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1 INSTITUTO DE VETERINÁRIA - IV DEPARTAMENTO DE MEDICINA E CIRURGIA VETERINÁRIA IV – 340 ANESTESIOLOGIA E TÉCNICAS CIRÚRGICAS MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO APOSTILA I SUTURAS SEROPÉDICA 2018 - I 2 ORGANIZAÇÃO MARTA FERNANDA ALBUQUERQUE DA SILVA PROFESSORA TITULAR ROSANA PINHEIRO BOTELHO PROFESSORA ASSOCIADA ANA CAROLINA DE SOUZA CAMPOS MESTRANDA DO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA JULIANA LETÍCIA ROSSETTO MARQUES EX MONITORA DE ANESTESIOLOGIA E TÉCNICAS CIRÚRGICAS REVISÃO TÉCNICA MARTA FERNANDA ALBUQUERQUE DA SILVA REVISÃO ANA CAROLINA DE SOUZA CAMPOS MARIA EDUARDA DOS SANTOS LOPES FERNANDES DIAGRAMAÇÃO ANA CAROLINA DE SOUZA CAMPOS JULIANA LETÍCIA ROSSETTO MARQUES SEROPÉDICA 3 ÍNDICE 1. Conceito de Sutura.......................................................................................................5 2. Condições Para Uma Sutura Ideal..............................................................................5 2.1 Antissepsia e assepsia adequadas dos tecidos e instrumentais cirúrgicos..5 2.2 Hemostasia perfeita.......................................................................................5 2.3 Supressão dos espaços mortos.....................................................................5 2.4 Bordas da ferida limpas e sem anfractuosidades.........................................6 2.5 Ausência de corpos estranhos e de tecidos mortos.....................................6 2.6 Posição anatômica correta............................................................................6 2.7 Trações adequadas sobre o fio......................................................................6 2.8 Força do Tecido..............................................................................................7 3. Fios de Sutura..............................................................................................................7 3.1 Características Gerais.....................................................................................7 3.1.1 Diâmetro do Fio................................................................................7 3.1.2 Composição do Fio...........................................................................7 3.1.3 Capilaridade e Aderência Bacteriana..............................................8 3.1.4 Inatividade Biológica.......................................................................8 3.1.5 Fácil manejo....................................................................................9 3.1.6 Baixo índice de fricção...................................................................9 3.1.7 Tempo de absorção determinado.................................................9 3.1.8 Calibre uniforme.............................................................................9 3.1.9 Plasticidade.....................................................................................9 3.1.10 Memória........................................................................................9 3.2 Força de Tensão............................................................................................9 3.3 Classificação dos Fios....................................................................................10 3.3.1 Fios Absorvíveis..............................................................................10 3.3.2 Fios Inabsorvíveis...........................................................................13 4. Agulhas Cirúrgicas.....................................................................................................16 4.1 Classificação das agulhas..............................................................................16 4 4.1.1 Agulhas atraumáticas......................................................................17 4.1.2 Agulhas traumáticas.......................................................................17 4.2 Formato das agulhas....................................................................................17 4.3Fundo das agulhas.........................................................................................18 5. Suturas........................................................................................................................19 5.1 Tipos de suturas............................................................................................19 5.1.1 Suturas interrompidas/ Suturas contínuas....................................19 5.1.3 Suturas aposicionais/ Suturas invaginantes/ Suturas