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PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE A pneumonia é a inflamação do parênquima ou interstício pulmonar, causada por infecções virais, bacterianas, parasitárias ou fúngicas. Acomete, mais precisamente, a região alveolar e, eventualmente, o espaço intersticial interalveolar. • Pneumonia é uma infecção do parênquima pulmonar, que pode ser causada por vírus, bactérias e, mais raramente, fungos e micobactérias. • A pneumonia é uma síndrome clínica que ocorre quando a infecção do parênquima pulmonar causa sinais/sintomas das vias respiratórias inferiores e alterações características nos exames de imagem do tórax. A Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) é uma infecção de via aérea inferior com acometimento alveolar que ocorre fora do ambiente hospitalar ou que se manifesta até 48 horas após a internação. • A PAC se refere à doença adquirida fora do ambiente hospitalar ou de unidades especiais de atenção à saúde ou, ainda, que se manifesta em até 48 h da admissão à unidade assistencial • Após 48 horas internado, o paciente com sinais e sintomas de pneumonia será classificado com uma Pneumonia Associada à Assistência em Saúde • Pacientes portadores de pneumonia que estiveram hospitalizados em unidades de pronto atendimento por 2 ou mais dias nos 90 dias precedentes; aqueles provenientes de asilos ou de casas de saúde; aqueles que receberam antibióticos por via endovenosa, quimioterapia, ou tratamento de escaras nos 30 dias anteriores à doença; ou aqueles que estejam em tratamento em clínicas de diálise constituem atualmente um grupo especial que está incluído mais apropriadamente na classificação da pneumonia adquirida em hospital. Um novo grupo de bactérias multirresistentes tem sido associado a PAC em pacientes com contato prévio com um serviço de assistência à saúde, como serviços de assistência domiciliar, de diálise, serviços ambulatoriais de cuidado de feridas crônicas e casas de repouso. • Nesses pacientes, MRSA, enterobactérias produtoras de betalactamase de espectro expandido e Pseudomonas sp. multirresistentes têm sido agentes frequentes de pneumonia, mesmo depois de longos períodos sem internação hospitalar, apenas pelo fato de os pacientes permanecerem colonizados. • São fatores de risco para infecções por essas bactérias: internação hospitalar em até 90 dias antes do episódio de pneumonia, uso prévio de antibióticos há 90 dias, imunossupressão, uso de bloqueador gástrico, alimentação enteral, hemodiálise e colonização intestinal prévia por bactéria multirresistente ou MRSA nasal Fisiopatologia Mecanismo mais comum: disseminação broncogênica (microaspirações) • A pneumonia é causada por microrganismos que vivem em nossas narinas e garganta. Quando não temos uma defesa adequada, eles podem descer para os pulmões causando essa infecção. • Ou seja, para infectar o pulmão, o agente primeiro precisa colonizar o epitélio faríngeo e depois ser aspirado para as vias aéreas inferiores • Patógenos presentes nas vias aéreas superiores podem progredir, de forma broncogênica, para os alvéolos pulmonares • A pneumonia broncogênica tende a progredir dentro de um mesmo bronquíolo, sendo assim, é propensa a ser unilateral e, quando se expande, é para os lobos vizinhos de forma contígua Menos comumente, o germe atinge os alvéolos por inalação de aerossol contaminado do ambiente (Legionella) ou por via hematogênica (S. aureus). • A pneumonia hematogênica pode envolver múltiplos lobos bilateralmente e de forma aleatória – afinal, a bactéria será disseminada pelo parênquima pulmonar através da corrente sanguínea. MICROBIOLOGIA • Em todos os panoramas clínicos, o principal agente é o Streptococcus pneumoniae. • Outros agentes frequentes são: microrganismos atípicos (Chlamydophila pneumoniae, Legionella pneumophila e Mycoplasma pneumoniae), Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis e vírus respiratórios (influenza A e B, adenovírus, vírus sincicial respiratório e parainfluenza). • São menos comuns e mais associados a gravidade: Staphylococcus aureus e bacilos Gram-negativos, incluindo Pseudomonas aeruginosa. Streptococcus pneumoniae (pneumococo) • Principal agente (30 a 45%) • o pneumococo sempre foi facilmente tratado com penicilinas, entretanto sua resistência a esse antibiótico aumentou muito. O S. pneumoniae desenvolveu mutações em sua proteína ligadora de penicilinas (também chamada de PBP), o que lhe conferiu uma resistência aos betalactâmicos • No entanto, a maior parte das cepas brasileiras de S. pneumoniae permanece suscetível às aminopenicilinas (amoxicilina) e às cefalosporinas (por exemplo, ceftriaxona), visto que os sorotipos que aqui circulam dificilmente apresentam essa mutação nas PBPs • pneumococos não produzem betalactamase (H. influenzae, M. catarrhalis e a K. pneumoniae produzem), logo, na suspeita de resistência dessa bactéria, não há sentido nenhum em utilizar inibidores de betalactamase (como o sulbactam, o tazobactam e o clavulanato) HAEMOPHILUS INFLUENZAE NÃO TIPÁVEL (não encapsulado) • Segunda bactéria mais prevalente • causa mais comum de descompensação bacteriana da DPOC • H. influenzae pode produzir betalactamase em até 40% das suas cepas, por isso é essencial o uso do clavulanato, tazobactam ou sulbactam quando se suspeita desse agente KLEBSIELLA PNEUMONIAE • Pode causar a pneumonia do lobo pesado (rara, mas é grave e complica) A Klebsiella pneumoniae produz uma grande quantidade de um denso exsudato dentro dos alvéolos. Essa exsudação expande os alvéolos em contato com as fissuras oblíqua e horizontal do pulmão, empurrando essas fissuras e dando um aspecto de "lobo pulmonar pesado" • Apesar de muito patogênica, a K. pneumoniae adquirida na comunidade é frequentemente sensível às cefalosporinas e às fluoroquinolonas • pode produzir betalactamases STAPHYLOCOCCUS AUREUS • frequentemente relacionada à assistência à saúde (especialmente cuidados hospitalares) • A origem dessa pneumonia é, na maior parte das vezes, hematogênica. Ele tem disseminação broncogênica (com porta de entrada respiratória), principalmente em lactentes. • Fatores de risco: infecções osteoarticulares e cutâneas, infecções virais do trato inferior, lactentes, usuários de drogas injetáveis, pacientes com doença renal dialítica, fíbrose cística • Extremamente invasiva (sepse e complicações supurativas: abscessos, embolias pulmonares e endocardites) • Sua apresentação radiológica mais comum são focos consolidativos bilaterais (afinal, vem de forma hematogênica), quase sempre com derrame pleural associado. • Diferentemente do pneumococo, que, com frequência, possui um derrame pleural parapneumônico, o S. aureus frequentemente causará empiemas pleurais que necessitarão de drenagem de tórax • Além do derrame pleural, observamos outros três achados comuns: a pneumatocele (distensões alveolares que dão um aspecto de "cisto" ao parênquima pulmonar), que pode se romper gerando um pneumotórax, e também os abscessos pulmonares (cavitações de paredes espessadas com conteúdo líquido em seu interior). • Aqui é imprescindível buscar o diagnóstico por meio da cultura aeróbia de diversos locais (escarro, secreção traqueal, líquido pleural e hemoculturas) para determinação da atb. Adequada. • Na comunidade, a maior parte dos S. aureus é MSSA. • No ambiente hospitalar, aumenta o risco de MRSA aumenta, ou seja, encontramos resistência aos betalactâmicos e às penicilinas sintéticas, situação