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Pneumonias SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................................3 2. EPIDEMIOLOGIA .........................................................................................................4 3. ETIOLOGIA ..................................................................................................................6 4. FISIOPATOLOGIA .......................................................................................................8 5. QUADRO CLÍNICO ....................................................................................................11 6. DIAGNÓSTICO ..........................................................................................................13 7. TRATAMENTO ..........................................................................................................23 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................30 Pneumonias 3 1. INTRODUÇÃO A pneumonia ocorre quando uma infecção do parênquima pulmonar causa sintomas respiratórios inferiores e quando se detecta um infiltrado pulmonar na radiografia de tórax. Logo, a pneumonia pode ser definida do ponto de vista histológico como pre- enchimento do espaço alveolar por infiltrado necroinflamatório, assim como, do ponto de vista clínico como infecção aguda do pulmão decorrente da infecção por algum microrganismo. As pneumonias são comumente classificadas como adquiridas na comunidade, associadas aos cuidados de saúde e nosocomiais. A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é uma condição em que a doença é contraída fora do ambiente hospitalar ou unidades de saúde especializadas, e se ma- nifesta dentro de 48 horas após a admissão do paciente na unidade de atendimento. As pneumonias associadas aos cuidados de saúde (PACS) ocorrem em pacientes que se encontram institucionalizados, que estiveram hospitalizados durante mais de 2 dias nos 90 dias precedentes, que têm contato frequente com instituições de saúde (p. ex. hemodiálise, tratamento de feridas, antibióticos intravenosos ou quimioterapia) ou que estão imunossuprimidos. A pneumonia nosocomial surge, pelo menos, 48 horas depois da admissão hospita- lar ou desenvolve-se pouco tempo após a alta hospitalar. Essa categoria inclui tanto a pneumonia adquirida no hospital (PAH) que se trata da pneumonia adquirida ≥ 48 horas após a internação hospitalar, quanto a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) que se trata da pneumonia adquirida ≥ 48 horas após a intubação endotraqueal. Saiba mais! De acordo com o artigo do Uptodate: Overview of commu- nity-acquired pneumonia in adults, o termo “pneumonia associada aos cuidados de saúde” foi usado para identificar pacientes em risco de infecção por patógenos multirresistentes. No entanto, essa categorização pode ter sido excessivamente sensível, levando a um aumento do uso inadequado de antibióticos e, portanto, foi aposentada. Em geral, os pacientes previamente classificados como portadores de pneumonia associada aos cuidados de saúde devem ser tratados de maneira semelhante aos pacientes com PAC. Já o livro-texto Murray & Nadel -Tratado de Medicina Respiratória, em sua 6ª edição, traz que as infecções associadas aos cuidados de saúde possuem uma epidemiolo- gia única mais semelhante àquela observada nas infecções adquiridas no hospital, sendo reconhecida como uma entidade distinta pela American Thoracic Society (ATS) e pela Infectious Diseases Society of America (IDSA). Comparada à PAC, pacientes com PACS manifestam doença mais grave, maior mortalidade e tempo de internação hospitalar mais prolongado, além de maior custo em cuidados da saúde. Pneumonias 4 MAPA MENTAL: CLASSIFICAÇÃO DAS PNEUMONIAS Classificação PAC: pneumonia adquirida fora do ambiente hospitalar ou que se manifesta em até 48 h da admissão PACS: pneumonia que ocorre em pacientes institucionalizados, que estiveram hospitalizados, que têm contato frequente com instituições de saúde ou imunossuprimidos Pneumonia nosocomial: pneumonia que surge ≥ 48 h após admissão hospitalar ou pouco tempo após alta hospitalar PAH: pneumonia adquirida ≥ 48 horas após a internação hospitalar PAV: pneumonia adquirida ≥ 48 horas após a intubação endotraqueal Fonte: Elaborado pelo autor. 2. EPIDEMIOLOGIA A PAC é uma das principais causas de morte globalmente e impacta significati- vamente as taxas de morbidade. Embora as taxas de mortalidade por infecções res- piratórias tenham diminuído no Brasil e em outros países, a redução foi menor nas últimas décadas. Entre as pneumonias, a PAC continua sendo a mais impactante e é a terceira causa de mortalidade no meio médico. A incidência de pneumonia é alta entre lactentes e crianças, diminui consideravel- mente durante a infância, permanece relativamente incomum em adultos jovens, mas depois começa a aumentar após os 50 anos de idade e, em especial, após os 65 anos. A pneumonia bacteriana não é só mais prevalente entre os idosos como também é mais grave, com um risco de morte progressivamente crescente com o avançar da idade. A maioria dos adultos de qualquer idade que desenvolve uma pneumonia bacteriana apresenta frequentemente uma ou mais condições predisponentes. A mais comum é a infecção respiratória viral prévia, que aumenta a adesão das bactérias às células epiteliais respiratórias e altera os mecanismos do clearance devido à interferência com a ação ciliar. Outros fatores predisponentes incluem: Pneumonias 5 • Desnutrição: fragiliza o sistema imunológico; • Consumo excessivo de álcool: diminui o reflexo da tosse e afeta a migração dos leucócitos; • Tabagismo: aumenta as secreções pulmonares e altera a função ciliar; • Doença hepática ou renal: diminui a formação de anticorpos e a função dos leucócitos; • Diabetes melito: diminui a função e a mobilização dos leucócitos; • Deficiência de imunoglobulinas de qualquer causa. Diferentemente da pneumonia