evaginantes...................................................................................................................20 5.2 Padrões de sutura........................................................................................20 5.2.1 Suturas interrompidas...................................................................20 5.2.2 Suturas contínuas..........................................................................25 5.2.3 Suturas compostas........................................................................29 5.3 Retirada dos fios de sutura.........................................................................29 6. Referências................................................................................................................30 5 1. Conceito de Sutura As suturas são realizadas através de um conjunto de manobras manuais e/ou instrumentais a fim de repararem feridas, já que são capazes de promover hemostasia e conferir suporte até a reparação tecidual, restabelecendo assim a forma e função dos tecidos. Diversos são os materiais que podem ser utilizados para a confecção de suturas, sendo os fios os mais amplamente empregados. Além do uso de fios, é possível utilizar materiais como as esponjas hemostáticas, ceras para ossos, cola cirúrgica, grampos metálicos, entre outros. Segundo Fossum (2014) tecidos diferentes possuem requisitos distintos no que se refere ao tempo de suporte da sutura, e cicatrizam em diferentes taxas; alguns tecidos necessitam do auxílio da sutura por somente poucos dias (músculos, tecido celular subcutâneo e pele), enquanto outros requerem semanas (fáscias), ou até meses (tendões). 2. Condições Para Uma Sutura Ideal Conforme Lazzeri (1977) para que ocorra uma adequada cicatrização da ferida cirúrgica as suturas deverão reunir as seguintes condições: 2.1 Antissepsia e assepsia adequadas dos tecidos e instrumentais cirúrgicos A infecção pode se instalar em um organismo por meio de contaminação intrínseca ou extrínseca (GOFFI, 1984), sendo a intrínseca a mais comum em feridas cirúrgicas, devido à presença da microbiota endógena (FOSSUM, 2014). Além da utilização de material cirúrgico devidamente estéril (como panos de campo, compressas, instrumentais e fios), deve-se proceder de forma criteriosa com a antissepsia, a fim de diminuir ao máximo a taxa de microrganismos patogênicos na superfície do animal. É necessário também que sejam realizados os devidos cuidados de antissepsia e assepsia da equipe e no centro cirúrgico. 2.2 Hemostasia Caso a sutura não seja bem efetuada haverá acúmulo de sangue entre os tecidos os distanciando, prejudicando assim a cicatrização e predispondo o tecido à contaminação. 2.3 Supressão dos espaços mortos A formação de espaço morto dificulta a cicatrização devido à deposição de serosidades do organismo, deposição esta que facilita a proliferação bacteriana e dificulta a migração celular. 6 Deve-se evitar o excesso de divulsão durante a diérese, o que provoca separação exagerada entre os tecidos. A redução de espaço morto é obtida com a utilização de sutura em Guarda Grega ou Colchoeiro (ver adiante) no tecido celular subcutâneo e, nas suturas de pele, deve ser promovidaa aposição das margens da ferida cirúrgica. 2.4 Margens da ferida limpas e sem anfractuosidades É importante que a incisão nos tecidos seja feita em corte único, a fim de tornar a cicatrização mais eficiente, pois em feridas anfractuosas (irregulares) as bordas não se encontram em justaposição. Nessas situações o cirurgião deverá regularizar as margens da ferida o mais rápido possível para não prejudicar o processo cicatricial. 2.5 Ausência de corpos estranhos e de tecidos mortos Durante a realização de intervenções cirúrgicas é de grande importância o cuidado em evitar a presença de corpos estranhos (como fios de sutura, gazes, algodão, coágulos e etc.) contribuindo para um adequado processo de cicatrização. 2.6 Posição anatômica correta Na execução de uma sutura é preciso restaurar a forma dos tecidos que foram incisados ou rompidos, realizando as suturas unindo os componentes lesionados, plano por plano lançando mão dos fios e suturas adequados para cada caso. 2.7 Trações adequadas sobre o fio Não é apropriado apertar as suturas e os nós com força inadequada, uma vez que, dependendo da pressão empregada, pode levar os tecidos à isquemia e, consequentemente, necrose tecidual. Em contrapartida, promover uma tensão muito baixa dos nós e nas suturas, poderá gerar deiscência da sutura além de interferir na justaposição das margens da incisão, comprometendo no processo cicatricial. 