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3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste primeiro tópico da disciplina "Gestão Educacional" estudaremos sobre assuntos referentes à escola, educação e sua função social com e na sociedade. Comentaremos brevemente sobre o processo de organização da função social da escola, ao longo dos anos, até se constituir como o conhecemos atualmente. Para compreendermos a função do gestor escolar, necessitamos da apropriação do conhecimento sobre os fatores que contribuíram para a constituição da escola hoje. A concepção da função social da escola advém de um processo cultural, vivenciado em determinados períodos históricos de acordo com o pensamento da sociedade de cada época. A partir do entendimento da construção histórica, cultural e social de uma determinada situação, conseguimos compreender a sua conjuntura atual, assimilando suas potencialidades e fragilidades. Nesse sentido, iniciamos nossos estudos sobre Gestão Educacional com o entendimento dos princípios que nortearam a organização da escola, do início até os dias atuais. No decorrer de sua leitura, lembre-se de assinalar no texto os principais escritos. Grife com caneta marca-texto, cole etiquetas de avisos indicando os pontos importantes. Organize esquemas, sínteses, faça apontamentos no decorrer do texto. Busque formas de organizar seu pensamento e construir um conhecimento significativo! Bons estudos! ATENCAO 2 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA A escola, enquanto instituição construída socialmente para realizar a formação humana nas diferentes temporalidades de vida, se tornou, no movimento histórico, dever do Estado e direito do cidadão, sendo indispensável seu reconhecimento para formação social das pessoas, nas relações que estabelecem entre si e com os conhecimentos científicos. UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 4 A ação educativa tem por finalidade a humanização do homem por meio da identificação dos elementos culturais acumulados historicamente. À escola cabe selecionar e identificar, dentre esses elementos, os necessários e indispensáveis a serem desenvolvidos nas práticas educativas. A descoberta das formas adequadas a esse trabalho, a organização dos meios, conteúdos, espaço, tempo e procedimentos são de responsabilidade do currículo escolar que deve estar contido no projeto pedagógico elaborado com base na realidade. A escola, como responsável pelos processos de ensino e aprendizagem, necessita propiciar, a todos que a ela tiverem acesso, os instrumentos necessários à aquisição do saber sistematizado. Desta forma, por meio da apropriação desse saber, da ciência, justifica sua existência na sociedade atual. Segundo os autores Libâneo, Oliveira e Toschi (2005, p. 117): devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é aquela mediante a qual a escola promove, para todos, o domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos. Percebemos, então, que a escola se constitui numa instituição social com objetivo explícito de aprimorar as potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos estudantes. O desenvolvimento ocorre por meio da aprendizagem de conteúdos, conhecimentos, aprimorando as habilidades, atitudes e valores, de maneira contextualizada e participativa. Assim, entendemos algumas das funções sociais gerais da escola, mas precisamos analisar sobre a real função social da escola. Você saberia dizer? Pois bem, para conseguirmos responder a esse questionamento, necessitamos refletir sobre as intenções do Projeto Político-Pedagógico da escola, das perspectivas da gestão educacional e a organização curricular proposta. Elementos que servirão de estrutura para entendimento sobre as concepções ideológicas da escola e sua relação com a comunidade. O ato educativo deve ser um processo dialógico visando a transformação social, combatendo assim a reprodução de um sistema excludente, baseado na simples reprodução de saberes. Neste sentido, Luckesi (1994, p. 30) entende que: A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática. As funções políticas e sociais da escola consistem em interesses diferenciados das classes sociais, nas quais as tendências pedagógicas trazem contribuição nas diferentes concepções da função escolar. O pensamento da sociedade no decorrer da história influenciou diretamente a concepção e a função social prevista na escola. TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 5 Para Saviani (1993), na tendência tradicional a escola era vista como uma forma de se resolver os problemas sociais ligados à ignorância. Sua principal função consistia em repassar conteúdos e procedimentos simples, de maneira enciclopédica. Preocupava-se com a quantidade do conhecimento adquirido no processo de ensino e aprendizagem por estudantes, a despeito da qualidade. Na Escola Nova, os desajustes estavam relacionados à falta de adaptação das pessoas às formas biopsicossociais. A escola deveria ajustar as pessoas ao convívio social, despertando o sentimento de aceitação da diversidade. A proposta