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ÉTICA E 
RESPONSABILIDADE 
SOCIAL
ÉTICA E 
RESPONSABILIDADE 
SOCIAL
Copyright © UVA 2019
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer 
meio sem a prévia autorização desta instituição.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico 
da Língua Portuguesa.
AUTORIA DO CONTEÚDO
Valter Forastieri Cova
REVISÃO
Clarissa Penna
Theo Cavalcanti
Lydianna Lima
PROJETO GRÁFICO
UVA
DIAGRAMAÇÃO
UVA
C873 
 Cova, Valter Forastieri 
 
 Ética e responsabilidade social [livro eletrônico] / Valter 
 Forastieri Cova. – Rio de Janeiro: UVA, 2019. 
 
 9,4 MB. 
 
 ISBN 978-85-5459-056-7
 
 
 1. Ética. 2. Ética social. I. Universidade Veiga de Almeida. 
 II. Título. 
 
 CDD – 170
Bibliotecária Katia Cavalheiro CRB 7 - 4826.
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UVA.
SUMÁRIO
Apresentação
Autor
6
7
A questão ambiental 40
• Visões de ambiente
• Crise ambiental
• Sustentabilidade e sua crítica
UNIDADE 2
8
• Moral
• Ética
• Perspectivas Éticas
Moral e ética
UNIDADE 1
SUMÁRIO
Responsabilidade socioambiental 85
• Análises de iniciativas de responsabilidade social
• Análise de iniciativas de responsabilidade socioambiental
• Elaborando iniciativas socioambientais eticamente fundamentadas
UNIDADE 4
63
• Fundamentos e aplicações da responsabilidade social
• A crítica à responsabilidade social
• A ética e a responsabilidade social
Responsabilidade social das empresas
UNIDADE 3
6
Nesta disciplina, vamos refletir sobre a moralidade na tomada de decisões, seja por um 
profissional, seja por uma organização. Iremos abordar a necessidade e as polêmicas 
de temas como responsabilidade social e responsabilidade ambiental. Vamos analisar 
como uma empresa pode exercer essas responsabilidades com ética.
Para sua formação profissional, discutir ética é fundamental. As profissões costumam 
ter seus códigos de conduta para guiar a tomada de decisões. Não será algo raro, em sua 
prática profissional, ocorrerem situações em que os valores morais entram em choque. 
Como decidir o que fazer?
A busca por uma nova relação com a nossa própria humanidade é outra tensão que paira 
sobre as organizações. A responsabilidade social é uma forma de valorizar as pessoas e 
a cultura. Porém como fazer responsabilidade social? Será que a responsabilidade social 
realmente resolve os problemas das pessoas ou não passa de um marketing social?
Uma empresa deve buscar sustentabilidade, não só no aspecto econômico, mas no 
aspecto ambiental. A abordagem desta disciplina o ajudará a analisar de maneira mais 
profunda a crise ambiental, desmistificando as visões simplistas amplamente divulgadas 
pela mídia. A partir disso, vamos refletir sobre como aplicar a responsabilidade ambiental 
nas organizações.
Ética, sustentabilidade, ambiente e responsabilidade são termos que representam 
conceitos importantes para a gestão da própria carreira e das organizações. Nesta 
disciplina, vamos ampliar nossos horizontes sobre esses temas, no sentido de buscar 
uma formação profissional sintonizada com as necessidades impostas pela sociedade 
no século XXI.
APRESENTAÇÃO
7
VALTER FORASTIERI COVA
Biólogo, mestre e doutorando em Ensino, Filosofia e História da Ciência. Professor da 
educação superior desde 2001. Elaborou os Referenciais Curriculares para o Ensino de 
Ciências da Natureza dos municípios de Salvador e Camaçari.
AUTOR
Moral e ética
UNIDADE 1
9
A todo momento, nas nossas vidas, nós tomamos decisões sobre como iremos agir. Em 
que se baseiam essas decisões? Todas as pessoas e todas as organizações afirmam que 
agem no sentido de fazer o bem, de defender o que é certo. Porém, o que é o bem? O que 
é certo para uma pessoa é o certo para outra? No intuito de refletir sobre isso, diversos 
termos surgem: moral, ética, valores. Muitas vezes esses termos são empregados como 
sinônimos, porém eles têm significados distintos. Nas diretrizes curriculares dos cursos 
de graduação, geralmente aparece, no perfil desejado do egresso, “o profissional que aja 
pautado pela ética”. O que isso significa?
INTRODUÇÃO
Nesta unidade você será capaz de:
• Conhecer os diversos modelos éticos que orientam a tomada de decisão so-
cioambiental.
OBJETIVO
10
Moral
Para discutir questões morais nas organizações e a relação dessas questões com a 
realidade social e ambiental em que vivemos, vamos iniciar analisando um caso histórico.
Durante a Revolução Industrial, surgiu a necessidade de aumento de mão de obra para 
operacionalizar as fábricas. A busca por trabalhadores de baixo custo fez as empresas 
admitirem, com pagamentos muito inferiores aos dos homens, as mulheres e as crianças. 
As crianças trabalharem não era um fato histórico novo, pois no decorrer da história da 
humanidade elas já foram mão de obra, a depender das necessidades da economia de 
cada época. 
O que irá marcar o uso do trabalho da criança nessa época será a insalubridade. Meninos 
e meninas serão expostos a atividades de risco, tal como entrar em máquinas para 
lubrificá-las. Nessa prática, aconteciam acidentes, resultando na mutilação ou morte da 
criança. Além disso, as condições precárias de higiene do local de trabalho, a jornada de 
mais de 12 horas e a alimentação deficitária também vitimavam as crianças.
Analise a descrição que o filósofo Karl Marx faz das condições de trabalho das crianças 
no período:
[...] milhares de braços tornaram-se de súbito necessários. [...] 
Procuravam-se principalmente pelos pequenos e ágeis. [...] 
Muitos, milhares desses pequenos seres infelizes, de sete a treze 
ou quatorze anos foram despachados para o norte. O costume 
era o mestre (o ladrão de crianças) vesti-los, alimentá-los e alojá-
los na casa de aprendizes junto a fábrica. Foram designados 
11
supervisores para lhes vigiar o trabalho. Era interesse destes 
feitores de escravos fazerem as crianças trabalhar o máximo 
possível, pois sua remuneração era proporcional à quantidade de 
trabalho que deles podiam extrair. [...] Os lucros dos fabricantes 
eram enormes, mais isso apenas aguava-lhes a voracidade 
lupina. Começaram então a prática do trabalho noturno, 
revezando, sem solução de continuidade, a turma do dia pelo da 
noite o grupo diurno ia se estender nas camas ainda quentes que 
o grupo noturno ainda acabara de deixar, e vice e versa. Todo 
mundo diz em Lancashire, que as camas nunca esfriam. (MARX, 
1988, p. 875-876)
A situação que descrevemos acima, com apoio da citação de Marx, foi encarada com 
muita tranquilidade durante muitos anos. Será que hoje nós a encararíamos como 
normal? Ela provocaria revolta na sociedade?
Apesar de sabermos que ainda existem situações de trabalho análogo à escravidão no 
Brasil e que ainda existe exploração do trabalho infantil, essas práticas são amplamente 
condenadas e consideradas imorais. Isso quer dizer que vão contra a moral vigente. Então, 
podemos enquadrar nosso caso analisado (o trabalho infantil) como uma questão moral. 
12
Entretanto, o que significa moral? Quando podemos afirmar que algo está 
dentro da moral? 
Para refletir
A moralidade é um campo do estudo da filosofia. O termo moral tem origem do latim, 
da palavra romana moralis. Essa palavra significa algo semelhante às nossas palavras 
“hábitos”, “costumes”. 
A moral engloba um conjunto de valores, de regras de conduta, de normasde convivência 
que fazem parte de um determinado contexto social em um hábito cultural.
Em uma definição simples, de dicionário, a moral consiste em: “Preceitos e regras que, 
estabelecidos e admitidos por uma sociedade, regulam o comportamento de quem dela 
faz parte” (MORAL..., 2018).
Perceba que, ao discutir moral, o termo sociedade é palavra-chave para o entendimento 
desse conceito. A moral é um fenômeno social, ela é produzida pelas sociedades. Toda 
sociedade produz uma moral, então cuidado, pois não existem grupos humanos sem 
uma moral. A questão é: será uma moral igual à da nossa sociedade?
Entendida como produção das sociedades, a moral mostra-se completamente 
relacionada à cultura. Então, a moral é um produto da cultura vigente. Por que vigente? 
Porque a cultura muda com o passar do tempo. A cultura não é estática. Às vezes as 
pessoas se referem a um problema da seguinte forma: “[...] é algo cultural, não vai mudar, 
não tem jeito.” Essa é uma afirmação errada. Cultura não é algo cristalizado, ela está 
em produção a todo momento e recebe influências de diversos fatores que tensionam 
a sociedade (econômicos, políticos...). Então, se a cultura muda com o tempo, a moral 
também vai mudar com o tempo. 
13
A relação da moral com a cultura pode ser simplificada ao pensarmos que há coisas que 
culturalmente nós podemos fazer na atualidade e há coisas que nós não podemos fazer.
Para entender melhor a componente temporal da moralidade, vamos voltar ao nosso 
exemplo do trabalho infantil. Na época da Revolução Industrial, era parte da moralidade 
da época usar a criança no mundo do trabalho. Era considerado normal, não era imoral. 
A cultura dessa época era outra, então a moral era outra. Para entendermos isso (algo 
que é difícil aos olhos de alguém do século XXI), temos que saber que nos tempos da 
Revolução Industrial não existia o conceito de infância. Crianças eram consideradas 
adultos em miniatura. 
