Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Livro Digital Aula 01 Citologia I: membrana plasmática Curso de Biologia para FUVEST Professora Bruna Klassa Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 2 77 SUMÁRIO 1. Apresentação .................................................................................................................................... 3 2. A célula .............................................................................................................................................. 5 3. Membrana plasmática ...................................................................................................................... 8 3.1 Constituição da membrana plasmática ...................................................................................... 8 3.1.1 Lipídios .................................................................................................................................. 8 3.1.2 Proteínas ............................................................................................................................. 11 3.1.3 Glicocálice ........................................................................................................................... 15 3.2 Funções da membrana .............................................................................................................. 19 3.2.1 Transporte passivo ............................................................................................................. 20 3.2.2 Transporte ativo ................................................................................................................. 25 3.3 Especializações da membrana .................................................................................................. 32 3.3.1 Microvilosidades ................................................................................................................. 32 3.3.2 Junções celulares ................................................................................................................ 33 3.3.3 Interdigitações .................................................................................................................... 35 4. Lista de questões ............................................................................................................................ 37 5. Gabarito .......................................................................................................................................... 52 6. Lista de questões comentadas ........................................................................................................ 53 7. Considerações finais ....................................................................................................................... 75 8. Referências ...................................................................................................................................... 76 Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 3 77 1. APRESENTAÇÃO Olá, pessoa querida! Tudo bem com você? Espero que sim! Aula passada nós iniciamos nosso curso intensivo de Biologia e vimos os fundamentos desta ciência: o que é vida, como ela se originou, como ela se organiza e qual a sua composição química. Vamos retomar rapidamente cada um desses pontos! ➢ Não existe uma definição do que é vida, mas sim um conjunto de características que permitem diferenciar o vivo do não-vivo, como: organização celular, metabolismo, crescimento, reprodução, movimentação, hereditariedade, mudança e adaptação. ➢ A vida se organiza em três grandes domínios: Bacteria, Arqueia e Eucaria. Os dois primeiros domínios contêm células procarióticas, enquanto o último apresenta células eucarióticas. Além disso, a organização biológica se dá em níveis que vão da unidade fundamental da vida, a célula, até níveis mais amplos de organização, como os ecossistemas. ➢ Em média, a maioria dos organismos é constituída por 70% água e 30% de substâncias químicas. Dessas substâncias químicas, aproximadamente 97% é baseada em seis elementos: carbono, hidrogênio, nitrogênio, fósforo e enxofre (o CHONPS). As diferentes combinações desses elementos dão origem aos lipídios e às macromoléculas (carboidratos, proteínas e ácidos nucleicos). ➢ Os lipídios são substâncias apolares com função de armazenamento energético, produção de hormônios esteroides, isolamento térmico e formação das membranas biológicas (esta última formada por fosfolipídios, moléculas anfipáticas com cabeça polar e cauda apolar). ➢ Os carboidratos são a principal fonte de energia para os seres vivos, importantes para a formação estrutural e o reconhecimento celular nos organismos. Podem se apresentar como monômeros (por ex. a glicose), como dissacarídeos (por ex. a sacarose) ou como polissacarídeos (por ex. a celulose e o glicogênio). ➢ As proteínas são as unidades fundamentais das células e realizam uma gama de funções celulares. Elas são polímeros formados por longas sequências de aminoácidos. ➢ Os ácidos nucleicos são as moléculas orgânicas responsáveis pelo armazenamento e transmissão das informações genéticas, podendo do tipo DNA ou RNA. Essas moléculas são formadas por inúmeros nucleotídeos ligados uns aos outros por ligações de hidrogênio. Os nucleotídeos são constituídos por um grupo fosfato, uma pentose e uma base nitrogenada. No DNA, as bases nitrogenadas são A, T, C e G, enquanto no RNA a base T está ausente e é substituída pela base U. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 4 77 Nesta aula iniciaremos nosso estudo das células. As células são as unidades microscópicas básicas que constituem a vida e possuem três componentes essenciais: membrana plasmática, citoplasma e material genético. Nós iremos estudar detalhadamente cada um destes componentes em quatro aulas chamadas Citologia (partes I, II, III e IV). Esta é a parte I. Aqui veremos quais são os tipos celulares e como eles estão estruturados anatômica e morfologicamente. Na sequência, veremos tudo aquilo que se relaciona à membrana plasmática: características, funções e especializações. Vamos juntos buscar sua aprovação! Sem mais delongas, vem comigo! Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 5 77 2. A CÉLULA Todos os organismos vivos no planeta Terra são agrupados em três domínios, e essa classificação é baseada primordialmente no tipo celular que eles apresentam: os organismos dos domínios Bacteria e Arqueia apresentam células procarióticas e constituem as bactérias, cianobactérias, micoplasmas e extremófilos, enquanto os organismos do domínio Eucaria apresentam células eucarióticas e constituem os grupos dos animais, das plantas, dos fungos e dos “protoctistas”(grupo artificial1 que reúne os protozoários e as algas). A célula é a unidade fundamental da vida e é composta por três partes fundamentais: membrana plasmática, citoplasma e material genético. Figura 1. A árvore da vida é dividida em três domínios, propostos por Carl Woese na década de 1970. Veremos cada um desses grupos em aulas futuras, não se preocupe! Por ora, vamos nos ater às semelhanças e diferenças entre esses dois tipos celulares. Organismos procariontes e eucariontes são similares nos aspectos fundamentais da vida, como a transmissão de informação genética para os seus descendentes sob a forma de DNA. Nos demais aspectos, possuem características bastante distintas: 1 Grupo artificial, também chamado de grupo não-monofiléticoou grupo não verdadeiro, é um grupo que reúne organismos que não compartilham o mesmo ancestral comum mais recente. Normalmente são grupos formados apenas para fins didáticos, mas que, evolutivamente, não traduzem ancestralidade comum e descendência com modificação. Veremos essas classificações com detalhes na aula de Evolução. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 6 77 Além da presença ou ausência de núcleo, a compartimentalização citoplasmática é uma característica fundamental entre as células procarióticas e eucarióticas. Nos eucariontes, o citoplasma celular apresenta organelas membranosas especializadas em diferentes funções para a manutenção da atividade da célula, por exemplo, a mitocôndria (especializada na respiração celular), o cloroplasto (responsável pela fotossíntese nas células vegetais), o lisossomo especializado na digestão intracelular), os retículos endoplasmáticos (especializados na síntese e transporte de substâncias orgânicas), o complexo golgiense (especializado no armazenamento, modificação, reconhecimento e secreção de substâncias), além de outras estruturas não membranosas como os ribossomos (especializados na síntese proteica) e centríolos (relacionados com a divisão celular e a formação de e cílios e flagelos). O funcionamento dessas organelas será visto com detalhes na próxima aula. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 7 77 Os procariontes são bactérias que pertencem aos domínios Bacteria e Arqueia, de tamanho microscópico e composição e funcionamento bem simplificados. Mas se os procariontes são bactérias, por que existem dois grupos distintos para elas? Ambos os domínios são caracterizados por representarem as bactérias, mas eles se separam bem no início da evolução da vida. Na década de 70, o pesquisador Carl Woese demonstrou que, apesar de ambos os grupos serem compostos por seres procariontes, as bactérias do grupo Arqueia surgiram na Terra muito antes, há mais de três bilhões de anos. O nome delas inclusive remete a essa longevidade: archea, do grego, significa antigo, primitivo; portanto, arqueobactérias (bactérias antigas) compõem o domínio Arqueia. Em contraposição, as bactérias do grupo Bacteria são muitas vezes denominadas de eubactérias, em que eu, do grego, significa verdadeiro; portanto são as bactérias verdadeiras. Além disso, as arqueobactérias (daqui em diante apenas arqueias) e as eubactérias (daqui em diante apenas bactérias) possuem algumas diferenças específicas: - a composição da parede celular é diferente entre esses grupos: arqueias não possuem peptiodeoglicano em sua parede celular; - as arqueias são consideradas bactérias extremófilas, isto é, que vivem em condições extremas, consideradas hostis para as demais formas de vida (como temperaturas extremamente altas ou extremamente baixas, ambiente com alta salinidade etc.); - as arqueias conseguem produzir metano como resíduo metabólico. Mas fique tranquilo, veremos essas diferenças com calma na aula sobre bactérias! 😊 (FUVEST/2008) As estruturas presentes em uma célula vegetal, porém ausentes em uma bactéria, são: a) cloroplastos, lisossomos, núcleo e membrana plasmática. b) vacúolos, cromossomos, lisossomos e ribossomos. c) complexo golgiense, membrana plasmática, mitocôndrias e núcleo. d) cloroplastos, mitocôndrias, núcleo e retículo endoplasmático. e) cloroplastos, complexo golgiense, mitocôndrias e ribossomos. Comentários A célula vegetal, assim como a célula animal, é eucarionte. Portanto, ela possui o material genético delimitado por uma membrana nuclear e o citoplasma compartimentalizado por inúmeras organelas membranosas (mitocôndria, retículos endoplasmáticos, complexo de Golgi, lisossomos, Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 8 77 vacúolo, cloroplastos) e algumas estruturas proteicas (ribossomos e centríolos). Já as bactérias possuem célula procariótica, com material genético disperso no citoplasma (portanto, ausência de membrana nuclear) e ausência de organelas membranosas. Nas bactérias aparecem, no entanto, ribossomos, responsáveis pela síntese proteica. Gabarito: D. 3. MEMBRANA PLASMÁTICA A membrana plasmática é uma biomembrana (ou membrana biológica) muito fina, de aproximadamente 8nm de espessura e só é possível visualizá-la utilizando o microscópio. Essa estrutura é composta principalmente de lipídios e proteínas, razão pela qual dizemos que sua natureza é lipoproteica, e ligados às proteínas ou aos lipídios ocorrem alguns carboidratos bastantes especiais e ultra específicos, compondo o que conhecemos por glicocálice. Figura 2. Membrana plasmática em esquema e em 3D. Fonte: Shutterstock. Podemos definir a membrana plasmática como a película que reveste e delimita o perímetro da célula, separando o meio intracelular do meio extracelular. Além disso, ela participa ativamente do metabolismo celular, selecionando a entrada e saída de substâncias na célula. 3.1 CONSTITUIÇÃO DA MEMBRANA PLASMÁTICA 3.1.1 Lipídios A membrana plasmática possui natureza lipoproteica. Dentre os lipídios, os mais comuns são os fosfolipídios (mas também estão presentes esfingolipídios e o colesterol). Vimos que os fosfolipídios são moléculas anfipáticas, ou seja, que possuem uma porção solúvel em água e uma porção insolúvel. Justamente por isso eles são abundantes nas membranas Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 9 77 biológicas. Pensa comigo: as células ocorrem em todo nosso corpo, constituindo os diversos sistemas que nos mantêm vivos. Sabemos que aproximadamente 70% do nosso corpo é composto por água, e apenas 30% por macromoléculas. Então é de se esperar que as membranas das células pudessem interagir com a água, já que elas estão imersas nesse meio. Hidro (água) / Fílico (amigo) = Polar = Solúvel em água. Hidro (água) / Fóbico (medo) = Apolar = Insolúvel em água. Anfipático = aquilo que possui uma porção polar e uma porção apolar. Em solução aquosa, os fosfolipídios se organizam como uma estrutura composta por duas camadas, sendo que a porção polar (cabeça hidrofílica) se volta para as faces externa e interna da membrana, e a porção apolar (caudas hidrofóbicas) compõem o interior da bicamada fosfolipídica. Figura 3. A membrana plasmática é formada por uma bicamada fosfolipídica. Fonte: Shutterstock. Essa propriedade anfipática é responsável por selecionar as substâncias que entram e saem da célula. Para a maioria das moléculas solúveis em água, a membrana constitui uma barreira semipermeável, porque a camada lipídica mantém sua porção polar voltada para fora. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 10 77 Ué, Bruna, mas e quando as moléculas solúveis estiverem passando pela parte apolar dos lipídios? Como elas conseguem entrar na célula? Excelente pergunta! De fato, seria um problema quando moléculas solúveis em água chegassem em um meio totalmente insolúvel, como a região mediana da dupla camada de fosfolipídios. Mas, para esses casos, existem proteínas na membrana que ajudam a transportar essas moléculas polares do meio externo para o interno (vamos ver como esse transporte ocorre mais adiante). Bem rapidamente, as moléculas solúveis passam pela camada lipídica externa e proteínas específicas a carregam para dentro da célula, sem que elas entrem em contato com a região apolar da membrana.Por isso, a principal característica da membrana plasmática é a permeabilidade seletiva. Já em sua porção apolar, os fosfolipídios apresentam caudas formadas por duas cadeias de ácidos graxos, sendo pelo menos uma delas insaturada. Você se lembra como se dão as ligações nos ácidos graxos? As cadeias saturadas ocorrem quando os átomos de carbono são ligados entre si por ligações simples. Já as insaturadas ocorrem quando ao menos uma dupla de átomos de carbono está ligada por ligação dupla. Se você ficou com dúvida, reveja a aula 0 para relembrar essas estruturas ou procure a aula de Ligações químicas do professor Prazeres! Essas diferenças na quantidade de insaturações são importantes, pois influenciam a aproximação e movimentação dos fosfolipídios. Se a membrana fosse composta apenas por ácidos graxos saturados, ela apresentaria uma estrutura densa, com os carbonos interagindo intimamente entre si. Por esta razão as gorduras saturadas de cadeia longa são normalmente sólidas à temperatura ambiente (25°C), como por exemplo as manteigas. Mas os fosfolipídios apresentam uma cadeia insaturada, na qual as ligações duplas cis entre os carbonos introduzem um ângulo na estrutura do ácido graxo, diminuindo o grau de condensação entre as cadeias. Por esta razão as gorduras insaturadas são usualmente líquidas à temperatura ambiente, como por exemplo os óleos. Figura 4. Esquema mostrando o efeito da insaturação na membrana plasmática. Na parte superior é mostrado como seria a bicamada lipídica composta apenas por ácidos graxos saturados: bastante densa e compacta e, portanto, com pouca fluidez e maleabilidade. Na parte inferior, a presença de ácidos graxos insaturados perturba a compactação da bicamada lipídica, resultando em uma estrutura mais aberta (devido ao ângulo da ligação tipo cis) e fluida. Isso permite que a membrana seja fluida e dinâmica, e que as demais estruturas (proteínas e moléculas de colesterol, por exemplo) movam-se ao longo da membrana. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 11 77 Como consequência para a membrana plasmática, a estrutura da bicamada torna-se mais aberta e fluida, sendo necessária menos energia para perturbá-la. Membranas com maiores quantidades de ácidos graxos insaturados tendem a ser mais delgadas (finas) que membranas mais saturadas. A bicamada fosfolipídica proporciona a estrutura fluida e dinâmica da membrana plasmática. Quanto aos demais lipídios que podem aparecer na constituição das membranas, os esfingolipídios ocorrem em menor quantidade. Existem três subclasses de esfingolipídios (as esfingomielinas, os cerebrosídios e os gangliosídios), sendo a esfingomielina a mais importante, por formar a bainha de mielina das células nervosas, que veremos com detalhes na aula de tecido nervoso. As demais subclasses também aparecem no tecido nervoso. O terceiro tipo de lipídio presente na membrana plasmática é o colesterol. Ele está intimamente relacionado com a estabilidade da fluidez da membrana. Isso acontece porque ele ocupa os espaços abertos entre os fosfolipídios (devido às insaturações nas cadeias lipídicas), impedindo que as cadeias carbônicas dos ácidos graxos interajam de forma potente. As moléculas de colesterol funcionam como um obstáculo a essas interações, mantendo, dessa forma, a maleabilidade da membrana. As células vegetais não possuem colesterol. A estabilidade da fluidez de suas membranas é mantida pela substituição de alguns fosfolipídios com cadeia saturada por outros com cadeia insaturada (e que se apresentam em estado líquido normalmente). O colesterol é, portanto, substituído por outros esteróis denominados coletivamente de fitoesteróis. 