bacteriana, a pneumonia viral ou por Mycoplasma ocorre quando esses organismos são transmitidos a hospedeiros imunologicamente naïves, ou seja, imunologicamente “imaturos”. A presença ou ausência de uma imu- nidade prévia e a competência do sistema imunológico parecem ser os principais determinantes da ocorrência de infecção. Saiba mais! Segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH), a pneumonia é uma das principais causas de internação no Brasil, perdendo apenas para parto/puerpério que não são considerados doenças. MAPA MENTAL: EPIDEMIOLOGIA Adultos acometidos frequentemente apresentam condições predisponentes Epidemiologia Terceira causa de morte Incidência alta entre idosos (incidência e gravidade aumentam com a idade) Incidência alta entre lactentes e crianças Fonte: Elaborado pelo autor. Pneumonias 6 3. ETIOLOGIA Pneumonia adquirida em comunidade (PAC) Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e vírus respiratórios são os patógenos mais frequentemente detectados em pacientes com PAC. No entanto, em uma grande proporção de casos (até 62%), nenhum patógeno é detectado, por conta da dificuldade de se obter amostras fidedignas e respostas em tempo hábil, o que torna a coleta de exames específicos uma prática não habitual. As causas de PAC mais comumente identificadas podem ser agrupadas em três categorias: • Bactérias típicas • S. pneumoniae (causa bacteriana mais comum) • Haemophilus influenzae • Moraxella catarrhalis • Staphylococcus aureus • Estreptococos do grupo A • Bactérias gram-negativas aeróbicas (ex: Enterobacteriaceae como Klebsiella spp ou Escherichia coli) • Bactérias microaerofílicas e anaeróbios (associadas à aspiração) • Bactérias atípicas (“atípica” refere-se à resistência intrínseca desses organismos aos beta-lactâmicos e sua incapacidade de serem visualizadas na coloração de Gram ou cultivadas usando técnicas tradicionais): • Legionellaspp • Mycoplasma pneumoniae • Chlamydia pneumoniae • Chlamydia psittaci • Coxiella burnetii • Vírus respiratórios • Vírus influenza A e B • Rinovírus • Vírus parainfluenza • Adenovírus • Vírus sincicial respiratório • Metapneumovírus humano • Coronavírus (ex: Síndrome respiratória no Oriente Médio) • Bocavírus humanos Pneumonias 7 A prevalência relativa desses patógenos varia com a geografia, taxas de vacinação contra pneumococos, fatores de risco do hospedeiro (ex: tabagismo), estação do ano e gravidade da pneumonia. Certas exposições epidemiológicas também aumentam a probabilidade de infecção por um patógeno específico. Como exemplos, a exposição à água contaminada é um fator de risco para a infecção por Legionella; a exposição à aves aumenta a possibilidade de infecção por C. psittaci; viagens ou residência no sudoeste dos Estados Unidos deve levantar suspeitas de coccidioidomicose; e falta de higiene dental pode predispor à pneumonia causada pela flora oral ou anaeróbios. Em pacientes imunocomprometidos, o espectro de possíveis patógenos também se amplia, incluindo fungos e parasitas, bem como patógenos bacterianos e virais menos comuns. Tabela 1. Agentes etiológicos da pneumonia típica MICRORGANISMO QUANDO PENSAR S. Pneumoniae Em todos os casos Haemophilus influenzae Pacientes com idade > 65 anos e em casos de DPOC M. Catarrhalis Casos de DPOC K. pneumoniae Pacientes alcoólatras e diabéticos S. Aureus Pacientes usuários de drogas IV, com pneumopatia estrutura (fibrose cística, bronquiectasia), pós-influenza e pneumatoceles S. Pyogenes Criança ou adulto jovem com faringoamigdalite supurativa Pseudomonas aeruginosas Pneumopatia estrutura e pacientes neutropênicos Bactérias anaeróbicas Pneumonia aspirativa (pacientes com redução do nível de consciência e deglutição prejudicada) Fonte: Elaborado pelo autor. Tabela 2. Agentes etiológicos da pneumonia atípica MICRORGANISMO QUANDO PENSAR Mycoplasma pneumoniae Crianças com idade superior a 5 anos ou adultos jovens com protótipo do quadro clínico atípico Chlamydia pneumoniae Pacientes com idade superior a 65 anos Legionella pneumophilla Quadros de pneumonia grave. Presença de diarreia, náuseas e vômitos, hiponatremia <130mEq/L, febre superior a 40ºC e imunodepressão celular (Ex. pacientes transplantados) Chlamydia psittaci Pacientes que tiveram contato com pássaros nas últimas 1-2 semanas e na presença de hepatoesplenomegalia Coxiella burnetti Pacientes que tiveram contato recente com material placentário de gado Vírus respiratórios Crianças com quadro gripal associado a infiltrado intersticial difuso. SDRA a partir do terceiro dia. Fonte: Elaborado pelo autor. Pneumonias 8 Pneumonia adquirida no hospital (PAH) A pneumonia hospitalar surge após 48 horas de internação hospitalar e pode ser precoce, quando ocorre até o 4º dia de internação, ou tardia, quando ocorre após 5 ou mais dias de internação. A PAH de início precoce é frequentemente ocasionada por microrganismos que são associados também à PAC, tais como S. pneumoniae, H. influenzae e anaeró- bios. A PAH de início tardio é causada principalmente por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA); bacilos Gram-negativos entéricos; P. aeruginosa; não fermentadores, tais como Acinetobacter baumannii e S. maltophilia; e infecções polimicrobianas. Fatores que aumentam o risco de PAH incluem exposição à antibióticos, idade avançada, comorbidades graves, imunossupressão de base, colonização da oro- faringe por microrganismos virulentos, condições que promovem a aspiração pul- monar ou inibem a tosse como, por exemplo, cirurgia toracoabdominal, intubação traqueal, inserção do tubo nasogástrico e posição supina, assim como, exposição à equipamentos respiratórios contaminados. Um estudo recente sugere que os microrganismos multirresistentes são mais frequentes na PAH de início precoce do que inicialmente se imaginava, e que os fatores de risco para a pneumonia de início precoce devem ser reavaliados. Pneumonia associada aos cuidados de saúde (PACS) Essas infecções possuem uma epidemiologia única mais semelhante àquela ob- servada nas infecções adquiridas no hospital. S. aureus (tanto sensível à meticilina quanto resistente à meticilina) e P. aeruginosa são os microrganismos mais frequen- temente associados. 