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Introdução à Assistência Farmacêutica Aula 6 - Assistência farmacêutica INTRODUÇÃO A partir das discussões provenientes da Política Nacional de Medicamentos (PNM) de 1998 – que estudamos na aula passada – e de outros assuntos debatidos, em 2003, na 1ª Conferência Nacional de Assistência Farmacêutica, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) publicou a Resolução nº 338/2004, que aprovou a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF). Nesta aula, trataremos desse tema. Bons estudos! OBJETIVOS Definir assistência farmacêutica como um conjunto de atividades de orientação e atenção na área da Farmácia; Reconhecer os objetivos da assistência farmacêutica; Identificar as etapas do ciclo da assistência farmacêutica; Analisar o desempenho do profissional farmacêutico nas atividades de assistência e sua contribuição para a promoção da saúde da população. O QUE É ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA? Vamos iniciar esta aula com um questionamento: O que você entende por assistência farmacêutica? Resposta Correta CICLO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Para cumprir com o objetivo de ofertar os medicamentos necessários à população e garantir seu uso adequado, o serviço de assistência farmacêutica cumpre uma série de etapas organizadas em um ciclo, como mostra o esquema a seguir: Fonte da Imagem: Vamos detalhar, agora, cada uma dessas etapas. Seleção Atividade decisiva para assegurar o acesso da população aos medicamentos. É nessa etapa que se indica a relação daqueles itens que serão disponibilizados na rede pública. A seleção do elenco de medicamentos é baseada no perfil de morbimortalidade e deve-se fundamentar em critérios técnico-científicos – entre eles, os dados de segurança, a eficácia e a efetividade –, selecionando aqueles com valor terapêutico comprovado. Essa etapa é realizada pela Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) (glossário). Seu objetivo é estabelecer relações nacionais, estaduais e municipais de medicamentos, definindo aqueles que serão disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para a atenção primária, e para a atenção de média e alta complexidades. Devem fazer parte da CFT profissionais com formação adequada que representem as áreas para as quais os medicamentos serão selecionados. Assim, fica claro que a assistência farmacêutica não é responsabilidade apenas do profissional de farmácia. Nessa comissão, por exemplo, encontramos outros profissionais com essa função – tais como médicos e odontólogos. A publicação dos elencos deve vir acompanhada de um formulário terapêutico que contenha informações sobre os medicamentos selecionados, a fim de orientar os profissionais de saúde em sua prescrição, dispensação e em seu uso. Atenção , Novos medicamentos só devem ser incluídos no elenco em substituição àqueles já disponibilizados quando apresentarem comprovada superioridade aos já padronizados. Fonte da Imagem: Programação Atividade cujo objetivo é garantir a disponibilidade dos medicamentos previamente selecionados, nas quantidades adequadas e no tempo oportuno para atender às necessidades da população. Assim, programar consiste em estimar as quantidades que serão adquiridas para atender à necessidade dos serviços por um período definido de tempo, evitando compras desnecessárias, falta ou perda de medicamentos. Na programação, é imprescindível considerar os recursos financeiros disponíveis e as prioridades estabelecidas para a área de saúde. Fonte da Imagem: Aquisição Momento em que se efetiva a compra dos medicamentos. Primeiro, devemos considerar O QUE comprar (seleção), depois, QUANDO e QUANTO comprar (programação) e, por fim, COMO comprar (aquisição). A compra de medicamentos deve obedecer a critérios técnicos e legais, e pode ser feita por meio de licitação (glossário), dispensa de licitação ou inexigibilidade de licitação. Em geral, a escolha da modalidade está vinculada ao valor da compra. Tais conceitos estão expressos na Lei de Licitações e Contratos Administrativos – Lei nº 8.666/1993 (glossário). A licitação destina-se a garantir a proposta mais vantajosa de compra para a Administração Pública. A principal diferença entre a dispensa e a inexigibilidade de licitação é que, nos casos de inexigibilidade, não há possibilidade de competição, porque só existe um objeto ou uma pessoa que atenda às necessidades da Administração. Já nos casos de dispensa, a possibilidade de competição existe, mas a lei faculta a decisão de haver licitação ou não à Administração. Compras de grande volume permitem maior poder de negociação dos preços. Dessa forma, contratos de compra com volume maior, com parcelamento da entrega, costumam apresentar vantagens, tais como: • Evitar desabastecimento; • Reduzir estoques e custos de armazenamento; • Garantir medicamentos com prazos de validade favoráveis; • Executar seu financiamento planejado e gradual. A formação de consórcios intermunicipais, em