7 Figura 1. Exemplos de nós aplicados com alta força de tensão.1 2.8 Força do Tecido Uma sutura deve ser pelo menos tão forte quanto o tecido através do qual ela passa (BOJRAB, 1996). O teor e a orientação das fibras de colágeno correspondem à força do tecido, o que confere competência ao tecido em manter a sutura. Em ordem crescente de força dos tecidos temos: gordura, tecidos viscerais, músculo, pele e fáscias. 3. Fios de Sutura 3.1 Características Gerais 3.1.1 Diâmetro do Fio A escala numérica mais utilizada para a classificação do diâmetro (em polegadas) dos fios de sutura é a criada pela USP (United States Pharmacopeia)2, que varia de 10-0 (menor diâmetro) até 7 (maior diâmetro). Os fios utilizados nas cirurgias em pequenos animais estão na faixa de diâmetro entre calibres 4-0 e 1. 3.1.2 Composição do Fio Os fios de sutura podem ser multifilamentares ou monofilamentares. Os fios multifilamentares propiciam uma maior capacidade de instauração de colônias bacterianas entre seus filamentos e, consequentemente, proliferação destes 1 www.anaisdedermatologia.org.br 12-0 11-0 10-0 9-0 8-0 7-0 6-0 5-0 4-0 3-0 2-0 1-0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 A B microorganismos. Nos locais acometidos por processos infecciosos é indicada a utilização de fios monofilamentares, assim como em suturas de pele, onde a ferida encontra-se em contato com o meio externo naturalmente provido de patógenos. Figura 22. Características filamentares de alguns fios de sutura. 3.1.3 Capilaridade e Aderência Bacteriana A capilaridade de um fio se relaciona com sua habilidade de aderência bacteriana. Desta forma, quanto mais espessadas e numerosas forem as tramas dos fios multifilamentares, maior será a possibilidade de aderência bacteriana, enquanto que fios monofilamentares possuem uma menor capacidade de aderência. Figura 3. A. Microscopia eletrônica de aderência bacteriana num fio de Nylon. B. Representação de aderência bacteriana num fio Categute cromado (BOOTH, 1998). 3.1.4 Inatividade Biológica 2 <http://i00.i.aliimg.com/photo/v0/105011632/Surgical_Suture_thread.jpg>. Acessado em: 07/05/2014. 9 É essencial o uso de fios livres de substâncias irritantes, pois elas podem desencadear processos de dor, reações alérgicas, febre, entre outros. 3.1.5 Fácil manejo O manejo do fio de sutura depende das características individuais de cada fio, associando o material utilizado, o tipo de tratamento que este fio recebe, o calibre e o tipo de filamento irão proporcionar ou não um fácil manejo daquele fio. 3.1.6 Baixo índice de fricção Os fios devem ter um controle de qualidade rígido, pois fios com superfície irregular lesionam os tecidos durante a execução das suturas. 3.1.7 Tempo de absorção determinado Na escolha dos fios de sutura é necessário saber de forma antecipada o tempo de absorção de cada fio, associando-se ao procedimento cirúrgico que será realizado. Nas embalagens é possível verificar esse tipo de informação ou ainda em tabelas disponíveis em livros e sites especializados. 3.1.8 Calibre uniforme Os fios não devem possuir arestas. Deve-se dar preferência a fios já acoplados às agulhas, pois estes são uniformes em todo seu comprimento, diferente dos fios que devem ser colocados em agulhas livres, pois a região da agulha em que o fio passa é mais larga, podendo promover traumas maiores aos tecidos. 3.1.9 Plasticidade É a capacidade do fio de se manter sob nova forma. 3.1.10 Memória Um fio de alta memória apresentará maior resistência durante sua manipulação, ou seja, sua memória está relacionada com sua capacidade de retorno à forma inicial. A memória varia conforme a composição dos mesmos e o processo pelo qual foram submetidos. Fios com alta memória, como o Nylon monofilamentar, dificultam a manipulação e possuem menor segurança no nó. 3.2 Força de Tensão Existe uma grande tensão nos tecidos recém-suturados, observando uma tendência a voltar à sua posição original de incisão. O fio e a sutura devem ser resistentes o suficiente para manter a contraposição de força realizada pelo tecido e, conforme o processo de cicatrização é realizado, essa força de tensão irá diminuir 10 formando a cicatriz, mantendo assim as estruturas anatômicas em seu local correto sem a necessidade da tensão realizada pelo fio cirúrgico. 