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Resenha Louhana Oliveira - GORENDER, Jacob Combate nas Trevas

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Resenha de “Combate nas Trevas”, de Jacob Gorender[footnoteRef:1] [1: GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. 6ª ed., 2ª impressão. Editora Ática: São Paulo, 2003. A edição apresenta um capítulo final de 10 anos após a publicação mais novas notas do autor.] 
Por Louhana Rosa Dias de Oliveira
Matrícula: 201670019-8
Jacob Gorender, nascido em 20 de janeiro de 1923, em Salvador, foi filho de um judeu ucraniano socialista. Começou, em 1941, a estudar na Faculdade de Direito de Salvador, porém abandonado por se tornar voluntário da Força Expedicionária Brasileira durante a luta na Segunda Guerra Mundial, onde fez a campanha na Itália. Quando retornou ao Brasil, integrou o comitê central do PCB (Partido Comunista Brasileiro), sendo expulso e, posteriormente, participou da fundação do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), sendo que, por sua militância, foi preso e torturado durante a ditadura. Entre suas obras, destacam-se a sua tese “O Escravismo Colonial” (1978); “A burguesia brasileira”, (1981); e a apresentada nesta resenha, “Combate nas trevas”, (1987).
Segundo o próprio autor marxista em seu prefácio, o seu objeto de estudo são “os movimentos políticos atuantes em partidos, em correntes formais e informais”[footnoteRef:2] da esquerda[footnoteRef:3] e a experiência da luta armada durante a ditadura militar (1964-1985), questionando-se também o porquê a tentativa revolucionária brasileira ter caído em derrota. Mais do que apresentar uma gênese das diversas organizações de esquerda, com suas novas correntes, além de suas respectivas fragmentações que surgem no período, o autor busca entender os debates políticos dentro das esquerdas no período. [2: GORENDER, p.11.] [3: Segundo o autor, tem-se por Esquerda “o conceito referencial de movimentos e ideias endereçados ao projeto de transformação social em benefício das classes oprimidas e exploradas”, ver p.11. ] 
Observamos nos capítulos iniciais como se deu o golpe e como se encontravam os partidos de esquerda e movimentos sociais. Ao longo da obra, o autor relaciona o fechamento do regime, a partir de 1968 (o auge das lutas sindicais[footnoteRef:4]), com a luta armada, pois, “à medida que o novo regime se consolidava, aumentavam as perseguições e prisões”[footnoteRef:5]. Porém, segundo Gorender, ao fim do ano de 1968, não é possível afirmar que o embrutecimento se deu a partir da reação militar à resistência da esquerda. Mas pelo contrário, os movimentos, em especial o operário e estudantil, estavam enfraquecidos no período depois das perseguições. A opção pela luta armada e a escolha pela guerrilha, muito de inspiração da revolução cubana (foquismo), e a reorganização dos pensamentos políticos dos diversos movimentos de esquerda, se deu como reação ao AI-5, que consumou o fechamento completo da ditadura militar.[footnoteRef:6] [4: GORENDER, p.154.] [5: GORENDER, p.15.] [6: GORENDER, p. 75. Sobre o AI-5, “colocou em recesso o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas dos Estados, reabriu as cassações dos direitos políticos, desta vez por tempo indeterminado, e aboliu o a habeas corpus para detidos por infração da Lei de Segurança Nacional. A ditadura militar alcançou o ápice do fechamento, o que trouxe consequências imediatas. A censura inflexível impôs o controle total da imprensa. Deixaram de circular publicações de oposição, artistas foram presos e forçados a sair do país e se asfixiou a vida cultural. Professores universitários sofreram a punição da aposentadoria compulsória e emigram para ensinar no exterior.”. p.162.] 
É preciso salientar a defesa do autor pelo caminho pacífico da revolução, com a ampliação das liberdades democráticas e das reformas de estrutura, que, todavia, as circunstâncias levaram a opção por luta armada tardia.[footnoteRef:7] [7: GORENDER, p.34] 
Gorender nos oferece uma visão privilegiada sobre as organizações dos movimentos de esquerda e movimentos sociais no período. Sem se deixar cair em uma biografia, o historiador se baseia nas experiências pessoais, como agente ativo no PCB e, para além da memória, utiliza-se de um corpus documental com uma vasta quantidade de fontes, tais como jornais, atas de congressos e reuniões, fotos, reportagens, iconografias, entrevistas, publicidades, processos e o arquivo do Projeto Brasil: Nunca Mais.