em que deveremos utilizar um glicopeptídeo (vancomicina e teicoplanina) ou uma oxazolidinona (linezolida). • Pode disseminar facilmente pela corrente sanguínea (complicando com embolizações diversas, que podem causar AVC, endoftalmites sépticas, osteomielites, artrites hematogênicas e novas endocardites) PSEUDOMONAS AERUGINOSA • Não causa PAC em pacientes sem comorbidades • Agente importante em:pacientes com comorbidades pulmonares estruturais, com imunidade de neutrófilos reduzida e hospitalizados por muito tempo, em que é causa comum de pneumonia associada à assistência em saúde e de pneumonia associada à ventilação mecânica. • capacidade de resistência a diversas classes de antimicrobianos, por isso é necessário O diagnóstico microbiológico para fazer antibiograma • Tanto quanto a pneumonia estafilocócica, podemos isolar o agente etiológico por meio de culturas aeróbias de escarro, secreção traqueal, hemoculturas e lavado broncoalveolar. MORAXELLA CATARRHALIS • Fatores de risco: idade avançada, DPOC com múltiplas exacerbações infecciosas e uso crônico de corticosteroides • pode produzir betalactamases, necessitando do uso de inibidores de betalactamase LEGIONELLA PNEUMOPHILA • Parasita intracelular obrigatório (não use antibióticos que agem na parede celular (ex. betalactâmicos). A primeira escolha de tratamento são as fluoroquinolonas ou um macrolídeo) • diferentemente do S. pneumoniae, H. influenzae e da M. catarrhalis , não coloniza a via aérea superior, mas sim é adquirida por meio da inalação de vapor e gotículas contaminadas • Não transmitida de pessoa a pessoa • Mais comum em idosos, imunocomprometidos e etilistas crônicos • Sinal de Faget (dissociação pulso-temperatura): febre associada à redução da frequência de pulso (bradisfigmia) • Capacidade de gerar sintomas extrapulmonares: diarreias, náuseas e vômitos e até hepatite. • causar uma síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIADH), gerando uma hiponatremia • Sempre procure diagnosticar por cultura do escaro • teste de antígeno urinário é padrão ouro MYCOPLASMA PNEUMONIAE • principal causa de pneumonia atípica em crianças e adolescentes a partir dos 5 anos • Incomum > 18 anos • não tem parede celular =>não use betalactâmicos • começa com uma infecção de vias aéreas superiores, apresentando coriza, odinofagia, febre baixa e cefaleia. Numa pequena parcela que evolui para infecção do trato respiratório inferior, observamos uma tosse persistente de característica seca ou com expectoração hialina. • raramente apresenta-se com síndrome de condensação pulmonar ou com sepse • manifestações extrapulmonares: fenômenos autoimunes CHLAMYDOPHILA PNEUMONIAE • parasita intracelular obrigatório (precisa de atb. Com ação intracelular: macrolídeos ou fluoroquinolonas) VÍRUS • Principal: influenza • rinovírus, vírus sincicial respiratório, vírus parainfluenza, adenovírus e metapneumovírus • promovem prejuízos nos mecanismos de defesa das vias aéreas respiratórias superiores, facilitando o estabelecimento de um outro microrganismo nas vias aéreas inferiores; este parece ser o papel dos rinovírus e do coronavírus • A coparticipação dos vírus e bactérias parece se associar com um quadro clínico de PAC mais grave Achados microscópios e macrocóspios • consolidação (ou condensação) alveolar: ocupação total do espaço alveolar pelo exsudato neutrofílico numa grande área do parênquima A consolidação pulmonar aparece diretamente após a infecção? • Não, ela é produto de uma progressão inflamatória alveolar. • No raio-x, se visualizarmos aqueles infiltrados alveolares e consolidações, estamos observando a fase de hepatização vermelha, cinzenta ou de resolução. A fase inicial (congestiva) produz um exsudato com poucas células, logo, não é radiopaco. Broncopneumonia X pneumonia lobar Broncopneumonia/pneumonia lobular: é a apresentação radiológica mais comum das PACs, sendo vista na radiografia de tórax como uma consolidação de múltiplos ácinos pulmonares, sem consolidar o lobo inteiro. • A broncopneumonia é um padrão radiológico associado à inflamação peribronquiolar supurativa e subsequente consolidação irregular de um ou mais lóbulos secundários de um pulmão em resposta à pneumonia bacteriana . • Caracterizada pela consolidação alveolar multifocal – são múltiplos focos acinares (ou lobulares), coalescentes, que predominam na região peribrônquica. • Qualquer agente infeccioso causador de pneumonia pode cursar com este padrão. • Quando não tratada, pode progredir para pneumonia lobar. Raio-x da broncopneumonia: • múltiplas pequenas opacidades nodulares ou reticulonodulares que tendem a ser irregulares e/ou confluentes. Isto representa áreas do pulmão onde existem manchas de inflamação separadas por parênquima pulmonar normal. • A distribuição é frequentemente bilateral e assimétrica e envolve predominantemente as bases pulmonares https://radiopaedia.org/articles/air-space-opacification-1?lang=us https://radiopaedia.org/articles/secondary-pulmonary-lobule?lang=us https://radiopaedia.org/articles/secondary-pulmonary-lobule?lang=us https://radiopaedia.org/articles/bacterial-pneumonia?lang=us Broncopneumonia: Opacidade irregular do espaço aéreo em todo o pulmão direito, de acordo com broncopneumonia. O pulmão esquerdo está limpo. Sem derrame pleural. TC da broncopneumonia: • Múltiplos focos de opacidade em um padrão lobular, centrado nos bronquíolos centrolobulares. Isso pode resultar em uma aparência de árvore em botão . • Esses focos de consolidação podem se sobrepor para criar uma área confluente de consolidação heterogênea maior ou aparência de “colcha de retalhos” https://radiopaedia.org/articles/tree-in-bud-appearance?lang=us Pneumonia lobar é definida pela consolidação envolvendo um lobo pulmonar inteiro. Ela é mais frequente na infecção pelo pneumococo e tem maior gravidade do que a broncopneumonia, além de complicações mais frequentes (abscessos, derrames parapneumônicos e empiemas). • A pneumonia lobar é um padrão radiológico associado à consolidação homogênea e fibrinossupurativa de um ou mais lobos de um pulmão em resposta a uma pneumonia bacteriana . • Caracterizada pela consolidação alveolar extensa, ocupando uma grande área do parênquima pulmonar, como um lobo inteiro. • A aparência radiológica da pneumonia lobar não é específica de nenhum organismo causador, embora existam organismos que classicamente apresentam apresentação radiológica de pneumonia lobar. Streptococcus pneumoniae é o organismo causador mais comum de pneumonia lobar. Raio-x da pneumonia lobar: • opacificação homogênea em padrão lobar • A opacificação pode ser bem definida nas fissuras, embora mais comumente haja consolidação segmentar • O brônquio não opacificado dentro de um lobo consolidado resultará no aparecimento de broncogramas aéreos (não é exclusivo de pneumonia) . • A rigor, a consolidação não está associada à perda de volume; entretanto, atelectasia pode ocorrer com obstrução de pequenas vias aéreas. O broncograma aéreo refere-se ao fenômeno dos brônquios cheios de ar (escuros) que se tornam visíveis pela opacificação dos alvéolos circundantes (cinza/branco). Quase sempre é causada por um processo patológico do espaço aéreo/alveolar, no qual algo diferente do ar preenche os alvéolos. Os broncogramas aéreos não serão visíveis se os próprios brônquios estiverem opacificados (por exemplo, por líquido) e, portanto, indicarem vias aéreas proximais patentes. opacidade do espaço aéreo com broncograma aéreo. Broncograma