3.3 Classificação dos Fios 3.3.1 Fios Absorvíveis Os fios absorvíveis possuem alta força de tensão inicial, mas esta decresce rapidamente pois estes fios são degradados por macrófagos ou por hidrólise. ü Fio absorvível orgânico multifilamentar Composto basicamente de colágeno, pode ser preparado tanto da submucosa do intestino delgado de ovinos ou da camada serosa do intestino delgado de bovinos. É um material capilar, multifilamentoso, composto de muitas tiras que são torcidas em máquinas, polidas de maneira a ter uma superfície regular e macia. O categute é o material de sutura absorvível não sintético mais comumente utilizado na rotina cirúrgica. Atualmente a sua utilização foi reduzida substancialmente na medicina veterinária com o advento de materiais de sutura monofilamentar, absorvíveis sintéticos fortes. O categute é feito da submucosa do intestino do carneiro ou da serosa do instestino de bovinos e consiste em 90% de colágeno. A absorção do categute após seu implante obedece a um mecanismo de duas partes, primeiramente ocorrendo a perda da tensão de estiramento que resulta na separação molecular por ação de ácidos hidrolíticos e atividades colagenolítica e, por fim, há a digestão e absorção feitos por enzimas proteolíticas que ocorrem tardiamente. O categute, por conta de sua composição, causa uma reação nos tecidos semelhante àquelas causadas por corpos estranhos. Além disso, o categute possui uma grande variação na perda de tensão, o que o coloca em posição inferior quando comparado aos fios sintéticos absorvíveis. Quando o categute é exposto às secreções ácidas (como a pepsina no estômago), a um ambiente infectado ou tecidos muito vascularizados, há uma absorção prematura desse fio. O categute cirúrgico está disponível na forma simples (absorção rápida, de aproximadamente 8 dias) e cromado(de absorção mais lenta, aproximadamente 20 dias). O tratamento com sais de cromo resulta em um aumento das ligações 11 intermoleculares, tendo como resultado o aumento da tensão superficial e a resistência à digestão, com decréscimo da reatividade tecidual. 3 Figura 44. Fio categute cromado. Figura 55. Detalhe do fio com agulha Figura 66. Fio categute simples. A vantagem da utilização do categute está no fácil manuseio. Por outro lado, apresenta como desvantagem a reação inflamatória provocada, ocasionando na irregularidade da absorção. ü Fio absorvível sintético multifilamentar Estes fios foram desenvolvidos para reduzir a variação na absorção e consequente perda de tensão. 3 http://www.ufjf.br/metodologia/files/2011/08/Fios-cir%C3%BArgicos.pdf 4 http://hoyfarma.com/online/index.php/dispositivo-medicos/suturas/catgut-cromado-con-aguja-assut- sutures-detail 5 https://www.enasco.com/prod/images/products/43/AC050090l.jpg 6 http://www.plastsuture.com.br/fotos/2014-02-12_Catgut%20Simples_catgut_simples.jpg 12 • Ácido poliglicólico (PGA) É um polímero multifilamentoso proveniente do ácido glicólico. O método de absorção difere do categute por ser absorvido por hidrólise e não fagocitose, possivelmente através das esterases. Uma característica importante é a grande redução no processo inflamatório quando comparado ao categute. A absorção completa ocorre usualmente em 100 a 120 dias. Figura 77. Fio de sutura de Ácido poliglicólico (PGA). • Poliglactina 910 É uma fibra sintética trançada, constituída de ácido glicólico e lático. Em relação ao PGA, o Poliglactina 910 é mais resistente à hidrólise e, portanto, possui um tempo de absorção que varia de 60 a 90 dias. É mais forte que o PGA em todo tempo do implante, principalmente de 0 a 35 dias. Esta sutura perde 50% de sua tensão depois de 14 dias e 80% após 21 dias. Sua absorção não depende do diâmetro da sutura. É mais forte que o categute, e é bem tolerado em muitas condições diferentes em feridas. Não promove nenhuma manifestação vascular aguda após o implante. 7 http://coral.ufsm.br/tielletcab/HVfwork/img/DEXONII.jpg 13 Figura 88. Poliglactina 910 – detalhe do trançado. Dentro dessa categoria, podem ser citados os seguintes fios: Ácido poliglicólico, poliglactina 910 e poliglactina 910 encapada (diminui sua capilaridade e aumenta o tempo de absorção). ü Fio absorvível sintético monofilamentar • Poliglecaprone É um fio sintético monofilamentar, composto de um copolímero de glicolida e epsilon-caprolactona. A perda progressiva da força tênsil e eventual absorção do Pologlecaprone ocorrem por meio da hidrólise. A absorção se inicia com uma perda de força tênsil seguida por perda de massa. A absorção completa do fio varia entre 90 e 120 dias.9 Por ser um fio monofilamentar, possui característica importante de menor capacidade de aderência bacteriana associada com a capacidade de absorção, possuindo condição bastante inerte no organismo. Figura 9. Fio Poliglecaprone10 