âmbito regional ou estadual, também é outra estratégia interessante de gestão, pois pode permitir que municípios pequenos negociem e baixem os preços dos medicamentos. Atenção , Os fornecedores devem seguir as Resoluções da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) (//portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Pos+-+Comercializacao+-+Pos+-+Uso/Regulacao+de+Marcado). Caso contrário, a compra pode ser denunciada e comunicada à CMED e ao Ministério Público, e o fornecedor, responsabilizado por aquisição antieconômica, bem como penalizado a devolver os recursos pagos acima do teto estabelecido., , Além disso, de acordo com a Lei nº 9.787/1999 (//www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9787.htm), quando houver medicamento genérico em situação de igualdade de preço, este terá preferência na compra. http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L8666cons.htm http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Pos+-+Comercializacao+-+Pos+-+Uso/Regulacao+de+Marcado http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9787.htm Fonte da Imagem: Armazenamento Atividade que abrange as fases de recebimento, estocagem, segurança e conservação, controle de estoque e saída de medicamentos. O armazenamento adequado garante a preservação das características físico-químicas e microbiológicas dos produtos, para que possam produzir os efeitos desejados e evitar perdas e prejuízos financeiros. Além disso, o armazenamento corresponde ao cumprimento das boas práticas de armazenagem, incluindo: • Limpeza e higienização; • Delimitação dos espaços destinados à estocagem; • Recebimento e expedição de medicamentos. O controle de temperatura e umidade é fundamental durante o armazenamento, pois são esses os fatores que mais interferem na integridade do medicamento. É importante, também, elaborar os Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) (glossário) com a descrição de todas as atividades executadas – desde a conferência até a expedição dos fármacos. Para gerenciar tudo isso, deve existir um sistema de controle de estoque de medicamentos que disponibilize informações gerenciais, como balancetes, relatórios e gráficos, lotes e prazos de validade. Fonte da Imagem: Distribuição Atividade que deve garantir que o medicamento chegue a seu destino com segurança e em tempo hábil. Antes da expedição, é necessário realizar: • Análise da solicitação; • Processamento, preparação e liberação do pedido; • Registro de saída, transporte e conferência. Além disso, deve haver um local para o arquivamento de documentos. Dessa forma, há necessidade de formalizar um cronograma de distribuição, estabelecendo os fluxos, os prazos para a execução e a periodicidade das entregas de medicamentos. Os veículos de transporte de fármacos também têm de receber uma atenção especial e obedecer a normas sanitárias. Por exemplo, os meios de transporte para vacinas e insulinas precisam garantir a manutenção da temperatura ideal para esses produtos. Fonte da Imagem: Pogorelova Olga, ideyweb, Viktorija Reuta, ProStockStudio e Graphicworld / Shutterstock Dispensação Ato profissional farmacêutico que consiste em proporcionarum ou mais medicamentos em resposta à apresentação de uma prescrição elaborada por um profissional autorizado. A dispensação faz parte do processo de atenção à saúde da população. Trata-se do momento em que, frente a uma prescrição ou a uma solicitação do usuário, o farmacêutico assume a corresponsabilidade na utilização do medicamento. Essa atividade envolve fases que visam promover o uso racional do fármaco. São elas: • Recepção e identificação do usuário – acompanhamento do histórico da dispensação com o cuidado de utilizar o método de comunicação adequado; • Análise da prescrição – interpretação das informações disponíveis na prescrição, cujo objetivo é aumentar as chances do êxito terapêutico; • Separação – avaliação da integridade do produto, do nome do medicamento, da dosagem, da data de validade e da quantidade necessária para realizar o tratamento; • Registro – identificação na prescrição dos itens atendidos e não atendidos e da data da dispensação. Para os tratamentos de uso contínuo, o registro pode ser realizado em cadernetas específicas (hipertensão, diabetes, anticoncepcionais), já que a mesma prescrição possibilita mais de uma dispensação; • Avaliação – análise das orientações fornecidas ao usuário para que se alcance o objetivo terapêutico proposto e que se contribua para o uso racional do medicamento; • Plano de ação – pacto com o usuário para identificar a melhor maneira de realizar o tratamento, quando se lhe aconselha e se lhe educa sobre o uso correto dos medicamentos. Nesta fase, podem ser utilizados instrumentos que facilitem a adesão, tais como etiquetas e esquemas com pictogramas. IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA Fonte da Imagem: Graphicworld / Shutterstock A implantação da atenção farmacêutica é uma estratégia para assegurar a