3.1.2 Proteínas Então já sabemos que a estrutura básica da membrana é dada pela bicamada fosfolipídica. Agora vamos ver que a maioria das funções são realizadas pelas proteínas, sendo que elas variam dependendo da membrana biológica de que fazem parte. Na membrana plasmática, estão presentes proteínas periféricas e proteínas integrais. As proteínas periféricas, também chamadas de proteínas extrínsecas, localizam-se associadas às membranas, majoritariamente na face citoplasmática (interna). Elas incluem as proteínas do citoesqueleto (o esqueleto da célula), importantes na estruturação celular. As proteínas integrais, também chamadas de proteínas transmembranas ou proteínas intrínsecas, encontram-se imersas na bicamada de lipídios. De modo geral, as proteínas integrais são insolúveis em soluções aquosas e representam de 70 a 80% do total de massa proteica da membrana, nos quais se incluem enzimas, antígenos e proteínas transportadoras e receptoras para hormônios e drogas. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 12 77 Assim como os fosfolipídios, essas proteínas têm regiões hidrofílicas e hidrofóbicas. A região hidrofílica é devida aos aminoácidos que possuem cadeias laterais polares e que estão voltados para o meio externo (extracelular) e interno (intracelular). No meio externo, eles geralmente associam- se a carboidratos formando o glicocálice (que veremos logo mais em detalhes). Já a região hidrofóbica da proteína permanece em contato com a região hidrofóbica da bicamada fosfolipídica. Existem vários tipos de proteínas integrais: ✓ as que se estendem pela bicamada lipídica até uma das faces da membrana são as mais comuns; ✓ as que atravessam a bicamada lipídica e participam do transporte de íons e de grandes moléculas (são as proteínas de canal e proteínas carreadoras); ✓ as responsáveis pela comunicação entre os espaços extra e intracelulares (proteínas receptoras); ✓ e ainda as responsáveis pelas interações intercelulares e atividades enzimáticas (glicoproteínas). Figura 5. Principais tipos de proteínas integrais na membrana plasmática. Fonte: Shutterstock. As proteínas receptoras realizam a ligação com moléculas sinalizadoras importantes para o metabolismo celular, como os hormônios, transmitindo mensagens para a célula. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 13 77 As proteínas de canal respondem pela formação de canais iônicos através dos quais certos íons (Na+, K+, Cl–, Ca++) e moléculas podem atravessar livremente a membrana plasmática. Nesses canais o transporte é relativamente rápido, sendo diretamente proporcional à concentração do soluto. Aquaporinas As aquaporinas são proteínas de canal que aumentam a permeabilidade da bicamada lipídica à água. Elas possuem um poro simples, seletivo para a água, que permite a rápida passagem desta molécula pela membrana por difusão facilitada. Apesar do movimento da água através da membrana ocorrer por difusão simples, esses canais são importantes na salivação, transpiração e no funcionamento renal. Por isso em certas células a maior parte da osmose é facilitada por estas proteínas integrais. As proteínas carreadoras são responsáveis pelo transporte passivo facilitado (sem gasto de energia) e pelo transporte ativo (com gasto de energia) de substância entre os meios. Veremos esses tipos de transporte ainda nesta aula. Todas as proteínas de canal e algumas proteínas carreadoras são uniporte, ou seja, transportam um único soluto de um lado para outro da membrana. Outras proteínas carreadoras mais complexas funcionam em sistemas de co-transporte, no qual a transferência de um soluto de um meio para outro depende da transferência simultânea ou sequencial de um segundo soluto. Este segundo soluto pode ser transportado na mesma direção que o primeiro (simporte) ou na direção oposta (antiporte). Figura 6. Direção do transporte de substânciaem proteínas de canal e proteínas carreadoras da membrana plasmática. Algumas moléculas se movem de um meio para outro por difusão simples (como hormônios e o oxigênio). Outras, como a água, possuem uma proteína de canal que facilita o transporte de um meio para outro. Proteínas de canal iônico são uniporte (transportam apenas um soluto, no caso íons, por vez). Já as proteínas carreadoras podem ser antiporte (quando transportam dois solutos ao mesmo tempo, porém em sentidos opostos – isto é, um entra na célula enquanto o outro sai) ou simporte (quando transportam dois solutos ao mesmo tempo e no mesmo sentido – isto é, ambos os solutos entram na célula ou ambos saem). Fonte: Shutterstock. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 14 77 Para se ter uma ideia da importância das proteínas de canais, a falta de canais de cloro, por exemplo, causa uma doença autossômica recessiva denominada fibrose cística. Essa doença se caracteriza pelo acúmulo crônico de um muco anormal no interior dos dutos do pâncreas (afetando a produção de enzimas digestivas) e das vias respiratórias, resultando em alterações pulmonares e infecções persistentes, bem como uma perda excessiva de sal pelo suor. As proteínas, além de serem responsáveis pelo transporte de substâncias entre o meio externo e o meio interno, ainda têm função de: → atividade reguladora, → atuam no reconhecimento de substâncias (uma função importante para selecionar o que entra e o que sai da célula e para a comunicação entre células), → favorecem a adesão entre células adjacentes e → funcionam como pontos de apoio para o citoesqueleto. (PUC RS/2017) O modelo do mosaico fluido das membranas celulares, proposto por Singer e Nicholson, corresponde a uma bicamada lipídica com proteínas associadas. Relacione as proteínas de membrana representadas nas figuras acima com suas respectivas funções na célula, numerando os parênteses. ( ) Permitem a passagem livre de certas substâncias pela membrana. ( ) Permitem a ligação com moléculas sinalizadoras que desencadeiam processos intracelulares. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 15 77 ( ) Interagem de maneira específica com algumas moléculas e íons, carregando-os através da membrana, muitas vezes contra um gradiente de concentração. A sequência correta que preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: a) 1 – 2 – 3 b) 1 – 3 – 2 c) 2 – 1 – 3 d) 3 – 1 – 2 e) 3 – 2 – 1 Comentários A ilustração 1 refere-se às proteínas de canal aberto, que permitem a passagem livre de algumas substâncias. A ilustração 3 refere-se às proteínas receptoras, que recebem uma sinalização indicativa dos processos que acontecerão subsequentemente. A ilustração 2 refere-se às proteínas carreadoras, que realizam difusão facilitada (permeases), sem gasto de energia, e transporte ativo com gasto de energia. Assim, a ordem correta, de cima para baixo, é 1, 3 e 2. A alternativa B está certa. Gabarito: B. 3.1.3 Glicocálice O glicocálice, também conhecido como revestimento celular, é uma camada de carboidratos externa à membrana plasmática das células animais e de alguns “protozoários”. Esses carboidratos ligam-se à superfície das proteínas ou dos fosfolipídios. Quando se ligam a uma proteína, formam uma glicoproteína. Quando se ligam a um fosfolipídio, formam um glicolipídio. Figura 7. Membrana celular. Fonte: Shutterstock. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 16 77 A distribuição das moléculas de glicoproteínas e glicolipídios na superfície externa das células, e nunca na face citoplasmática, bem como a concentração das proteínas periféricas na face citoplasmática, faz com que a membrana plasmática seja assimétrica. Essa diferença de composição estrutural entre as duas faces gera uma diferença de concentração de íons dentro e fora da célula. Dessa forma, o citoplasma apresenta, proporcionalmente, menor quantidade de íons positivos em relação ao meio externo, tornando a face interna da membrana plasmática negativa em relação à face externa, e isso tem importância para o transporte seletivo de substâncias. Uma característica importante do glicocálice é que eles não são iguais em todas as células, inclusive são bastante específicos para cada uma, tornando-o responsável pela identidade celular. Podemos dizer que ele é o RG da célula. Por causa dessa composição específica conforme o tipo celular, durante a diferenciação das células os receptores do glicocálice assimilam estímulos que irão reger a formação e diferenciação dos tecidos e órgãos para cada tipo de célula. Ou seja, células epiteliais serão indicadas para formarem o tecido epitelial (da pele), células nervosas serão indicadas para formarem o tecido nervoso, e assim por diante. Outra função importante do glicocálice é a especificação dos grupos sanguíneos do sistema ABO. Nós, seres humanos, possuímos quatro tipos sanguíneos: A, B, AB e O. Todos eles apresentam a mesma sequência básica de oligossacarídeos, mudando apenas o terminal. Esse carboidrato terminal diferente é justamente o que determina cada tipo de sangue: ✓ As hemácias do tipo A possuem uma galactosamina terminal e só podem ser doadas para pessoas com sangue do tipo A ou do tipo AB (cujas hemácias também apresentam a galactosamina). ✓ As hemácias do tipo B possuem uma galactose terminal e só podem ser doadas para pessoas com sangue do tipo B ou do tipo AB (cujas hemácias também apresentam a galactose). ✓ As hemácias do tipo AB possuem tanto a galactosamina quanto a galactose terminal, e só podem ser doadas para pessoas com sangue do tipo AB. ✓ As hemácias do tipo O não possuem dos dois açúcares terminais. Dessa forma, podem ser doadas para pessoas com qualquer tipo sanguíneo, pois não haverá conflito no reconhecimento da membrana dessas células. É por isso que só podemos doar sangue para pessoas que são compatíveis com o nosso tipo sanguíneo e é o glicocálice na membrana das células sanguíneas que determina essa compatibilidade. Figura 8. As setas indicam os tipos de sangue que são compatíveis para doação. Fonte: Shutterstock. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 17 77 O glicocálice tem ainda a função de: → proteger as células contra agressões físicas (choques mecânicos) e químicas (ataque viral ou bacteriano) do ambiente externo, → impedir o contato direto de enzimas com a membrana plasmática, → servir como malha de retenção de nutrientes e enzimas, mantendo um microambiente adequado ao redor de cada célula e → o reconhecimento molecular de substâncias nocivas, promovendo a adesão ou a rejeição entre as células. (UERJ/2018) O poder criativo da imperfeição “Já escrevi sobre como nossas teorias científicas sobre o mundo são aproximações de uma realidade que podemos compreender apenas em parte. 1Nossos instrumentos de pesquisa, que tanto ampliam nossa visão de mundo, têm necessariamente limites de precisão. Não há dúvida de que Galileu, com seu telescópio, viu mais longe do que todos antes dele. Também não há dúvida de que hoje vemos muito mais longe do que Galileu poderia ter sonhado em 1610. E certamente, em cem anos, nossa visão cósmica terá sido ampliada de forma imprevisível. No avanço do conhecimento científico, vemos um conceito que tem um papel essencial: simetria. Já desde os tempos de Platão, 2há a noção de que existe uma linguagem secreta da natureza, uma matemática por trás da ordem que observamos. Platão – e, com ele, muitos matemáticos até hoje– acreditava que os conceitos matemáticos existiam em uma espécie de dimensão paralela, acessível apenas através da razão. Nesse caso, os teoremas da matemática (como o famoso teorema de Pitágoras) existem como verdades absolutas, que a mente humana, ao menos as mais aptas, pode ocasionalmente descobrir. Para os platônicos, 3a matemática é uma descoberta, e não uma invenção humana. Ao menos no que diz respeito às forças que agem nas partículas fundamentais da matéria, a busca por uma teoria final da natureza é a encarnação moderna do sonho platônico de um código secreto da natureza. As teorias de unificação, como são chamadas, visam justamente a isso, formular todas as forças como manifestações de uma única, com sua simetria abrangendo as demais. Culturalmente, é difícil não traçar uma linha entre as fés monoteístas e a busca por uma unidade da natureza nas ciências. Esse sonho, porém, é impossível de ser realizado. Primeiro, porque nossas teorias são sempre temporárias, passíveis de ajustes e revisões futuras. Não existe uma teoria que possamos dizer final, pois 4nossas explicações mudam de acordo com o conhecimento acumulado que temos das coisas. Um século atrás, um elétron era algo muito diferente do que é hoje. Em cem anos, será algo muito diferente outra vez. Não podemos saber se as forças que conhecemos hoje são as únicas que existem. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 18 77 Segundo, porque nossas teorias e as simetrias que detectamos nos padrões regulares da natureza são em geral aproximações. Não existe uma perfeição no mundo, apenas em nossas mentes. De fato, quando analisamos com calma as “unificações” da física, vemos que são aproximações que funcionam apenas dentro de certas condições. O que encontramos são assimetrias, imperfeições que surgem desde as descrições das propriedades da matéria até as das moléculas que determinam a vida, as proteínas e os ácidos nucleicos (RNA e DNA). Por trás da riqueza que vemos nas formas materiais, encontramos a força criativa das imperfeições.” MARCELO GLEISER Adaptado de Folha de São Paulo, 25/08/2013. A composição assimétrica da membrana plasmática possibilita alguns processos fundamentais para o funcionamento celular. Um processo associado diretamente à estrutura assimétrica da membrana plasmática é: a) síntese de proteínas b) armazenamento de glicídios c) transporte seletivo de substâncias d) transcrição da informação genética Comentários Para responder à questão, bastaria olhar para as alternativas. Fique atento porque nem sempre a leitura do texto é fundamental para a resolução. Leia sempre as alternativas primeiro e somente se for realmente necessário faça a leitura do texto base; isso poupará alguns minutos preciosos no dia da prova. A composição assimétrica da membrana plasmática confere à mesma a propriedade de permeabilidade seletiva. Desta forma, a membrana realize um transporte seletivo de substâncias, no qual apenas alguns tipos específicos de partículas podem passar pela por ela livremente por difusão, como oxigênio, moléculas de baixo peso molecular, e alguns íons. Já outras partículas necessitam de transporte mediado por proteínas. A alternativa A está errada, porque a síntese de proteínas ocorre no citoplasma e é realizada por uma estrutura proteica denominada ribossomo. A alternativa B está errada, porque o principal órgão de armazenamento concentrado de glicídios (em forma de glicogênio) nos animais vertebrados é o fígado. Além disso, podemos armazená-los nos músculos estriados esqueléticos, representando importante elemento de suporte energético. Nas plantas, o armazenamento de glicídios se dá na forma de reservas de amido encontradas nas raízes, tubérculos e sementes. A alternativa D está errada, porque a transcrição da informação genética (que é o processo de formação do RNA a partir da cadeia-molde de DNA) ocorre no núcleo da célula e não na membrana plasmática. Gabarito: C. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 19 77 3.2 FUNÇÕES DA MEMBRANA São funções da membrana: Função Descrição Revestir a célula e definir seus limites A formação de diferentes compartimentos e a separação entre citoplasma e meio extracelular podem ser utilizadas para manter um potencial eletroquímico, isto é, a energia que é útil para transportar substâncias e transmitir informações. Delimitar os compartimentos internos Organizar reações complexas As reações metabólicas precisam de ambientes com condições específicas para ocorrer, por exemplo as reações que são catalisadas por enzimas lisossômicas. Organizar o fluxo de informação Possibilitar a comunicação entre células. Permitir a passagem seletiva de moléculas Moléculas hidrofóbicas passam pela bicamada lipídica, pequenas moléculas hidrofílicas podem passar por ela, moléculas maiores e íons necessitam de proteínas para fazer esse transporte. Já vimos como é o revestimento celular da membrana plasmática. Agora vamos ver como funciona o transporte de substâncias entre o meio interno e o meio externo da célula. Algumas substâncias podem atravessar a membrana plasmática de dentro para fora ou de fora para dentro de forma espontânea, sem que a célula gaste energia para isso. Esse tipo de transporte é chamado transporte passivo. Já outras substâncias são absorvidas ou expulsas pela membrana, e para realizar esse trabalho a célula gasta energia, e por isso este transporte é chamado de transporte ativo. Vamos ver como isso acontece! Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 20 77 Antes de falarmos sobre os tipos de transporte através da membrana, é importante esclarecermos alguns termos: → Solução química é uma mistura homogênea formada por dois componentes, o soluto e o solvente. → Soluto é a substância que se encontra dispersa no solvente. Corresponde a substância que será dissolvida. Geralmente, apresenta-se em menor quantidade na solução. → Solvente é a substância na qual o soluto será dissolvido para formação de um novo produto. Apresenta-se em maior quantidade na solução. Por exemplo, em uma solução salina (água com sal), o sal é o soluto e a água é o solvente. 