aéreo com consolidação TC na pneumonia lobar: https://radiopaedia.org/articles/air-space-opacification-1?lang=us https://radiopaedia.org/articles/bacterial-pneumonia?lang=us https://radiopaedia.org/articles/bacterial-pneumonia?lang=us https://radiopaedia.org/articles/missing?article%5Btitle%5D=streptococcus-pneumoniae&lang=us https://radiopaedia.org/articles/air-bronchogram?lang=us https://radiopaedia.org/articles/lobar-lung-collapse?lang=us https://radiopaedia.org/articles/air-bronchogram • opacificação focal densa da maior parte de um lobo inteiro, com relativa preservação das grandes vias aéreas. • Podem haver áreas adicionais associadas de opacidade em vidrofosco em padrão lobar ou segmentar, provavelmente representando áreas de envolvimento parcial ou simplesmente atelectasia Consolidação do lobo médio direito https://radiopaedia.org/articles/ground-glass-opacification-3?lang=us Consolidação densa do lobo superior direito Fatores de risco • Condições que reduzem a reserva e a funcionalidade imunológica, além de promoverem alterações estruturais e dificultarem a limpeza mucociliar das vias aéreas QUADRO CLÍNICO • A apresentação clínica da PAC varia desde pneumonia leve caracterizada por febre, tosse e falta de ar até pneumonia grave caracterizada por sepse e dificuldade respiratória Pneumonia típica e atípica (Termos em desuso) A pneumonia bacteriana típica é causada por bactérias extracelulares, que geram um quadro agudo, muito sintomático e, por vezes, toxêmico. Isso ocorre porque essas bactérias possuem superantígenos, múltiplos fatores de virulência e, eventualmente, produzem toxinas. • Quadro agudo, com 2 a 5 dias de evolução • sintomas de toxemia: febre alta (39-40°C), dor no corpo e articulações • sintomas respiratórios: tosse expectorada purulenta (eventualmente até hemoptoica), dispineia, taquidispneia e, nos casos com consolidação extensa, dor torácica pleurítica (aquela que piora à inspiração profunda, quando os pulmões hiperinsuflados têm contato com a pleura irritada). • manifestações sistêmicas: prostração, delirium, cefaleia, sudorese, calafrios, artralgias, mialgias e febre Quanto mais idoso e mais debilitado for o paciente por alguma doença de base, mais o quadro clínico se afasta do que foi descrito acima! • A febre pode estar ausente ou, se presente, ser mais baixa (38-38,5°C). Podem faltar outros comemorativos, como a tosse, a expectoração purulenta e a leucocitose. • Às vezes, o único sinal de pneumonia nesses pacientes pode ser a prostração, a desorientação ou a taquidispneia. Exame físico: A ausência de alterações nos sinais vitais e de qualquer anormalidade no exame físico reduz significativamente a probabilidade de pneumonia, contudo as manifestações da doença podem ser mais frustras em indivíduos idosos ou imunossuprimidos. • expansibilidade torácica reduzida • A percussão não apresenta o típico som claro pulmonar, mas sim uma submacicez/macicez percutória. • frêmito toracovocal aumentado, broncofonia e pectoriloquia • Estertores creptantes • sopro brônquico ou tubário • Em casos de consolidação alveolar mais extensa, podemos ouvir o sopro tubário, que é intenso, agudo e rude à respiração, gerado pela vibração dos grandes brônquios com a caixa torácica. Esse sopro é praticamente um sinônimo de consolidação Os achados semiológicos têm apenas acurácia moderada, não permitindo de forma segura confirmar ou excluir o diagnóstico de PAC A pneumonia bacteriana atípica* é causada por bactérias intracelulares, que terão uma evolução mais subaguda (com dias a semanas de sintomas) e oligossintomática. Por serem intracelulares, essas bactérias possuem poucos antígenos hiperinflamatórios e não produzem toxinas • O quadro clínico atípico de pneumonia se parece com uma virose respiratória prolongada. • O principal agente é o Mycoplasma pneumoniae, incidindo geralmente numa faixa etária jovem (5-40 anos). • Chlamydia pneumoniae é o segundo agente mais comum de pneumonia ´´atípica``, porém predomina numa faixa etária mais velha (65-80 anos) • A pneumonia bacteriana atípica é muito semelhante às pneumonias virais, tendo uma apresentação clínica subaguda, com 7 a 14 dias de evolução. • Pode ser precedida de pródromos gripais: coriza, obstrução nasal, odinofagia e febre baixa, cefaleia, mal-estar, mialgia. • A tosse costuma piorar após a primeira semana, passando a ser o principal sintoma; às vezes persiste por várias semanas. • A tosse atípica é geralmente pouco produtiva e hialina (diferentemente da característica purulenta da pneumonia bacteriana típica). • Costuma ser uma tosse seca, que atrapalha o sono do paciente, mas também pode mostrar-se produtiva (expectoração geralmente é branca, mas pode ser purulenta). • O exame físico da pneumonia atípica é muito frustro, podendo ser identificados estertores crepitantes e, eventualmente, sibilos, resultantes de broncoespasmos ocasionais. • O laboratório só mostra leucocitose neutrofílica em 20% dos casos, o que difere da pneumonia bacteriana “típica”, na qual a leucocitose com desvio para esquerda é a regra O grande marco da síndrome da pneumonia “atípica” é a importante dissociação clinicorradiológica encontrada nesses pacientes. • Enquanto o exame do aparelho respiratório é totalmente normal ou revela apenas discretos estertores crepitantes ou sibilos, a radiografia de tórax mostra um infiltrado pulmonar maior do que o esperado. • O infiltrado pode ser do tipo broncopneumônico (típico das infecções por micoplasma ou clamídia) ou do tipo intersticial reticular ou reticulonodular (típico das viroses) Infiltrado tipo “broncopneumônico”. Infiltrado tipo intersticial reticulonodular *Uma vez com este quadro clínico atípico poderíamos suspeitar de germes atípicos (M. pneumoniae, C. pneumoniae, Legionella spp e vírus) • Entretanto, a apresentação clínica de uma PAC depende mais do estado imunológico do paciente do que do agente etiológico (ex. pacientes idosos ou com neutropenia febril) EXAMES COMPLEMENTARES Radiografia de tórax A radiografia de tórax, em associação com a anamnese e o exame físico, faz parte da tríade propedêutica clássica para PAC, sendo recomendada sua realização de rotina (obrigatório), quando disponível, nas incidências PA e perfil. • Além da contribuição ao diagnóstico, a radiografia de tórax permite ainda avaliar a extensão das lesões, detectar complicações e auxiliar no diagnóstico diferencial • A radiografia de tórax está recomendada também quando há dúvida quanto ao diagnóstico ou necessidade de diagnóstico diferencial com câncer de pulmão, assim como quando, durante o seguimento do tratamento, a resposta clínica for insatisfatória Na pneumonia atípica, apresenta-se com infiltrados intersticiais (reticulares ou reticulonodulares) que se assemelham a um “rendilhado” no parênquima. Diferentemente da distribuição irregular da pneumonia típica, eles são encontrados de forma simétrica nas regiões peri-hilares, pode ser confundido com o hilo pulmonar normal. O padrão radiológico não pode ser usado para predizer o agente causal, ou mesmo separar grupos de agentes (bacterianos e não-bacterianos) USG (POCUS) Apresenta maior sensibilidade e maior acurácia do que a radiografia de tórax na identificação de alterações parenquimatosas. • Os principais achados ultrassonográficos na PAC: consolidações, padrão intersticial focal, lesões subpleurais e anormalidades na linha pleural • A UST apresenta alto rendimento na detecção de complicações como o derrame pleural, além de