4. FISIOPATOLOGIA Os microrganismos causadores da pneumonia podem atingir os alvéolos pulmo- nares de duas formas: através da microaspiração do material proveniente das vias aéreas superiores e, menos comumente, através da inalação de aerossol contaminado do ambiente ou por via hematogênica. Os microrganismos infectantes podem atingir os alvéolos e desenvolver pneumo- nia devido à aspiração de pequenas quantidades de secreções nasofaríngeas ou de conteúdos da boca, em especial durante o sono. Algum grau de aspiração ocorre nor- malmente. Aspirações mais importantes, contudo, são mais frequentes em pessoas mais idosas, particularmente naquelas mais frágeis ou acamadas. Pneumonias 9 A aspiração maciça ocorre, por exemplo, em pessoas que apresentam convulsões, que se engasgam enquanto vomitam ou em indivíduos cujo reflexo da tosse está mar- cadamente diminuído pelo álcool, drogas ou doenças neurológicas. Em tais pacientes, a síndrome clínica de pneumonia aspirativa inclui os efeitos dos microrganismos e do material aspirado, assim como do ácido gástrico. A pneumonia também pode ser causada por inalação direta de material em ae- rossóis para os pulmões. Esse processo é incomum para a maioria das pneumonias bacterianas, mas é característico do Mycobacterium tuberculosis e do Bacillus anthracis. Esse mecanismo também explica a infecção por alguns vírus, como o da influenza ou sincicial respiratório. As bactérias também podem atingir os pulmões através da corrente sanguínea, ser filtradas pelos mecanismos normais do clearance do hospedeiro, mas depois escapar e causar pneumonia. A pneumonia por S. aureus é comumente causada por dissemi- nação hematogênica, em especial se uma infecção endovascular como a endocardite estiver presente. A Escherichia coli e outros bacilos Gram-negativos podem, ainda, causar pneumonias através de disseminação hematogênica. Um conjunto de mecanismos de defesa do hospedeiro protege o trato respiratório inferior da entrada de organismos infecciosos, como a configuração das vias aéreas, a produção de imunoglobulina A secretora (IgA), a ação ciliar das células epiteliais, entre outros. Quando os organismos infecciosos atingem os alvéolos, as defesas inatas e específicas entram em ação. Se esses mecanismos de defesa falharem, as bactérias podem replicar-se nos alvéolos onde estimulam a produção local de citocinas e causam extravasamento capilar e acúmulo de plasma e células inflamatórias. Essa sequência inicia um círculo vicioso, no qual células inflamatórias adicionais são atraídas e a liberação subsequente de mais citocinas é estimulada. Na pneumonia bacteriana, a resposta inflamatória do hospedeiro é responsável pela maioria das manifestações da doença. Esse exsudado inflamatório progressivo, que é detectado na radiografia como uma pneumonia, causa um desequilíbrio da ventilação-perfusão, gerando hipoxemia. Patogênese da PAC • Passo 1: Chegada do patógeno no espaço alveolar. • Passo 2: Multiplicação descontrolada do patógeno. • Passo 3: Produção local de citocitas principalmente por macrófagos alveolares. • Passo 4: Recrutamento de neutrófilos para o espaço alveolar e introdução de citocinas na circulação sistêmica. • Passo 5: Geração do exsudato alveolar. Pneumonias 10 Normal alveolus Alveolus during CAP Normal alveolar flora Streptococcus pneumoniae Step 1: Arrival of pathogens in alveolar space Step 2: Uncontrolled multiplication of pathogens Step 3: Local production of cytokines primarily by alveolar macrophages Step 4: Recruitment of neutrophils into the alveolar space and introduction of cytokinesinto systemic circulationAlveolar macrophage Neutrophil Lymphocyte Figura 1. Patogênese da pneumonia adquirida em comunidade. Fonte: Acervo Sanar. Ao contrário da pneumonia bacteriana, o vírus influenza invade diretamente as células do epitélio cilíndrico, originando assim alterações patológicas que vão desde a vacuolização de algumas células epiteliais respiratórias até a descamação de toda a camada epitelial. Essas alterações dispersas que originam o padrão in- tersticial difuso observado na radiografia de tórax também predispõem a invasão bacteriana secundária. Pneumonias 11 MAPA MENTAL: FISIOPATOLOGIA Multiplicação descontrolada do patógeno Produção local de citocitas, principalmente por macrófagos alveolares Recrutamento de neutrófilos para o espaço alveolar e introdução de citocinas na circulação sistêmica Chegada do patógeno no espaço alveolar (aspiração de secreções, inalação de aerossóis, disseminação hematogênica) Geração do exsudato alveolar Fonte: Elaborado pelo autor. 5. QUADRO CLÍNICO A apresentação clínica da PAC varia amplamente, desde uma pneumonia leve, ca- racterizada por febre, tosse e falta de ar, até uma pneumonia grave, caracterizada por sepse e dificuldade respiratória. A gravidade dos sintomas está diretamente relacio- nada à intensidade da resposta imune local e sistêmica em cada paciente. O quadro clínico típico clássico da PAC é representado pela pneumonia pneumocócica. A doen- ça se apresenta de forma hiperaguda, entre 2 e 3 dias, tendo como história principal calafrios, tremores, febre alta (39-40ºC), dor torácica pleurítica e tosse produtiva com expectoração purulenta esverdeada. O exame físico normalmente evidencia prostração, taquipneia, taquicardia e hipertermia. Os achados do exame do aparelho respiratório podem variar de simples estertores até a síndrome de consolidação pulmonar e/ou a síndrome de derrame pleural. A síndrome de consolidação pulmonar é caracterizada pela presença de som bronquial, aumento do frêmito toracovocal, submacicez e bron- cofonia. Já a síndrome do derrame pleural é identificada pela abolição do murmúrio