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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Luiza Costa Porto Alves DRE:120019907 Parte 1 1. No texto “O que é a Sociologia”, o sociólogo inglês Anthony Giddens escreve sobre a imaginação sociológica, conceito apresentado por Wright Mills que significa pensar amplamente, fora de nossa vida cotidiana para destrinchar as várias relações econômicas, sociais, culturais e políticas que um item aparentemente prosaico esconde. Giddens disserta sobre a importância da desnaturalização e de uma visão para além do que consideramos único e inevitável. Ele usa como exemplo o café e mostra que não é apenas uma bebida, mas que também é parte de um ritual do café da manhã no ocidente, que fornece interações sociais, é considerado uma droga e é uma mercadoria que depende de muitas relações sociais e de trabalho para ser produzida. Fazendo uso da imaginação sociológica podemos utilizar como exemplo o chinelo Havaianas. O calçado foi inspirado em um sapato de palha japonês, o Zori, e veio para o Brasil em uma versão de borracha e com apenas um design simples. Por serem muito baratas, as Havaianas eram vistas como o chinelo das classes mais baixas. Com o intuito de aumentar o seu status e atingir a elite, a marca criou modelos variados. Essa estratégia teve tanto sucesso que hoje, podemos perceber um uso generalizado do calçado, desde celebridades até pessoas de baixa renda. Essa extensão do público-alvo do chinelo para as classes mais elevadas permitiu uma expansão das lojas, que se estabeleceram nos shoppings. A entrada e saída das pessoas das lojas, o contato com os outros clientes e os atendentes confere um aspecto social ao chinelo, ele não apenas fornece proteção ao pé, como também gera relações sociais. Além de ser um componente de desenvolvimento econômico, - por ser um produto muito consumido por quase todo país - o chinelo Havaianas carrega um simbolismo, ele é visto como uma representação da brasilidade. Nas propagandas da marca é visível o uso recorrente do estereótipo do malandro, da mulher com corpo escultural de biquíni na praia, do brasileiro caloroso, que não discerne o público do privado. Esse imaginário é exportado junto do produto. Hoje, por haver tantos modelos diferentes do chinelo, é possível perceber como os variados estilos de vida refletem nas escolhas dos consumidores. Por exemplo, um ávido frequentador da praia dificilmente optará por um modelo com muitas tiras, difícil de tirar, e que suja facilmente, enquanto uma pessoa extravagante provavelmente escolherá um modelo com mais detalhe, brilho, menos casual e simples. Dessa forma, o chinelo Havaianas, um artigo de vestuário aparentemente simples pode ser analisado de forma multidimensional, gera relações sociais, tem simbologia, é um produto que precisa de mão de obra, matéria prima e tempo para ser produzido e reflete as individualidades de cada um. Parte 2 3. Peter Berger e Thomas Luckmann, no livro “A construção social da realidade” defendem que o ser humano não nasce já membro da sociedade, mas nasce com uma predisposição à sociabilidade. Os autores dividem a socialização em duas etapas, primária e secundária. A socialização primária ocorre durante a infância, as pessoas responsáveis por esta etapa estabelecem uma mediação entre a criança e o mundo, podendo ser pai, mãe, irmão, avó ou até mesmo alguém de fora do núcleo familiar, elas são denominadas “outros significativos”. Durante a socialização primária, os valores parciais interiorizados pela criança são tidos como totais, há apenas um mundo, o mundo do outro significativo, sendo ele estável e definido pelos aspectos sociais, econômicos e culturais. Esse processo de absorção de valores, faz com que a criança generalize os papéis e atitudes particulares, o que configura o “outro generalizado”. Para explicar esse ponto Berger e Luckmann dão o exemplo da sopa, quando um bebê derrama sopa e recebe uma represália de sua mãe, ele entende que derramar sopa deixa sua mãe zangada, depois, ao receber de sua avó, pai e tio a mesma reação de sua mãe, ele entende que o ato de derramar sopa é errado, dessa forma internalizando o mundo objetivo. É apenas depois do outro generalizado se cristalizar no indivíduo que ele se torna membro efetivo da sociedade. Vale lembrar que as sequências de aprendizado não são as mesmas em todas as culturas, por exemplo espera-se que um bebê de 3 anos no Oriente seja capaz de fazer determinada atividade, enquanto no Ocidente espera-se que essa habilidade seja desenvolvida apenas aos 5 anos de idade. Depois da primeira socialização, o indivíduo é submetido à segunda socialização. Nela, ele interioriza “submundos”, ou seja, realidades parciais, institucionais e subjetivas. A pessoa já socializada agora entra em contato com um setor do mundo, com a divisão social do trabalho e precisa adquirir conhecimento e vocabulário específicos. Entretanto, durante esse processo, ocorre um problema de coerência entre as interiorizações novas e as primitivas. Devido ao falso caráter absoluto das interiorizações na primeira socialização, o indivíduo encontra dificuldade em abandoná-las quando é exigido. Por exemplo, um menino que cresceu em uma casa onde a organização e a disciplina não eram valores importantes provavelmente vai ter dificuldade ao ingressar no exército, instituição que exige esses valores. Por fim, podemos entender a socialização secundária como um processo sem fim, uma vez que entramos em contato com diferentes submundos da socialização a todo momento. 4. No livro “Vigiar e Punir”, o filósofo francês Michel Foucault apresenta as disciplinas como métodos de controle dos corpos, as quais têm como objetivo torná-los mais úteis, produtivos e dóceis, elas são fruto deslocamento do poder jurídico para o poder normativo. Esse poder disciplinar, diferentemente da escravidão não implica apropriação dos corpos e está presente em praticamente todas as instituições, seja na escola, quartel, hospital ou presídio e é exercido através de quatro recursos. O primeiro recurso é a arte da distribuição e diz respeito à organização espacial. Ele necessita de um lugar grande e fechado (por exemplo, presídios e escolas), dentro dele ocorre o quadriculamento do espaço, ou seja, ele é dividido em quantas parcelas forem possíveis para criar uma localização funcional, por exemplo a sala do dono da fábrica ser em um andar elevado para vigiar e analisar a performance de cada trabalhador, a separação de alunos em carteiras, turmas, filas de acordo com o mérito. Dessa forma todos os indivíduos são localizáveis e não há espaço para zonas turvas em que possa ocorrer vadiagem e improdutividade. O segundo recurso é o controle das atividades, ele diz respeito à organização do tempo, é feito um quadriculamento do tempo: a criação de um horário para determinadas atividades, um horário para trocar de aula, um horário para ir ao intervalo e outro para retornar dele. O tempo é otimizado e aproveitado de maneira máxima, para que não existam momentos ociosos não planejados, que comprometam a produtividade. O terceiro recurso é o controle das gêneses, que diz respeito às técnicas de evolução do aprendizado, as salas, estágios e programas de ensino são divididos por seriações e gradações do grau de dificuldade. Assim, é possível um máximo aperfeiçoamento do indivíduo. O quarto recurso é a composição de forças, que diz respeito a combinações úteis e produtivas de indivíduos. Além desses quatro recursos há também três ferramentas indispensáveis para obter a docilidade e a produtividade desejadas, são eles: Vigilância, Norma e Exame. Na vigilância, cria-se uma rede de controle, todos vigiam e todos são vigiados, o que mantém o corpo na sua produtividade máxima. Na norma, é estabelecido um padrão e tudo aquilo que foge dele, que é anormal deve ser corrigido, o controle é positivo, foca-se no que pode ser produzido, não no que é reprimido. E por fim, no Exame, ocorre uma ligação entre a Norma e a Vigilância, ele criaanotações para classificar os indivíduos.
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