Diversos fatores tensionaram para a mudança cultural e, consequentemente, a mudança 
da moral. Os trabalhos de uma nova ciência, a psicologia, com as contribuições de 
Sigmund Freud, que inicia a psicanálise, começam a indicar que a criança possui uma 
mente muito diferente da mente do adulto. Diversas outras correntes da psicologia 
acumulam evidências que derrubam a ideia do adulto em miniatura. O avanço das ciências 
naturais relacionando as más condições de higiene e trabalho às doenças e aos óbitos 
foram influências para o combate à insalubridade. Os movimentos dos trabalhadores, 
que, fartos de tanto sofrimento, começam a reagir, também foram decisivos para a 
estruturação de uma nova cultura. Essa teia intricada de fatores acabou por abalar a 
cultura da época, resultando em uma nova moralidade.
14
Poderíamos considerar, hoje, que uma organização que se vale do trabalho infantil age 
de acordo com a moral? Claro que não. Na nossa cultura, hoje, o trabalho infantil é 
indefensável (não pode ser defendido), é imoral. 
A maioria dos filmes que retratam épocas passadas distorcem a história, justamente por 
não levarem em conta que a moral muda de acordo com a época. Como o público não 
entenderia a cultura e, por consequência, a moral da época, o que esses filmes fazem 
é recriar um antigo Egito, Roma ou Idade Média com a moral da nossa sociedade, uma 
distorção.
Até o início do século XX, as famílias entregariam uma menina de 12 anos para se casar 
com um homem de 60 anos. Toda sociedade ficava contente com isso, não abalava a 
moral da época. Na atualidade, temos o conceito de infância, e com isso uma questão 
moral surgiu, a pedofilia. No nosso mundo, não é certo que uma criança de 12 anos 
case com um adulto; é uma exploração sexual, é pedofilia, algo imoral, algo indefensável. 
Como o estudo da moral orienta a produção de leis, podemos acrescentar ainda que a 
pedofilia é um crime. Contudo, perceba: a moral não é lei escrita, ela inspira a elaboração 
de leis.
Na Grécia Antiga, a escravidão era vista com naturalidade, pois não existia a ideia de 
que as pessoas eram iguais, logo não havia problema que algumas não tivessem direito 
à liberdade. A prática da tortura foi considerada como normal por toda a Idade Média e 
parte da Idade Moderna. Na sociedade atual, é considerada uma prática imoral.
15
Ainda explorando a relação entre moral e cultura, devemos levar em conta que a moral não 
só varia no tempo como no espaço. Há grupos culturais diferentes espalhados pelo mundo. 
A moral ocidental é essencialmente monogâmica, mas em alguns países de cultura 
muçulmana é permitido que os homens possuam mais de uma esposa, desde que 
possam sustentá-las. Isso é perfeitamente moral para essas sociedades. O casamento 
por interesse econômico, também considerado imoral, já foi perfeitamente moral na 
nossa sociedade no passado e continua a ser em outras sociedades atuais. Algumas 
sociedades indianas veem como imorais a prática de matar animais, tão comum em 
nossa sociedade.
Ainda ressaltando o aspecto social da moral, não podemos usar o termo imoral para 
indivíduos; não existe pessoa imoral, pois todo indivíduo é parte de uma sociedade e de 
uma cultura, toda pessoa internaliza uma cultura, logo internaliza uma moral. 
Apesar de os valores morais diferirem nas sociedades, existem alguns valores que são 
apresentados como “universais”, presentes em quase todas as sociedades do mundo, 
como o princípio da liberdade. Alguns desses valores são tão primordiais que estão 
previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Então, alguns valores morais 
podem orientar a produção de direitos.
Entendemos o conceito de moral como aquilo que se consolidou como sendo verdadeiro 
para uma sociedade ou para uma cultura. Podemos relacionar moral com dois termos: 
liberdade e responsabilidade. 
Um comportamento moral é aquele que se expressa em liberdade. Não podemos dizer 
que alguém agiu de forma moral se essa pessoa foi forçada a fazê-lo.
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar sobre o que é moral.
16
Vamos tomar o seguinte exemplo, dado pelo filósofo Clovis de Barros Filho, no conteúdo 
apresentado na midiateca. Imagine uma pessoa em uma banca de jornais. O jornaleiro saiu 
e deixou a banca aberta. A pessoa quer pegar um jornal. Ela pode pegar e não pagar, pois 
não há testemunhas, não há câmeras e não haverá punição. Ela também poderá deixar o 
dinheiro na banca e levar o jornal. A moral da nossa sociedade nos diz para não roubar. 
O comportamento da pessoa de deixar o dinheiro ao pegar o jornal só será considerado 
moral se for exercido assim, com liberdade, sem coerção, sem ser forçado ou por medo 
de punição. Caso alguém coloque o dinheiro apenas porque se não o fizer vai poder ser 
punida, esse não será um comportamento moral, pois não aconteceu em liberdade.
A responsabilidade pelo comportamento também depende da liberdade. Ninguém pode 
ser responsabilizado por um comportamento se foi forçado a fazê-lo; quando se perde a 
liberdade, não há responsabilidade moral. Como afirma Leclerq (1967, p. 376), “os atos só 
têm caráter moral na medida em que nele intervém a liberdade; e seu caráter moral diminui 
na proporção que diminui a intervenção do livre-arbítrio”.
É considerado AMORAL um sujeito que não consegue internalizar a moral da sociedade. 
Uma criança pequena ainda não passou por todo o processo de aquisição cultural, logo 
não é capaz de entender a moral da sociedade. Outros casos seriam pessoas com doenças 
mentais ou com deficiência intelectual mais grave. Fora esses casos, não podemos 
dizer algo do tipo “essa pessoa é sem moral”, pois todos participamos da sociedade e 
internalizamos a moral dessa sociedade.
Entendendo a moral como fruto da cultura de um grupo social, podemos pensar nos 
valores morais de uma organização. As organizações são sociedades, com sua própria 
cultura — a cultura organizacional. Uma empresa sustentável está alicerçada em valores 
como honestidade, responsabilidade social, integridade, inovação,sustentabilidade, 
transparência, inteligência, inspiração, flexibilidade, entre outros. Esses princípios são 
compartilhados desde os superiores hierárquicos até todos os trabalhadores da empresa. 
Como são morais, são culturais, devendo ser exercidos em liberdade, e não por coerção.
O fato de existir uma moral na sociedade não significa dizer que todos irão segui-la o tempo 
todo. O que orienta as tomadas de decisão sobre a moral? Como fazemos os julgamentos 
morais? O que fez o sujeito deixar o dinheiro para o jornaleiro seguindo a moral? Por que outro 
sujeito levou o jornal e não pagou? Quando nos perguntamos isso, estamos nos deslocando 
do campo da moral para o campo da ética, que será o objeto do próximo tópico.
17
Ética
“O homem quando guiado pela ética é o melhor dos animais, quando sem ela, é o pior de todos.” 
(Aristóteles)
Ética é a parte da filosofia que reflete sobre as ações humanas, sobre o que fundamenta 
essas ações. Apesar de esse tipo de estudo ter aparecido, independentemente, em várias 
culturas na Antiguidade (nos impérios africanos e asiáticos), a ética originada pelos 
gregos antigos é a mais conhecida. Provavelmente, os gregos aprenderam elementos de 
ética em contato com outros povos e a desenvolveram. 
Uma das visões mais antigas sobre ética de que se tem registro é a do filósofo Aristóteles. 
Ele estabelece que o objetivo das ações humanas, de todo o trabalho da humanidade, é 
o bem. A busca pelo bem seria o que diferenciaria a ação dos homens das dos outros 
animais. Os animais apenas repetiriam ações inatas ou que aprenderam, sem o objetivo 
de chegar a um bem. Todavia, o que seria esse bem? Para Aristóteles, o bem maior seria a 
felicidade. O bem viver e o bem agir resultariam em ser feliz. O problema desse raciocínio, 
que Aristóteles percebeu, é que aquilo que é felicidade para uns não é exatamente 
considerado felicidade para outros.
18
Porém, havia uma certa regularidade; grupos sociais estabeleciam o que é o bem e 
o que é a felicidade. Acabamos por partilhar noções parecidas de “fazer o bem” com 
as pessoas que vivem sob as mesmas influências que nós: mesma religião, educação 
familiar semelhante etc. são as noções de moral.
Um elemento essencial para a compreensão da ética é a razão. Somos capazes de pensar 
sobre nossas ações, de planejá-las, somos diferentes dos animais, pois realizamos 
escolhas e julgamos o valor dessas escolhas. A ética é a ciência que faz a reflexão sobre 
a moral. Por julgar diferentes posições de acordo com a moral, ela é uma interpretação 
da moral. Então, a racionalidade é uma palavra-chave para o entendimento da ética. Veja 
como Marx abordou essa questão:
Uma aranha executa operações que se assemelham às manipulações 
do tecelão, e a construção das colmeias pelas abelhas poderia 
envergonhar, por sua perfeição, mais de um mestre de obras. Mas há 
algo em que o pior mestre de obras é superior à melhor abelha, e é 
o fato de que, antes de executar a construção, ele a projeta em seu 
cérebro. (MARX, 1988, p. 149)
Como é o indivíduo que interpreta a moral, ele utilizará sua racionalidade para planejar 
suas ações. Existe uma norma moral que diz que é errado beber e dirigir, então os 
indivíduos irão interpretar essa regra e decidir se irão ou não dirigir após beber. Para essa 
tomada de decisões, eles podem focar as consequências das ações.
A ética está ligada à opção; as pessoas optam por um ou outro comportamento. A ética 
orienta a conduta humana. Ela norteia nossa vida e a convivência entre as pessoas.
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar sobre os limites 
da ética.
19
Em entrevista à Rádio EPC, foi perguntado ao filósofo Mario Sergio Cortella qual o limite da 
ética. O entrevistador relatou que, por ética, aquela rádio não dá noticias sensacionalistas, 
que, por ética, eles também não ofereciam contratos a empregados de outras rádios, mas 
que, como as outras rádios faziam, eles se prejudicavam. Qual seria o limite da ética? 