Sua relevância se dá por estar inserido não só na discussão historiográfica, mas também é um agente ativo no período – como sua posição no PCB e fundação do PCBR. A primeira edição é publicada em 1987, dois anos após o fim da ditatura, sendo a primeira síntese sobre o tema da organização das lutas armadas no período. Desse modo, reflexões acerca do terrorismo de Estado, que segundo o autor é anterior ao AI-5, debate com historiografias militaristas que defendem que o golpe em 64 e o AI-5 em 68 são o resultado de um contragolpe e do ataque da esquerda, respectivamente. Sendo, na verdade, pois “o comprometimento prático com a luta armada se confirmou acertado diante do fechamento completo da ditadura militar”.[footnoteRef:8] [8: GORENDER, p.167] 
Através de uma autocrítica, Gorender afirma que o golpe era evitável se alguma ação tivesse sido realizada no início, sendo este um golpe burguês que entregou aos militares o poder corporativista. Realiza também uma crítica aos que identificam a ditadura militar como fascismo, pois a denominação retira o caráter da militarização e de que a direção é por uma instituição estatal e que serviu aos interesses da burguesia brasileira.[footnoteRef:9] Além de desaprovar as lideranças e seus “mitos” de heróis criados que guiavam a política dos movimentos, como Stalin e Fidel, e a clara crítica a Prestes e ao PCB pelo etapismo. A historiografia publicada no período, chamando atenção para o contexto da ditadura, aborda as obras de Caio Prado Jr e Celso Furtado que foram bem recebidas pelas academias por sua base teórica marxista. E posteriormente, tendo em vista que a obra é lançada em 1987, o autor também critica Frei Betto pela tentativa de amenizar a culpa da igreja no processo de desmantelamento da ANL, com a morte de Carlos Marighella. [9: GORENDER, p.79] 
Apesar de abordar o contexto do país em geral, Gorender dobra sua atenção para as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo devido a atuação das principais organizações e partido, como UNE, PCB, PC do B, PCBR, COLINA, MOLIPO, POLOP, MR-8, VPR, ANL, O., nas guerrilhas urbanas e aos fortes acontecimentos. Tais como a passeata dos Cem mil, o sequestro dos embaixadores e a morte do major alemão (confundido com o assassino de Che Guevara), além dos saques a agências bancárias, cofres e carros-fortes, além da captura, tortura e morte de diversos guerrilheiros pela polícia e Forças Armadas. No entanto, não é possível deixar de mencionar outros estados, para compreender que se trata de um movimento em todo o país, como Minas, Pernambuco, Bahia e Pará (tal como a guerrilha do Araguaia).
Assim, Gorender, posicionando-se um claro marxista, também deixa clara crítica ao “manifestar objeções às formas que ela [a luta armada] assumia, tendentes a distanciar cada vez mais a esquerda do apoio das massas”,[footnoteRef:10] ao mesmo tempo que critica o inatismo pecebista. De todo modo, Gorender não coloca a esquerda brasileira em um papel de vítima, mas o contrário, em cada capítulo aborda a ação armada e a formação de movimentos de luta, que por sua vez praticavam ações de violência revolucionária, como uma reação do oprimido frente a opressão do opressor.[footnoteRef:11] [10: GORENDER, p.201] [11: GORENDER, p.269] 
	As razões que Gorender conclui para a derrota da esquerda foi o afastamento do apoio das massas; a entrada das organizações de oposição na ilegalidade; a falta de ação no momento do golpe direitista – a luta armada começou a ser tentada em 1965- quando as condições históricas eram determinantes, sendo que “a inação tronou o golpe inevitável”[footnoteRef:12]; e que o que se observa é que a esquerda no máximo atingiu a um protesto armado com atos de violência, pois não tinhacondições para o enfrentamento da ditadura. [12: GORENDER, p.286] 
Por considerar o golpe como uma ação dos militares e da burguesia, o autor, no entanto, desconsidera o apoio da população para tal. Assim, em sua visão de luta de classes, entre os burgueses e a alta cúpula militar, contra a esquerda, o autor não coloca a agência de obreiros e campesinos na defesa e permanência da ditadura, mas sim como massas que são alienadas pela mídia censurada em favor do governo ou através de assistencialismos, que precisavam ser conquistadas politicamente pelas organizações de guerrilha para o seu apoio.[footnoteRef:13] A historiadora Denise Rollemberg[footnoteRef:14], por outro lado, salienta a campanha militar em torno da propaganda do regime, que, como Carlos Fico nomeia, por uma ditadura “civil-militar”, nos quais a população civil também realiza o apoio, incluindo camadas mais pobres, não apenas a burguesia. [13: GORENDER. Ver capítulo 30: A Guerrilha Abafada.] [14: ] 
Marcelo Ridenti, por sua vez, analisa a complexidade dos grupos de esquerdas – no plural – pois estas possuíam um pensamento diferente de como guiar a revolução. Apesar do consenso observado na luta contra a ditadura, o capitalismo e o imperialismo, as diferentes visões de como realizar a revolução dividiu e fragmentou. A própria falta de identificação da sociedade com a luta armada, segundo Daniel Arão Reis, foi um fator que culminou na derrota da luta armada no Brasil durante o período.
Por fim, consideramos a grande importância da obra de Jacob Gorender para os estudos da luta armada durante a ditadura, não apenas como obra inaugural, e de experiência pessoal e trabalho científico do que fora a ação da esquerda – das esquerdas - no Brasil, que, ao ser debatida com outras historiografias, não perde seu valor. Seja a propaganda e censura do regime, a fragmentação dos oposicionistas, o apoio de parte da sociedade e sua não-identificação com a lutas armadas, as conclusões de Gorender também nos acrescentam no momento de pensar a derrota das esquerdas na perda do timing de ação.
Combate nas Trevas, é, portanto, uma luz para entender a derrota da luta armada que, contudo, não deixa de ser uma lição para se aprender com os erros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. In: Revista Brasileira de História. São Paulo, ANPUH, vol. 2, n.º 47, jan-jun, 2004.
GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. 6ª ed., 2ª impressão. Editora Ática: São Paulo, 2003.
REIS FILHO, Daniel. A transição democrática. In: A Ditadura e democracia no Brasil: do golpe de 1964 à Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Zahar, 2014, pp.125-148.
RIDENTI, Marcelo. Esquerdas revolucionárias armadas nos anos 1960 e 1970. In: FERREIRA, Jorge e REIS, Daniel Aarão. (Orgs.) Revolução e democracia (1964 - ...). Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2007, pp.321-351.
ROLLEMBERG, Denise. A ditadura civil-militar em tempo de radicalização e barbárie (1968-1974). In: MARTINHO, Francisco Carlos Palomanes (Org.) Democracia e ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 2006, pp. 141-152.

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