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AÇÃO CIVIL PÚBLICA doutrina

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA
Lei 7.347/1985
A ação civil pública, embora não prevista no Título II da Constituição — “Dos direitos e garantias fundamentais”, alinha-se às demais garantias instrumentais dos direitos constitucionalmente deferidos.
· Está prevista como atribuição do Ministério Público, a quem compete promovê-la “PARA A PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E SOCIAL, DO MEIO AMBIENTE E DE OUTROS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS” (art. 129, III).
A proteção e defesa de interesses difusos e coletivos encontra no sistema processual óbices consideráveis.
A ação civil pública, disciplinada pela Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, resolve, em parte, a questão.
A referida lei disciplina “A AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE, AO CONSUMIDOR, A BENS E DIREITOS DE VALOR ARTÍSTICO, ESTÉTICO, HISTÓRICO, TURÍSTICO E PAISAGÍSTICO”. Cobre a defesa de alguns dos direitos ou interesses difusos ou coletivos.
Não se trata, contudo, de competência privativa do Ministério Público conforme se verifica do disposto no § 1º do art. 129 da Constituição: “A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei”.
· A Lei nº 7.347/1985 confere, não somente ao Ministério Público, a legitimidade ativa para propor ação civil pública, bem como eventuais medidas cautelares, como também às pessoas jurídicas estatais, autárquicas, às associações constituídas para a proteção do meio ambiente ou para a defesa do consumidor, ou do patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
*De qualquer maneira, o Ministério Público atuará se não como parte, como fiscal da lei, assumindo a titularidade ativa no caso de desistência ou abandono da associação legitimada.
Com a expressão “outros interesses difusos ou coletivos” a Constituição ampliou o campo da ação pública, como o veio a reconhecer a legislação infraconstitucional em seguida.
A ação civil pública objetiva a indenização pelo dano causado destinada à reconstituição dos bens lesados. Pode também ter por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou de não fazer, cumprimento este que será determinado pelo juiz, sob pena de multa diária, independentemente de requerimento do autor.
No que se refere a danos ao meio ambiente, a Lei nº 6.938/1981 (sobre Política Nacional do Meio Ambiente) adotou o princípio da responsabilidade objetiva. Efetivamente, dispõe seu art. 14, § 1º: “[...] é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”.
O réu apenas se escusa da condenação se provar não ser responsável pela lesão ao meio ambiente, inexistência de lesão ou que o ato ou fato não é lesivo ou está legitimado pela autoridade competente com observância das normas legais.
· A ação civil pública constitui, ao lado da ação popular, meio de defesa e proteção do interesse público.
Guilherme Peña
1 CONCEITO
A ação civil pública, ad vicem art. 129, inc. III, da CRFB e Lei nº 7.347/85, é conceituada como remédio constitucional, sob procedimento ordinário, dirigido à tutela de interesses difusos e coletivos, sem prejuízo de interesses individuais homogêneos, quando revestidos de suficiente abrangência ou expressão social.1