da Escola Nova negava a Tradicional, substituindo a ênfase nos conteúdos pela valorização dos processos de aprendizagem. Nessa época surge o processo de psicologização da educação (SAVIANI, 1993). DICAS Acadêmico, faça a leitura do documento que regulamentou o Movimento da Escola Nova no seguinte endereço: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/22e/ doc1_22e.pdf>. Você conhecerá a concepção de educação defendida no movimento, a finalidade e função social da escola para a época. Acesse e confira, amplie seus conhecimentos sobre o assunto! FONTE: Disponível em: <http://maryhpc.blogspot.com. br/2011/12/o-movimento-dos-pioneiros-da-educacao. html>. Acesso em: 20 mar. 2017. Com a ascensão do capitalismo e o aumento dos meios de produção, começou a surgir na sociedade um aumento na demanda de mão de obra industrial. Consequentemente, a escola começou a ter outra função social, a de formar e especializar os futuros trabalhadores. A tendência tecnicista surgiu no período militar no Brasil, servindo ao sistema produtivo gerador de lucro para os capitalistas, incorporando os princípios do taylorismo e fordismo (KUENZER, 2000). Podemos perceber que cada tendência influenciou a concepção educacional a serviço de uma intenção da sociedade na época. A Escola Tradicional buscava uma estrutura econômica agrária, e as escolas Nova e Tecnicista voltavam seus interesses para a estrutura econômica industrial capitalista. UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 6 As teorias Crítico-Reprodutivistas apresentam concepções diferentes de se entender a função social da escola. Os principais nomes consistem em Bourdieu e Passeron (1982), com análises sobre a relação entre os sistemas de ensino e o social. Segundo os autores, a sociedade marca de maneira irreversível as formas de agir na escola, orientando socialmente e profissionalmente as pessoas. Para Bourdieu e Passeron (1982), a educação consiste no reflexo da desigualdade social imposta por meio da ideologia da classe dominante, perpetuando seus interesses por meio dos processos educativos institucionalizados nas escolas. A ação pedagógica como "uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de um arbitrário cultural” (BOURDIEU; PASSERON, 1982, p. 20). A expressão “violência simbólica” aparece como uma observação minuciosa de que qualquer sociedade se estrutura como um sistema de relações de força material entre grupos ou classes. Onde a classe dominante opera silenciosamentecom seus valores sobre a classe dominada, operando formas de agir, pensar e sentir segundo seus interesses. A violência simbólica, para estes sociólogos, manifesta-se na escola por meio da ação pedagógica institucionalizada, onde o processo educativo aparece como resultado da “desigualdade de dotes”. Os dotes são utilizados para explicar que o sucesso e o fracasso escolar não dependem apenas da origem social, mas fundamentalmente da expressão cultural cultivada pelo indivíduo. As crianças das classes populares estariam em desvantagem em relação às de classe dominante, em decorrência do acesso e aproximação da cultura escolar, mais próxima da cultura dominante. As teorias crítico-reprodutivistas apresentam o funcionamento da escola baseado na reprodução, mas não apresentam nenhuma alternativa pedagógica de melhoria para a situação. A proposta pedagógica de Freire (1997), denominada escola problematizadora, encontra fundamentação na concretude da existência humana, e entende que “cada homem é um ser no mundo, com o mundo, e com os outros” (FREIRE, 1997, p. 26). Na relação que estabelece com o outro, o educador seria um ser na práxis, capaz de olhar de fora, mesmo estando dentro do processo educativo. Na distância que estabelece de si possibilita uma análise do fazer de si mesmo, uma desconstrução-reconstrução constante do modo de pensar, gerando alterações no meio em que vive. Freire (1997) afirma que a educação não é neutra, nem desinteressada, mas um ato político que não pode ser confundido como uma ação manipuladora. Nesse sentido, o educador que assume uma prática libertadora necessita assumir uma opção política e coerente com essa prática. A alfabetização não consiste no ponto de partida, nem de chegada, mas um aspecto importante no processo de construção do conhecimento, pensando na prática e não somente no "mundo dos pensamentos". TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 7 Na proposta de Freire (1997), a educação surge como um ato político e parte do processo de emancipação do ser humano, ou seja, sua libertação. O ato político se desvela nos momentos de discussões em que os envolvidos descobrem, por meio da palavra, a si próprios e o mundo em que vivem. Os oprimidos, cidadãos excluídos da cultura escrita, desfavorecidos nas condições mínimas de sobrevivência, encontram na palavra a possibilidade de pensar sobre o mundo e julgá-lo. A tendência da Pedagogia Histórico-Crítica se contrapõe à pedagogia liberal burguesa, como uma alternativa para os que negavam o papel reprodutor capitalista nas práticas sociais e escolares. Nessa tendência, a