permitir a visualização de loculações na cavidade. • A orientação para punção de derrame pleural (loculado ou não) constitui uma das indicações do uso da UST TC É o método mais sensível na identificação de acometimento infeccioso do parênquima pulmonar • A TC de tórax é útil quando há dúvidas sobre a presença ou não de infiltrado radiológico, na presença de um quadro clínico exuberante associado à radiografia normal, na detecção de complicações, tais como derrame pleural loculado e abscesso ainda não aberto nas vias aéreas, assim como para diferenciar infiltrado pneumônico de massas pulmonares • Indicação: deve ser realizada quando houver dúvidas sobre a presença de infiltrado pneumônico, para a detecção de complicações (abscesso e derrame pleural) e na suspeita de neoplasia • Além disso, a TC de tórax está indicada na suspeita de infecções fúngicas e para auxiliar na exclusão de outros diagnósticosem casos selecionados • Outro uso: investigação de motivos da falta de resposta clínica ao tratamento Exames laboratoriais Análises hematológicas e bioquímicas, em geral, não estão indicadas para pacientes que farão tratamento ambulatorial, mas têm valor na avaliação inicial e no acompanhamento de pacientes internados. • Leucocitose (pode haver desvio a esquerda) e até leucopenia (pior prognóstico) • Neutrofilia • PCR e Procalcitonina elevada • Leucopenia e trombocitose estão associados a pior prognóstico • pneumonia por Legionella sp (=> hiponatremia) • Pneumonia grave => aumento de ureia devido à desidratação por perdas insensíveis (taquipneia, taquicardia e febre). A desidrogenase lática (DHL) é uma enzima intracelular liberada após dano tecidual, e seu aumento em casos de pneumonia denota amplo acometimento do parênquima pulmonar. • A SpO2 deve ser observada na rotina, antes do uso eventual de oxigênio. Pode inferir o diagnóstico de pneumonia em pacientes sem sinais claros da doença e auxiliar no diagnóstico de insuficiência respiratória. Indica a necessidade de suplementação de oxigênio. • A gasometria arterial deve ser realizada na presença de SpO2 ≤ 90% em ar ambiente e em casos de pneumonia considerada grave • A presença de hipoxemia indica o uso de oxigênio suplementar e admissão hospitalar INVESTIGAÇÃO ETIOLÓGICA • Não é necessária nos casos de pacientes com PAC não grave com tratamento ambulatorial. Indicação: • PAC grave ou não respondedora à terapia empírica inicial • internados em UTI. Exames básicos: Nos casos de PAC grave, recomenda-se a investigação microbiológica através da hemocultura, cultura de escarro, aspirado traqueal ou amostras obtidas por broncoscopia nos pacientes sob ventilação mecânica • amostra de secreção respiratória: deve ser colhido escarro para realização de exame direto e cultura para bactérias; • Hemocultura; • Pesquisa de antígenos urinários para S. pneumoniae e Legionella sp., • testes sorológicos; e • eventual cultura para germes atípicos. DIAGNÓSTICO • O diagnóstico baseia-se na presença de sintomas de doença aguda do trato respiratório inferior (tosse e um ou mais dos seguintes sintomas: expectoração, falta de ar e dor torácica), achados focais no exame físico do tórax e manifestações sistêmicas (confusão, cefaleia, sudorese, calafrios, mialgias e temperatura superior a 37,8°C), os quais são corroborados pela presença de uma opacidade pulmonar nova detectada por radiografia do tórax Avaliação da gravidade Os pacientes com PAC devem ser sempre avaliados quanto à gravidade da doença • A gravidade da doença é definida principalmente pelos escores; • Porém, outros fatores devem ser levados em consideração, como a viabilidade do uso de medicação por via oral, comorbidades associadas, fatores psicossociais e características socioeconômicas que indiquem vulnerabilidade do indivíduo. • A SpO2 deve ser sempre avaliada: SpO2 < 92% devem indicar internação • Na ausência de PAC grave, ou seja, sem indicações socioeconômicas de internação, doenças associadas descompensadas, hipoxemia, impossibilidade de ingestão oral de medicamentos e presença de pelo menos 2 pontos no escore CURB-65 (ou de pelo menos 1 no escore CRB-65 ou de mais que 70 pontos no PSI), deve-se considerar o tratamento ambulatorial. /-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------/ MANEJO TRATAMENTO AMBULATORIAL Tratamento é empírico: Pacientes de baixo risco (jovens, sem comorbidades e sem uso recente de antibióticos), podemos oferecer só uma classe de antibiótico: • Amoxicilina 500 mg, VO, a cada 8 horas ou 1 g, VO, a cada 8 horas (cobre bem Streptococcus pneumoniae); ou • Amoxicilina + clavulanato 500/125 mg, VO, a cada 8 horas ou amoxicilina/clavulanato 875/125 mg, VO, a cada 12 horas (ação contra betalactamase do Haemophilus influenzae, da Moraxella catarrhalis e da Klebsiella pneumoniae); ou • Macrolídeos (cobre pneumococo e germes atípicos): ➢ Azitromicina: 500 mg, VO, 1 vez ao dia ou 500 mg, VO, 1° dia, seguido por 250 mg, VO, 1 vez ao dia nos demais dias. ➢ Claritromicina, 500 mg, VO, a cada 12 horas; Para pacientes com risco de complicações (idosos, com comorbidades cardíacas, pulmonares, renais, hepática, DM, alcoolismo, neoplasia ou asplenia, pneumonia muito grave e extensa ou que fizeram uso de antibióticos recentemente) sempre associar: • betalactâmico + macrolídeo • Fluoroquinolonas (reservada para alérgicos): ➢ gemifloxacino, 320 mg, VO, 1 vez ao dia; ➢ levofloxacino: 500 mg, VO, 1 vez ao dia ou 750 mg, VO, 1 vez ao dia ➢ moxifloxacino, 400 mg, VO, 1 vez ao dia. Fluoroquinolonas devem ser reservadas para pacientes com fatores de risco, doença mais grave ou quando não houver outra opção de tratamento, situações essas em que os benefícios superariam os potenciais riscos. **azitromicina é mais efetiva in vitro contra a maioria das cepas de Haemophilus influenzae do que a claritromicina e, por isso, deveria ser preferida nos pacientes com DPOC *** Os riscos de infecção por agentes patogênicos resistentes e de falência terapêutica são maiores quando há história de uso de um antibiótico nos 3 meses, quando os pacientes vêm de regiões onde a taxa local de resistência aos macrolídeos > 25% e presença de doenças associadas (DPOC, doença hepática ou renal, câncer, diabetes, ICC, alcoolismo ou imunossupressão). Para esses casos específicos, recomenda-se associar macrolídeos + β-lactâmico ou monoterapia com fluoroquinolona respiratória por pelo menos 5 dias. TRATAMENTO HOSPITALAR/ENFERMARIA Não há diferença na escolha de antimicrobianos entre os pacientes com alto ou baixo risco. • cefalosporinas de 3ª geração ou amoxicilina + clavulanato 1000/200 mg a cada 8-12h (não cobre atípicos). • E por que podemos fazer fluoroquinolonas em internados? Porque o paciente estará em um ambiente controlado, onde conseguiremos detectar os efeitos colaterais dessa classe e trocar o esquema, se necessário. • Não use ciprofloxacino (não cobre pneumococo e outros organismos Gram positivos) • Um β-lactâmico isolado pode ser usado se houver exclusão confirmada de Legionella sp TRATAMENTO EM UTI Para pacientes internados em UTI, a preferência é sempre pela associação de antibióticos, podendo ser um betalactâmico + macrolídeo ou betalactâmico + quinolona respiratória Deve cobrir pneumonias típicas graves, como a pneumocócica, a pneumonia causada por Klebsiella e S. aureus, e também as pneumonias atípicas graves, entre elas, a pneumonia por Legionella. • Cefalosporinas de terceira geração ou ampicilina + sulbactam + macrolídeo (cobrir atípicos). • cefalosporinas