Com efeito, quanto à nomenclatura, a ação de iniciativa do Ministério Público é definida como “ação civil pública”, à medida que a ação de iniciativa da Defensoria Pública, e também da União, Estados, Distrito Federal, Municípios, autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista e associações que, concomitantemente, estejam constituídas há pelo menos um ano e incluam, entre suas finalidades institucionais, a tutela jurisdicional do consumidor, livre concorrência, meio ambiente, ordem econômica ou patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, é delineada como “ação coletiva”, em atenção ao critério subjetivo de que tratam o art. 6º, inc. VII, da Lei Complementar nº 75/93 e art. 25, inc. IV, da Lei nº 8.625/93, sendo certo que “se a ação que verse a defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos estiver sendo promovida pelo Ministério Público, o mais correto, sob o enfoque puramente doutrinário, será chamada de ‘ação civil pública’. Mas se tiver sido proposta por outro colegitimado, mais correto chamá-la de ‘ação coletiva’”.2 De outra forma, a ação de interesse difuso ou coletivo é denominada “ação civil pública”, ao passo que a ação de interesse individual homogêneo é designada de “ação coletiva”, em atendimento ao critério objetivo sobre o qual versam os arts. 91 a 100 da Lei nº 8.078/90, tendo em conta que “nos dias atuais, deve-se utilizar a ação civil pública para a proteção dos direitos difuso e coletivo, e a ação coletiva para a defesa do direito individual homogêneo. Destarte, é necessário assentar que a ação coletiva é, tecnicamente, aquela utilizada para a defesa de um direito individual homogêneo”.3, 4
Demais disso, quanto aos interesses suscetíveis de tutela pela ação civil pública, os interesses são tipificados como públicos, individuais e metaindividuais ou transindividuais, subdivididos em interesses difusos, referentes a pessoas indeterminadas ou de difícil determinação, de arte que dano de natureza indivisível pode ser causado por uma mesma situação de fato; interesses coletivos, relativos a pessoas determináveis, reunidas em categoria, classe ou grupo, de maneira que dano de natureza indivisível pode ser imputado a uma mesma relação jurídica básica, e interesses individuais homogêneos, respeitantes a pessoas determináveis ou determinadas, de sorte que dano de natureza divisível pode ser causado por uma mesma situação de fato.5 Em atenção aos arts. 81, parágrafo único, incs. I, II e III, e 82, inc. I, da Lei nº 8.078/90, o Ministério Público tem atribuição para a promoção da ação civil pública ou ação coletiva, com vistas à tutela dos interesses difusos e coletivos, bem assim dos individuais homogêneos, desde que os interesses sejam recobertos de suficiente abrangência e/ou expressão social, forte no argumento de que “a legitimação ativa do Ministério Público para a defesa de interesses individuais homogêneos há de ser vista dentro da destinação da Instituição, que sempre deve agir em defesa de interesses indisponíveis ou de outros interesses que, pela sua natureza ou abrangência, atinjam a sociedade como um todo”.6, 7
Em retrospectiva, o processo coletivo é informado pelos princípios da acessibilidade, operosidade, utilidade e proporcionalidade. A acessibilidade denomina a existência de pessoas com capacidade para estar em juízo, sem óbices de natureza financeira, manejando adequadamente os instrumentos legais, processuais e extraprocessuais, de forma a possibilitar a efetivação dos seus direitos fundamentais. A operosidade denota a atuação ética de todas as pessoas que participam, direta ou indiretamente, da atividade judicial e extrajudicial, de modo a obter a melhor produtividade possível na utilização dos instrumentos processuais. A utilidade denuncia a efetividade e instrumentalidade, assegurada por meios que garantam a celeridade do processo e o bem da vida pretendido, tal como a medida liminar, a execução específica de obrigação de fazer ou de não fazer e o tratamento adequado da coisa julgada material e das nulidades dos atos processuais. A proporcionalidade designa a ponderação entre os demais princípios de conteúdo material, exteriorizada pelo art. 5º, § 4º, da Lei nº 7.347/85.
NATUREZA JURÍDICA
A ação civil pública é revestida de natureza dúplice, conforme seja investigada sob o ângulo constitucional ou processual.