3.3.2 Fios Inabsorvíveis 8 http://www.pregnancy.com.au/shop/product_images/i/173/2-0-vicryl__09098_zoom.jpg 9 http://br.ethicon.com/profissionais-da-saude/produtos/fechamento-da-ferida/monocryl- poliglecaprone-25#!descrição-e-especificação 10 http://www.pmd-medical.com/iso_datasources/synchro00010809/album/products/w102010.jpg 14 ü Fios Inabsorvíveis Orgânicos Multifilamentares • Seda A seda é obtida do casulo da larva do bicho da seda. Apesar de ser classificada como um fio de sutura inabsorvível, ela pode ser absorvida a longo prazo. Em 2 anos, aproximadamente, perde toda sua tensão. Possui as vantagens de ser um fio barato, de fácil manuseio e segurança na confecção dos nós, por outro lado, apresenta uma maior reação tecidual quando comparada com outros fios inabsorvíveis. Figura 10. Fio de seda trançado11 e sua estrutura12. • Linho O fio de sutura de linho é de origem vegetal, confeccionado a partir da planta do linho. Apresenta grande maleabilidade e alta resistência tênsil. Normalmente ele é indicado em suturas de aproximação ou de ligação dos tecidos em geral, incluindo procedimentos gastrointestinais. Este fio de sutura apresenta uma reação inflamatória aguda mínima nos tecidos. Por ser um produto capilar, potencializa a infecção quando implantado. É um fio cirúrgico de grande maleabilidade, facilita os nós, com bom coeficiente de fricção. Sua perda de tensão é lenta e o encapsulamento é gradual pelo tecido conjuntivo fibroso. É contra indicado em procedimentos onde não haja estímulo à reação inflamatória13. 11 http://www.santaapolonia.com.br/fotos/54440012042013024117.jpg 12 http://www.biolinefios.com.br/upload/seda.jpg 13 http://www.vitalsuturas.com.br/pdf/Bula%20Fio%20de%20Linho.pdf 15 Figura 11. Fio de linho e sua estrutura. 14 • Algodão O algodão possui fibras naturalmente torcidas. Quando molhado, há o aumento de sua tensão de estiramento, apresentando melhor segurança nos nós quando comparado com a seda. Os inconvenientes são que o algodão provoca uma reação tecidual semelhante à seda, potencializa infecções e não apresenta bom manuseio. Figura 12. Fio de algodão e sua estrutura15. ü Fios Inabsorvíveis Sintéticos Multifilamentares • Poliéster É um fio multifilamentoso, com apresentação simples ou coberta (com teflon ou silicone, por exemplo). É considerada a sutura não metálica mais forte que existe, oferecendo um bom suporte para tecidos de longa cicatrização. Por outro lado, apresenta manuseio limitado, com alto grau de fricção, não há muita segurança nos nós (recomenda-se cinco nós) e é a mais reativa de todas as suturas sintéticas. Figura 13. Fio de poliéster e sua estrutura16. 14http://www.polymedbrasil.com/site/components/com_virtuemart/shop_image/product/resized/Linh o_4f4d479e71b2e_608x263.jpg 15www.polymedbrasil.com/site/components/com_virtuemart/shop_image/product/resized/Algod__o_ 4f4d47188aba8_608x263.jpg 16http://www.polymedbrasil.com/site/components/com_virtuemart/shop_image/product/resized/Poli_ _ster_4f4d4874706d1_608x263.jpg 16 ü Fios Inabsorvíveis Sintéticos Monofilamentares São fios que apresentam alta memória. Após sua implantação, perdem cerca de 30% de sua tensão de estiramento em dois anos. A perda dessa tensão está associada a degradação química do nylon. Como vantagem apresenta as características de ser inerte e é altamente utilizada como material de sutura. A incidência de infecção em tecidos contaminados contendo nylon é mais baixa do que qualquer outro material de sutura não absorvível, com exceção do polipropileno. Pode ser utilizado em qualquer tecido, porém não é recomendado para cavidade serosa ou sinovial, devido a irritação causada pela fricção das pontas do fio. Por outro lado, seu manuseio é difícil e possui pouca segurança nos nós. Figura 14. Fio de nylon17 e sua estrutura18. 4. Agulhas Cirúrgicas 4.1 Classificação das agulhas As agulhas cirúrgicas estruturalmente são divididas em ponta, corpo e fundo, e podem ser classificadas em atraumáticas e traumáticas. 4.1.1 Agulhas atraumáticas Geralmente a ponta e o corpo das agulhas atraumáticas não possuem forma de lâminas cortantes, seu formato é mais cônico e quando se promove um corte transversal desta agulha nota-se um corpo cilíndrico. Figura 15. Características de uma agulha atraumática19. 17 http://www.dentalcremer.com.br/cremer/Assets/product_images/grandes/379853.jpg 18 http://www.biolinefios.com.br/upload/nylon.jpg19 http://dc105.4shared.com/img/EXSPCGdg/preview.html 17 4.1.2 Agulhas traumáticas Possuem algumas lâminas de corte. A ponta pode variar de formato, mas, geralmente, é cortante. São utilizadas em cirurgias de pele, tendões, ligamentos, entre outros. Figura 16. Características de uma agulha atraumática20. 