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Paralisia Braquial Perinatal Prof.ª Dr.ª Ana Cristina Camargos Definição: Lesão do plexo braquial do neonato que ocorre mais comumente como resultado de dificuldades durante o parto. PARALISIA BRAQUIAL OBSTÉTRICA (PBO) - Há algumas divergências do termo na literatura: • Paralisia do plexo braquial neonatal • Paralisia do plexo braquial relacionada ao nascimento Incidência: varia de 0,5 a 3,0 casos para cada 1000 nascidos vivos. Etiologia: tração excessiva do plexo braquial durante o trabalho de parto e mau posicionamento uterino. Fatores de risco: • Distócia do ombro: dificuldade do desprendimento do ombro, que pode se chocar com a sínfise púbica materna, estirando o plexo braquial, levando à uma lesão. • Diabetes gestacional • Peso ao nascimento superior a 3,5kg • Trabalho de parto prolongado • Uso de fórceps • Apresentação pélvica (“sentado”) • Ter tido outro bebê com PBO Mecanismo de lesão: 1. Apresentação cefálica: desvio lateral da cabeça acompanhado pelo abaixamento da cintura escapular/ lesão da porção superior ou total do plexo; 2. Apresentação pélvica: mais raro/ abdução exagerada do ombro acompanhada de tração do úmero/ lesão da porção inferior do plexo; 3. Apresentação de um membro: abdução exagerada do ombro acompanhada de tração do úmero; lesão total ou da porção inferior do plexo. PARALISIA DE ERB OU ERB-DUCHENNE: - Lesão superior do plexo braquial. (C5 e C6 ou C5, C6 e C7 (34%) - Perda de função do nervo dorsal da escápula (inerva músculos romboides) (perda de adução da escápula) - Perda de função do nervo torácico longo (inerva o mm. Serrátil Anterior perde-se também a abdução da escápula. - Perda da função do nervo supraescapular (inerva supra e infraespinhoso) - Perda do nervo axilar (inerva deltoide e redondo menor) - Perda de abdução e rotação externa do ombro. - Perda de função do nervo musculocutâneo (inerva bíceps, braquial e coracobraquial) perda de flexão do cotovelo. - Perda de função do nervo radial (inerva supinador, extensores de punho, dedos e polegar) perda de supinação do antebraço - Quanto à extensão de punho e dedos, as crianças que apresentam comprometimento apenas de C5 e C6 podem conseguir realizar o movimento. Já as de C7 o perdem. Postura: • Escápula alada (por falta do serrátil), abduzida (por falta dos romboides). • Posição de rotação interna (por falta dos rotadores externos) • Adução e rotação interna de ombro, extensão dos cotovelos, pronação do antebraço e flexão de punho e dedos. (Posição oposta aos movimentos perdidos) • Postura da “Gorjeta do garçom” PARALISIA DE KLUMPKE - Raro, apenas 2%. - Lesão inferior do plexo braquial (C8 e T1) - Perda de função do nervo ulnar perda de flexão de punho e dedos e dos movimentos de mm. Intrínsecos da mão. • Pode ter comprometimento dos pronadores e algumas crianças apresentarem um padrão de supinação do antebraço associado a extensão de punho. • Geralmente o posicionamento é “mão em garra”. PARALISIA DE ERB-KLUMPKE - Lesão total do plexo braquial (C5, C6, C7, C8 E T1) - 13% dos casos. - Membros totalmente paralisados por perda de função muscular completa dos MMSS. Comprometimentos associados à PBO: • Sensibilidade (raro, mas é necessário verificar); • Lesão do nervo frênico – paralisia do diafragma; • Síndrome de Horner – Avulsão da raiz inferior de T1; - Miose (contração da pupila), ptose palpebral e anidrose (distúrbio de sudorese); - Comprometimento de 1º gânglio simpático; • Pode ser bilateral – raro! Fatores que interferem no prognóstico: 1. Tipo de lesão nervosa - Neuropraxia: durante o estiramento do plexo braquial, pode-se formar um edema, que comprime o axônio e impede a condução nervosa. À medida que o edema é reabsorvido, a função volta! Ou seja, a perda de movimentação é temporária, e a recuperação ocorre espontaneamente. - Axoniotmese: degeneração walleriana! Durante o estiramento, o axônio foi rompido e sua parte distal sofre degeneração walleriana, porém o corpo celular continua, o que permite a regeneração neural (plasticidade neural). O crescimento é lento, a regeneração dura meses. - Neurotmese: lesão completa / ruptura do endoneuro, perineuro e epineuro. O corpo celular está íntegro, porém ele perdeu o seu guia e aí começa a crescer de forma desorganizada, formando enovelados chamados de neuromas. Então: • Neuropraxia: recuperação completa com 1 mês. • Recuperação tardia: recuperação incompleta. • Lesões totais e Síndrome de Horner: pior prognóstico. • Lesões pré-ganglionares (avulsão): pior prognóstico. Tratamento médico: • Neurocirurgia: - Indicadas para 5 a 10% das crianças que não apresentam recuperação espontânea; - Ausência de flexão de cotovelo; - Ausência de rotação externa e supinação; - Deve ser realizada entre 3 e 8 meses de idade. - Neurocirurgião retira o neuroma! E reconecta o tecido conectivo (anastomose neural) e transferência neural. Recuperação incompleta: - Padrões de substituição muscular repetição Contraturas e deformidades redução do crescimento ósseo e da densidade mineral óssea - Aprendizado por não-uso. - Diferença de comprimento dos membros. • Cirurgia ortopédica: - Para contraturas e deformidades: liberação de tecidos moles, redução da articulação glenoumeral, transferência de tendão, osteotomia. AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NA PBO - Modelo da CIF: Entrevista: - Exames complementares (de imagem) - Tratamentos realizados - Já realizou alguma cirurgia? - Utiliza alguma tecnologia assistiva? Testes: • Atividade e participação: - PEM-CY, PEDI-CAT, CHEQ ou Mini-CHEQ. • Desenvolvimento motor: - AIMS? (para crianças com comprometimentos mais leves) Observar: - Postura (dor na coluna é comum) - Movimentos ativos e espontâneos - Padrões de substituição muscular Escala de Movimento Ativo: • Força muscular: - Teste de força muscular manual (6-7 anos) • Estrutura e Função corporal: • Amplitude de movimento passivo: - Goniometria • Avaliação sensorial: - Dermátomos; Escala Sensorial • Reflexos e reações: - Reflexo de Moro - Reflexo de preensão - Reflexo de proteção • Tônus muscular (hipotonia) INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS NA PBO • Foco no tratamento conservador! Principais desfechos esperados: - Retorno completo da função motora e sensorial - Nenhuma limitação de atividade e restrição de participação - Esse processo depende da idade e do tipo de lesão nervosa! Primeiros meses de vida: - Fornecer suporte à recuperação espontânea; - Prevenir comprometimentos musculo esqueléticos secundários. Objetivo em um 1º momento: Evitar piora da lesão neurológica! - Repouso entre 7 e 10 dias. - Redução da hemorragia e do edema. - Imobilização. (com frauda, por exemplo). Objetivo: Conseguir realizar todos os movimentos ativos com o membro acometido, compatíveis com sua idade, com ambos os membros! - Movimentos ativo-assistidos, com progressão para movimentos ativos. - Evitar o desuso aprendido! (movimentos compensatórios) - Alcançar os marcos do desenvolvimento motor dentro da idade esperada! - Impedir o desenvolvimento de contraturas e deformidades. - Capacitar a família a cuidar da criança: cuidados, exercícios para manter a ADM, incentivar o uso do membro acometido nas AVD. ARTIGOS: Após os 2 anos de idade: - Conseguir realizar atividades de autocuidado apropriadas para a idade. - Conseguir participar de todas as atividades pré- escolares. - Conseguir realizar atividades bimanuais. ➔ CIMT➔ Realidade Virtual ➔ Estimulação elétrica Crianças na idade escolar: - Conseguir independência em casa, na comunidade e na escola; - Impedir o desenvolvimento de novas deformidades; - Cuidado com dor!
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