A resposta foi: “O limite da sua escolha.” Nessa resposta, captamos um dos elementos 
essenciais para a compreensão da ética: a opção racional, as escolhas, as decisões que 
tomamos. Não é pelo fato de o outro agir de forma errada que nós também devemos agir.
Vejamos como Álvaro Valls reflete sobre a ética:
 
Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, 
científica ou filosófica, e eventualmente até teológica sobre os 
costumes ou sobre as ações humanas... A ética pode ser o estudo 
das ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um 
comportamento. (VALLS, 2008, p. 18)
Então, seria a ética sinônimo de moral? Não! A moral, como vimos no tópico anterior, é 
um conjunto de noções, um conjunto de normas ou um código determinado do que é 
certo ou errado produzido por uma cultura, que deveria orientar a conduta das pessoas 
em uma sociedade.
O ser humano, como ser social, está submetido às normas morais. No entanto, não somos 
apenas coletividade, temos uma visão, uma interpretação, uma crítica dos construtos 
sociais. Nós interpretamos e/ou criticamos a moral. Há uma tensão na existência 
humana entre o ser de hábitos culturais e o ser autônomo, que toma decisões, que é livre 
e responsável pelos seus atos. Nós somos esses dois seres ao mesmo tempo.
Na obra de Sigmund Freud, O mal-estar da civilização, o psicanalista aborda essa 
dualidade dos seres humanos. Por um lado, temos as regras de conduta da sociedade, 
representadas pela moral. Por outro lado, temos nosso lado animal, que busca satisfação, 
prazer. Muitas vezes, os interesses dessas duas partes irão colidir. Será necessário 
administrar esse conflito, julgar até que ponto devemos seguir a moral ou satisfazer 
nossas necessidades.
20
A ética nasce do conflito entre heteronomia (hetero = “diferente”; nomos = “lei”), 
representada pela moral, e autonomia (autos = “próprio”; nomos = “lei”), nossa capacidade 
de racionalizar criando nossas leis.
Vamos imaginar a situação de um rapaz que está com pouco dinheiro para as despesas 
de casa. Ao sair do trabalho, ele, acidentalmente, bateu com sua moto no retrovisor de um 
carro que estava no estacionamento. Ninguém viu. Ele terá que tomar uma decisão: ou ele 
seguirá a moral, que nos orienta a pagar por aquilo que nós quebramos, ou ele sairá dali 
e economizará o já pouco dinheiro que tem. O que fazer? Ele irá usar sua racionalidade 
para fazer um julgamento sobre a moral e tomar uma decisão, realizará uma ação.
Perceba que ética não é sinônimo de valor, não é a mesma coisa que valores como 
honestidade ou integridade. Esses valores podem servir de referência para a tomada de 
decisão, para o julgamento da moral.
A ética, como ciência, estuda os fatos morais. O fato moral acontece quando você tem 
os agentes (pessoas), que tomam decisões, fazem escolhas e realizam ações, com base 
nessas escolhas, que impactam a vida de outras pessoas. Esse impacto na vida dos 
outros pode ser positivo ou negativo. A ética vai explicar esses fatos morais. Veja o caso 
do rapaz da moto: a decisão tomada por ele irá impactar a sua própria vida e também a 
vida do dono do carro que ele quebrou a lanterna. 
Ao analisar a questão ambiental brasileira, Nelson Tembra (2009) afirma que a falta de 
ética é o centro do problema ambiental do país. Um dos casos que o autor utiliza para 
ilustrar seu raciocínio é a construção de hidrelétricas. Sobre a construção da hidrelétrica 
de Barra Grande, o autor aponta que o Estudo de Impacto Ambiental – EIA:
[...] foi elaborado por uma empresa, que, surpreendentemente, mentiu 
sobre a composição vegetal da área submersa pela barragem. No 
EIA foi dito que a área comportava somente capoeiras e capoeirões, 
estágios de sucessão ecológica que não são protegidos por lei. Ocorre 
que, de fato, metade da área era composta por vegetação primária, ou 
seja, que nunca havia sido derrubada pelo homem ou áreas em que 
se encontrava em estágio avançado de regeneração. Como sabemos, 
essasduas últimas formações são protegidas por lei, mas o Ibama, 
órgão responsável por vistoriar o estudo e verificar se ele estava 
correto, não apurou essas irregularidades. (TEMBRA, 2009)
21
Na citação anterior, temos duas ações que são objeto para o estudo da ética. Uma 
empresa que coloca informações falsas em um relatório e um órgão que não vistoriou 
as irregularidades. Podemos inferir sobre algumas pressões que levaram o órgão a não 
cumprir sua função, desde falta de pessoal a pressões de outros setores do governo. O 
que pode ser compreendido na análise sobre a ação é que: 
[...] o Ministério de Minas e Energia comemorou mais essa mega-
hidrelétrica como mais uma obra que aceleraria o crescimento 
econômico do país, mas não o desenvolvimento social. De fato, 
a construção dessa hidrelétrica, como todas as demais, só foi 
possibilitada pela alegação, por parte do poder público, de que ela era 
de interesse público. (TEMBRA, 2009)
O fato de ser “de interesse público” vem permitindo a construção de hidrelétricas 
e minerações, inclusive na região da Amazônia, prejudicando os povos indígenas 
e as populações ribeirinhas. O autor apresenta a cadeia de raciocínio ético que 
convencionalmente é atribuída a esses empreendimentos:
Essa cadeia é estabelecida simplesmente perguntando-se o porquê 
de cada ação. Então, começando pelo fato ‘foi construída uma usina 
hidrelétrica que irá inundar uma grande floresta’. Por quê? ‘Pois se 
considera que a energia elétrica gerada é importante’. Por quê? ‘Pois 
com energia elétrica a economia do país pode crescer, e o crescimento 
econômico é algo importante’. Por quê? ‘Pois crescendo a economia, 
o país tem mais dinheiro, e ter dinheiro é importante’. Por quê? ‘Pois 
dinheiro traz felicidade’. Em se chegando nesse ponto, não cabe 
mais perguntar ‘Por quê?’. Não faz sentido perguntar por que se quer 
ser feliz. O que se pode perguntar é o que é e a quem pertence a tal 
felicidade, já que é isso que determina toda a escala de valores. Em se 
assumindo que o dinheiro traz felicidade, fica então justificada a ação 
da construção da barragem. (TEMBRA, 2009)
22
Ao pensarmos na situação de usinas como a de Belo Monte, cujo estudo dos 
impactos negativos pelos especialistas resultou em mais de 200 páginas de 
descrição de prejuízos ambientais, podemos pensar em que princípios morais 
se baseia essa ética? Como fazer a justificativa para as decisões? 
Para refletir
[...] a justificativa ética da obra ficaria mais complicada, já que, 
para tanto, o sistema de valores assumido deveria considerar 
lícito sacrificar um bem público, o meio ambiente, em nome 
de um bem privado, o lucro de algumas megacorporações 
multinacionais. Isso só seria factível se assumíssemos que o 
correto é que quem pode mais, ou quem possui mais poder, use 
todos os meios que considere cabíveis, possíveis, impossíveis, 
imagináveis e inimagináveis para perseguir seus interesses, doa 
a quem doer. (TEMBRA, 2009)
Para guiar nossos julgamentos éticos, temos que adquirir o código de valores que regem 
a nossa sociedade. Por exemplo, no Brasil, temos que conhecer a Constituição, pois lá 
estão explicitados os valores morais nacionais. Vejamos o artigo 1º.
Ou, ainda, imagine o seguinte dilema: é ético roubar um medicamento que é caro 
demais para ser comprado no intuito de salvar uma vida? Ou seja, qual valor deve 
prevalecer, o valor vida ou o valor propriedade privada?
Para refletir
Ao analisarmos esses casos, verificamos as perdas para o ambiente, tais como os 
serviços ecossistêmicos prestados pela floresta (que envolvem manutenção da saúde 
por controle de parasitos, captura de gases do efeito estufa etc.), as perdas para as 
populações locais, o ganho irrisório para os operários e o fato de normalmente se tratar 
de empresas multinacionais, cujo lucro será destinado a seus acionistas estrangeiros.
23
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
constitui-se em Estado democrático de direito e tem como 
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político. (BRASIL, 1988)
Tendo a dignidade da pessoa humana como valor moral, fica claro que todo ser humano, 
sem distinção, merece tratamento digno. Então como agir perante os outros? Como agir 
eticamente? Agir sempre de modo a respeitar, a não humilhar, a não discriminar, seja em 
relação à sexualidade ou à etnia. Com esses valores morais estabelecidos, surgem os 
comportamentos inaceitáveis. A discriminação por etnia será o racismo, a discriminação 
por gênero será o machismo. Esses conceitos (racismo, machismo) não existiam em 
sociedades antigas que não tinham a dignidade da pessoa humana como valor moral. 
Da mesma forma, a escravidão e a tortura tornam-se práticas indefensáveis.
O valor moral pluralismo político, apresentado na Constituição, informa-nos que na nossa 
cultura as pessoas devem ter liberdade de defender suas ideias políticas, de expressá-
las e defendê-las, sem sofrer censura ou sanções por causa disso. Essa liberdade de 
expressão política encontra seu limite nas posições que se baseiam, por exemplo, em 
racismo ou machismo, pois elas ferem o valor moral da dignidade da pessoa humana. 
Logo, discurso de ódio não é opinião política.
Agora que estabelecemos o papel dos valores morais para a tomada de decisão, 
precisamos de modelos que orientem essas ações toda vez que os valores morais 
entrarem em conflito entre si ou com as circunstâncias da nossa vida. O próximo tópico 
abordará os modelos éticos.
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MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar indicado sobre 
o que é ética.
25
Perspectivas Éticas
Quais os modelos produzidos pelo estudo da ética que orientarão a nossa 
tomada de decisões?
Dália Conrado (2017) realizou uma ampla revisão sobre as perspectivas éticas. Segundo 
a autora, podemos distinguir duas perspectivas sobre a noção de valor, com base na 
literatura em filosofia moral. Uma perspectiva avalia o valor da ação humana, enquanto a 
outra avalia o valor dos sujeitos e objetos no mundo.