de terceira geração + fluoroquinolona respiratória (cobrir os atípicos). Tempo de tratamento: mínimo é 7 dias a 14 dias nos casos graves (como pacientes intubados, em pneumonias extensas ou que apresentem síndrome respiratória aguda grave) Terapia combinada reduz mortalidade! • Deve incluir preferencialmente um macrolídeo + β-lactâmico IV TRATAMENTO GUIADO E quando temos resultados da cultura de escarro, secreção traqueal ou lavado broncoalveolar dos pacientes poderemos fazer o tratamento guiado: • Os fatores de risco mais fortemente associados à pneumonia por MRSA ou P. aeruginosa são infecção prévia por estes agentes. • hospitalização e ATB IV nós últimos 90 dias também estão associados a maior risco de infeção por esses patógenos. Streptococcus pneumoniae resistente à penicilina: MRSA: • Adquirida na comunidade: clindamicina, linezolida ou vancomicina (que podem ser utilizados em monoterapia ou associados entre si: linezolida e clindamicina ou vacomicina e clindamicina) • Adquirida no ambiente hospitalar:linezoldia ou vancomicina A resistência à meticilina, causada por uma mudança no sítio de ligação da parede celular dessa bactéria, impedirá a ação de praticamente todos os betalactâmicos, com exceção da ceftarolina. Enterobactérias produtoras de betalactamase de espectro estendido • Ertapenem (7 a 14 dias) Gram-negativas (como o Enterobacter sp., a Klebsiella sp. etc.) podem produzir uma betalactamase de espectro estendido (ESBL), enzima que hidrolisará todas as cefalosporinas Pseudomonas • Fluoroquinolonas antipseudomonas, piperacilina/tazobactan, meropenem, polimixina B (monoterapia ou terapia combinada) (10-14 dias) Duração de terapia • Tratamentos de 5 a 7 dias parecem ser suficientes na maior parte das vezes, especialmente em infecções não graves • Antes de suspender a medicação o paciente deve estar afebril por, no mínimo, 3 dias Recomendações: • PAC de baixa gravidade e com tratamento ambulatorial: monoterapia por 5 dias. • A PAC de moderada a alta gravidade: 7 a 10 dias. • O tratamento pode ser estendido até 14 dias a critério do médico assistente A antibioticoterapia de curta duração parece ser a mais apropriada: • menor exposição do paciente à ação de antibióticos, • reduz a ocorrência de efeitos adversos, • diminui o desenvolvimento de resistência por parte dos microrganismos, • melhora a adesão dos pacientes; • minimizar o tempo de internação; • Reduz custos tratamentos muito longos favorecem o desenvolvimento de resistência bacteriana e a ocorrência de efeitos adversos potencialmente graves, como infecções por Clostridium difficile SEGUIMENTO No retorno: Pesquisar sinais e sintomas de piora clínica. Caso assintomático e em melhora: alta ambulatorial • Não precisa pedir exames A resolução completa das alterações radiológicas pode demorar de 2 a 6 semanas. • Ou seja, mesmo com melhora clínica, o paciente poderá apresentar uma persistência de opacidade, que é irrelevante na indicação de novos tratamentos • A progressão radiológica após a admissão pode ocorrer com qualquer etiologia e não deve ser um indicativo de mudança no regime terapêutico, desde que esteja havendo melhora no quadro clínico Quando pedir raio-x? 1. persistência ou piora dos sintomas 2. para tabagistas com carga tabágica maior que 50 anos/maço, a repetição deve ser feita 30 dias depois com o objetivo de excluir o câncer de pulmão entre os diagnósticos diferenciais. PROGNÓSTICO A estabilidade clínica (resolução das alterações dos sinais vitais, boa aceitação da dieta VO e estado de consciência normal) é geralmente atingida em 48-72 horas. Se não houver melhora clínica, considere: ✓ presença de outros microrganismos (p. ex., fungos ou micobactérias); ✓ terapia empírica inadequada (p. ex., bactérias multirresistentes); ✓ focos fechados (p. ex., abscesso ou empiema); ✓ diagnósticos diferenciais (p. ex., atelectasia, tromboembolismo pulmonar, neoplasia, vasculite); ✓ outros focos de infecção. Principais causas de fracasso terapêutico: ✓ Antibioticoterapia errada; ✓ Não era pneumonia: embolia pulmonar, vasculites, pneumonia eosinofílica, de hipersensibilidade, etc.; ✓ É pneumonia, mas por agentes pouco usuais: infecções fúngicas, pneumocistose, nocardiose, leptospirose, hantavirose, psitacose, etc.; ✓ Aconteceram complicações: pulmonares (abscesso) ou extrapulmonares (empiema). COMPLICAÇÕES Derrame pleural parapneumônico (DPP) Um derrame parapneumônico refere-se ao acúmulo de líquido no espaço pleural no contexto de uma pneumonia adjacente • Um derrame parapneumônico simples ou não complicado refere-se a um derrame de fluxo livre que é estéril. • Um derrame parapneumônico complicado refere-se a um derrame que foi infectado por bactérias ou outros microrganismos (por exemplo, coloração de Gram positiva ou evidência bioquímica de inflamação acentuada). • Um empiema refere-se a uma coleção de pus dentro do espaço pleural, que pode se desenvolver quando bactérias piogênicas, fungos, parasitas ou micobactérias invadem o espaço pleural, seja por uma pneumonia adjacente ou por inoculação direta (por exemplo, de trauma penetrante) ou outra fonte. . O empiema que se desenvolve a partir de uma pneumonia adjacente é uma subclasse de derrame parapneumônico complicado. • Um derrame complexo refere-se a um derrame com loculações internas. • Um derrame uniloculado é aquele sem septos internos (fluxo livre ou fixo). Quando suspeitar: O quadro clínico predominante nos pacientes com DPP é semelhante ao de pneumonia: • Tosse • dor tipo pleurítica (sinal de alerta pra derrme) • Dispineia (DPP de moderado a grande volume) • redução da amplitude respiratória; • FTV reduzido ou abolido; • macicez à percussão; e • Diminuição ou abolição dos murmúrios vesiculares. Em condições normais, os sintomas de febre, tosse e falta de ar devem apresentar redução importante a partir do terceiro dia de antibioticoterapia. • A falha de resposta ao tratamento indica a necessidade de realização de nova avaliação para se investigar a presença de um DPP não existente no momento do diagnóstico, ou uma complicação do DPP já existente Diagnóstico Na maioria das vezes o quadro clínico do DPP se sobrepõe ao da PAC, sendo ele descoberto devido à realização da radiografia de tórax para o diagnóstico inicial ou avaliação da falta de resposta ao tratamento para a PAC • A maioria desses derrames é resolvida com o mesmo tratamento antibiótico da PAC, e sua presença pode passar despercebida. No entanto, quando não ocorre a resposta habitual ao tratamento, o DPP pode aumentar de volume e evoluir com septações ou para empiema pleural. Radiografia de tórax em 3 incidências: PA, perfil e decúbito lateral (Laurell) • A primeira incidência analisada sempre deverá ser a PA, evitando o decúbito dorsal, pois ele distribuirá o derrame pleural. Nela, poderemos ver, além do velamento do seio costofrênico, o sinal do menisco/parábola de Damoiseau (parábola com concavidade para cima). • Na incidência em perfil, conseguiremos visualizar esse derrame pleural no seio costofrênico posterior, com um velamento deste • Na incidiência de Laurell, observaremos o derrame pleural escorrendo no espaço pleural, formando uma linha horizontal. Consegue ver derrames a partir de 50ml. • Outros sinais radiológicos: a opacificação da cúpula diafragmática ipsilateral e acúmulos líquidos das fissuras pulmonares derrame pleural à direita, com opacificação da fissura pulmonar (setas). Toracocentese diagnóstica • indicado quando se está diante de um derrame