qualificação e a humanização do atendimento aos usuários. Trata-se de um modelo de prática farmacêutica – desenvolvido no contexto de assistência – que compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, na promoção e na recuperação da saúde, de forma integrada à equipe que atua na área. A atenção farmacêutica corresponde, pois, à interação direta do farmacêutico com o usuário, cujos objetivos são a farmacoterapia (glossário) racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Para a execução de todas as atividades do ciclo da assistência farmacêutica, é essencial dispor de uma equipe bem treinada, e o farmacêutico tem um papel fundamental na capacitação dessa equipe da farmácia. Além disso, o gerenciamento das atividades requer um sistema informatizado em que seja possível acompanhar toda a cadeia do medicamento. As atividades têm de estar sistematizadas em POPs, e devem existir locais específicos para guardar documentos, a fim de registrar tais atividades. A seguir, veja como tudo isso é financiado. FINANCIAMENTO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA O financiamento e a transferência dos recursos federais para as ações e os serviços de saúde acontecem na forma de blocos de financiamento. Um deles é o bloco da assistência farmacêutica, que é dividido da seguinte maneira: COMPONENTE BÁSICO Recursos para a assistência farmacêutica na atenção básica, contemplados nos Anexos I e IV da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) – Portaria nº 533/2012 (//bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0533_28_03_2012.html) – e na Portaria nº 1.555/2013 (//bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1555_30_07_2013.html). COMPONENTE ESTRATÉGICO Recursos do Ministério da Saúde usados para a compra centralizada e a distribuição de medicamentos para: • Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs); • AIDS; • Tuberculose; • Hanseníase; http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0533_28_03_2012.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1555_30_07_2013.html • Hemoderivados; • Combate ao tabagismo; • Alimentação e nutrição; • Endemias focais; • Lúpus etc. COMPONENTE ESPECIALIZADO Busca da garantia da integralidade do tratamento medicamentoso, em nível ambulatorial, cujas linhas de cuidado estão definidas em protocolos clínicos e em diretrizes terapêuticas publicadas pelo Ministério da Saúde por meio da Portaria nº 1.554/2013 (//bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1554_30_07_2013.html). PROGRAMA FARMÁCIA POPULAR Conjunto de duas estratégias denominadas: • Farmácia Popular Rede Própria – que recebe investimento em estrutura e custeio do Ministério da Saúde; • Aqui Tem Farmácia Popular – que tem convênio com a rede privada, que se credencia no programa para comercialização e dispensação gratuita de elenco de medicamentos de hipertensão, diabetes e asma. Essas estratégias foram regulamentadas pela Portaria nº 971/2012 (//bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0971_15_05_2012.html). ATIVIDADE Chegou a hora de exercitar o que você aprendeu! Analise a Portaria nº 1.555/2013 do Ministério da Saúde (glossário) e identifique os valores mínimos que devem ser aplicados pela União, pelos Estados e pelos Municípios para o financiamento do Componente Básico da Assistência Farmacêutica. Resposta Correta http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1554_30_07_2013.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0971_15_05_2012.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1555_30_07_2013.html Glossário COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA (CFT) Instância responsável pela avaliação do uso clínico dos medicamentos, que desenvolve políticas para gerenciar o uso, a administração e o sistema de seleção. Como um foro para avaliar todos os aspectos do tratamento medicamentoso e discutir sobre eles, essa comissão orienta os departamentos médicos, de enfermagem, administrativos e de farmácia sobre temas relacionados a medicamentos. Frequentemente, entre seus membros, estão: • Representantes de especialidades da medicina – cirurgia, obstetrícia e ginecologia, psiquiatria e doenças infecciosas; • Farmacêuticos; • Um farmacologista clínico; • Um especialista em informação sobre medicamentos; • Enfermeiros. LICITAÇÃO Conjunto de procedimentos administrativos para as compras ou os serviços contratados pelos entes federativos. Trata-se de um processo formal em que há competição entre os interessados. PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRÃO (POPS) Documentos que descrevem, de forma sistemática, as ações para a realização de uma tarefa, além da listagem dos materiais e dos equipamentos necessários às condições de operação de cada atividade. Esses documentos precisam ser revisados anualmente, a fim de se adequar às mudanças ocorridas em determinados procedimentos. FARMACOTERAPIA Tratamento de pacientes com medicamentos ou fármacos.
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