vesicular e do frêmito toracovocal, submacicez e egofonia. De forma geral, os sinais e sintomas presentes na pneumonia estão lista dos abaixo: • Sinais e sintomas pulmonares: • Tosse (com ou sem produção de escarro); • Dispneia; • Dor no peito tipo pleurítica. Pneumonias 12 • Achados do exame físico incluem taquipneia, aumento do esforço respiratório e sons respiratórios adventícios, incluindo estertores e roncos. Frêmito tora- covocal, egofonia e macicez à percussão também sugerem pneumonia. Esses sinais e sintomas resultam do acúmulo de leucócitos, fluidos e proteínas no espaço alveolar. A hipoxemia pode resultar do comprometimento subsequente das trocas gasosas alveolares. Na radiografia de tórax, o acúmulo de leucócitos e líquido dentro dos alvéolos aparece como opacidades pulmonares. • Sinais e sintomas sistêmicos: a grande maioria dos pacientes com PAC apresenta febre. Outros sintomas sistêmicos, como calafrios, fadiga, mal-estar e anorexia também são comuns. Taquicardia, leucocitose neutrofílica com desvio para à esquerda ou leucopenia também são achados ocasionados pela resposta infla- matória sistêmica, sendo a leucopenia um sinal de mau prognóstico. Marcadores inflamatórios, como VHS, PCR e procalcitonina podem se elevar, embora este último seja altamente específico para infecções bacterianas. A bioquímica na maioria das vezes é normal, mas pode evidenciar hiponatremia em alguns casos. A pneumonia por Legionella pneumophila, por exemplo, costuma cursar com hipo- natremia grave e elevação de enzimas hepáticas. A gasometria arterial tem como achados mais frequentes a hipoxemia e a alcalose respiratória. A PAC também é a principal causa de sepse; assim, a apresentação inicial pode ser caracterizada por hipotensão, estado mental alterado e outros sinais de disfunção orgânica, como disfunção renal, disfunção hepática e/ou trombocitopenia. Embora certos sinais e sintomas como febre, tosse, taquicardia e estertores sejam comuns entre pacientes com PAC, esses achados são inespecíficos e são compartilha- dos entre muitos distúrbios respiratórios. Nenhum sintoma individual ou constelação de sintomas é adequado para o diagnóstico sem imagens do tórax. Sinais e sintomas de pneumonia também podem ser sutis em pacientes com idade avançada e/ou sistema imunológico comprometido, e um maior grau de suspeita po- de ser necessário para o diagnóstico. Como exemplo, pacientes mais velhos podem apresentar alterações no estado mental, sem apresentar febre ou leucocitose. Em pacientes imunocomprometidos, os infiltrados pulmonares podem não ser detectáveis nas radiografias de tórax, mas podem ser visualizados com tomografia computado- rizada (TC) de tórax. Se liga! Todo paciente idoso debilitado, ou qualquer paciente com doença de base que evolui com redução do nível de consciência, piora do estado geral ou da taquidispneia, por isso a pneumonia bacteriana deve ser um dos seus diagnósticos diferencias, mesmo na ausência de febre, tosse produtiva e leucocitose. Pneumonias 13 MAPA MENTAL: SINTOMAS Sintomas Tosse Dispneia Mal-estar Febre Anorexia Dor torácica Fadiga Calafrios Fonte: Elaborado pelo autor. 6. DIAGNÓSTICO Recomendação para a realização de métodos de imagem na PAC O diagnóstico de PAC geralmente requer a demonstração de um infiltrado na imagem do tórax em um paciente com uma síndrome clinicamente compatível, por exemplo, febre, dispneia, tosse e produção de escarro. A tríade propedêutica clássica para a Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) inclui a anamnese, o exame físico e a radiografia de tórax, que é recomendada de ro- tina, quando disponível, nas incidências posteroanterior (PA) e perfil. Além de auxiliar no diagnóstico, a radiografia de tórax possibilita a avaliação da extensão das lesões, a detecção de complicações e auxilia no diagnóstico diferencial da PAC. Os achados radiográficos consistentes com o diagnóstico de PAC incluem: consoli- dações lobares, infiltrados intersticiais e/ou cavitações. Embora certas características radiográficas sugiram certas causas de pneumonia (por exemplo, consolidações lobares quase sempre são causadas por pneumococo, embora possam eventualmente surgir da evolução de uma pneumonia estafilocócica), a aparência radiográfica sozinha não pode diferenciar de maneira confiável as etiologias. Se liga! O infiltrado alveolar do tipo broncopneumônico é o achado radiológico mais frequente na pneumonia bacteriana, independente do agente etiológico. Pneumonias 14 Figura 2. Pneumonia pneumocócica com consolidação pulmonar. Fonte: Parmar MS, 2005. Figura 3. Pneumonia pneumocócica do lobo inferior direito, em incidência posteroanterior. Fonte: Dwyer KH, Rempell JS, 2016. Pneumonias 15 Figura 4. Infiltrados intersticiais bilaterais difusos com infecção por Mycoplasma pneumoniae. Fonte: Hanhan U, Orlowski J, Fiallos M, 2008. Figura 5. Radiografia de tórax em pacientes com pneumonia por Pneumocystis ji- rovecii, mostra opacificação em vidro fosco com consolidação. Fonte: Khalaf D, Al-Jehani F, 2011. Pneumonias 16 Não há concordância quanto às orientações sobre o tratamento da Pneumonia Adquirida na Comunidade na atenção primária, especialmente em relação à realização de exames complementares, que muitas vezes não estão prontamente disponíveis. Nessa situação, se o médico tem certeza do diagnóstico, a radiografia de tórax não é necessária para começar o tratamento e os antibióticos podem ser prescritos adequadamente. No entanto, menos de 40% dos médicos conseguem diagnosticar pneumonia apenas com base no exame físico. Portanto, dentro deste contexto, a radiografia deve ser obrigatória para pacientes com suspeita de PAC. A radiografia de tórax é recomendada também quando há incerteza quanto ao diagnóstico ou necessidade de diagnóstico diferencial com câncer de pulmão,bem como quando a resposta clínica ao tratamento é insatisfatória. A realização da radiografia de tórax é recomendada para todos os pacientes