Sob o aspecto constitucional, a ação civil pública é sintetizada como remédio constitucional para a tutela de interesses difusos e coletivos, sem prejuízo de interesses individuais homogêneos, quando recobertos de suficiente abrangência ou expressão social.10
A natureza jurídica da ação civilpública é objeto de contenda doutrinária e jurisprudencial. Maria Sylvia Zanella Di Pietro afasta a natureza de remédio constitucional da ação civil pública, ao assegurar que “são remédios constitucionais o habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, habeas data, ação popular e direito de petição; ressalvado este último, todos os demais são meios de provocar o controle jurisdicional de atos da Administração Pública. Eventualmente, a ação civil pública, embora não prevista no art. 5º da CRFB, serve à mesma finalidade, quando o ato lesivo seja praticado pela Administração Pública”.11 Nagib Slaibi Filho, com a nossa adesão, afirma a natureza de remédio constitucional da ação civil pública, ao asseverar que “além dos remédios jurídicos processuais expressamente previstos no art. 5º da CRFB, como o habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, habeas data e ação popular, outros remédios constitucionais existem para possibilitar o exercício de pretensões. A ação civil pública é referida no art. 129, inc. III, legitimando ativamente o Ministério Público e terceiros, conforme previsão constitucional ou legal”.12 O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, na apelação nº 38.933/2006, decidiu que “a ação civil pública constitui remédio constitucional competente para proteger judicialmente o patrimônio público e social, meio ambiente e outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos”.13
Sob o aspecto processual, a ação civil pública é sistematizada como ação cível, pela qual pretensão metaindividual ou transindividual pode ser deduzida em juízo ou tribunal, submetida a procedimento ordinário.14
O cabimento da ação civil pública para a persecução de atos de improbidade administrativa também não é imune à controvérsia doutrinária e jurisprudencial. Pedro da Silva Dinamarco assegura o incabimento da ação civil pública, na hipótese de ressarcimento de danos ao erário, na medida em que este deveria ser perseguido por meio de ação de procedimento ordinário, com fulcro no art. 17 da Lei nº 8.429/92, ao passo que aquela sujeitar-se-ia ao procedimento especial, com esteio no art. 4º da Medida Provisória nº 2.22545/01.15 Rogério Pacheco Alves, com o nosso apoio, assevera o cabimento da ação civil pública, uma vez que a demanda veicularia pretensão de tutela do patrimônio público e social, de acordo com o art. 127, inc. III, in fine, da CRFB.16 O Superior Tribunal de Justiça, no recurso especial nº 199.478, deliberou que “o Ministério Público tem legitimidade para o exercício da ação civil pública sobre a qual versa a Lei nº 7.347/85, visando reparação de danos ao erário causados por atos de improbidade administrativa tipificados na Lei nº 8.429/92”.17
Tendo em vista que o mandado de segurança coletivo, ação popular e ação civil pública são direcionados à salvaguarda de interesses difusos, como, por exemplo, meio ambiente e patrimônio histórico e cultural, a distinção entre os remédios constitucionais de natureza cível gira em torno da legitimação ativa e passiva, competência de foro e pronunciamento jurisdicional.
Legitimação ativa, porque o mandado de segurança coletivo deve ser deduzido por partidos políticos com representação no Congresso Nacional, organizações sindicais, entidades de classe ou associações legalmente constituídas e em funcionamento há um ano, a ação popular pode ser deflagrada por cidadãos e a ação civil pública deve ser demandada pelo Ministério Público, Defensoria Pública, União, Estados, Distrito Federal, Municípios, autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista ou associações que, concomitantemente, estejam constituídas há um ano e incluam, entre suas finalidades institucionais, a tutela jurisdicional do consumidor, livre concorrência, meio ambiente, ordem econômica ou patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.18, 19
Legitimação passiva, porque o mandado de segurança coletivo pode ser exercido em face de pessoas jurídicas de direito público a que os agentes públicos indicados como autoridades coatoras sejam vinculados, a ação popular deve ser exercitada em face de pessoas jurídicas de direito público ou direito privado, autores, partícipes e beneficiários de atos lesivos aos bens e interesses públicos e a valores ambientais, históricos e culturais e a ação civil pública pode ser exteriorizada em face de quaisquer pessoas, naturais ou jurídicas, públicas ou privadas.20, 21
Competência de foro, porque o mandado de segurança coletivo deve ser processado e julgado pelo juízo ou tribunal cuja jurisdição tenha suficiente abrangência para alcançar todos os substituídos, domiciliados na comarca ou seção judiciária, ou não, o foro competente para a ação popular é fixado em razão do local de origem do ato impugnado e a ação civil pública deve ser processada e julgada no local onde ocorrer o dano.22, 23
Pronunciamento jurisdicional, porque a decisão de procedência da ação popular, e não também do mandado de segurança coletivo e da ação civil pública, pode condenar os autores, partícipes e beneficiários de atos lesivos ao domínio público, meio ambiente e patrimônio histórico e cultural ao pagamento de indenização por perdas e danos.