A perspectiva ética do valor das ações humanas 
Essa primeira perspectiva é centrada no agir, sendo a ação o foco da análise, ou seja, 
a conduta humana; assim, nesse campo, a discussão será sobre os critérios utilizados 
para atribuir valor moral à ação. Será que uma ação realizada é certa? Fizemos algo 
bom ou ruim, recomendável ou não recomendável? Com isso, guiamo-nos no sentido de 
entender se esse tipo de ação deve ou não ser realizada. 
Essa perspectiva ética busca as razões, os critérios, os argumentos que fundamentam a 
ação, ela se preocupa em entender os porquês de uma pessoa cometer uma determinada 
ação. As perguntas que guiam essa perspectiva são: com base em que critério pode-se 
atribuir valor à ação? Ou: por que devo/devemos agir de um certo jeito?
A busca por essas respostas está na base das três principais tradições éticas da filosofia 
moral ocidental: 1) a ética das virtudes; 2) o utilitarismo; e 3) a deontologia.
Vamos submeter a esses três modelos o estudo de um caso proposto por Becket (2012). 
Uma jovem necessita de transplante de rim. Seu pai, ao mesmo tempo que quer doar, 
tem muito medo de fazer a cirurgia e morrer. Apesar de ser compatível com a filha, sua 
saúde não é muito boa. Com vergonha de ser recriminado pela sociedade, por seu medo 
de doar, o pai confessa ao médico que é compatível com a filha, mas pede a ele que 
minta quanto à compatibilidade dele com a filha.
• Deverá o pai doar o rim?
• Deverá o médico mentir?
Conheceremos os modelos e, em seguida, analisaremos como agir eticamente em cada um.
26
A ética das virtudes
Diferentemente das demais éticas ocidentais, a ética das virtudes não foca a conduta das 
pessoas, mas sim o caráter. O fato de essa ética ser tão diferente é explicada pela cultura 
da época em quefoi produzida. Para os gregos, o mundo era estável e estático; as coisas 
no universo, inclusive nós, ocupariam sempre os mesmos lugares e fariam sempre as 
mesmas coisas. Como dito em um tópico anterior, a escravidão era justificada, pois havia 
pessoas cujo lugar natural era dominar e outras cujo lugar natural seria servir. Em um 
mundo desse tipo, a ética produzida tentava captar algo que fosse intrínseco às pessoas, 
nesse caso as virtudes.
Anscombe (1958) explica que, na visão de Aristóteles, a virtude é um traço de caráter que 
só pode ser percebido na forma habitual de agir de uma pessoa. A ideia de “habitual” é 
central para o entendimento da ética aristotélica. Só o que é costumeiro, comum, ação do 
dia a dia, que irá caracterizar a pessoa como virtuosa ou não. Analisaremos o caso do ser 
honesto. A virtude da honestidade só é atribuída a pessoas que sempre falam a verdade. 
Ela não pode ser atribuída a pessoas que só falam a verdade ocasionalmente ou só são 
verdadeiras se isso trouxer alguma vantagem. O mundo de Aristóteles é um mundo de 
índoles inatas. A pessoa honesta é, por natureza, sempre verdadeira; é algo intrínseco, 
interno ao ser. Algumas pessoas teriam um caráter firme e inabalável. 
Os vícios, assim como as virtudes, são também traços de caráter que se apresentam 
nas ações rotineiras. Então, virtude é um traço de caráter bom, que se apresenta nas 
ações habituais. As virtudes morais são: afabilidade, autoconfiança, autodisciplina, 
benevolência, compaixão, civilidade, coragem, cortesia, equidade, generosidade, 
honestidade, justiça, lealdade, moderação, paciência, prudência, ponderação, sensatez, 
tolerância (ANSCOMBE, 1958, p. 308).
De acordo com Aristóteles, as virtudes são o meio-termo entre extremos: a virtude é 
“o meio-termo por referência a dois vícios: um de excesso e outro de carência”. A 
generosidade, por exemplo, é a disponibilidade para gastar os nossos recursos no auxílio 
aos outros. Aristóteles afirma que é um meio-termo entre dois extremos: situa-se em 
algum lugar entre a avareza e a extravagância.
Os extremos seriam os vícios: vício – virtude – vício. Então, teríamos: avareza – 
generosidade – extravagância. Se pensarmos na questão da coragem, ela se situaria 
entre a covardia (um vício por não nos dar suporte para enfrentar as situações da vida) e a 
temeridade (algo que beira a inconsequência; o sujeito não tem senso de autopreservação 
e enfrenta tudo que aparece). A honestidade, também como virtude, seria o caminho do 
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meio entre dois vícios, pois, em um extremo, estaria a desonestidade, manifestada por 
mentir o tempo todo, e, no outro extremo, a dureza de dizer a verdade mesmo quando 
isso favorecer a injustiça. 
A ética das virtudes faz referência às qualidades necessárias às pessoas para uma boa 
conduta, voltada a uma vida boa. Desde a perspectiva aristotélica sobre as virtudes, é 
importante avaliar o encaixe de cada ser humano no todo social. Por isso, podemos 
dizer que essa é uma ética acerca da função ou do papel que cada ser humano cumpre 
no todo social de que é parte. Lembre-se de que no mundo grego esses papéis eram 
estáticos, pois não havia mobilidade social. Para essa tradição, a pergunta sobre “o que 
se deve fazer?” terá como referência o que um agente considerado virtuoso faria.
Quanto ao estudo do caso da doação do órgão, sob esse modelo ético, temos que:
• A decisão do pai está relacionada a seu caráter, dividido entre a covardia (vício) e a 
solicitude (virtude), mas o vício suplantou a virtude. Então é eticamente condenável o 
caráter do pai, por não ser virtuoso.
• O médico está em um dilema: por um lado, está sua integridade moral, a virtude da 
sinceridade; por outro, está a solicitude, ajudar o pai da jovem a não ser estigmatizado. 
Ele poderia encontrar um meio-termo e dizer que, por razões médicas, o pai não iria 
doar. Seria uma meia-verdade.
A ética consequencialista
As éticas que surgem na Idade Moderna são influenciadas pelo desenvolvimento das 
ciências da natureza. Sendo assim, o mundo não é mais estático, e não existe aquela 
ideia de cosmo ordenado em que tudo e todos têm seu lugar natural. Nessa nova cultura, 
surgem novas formas de avaliar a moral, ou seja, surgem novas éticas. O foco dessas 
novas éticas não será o caráter, pois as pessoas podem variar a forma como agem, mas 
sim a conduta.
Um grupo dessas éticas é chamado de consequencialismo, pois aqui o que importa é a 
consequência da ação que será feita. Então, vamos julgar a validade moral de uma ação 
de acordo com os resultados que essa ação vai provocar.
A ética utilitarista foi a principal corrente do consequencialismo, cujos teóricos de maior 
destaque foram Bentham (século XVIII) e Mill (século XIX). Para eles, uma ação é boa 
quando ela tem uma consequência que maximize o bem. Esse bem é medido em
28
termos de felicidade, de prazer, ou por formas de evitar a dor para o máximo possível de 
envolvidos. É uma ética altruísta: não se pensa só no bem de quem realiza a ação, mas 
de quanto benefício essa ação trará a outras pessoas. 
Nicolau Maquiavel desenvolveu uma ética consequencialista oposta ao utilitarismo. 
Ainda focado nas consequências, ele estabelece que: “Os fins justificam os meios.” Para 
conseguir um determinado objetivo, qualquer ação seria considerada moralmente válida. 
O discurso de Maquiavel visava justificar as ações dos governantes europeus (guerras, 
exploração do povo etc.). É considerada uma ética egoísta. 
Vamos contextualizar com um exemplo atual: uma empresa estabelece uma meta de 
vendas quase absurda para um funcionário do banco. Para atingir essa meta, ele pensou 
e vai mentir para alguns clientes vendendo produtos que não servem para eles. Segundo 
o consequencialismo maquiavélico, o fim justifica os meios, então pode ser feito. Já para 
o utilitarismo de Benthan, isso trará tristeza para muita gente, então não é certo fazer. 
Veja que temos aqui uma típica situação de aplicação da ética: uma situação que choca 
com os princípios morais e uma ação que precisa ser tomada.
No caso do transplante para a jovem, a ética utilitarista pesaria o maior benefício possível. 
Como o risco de morte para o doador é sempre baixo e há chances de a jovem viver após 
o transplante, a decisão certa é que o pai doe.
Para o médico, se o pai se recusa a doar, ele deve pensar no que traria maior conforto e 
felicidade para a família. Certamente não seria denunciar a covardia do pai. Então, por essa 
ética, o médico deveria mentir, pois a mentira em si não é um problema moral, uma vez que 
isso depende das consequências dela. No caso, deveriam ser consequências benéficas.
Ética deontológica
A ética deontológica, cujo representante máximo na modernidade foi Kant, nos séculos 
XVIII e XIX, afasta-se das anteriores na sua análise das ações, por não buscar critério para 
a justificação das ações, seja nas suas consequências (como os consequencialistas) ou 
nas virtudes dos agentes (como na ética das virtudes).
29
Para Kant, uma ação moral teria que ser executada no sentido do dever, e não apenas 
como resultado de uma inclinação, de um sentimento ou de qualquer tipo de benefício 
para o seu autor.
Sendo assim, doar dinheiro por caridade, movido por sentimentos de compaixão pelos 
mais necessitados, não seria considerada necessariamente uma ação moral, pois foi 
movida por sentimentos, e não pelo sentido do dever. Doar dinheiro aos pobres pensando 
nas consequências, tal como aumentar a popularidade, também não será uma ação 
moral, pois não está focado no dever.