educação consiste em uma atividade mediadora no centro da prática social global. As práticas educativas são vistas como formas de transformação social e humanização das pessoas. A educação nessa tendência apresenta uma compreensão de que a escola pressupõe um papel mediador, articulando as relações sociais onde o conhecimento expressa um processo em construção. Para Saviani (1993, p. 80): Se a educação é mediação, isto significa que ela não pode ser justificada por si mesma, mas tem sua razão de ser nos efeitos que se prolongam para além dela e que persistem mesmo após a cessação da ação pedagógica [...] Se é razoável supor que não se ensina democracia através de práticas pedagógicas antidemocráticas, nem por isso se deve inferir que a democratização das relações internas à escola é condição suficiente de democratização da sociedade. Mais do que isso: se a democracia supõe condições de igualdade entre os diferentes agentes sociais, como a prática pedagógica pode ser democrática já no ponto de partida? Com efeito, procurei esclarecer qual a educação supõe a desigualdade no ponto de partida e a igualdade no ponto de chegada. Agir como se as condições de igualdade estivessem instauradas desde o início não significa, então, assumir uma atitude de fato pseudodemocrática? Pense nos questionamentos e reflita sobre como as práticas educativas podem se basear numa mediação que promova a democracia em sala. De que forma localizamos os processos democráticos nas relações escolares? Perguntas que necessitam ser analisadas e repensadas no âmago de cada educador, na intencionalidade e percepção da função social que subjetivamente compreendeu ao longo dos anos. Para Saviani (1993), a escola apresenta uma função social como forma de propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitem o acesso à cultura, com as atividades escolares organizadas para esse fim. O professor como "aquele que possibilita o acesso à cultura, organizando o processo de formação cultural" (SAVIANI, 1993, p. 27). Existem importantes relações entre a educação e a transformação social, educação e estrutura social capitalista, educação e a possibilidade de superação do capitalismo, educação e revolução. O papel mediador da educação no processo de transformação social é imenso, pois é um conceito de educação associado à mediação em meio à prática social, isto é, a educação torna-se uma importante ferramenta de transformação da UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 8 prática social. Não necessariamente uma educação mediadora que transformaria diretamente a sociedade, mas que, por meio da mediação, transformasse inicialmente a consciência das pessoas. Para, depois, as pessoas agirem conforme sua consciência, transformando a sociedade por meio de suas práticas sociais. No plano social, a escola pode desenvolver, nos estudantes, reflexões sobre os cuidados com a saúde, a natureza, as questões da cidade, entre outros, uma consciência do que seja viver bem em sociedade. Articular discussões sobre as situações ao redor da escola, comunidade, estimulando uma consciência crítica, de participação, organizando e intervindo com ações políticas na sociedade. Outro aspecto fundamental que está intimamente ligado à função social e política da escola consiste na dimensão democrática, conferindo a todos o direito de participar das discussões. A escola como instituição que pretende formar sujeitos democráticos deve vivenciar, criar e disponibilizar no cotidiano espaços e tempos para o exercício da participação. Inclusive, a LDB/96 reafirma no artigo 14º, entre seus princípios, a gestão democrática da escola através da participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL,1996). Percebemos, até o momento, que a escola pode apresentar funções sociais diferenciadas de acordo com cada perspectiva e teoria de educação influenciada na concepção social. As ações individuais e coletivas desenvolvidas nas escolas intensificam os entendimentos sociais e políticos, contribuindo na formação do estudante. Na consciência de importância enquanto pessoa na sua família, comunidade, interferindo de forma crítica na realidade, sendo influenciado de maneira subjetiva por formas de pensar e agir socialmente construídas. 3 NOVAS DEMANDAS SOCIAIS NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA A partir da segunda metade do século XX, a sociedade, de forma geral, vivenciou algumas mudanças oriundas da presença das tecnologias da informação e comunicação. Dessa forma, a sociedade do conhecimento, internet, rede de recursos e serviços educativos disponíveis contribuem para desconstruir o pensamento tradicional de escola, reorganizando a relação formativa e informativa dos saberes (VILLA, 2007). Atualmente, com a vigência normativa legal, o acesso à escola se encontra democratizado e fiscalizado por órgãos fiscais, garantindo que todos em fase escolar estejam matriculados e frequentando a escola. A globalização da sociedade apresenta padrões de cultura global e a aproximação com outros povos e manifestações culturais, ou seja, com as formas de