3.CONDIÇÃO ESPECÍFICA DA AÇÃO
No tocante à condição específica para o regular exercício da ação civil pública, afigura-se-nos conveniente e oportuna a pesquisa sobre o inquérito civil.
3.1Definição
O inquérito civil, na esteira dos arts. 8º, § 1º, initio, e 9º da Lei nº 7.347/85, é definido como procedimento administrativo investigatório da autoria e materialidade de ameaça ou lesão a interesse metaindividual, conduzido diretamente pelo Ministério Público, com o escopo de colher elementos de convicção que habilitem o titular da ação civil pública a deduzi-la em juízo ou tribunal.
Características
O inquérito civil é recoberto da natureza jurídica de procedimento administrativo, traduzido como complexo de atos administrativos ordinatórios, devidamente formalizados, sistematizados para a consecução de determinada finalidade, especializado pelo caráter inquisitório, unidirecional, público e formal.
O caráter inquisitório sintetiza que o procedimento administrativo investigatório, em regra, não é qualificado como contraditório, porquanto não há a formulação de acusação, nem a aplicação de sanções aos agentes públicos, limitando-se a apurar a autoria e materialidade de ameaça ou lesão a interesse metaindividual, de maneira a fornecer o substrato probatório mínimo para a propositura da ação civil pública.
O caráter unidirecional singulariza que o procedimento administrativo investigatório é presidido pelo membro do Ministério Público, incumbindo--lhe a expedição de notificações para colher depoimentos ou esclarecimentos, realização de inspeções e diligências investigatórias e requisição de informações, exames, perícias e documentos para instruir o inquérito civil.
O caráter público sinaliza que o procedimento administrativo investigatório, excepcionalmente, é reservado, devendo o membro do Ministério Público com atribuição para oficiar nos autos do inquérito civil assegurar o sigilo das diligências investigatórias, quando necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
O caráter formal é resultado da solenidade do procedimento administrativo investigatório, de sorte a viabilizar que, na hipótese de afastamento, cumulação de atribuições, falta ocasional, impedimento ou suspeição do titular do órgão ministerial, a atuação funcional tenha continuidade, a exemplo da polícia judiciária. Todavia, inquérito policial e inquérito civil não se confundem, dado que aquele é direcionado à apuração de infrações penais persequíveis pela ação penal, pública ou privada, sob a presidência da autoridade policial, cujo arquivamento é decidido pelo organismo judiciário, a requerimento do órgão ministerial, podendo submetê-lo ao controle do Procurador-Geral relacionado no art. 28 do CPP, à medida que este é dirigido à apuração de ameaças ou lesões a interesses metaindividuais tuteladosjudicialmente pela ação civil pública, sob a presidência do membro do Ministério Público, cujo arquivamento é determinado pelo órgão ministerial, devendo sujeitá-lo ao controle da Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal ou Conselho Superior de Ministério Público de Estado relatado no art. 9º da Lei nº 7.347/85.
3.3Fases
As fases do inquérito civil são divididas em instauração, instrução e encerramento, em atenção à Resolução MPF nº 87, de 3 de agosto de 2006, e Resolução MPRJ nº 1.769, de 6 de setembro de 2012, que disciplinam o inquérito civil no âmbito do Ministério Público Federal e Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, respectivamente.