Para agir moralmente, é necessário focar a motivação da ação, e essa motivação tem que 
ser o sentido de dever. Para Kant, a motivação é mais importante do que a própria ação, 
ou do que as consequências da ação. Ele justifica o foco no sentido do dever, pois focar as 
consequências é algo incerto. Será que nós temos um panorama real das consequências 
de nossos atos? Em várias situações é impossível saber quais as reais consequências 
do que fizemos. Essasconsequências podem demorar muito a acontecer ou podem 
acontecer de forma discreta, de modo que nós não percebemos que causamos um dano 
ou benefício a alguém.
Imagine a situação de alguém que viu que uma criança estava se afogando. Ao tentar salvar 
a criança, essa pessoa acabou por contribuir que ela se afogasse mais rapidamente. Para 
Kant, a ação dessa pessoa ainda seria uma ação moral, a despeito da consequência trágica, 
se essa pessoa praticou a ação movida pelo sentido de cumprir o dever de salvar vidas. 
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Kant acreditava que, como seres humanos, temos certos deveres, e tais deveres são 
absolutos e incondicionais. Devemos sempre dizer a verdade e nunca matar ninguém. 
Esses deveres são válidos independentemente de que consequências possam trazer. 
Esses deveres são os imperativos categóricos.
Para entender esse modelo ético, três aspectos devem ser salientados.
Primeiro, a moral é universal, então a lei moral é a mesma para todos os sujeitos. Um 
imperativo categórico é aquele dever que pode ser aplicado a todas as pessoas.
Segundo, o sujeito moral (a pessoa) tem o dever de usar sua racionalidade para ignorar 
ou mesmo contrariar as suas inclinações ou os seus interesses individuais por respeito 
à lei moral.
Por fim, o sujeito moral é a pessoa, fim em si mesmo, e nunca pode servir de meio ou de 
instrumento para ação de outrem.
No modelo ético deontológico, o caso do transplante seria visto de forma muito diferente 
dos modelos anteriores.
• O pai não tem o dever de doar o rim, pois esse dever não é universal para toda a 
humanidade. Há tantas pessoas que não podem doar. Um dever, para ser imperativo 
categórico, tem que ser universal. Obrigar todas as pessoas a doar as transformaria em 
meios para a felicidade dos outros; os seres humanos não podem servir de meios, eles 
são fins em si mesmos. Os sentimentos de compaixão, amor etc. não teriam nesse 
modelo qualquer valor moral.
• Para o médico, o dilema é insolúvel. Por um lado, ele tem o dever de não mentir. Por 
outro, ele tem o dever, de todo médico, de preservar o segredo contado pelo paciente.
A perspectiva ética ligada ao valor dos objetos
Nessa outra perspectiva, os modelos éticos irão focar o valor dos objetos de consideração 
moral. Ou seja, se o objeto é digno ou indigno, merecedor ou não, de consideração moral, 
e, nesse sentido, se tem valor intrínseco ou não.
Na perspectiva anterior, nós nos preocupávamos muito com a pessoa que faz a ação, 
que chamamos de sujeito moral ou agente moral. Nessa perspectiva, precisamos refletir 
sobre quem sofre a ação, ou seja, os pacientes morais, também denominados de objetos.
31
Essa segunda perspectiva é importante porque as teorias morais não explicitam, por si 
mesmas, os envolvidos, isto é, os seres com os quais devemos nos preocupar quando 
formulamos juízos éticos sobre o valor das nossas ações, e quando agimos. Assim, de 
uma forma resumida, trata-se de definir interesses de quem ou o que se deve levar em 
conta nas decisões e ações em que cabem juízos morais, pelos agentes morais.
A pergunta que se coloca nessa perspectiva é: quem ou o que tem valor 
intrínseco e quem ou o que tem valor extrínseco? 
Aqui, utilizaremos três modelos éticos: o antropocentrismo, o biocentrismo e o 
ecocentrismo.
A perspectiva antropocêntrica assume que somente os seres humanos merecem 
consideração moral e somente ações que afetam os humanos merecem um exame 
moral. Sumariamente, a espécie humana possui valor intrínseco, um valor atribuído a 
algo por sua própria natureza, enquanto outros indivíduos (animais, vegetais) possuem 
valor instrumental, que é um valor atribuído a algo por seu uso atual ou potencial, sendo 
que a consideração moral ocorre de acordo com interesses de agrupamentos sociais 
humanos.
Os traços dessa ética antropocêntrica estão tão enraizados na nossa cultura que 
costumamos nos referir aos animais e plantas como “recursos naturais”. Será que esses 
seres estão no mundo para nos servir?
ÉTICA AMBIENTAL
Antropocentrismo Não antropocentrismo
Biocentrismo
Ecocentrismo
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Guiados por esse tipo de modelo ético, poderíamos achar correto construir uma 
hidrelétrica que vai levar ao desaparecimento de espécies de peixes e de plantas, que 
destruirá os ecossistemas locais. Isso porque não valoramos moralmente esses objetos 
(plantas, animais, ecossistemas).
Algumas vezes, esse modelo ético é aplicado de forma parcial. Seria antropocêntrico 
levando em conta toda a humanidade? Vamos pensar na situação das barragens. Será 
que a humanidade foi realmente valorada? E os índios e os ribeirinhos, não são humanos?
Geralmente, os mais pobres acabam por ficar excluídos do pensamento ético que se 
diz antropocêntrico. Um termo novo que surge nas questões ambientais é “racismo 
ambiental”. Em princípio, parece algo muito estranho. Como um racismo pode ser 
ambiental? Ao investigarmos quais são as pessoas que vivem próximo aos lixões, aos 
rios em que são despejados materiais tóxicos, enfim, aos locais de maior degradação 
ambiental, encontramos uma questão étnica muito evidente. Até que ponto o modelo 
ético antropocêntrico inclui essas pessoas?
A perspectiva biocêntrica, por sua vez, caracteriza-se por propor a consideração moral 
de organismos individuais humanos e não humanos. Nesse sentido, os agentes morais 
possuem uma obrigação moral para com os outros seres vivos. O biocentrismo pode ser 
considerado uma ampliação da ética animal, uma vez que ele considera que não apenas 
os animais (ou alguns deles) têm um valor próprio, mas as plantas também, assim como 
qualquer outro ser vivo, que possui interesses de bem-estar e desenvolvimento e, logo, 
também deve ser considerado como paciente moral, pelos agentes morais. O raciocínio 
ético biocêntrico orienta a atribuição de direitos a todos os indivíduos biológicos, 
colocando para o agente moral um compromisso ético sobre todas as entidades vivas.
33
Muitos movimentos ambientalistas seguem essa ética biocêntrica. O crescimento 
e a disseminação desse modelo levaram a sociedade a repensar diversas práticas. 
Antigamente, o departamento de controle de zoonoses de um município poderia sacrificar 
indiscriminadamente os cães de rua (por meio da captura pela temida “carrocinha”). 
Os circos com animais são intensamente criticados e foram proibidos em diversas 
localidades, em virtude dos maus-tratos e mutilações a que submetiam os animais.
Por fim, no modelo ecocêntrico, há orientação para a expansão da consideração moral a 
entidades ambientais coletivas, inclusive a elementos abióticos, espécies e ecossistemas. 
Nesse sentido, o enfoque sobre a consideração moral não está em indivíduos, mas 
em totalidades ecológicas; assim, é considerado moralmente reprovável qualquer ato 
humano que prejudique a integridade e a estabilidade dos ecossistemas. 
34
Nesse modelo, uma empresa que provoca um derramamento de óleo no mar ou uma 
mineradora que polui um rio é condenável, não só por prejudicar os humanos (modelo 
antropocêntrico) ou uma série de indivíduos animais (modelo biocêntrico), mas por afetar 
um objeto de valor, o ecossistema, que se estabeleceu muito antes do ser humano — e 
por isso nossa missão deveria ser valorizá-lo e defendê-lo.
De modo geral, o raciocínio ético ecocêntrico orienta a atribuição de direitos ao meio 
ambiente, porém a definição dos interesses para a consideração moral torna-se com-
plexa e difusa, uma vez que limites/fronteiras entre o todo e a parte (ou entre indivíduo e 
comunidade) não são simples de se estabelecerem, por exemplo, na ideia de organismos 
como superecossistemas.
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar indicado sobre 
ética no cotidiano.
35
NA PRÁTICA
Nesta unidade, estudamos a ética e os modelos éticos. Vamos ver esses conceitos 
aplicados à situação da construção de barragens por empresas que exploram o 
negócio da energia.
Leia com atenção os trechos das entrevistas de Célio Bermann e Anderson 
Bittencourt:
O setor energéticobrasileiro entrou janeiro imerso em 
crise, não somente ética, mas também técnica. Os dois 
problemas são históricos. O primeiro, relativo à ética, diz 
respeito aos impactos ambientais e sociais dos projetos 
de construção de usinas hidrelétricas na Amazônia, 
refletindo negativamente nas comunidades indígenas e 
ribeirinhas. (BERMANN, 2015)
De acordo com Anderson Bittencourt, em entrevista à IHU On-Line:
A usina hidrelétrica de Balbina, inaugurada no final da 
década de 1980, no estado do Amazonas, é conhecida 
como a ‘pior concepção de hidrelétrica do mundo, porque 
ocupa um reservatório de mais de 2.500 km² para gerar 
250 MW [...] Enquanto que a média nacional é de 0,5 
km² por MW’ [...] Balbina é um mau exemplo que deve 
ser considerado diante da proposta do governo federal 
de construir quatro novas hidrelétricas no estado, das 
sete que serão construídas na bacia do rio Aripuanã, nos 
estados do Amazonas, Mato Grosso e Rondônia.
Estima-se que somente no Amazonas oito unidades de 
conservação (federal e estadual) serão atingidas, o que 
causará ‘impactos significativos na grande diversidade de 
espécies animais e vegetais’. [...] Cerca de 112 mil 
36
habitantes serão impactados. ‘As famílias deverão ser 
deslocadas de suas áreas, considerando-se que está 
prevista uma inundação em média de 300 a 400 km² em 
cada área de barragem construída.’ (BITTENCOURT, 2012)
Observe que Célio Bermann alerta para o problema da falta de ética com o ser humano. 