hospitalizados. A ultrassonografia de tórax (UST) tem maior sensibilidade e precisão em compa- ração com a radiografia de tórax para identificar alterações no tecido pulmonar. Na Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC), os principais achados ultrassonográficos são consolidações, padrões focais intersticiais, lesões subpleurais e anomalias na linha pleural. Além disso, a UST é eficaz na detecção de complicações como derra- mes pleurais e permite a visualização de loculações na cavidade torácica. A tomografia computadorizada (TC) é o exame mais sensível para detectar infec- ções no tecido pulmonar, mas seu alto custo e exposição à radiação limitam seu uso. Ela é útil principalmente em casos em que a radiografia e a ultrassonografia (UST) apresentam baixa precisão, como em pacientes obesos, imunossuprimidos ou com alterações radiológicas prévias. A TC também é indicada para suspeita de infecções fúngicas e para excluir outros diagnósticos em casos selecionados. Devido à exposi- ção à radiação, a UST tem sido sugerida como um exame intermediário antes da TC em casos difíceis. Além disso, a TC é importante para avaliar complicações da PAC, como abscesso pulmonar e derrame pleural loculado, bem como para investigar a falta de resposta ao tratamento. Pneumonias 17 Saiba mais! A atual pandemia global de COVID-19 está rela- cionada a uma doença respiratória aguda causada por um novo coronavírus (SARS-CoV-2), altamente contagioso e de evolução ainda pouco conhecida. Até o momento, a radiografia de tórax não tem sido recomendada como modalidade de triagem de primeira linha diante da suspeita de COVID-19, uma vez que apre- senta limitada sensibilidade na detecção de opacidades em vidro fosco e outros achados pulmonares incipientes da infecção. Por outro lado, estudos recentes têm demonstrado papel central da tomografia computadorizada (TC) na detecção e gerenciamento precoce das manifestações pulmonares do COVID-19, com alta sensibilidade, porém especificidade ainda limitada. A maioria dos casos publicado até o momento apresenta achados tomográficos semelhantes aos da imagem abaixo, predominando alterações alveolares, como opacidades em vidro fosco, consolidações focais e opacidades mistas, geralmente com acometimento bila- teral e multifocal, distribuição periférica e predomínio nos campos pulmonares médios, inferiores e posteriores. Avaliação da gravidade e definição do local de tratamento A avaliação da gravidade da PAC é crucial para reduzir a mortalidade em pacientes diagnosticados com essa condição. Escores de prognóstico estão disponíveis para medir a gravidade e prever o prognóstico da doença, auxiliando na decisão sobre o local de tratamento, ambulatorial, hospitalar ou em UTI, e na escolha do antibiótico e sua via de administração, bem como a necessidade de investigação da causa subjacente. Os instrumentos validados incluem: • Pneumonia Severity Index (PSI): Tabelas 3 e 4. • Mental Confusion, Urea, Respiratory rate, Blood pressure, and age ≥ 65 years (CURB-65): • Confusão mental (escore ≤ 8, segundo o abbreviated mental test score); • Ureia > 50 mg/dl; • Frequência Respiratória > 30 ciclos/min; • Blood pressure: pressão arterial sistólica < 90 mmHg ou pressão arterial dias- tólica < 60 mmHg; • Idade ≥ 65 anos. • CRB-65: forma simplificada sem a dosagem de ureia; Pneumonias 18 • As diretrizes da American Thoracic Society/Infectious Diseases Society of America (ATS/IDSA) de 2007: tabela 5; • Systolic blood pressure, Multilobar involvement, Albumin, Respiratory rate, Tachycardia, Confusion, Oxygenation, and pH (SMART-COP); tabela 6 • Severe Community-Acquired Pneumonia (SCAP); tabela 7. Os três últimos instrumentos estão relacionados à pneumonia grave e internação em UTI. Recomenda-se que o paciente com PAC seja avaliado objetivamente na sala de emergência quanto a gravidade inicial e identificação precoce do risco de evolução para desfechos graves, como necessidade de admissão à UTI, desenvolvimento de sepse grave, necessidade de suporte ventilatório invasivo ou não invasivo, de suporte inotrópico ou do risco de falência terapêutica (SCAP, SMARTCOP ou ATS/ISDA simpli- ficado, embora necessitem ainda maior validação externa). Na ausência de PAC grave, ou seja, sem indicações socioeconômicas de internação, sem doenças associadas descompensadas, hipoxemia, impossibilidade de ingestão oral de medicamentos, sem presença de pelo menos 2 pontos no escore CURB-65, ou de pelo menos 1 no escore CRB-65, ou ainda mais que 70 pontos no PSI, o médico assistente deve considerar o tratamento ambulatorial para pacientes com PAC. Tabela 3. Escore de pontos utilizado no Pneumonia Severity Index (índice de gravidade da pneumonia). PNEUMONIA SEVERITY INDEX (PSI) Fatores demográficos Escore Achados laboratoriais e radiológicos Escore Idade, anos Homens Mulheres n n − 10 pH < 7,35 +30 Ureia > 65 mg/l +20 Sódio < 130 mEq/l +10 Procedência de asilos +10 Glicose > 250 mg/l +10 Hematócrito < 30% +10 PO2 < 60 mmHg +10 Derrame pleural +10 Comorbidades Exame físico Neoplasia +30 Alteração do estado mental +20 Doença hepática +20 FR > 30 ciclos/min +20 ICC +10 PAS < 90 mmHg +20 Doença cerebrovascular +10 Temperatura < 35° ou > 40°C +15 Doença renal +10 FC ≥ 125 bpm +10 Fonte: Acervo Sanar. Pneumonias 19 Tabela 4. Estratificação de risco segundo o Pneumonia Severity Index (índice de gravidade da pneumonia). PNEUMONIA SEVERITY INDEX (PSI) Classe Pontos Mortalidade, % Local sugerido de tratamento I – 0,1 Ambulatório II ≤ 70 0,6 Ambulatório III 71-90 2,8 Ambulatório ou internação breve IV 91-130 8,2 Internação V > 130 29,2 Internação Fonte: Acervo Sanar. FLUXOGRAMA: ESCORE CURB-65 E SUGESTÃO DE LOCAL DE TRATAMENTO PARA PACIENTES COM PAC CURB-65 0-1 Mortalidade baixa 1,5% Candidato ao tratamento ambulatorial ≥3 Mortalidade alta 22% Tratamento hospitalar com PAC grave 4-5 avaliar UTI 2 Mortalidade intermediária 9,2% Considerar tratamento hospitalar Fonte: Adaptado