3.3.1Instauração
O inquérito civil é instaurado por portaria do órgão de execução de tutela coletiva, de ofício, por despacho em representação devidamente formalizada de qualquer pessoa ou por determinação da Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal ou de Conselho Superior de Ministério Público de Estado, nos casos em que tenha sido recusado o arquivamento de procedimento preparatório de inquérito civil ou de peças de informação, que deve conter a descrição do fato objeto da investigação, nome e qualificação da pessoa a quem o fato é atribuído, sempre que conhecidos, e do autor da representação, se for a hipótese, e determinação das diligências investigatórias.29, 30
3.3.2Instrução
O inquérito civil é instruído com as peças imprescindíveis à apuração da autoria e materialidade da ameaça ou lesão a interesse metaindividual tutelado pela ação civil pública, dispondo o órgão de execução com atribuição para presidir a investigação ministerial da possibilidade de firmar o compromisso de ajustamento de conduta.
O ajustamento de conduta é revestido da natureza jurídica de reconhecimento, pelo qual o compromissário admite a prática da conduta potencial ou efetivamente lesiva aos interesses metaindividuais protegidos na ação civil pública e assume a obrigação de restabelecê-los, sujeitando-se à fiscalização do compromitente.
O ajustamento de conduta pode ser firmado extrajudicial ou judicialmente, limitando-se a exigir do compromissário o cumprimento das obrigações necessárias à prevenção ou reparação do dano. No primeiro caso, o termo é celebrado no inquérito civil, sem homologação judicial, de forma que o título executivo extrajudicial pode fundamentar a execução por quantia certa contra devedor solvente dos valores estipulados como cominação. No segundo caso, o termo é celebrado na ação civil pública, com homologação judicial, de modo que o título executivo judicial pode fundamentar a execução da obrigação de fazer ou não fazer que o compromissário tenha assumido.
O ajustamento de conduta é diferente do acordo de leniência, que pode ser celebrado entre os órgãos e entidades públicas e as pessoas jurídicas responsáveis pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo, e do ajustamento de gestão, que pode ser concluído pelo Tribunal de Contas para regularizar atos e procedimentos dos órgãos e entidades públicas por ele controlados.
Os órgãos públicos legitimados ativamente para a ação civil pública, excluídas as associações que, concomitantemente, estejam constituídas há pelo menos um ano e incluam, entre suas finalidades institucionais, a tutela jurisdicional do consumidor, livre concorrência, meio ambiente, ordem econômica ou patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, podem celebrar o compromisso de ajustamento de conduta, devendo o órgão ministerial com atribuição para a defesa coletiva do interesse em jogo intervir nos autos do processo administrativo ou judicial, na hipótese em que o termo de compromisso de ajustamento de conduta não tenha sido firmado pelo Ministério Público, sob pena de ineficácia da avença.31, 32
3.3.3Encerramento
O inquérito civil é encerrado após a conclusão das diligências investigatórias, mediante relatório, com despacho no sentido do arquivamento do procedimento administrativo ou propositura da ação civil pública, instruída ou não com os autos daquele.
A propósito, não se convencendo o órgão de execução do Ministério Público da existência de substrato probatório mínimo para a propositura de ação civil pública, deve promover, por meio de promoção fundamentada, o arquivamento do inquérito civil, encaminhando-o à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal ou Conselho Superior de Ministério Público de Estado, que pode tomar as seguintes providências: homologar a promoção de arquivamento, ressalvada a possibilidade de desarquivamento, se novas provas surgirem sobre o fato apreciado; converter o julgamento em diligência para a realização de atos imprescindíveis à deliberação do organismo colegiado, especificando-as, ou rejeitar a promoção de arquivamento, com a designação de outro membro do Parquet para o prosseguimento do inquérito civil.33
OBJETO
A ação civil pública, considerando a natureza do provimento jurisdicional, pode resultar em processo de conhecimento, execução ou cautelar.34
Com respeito ao processo de conhecimento, a decisão de procedência do pedido formulado na ação civil pública pode ser dotada de natureza meramente declaratória, constitutiva ou condenatória, como, por exemplo, nas hipóteses de declaração de nulidade, anulação de ato lesivo e reparação ou ressarcimento de dano a interesse metaindividual, à luz do art. 3º da Lei nº 7.347/85.35
Com relação ao processo de execução, o Ministério Público é titular de legitimação ativa para a ação executiva, com fundamento no título executivo judicial obtido em sede de ação civil pública, desde que o autor coletivo não tenha promovido a execução ou tenha desistido da execução promovida, facultada a iniciativa aos demais legitimados ativos, a teor do art. 15 da Lei nº 7.347/85.36
Com referência ao processo cautelar, as medidas cautelares podem ser concedidas no bojo da ação civil pública, ainda que liminarmente, desde que não esgotem, no todo ou em parte, o objeto da ação ou não haja vedação legal para a concessão de igual medida por meio de mandado de segurança, à vista do art. 4º da Lei nº 7.347/85 e art. 1º, caput e § 3º, da Lei nº 8.437/92.