pleural de etiologia indefinida e que seja puncionável (espessura do derrame ≥ 1 cm em RX de tórax em decúbito lateral com raios horizontais ou USG) Na incidência em perfil, um derrame pleural com altura ≥ 5 cm no recesso costofrênico posterior deve ser submetido à toracocentese diagnóstica! • Em geral, uma lâmina de 1 cm em decúbito lateral é vista como uma imagem de até 5 cm no seio costofrênico posterior Diante de um paciente sabidamente com IC ou cirrose hepática, que se encontre descompensado, em estado hipervolêmico e que apresente derrame pleural que aparenta ser decorrente de um quadro congestivo (derrame bilateral, congestão pulmonar associada etc.), pode não se instituir inicialmente a toracocentese. • Nesses casos, assume-se que o derrame é um transudato decorrente da congestão e se realiza um curso com diuréticos. • Se após 72 horas de diuréticos o derrame persistir sem melhora, deve-se indicar a toracocentese diagnóstica O primeiro objetivo na análise do líquido pleural das pneumonias é determinar se ele é um: • Transudato: líquido pleural sem inflamação pleural importante, portanto com pouca celularidade, que vemos habitualmente em insuficiências cardíacas descompensadas, por exemplo; ou• Exsudato: líquido pleural resultante de uma inflamação pleural importante, marcado pela alta celularidade com consumo de glicose e aumento de proteínas critérios de Light (diferenciar transudato de exsudato) • Os transudatos têm pouca inflamação, com baixa desidrogenase lática, baixa celularidade e poucas proteínas produzidas; • Os exsudatos são hiperinflamatórios, com alta desidrogenase lática, alta celularidade e muitas proteínas produzidas. Quando temos qualquer critério positivo da coluna de exsudato, o paciente automaticamente tem um derrame pleural exsudativo. Por sua vez, para transudato, precisamos dos três critérios (ou melhor, a ausência de critérios de exsudato)! O DPP não complicado, o DPP complicado e o empiema pleural, apesar de considerados separadamente, podem representar a evolução do mesmo processo • todo paciente começa com um derrame parapneumônico não complicado, que pode evoluir para um complicado e, em seguida, para um empiema pleural. • Conforme isso acontece, a inflamação aumenta, elevando o consumo de glicose e também o metabolismo anaeróbio, o que produzirá ácido lático, deixando o meio mais ácido (pH reduzido). • Com o avanço da inflamação, teremos um aumento de produtos de necrose local, como proteínas e DHL, além da celularidade do líquido pleural. Manejo Em virtude da urgência no início do tratamento, a cobertura antibiótica deve ser inicialmente empírica, procurando abranger as bactérias mais encontradas na prática clínica, com base em dados de faixa etária e fatores de risco • Em caso de DP não complicado, antibioticoterapia deve ser mantida e deve ter a mesma cobertura da pneumonia não complicada A antibioticoterapia em DP complicado deve ser guiada para pneumococos e anaeróbios. Macrolídeos para cobertura empírica de atípicos não estão indicados. • Em casos de empiema secundário à PAC, os antibióticos escolhidos devem ser associados a um agente para anaeróbios • Em casos de empiema secundário à pneumonia hospitalar, a presença de germes Gram negativos em associação a germes Gram positivos e anaeróbios deve ser considerada Nos pacientes em que o diagnóstico de DPP não complicado foi realizado, a melhora clínica deve ocorrer em até 72 horas. • A persistência de sintomas ou aparecimento de novos sintomas, como dor torácica, deve alertar para novos exames, podendo ser necessárias novas radiografias, ultrasonografia e eventualmente nova toracocentese Toracocentese terapêutica • Forma menos invasiva de tratamento do DPP. • Considerar a toracocentese somente nos pacientes com derrames menores que a metade do hemitórax, com Gram e cultura negativos e pH > 7,2 Drenagem pleural • Deve ser o tratamento de escolha para os DPP volumosos (maiores que a metade do hemitórax) ou que se apresentem com Gram ou cultura positivos ou pH < 7,2, e no empiema franco. • Deve ser também considerada nos DPP recidivados após toracocentese inicial ou nos pacientes com quadro clínico instável. ABCESSO PULMONAR Comum nas pneumonias aspirativas e estafilocócicas • A maior parte desses abscessos pulmonares responde à antibioticoterapia, preferencialmente guiada, por tempo mais prolongado (até 21 dias, a depender do número de abscessos e de sua extensão). • Pacientes que não melhoram as dimensões dos abscessos pulmonares após 7 a 10 dias de antibióticos devem ser submetidos à drenagem, por via transtorácica percutânea ou por via transbrônquica, acessada por meio de uma broncoscopia flexível. /---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------/ PNEUMONIAS ASSOCIADAS À ASSISTÊNCIA EM SAÚDE (PAAS) PAAS, antigamente chamada de pneumonia hospitalar ou nosocomial, são as pneumonias que ocorrem em pacientes internados por outros motivos. • PAAS é o quadro de pneumonia que se instala 48h ou mais após a internação hospitalar. • PAVM é o quadro de pneumonia que se instala 48 após a intubação orotraqueal. Apesar de a PAVM também ser adquirida no hospital, não devemos nos referir a ela utilizando o termo “PAAS”! • O motivo é que o perfil microbiológico, o diagnóstico, a estratégia terapêutica e o prognóstico não são idênticos Fisiopatologia • O modo de infecção é o mesmo da PAC: o paciente colonizado por determinado microrganismo em sua região oral fará uma microaspiração de secreções orais e nasofaríngeas, que não serão eliminadas adequadamente pelo epitélio ciliado pulmonar A diferença está na microbiota do paciente hospitalizado! • A região oral e nasofaríngea de pacientes da comunidade de maneira típica é colonizada, predominantemente, por bactérias Gram-positivas. • Após 48 horas de internação, a microbiota será colonizada com maior proporção de Gram- negativos. Os principais patógenos implicados na gênese tanto da PAAS quanto da PAVM são os Bastonetes Gram-Negativos (BGN) e os Cocos Gram-Positivos (CGN) de padrão nosocomial, isto é, germes selecionados pela pressão do uso corriqueiro de antimicrobianos no ambiente hospitalar, e que por isso apresentam um perfil de elevada resistência (MDR = Multidroga-Resistência). • Entre esses Gram-negativos, temos uma participação prevalente dos bacilos fermentadores (K. pneumoniae, E. coli, Enterobacter spp.), dos bacilos não fermentadores (Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, Burkholderia sp. e Stenotrophomonas sp.), além de uma incidência maior de Gram-positivos multidrogarresistentes, como o MRSA • Fungos e vírus são causas menos comuns de PN e PAVM, exceto nos pacientes profundamente imunodeprimidos • A participação de anaeróbios nas infecções pulmonares nosocomiais é, em geral, irrelevante, exceto se houver história de aspiração de vômitos e/ou cirurgia abdominal recente. Seja como for, os esquemas antimicrobianos empíricos recomendados geralmente “cobrem” bem esses patógenos Pirncipal BGN: P. Aeruginosa. Principal CGP: Staphylococcus aureus (MSSA ou MRSA) QUADRO CLÍNICO • febre (> 38.0 °C); • piora do escarro produzido (em maior quantidade e com aspecto purulento); • tosse persistente; dor torácica; e • Dispneia Podem apresentar aumento de demanda ventilatória (ex. 3 L/min de oxigênio para 5 L/ min para obter a mesma oximetria de um dia para o outro) EXAMES Radiografias de tórax PA e Perfil • Devem ser sempre comparadas com radiografias anteriores: caso se identifique um novo