UnaSUS, 2018. FLUXOGRAMA: ESCORE CRB-65 E SUGESTÃO DE LOCAL DE TRATAMENTO PARA PACIENTES COM PAC CRB-65 0 Mortalidade baixa 1,2% Candidato ao tratamento ambulatorial 3-4 Mortalidade alta 31%% Hospitalização urgente 1-2 Mortalidade intermediária 8,15% Avaliar tratamento hospitalar Fonte: Adaptado UnaSUS, 2018. Pneumonias 20 Tabela 5. Estratificação de risco segundo consenso da American Thoracic Society/Infectious Diseases Society of America simplificado. DIRETRIZES DA ATS/IDSA 2007 UM CRITÉRIO MAIOR OU TRÊS MENORES INDICAM UTI Critérios maiores Choque séptico Necessidade de ventilação mecânica Critérios menores FR > 30 ciclos/min Confusão mental PaO2/FiO2 < 250 Ureia ≥ 50 mg/dl Infiltrados multilobares PAS < 90 mmHg Fonte: Adaptado UnaSUS, 2018. Tabela 6. Systolic blood pressure, Multilobar involvement, Albumin, Respiratory rate, Tachycardia, Confusion, Oxygenation, and pH (SMART-COP). SYSTOLIC BLOOD PRESSURE, MULTILOBAR INVOLVEMENT, ALBUMIN, RESPIRATORY RATE, TACHYCARDIA, CONFUSION, OXYGENATION, AND PH (SMART-COP) PAS < 90 mmHg 2 pontos Envolvimento multilobar 1 ponto Albumina < 3,5 1 ponto FR ≥ 25 ciclos/min 1 ponto FC > 125 bpm 1 ponto Confusão mental 1 ponto SpO2 < 93% ou PaO2 < 70 mmHg 2 pontos pH < 7,30 2 pontos Pontuação > 3 pontos: identificou 92% dos pacientes que necessitaram de uso de ventilação mecânica invasiva ou de drogas vasoativas na evolução da PAC. Fonte: Adaptado UnaSUS, 2018. Pneumonias 21 Tabela 7. Severe Community-Acquired Pneumonia (SCAP). SEVERE COMMUNITY-ACQUIRED PNEUMONIA (SCAP) Critérios maiores pH < 7,30 13 pontos PAS < 90 mmHg 11 pontos Critérios menores FR > 30 ciclos/min 9 pontos PaO2/FiO2 < 250 6 pontos Ureia > 30 mg/dL 5 pontos Alteração do nível de consciência 5 pontos Idade ≥ 80 anos 5 pontos Presençade infiltrado radiológico multilobar ou bilateral 5 pontos Pontuação ≥ 10 pontos: maior risco de uso de ventilação mecânica e necessidade de uso de droga vasoativa Fonte: Adaptado UnaSUS, 2018. Investigação etiológica na PAC Ainda que seja possível observar uma resposta insuficiente a certos tratamentos empíricos, não é obrigatório realizar testes diagnósticos para descobrir a causa da PAC em pacientes que não apresentam um quadro grave e estão sendo tratados em ambiente ambulatorial. Logo, as recomendações continuam a ser para que sejam realizados exames com o intuito de encontrar a etiologia apenas em casos de PAC grave ou que não responderam adequadamente ao tratamento inicial empírico, assim como para os pacientes internados em UTI. Aqueles que sofrem de PAC grave devem passar por exames para investigar sua causa, incluindo testes básicos como cultura e exame direto de escarro, hemocultura e testes para detecção de antígenos urinários de S. pneumoniae e Legionella sp., bem como testes sorológicos e possivelmente cultura para germes atípicos. Em algumas situações específicas e em um cenário clínico apropriado, é possível realizar testes mais avançados para detectar a presença de fungos, vírus e germes atípicos, além de culturas especiais e testes de galactomanana e 1-3-beta-glucana. No entanto, tais testes têm pouca indicação na rotina de tratamento da PAC. Pneumonias 22 Em pacientes submetidos à ventilação mecânica, em indivíduos que não respondem à terapia empírica inicial ou com suspeita de agentes etiológicos menos comuns, assim como em casos que requerem diferenciação do diagnóstico com doenças pul- monares não infecciosas, como tumores, vasculites ou doença intersticial pulmonar, pode ser necessário realizar amostras invasivas por meio de broncoscopia, aspiração endotraqueal, lavado broncoalveolar ou toracocentese em casos de derrame pleural no mesmo lado da lesão. Diagnóstico diferencial Várias doenças podem manifestar febre e opacidades radiográficas no tórax e mimetizar a PAC; tais doenças devem ser suspeitadas quando a resolução radio- lógica é raramente rápida ou quando há falta de resposta aos tratamentos iniciais ou subsequentes com antibióticos. Em pacientes com PAH e particularmente na- queles com PAV, os sinais e sintomas clássicos de pneumonia, incluindo novas alterações radiográficas, febre, leucocitose ou leucopenia e secreções purulentas, não são suficientemente sensíveis nem específicos para confirmar a presença de uma infecção pulmonar. Atelectasia, hemorragia pulmonar, SDRA e embolia pulmonar, entre outras, são condições que podem mimetizar a pneumonia. Em pacientes com suspeita de PAH ou PAV, a confirmação microbiológica de pneu- monia é importante no intuito de evitar tratamentos desnecessários e resistência aumentada aos antibióticos. MAPA MENTAL: DIAGNÓSTICO Anamnese + exame físico + radiografia de tórax PA e perfil Avaliação da gravidade Definição do local de tratamento Fonte: Elaborado pelo autor. Pneumonias 23 7. TRATAMENTO Tratamento ambulatorial O tratamento inicial da PAC é baseado na prescrição empírica de antibióticos, uma vez que é difícil obter os resultados microbiológicos logo após o diagnóstico. A escolha do antibiótico deve ser feita considerando vários fatores, como o patógeno mais provável no local de infecção, fatores de risco individuais, presença de doenças concomitantes e fatores epidemiológicos, como viagens recentes, alergias e relação custo-benefício. A proposta da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) na publi- cação “Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade” de 2018, é o uso de monoterapia com β-lactâmico ou macrolídeos para os pacientes ambulatoriais, sem comorbidades, nenhum uso recente de antibióticos, sem fatores de risco para resistência e sem contraindicação ou história de alergia a essas drogas. Para esses casos, sugere-se evitar o uso das fluoroquinolonas devido ao recente alerta da agência norte-americana Food and Drug Administration sobre o potencial risco de efeitos colaterais graves. Essas drogas devem ser reservadas para pacientes com fatores de risco, doença mais grave ou quando não houver outra opção