COMPETÊNCIA
A competência para processo e julgamento da ação civil pública é firmada pelo local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, excetuada a competência da Capital do Estado, para os danos de âmbito regional, e do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional, de acordo com o art. 2º, caput, da Lei nº 7.347/85 e art. 93, incs. I e II, da Lei nº 8.078/90.38
Sobre a competência para processo e julgamento de ação civil pública de interesse da União, entidade autárquica ou empresa pública federal, na condição de autora, ré, assistente ou opoente, tendo o dano ocorrido em local desprovido de Vara Federal, unanimidade não existe na doutrina e jurisprudência. José dos Santos Carvalho Filho, com apoio da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, defende que o Juízo de Direito do local do dano seria competente para processo e julgamento,39 eis que “a ação civil pública deve ser ajuizada no foro do local onde ocorreu o dano a que se refere o art. 2º da Lei nº 7.347/85. Se se trata de Comarca em que não há Juízo Federal, será competente o Juízo de Direito, cabendo a interposição de recurso para o Tribunal Regional Federal”.40 Hugo Nigro Mazzilli, com aplauso da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, entende que o Juízo Federal da circunscrição judiciária em que tenha ou deveria ter ocorrido o dano seria competente para processo e julgamento da ação civil pública,41 dado que “como o Juízo Federal também tem competência territorial e funcional sobre o local de qualquer dano, impõe-se a conclusão de que o afastamento da jurisdição federal, no caso, somente poderia dar-se por meio de referência expressa à Justiça Estadual, como o fez o art. 109, § 3º, da CRFB em relação às causas de natureza previdenciária, o que na hipótese não ocorreu”.42PARTES
A pertinência subjetiva da lide, no âmbito do processo da ação civil pública, pode ser analisada sob a perspectiva ativa e passiva.
A legitimidade ativa é concedida ao Ministério Público, União, Estados, Distrito Federal, Municípios, autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista e associações que, concomitantemente, estejam constituídas há pelo menos um ano e incluam, entre suas finalidades institucionais, a tutela jurisdicional do consumidor, livre concorrência, meio ambiente, ordem econômica ou patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Nessa ordem de ideias, as normas veiculadas pelo art. 5º, inc. II, da Lei nº 7.347/85 e art. 4º, inc. VII, da Lei Complementar nº 80/94, com as redações que lhes foram atribuídas pela Lei nº 11.448/07 e Lei Complementar nº 132/09, estenderam à Defensoria Pública a legitimação ativa para a ação civil pública. Outrossim, quanto à amplitude da legitimidade ad causam, Teori Albino Zavascki, Luiz Rodrigues Wambier, Teresa Arruda Wambier e José Garcia Medina salientam que “as ações civis públicas suscetíveis de serem propostas pela Defensoria Pública restringem-se àquelas em que os bens a ser tutelados digam respeito aos interesses das pessoas carentes de recursos financeiros”,43 uma vez que “o ajuizamento de ações civis públicas por parte da Defensoria Pública, assim, deve amoldar-se aos arts. 5º, inc. LXXIV, e 134 da CRFB. Interpretação extensiva poderia ensejar o desvirtuamento da Defensoria Pública, permitindo que a Instituição se desviasse de sua missão constitucional, movendo ações que não tenham a ver com os interesses dos necessitados”,44 à medida que Ariosvaldo de Góis Costa Homem e Aluísio Iunes Monti Ruggeri Ré sustentam que “dentro de um processo coletivo, pode haver algum beneficiado