diversidade social e humana. TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 9 A convivência com as diferenças torna-se uma necessidade das sociedades contemporâneas. A emergência da "sociedade do conhecimento", com novas formasde conceber a sociedade e os processos escolares, sobretudo a partir dos anos de 1990. O uso das tecnologias da informação e da globalização induziu uma cultura escolar que requer a valorização, nas práticas educativas, da cultura escolar, saber sistematizado da cultura escolar. Práticas pedagógicas que entendem os processos de ensino baseados na mediação, tendo como parâmetros a cultura dos estudantes, contemplando as diversidades da turma. Observe as vinhetas em quadrinhos e reflita sobre a mensagem implícita no diálogo entre os dois estudantes: FIGURA 1 – SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO FONTE: Disponível em: <https://nubiaaires.wordpress.com/2015/06/26/sociedade-da-informacao- charge/>. Acesso em: 23 junho 2017. Você percebe esse tipo de atitude na sociedade atual? Pois bem, os estudantes hoje possuem acesso imediato a todo tipo de informação, veiculada nas diversas mídias. Será que sozinhos conseguem transformar a informação em conhecimento, ou necessitam da experiência, dos processos de mediação que ocorrem nas práticas educativas voltadas ao ensino e à aprendizagem? Pense sobre o assunto! Prensky (2001) lembra que os estudantes presentes nas escolas constituem os chamados nativos digitais, ou seja, cresceram imersos na linguagem digital dos computadores, videogames e internet. Acostumados a receber informações com a rapidez com que acessam os recursos tecnológicos, respostas de forma instantânea, trabalham em rede com multitarefas paralelas e repudiam palestras, atividades com passo a passo que tomem tempo demasiado de sua atenção. Diferenciam-se dos imigrantes digitais, aqueles que tiveram contato durante sua existência com os recursos tecnológicos, mas que ainda guardam alguns vestígios condicionados ao uso de material impresso, como na impressão de informações veiculadas na internet para leituras posteriores. UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 10 Os imigrantes digitais dividem espaço com os nativos, a diferença é que os primeiros ocupam lugares de autoridade social, seja na escola ou em outros espaços. Nas instituições escolares, os imigrantes digitais acreditam que explicações detalhadas, combinações de exemplos demorados garantem o aprendizado dos estudantes, lhes permitem o tempo preciso da compreensão sistematizada dos conteúdos. Entretanto, os nativos digitais acostumados ao uso das tecnologias, no aprender fazendo, na fluidez das informações, não acompanham o processo inferido, causando dispersões e choques de interesses. A escola voltada para a minuciosa explicação dos conteúdos entra em colapso com o surgimento de uma nova forma de aprender. Através das informações, a construção de conhecimentos por meio do diálogo, das interações colaborativas, das trocas que ocorrem no teclar em rede - nas relações estabelecidas entre as dúvidas e respostas. No acesso e seleção das inúmeras verdades disponibilizadas na internet, pela ação dialógica do professor com a turma, por meio do conhecimento que traz consigo referente à sua especialização docente, auxilia na garimpagem e desmistificação das informações (PRENSKY, 2001). FIGURA 2 - NATIVOS DIGITAIS FONTE: Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/ tecnologia/0053.html>. Acesso em: 20 mar. 2017. TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 11 O saber-fluxo, apontado por Lévy (2003), identifica os espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, organizam- se de acordo com os objetivos ou contextos, onde cada um ocupa uma posição singular e evolutiva. O professor assume uma posição de animador da inteligência coletiva ao invés do fornecedor dos conhecimentos. As aulas, antes planejadas e que deveriam ser seguidas à risca, agora assumem fluxos de interação de acordo com as várias competências dos estudantes, independentemente da organização disciplinar estabelecida a priori pelo professor. Lévy (2003, p. 161) sugere que "a emergência do ciberespaço não significa, de forma alguma, que "tudo" pode enfim ser acessado, mas, antes, que o todo está definitivamente fora de alcance". Ciberespaço "[...] como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores" (LÉVY, 2003, p. 92). Anterior à escrita, a sociedade baseava sua fonte de conhecimento na transmissão oral realizada dos mais velhos aos mais novos, pela comunidade viva. Com o surgimento dos livros, quem consegue ler domina o conhecimento. Após a invenção da impressão surgiram os cientistas, os saberes estão acumulados nas bibliotecas, organizados pelos que assumiram a missão de organizar os conhecimentos de forma que todos tivessem acesso. Mais recente, surge o ciberespaço, a transmissão pelas coletividades humanas vivas, que descobrem e constroem seus objetos e se conhecem como coletivos inteligentes (LÉVY, 2003). A virtualização do conhecimento se torna virtual no sentido do