Apesar de a construção de hidrelétricas se basear em uma ética antropocêntrica, 
que leva em conta o benefício dos humanos em detrimento da natureza, perceba 
que essa ética não leva em conta todos os humanos, pois exclui os indígenas e 
ribeirinhos. Então é uma postura antiética. 
Bittencourt alerta para a falta de uma ética ecocêntrica, pois diversos ecossistemas 
são destruídos por barragens. Logo, não é qualquer modelo ético que pode ser 
considerado satisfatório para empresas que afetam o ambiente de forma tão intensa.
Essas implicações éticas são muito importantes para o entendimento da 
responsabilidade social das empresas de energia. A recorrente postura antiética, 
seja para com os humanos, seja para com o ambiente, tem mobilizado a sociedade 
contra as empresas de energia, pressionando para o fim do negócio de exploração 
de barragens. Um princípio importante para nossa reflexão é: a empresa que não 
tem preocupações éticas produz evidências que serão usadas para a sua extinção e 
eliminação do ramo de atividade desempenhada. 
37
Resumo da Unidade 1
Moral e ética não são sinônimos. Apesar da forte inter-relação, eles guardam significados 
distintos. A moral é um produto da cultura e, como tal, sofre influência de tudo o que 
modifica a cultura. A moral muda com o passar do tempo e é diferente em sociedades 
distintas. A ética é a área do conhecimento que estuda os julgamentos morais. Para o 
exercício da ética, é necessário utilizar a razão e ter liberdade para tomar decisões. Existem 
muitos modelos éticos que irão orientar as ações de indivíduos ou das organizações. 
Uma parte desses modelos valoriza o caráter (ética dos valores) ou as ações; é o caso da 
deontologia, do consequencialismo. Outro grupo de modelos foi criado a partir do valor 
conferido aos objetos, aos pacientes morais, ou seja, àqueles que sofrem a ação.
Moral é um construto social, produto da cultura, que determina o que é certo ou erra-
do para um determinado grupo, em uma época específica.
A ética é a área da filosofia e da ciência social que estuda a moral e a tomada de deci-
sões por parte de indivíduos e organizações.
As perspectivas éticas são conjuntos de modelos usados para se refletir sobre as 
decisões tomadas diante de problemas ou dilemas morais. 
CONCEITO
38
Referências 
ANSCOMBE, G. E. M. Modern moral philosophy. The Royal Institute of Philosophy, 
Cambridge, v. 33, n. 124, 1958.
BECKET, C. Ética. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2012.
BERMANN, C. A crise ética e técnica do setor energético brasileiro. Entrevista especial 
com Célio Bermann. IHU On-Line, São Leopoldo, 2 fev. 2015. Disponível em: <http://
www.ihu.unisinos.br/entrevistas/539420-a-crise-etica-e-tecnica-do-setor-energetico-
brasileiro-entrevista-especial-com-celio-bermann>. Acesso em: 6 dez. 2018.
BITTENCOURT, A. Hidrelétricas no Amazonas: “Temos um exemplo negativo no nosso 
quintal”. Entrevista especial com Anderson Bittencourt. IHU On-Line, São Leopoldo, 3 
maio 2012. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/509099-hidreletricas-
no-amazonas-temos-um-exemplo-negativo-no-nosso-quintal-entrevista-especial-com-
anderson-bittencourt>. Acesso em: 6 dez. 2018.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada 
em 5 de outubro de 1988. Brasília, DF, Senado Federal, 1988.
CONRADO, D. M. Questões sociocientíficas na educação CTSA: contribuições de um 
modelo teórico para o letramento científico crítico. 2017. 239 f. Tese (Doutorado em Ensino, 
Filosofia e História das Ciências) – Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual de 
Feira de Santana, Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências, 
Salvador, 2017. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/24732/1/Tese-
DaliaMelissaConrado-2017-QSC-CTSA-Final.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2018. 
LECLERQ, J. As grandes linhas da filosofia moral. São Paulo: Herder, 1967. p. 376.
MARX, K. O Capital. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. v. 2.
MORAL. In: DICIO: dicionário online de português. Matosinhos: 7Graus, 2018. Disponível 
em: <https://www.dicio.com.br/moral/>. Acesso em: 26 nov. 2018.
39
TEMBRA, N. A questão mais imediata do meio ambiente é a falta de ética. Ecodebate, 
Mangaratiba, 12 dez. 2009. Disponível em: <https://www.ecodebate.com.br/2009/12/12/
a-questao-mais-imediata-do-meio-ambiente-e-a-falta-de-etica-artigo-de-nelson-
tembra/>. Acesso em: 26 nov. 2018.
VALLS, A. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2008.
A questão ambiental
UNIDADE 2
41
Para sermos capazes de elaborar projetos de responsabilidade socioambiental, é 
necessário refletirmos sobre a dimensão da crise ambiental mundial. Apesar da aparente 
simplicidade, esse é um tema complexo, que envolve saberes da economia, ciências da 
natureza e ciências sociais. Há muitas explicações simplistas e ingênuas para o problema 
ambiental, que se constituem na maior armadilha para aqueles que trabalham com 
responsabilidade socioambiental. Uma concepção ingênua de ambiente subsidiando um 
projeto irá fragilizar toda a sua estrutura.
INTRODUÇÃO
Nesta unidade, você será capaz de:
• Avaliar, do ponto de vista ético, situações de responsabilidade socioambiental para 
tomada de decisão profissional.
OBJETIVO
42
Visões de ambiente
Elaborar, implantar ou avaliar programas de responsabilidade ambiental exige que, antes 
de tudo, nós possamos explicitar qual é a nossa visão sobre o ambiente. Seriam meio 
ambiente e natureza a mesma coisa? Até que ponto uma ação de responsabilidade 
ambiental deve preocupar-se com a inclusão de questões sociais?
A ideia de natureza é um construto social e dependente da cultura, por isso não podemos 
esperar que todas as sociedades compartilhem a mesma percepção do que é a natureza. 
Além disso, a visão de natureza de uma sociedade não é estática, ela muda no decorrer do 
tempo influenciada pelas mudanças na cultura. O trabalho clássico de Lenoble (1969) nos 
alerta sobre o fato de natureza ser um conceito, um construto teórico: “[...] não existe uma 
natureza em si, existe apenas uma natureza pensada. [...] Não encontramos senão uma ideia 
de natureza que toma sentido radicalmente diferente segundo as épocas e os homens.”
Os diversos povos indígenas brasileiros têm visões de natureza diferentes entre si e das 
outras culturas comuns no país. As religiões de matriz africana possuem uma interpretação 
e uma relação com o mundo natural diferentes das da tradição judaico-cristã.O estudo de Lenoble ainda detalha que a concepção de natureza dependerá de três 
fatores em cada lugar e época: a visão de ciência, a visão religiosa e a visão moral. A 
ciência nos dirá o que são as coisas do mundo, de que elas são feitas, como elas se 
comportam; a religião norteará a dúvida se a natureza é o divino ou a obra do divino; e a 
moral estabelecerá que atitude a humanidade terá a respeito do mundo natural.
Lúcia Cidade (2001) exemplifica a relação entre a visão de natureza e a cultura dos povos. 
Ela analisou dois perfis básicos de sociedades primitivas: agricultores e caçadores, e sua 
forma de encarar a natureza.
As sociedades agrícolas consideravam a natureza uma grande 
mãe, viva e em transformação; as pessoas eram parte desse ser 
[...]. Nesse sentido, as pessoas e divindades fariam parte de uma 
dança da natureza, improvisada e autocriativa. Diferentemente, 
para as sociedades caçadoras nômades, a natureza estaria 
separada tanto dos deuses como das pessoas. A natureza teria 
sido criada por um deus exterior a ela; significava uma dádiva 
para ser usada e explorada. 
43
Os homens e seus deuses desfrutariam uma posição externa e 
superior à natureza [...] (CIDADE, 2001, p. 104).
Ao estudarmos os modelos éticos que valorizam os objetos da natureza, vimos a oposição 
entre dois modelos: o antropocentrismo e o ecocentrismo. O primeiro dota de valores 
os elementos da natureza que interessam ao ser humano, os recursos naturais; já o 
ecocentrismo valora ecossistemas e relações presentes na natureza, independentemente 
dos usos humanos.
A palavra latina natura significa “a ação de fazer nascer”. Esse termo carrega consigo a 
ideia de que a natureza não é apenas um conjunto de elementos (animais, plantas, água, 
rochas...), mas que é composta por uma série de processos, algo como um princípio que 
é capaz de produzir, desenvolver e eliminar diferentes tipos de coisas ou seres.
Os processos naturais são complexos e interligados. Vários fenômenos que ocorrem 
nos ecossistemas, quando estudados de maneira mais profunda, revelam diferentes 
dimensões. Vamos a alguns exemplos importantes. 
As cadeias alimentares tendem a ser simplificadas no ensino de ciências como as 
relações tróficas (quem se alimenta de quem na natureza). Essas relações são diretamente 
responsáveis pela manutenção da quantidade de seres de cada espécie e pela estrutura 
do próprio ecossistema. Caso um elo da cadeia alimentar seja retirado ou sofra uma 
redução em sua população, aqueles seres que são suas presas podem se multiplicar 
em quantidades absurdas. Temos diversos exemplos disso, um deles são as pragas que 
afetam a agricultura, geralmente ligadas à maneira como o próprio setor agrícola lidou com 
a natureza. Pragas de gafanhotos, besouros e lagartas são casos típicos. Na fase em que o 
café era a base da economia do Brasil, a destruição de florestas para o plantio desse grão 
reduziu a população de pássaros que predavam as borboletas. Com isso, surgiu a praga da 
borboletinha do café, e as lagartas dessa borboleta dizimaram as plantações. 