pela ação civil pública que não seja hipossuficiente econômico. É uma função atípica da Defensoria Pública”.45 “A pertinência temática, como espécie de limitação à tutela coletiva, deve ter uma verificação flexível e ampla, sob pena de sacrificarmos o direito fundamental de acesso à justiça”.46 Pela interpretação jurisprudencial, conquanto houvesse sido decidido que “diante das funções institucionais da Defensoria Pública, haveria, sob o aspecto subjetivo, limitador constitucional ao exercício de sua finalidade específica – a defesa dos necessitados –, de maneira que a legitimação deveria ser restrita às pessoas notadamente carentes”,47 formou-se o entendimento de que “a ação civil pública é capaz de garantir a efetividade de direitos fundamentais de pobres e ricos a partir de iniciativa processual da Defensoria Pública”.48
A legitimidade passiva é conferida a qualquer pessoa, natural ou jurídica, pública ou privada.
Sem embargo da legitimidade ad causam que dispõem as categorias, classes e grupos, a ação coletiva passiva é traduzida como “ação promovida não pelo, mas contra uma coletividade organizada. A pedra de toque para o cabimento dessa ação é a representatividade adequada dos legitimados passivos, acompanhada do interesse social. A ação coletiva passiva pode ser admitida para a tutela de interesses difusos ou coletivos, pois esse é o caso que desponta na defendant class action do sistema norte-americano”
DECISÃO
A decisão de procedência, conforme a pretensão deduzida em juízo ou tribunal, é retratada pela natureza meramente declaratória ou constitutiva (v. g.: declaração de nulidade ou anulação de ato lesivo a interesse metaindividual), sem prejuízo da natureza condenatória (v. g.: reparação ou ressarcimento de dano imaterial ou material a interesse transindividual), tendo a coisa julgada material sido dividida em três hipóteses.
A primeira é referente à ação civil pública para a defesa de interesses difusos, de arte que, nas hipóteses de procedência e improcedência por inexistência de fundamento, a coisa julgada é produzida, erga omnes, para todos os membros da coletividade, ao passo que, na hipótese de improcedência do pedido por deficiência de prova, a coisa julgada não é promovida, havendo a possibilidade de propositura de outra ação civil pública com novas provas.51
A segunda é relativa à ação civil pública para a defesa de interesses coletivos, de molde que, nas hipóteses de procedência e improcedência por inexistência de fundamento, a coisa julgada é produzida, ultra partes, para todos os membros da categoria, classe ou grupo, enquanto na hipótese de improcedência do pedido por deficiência de prova, a coisa julgada não é promovida, havendo a possibilidade de propositura de outra ação civil pública com novas provas.
A terceira é respeitante à ação civil pública para a defesa de interesses individuais homogêneos, de sorte que, na hipótese de procedência, a coisa julgada é produzida, erga victimae, para todas as vítimas e seus sucessores, havendo a necessidade de cada um, mediante habilitação em execução, provar o dano e relação de causalidade, ao passo que, na hipótese de improcedência do pedido por inexistência de fundamento ou deficiência de prova, a coisa julgada não é promovida, havendo a possibilidade de propositura de ação individual, com vistas ao ressarcimento ou reparação de todas as vítimas e seus sucessores que não tiverem intervindo no processo coletivo como litisconsortes, de acordo com o art. 16 da Lei nº 7.347/85 e arts. 103 e 104 da Lei nº 8.078/90.53.

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