movimento inverso da atualização, na mutação da identidade, no desprendimento do aqui e agora, na desterritorialização presente, na externalização do interior e na internalização do exterior. A virtualização consiste numa ação heterogênea, no processo de acolhimento da alteridade de alguém. Na leitura dos hipertextos a sensação de percorrer, cartografar o que fabricamos e atualizamos, avalia-se de acordo com a subjetividade inferida. O texto como "[...] discurso elaborado ou propósito deliberado" (LÉVY, 1996), ou seja, discursos que geram textos socializados virtualmente. A discussão sobre o entendimento dos textos como aspecto social iniciou com os estudos de Soares (2003), que distingue o letramento como um estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas que exerce as práticas sociais ao usar a escrita. Rojo (2012) recorda que em 1996 aconteceu o colóquio do Grupo de Nova Londres (GNL), no evento houve a publicação do manifesto intitulado A Pedagogy of Multiliteracies – Designing Social Futures (Uma pedagogia dos multiletramentos – desenhando futuros sociais). Os multiletramentos na escola, como diversidade cultural de produção e circulação dos textos, no sentido da diversidade de linguagens que os constituem, interativos e colaborativos, transgridem as relações de poder estabelecidas; por estarem disponibilizados on-line, pertencem a todos, são híbridos formados por diversos tipos de linguagens, modos, mídias e culturas. Localizam-se nas "nuvens", UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 12 no ciberespaço e apresentam-se no formato de rede por hipertextos e hipermídias (ROJO, 2012). O "letramento digital" designa o domínio das tecnologias para além do teclar comandos, mas na capacidade de utilização nas práticas sociais. Significa possibilitar, aos estudantes, condições para que possam incorporar o uso dos instrumentos, interfaces e signos das tecnologias digitais, que aprendam a ler e escrever manipulando os recursos midiáticos. Enfim, na busca da sofisticação do letramento, na participação da sociedade digital que orienta condições atuais para a inclusão social (ALMEIDA; VALENTE, 2012). O uso das tecnologias nas escolas, atualmente, permite um aprendizado duplo. Além de possibilitar o acesso a conceitos de temas pesquisados, necessita do conhecimento das ferramentas que fazem parte do recurso utilizado. A variedade de informações disponibilizadas no ciberespaço torna possíveis alguns questionamentos pertinentes à idoneidade dos textos veiculados virtualmente. O professor, como mediador no processo de ensino, apto pela especialidade formativa, auxilia no discernimento dentre a variedade disponível. Por meio do diálogo com os estudantes, estabelece critérios que devem ser seguidos na análise do conteúdo virtual, os aconselha de modo a navegarem observando as fontes de onde provêm as informações. FIGURA 3 – CULTURA GLOBALIZADA FONTE: Disponível em: <https://pescadordebits.com.br/web-livre-e-aberta/ >. Acesso em: 20 mar. 2017. A cultura globalizadapassa a ser socializada por meio dos recursos tecnológicos, articulando-se com os lugares onde as pessoas acessam e passam a interiorizar costumes, valores e hábitos diferentes do local. Nesse sentido, as tensões, TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 13 os conflitos, práticas diárias, referências dos grupos sociais de um determinado local passam a ser considerados por meio da diversidade. Uma diversidade que expressa símbolos, significados, valores, atitudes, crenças e saberes de um determinado grupo, que vive em contexto específico, com identidade singular. A educação necessita ser repensada com base em todos os aspectos que envolvem a sociedade globalizada contemporânea. Atualmente, as práticas educativas suscitam a superação das dicotomias entre o público e o privado, conhecimentos cotidianos e científicos, aspectos cognitivos e afetivos, na desconstrução dos resquícios da escola tradicional e excludente. Pensar numa escola com a função social voltada para a formação de pessoas participativas na sociedade, baseada na valorização das experiências, problematização e conhecimentos dos estudantes, superando a fragmentação dos saberes escolares. Uma escola que articula ações juntamente com a comunidade, buscando a transformação social por meio da participação democrática de todos os envolvidos. 14 Neste tópico, você aprendeu que: • O pensamento da sociedade, no decorrer da história, influenciou diretamente a concepção e a função social prevista na escola. • A partir da segunda metade do século XX, a sociedade, de forma geral, vivenciou algumas mudanças oriundas da presença das tecnologias da informação e comunicação. • A cultura globalizada passa a ser socializada por meio dos recursos tecnológicos, articulando-se com os lugares onde as pessoas acessam e passam a interiorizar costumes, valores e hábitos diferentes do local. • A educação necessita ser repensada com base em todos os aspectos que envolvem a sociedade globalizada contemporânea. RESUMO DO TÓPICO 1
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