (atentar para a clínica). • A duração de NF aumenta a probabilidade de infecção fúngica. • ESQUEMA: Cefalosporina de 3º geração; Carbapenêmicos; e Betalactâmicos antipseudomonas. o Cefepime – 2 g IV 8/8 horas. o Meropenem – 1 g IV 8/8 horas. o Imipenem – Cilastatina – 500 mg IV 6/6 horas. o Piperacilina – Tazobactam – 4,5 g IV 6/6 horas. o Vancomicina (associado ao desenvolvimento de resistência bacteriana) – utilizada em casos especiais. • O tratamento antifúngico “empírico” deve ser iniciado nos pacientes que permanecem com febre (ou apresentam recidiva da febre) após 4-7 dias de tratamento antimicrobiano. Pacientes que se encontram clinicamente instáveis entre o 2º e 4º dia de tratamento antimicrobiano também já podem começar a receber antifúngicos. • Fluconazol geralmente não é recomendado como terapia empírica (resistência). • Se piora clínica, ampliação de ATB para germes resistentes, bem como fungos (anfotericina B ou Voriconazol). • Se lesões orais, lembrar de Herpes/CÂNDIDA (Aciclovir/Fluconazol); • Se houver suspeita de superinfecção intestinal por Clostridium difficile (queixas abdominais graves, como dor e diarreia), podemos associar metronidazol ou vancomicina oral ao esquema empírico.
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