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Eric Hobsbawm - Da Paz à Guerra

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A Era dos Impérios (1875-1914) – Da Paz à Guerra (capítulo 13) – Eric Hobsbawm
	O autor levanta a questão sobres os motivos que levam a Europa à Primeira Guerra Mundial, considerando o clima de paz que prevalecia no continente desde o século XIX.
	Ressalta que esses países não guerreavam entre si, mas disputas aconteciam fora do cenário europeu envolvendo suas potências.
	Contudo, afirma que “a possibilidade de uma guerra generalizada na Europa fora, é claro, prevista, e preocupava não apenas os governos e as administrações, como também um público mais amplo” [p. 419].
	Com isso, o problema que perpassa o livro todo é, nas palavras do autor “entender e mostrar como a era da paz, da civilização burguesa confiante e cada vez mais próspera, e dos impérios ocidentais, carregava inelutavelmente dentro de si o embrião da era da guerra, da revolução e da crise que marcou seu fim” [p 451].
	Mesmo com essa “previsão” da guerra, esta não era realmente esperada, ninguém acreditou em sua concretização em 1914.
	os civis previram a guerra, não os militares – Ivan Bloch publica em 1898 seis volumes de seu Technical, Economic and Political Aspects of the Coming War, prevendo o empate militar da guerra de trincheiras.
	No período entre 1871 e 1914, o exército cumpria funções civis, porém, em todas as nações de peso, com exceção da Grã-Bretanha e dos EUA, o serviço militar era obrigatório
	Exército como mecanismo do Estado para assegurar o sentimento patriótico dos cidadãos
	Governos se lançaram à uma corrida para se equiparem com armamentos da nova tecnologia bélica – os Estados competiam entre si pela 1ª posição ou, pelo menos, não cair para a última, logo, essas disputas se tornaram muito caras.
	“Uma consequência de gastos tão elevados foi a necessidade complementar de impostos mais altos, ou de empréstimos inflacionários, ou de ambos. Mais uma consequência igualmente óbvia, embora muitas vezes deixada de lado, foi que eles cada vez mais fizeram da morte em prol de várias pátrias um subproduto da indústria em grande escala. […] o Estado se tornou essencial para certos setores da indústria, pois quem, senão o governo, constitui a clientela dos armamentos?” [p. 425].
	Os governos não precisavam tanto da produção real de armas, mas da capacidade de produzi-las numa escala compatível com uma época de guerra.
	O Estado se vê obrigado a proteger as grandes indústrias, arcando com os custos de seu desenvolvimento, e fazer com que permanecessem rentáveis.
	Indústria armamentista incentiva a corrida “inventando, se necessário, inferioridades nacionais ou “janelas de vulnerabilidade”, que podiam ser removidas através de lucrativos contratos” [p 426].
	A guerra não se explica somente pela indústria, mas à situação internacional que leva à essa disputa.
	As potências não desejavam a guerra, demonstrado pelo fato dos conflitos envolvendo as partilhas coloniais se resolverem com acordos.
	Contudo, não se pode pensar que as rivalidades imperialistas foram irrelevantes na deflagração da Primeira Guerra.
	“o máximo que se pode afirmar é que, a partir de um ponto do lento escorregar para o abismo, a guerra pareceu tão inevitável que alguns governos decidiram que a melhor coisa a fazer seria escolher o momento mais propício, ou menos desfavorável, para iniciar as hostilidades […]. Nenhuma das grandes nações teria dado o golpe de misericórdia na paz, nem mesmo em 1914, se não estivesse convencida de que seus ferimentos já eram mortais” [pp. 430/431].
	O surgimento dos blocos que dividiram a Europa não geraram, necessariamente, a concretização da guerra, embora implicassem a possibilidade de uma.
	Esse sistema só se torna um perigo palpável quando as alianças opostas se consolidaram como permanentes e suas disputas se tornaram confrontos inadministráveis.
	Embora alguns adversários pudessem ser delineados, as coalizões da Primeira Guerra não era muito bem previstas, pois mesmo com o aumento da tensão nas relações internacionais, os problemas que envolviam duas potências, não representavam importância para uma terceira.
	“ Três problemas transformam o sistema de aliança numa bomba-relógio: a situação do fluxo internacional, desestabilizado por novos problemas e ambições mútuas entre as nações, a lógica do planejamento militar conjunto que congelou os blocos que se confrontavam, ornando-os permanentes, e a integração de uma quinta grande nação, a Grã-Bretanha, a um dos blocos […]. A origem da Primeira Guerra Mundial pode ser melhor entendida acompanhando o surgimento desse antagonismo anglo-germânico” [p. 433] (considerando os conflitos anteriores com a França e a Rússia e que a Grã-Bretanha não tinha atritos permanentes com com a Prússia ou com o novo Império Alemão.
	Isso se torna possível pela mudança no quadro da diplomacia internacional, que passa a se estender para fora da Europa, tanto no sentido das rivalidades imperiais, quanto pelo surgimento de duas novas potências: os EUA e o Japão, o que afetou a Grã-Bretanha, até então, o único país com objetivos políticos realmente mundiais.
	Embora seja ingênuo afirmar que todos os capitalistas fossem provocadores da guerra “o desenvolvimento do capitalismo empurrou o mundo inevitavelmente em direção a uma rivalidade entre os Estados, à expansão imperialista, ao conflito e à guerra” [p. 437].
	A passagem do monopólio econômico para a concorrência, cria um entrelaçamento com as ações políticas e até militares do Estado. Associação do entendimento de grande nação como grande economia.