4.2 Formato das agulhas As agulhas possuem diversos formatos como ¼ de círculo, 3/8 de círculo, ½ círculo, 5/8 de círculo, ½ curva e reta. A escolha do formato da agulha vai depender de diversos fatores, dentre eles a anatomia do animal. Em casos em que o plano cirúrgico torna-se muito profundo dá-se preferência a agulhas mais fechadas, para evitar lesão de tecidos adjacentes, pois essas agulhas necessitam de uma mínima movimentação para realizar a sutura. As agulhas retas são mais utilizadas em cirurgias de grandes animais. Figura 17. Exemplos de formatos de agulhas21. 4.3 Fundo das agulhas Podem ser classificados em verdadeiros ou falsos (Benjamin). Em geral, as agulhas mais comumente utilizadas na rotina clínica possuem o fundo contínuo com o fio a ser utilizado. 20 http://dc105.4shared.com/img/EXSPCGdg/preview.html 21 http://image.made-in-china.com/2f0j00JMUEmjLPAZrg/Surgical-Suture-Needles.jpg 18 Figura 18. Fundo de agulha verdadeiro à esquerda e falso à direita22. Figura 19. Fio de Nylon agulhado. 5. SUTURAS Segundo Fossum (2014) os padrões de sutura podem ser classificados pela forma como justapõem o tecido em interrompidas e contínuas ou pelo tipo de tecido que primariamente aproximam. Parra e Saad (1987) afirmam ainda que as suturas também podem ser caracterizadas de acordo com a espessura envolvida num determinado plano, em perfurantes totais e perfurantes parciais e pela permanência, em permanentes e removíveis. 5.1 Tipos de suturas 5.1.1 Suturas interrompidas/ Suturas contínuas As suturas descontínuas são as mais utilizadas no geral por serem muito versáteis apesar de terem a execução mais demorada. Tais suturas são mais fortes que as suturas contínuas, promovem uma maior força de tensão além de serem menos isquemiantes quando bem efetuadas. Quando a sutura é bem confeccionada 22 http://dc105.4shared.com/img/EXSPCGdg/preview_html_5c006a7a.jpg 19 mantém uma adequada aposição das margens da incisão ou ferida e ainda permite mobilidade tecidual entre as suturas. Uma desvantagem deste tipo de sutura é a cicatrização deficiente nos casos em que a tensão excessiva gera inversão da pele, devido à diminuição da vascularização nas margens da ferida. Por isso, deve-se assegurar que as suturas de pele estejam frouxas e que as margens estejam justapostas e não invertidas. É possível citar como exemplo deste padrão de sutura a “U” horizontal, “U” na vertical e a sutura em “X”. As suturas contínuas são mais rápidas na execução, realizam oclusão hermética, utilizam menos material, diminuindo a resposta do organismo sobre a linha de sutura (visto como corpo estranho). Elas apresentam a desvantagem de na presença de um ponto frouxo, toda a sutura será comprometida e as bordas da incisão não estarão aproximadas o suficiente o que dificultará a cicatrização. Além disso, as suturas contínuas conferem menor controle da tensão e, no caso de rompimento do fio, toda a sutura poderá ser perdida. Suturas simples contínuas, festonadas e colchoeiro são exemplos de padrão de sutura contínuos. 5.1.2 Suturas aposicionais/ Suturas invaginantes/ Suturas evaginantes Suturas aposicionais facilitam o processo cicatricial devido ao contato das margens da incisão ou ferida, proporcionando uma adequada reepitalização durante a cicatrização. A força de tensão não promove eversão, inversão ou estrangulamento da borda da ferida evitando isquemia local e uma cicatrização deficiente. Um exemplo de sutura aposicional é a sutura em “X”. As suturas inversoras, ou invaginantes, seguem um padrão seromuscular, ou seja, são realizadas abrangendo a serosa e a camada muscular de órgãos ocos. A função destas suturas é invaginar as margens da incisão ou ferida, ou simplesmente voltar as margens para a luz do órgão oco. Uma sutura considerada invaginante é a de Cushing. As suturas eversoras, ou evaginantes, evertem as margens teciduais da incisão ou ferida. Tanto as suturas invaginantes quanto as evaginantes retardam a cicatrização. A sutura em “U” é capaz de everter as margens da incisão. 5.2 Padrões de sutura 5.2.1 Suturas Interrompidas ü Interrompida simples É uma sutura versátil e fácil de ser realizada. É justaposta, no entanto pode invaginar as margens teciduais em situações que, durante a execução do nó, aplica- se grande tensão causando inversão das bordas (cicatrização deficiente). 