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Não só insetos podem tornar-se pragas, por exemplo, o coral-sol é transportado 
de locais distantes do planeta para o Brasil no casco das embarcações e, ao chegar 
aqui, ele não possui predador, ocupando o espaço dos corais nativos e eliminando a 
fauna nativa. Esse é o perigo do “ser introduzido”. Animais e plantas de outros países 
podem representar um risco para nossos ecossistemas. Aqui, eles podem crescer 
indiscriminadamente, tornando-se pragas e eliminando as populações nativas. Por isso, 
nas viagens internacionais é proibido transportar sementes.
Algumas pessoas não entendem por que se investe em programas de conservação de 
espécies, tais como a ararinha-azul, a baleia jubarte, as tartarugas marinhas. Além da ética 
biocêntrica, que confere valor aos objetos da natureza, há uma questão de conservação 
dos ecossistemas como um todo. Os pássaros são dispersores de sementes de muitas 
espécies vegetais, e isso quer dizer que, sem certas espécies, algumas plantas não irão 
se espalhar e desaparecerão. Outros seres (morcegos, aves, insetos) são polinizadores, 
e diversas espécies vegetais não garantem sua reprodução por si só, ou seja, sem o 
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polinizador não há processo reprodutivo. Esse é o motivo que faz a humanidade se 
preocupar com o atual desaparecimento das abelhas: sem abelhas, diversas espécies 
vegetais desaparecerão.
Quando uma organização adota o discurso de preocupação com a natureza, cabe a ela 
informar-se da importância do que está fazendo, como suas ações afetam a natureza, e ir 
além dos slogans e das palavras de ordem para o entendimento dos processos naturais.
Uma aparente dicotomia presente nos discursos sobre natureza é a questão do natural 
versus o artificial. O natural viria da natureza, sem necessidade da participação do 
homem; seriam processos que já se estabeleciam antes de a espécie humana surgir. O 
artificial é a ação humana sobre as coisas e os processos da natureza. Vale lembrar que 
nenhum processo artificial é independente da natureza, pois vem de sua modificação. 
Também é importante refletir sobre a ação dos humanos, que é tão intensa na atualidade 
que gera consequência para os processos naturais.
O encontro do natural com o artificial gera o ambiental. O ambiente não é natureza pura, 
livre de humanos — ele se constrói na tensão das relações naturais e artificiais. Dulley 
(2004) alerta que, apesar da dicotomia natural versus artificial, não se pode dissociar 
totalmente o natural do social, pois o encontro dessas duas componentes produz as 
questões ambientais.
[...] pois outros temas, além da destruição da natureza, como 
o tratamento cruel de animais domésticos, a exploração 
desumana de trabalhadores e crianças e as restrições por parte 
dos consumidores aos organismos geneticamente modificados, 
que até há poucos anos, não eram sequer cogitados pelas 
legislações específicas, nem mesmo os monitorados por 
entidades internacionais, passaram, recentemente, a ser 
considerados parte da crise ambiental. (DULLEY, 2004, p. 17)
Além disso, o ser humano é um animal, por isso também é parte da natureza. Por mais 
que vivamos cercados de produtos e processos artificiais, não podemos nos enxergar 
como algo à parte da natureza.
A ISO 14001 é uma norma internacionalmente reconhecida que define o que deve ser feito 
para estabelecer um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Essa norma foi desenvolvida 
com o objetivo de criar o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade e a redução do 
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impacto ambiental, com o comprometimento de toda a organização. A ISO 14001:2004 
arriscou uma definição sobre meio ambiente: “Circunvizinhança em que uma organização 
opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas 
inter-relações” (ABNT, 2004, p. 1). Essa tentativa de definição ainda é considerada estática 
— meio ambiente é mais que circunvizinhança, não é um cenário.
No sistema jurídico brasileiro, foi a Lei nº 6.938/1981, que trata da Política Nacional do 
Meio Ambiente (PNMA), que definiu o conceito de meio ambiente como “o conjunto de 
condições, leis, influências e infraestrutura de ordem física, química e biológica, que 
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981, p. 1). A ideia de 
abrigar e reger a vida capta mais o funcionamento do meio ambiente e é uma definição 
mais profunda que a da ISO.
Sofisticando um pouco mais, podemos analisar a reflexão de Primavesi (1997) de que meio 
ambiente não é apenas o espaço em que se vive, “mas o espaço do qual vivemos”. Isso eleva 
o papel do meio ambiente de mero cenário a produtor das nossas condições de existência.
Algumas definições explicitam as relações entre mundo natural e sociedades humanas. Para 
Tostes (1994):
[…] meio ambiente é toda relação, é multiplicidade de relações. É 
relação entre coisas, como a que se verifica nas reações químicas 
e físico-químicas dos elementos presentes naTerra e entre 
esses elementos e as espécies vegetais e animais; é a relação 
de relação, como a que se dá nas manifestações do mundo 
inanimado com a do mundo animado [...] é, especialmente, a 
relação entre os homens e os elementos naturais (o ar, a água, 
o solo, a flora e a fauna); entre homens e as relações que se dão 
entre as coisas; entre os homens e as relações de relações, pois 
é essa multiplicidade de relações que permite, abriga e rege a 
vida, em todas as suas formas. Os seres e as coisas, isoladas, 
não formariam meio ambiente, porque não se relacionariam.
Por fim, chegamos a uma compreensão mais totalizante, que não dissocia a cultura 
do meio ambiente. Silva (2000, p. 20) conceitua o meio ambiente como a “interação do 
conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento
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equilibrado da vida em todas as suas formas”. Para Migliari Junior (2001, p. 40), o meio 
ambiente é a:
[…] integração e a interação do conjunto de elementos naturais, 
artificiais, culturais e do trabalho que propiciem o desenvolvimento 
equilibrado de todas as formas, sem exceções. Logo, não haverá 
um ambiente sadio quando não se elevar, ao mais alto grau 
de excelência, a qualidade da integração e da interação desse 
conjunto. 
Então, quando nos referirmos a meio ambiente, é importante que se entenda que esse 
conceito engloba toda realidade sociocultural em interação com a natureza. Vejamos 
como a Constituição brasileira aborda a questão do meio ambiente: 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade 
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras 
gerações. (BRASIL, 1988)
Apesar de não ser possível definir cientificamente o que é um meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, entende-se que buscamos conservar as relações que existem nos ecossistemas. 
Utilizamos o termo “conservar” em vez de “preservar”, pois ao conservarmos podemos 
intervir — a ação humana não é descartada, desde que não se destrua ou se descaracterize 
totalmente o ambiente. A grande polêmica da conservação é entender o que deve ser 
conservado: o ecossistema, as populações ou a diversidade genética?
Preservar é um termo mais forte que conservar. Ao preservarmos uma área, devemos 
retirar ou livrar o local da exploração humana. Não é possível preservar toda a natureza, 
pois isso impediria as atividades humanas.
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definição de meio ambiente.
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Crise ambiental
O ser humano tem a capacidade de alterar o ambiente para buscar soluções para seus 
problemas. Com isso, fomos capazes de utilizar o conhecimento científico para produzir 
métodos, técnicas e artefatos que alteram as condições oferecidas pelo ambiente. A partir 
do conhecimento científico sobre a eletricidade, foi possível produzir circuitos elétricos 
que são a base de diversos aparelhos, mas nem toda tecnologia é necessariamente 
um objeto material. Diversas técnicas, receitas, protocolos etc. foram desenvolvidos no 
sentido de mudar a natureza: uma técnica de cirurgia, uma receita para produção de 
vinhos e um protocolo para coletar sangue para exame são também tecnologias.
Algo que deve ser motivo de reflexão por parte dos professores ao ensinar sobre 
tecnologia é que, geralmente, ela não surge como resposta à curiosidade humana ou 
como consequência da atitude altruísta de alguém que deseja melhorar a vida das 
pessoas. São inegáveis os interesses econômicos e políticos que regem a produção de 
ciência e tecnologia. Fazer ciência profissional não é algo barato, assim como não o é 
desenvolver tecnologia de ponta. Os conhecimentos sobre os “porquês” e sobre o “como 
fazer” são estratégicos politicamente e significam poder. Não é à toa que os países que 
possuem uma política externa mais agressiva e desejam estender sua influência militar, 
política e econômica investem tanto em ciência e tecnologia.
O fator econômico é também decisivo para a produção de tecnologias. As empresas 
não investem em tecnologias que não sejam lucrativas. No caso da saúde, temos o 
problema das doenças negligenciadas, pouco pesquisadas pela indústria farmacêutica 
por afetarem mais a população mais pobre. Por esse motivo, tecnologias para produção 
de vacina e tratamento para doenças antigas como hanseníase e doença de Chagas 
são raras e antiquadas. Por outro lado, doenças que também podem afetar pessoas 
com maior poder de compra (câncer, HIV) são pesquisadas de forma intensa, e novas 
tecnologias são desenvolvidas constantemente.
Os avanços da biotecnologia, caracterizados pela clonagem, pela produção de transgê-
nicos e pela engenharia genética, são direcionados pelos interesses de lucro de gran-
des corporações.
Para agravar o problema, os impactos ambientais não são compartilhados por todos 
igualmente, e os grupos menos favorecidos economicamente defrontam-se de forma 
cruel com essa realidade, tendo que habitar locais próximos a lixões, usar água 
contaminada e expor-se às poluições visual, sonora e de resíduos tóxicos. Daí surge o 
compromisso da responsabilidade social e da responsabilidade ambiental.
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Para entender melhor a crise ambiental, iniciaremos com uma fábula conhecida: “Era 
uma vez, uma floresta em chamas e lá estava um beija-flor com seu minúsculo baldinho 
tentando apagar o fogo. Quando perguntado por que não fugia, o beija-flor disse: ‘Eu 
estou fazendo a minha parte.’”
Então, se cada um fizer a sua parte nós conseguiremos resolver o 
problema ambiental?