infiltrado sugerindo uma broncopneumonia ou pneumonia lobar, temos uma pneumonia associada à assistência em saúde; • caso não se identifique novos infiltrados, podemos considerar o caso como uma traqueobronquite, que é definida como uma inflamação de vias aéreas que ainda não acometeu o parênquima pulmonar Hemograma • leucocitose ou leucopenia (com ou sem desvios à esquerda). Provas inflamatórias • PCR e procalcitonina (marcador inflamatório com alta especificidade para infecções bacterianas e prediz mortalidade) Testes microbiológicos: envolvem a bacterioscopia e cultura de secreções do trato respiratório inferior: • Escarro; • Secreção traqueal; • Lavado broncoalveolar. Hemocultura • são pouco úteis fora do contexto de sepse, com uma positividade de cerca de 10%. • Não são recomendadas de rotina, somente quando há dúvida diagnóstica. Diagnóstico O diagnóstico clínico é baseado em um novo infiltrado pulmonar, além de evidências clínicas de que o infiltrado é de origem infecciosa, o que inclui o novo início de febre, expectoração purulenta, leucocitose e declínio na oxigenação A confirmação do diagnóstico é feita a partir do resultado das culturas • Sempre que possível, pacientes que recebem um diagnóstico clínico de PAAS devem coletar culturas antes de iniciar o tratamento antimicrobiano, a fim de confirmar o diagnóstico etiológico e determinar o perfil de sensibilidade do(s) patógeno(s) envolvido(s).• Recomenda-se coletar escarro e 2 amostras de hemocultura. Após a coleta, inicia-se antibioticoterapia empírica. TRATAMENTO EMPÍRICO O tratamento antimicrobiano da PAAS e da PAVM deve ser inicialmente empírico, isto é, após o diagnóstico clinicorradiológico e coleta de culturas, começa-se a tratar o paciente antes do conhecimento dos resultados da cultura e do antibiograma, com um esquema que contemple os germes mais provavelmente envolvidos e seu provável perfil de sensibilidade • De posse dos resultados do antibiograma, o esquema pode ser mantido, ampliado ou de- escalonado, ou seja, pode-se mudar o tratamento de modo a selecionar a droga com menor espectro de ação (e de preferência menor toxicidade e custo) que “cubra”, adequadamente, o(s) patógeno(s) identificado(s) Essa decisão deve considerar: • antibióticos que o paciente utilizou nos últimos 90 dias (que aumentarão a chance de resistência); • perfil de bactérias que circulam no hospital em que o paciente está internado; • Alergias; • comorbidades (para evitar toxicidade de algumas classes de antibióticos); • fatores de risco para colonização por MRSA e risco de mortalidade (se o paciente está em sepse, choque séptico ou em VM). A terapia empírica para PAAS e PAVM deve incluir agentes com atividade contra Staphylococcus aureus , Pseudomonas aeruginosa e outros bacilos gram-negativos. Nas pneumonias associadas à assistência em saúde: 1. Sempre cobrir Pseudomonas aeruginosa; 2. Pacientes com colonização por MRSA também devem tê-lo como alvo de terapia; 3. Pacientes graves sempre cobrir: Pseudomonas aeruginosa (considerar as MDR a depender do uso prévio de antibióticos) + MRSA * Pacientes que têm apenas fatores de risco para Pseudomonas e outros BGN MDR (ex.: doenças estruturais pulmonares como fibrose cística e bronquiectasia; predomínio de BGN no Gram de escarro), sem fatores de alto risco para mortalidade e sem fatores de risco para MRSA, devem receber a associação de dois agentes antipseudomonas conforme as orientações da coluna da direita (isto é, eles recebem dois ATB da parte de cima da lista, sem receber vancomicina ou linezolida) 1. todas as drogas citadas na coluna da esquerda fornecem cobertura contra MSSA, além de Pseudomonas e outros BGN “não MDR”; 2. outras drogas potencialmente úteis no tratamento do MRSA (ex.: daptomicina, tigeciclina, ceftobiprole) NÃO são recomendadas em PN/PAVM, por não penetrarem bem nos pulmões ou terem demonstrado eficácia inferior à vancomicina/linezolida. 3. as doses citadas na tabela são para pacientes com função renal normal. Na vigência de disfunção renal, as doses devem ser ajustadas quando cabível. TRATAMENTO GUIADO POR CULTURA Com o resultado das culturas, devemos reavaliar o tratamento, ajustando-o conforme os resultados do antibiograma e de-escalonando o espectro antimicrobiano sempre que possível. • Regra geral: se o MRSA não for encontrado, podemos suspender a cobertura empírica contra este germe! Pseudomonas aeruginosa • Classicamente, recomenda-se que as infecções causadas por P. aeruginosa sejam sempre tratadas com duas drogas antipseudomonas em associação ( buscando aumentar espectro antimicrobiano, com o intuito de reduzir a chance de tratamento inadequado) • No entanto, so há o benefício da terapia combinada quando o paciente se encontra em estado crítico (choque séptico), situação em que de fato parece haver sinergismo antibacteriano, propiciando melhora da sobrevida. • Pacientes com infecções documentadas por P. aeruginosa que NÃO ESTEJAM EM CHOQUE SÉPTICO podem ser tratados com monoterapia! Enterobactérias produtoras de betalactamases de espectro estendido (ESBL) • Considera-se que as enterobactérias ESBL+ são resistentes a todos os betalactâmicos (penicilinas e cefalosporinas), mesmo que os resultados das culturas estranhamente sugiram sensibilidade a um ou mais agentes dessa classe (neste caso, a sensibilidade é apenas laboratorial, e não clínica) • As drogas de escolha para tratar germes ESBL+ são os carbapenêmicos. BGN produtor de carbapenemase (ex.: “KPC” = Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase+) As drogas de escolha são as polimixinas (polimixina E e polimixina B). • Como os níveis pulmonares de polimixina são sempre inferiores aos níveis séricos, recomenda-se o acréscimo de ATB inalatório ao ATB intravenoso. • A polimixina de escolha para uso inalatório é a colistina (poli E) Acinetobacter baumannii • As drogas de escolha, se o germe for sensível, são ampicilina/sulbactam ou um carbapenêmico. • Se o germe for sensível apenas às polimixinas, devemos ministrar essas drogas pelas vias IV e inalatória QUANDO EU POSSO PASSAR O ANTIBIÓTICO PARA VIA ORAL E QUANDO DAR ALTA? DURAÇÃO DO TRATAMENTO DA PASS/PAVM • A duração do tratamento é de 7 dias, independentemente do agente causal. • A critério clínico, no entanto, a duração do tratamento poderá ser prolongada, por exemplo: pacientes que respondem de forma lenta; ocorrência de complicações supurativas (ex.: abscesso, empiema); outras infecções associadas que necessitem de mais tempo de ATB Tratamento empírico da pneumonia adquirida no hospital (não pneumonia associada à ventilação mecânica) em adultos com função renal normal PNEUMONIA ASSOCIADA À VENTILAÇÃO MECÂNICA A pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) é aquela identificada em pacientes dependentes de ventilação mecânica por mais de 48h, por meio de intubação nasotraqueal, orotraqueal ou traqueostomia. Exceto se houver alguma contraindicação específica (ex.: trauma raquimedular), todo paciente intubado deve ser mantido com a cabeceira do leito elevada entre 30° a 45 QUADRO CLÍNICO A maioria dos pacientes com PAVM apresenta início gradual ou repentino dos seguintes sintomas, mais de 48 horas após a intubação: • Sintomas – dispneia (poucos pacientes apresentam sintomas, pois a maioria não fala durante a ventilação mecânica) • Sinais – febre, taquipnéia, secreções aumentadas ou purulentas, hemoptise, roncos, estertores, redução dos sons respiratórios, broncoespasmo • Mecânica do ventilador – volume