	“[...] dada a fusão entre a economia e política, nem a divisão pacífica das áreas disputadas em “zonas de influência” podia manter a rivalidade internacional sob controle. A única coisa que poderia controlá-la […] era a limitação deliberada de objetivos. Se os Estados pudessem definir seus objetivos diplomáticos com precisão […] tanto o cálculo, como o acordo seriam possíveis. Mas nenhuma das duas excluía […] o conflito militar controlado” [pp. 438/439].
	Contudo, a característica da acumulação capitalista era, justamente, não ter limites.
	Esse crescimento da associação entre poder econômico e político se torna ainda mais perigoso quando a Alemanha passa a reivindicar espaço e, assim, passou a empreender uma marinha que se equiparasse com a britânica, o que configurou um perigo não somente para suas ilhas, como para a posição mundial do Império Britânico (entende-se então a aproximação do país com a França e com a Rússia – uma vez que o perigo russo havia sido minimizado pelo Japão).
	As ações dos Estados causavam um sentimento generalizado de que estavam rumando a uma guerra importante. Ainda assim, não sabia muito bem o que fazer a esse respeito.
	A partir de 1905, a desestabilização internacional agrava essa situação (Revolução Russa de 1905, Revolução Turca que rompe acordos internacionais com o Oriente Próximo, anexação da Bósnia-Herzegovina por parte da Áustria...).
	A política interna das principais potências empurra sua política externa para a zona de perigo: a administração política dos regimes começa a ruir e torna-se cada vez mais difícil controlar e absorver mobilizações.
	“os países que estavam enfrentando problemas externos insolúveis não se sentiriam tentados a apostar na solução propiciada por um triunfo externo, especialmente quando seus conselheiros militares lhes diziam que, desde que a guerra era certa, o melhor momento para agir era agora?” [p. 444] - caso da Itália, Alemanha, Rússia e, principalmente, Áustria-Hungria.
	A Áustria-Hungria, enfrentava grandes problemas desde 1890, sendo o dos eslavos do sul o mais agravante, por três motivos: não só causavam transtornos – como as outras nacionalidades politicamente organizadas no império multinacional, que disputavam vantagens umas às outras – como também complicavam as coisas ao pertencer tanto ao governo de Viena – linguisticamente flexível – como ao de Budapeste – implacavelmente magiar. A agitação dos eslavos do sul na Hungria, além de transbordar para a Áustria, agravou as sempre difíceis relaçõesentre as duas metades do império. Segundo porque o problema dos eslavos na Áustria não podia ser desenraizado da política balcânica e, na verdade, ambos estavam ainda mais entrelaçados desde a ocupação da Bósnia, em 1878. Ademais, já existia um Estado independente eslavo ao sul, a Sérvia (sem contar Montenegro […]) o que podia ser uma tentação para os eslavos do sul dissidentes no império. Terceiro, porque a derrocada do Império Otomano praticamente condenou o Império Habsburgo, salvo se este pudesse demonstrar, sem sombra de dúvida, que ainda era uma grande nação nos Bálcãs, onde ninguém podia se meter” [pp. 445/446]
	Muito foi especulado sobre o porquê pouco mais de cinco semanas após Saravejo, a Europa se encontrar em guerra, sendo que hoje, a reposta se faz mais clara e simples: o apoio da Alemanha à Áustria, decidindo então, não acalmar a situação. “O resto seguiu inexoravelmente. Pois, em 1914, qualquer confronto entre os blocos em que se esperasse que um dos dois lados recuasse os levava à beira da guerra” [pp. 446/447]. Além do fato das potências não conseguirem mais “desmobilizar” suas forças militares, dando margem para que qualquer incidente pudesse levá-los à guerra.
	“Em suma, as crises intermas e internacionais nos últimos anos anteriores a 1914 fundiram-se” [p. 447].
	“É um erro pensar que em 1914 os governos se precipitaram à guerra para desativar suas crises sociais internas. No máximo, calcularam que o patriotismo minimizaria as resistências mais graves e a não-colaboração” [p. 448], o que se mostrou certo.
	Os movimento trabalhista e socialista se opõem à guerra. Inclusive, em 1907, o Partido Trabalhista e a Internacional Socialista se unem numa greve geral internacional, mas os políticos não levaram o fato muito a sério.
	A dissidência nacionalista não se mostrou um fator grave a o governo não enfrentou grandes resistências com o alistamento. De fato, essa foi a maior surpresa: o grande entusiasmo patriótico que levou milhões de civis à guerra. “Como reconheceu o líder socialista austríaco Victor Adler, “mesmo entre as nacionalidades, lutra na guerra era uma espécie de libertação, uma esperança de que algo diferente viria”” [pp. 449/450].
	De certa maneira, a guerra foi vista como libertação e alívio de um problema longo e latente que se desenvolvia desde o século XIX. Significou decisão.
	A Primeira Guerra Mundial significou mais do que a transposição de uma fronteira história. “O sentimento da guerra como fim de uma época era talvez mais forte no mundo da política [...]” [p. 450].
	Os políticos de esquerda “interpretando a seu próprio modo a guerra, nela viam esperança, como Lenin. Para os socialistas a guerra era uma catástrofe dupla e imediata, pois, como movimento dedicado ao nacionalismo e à paz, foi subitamente reduzido à impotência, e a vaga de união nacional e patriotismo sob direção das classes dirigentes tomou conta, embora momentaneamente, dos partidos e até do proletariado com consciência de classe dos países beligerantes” [p.451].

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