terapêu- tica, sempre realizando uma avaliação acurada entre os riscos e benefícios. Quanto aos macrolídeos, a azitromicina é mais efetiva in vitro contra a maioria das cepas de Haemophilus influenzae do que a claritromicina e, por isso, deveria ser preferida nos pacientes com DPOC. Os riscos de infecção por agentes patogênicos resistentes e de falência terapêutica são maiores quando há história de uso de um antibiótico nos três meses anteriores; quando os pacientes vêm de regiões onde a taxa local de resistência aos macrolídeos é superior a 25%, o que ocorre, por exemplo, nos EUA e em alguns outros países; e na presença de doenças associadas (DPOC, doença hepática ou renal, câncer, diabetes, insuficiência cardíaca congestiva, alcoolismo ou imunossupressão). Para esses casos específicos, recomenda-se para o tratamento ambulatorial da PAC associar macrolí- deos a um β-lactâmico ou realizar monoterapia com uma fluoroquinolona respiratória por pelo menos 5 dias. Tratamento de pacientes internados em enfermarias Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, o tratamento recomendado para PAC consiste em um ß-lactâmico combinado com um macrolídeo ou uma fluoroquinolona respiratória isolada. Em casos em que Legionella sp. foi confirmada como ausente, o uso de ß-lactâmicos isolados é uma opção viável. Pneumonias 24 Tratamento de pacientes internados em UTI A terapia combinada deve ser recomendada por reduzir a mortalidade. É recomen- dado que os antibióticos sejam administrados o mais cedo possível e que a terapia inclua um macrolídeo e um ß-lactâmico, preferencialmente por via intravenosa. A menos que haja situações clínicas que sugiram uma alta probabilidade de agentes infecciosos específicos como a causa da doença, as sugestões para a antibioticote- rapia inicial na PAC grave são descritas nas tabelas a seguir. MAPA MENTAL: TRATAMENTO Tratamento de pacientes ambulatoriais Tratamento de pacientes internados em enfermarias Tratamento de pacientes internados em UTI Monoterapia com β-lactâmico ou macrolídeos β-lactâmico associado a um macrolídeo ou fluoroquinolona respiratória isolada Macrolídeo e um β-lactâmico, ambos por via endovenosa Fonte: Elaborado pelo autor. Duração da antibioticoterapia A duração ideal da antibioticoterapia no tratamento da PAC não está ainda definitiva- mente estabelecida. Tratamentos com antibióticos de duração curta são considerados mais adequados devido à menor exposição do paciente a esses medicamentos, redu- ção dos efeitos adversos, diminuição do desenvolvimento de resistência microbiana, melhora da adesão do paciente e diminuição do tempo de internação e dos custos financeiros. No entanto, é necessário que o tratamento curto seja igualmente eficaz em comparação aos tratamentos mais longos em relação às taxas de mortalidade, complicações e recorrência da doença, exceto em cenários clínicos que indiquem a necessidade de tratamentos mais prolongados. Dependendo da gravidade da PAC, a duração do tratamento pode variar. Para casos leves que possam ser tratados em ambulatório, recomenda-se o uso de um único antibi- ótico por 5 dias. Já para casos moderados a graves, é recomendado o uso dos esquemas antibióticos mencionados anteriormente, por um período de 7 a 10 dias, podendo ser estendido até 14 dias se necessário, a critério do médico responsável pelo tratamento. Tratamento adjuvante Diversos desfechos clínicos importantes têm demonstrado que o uso de corticoides é seguro e benéfico na PAC grave. No entanto, ainda são necessários novos estudos para confirmar o impacto da terapia na mortalidade relacionada à PAC, embora as meta-análises sugiram uma redução nessa taxa, especialmente em pacientes com apresentaçãomais grave. Pneumonias 25 Tabela 8. Tratamento antibiótico empírico para PAC. TRATAMENTO ANTIBIÓTICO EMPÍRICO PARA PAC Tratamento de pacientes ambulatoriais Duração (dias) Sem comorbidades, sem uso recente de antibióticos, sem fator de risco para resistência, sem contraindicação ou história de alergia a essas drogas Amoxicilina ou Amoxicilina + Ácido clavulânico OU 7 Azitromicina OU 3-5 Claritromicina 7 Com fatores de risco, doença mais grave, uso recente de antibióticos ß-lactâmico + Macrolídeo 5-7 Em caso de alergia a ß-lactâmicos/macrolídeos Moxifloxacino OU Levofloxacino OU Gemifloxacino 5-7 Tratamento de pacientes internados em enfermaria Duração (dias) Cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona ou cefotaxima) ou Ampicilina/sulbactam + Macrolídeo (azitromicina ou claritromicina) OU 7-10 Cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona ou cefotaxima) ou Amoxicilina + Ácido clavulânico OU 7-10 Moxifloxacino OU Levofloxacino OU Gemifloxacino em monoterapia 5-7 Tratamento de pacientes internados em UTI Duração (dias) Cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona ou cefotaxima) ou Ampicilina/sulbactan + um macrolídeo (azitromicina ou claritromicina) OU 7-14 Cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona ou cefotaxima) + quinolona respiratória 7-14 Terapia alvo-específica Duração (dias) Pneumococo resistente à penicilina Não grave: ß-lactâmico em alta dose (Amoxicilina 3 g/dia ou Amoxicilina + Ácido clavulânico 4 g/dia; alternativas: ceftriaxona, cefotaxima, cefepima ou ceftarolina) + Macrolídeo ou Fluoroquinolona respiratória 5-7 Grave: Ceftriaxona OU Cefotaxima OU Cefepima OU Ceftarolina 7-10 Staphylococcus aureus resistente à meticilina: adquirida na comunidade Clindamicina OU Linezolida OU Vancomicina 7-21 S. aureus resistente a meticilina Linezolida OU Vancomicina 7-21 Enterobactérias produtoras de betalactamase de espectro estendido Ertapenem 7-14 Pseudomonas spp Fluoroquinolonas antipseudomonas, Piperacilina/tazobactan, Meropenem, Polimixina B (monoterapia ou terapia combinada) 10-14 Pacientes com suspeita de pneumonia aspirativa Pneumonia aspirativa: Quinolonas OU Cefalosporina de 3ª geração 7-10 Aspiração de conteúdo gástrico, pneumonia necrosante, abscesso