20 Figura 20. Demonstração da sutura interrompida simples. ü “U” na horizontal (colchoeiro horizontal) Esta sutura é mais conveniente em áreas de tensão, no entanto, há possibilidade de eversão das bordas do ferimento. Ela deve ser feita através do tecido de forma que passe logo abaixo da derme. Quando esta sutura é empregada na pele recebe o nome de Wolff. Figura 21. Demonstração da sutura “U” na horizontal. ü “U” na vertical (colchoeiro na vertical ou Donatti) Esta sutura possui como indicação o uso em áreas tensas, entretanto, se comparada com a sutura em “U” na horizontal, ela é mais forte já que a agulha não avança ao longo da incisão. Apesar de ser relativamente mais demorada na execução, ela proporciona uma ótima coaptação das margens da incisão (PARRA; SAAD, 1987) além de não everter as margens da ferida cirúrgica por isso é usada quando as margens tendem a invaginar-se. “U” na vertical é comumente usada em sutura de pele quando há tensão. 21 Figura 22. Demonstração da sutura “U” na vertical. ü Halsted O padrão Halsted é outro padrão interrompido de colchoeiro, que é uma modificação de um teste padrão de lembert contínuo. É possível realiza-la incluindo as camadas serosa e muscular ou serosa até submucosa. Ela promove invaginação das bordas da ferida cirúrgica, possui a mesma indicação que a sutura de Lembert interrompida. Figura 23. Demonstração da sutura halsted. ü Em “X” (cruzada) A sutura em “X” é uma modificação das suturas de colchoeiro, ela é indicada para locais com tensão e é usualmente empregada em suturas de pele. Ela pode ser feita com o nó voltado para o exterior ou para o interior do ferimento. 22 Figura 24. Demonstração da sutura em “X” ou cruzada. ü Gambee Segundo Fossum (2014) este padrão de sutura é usado em cirurgias intestinais com o intuito de diminuir a eversão da mucosa reduzindo a saída de conteúdo intestinal para o exterior. A B Figura 25 e 26. Demonstração da sutura Gambee: A. Rosin & Osher (1998). B. Fossum (2014). ü Longe-longe-perto-perto Este tipo de sutura reduz a tensão do local suturado além de proporcionar uma aposição das margens do ferimento. É comumente usada em sutura de pele sob tensão. 23 Figura 27. Demonstração da sutura longe-longe-perto-perto. ü Longe-perto-perto-longe Este tipo de sutura reduz a tensão do local suturado além de proporcionar uma aposição das margens da ferida. É frequentemente usada em sutura de pele sob tensão. Figura 28. Demonstração da sutura longe-perto-perto-longe. ü Lembert interrompida Este padrão de sutura permite que as margens da ferida se invaginem. É possível realiza-la incluindo as camadas serosa e muscular ou serosa e submucosa. É indicada para órgãos ocos, como por exemplo, em um segundo plano de sutura no estômago. Figura 29. Demonstração da sutura Lembert interrompida. ü Swift 24 A sutura de Swift é indicada em síntesesesofágicas apesar de outras opções também serem adotadas. Esta sutura é semelhante à interrompida simples, no entanto, ela é iniciada pelo lúmen do órgão e é finalizada também em seu interior, fazendo com que o nó se projete para a luz do órgão. Figura 30. Demonstração da sutura de Swift (Circulo Vermelho). ü Captonada A sutura captonada é uma variação da sutura em “U” na horizontal, ou Wolff. Esta sutura é a introdução de um capton (que pode ser introduzido com parte de equipo estéril, sonda estéril, entre outros) que se localizará entre o fio e o tecido suturado. Normalmente é feita situações de grande tensão e em tecidos com edema (este poderá já estar formado ou se formar após a sutura). O capton protege o tecido contra esgarçamento ou até mesmo rompimento do mesmo. 25 Figura 31. Demonstração da sutura em “U” na horizontal captonada. 5.2.2 Suturas Contínuas ü Simples Contínua Este padrão de síntese consiste em uma série de suturas interrompidas simples com um nó no início e outro no fim. Conforme Fossum (2008) as linhas de sutura simples contínuas proporcionam justaposição máxima dos tecidos suturados e são relativamente resistentes ao ar e aos fluídos se comparadas a suturas interrompidas simples. Figura 32. Demonstração da sutura contínua simples. ü Festonada (Entrelaçada Ford ou Reverdin) Este padrão de sutura permite uma melhor aproximação tecidual se comparado à Simples Contínua, é realizado com facilidade e rapidamente. No entanto, esta sutura possui como desvantagem a produção de isquemia e o uso de mais fio de 26 sutura. É indicado para síntese em órgãos parenquimatosos já que possui característica hemostática. Figura 33. Demonstração da sutura festonada. ü Lembert Lembert é uma variação de um padrão de colchoeiro vertical aplicado de uma forma contínua. É uma sutura invaginante que abrange a camada serosa e a muscular, indicada para órgãos ocos no intuito de reduzir a chance de seu conteúdo se exteriorizar. Lembert é executada com a agulha atravessando o tecido em sentido transversal à linha de incisão. Figura 34. Demonstração da sutura Lembert contínua. ü Cushing É uma sutura invaginante que abrange as camadas serosa e muscular, indicada para órgãos ocos no intuito de reduzir a chance de seu conteúdo se exteriorizar. Cushing é executada em sentido paralelo à linha de incisão. Cushing pode causar excessiva inversão das margens do ferimento. 