No sentido de entender as implicações mais profundas da fábula do beija-flor, vamos 
analisar o início do movimento ambientalista. Um marco importante na história das 
ciências ambientais foi o lançamento do livro Primavera silenciosa, de Rachel Carson, 
em 1962. Nele, a autora denunciava os efeitos tóxicos do DDT para o ambiente. Boa parte 
da denúncia se baseou no efeito que o pesticida tinha na saúde das aves. O produto 
que havia sido utilizado como arma química era agora comercializado como defensivo 
agrícola. Se pensarmos nos ecossistemas como uma rede de relações entre os seres, 
algo que está afetando as aves tão devastadoramente estaria afetando os demais seres, 
humanos inclusos.
Quando Carson fez essa denúncia, a mídia, patrocinada pelas corporações que fabricavam 
esses defensivos agrícolas, tentou destruir sua imagem, retratando-a como louca e 
sensacionalista, mas a História fez justiça a Rachel Carson com a proibição do DDT, que 
logo depois foi comprovado como causador de câncer e envenenamentos.
Não obstante, como tudo isso se conecta com a história do beija-flor? Vamos pensar 
em alguns casos parecidos com o que Rachel Carson relatou. O Brasil é campeão no 
uso de agrotóxicos (pesticidas ou defensivos agrícolas). Alguém pode afirmar que a 
solução para isso é mudarmos nossos hábitos e não usarmos agrotóxicos. Muito bom, 
mas somos nós que plantamos nosso alimento? Ainda pensando em solução individual, 
alguém pode propor só comermos produtos orgânicos (plantados sem agrotóxicos 
ou adubos químicos). Além de serem caros para a maioria da população, não adianta 
consumir produtos orgânicos enquanto grandes concentrações de agrotóxicos são 
lançadas no solo, contaminando os lençóis de água subterrâneos e os rios. Também 
não adianta plantar o próprio alimento, pois não conseguiremos, em área urbana, cultivar 
tantos vegetais e ainda utilizaremos água que poderá estar contaminada por agrotóxico.
A questão do desperdício de água é outra que, muitas vezes, é minimizada pela mídia. 
A versão conhecida por todos é que nós (os cidadãos comuns) somos os causadores 
do problema e resolveremos isso se reduzirmos nosso tempo de banho, não lavarmos a 
calçada com mangueira, entre outras ações individuais. 
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Será que a escassez de água se deve ao uso doméstico? Será que fazermos 
nossa parte resolverá o problema?Para refletir
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as justificativas para falta d’água no Brasil.
Agora, convidamo-lo a refletir sobre o uso de água pela agricultura e pela indústria e o 
uso doméstico. 
A análise do infográfico no vídeo nos mostra que os maiores consumo e desperdício de 
água se dão nas lavouras que produzem ração para todo tipo de gado. A indústria também 
gasta e desperdiça muito mais água que a soma do uso doméstico. A análise do vídeo 
sobre o ciclo da água nos mostra o quanto é desperdiçado para produzir uma simples 
garrafa plástica, mas que a indústria utiliza esse tipo de recipiente porque é mais barato. 
Ainda analisando práticas pedagógicas ingênuas, que se baseiam na fábula do beija-flor, 
vamos pensar em reciclagem. A reciclagem costuma ser apresentada como solução 
para o problema do lixo: para resolvê-lo, basta que saibamos separar os materiais, 
acondicioná-los nas lixeiras específicas e enviar para reciclagem.
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o gasto excessivo de água na produção de alimentos.
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Esse tipo de prática não se baseia na evidência científica de que a reciclagem não consegue 
dar conta da quantidade de materiais que são produzidos e descartados, impossível de ser 
reciclada em sua totalidade. O mesmo erro é cometido pelos artesanatos de garrafa PET. 
Não é possível converter nem uma fração insignificante de garrafas PET em artesanato, 
pois a cada dia são lançadas na natureza milhares de novas garrafas.
Essa prática também comete o erro das abordagens C&T, que acabam por dar uma 
ilusão de mundo em que a tecnologia resolverá todos os problemas: podemos consumir 
desenfreadamente, que é só usar as tecnologias de reciclagem; a indústria pode lançar 
produtos de curta duração e exagerar nas embalagens, porque a reciclagem resolverá 
o problema. Mesmo a iniciativa de algumas indústrias de trabalhar com materiais 
reciclados não resolve o problema, pois a produção supera, e muito, aquilo que é viável de 
ser reciclado. Lembre-se, também, de que esses novos produtos (reciclados) igualmente 
voltarão a ser lixo.
Reciclagem de garrafas PET, necessária, porém muito insuficiente 
para o enfrentamento do problema ambiental.
Então, como educador ambiental, não posso fazer uma oficina de reciclagem ou ensinar 
cuidados de economia da água doméstica? Pode, sim, mas de forma a problematizar, 
não para propor soluções mágicas, fantasiosas e ingênuas.
Uma oficina de reciclagem pode ser um desafio para discutir o poder limitado dessa 
prática; os cuidados com a água doméstica devem ser ensinados, mas apenas para 
economizar dinheiro e água tratada, não como solução para o problema da escassez, pois, 
se não recuperarmos os rios, protegermos as matas ciliares ou agirmos politicamente 
pela criação de normas contra o desperdício da pecuária, da agricultura e da indústria, 
não adiantará o cuidado doméstico.
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O compromisso do educador ambiental é político, comunitário, e não individualista. A 
fábula do beija-flor reflete algo triste da sociedade, um egocentrismo desmedido, a ideia 
de que, mesmo que não adiante de nada, o indivíduo está fazendo sua parte e pode 
pôr a culpa no outro pelo problema ambiental. O compromisso da Educação Ambiental 
(EA) não é com a culpa individual, mas com as responsabilidades coletivas, lembrando 
sempre que essas responsabilidades variam, pois alguns grupos têm maior poder 
político ou econômico.
Prática escolar de reaproveitamento de materiais. Deve ser acompanhada de uma abordagem 
bastante crítica da própria atividade para não alimentar concepções ingênuas.
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Sustentabilidade e sua crítica
Durante muitas décadas, o rio Tâmisa (Londres, Inglaterra) era poluído e muito malcheiroso, 
a ponto de ser apelidado de o grande pooh (o grande cocô!), representando um problema 
ambiental e de saúde para a população, que, porém, tratava-o com humor. A população 
dos educados ingleses conviveu com o problema por muito tempo sem nenhuma grande 
mobilização no sentido de resolvê-la. No século XIX, por causa de diversas epidemias, 
incluindo cólera, foram desenvolvidas as primeiras estações de tratamento de água, mas 
nada foi feito para melhorar as condições do rio. Nos anos 1960, iniciou-se o grande projeto 
ambiental da cidade, e a empresa que explora a água (Thames Water) e o governo fizeram 
a despoluição do rio. Atualmente, as águas estão limpas, há peixes e as novas gerações 
de ingleses que cresceram com o rio limpo são exigentes quanto à qualidade do ambiente.
O que o episódio do Tâmisa nos ensina sobre o desenvolvimento 
sustentável?
Para responder a isso, primeiro precisamos entender o que é desenvolvimento sustentável. 
Você poderá encontrar diversas definições para isso, então usaremos uma conceituação 
mais amplamente utilizada e adotada pela ONU, que propõe um desenvolvimento 
econômico respeitando a continuidade dos recursos naturais para as próximas gerações. 
Para isso, é muito importante que você assista atentamente ao vídeo da ONU sobre a 
Agenda 2030, documento que orienta o desenvolvimento sustentável em todo o mundo.
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as dimensões do desenvolvimento sustentável.
Perceba que, ao discutir o desenvolvimento sustentável, alguns fatores sempre farão 
parte do debate. Com certeza, os aspectos ambientais são lembrados, mas, mesmo 
que sejam “os primeiros da lista”, não podemos afirmar que é dada a eles a mesma 
importância dos aspectos econômicos. Como vimos anteriormente, ambiente não é 
sinônimo de natureza, mas sim da interação de fatores naturais com fatores sociais. 
Então, podemos notar a presença de preocupações com as questões sociais. 
Dessa forma, podemos entender que o desenvolvimento sustentável é um modelo que 
busca aliar o crescimento econômico à conservação dos recursos naturais, buscando 
deixar um ambiente saudável para as gerações futuras. Para isso, questões sociais como 
a fome, a pobreza e a liberdade precisam ser resolvidas.
O IBGE analisa o desenvolvimento sustentável e as metas da ONU com otimismo. São 
apresentadas melhoras nos índices de diversos objetivos da ONU: a fome no mundo está 
reduzindo, a desigualdade de gênero também e as condições sanitárias das populações 
estão melhorando. 
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a Agenda 2030.
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Desenvolvimento Sustentável. 
O problema, que mesmo a visão otimista do vídeo deixa passar, é que as metas nunca 
conseguem ser cumpridas nos prazos estipulados. Em 1992, na conferência ECO 92 
no Rio de Janeiro, a ONU traçou 21 metas para o século XXI, resultando no documento 
chamado de Agenda 21. Com a chegada deste século, foi percebido como estávamos 
longe de atingir essas metas. Os atuais 17 objetivos para 2030 são uma releitura da 
Agenda 21. Mesmo com os avanços, estamos muito longe de atingir qualquer uma das 
17 metas estabelecidas pela ONU.
A ênfase no crescimento econômico coloca em choque a economia com a biologia. Como 
é possível crescer indefinidamente em um planeta cujos recursos são finitos? A capacidade 
de suporte do planeta já foi superada desde os anos 1980. A Terra não consegue gerar 
mais recursos ou absorver a quantidade de resíduos dos diversos processos produtivos. 
Podemos considerar que um dos grandes entraves ao pensamento sobre sustentabilidade 
é considerar o capitalismo a única forma de modelo produtivo possível. Para salvar esse 
modelo, são invocadas as inovações tecnológicas e as ações políticas.
Outro problema grave do desenvolvimento sustentável é de natureza ética. O discurso 
da ONU, por exemplo, é baseado em uma ética antropocêntrica. Os objetos da natureza 
(animais, plantas, ecossistemas...) são reduzidos a recursos.
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