pulmonar ou doença periodontal grave: ß-lactâmico + Inibidor de betalactamase OU Piperacilina-tazobactam OU Clindamicina OU Moxifloxacina 7-21 Fonte: Adaptado UnaSUS, 2018. Pneumonias 26 Tabela 9. Posologia e vias de administração de antibióticos utilizáveis no tratamento da pneumonia adquirida na comunidade. FÁRMACO VIA DOSE INTERVALO (H) Amoxicilina/ácido clavulânico Oral 875/125 mg 8 Amoxicilina/ácido clavulânico Oral 2.000/135 mg 12 Amoxicilina/ácido clavulânico Intravenosa 1.000-2.000/200 mg 8-12 Ampicilina/sulbactam Intravenosa 1,5/3,0 g 6-8 Azitromicina Oral-Intravenosa 500 mg 24 Cefepima Intravenosa 2 g 12 Cefotaxima Intravenosa 1-2 g 8 Ceftarolina Intravenosa 600 mg 12 Ceftriaxona Intravenosa 1 g 12 Ciprofloxacino Oral 500-750 mg 12 Ciprofloxacino Intravenosa 400 mg 8-12 Claritromicina Oral 500 mg 12 Claritromicina liberação prolongada Oral 1.000 mg 24 Claritromicina Intravenosa 500 mg 12 Clindamicina Oral 600 mg 12 Clindamicina Intravenosa 600 mg 8 Ertapenem Intravenosa 1 g 24 Imipenem Intravenosa 1 g 8 Levofloxacino Oral 500-750 mg 24 Levofloxacino Intravenosa 750 mg 24 Linezolida Oral-Intravenosa 600 mg 12 Meropenem Intravenosa 1 g 8 Moxifloxacino Oral 400 mg 24 Piperacilina-tazobactam Intravenosa 4 g/0,5 g 6-8 Vancomicina Intravenosa 500 mg/1.000 mg 6/12 Fonte: Adaptado UnaSUS, 2018. Se liga! Se a infecção é causada por um microrganismo com con- centração inibitória mínima acima de 0,5 mg/l, é recomendado administrar o antibiótico a cada 8 horas para prevenir a seleção de cepas resistentes. Pneumonias 27 Pneumonia Adquirida no Hospital e Pneumonia Associada à Ventilação A terapia empírica da PAV é necessariamente ampla, pois a variedade de patógenos potenciais é grande e a mortalidade é aumentada quando o patógeno responsável é resistente ao regime empírico inicial com antibióticos. Os regimes empíricos recomen- dados incluem agentes β-lactâmicos de amplo espectro, geralmente em combinação com aminoglicosídeos e com cobertura para MRSA. O β-lactâmico empírico deve ser baseado nos padrões de sensibilidade aos antibióticos para patógenos Gram-negativos comuns na instituição de relevância ou na unidade específica. Os antibióticos empíricos para a PAH são menos estudados. A PAH em pacientes não entubados é uma mistura de patógenos da PAC e patógenos encontrados na PAV, embora a frequência dos últimos seja provavelmente menor, principalmente em casos que se apresentem precocemente após a admissão. O risco mais acentuado de patógenos MDR em pacientes não entubados com PAH é a terapia antibiótica recente, e a monoterapia provavelmente é adequada para a maior parte dos pacientes sem exposição recente aos antibióticos. Ticarcilina-clavulanato e piperacilina-tazobactam são os β-lactâmicos/inibidores de β1-lactamase preferidos para o tratamento de pneumonia nosocomial. Levofloxacina (IV ou VO), Gatifloxacina (IV ou VO), Moxifloxacina (IV ou VO) ou Gemifloxacina (VO) são preferidas para Streptococcus pneumoniae. A ciprofloxacina apresenta a melhor atividade in vitro contra Pseudomonas aeruginosa. Tabela 10. Diretrizes para o Tratamento Empírico de Pneumonia Nosocomial com Antibióticos CONDIÇÃO PRINCIPAIS PATÓGENOS ESCOLHA DOS ANTIMICROBIANOS 2 a 5 dias no hospital Pneumonia branda a moderada Enterobacteriaceae β-lactâmico/Inibidor de β-lactamase OU Ceftriaxona OU Fluoroquinolona Pneumonia grave de “baixo risco” Streptococcus pneumoniae Todos ± um aminoglicosídeo Haemophilus influenzae Staphylococcus aureus sensível à meticilina ≥ 5 dias no hospital Pneumonia branda a moderada Como anteriormente Como anteriormente PAH grave de “baixo risco” Pseudomonas aeruginosa Carbapenem OU β-lactâmico/inibidor de β1-lactamase OU Cefepima Enterobacter spp. Todos mais amicacina ou fluoroquinolona Acinetobacter spp. ≥ 2 dias no hospital PAH grave de “alto risco” Como anteriormente Como anteriormente Fonte: Acervo Sanar. Pneumonias 28 Se liga! A pneumonia nasocomial grave, necessitando de cuidado em UTI, é caracterizada por progressão radiográfica, doença multilobar ou cavitação. Todos os outros casos de pneumonia nosocomial são considerados como formas brandas a moderadas. Critérios de alto risco incluem idade superior a 65 anos, pancreatite, doença pulmonar obstrutiva crônica, disfunção do sistema nervoso central (acidente vascular encefálico, overdose de drogas, coma, estado epilép- tico), insuficiência cardíaca congestiva, desnutrição, diabetes melito, intubação traqueal, insuficiência renal, cirurgia toracoabdominal complicada e alcoolismo. Pneumonia Associada aos Cuidados de Saúde A abordagem ideal para a cobertura empírica da PACS permanece controversa em virtude das variações nos sistemas de cuidado em saúde e nas definições. Os pacientes PACS negativos na cultura apresentam prognósticos equivalentes ou melhores quando tratados com antibióticos para PAC quando comparados com o tratamento de amplo espectro, mas são difíceis de identificar na admissão. Se iniciada com a terapia de amplo espectro, parece segura a diminuição para a terapia de PAC após os resultados da cultura serem negativos. Pneumonias 29 MAPA MENTAL: GERAL Processo inflamatório agudo Ambulatorial: β-lactâmico OU Macrolídeo Febre Pneumonias associadas aos cuidados de saúde S.pneumoniae Pneumonia nosocomial Vírus respiratórios Terceira causa de morte Internamento: β-lactâmico + Macrolídeo OU Fluoroquinolona isolada Tosse Dor torácica Pneumonia adquirida em comunidade Clínico Escarro Radiografia de tórax Hemocultura CURB 65 TC de tórax Sorologias Alta incidência nos extremos de idade UTI: β-lactâmico IV + Macrolídeo IV Dispneia Macicez ou submacicez DEFINIÇÃO QUADRO CLÍNICO Estratificação de riscoDIAGNÓSTICO TRATAMENTO PRINCIPAIS ETIOLOGIAS CLASSIFICAÇÃO Fonte: Elaborado pelo autor. Pneumonias 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Goldman, Lee. Schafer, Andrew I. Goldman-Cecil Medicina, volume 2. 25. Ed. 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