27 Figura 35. Demonstração da sutura Cushing. ü Connell Esta sutura é semelhante à sutura Cushing, no entanto, abrange todas as camadas de um órgão oco, passando o fio até a luz do órgão (serosa à mucosa). Connell pode causar excessiva inversão das margens do ferimento. Figura 36. Demonstração da sutura Connell. ü Guarda Grega (Colchoeiro) Este padrão de sutura é usado comumente para reduzir o espaço morto criado pela divulsão de tecidos durante o acesso em diferentes cirurgias. A agulha penetra no tecido subcutâneo abaixo da margem da incisão paralelamente. 28 Figura 37. Demonstração da sutura Colchoeiro. ü Intradérmica Este tipo de sutura é realizada de forma à para tornar invisível o fio de sutura, é indicada em cirurgias plásticas (BOTELHO, 2008). A agulha deverá penetrar na derme com o devido cuidado para que não ocorra um ancoramento inadvertido de qualquer dos pontos, o que fixaria o fio à ferida e dificultaria a retirada posterior do mesmo, que deve ser retirado por tração em uma das duas extremidades da sutura (PARRA E SAAD, 1987). É a única sutura contínua que pode ser indicada para a pele, sem risco de provocar isquemia e, consequentemente, prejuízo à cicatrização. Promove excelente aposição das margens da ferida, o que também contribui para o reparo precoce. A presença de somente dois nós (inicial e final) provoca menos incômodo na pele durante o pós-cirúrgico. É vantajosa em animais de difícil manipulação, porque tem a retirada dos pontos facilitada e, em casos extremos, pode ser executada com fio absorvível sintético e nós voltados para o espaço subcutâneo, dispensando a retirada do fio ao término do reparo. ü Bolsa de Tabaco Esta sutura é realizada em torno de pequenos orifícios (acidentais ou não), órgãos ocos (como por exemplo, no estômago), extirpação de apêndice cecal, extremidades seccionadas de intestino, colocação de sondas para alimentação enteral (BOTELHO, 2008). Quando aplicada em vísceras ocas a sutura normalmente abrange somente as camadas serosa e muscular. 29 Figura 38. Demonstração da sutura bolsa de tabaco. 5.2.3 Suturas Compostas ü Parker Kerr Este padrão de sutura é uma associação das suturas invaginantes Lembert e Cushing, é uma associação das duas suturas, cada uma em um plano distinto. É indicada para o fechamento do coto de uma víscera oca (FOSSUM,2008). Esta sutura acarreta na inversão das margens teciduais. Figura 39. Demonstração da sutura de Parker Kerr. 5.3 Retirada dos fios de sutura Em geral, as suturas cutâneas devem ser retiradas uma vez que a cicatrização estiver completa o suficiente para evitar que haja deiscência, o que ocorre na maior parte dos casos, entre 10 a 14 dias após a cirurgia. Entretanto, deve-se sempre avaliar os pacientes individualmente, uma vez que determinadas condições (ex: idade, condição clínica do animal, espécie, dentre outras) podem determinar um prolongamento na cicatrização, o que requer que as suturas permaneçam no local por mais tempo (FOSSUM, 2014). 30 6. Referências Bibliográficas BOJRAD, M. Joseph. II. Birchard, Stephen J. III. Tomlinson, James L. Técnicas atuais em cirurgia de pequenos animais. 3 ed. São Paulo: Roca, 1996. 920 p. BOTELHO, Rosana Pinheiro. Apostila de Suturas. Rio de Janeiro: UFRRJ, 2008. 5 p. FOSSUM, Theresa Welch. Cirurgia de pequenos animais. 4 ed. São Paulo: Roca, 2014. GOFFI, Fábio Schmidt. Técnica Cirúrgica: Bases Anatômicas, Fisiopatológicas e Técnicas da Cirurgia. 2 ed. Rio de Janeiro – São Paulo: Livraria Atheneu, 1984. 974 p. GREY, Jorge de Moraes et al. Princípios de cirurgia: volume 2. Rio de Janeiro: Fename, 1982. 663 p. LAZZERI, Lourenço. Fases fundamentais da técnica cirúrgica (tradução e ampliação da edição mexicana por Lourenço Lazzeri). São Paulo: J. M. Varela, 1977. 190 p. PARRA, O. M., SAAD, W. A. Técnica operatória fundamental. 1 ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1987. 558 p.
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