corrente reduzido, pressões inspiratórias aumentadas • Achados laboratoriais – piora da hipoxemia, leucocitose • Exames de imagem – infiltrado novo ou progressivo na radiografia de tórax ou tomografia computadorizada (TC) QUANDO SUSPEITAR No paciente intubado há mais de 48H, o diagnóstico de PAVM deve ser inicialmente cogitado sempre que surgirem sinais como febre, secreção traqueobrônquica purulenta, leucocitose e piora dos parâmetros ventilatórios e/ou da troca gasosa, por exemplo: • aumento da frequência e do esforço respiratório; • diminuição do volume corrente; • aumento do volume-minuto; e • piora da oxigenação do sangue (esta última pode ser evidenciada por uma piora da relação PaO2/FiO2, isto é, a oxigenação arterial cai a despeito de um aumento na fração inspirada de O2). Exame físico: • roncos assimétricos (representam um acúmulo focal de secreções que o paciente não consegue mobilizar). • Outros achados: estertores, diminuição do murmúrio vesicular, sibilos e hemoptise EXAMES • leucocitose ou leucopenia com desvio à esquerda • aumento de provas inflamatórias indiretas (PCR) ou diretas (procalcitonina) Radiografia Frente à suspeita clínica de PAVM, o próximo passo é obter um exame de imagem. Pela maior comodidade, este exame costuma ser o RX de tórax em AP, realizado com aparelho portátil à beira do leito • Comapre com radiografias anteriores Suspeita clínica + exame de imagem positivo, o passo subsequente, assim como na PAAS, é a obtenção de culturas: • Coleta de secreções respiratórias (ex. por aspirado endotraqueal) e 2 amostras de hemocultura. Após a coleta, inicia-se antibioticoterapia empírica. DiagnósticoPAVM é diagnosticada quando um paciente que foi ventilado mecanicamente por ≥48 horas desenvolve um infiltrado novo ou progressivo com sinais e sintomas associados de infecção (por exemplo, novo início de febre, expectoração purulenta, leucocitose, declínio na oxigenação, mecânica respiratória alterada) nos quais amostras respiratórias positivas estão presentes (isto é, neutrófilos aumentados são observados na análise microscópica e o crescimento de um patógeno em cultura excede um limite predefinido). • A confirmação do diagnóstico é feita a partir do resultado das culturas • A PAVM não pode ser confirmada ou excluída até que os resultados da cultura estejam completos; portanto, o diagnóstico é retrospectivo, durante o qual a terapia empírica está em andamento TRATAMENTO Tratamento empírico da pneumonia associada à ventilação mecânica em adultos com função renal normal PREVENÇÃO /-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------/ PNEUMONIA ASPIRATIVA A pneumonia por aspiração é decorrente da inalação de conteúdo orofaríngeo nas vias aéreas inferiores, conduzindo a lesão pulmonar e a infecção bacteriana. • Ela ocorre comumente em pacientes com estado mental alterado que apresentam diminuição no reflexo de gag ou de deglutição • pneumonia por aspiração não é uma entidade distinta, mas faz parte de um continuum que também inclui pneumonias adquiridas na comunidade e em hospitais. um paciente com aspiração sempre nem sempre irá desenvolver uma pneumonia aspirativa • A microaspiração de conteúdo gástrico é fisiológica, comum durante o período em que dormimos e raramente trará problemas. Como, nessas microaspirações, o inóculo bacteriano é pequeno e frequentemente inativado pelo suco gástrico, nosso corpo lida com a maior parte dessas bactérias quase que diariamente, sem precisar de antibióticos • No entanto, em algumas situações podemos ter a aspiração de um volumoso conteúdo gástrico e orofaríngeo, levando inicialmente a uma pneumonite. A pneumonite química após aspiração (síndrome de Mendelson) resulta da inflamação química do espaço alveolar, não sendo sinônimo de infecção. • Ela ocorre pelo dano alveolar direto causado pelo ácido e enzimas gástricas, levando, muitas vezes, a uma inflamação local (que pode produzir um discreto exsudato e gerar hipoxemia, afinal, o alvéolo estará preenchido de líquido ao invés de oxigênio). • Alguns dias após, os pacientes poderão desenvolver uma pneumonia aspirativa, que será causada pela proliferação alveolar de microrganismos da microbiota oral e gástrica. Isso resultará em uma inflamação excessiva dentro dos alvéolos, que eventualmente se complicará com empiemas e abscessos Microbiologia Os microrganismos contidos no trato gastrointestinal superior e na região orofaríngea. FATORES DE RISCO QUADRO CLÍNICO tosse irritativa intensa, taquipneia e febre dor torácica ventilatóriodependente IMAGEM Esses achados radiográficos incluem infiltrados em segmentos pulmonares dependentes da gravidade (segmentos do lobo inferior superior ou lobo superior posterior, se o paciente estiver em posição supina durante o evento, ou segmentos basais do lobo inferior, se o paciente estiver em pé durante o evento). • Local mais acometido: base pulmonar direita (80% dos infiltrados broncopneumônicos) • O segmento posterior dos lobos superiores e o segmento superior dos lobos inferiores são os locais pulmonares mais comumente envolvidos quando a aspiração ocorre em um paciente deitado. • Em um paciente ereto, é mais provável que a aspiração envolva segmentos basais bilaterais, lobo médio e língula Opacidades irregulares e bilaterais do espaço aéreo, principalmente nas zonas inferiores. Apagamento dos recessos costofrênicos consistente com aspiração. A) infiltrado alveolar no lobo inferior direito. B) infiltrados pulmonares bilaterais, insuficiência respiratória e desconforto respiratório agudo em paciente de 80 anos com episódios repetidos de aspiração. A) infiltrado cavitário no lobo inferior esquerdo e infiltrado no lobo superior esquerdo. B) infiltrados pulmonares bilaterais, insuficiência respiratória e síndrome do desconforto respiratório agudo. C) infiltrado cavitário no lobo superior direito posteriormente. D) novos infiltrados bilaterais em segmentos pulmonares posteriores dependentes da gravidade. Complicações • Abcesso pulmonar • Empiema Diagnóstico O diagnóstico de pneumonia aspirativa depende de história clínica característica (macroaspiração testemunhada), fatores de risco e achados compatíveis na radiografia de tórax Indicações de bacterioscopia com cultura na pneumonia aspirativa para definir agente tiologico(não precisa fazer sempre): • graves (com necessidade de IOT, por exemplo); • complicadas (com empiemas e abscessos) Nesses casos, podemos utilizar hemoculturas, culturas de líquido pleural, secreção traqueal e também do lavado broncoalveolar Tratamento Nem sempre paciente com pneumonite aspirativa precisará de tratamento preemptivo com antibióticos • a maior parte das pneumonites com aspiração de conteúdo gástrico irá resolver-se de forma espontânea após 48 a 72 horas, sem a necessidade de antibióticos. • Nesse período de observação, casos leves e moderados deverão ter conduta expectante e reavaliação breve (febre, piora do expectorado, dispneia), sendo os antibióticos adicionados apenas na piora clínica. Indicação de antibioticoterapia preventiva: • casos graves (insuficiência respiratória ou sepse associada) Antibioticoterapia (sempre cobrir anearóbios) • betalactâmico + um inibidor de betalactamase (para melhorar a cobertura para anaeróbios) • clindamicina (que cobre bem Gram-positivos e anaeróbios) • moxifloxacino (não cobre bem Pseudomonas, mas tem ação contra pneumococo e anaeróbios) Consolidação densa do lobo superior direito.
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