3.2.1 Transporte passivo Existem três tipos de transporte passivo: a difusão simples, a osmose e a difusão facilitada. A) Difusão simples É a simples passagem de soluto (gases e moléculas pequenas, hidrofílicas) para dentro ou para fora da célula. A difusão sempre ocorre do local em que as partículas estão mais concentradas (isto é, com maior quantidade) para o local onde elas estão menos concentradas (isto é, em menor quantidade). Pense, por exemplo, quando você prepara sua xícara de café com leite pela manhã. Ao adicionar o café ao leite, percebe-se que as gotas de café rapidamente se espalham por toda xícara, indo para os locais onde estão menos concentradas, e homogeneizando sua mistura matinal. A difusão simples ocorre sob duas condições: ✓ a membrana deve ser permeável ao soluto; ✓ deve haver diferença de concentração do soluto entre o meio extra e o meio intracelular. A passagem dos solutos se dá por entre os fosfolipídios da membrana e poucas moléculas conseguem realizar a difusão simples. O exemplo mais comum ocorre nos nossos pulmões. A troca de gases que acontece nos alvéolos pulmonares, onde o oxigênio (O2) sai das células e o gás carbônico (CO2) entra (processo chamado de hematose), é uma difusão simples. O gás carbônico está sempre sendo produzido pelas células na respiração. A concentração desse gás é, portanto, sempre maiorno interior das células e menor no meio extracelular. Dessa maneira, o CO2 difunde-se das células para a Fonte: Shutterstock. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 21 77 corrente sanguínea, e desta para os alvéolos pulmonares, onde será eliminado do corpo na nossa respiração. B) Osmose A osmose é um caso especial de difusão simples, porque apenas a água se difunde pela membrana. Ou seja, é o solvente que se move de um meio para o outro, a fim de igualar as concentrações de soluto. O citoplasma é uma solução aquosa, ou seja, há solutos e solvente. Quando uma célula é colocada em contato com água pura, a concentração de solutos em seu interior é maior no meio exterior. Claro! Na água pura não há solutos. A água, então, tende a difundir-se para o meio intracelular, a fim de dissolver o soluto que ela entende como excedente, fazendo a célula inchar. Isso ocorre porque a membrana plasmática é semipermeável e impede ou dificulta a passagem de solutos, mas a passagem do solvente é livre. Figura 9. Funcionamento da osmose. Temos um aquário dividido por uma membrana semipermeável em duas partes iguais. No início, ambas as metades contêm a mesma quantidade de solvente (água), porém na metade 2 há maior concentração de solutos (bolinhas azuis). Num segundo momento, notamos o aumento de água na metade 2, que se difundiu pela membrana a fim de dissolver (ou diminuir) a concentração de solutos. Fonte: Shutterstock. A difusão de água através da membrana recebe o nome de osmose. Uma coisa interessante de estudarmos é o comportamento das células em soluções com diferentes concentrações. Quando comparamos as soluções em relação à concentração de solutos nelas presentes, temos basicamente três tipos: 1) Solução isotônica: quando duas concentrações, A e B, apresentam a mesma concentração de solutos; 2) Solução hipertônica: quando uma solução A é mais concentrada que uma solução B, ou seja, apresenta maior quantidade de solutos dissolvidos; 3) Solução hipotônica: quando uma solução A é menos concentrada que uma solução B, ou seja, apresenta menor quantidade de solutos dissolvidos. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 22 77 Na osmose, a difusão da água é mais intensa da solução hipotônica (menos concentrada) para a hipertônica (mais concentrada). Ou seja, a água tende a fluir do meio menos concentrado para o meio mais concentrado, a fim de dissolver os solutos em excesso. As células do corpo humano estão banhadas em solução aquosa isotônica, proveniente do sangue. Isso significa que a concentração de solutos (íons, moléculas, ...) nessa solução aquosa é igual à concentração de solutos no citoplasma celular. Então, em condições normais, nossas células não perdem nem absorvem água, elas estão em equilíbrio osmótico. Agora o que acontece quando o meio extracelular se torna mais ou menos concentrado? Uma célula animal, quando posta em solução hipertônica, tende a perder água (desidratar) e murchar. Já quando em contato com uma solução hipotônica, a água da solução tende a entrar continuamente na célula, por osmose e, eventualmente, a leva à lise2 (rompimento). Veja: Contudo, protozoários (seres unicelulares) que vivem em água doce estão constantemente em um meio hipotônico, mas não estouram. Eles possuem vacúolos pulsáteis, organelas citoplasmáticas em forma de bolsas, que acumulam a água que entra do meio para o interior celular e a eliminam periodicamente. Assim, esses vacúolos compensam a entrada excessiva na célula. Figura 10. Paramécio, um protozoário de água doce. Fonte: Shutterstock. Mas existem também protozoários que vivem em ambiente marinho. No caso desses organismos, a água salgada do mar é isotônica em relação ao citoplasma, então eles não sofrem alteração osmótica e não apresentam vacúolos pulsáteis. 2 No caso específico das hemácias, o rompimento de suas membranas recebe o nome de hemólise (do grego, haema, sangue e lysis, romper/quebrar). Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 23 77 O mesmo raciocínio sobre o comportamento das células animais em meios com diferentes concentrações pode ser aplicado às células vegetais. O processo osmótico é o mesmo. A diferença é que uma célula vegetal quando posta em uma solução hipotônica não corre o risco de estourar, porque sua parede celular mantém a integridade física da célula. À medida que a célula absorve água e vai inchando, a parede celular passa a exercer pressões cada vez maiores sobre o citoplasma, forçando a saída da água. Assim, em solução hipotônica, o volume celular aumenta até que a pressão exercida pela parede celular se torne equivalente à pressão de difusão da água (ou pressão osmótica). Dizemos que a célula inchada está túrgida. Já em solução hipertônica, a célula perde água para o meio, fazendo com que a membrana plasmática descole da parede celular. A solução do meio extracelular invade o espaço criado entre esses envoltórios porque a parede celular é permeável tanto aos solutos quanto aos solventes. Dizemos que a célula se tornou plasmolisada. Uma célula plasmolisada pode voltar à sua condição flácida quando volta a absorver água. Esse processo é chamado deplasmólise. Quando a célula vegetal se encontra em um meio isotônico, isto é, quando a concentração de sais ou nutrientes fora da célula é a mesma encontrada em seu interior, a célula fica em um estado chamado flácido. Isso significa que a força de entrada da água é igual a força de saída de água da célula, e não há diferença de pressão entre os meios externo e interno. Figura 11. Célula vegetal em soluções de diferentes concentrações. No primeiro copo, em solução hipertônica, a célula perde água e murcha. Dizemos que ela sofreu plasmólise. No segundo copo, em solução isotônica, não ocorre alteração no volume celular e a célula permanece em seu estado normal. Dizemos que ela está flácida. No terceiro copo, em solução hipotônica, a célula absorve água e incha, tornando-se túrgida. Observe que a célula vegetal não sofre lise devido à presença da parede celular (modificada). Fonte: Shutterstock. (FUVEST/2008/2a fase) Os protozoários de água doce, em geral, possuem vacúolos pulsáteis, que constantemente se enchem de água e se esvaziam, eliminando água para o meio externo. Já os protozoários de água salgada raramente apresentam essas estruturas. Explique: a) a razão da diferença entre protozoários de água doce e de água salgada, quanto à ocorrência dos vacúolos pulsáteis. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 24 77 b) o que deve ocorrer com um protozoário de água salgada, desprovido de vacúolo pulsátil, ao ser transferido para água destilada. Comentários a) Os protozoários de água doce, por serem hipertônicos em relação ao meio externo, recebem influxo constante de água por osmose. Para não “explodir” possuem vacúolos pulsáteis, responsáveis pela eliminação do excesso de água. Os protozoários de água salgada raramente possuem vacúolos pulsáteis, uma vez que, são isotônicos em relação ao meio externo, e, portanto, não apresentam problemas em sua regulação osmótica. b) Um protozoário de água salgada transferido para água destilada deve “explodir” pela entrada excessiva de água por osmose. C) Difusão facilitada Vimos que as proteínas que atuam transportando substâncias do meio externo para o meio interno da célula são as proteínas carreadoras ou permeases. As proteínas carreadoras estão envolvidas tanto na difusão facilitada quanto no transporte ativo. A difusão facilitadaobedece ao mesmo princípio de que a difusão simples: solutos (geralmente moléculas pequenas, como glicose, aminoácidos e nucleotídeos) saem do meio mais concentrado em direção ao meio menos concentrado, porém atravessam a membrana com ajuda das proteínas carreadoras, tonando o transporte mais rápido, sem que haja gasto de energia. A difusão facilitada, entretanto, apresenta uma velocidade máxima, que é atingida quando todos os carreadores presentes na membrana estão “trabalhando” em atividade máxima. Figura 12. Difusão facilitada. Molécula de glicose sendo transportada para dentro da célula com o auxílio de uma proteína carreadora, sem gasto de energia. Fonte: Shutterstock. Agora vamos ver os tipos de transporte ativo. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 25 77 3.2.2 Transporte ativo O transporte ativo é o que ocorre através da membrana celular com gasto de energia. Neste caso, o transporte de substâncias ocorre do local de menor concentração para o de maior concentração, isto é, contra um gradiente de concentração. Existem dois tipos de transporte ativo: as bombas de iônicas e o transporte por vesículas. Dentre as substâncias que podem ser transportadas ativamente através da membrana estão: íons sódio, potássio, ferro, hidrogênio, cálcio e alguns tipos de açúcares e de aminoácidos. D) Bomba iônica de sódio-potássio A tendência natural dos íons é manter um equilíbrio dentro e fora das células. Isso é o que acabamos de ver no transporte passivo. No entanto, o meio ideal para o funcionamento da célula requer diferenças nas concentrações de íons e moléculas entre o meio externo e o meio interno. E por que é importante essa diferença de concentração entre os meios? Tanto dentro quanto fora das células estão presentes vários íons. Por exemplo, a concentração de potássio (K+) dentro da célula é maior em relação ao meio externo. Já a concentração de sódio (Na+) é maior no meio extracelular. Considerando tudo o que vimos até aqui sobre difusão, existe uma forte tendência de os meios tentarem se equilibrar, portanto, o Na+ tende a entrar na célula e o K+ tende a sair para o meio externo. No entanto, é importante ter alta concentração de K+ dentro da célula porque ele é um recurso utilizado, por exemplo, na respiração celular e na síntese de proteínas. Dessa maneira, a absorção de K+ é intensa e, para balancear os meios, a célula manda para fora os íons de Na+. Então, para liberar o Na+ e absorver o K+, a célula gasta energia, porque ela realiza um trabalho que é mediado por proteínas e contra o gradiente de concentração (isto é, contra a tendência natural dos íons de se manter em equilíbrio). Funciona mais ou menos como se você quisesse subir uma escada rolante que está descendo. Você estaria lutando contra o fluxo e, para vencer o motor que faz com que a escada desça, você gastaria muita energia. Agora, imagine que a célula só absorvesse esse K+, sem eliminar o Na+ que existe dentro dela. Ela não estaria mais balanceando essas concentrações. Neste cenário, o meio intracelular ficaria com alta concentração dos dois íons. Assim, o interior da célula ficaria muito mais concentrado que o exterior pela presença em grandes quantidades de K+ e Na+. E o que acontece quando um meio é mais concentrado que outro? A água entra por osmose para dissolver os íons em excesso e manter o equilíbrio osmótico. Como nesse exemplo a célula não está mandando para fora o Na+, ela absorveria água indefinidamente até que em um dado momento sua membrana romperia. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 26 77 Resumindo: a célula gasta energia para que as concentrações do meio externo e interno permaneçam diferentes, mantendo sua integridade e funcionalidade. A membrana celular é cheia de bombas iônicas3. Existem outras bombas que também realizam o transporte ativo, como por exemplo as bombas de iodo e de cálcio, mas a bomba de sódio-potássio é o exemplo mais comum que despenca nas provas de vestibulares. Vamos a ele! A célula consome energia metabólica para manter desigual as concentrações de K+ e Na+. Para isso acontecer, ela precisa de proteínas especializadas em transportar esses íons. Essas proteínas são chamadas de carreadoras: elas possuem um sítio de ligação específico para o Na+ e para o K+, e um sítio de ligação específico para o ATP (adenosina trifosfato, a molécula que fornece energia para a maioria dos processos metabólicos da célula). São quatro etapas para o transporte ocorrer: 1º) a proteína carreadora da membrana está em uma conformação espacial (formato) na qual é possível que três íons Na+ se combinem com a parte voltada para dentro da célula; 2º) uma molécula de ATP liga-se à proteína carreadora, fornecendo energia à proteína carreadora. Essa energia promove a alteração da forma da proteína, que libera os três íons de sódio para o meio extracelular; 3º) ao mesmo tempo, dois íons K+ do meio externo se ligam à proteína carreadora; 4º) e são liberados no interior da célula. A proteína volta à sua conformação inicial e inicia o processo novamente. Por utilizar a energia do ATP para “bombear” os íons para dentro e para a fora, essas proteínas carreadoras recebem o nome de bombas de sódio-potássio. Note também que o transporte é antiporte: enquanto os íons sódio saem, os íons potássio entram na célula. Figura 13. Funcionamento de uma bomba de sódio potássio. Fonte: Shutterstock. 3 Um íon é uma espécie química eletricamente carregada que resulta de um átomo ou molécula que perdeu ou ganhou elétrons em razão de reações. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 27 77 E) Transporte por vesículas O transporte por vesículas compreende processos pelos quais a célula incorpora ativamente do meio externo partículas grandes ou macromoléculas, como proteínas e polissacarídeos, que normalmente não podem ser absorvidas pela membrana plasmática através dos demais tipos de transportes. Esses transportes ocorrem com o gasto de energia metabólica (ATP). São dois os tipos de processos: endocitose e exocitose. A endocitose é o processo de absorção de partículas por meio de vesículas chamadas de endossomos. Os endossomos são formados a partir da invaginação da membrana plasmática. Eles englobam a partícula a ser absorvida e a liberam no interior da célula, onde ocorre a digestão intracelular. Os mecanismos de digestão intracelular serão vistos na próxima aula. Figura 14. Mecanismo geral da endocitose. Fonte: Shutterstock. A endocitose pode ocorrer de três formas: ✓ Fagocitose: é o englobamento de partículas maiores e sólidas, como bactérias ou protozoários. A célula emite projeções citoplasmáticas denominadas pseudópodes que gradativamente englobam a o material externo. Este fica envolvido em uma vesícula no interior da célula chamada de fagossomo. ✓ Pinocitose: é semelhante à fagocitose, porém as partículas que são englobadas encontram-se dissolvidas na água. Neste caso, a invaginação da membrana forma um canal por onde a partícula Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 28 77 líquida entra. O canal então descola-se da membrana e forma uma vesícula chamada de pinossomo. ✓ Endocitose mediada por receptor: é semelhante à fagocitose, porém a partícula que será absorvida liga-se a proteínas receptoras. Esses receptores acumulam-se na membrana formando pequenas depressões revestidas por proteínas receptoras. Quando uma macromolécula se liga ao seu receptor específico, a depressão invagina-se e formauma vesícula (também revestida por proteínas). No citoplasma, a vesícula perde sua cobertura de proteínas e funde-se à outras vesículas que irão digerir a macromolécula. Figura 15. Tipos de endocitose. Fonte: Shutterstock. Exemplos O melhor exemplo de fagocitose ocorre no nosso sistema imunológico. Quando sofremos um ferimento, abrimos as portas do nosso corpo para agentes patogênico. Se somos atacados por uma bactéria, entram em ação os neutrófilos, células responsáveis por fagocitar a bactéria e impedir que ela contamine o restante do corpo. Uma vez que os neutrófilos fagocitam o agente patogênico, eles morrem. O resultado dessa ação é a formação de pus. Entra em ação os macrófagos: uma segunda classe de células do sistema imunológico que fagocitam os neutrófilos mortos, removendo o pus e curando a ferida. Este processo de inflamação que ocorre quando uma parte do organismo fica lesionada chama-se diapedese. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 29 77 Já a endocitose do colesterol na maioria das células dos mamíferos é um bom exemplo de endocitose mediada por receptor. O colesterol é sintetizado no fígado e transportado na corrente sanguínea associado a uma proteína, formando uma lipoproteína chamada LDL. A LDL liga-se a uma proteína receptora específica, e forma uma vesícula que se funde com um lisossomo (vesícula digestiva) já no interior da célula. A digestão da LDL permitirá a utilização do colesterol resultante pela célula. A exocitose é o processo inverso à endocitose e consiste na eliminação de substâncias para o exterior da célula. Essas substâncias podem ser resíduos provenientes do processo de digestão intracelular ou ainda substâncias por ela produzidas. No processo de exocitose, as substâncias são exportadas para fora da célula via vesículas secretoras. Elas se fundem à membrana plasmática e esta fusão faz com que a vesícula expulse o seu conteúdo para fora da célula. Esse processo promove o aumento da superfície da membrana e, portanto, não causa nenhum dano ao tamanho da célula. Quando as substâncias eliminadas são materiais residuais, chamamos o processo de eliminação de excreção (clasmocitose ou defecação celular). Quando são eliminados produtos celulares como hormônios e enzimas digestivas, chamamos o processo de secreção. Um exemplo do processo de secreção se dá no pâncreas, que secreta os hormônios insulina e glucagon, responsáveis por atuar no metabolismo de açúcares. Excreção é o processo de eliminação dos produtos residuais do metabolismo e outros materiais sem utilidade para o organismo. É uma característica importante dos seres vivos, pois impede o acúmulo de resíduos e previne a toxicidade das células. Figura 16. Mecanismo geral de exocitose. Fonte: Shutterstock. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 30 77 Nos seres vivos, também chamamos a excreção de eliminação, abrangendo todos os mecanismos pelos quais as várias formas de vida eliminam resíduos, substâncias tóxicas e porções mortas do organismo. A natureza do mecanismo e das estruturas especializadas na eliminação variam muito com o tamanho e a complexidade do organismo. Nos humanos, por exemplo, temos a excreção ocorrendo nos rins e nos pulmões, com a eliminação dos resíduos urina e dióxido de carbono do corpo, respectivamente. Secreção também é a eliminação de substâncias pela célula. Contudo, se a substância sai do organismo, trata-se de uma secreção exócrina, mas se a substância permanece no interior do organismo, trata-se de uma secreção endócrina. Virtualmente, as secreções exócrinas funcionam como excreções, pois ambas são eliminadas para fora do organismo. A diferença é que as secreções são eliminadas pelas glândulas secretoras. O exemplo mais comum é o suor. O suor é um fluido secretado pela glândula sudorípara que sai para o exterior do organismo pelos poros cutâneos. Já as secreções endócrinas são eliminadas da célula para o interior do organismo, também por glândulas secretoras. Essas secreções possuem uma finalidade específica no organismo e os principais exemplos são as enzimas e hormônios. (UNIFESP-SP/2008) O uso de vinagre e sal de cozinha em uma salada de alface, além de conferir mais sabor, serve também para eliminar microrganismos causadores de doenças, como as amebas, por exemplo. O inconveniente do uso desse tempero é que, depois de algum tempo, as folhas murcham e perdem parte de sua textura. Esses fenômenos ocorrem porque a) as amebas morrem ao perderem água rapidamente por osmose. Já as células da alface possuem um envoltório que mantém sua forma mesmo quando perdem água por osmose e, por isso, murcham mais lentamente. b) tanto as amebas quanto as células da alface não possuem barreiras para a perda de água por difusão simples. Ocorre que, no caso da alface, trata-se de um tecido e não de um único organismo e, portanto, a desidratação é notada mais tardiamente. c) as amebas morrem ao perderem água por osmose, um processo mais rápido. Em contrapartida, as células da alface perdem água por difusão facilitada, um processo mais lento e, por isso, percebido mais tardiamente. d) o vinagre, por ser ácido, destrói a membrana plasmática das amebas, provocando sua morte. No caso da alface, o envoltório das células não é afetado pelo vinagre, mas perde água por difusão simples, provocada pela presença do sal. e) nas amebas, a bomba de sódio atua fortemente capturando esse íon presente no sal, provocando a entrada excessiva de água e causando a morte desses organismos. As células da alface não possuem tal bomba e murcham por perda de água por osmose. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 31 77 Comentários A alternativa A está correta. As amebas são animais protozoários. Células animais quando postas em solução hipertônica (mais concentrada), perdem água para o meio por osmose. A ameba, neste caso, dessecou até morrer. Já nas células vegetais, embora também percam água expostas a uma solução hipertônica, esse processo ocorre de maneira mais lenta, devido à parede celular. A parede celular é a estrutura responsável por dar forma a célula. Na alternativa B, o texto traz que células animais e vegetais não possuem barreiras contra a perda d’água por difusão simples. Está errada uma vez que as células vegetais apresentam a parede celulósica, responsável, entre outras coisas, por evitar a dessecação da célula. Além disso, o movimento de saída da água do meio menos concentrado para o meio mais concentrado denomina- se osmose e não difusão simples. Na difusão simples é o soluto que migra do meio mais concentrado para o meio menos concentrado. Na alternativa C é dito que na alface ocorreu o processo de difusão facilitada. Está errado. A célula vegetal perde água por osmose, assim como as células animais. Os animais até possuem as aquaporinas, proteínas de membrana cuja função é facilitar a entrada de água e tornar este processo mais rápido. Contudo, na ausência dessas proteínas, a osmose ocorre normalmente, sendo o mecanismo principal de transporte de água. Na alternativa D, o vinagre não afeta a membrana plasmática da ameba e não possui nenhuma relação com sua morte. Na alternativa E, o texto diz que a morte do protozoário foi devido a entrada excessiva de água na célula, uma vez que ela teria capturado íons de sódio pela bomba de sódio-potássio. Tudo nesta alternativa está errado. O protozoário morreu por desidratação, devido à saída excessiva de água ao entrar em contato com um ambiente mais concentrado que o seu ambiente interno (intracelular). Gabarito: A. (UECE/2008)Sabe-se que no transporte de substâncias através da membrana plasmática: 1) Certos íons são conservados com determinadas concentrações dentro e fora da célula, com gasto de energia. 2) Caso cesse a produção de energia, a tendência é de distribuírem-se homogeneamente as concentrações destes íons. As frases 1 e 2 referem-se, respectivamente, aos seguintes tipos de transporte: a) difusão facilitada e osmose b) transporte ativo e difusão simples c) transporte ativo e osmose d) difusão facilitada e difusão simples Comentários Sentença 1: Refere-se ao transporte ativo. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 32 77 O transporte ativo ocorre contra o gradiente de concentração, ou seja, favorecendo concentrações desiguais entre os meios, e com gasto de energia. Essa diferença de concentração dos íons entre os meios intra e extracelulares é necessária para o correto funcionamento de vários processos biológicos. As proteínas carreadoras bombeiam os íons contra sua tendência natural de movimento mediante o fornecimento de ATP. Sentença 2: Refere-se à difusão simples. Na ausência de uma força que direcione os íons contra o gradiente de concentração, eles seguem sua tendência natural de difundirem-se homogeneamente do meio mais concentrado para o meio menos concentrado, até alcançarem o equilíbrio (solução isotônica). Gabarito: B. 3.3 ESPECIALIZAÇÕES DA MEMBRANA A membrana plasmática possui várias especializações, divididas em microvilosidades e junções celulares. 3.3.1 Microvilosidades São projeções da membrana em forma de dobras, parecidas com dedos de luvas, cuja função é aumentar a superfície de contato com o meio externo, aumentando, consequentemente, a absorção, a secreção e a adesão celulares. Seu interior é formado por filamentos de actina, também chamados de microfilamentos. As microvilosidades estão muito presentes na mucosa intestinal (onde formam a chamada borda estriada) e nos túbulos renais (onde formam a chamada borda em escova). Ambos são locais nos quais o corpo necessita absorver ao máximo os nutrientes ingeridos. A actina é uma proteína globular fundamental do esqueleto celular (ou citoesqueleto), que em conjunto com a miosina e as moléculas de ATP, gera movimentos celulares e musculares. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 33 77 3.3.2 Junções celulares Existem três tipos principais de junções celulares: ✓ Junções de ancoragem: divididas em junções desmossomos, hemidesmossomos e aderentes; ✓ Junções comunicantes (ou junções gap); ✓ Junções de oclusão. Desmossomo Desmossomos são junções celulares constituídas por duas partes: uma delas na membrana de uma das células e a outra, na membrana da célula vizinha. São placas arredondadas formadas por proteínas especiais (placoglobinas e desmoplaquinas), que funcionam como receptores dos componentes do citoesqueleto e dão adesão entre as células. Elas unem fortemente uma célula à outra. As células epiteliais e musculares são exemplos comuns de forte adesão devido à presença dos desmossomos. Por exemplo, quando um atleta tem uma distensão muscular, o que aconteceu foi um rompimento das células que contém os desmossomos. Hemidesmossomo Hemidesmossomo é o resultado da divisão do desmossomo em dois, sendo que cada metade pertence a uma célula (entre as duas células vizinhas). Eles são semelhantes ao desmossomo, porém ligam as células vizinhas por meio de filamentos de queratina, que estão ligados à proteína de ancoramento plectina e apresentam uma proteína chamada integrinas. https://pt.wikipedia.org/wiki/Integrina Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 34 77 Os hemidesmossomos também diferem dos desmossomos porque ligam a membrana plasmática de uma célula à lâmina basal da célula vizinha. Lâmina basal é uma treliça de macromoléculas funcionalmente importante para a célula, pois delimita o tecido epitelial do tecido conjuntivo subjacente. Em outras palavras, é como se ligasse o “chão” de uma célula ao “teto” de sua vizinha. Junções aderentes Possuem a mesma função que os desmossomos, mas distribuem-se na membrana ao redor da célula, unindo esta com as vizinhas. Nesta junção, o citoesqueleto ancorado é composto de microfilamentos de actina, formando um cinturão de adesão. Suas âncoras transmembranares são compostas de proteínas de adesão chamadas caderinas, que se ancoram à outras células e à matriz extracelular. Nas células epiteliais do intestino ocorrem diversas junções aderentes. Junções comunicantes (gap) Junções gap ou junções comunicantes permitem a comunicação química direta entre o citoplasma celular adjacente através de difusão, sem contato do líquido extracelular. Isto é possível devido a seis proteínas transmembranares que interagem para formar um cilindro com um poro no centro. Esse poro se sobressai através da membrana celular e quando duas células adjacentes interagem, formam um canal (a junção gap). As junções gap são exclusivas dos animais, e nela há trocas de pequenas moléculas (glicose), íons e elétrons. Por exemplo, a junção gap que ocorre nas células animais é importante no coração para permitir o fluxo de potássio na propagação do estímulo que promove a contração do miocárdio. Plasmodesmos Possuem a mesma função que as junções comunicantes, porém ocorrem nas células vegetais somente. São, portanto, canais responsáveis pela conexão citoplasmática entre células vizinhas, possibilitando a troca de moléculas de informação, moléculas funcionais ou estruturais entre as células pertencentes a um mesmo grupo. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 35 77 Junções de oclusão São junções compostas por duas proteínas (claudina e ocludina) entre as camadas mais externas de células vizinhas, que estabelecem uma barreira à entrada de macromoléculas nas células. Encontramos junções de oclusão (ou junções ocludentes) nas células epiteliais, revestindo o intestino e outros órgãos dos vertebrados, bloqueando o espaço intercelular e impedindo a passagem de substâncias pelo epitélio. 3.3.3 Interdigitações Por fim, outra especialização comum nas células são as interdigitações, saliências e reentrâncias (semelhantes a projeções) nas membranas de duas células vizinhas, que se encaixam umas às outras aumentando a adesão entre as células, como se fossem dedos entrelaçados. (UEPB/2000) Em algumas células, a membrana plasmática apresenta determinadas estruturas especializadas. Observe a ilustração a seguir: Figura adaptada de: PAULINO, Wilson Roberto. Biologia Atual - Citologia -Histologia. 10. ed. São Paulo: Ática, 1998. v. 1. p. 117. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta do tipo de especialização e sua respectiva função: a) 1. Interdigitações - aumentar a superfície de contato; 2. Microvilosidades - diminuir a área de aderências; 3. Desmossomos - diminuir a área de absorção. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 36 77 b) 1. Microvilosidades - aumentar a superfície de absorção; 2. Desmossomos - aumentar a área de adesão entre células vizinhas; 3. Interdigitações - aumentar a coesão entre as células. c) 1. Microvilosidades - diminuir a superfície de contato; 2. Desmossomos - aumentar a área de adesão entre as células vizinhas e servir de suporte mecânico; 3. Interdigitação – aumentar o suportemecânico. d) 1. Desmossomos - diminuir a superfície de absorção; 2. Microvilosidades - aumentar a área de absorção; 3. Interdigitações - diminuir a área de aderência. e) 1. Desmossomos - aumentar a superfície de contato; 2. Interdigitações - aumentar a superfície de absorção; 3. Microvilosidades - aumentar a área de aderência. Comentários Em 1 são apontadas microvilosidades, que aumentam a superfície de absorção da célula. Em 2 são apontados os desmossomos, que aumentam a adesão entre as células. Em 3 são apontadas as interdigitações, que aumentam a adesão e coesão entre as células. Gabarito: B. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 37 77 4. LISTA DE QUESTÕES 1. (FUVEST/2016) Atualmente, os seres vivos são classificados em três domínios: Bacteria, Archaea e Eukarya. Todos os eucariotos estão incluídos no domínio Eukarya e os procariotos estão distribuídos entre os domínios Bacteria e Archaea. Estudos do DNA ribossômico mostraram que os procariotos do domínio Archaea compartilham com os eucariotos sequências de bases nitrogenadas, que não estão presentes nos procariotos do domínio Bacteria. Esses resultados apoiam as relações evolutivas representadas na árvore a) b) c) d) e) Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 38 77 2. (FUVEST/2015) Nas figuras abaixo, estão esquematizadas células animais imersas em soluções salinas de concentrações diferentes. O sentido das setas indica o movimento de água para dentro ou para fora das células, e a espessura das setas indica o volume relativo de água que atravessa a membrana celular. A ordem correta das figuras, de acordo com a concentração crescente das soluções em que as células estão imersas, é: a) I, II e III. b) II, III e I. c) III, I e II. d) II, I e III. e) III, II e I. 3. (FUVEST/2013) A figura abaixo representa uma célula de uma planta jovem. Considere duas situações: 1) a célula mergulhada numa solução hipertônica; 2) a célula mergulhada numa solução hipotônica. Dentre as figuras numeradas de I a III, quais representam o aspecto da célula, respectivamente, nas situações 1 e 2? Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 39 77 a) I e II. b) I e III. c) II e I. d) III e I. e) III e II. 4. (FUVEST/2011) Uma das extremidades de um tubo de vidro foi envolvida por uma membrana semipermeável e, em seu interior, foi colocada a solução A. Em seguida, mergulhou-se esse tubo num recipiente contendo a solução B, como mostra a Figura 1. Minutos depois, observou-se a elevação do nível da solução no interior do tubo de vidro (Figura 2). O aumento do nível da solução no interior do tubo de vidro é equivalente a) à desidratação de invertebrados aquáticos, quando em ambientes hipotônicos. b) ao que acontece com as hemácias, quando colocadas em solução hipertônica. c) ao processo de pinocitose, que resulta na entrada de material numa ameba. d) ao processo de rompimento de células vegetais, quando em solução hipertônica. e) ao que acontece com as células-guarda e resulta na abertura dos estômatos. 5. (FUVEST/2001) Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 40 77 Um pesquisador estudou uma célula ao microscópio eletrônico, verificando a ausência de núcleo e de compartimentos membranosos. Com base nessas observações, ele concluiu que a célula pertence a a) uma bactéria. b) uma planta. c) um animal. d) um fungo. e) um vírus. 6. (FUVEST/1998) Está presente na célula bacteriana: a) aparelho de Golgi. b) carioteca. c) mitocôndria. d) retículo endoplasmático. e) ribossomo. 7. (FUVEST SP/1995) Para exercerem suas funções de reabsorção, as células epiteliais dos túbulos renais apresentam a) vilosidades e muitas mitocôndrias. b) superfície lisa e muitas mitocôndrias. c) vilosidades e poucas mitocôndrias. d) superfície lisa e poucas mitocôndrias. e) grandes vacúolos. 8. (FUVEST SP/1993) A tabela abaixo compara a concentração de certos íons nas células de Nitella e na água do lago onde vive essa alga. Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 41 77 Os dados permitem concluir que as células dessa alga absorvem. a) esses íons por difusão b) esses íons por osmose c) esses íons por transporte ativo d) alguns desses íons por transporte ativo e outros por osmose. e) alguns desses íons por difusão e outros por osmose. 9. (FUVEST SP/1991) Medidas da concentração de íons de sódio (Na+) e de potássio (K+), dentro e fora dos neurônios gigantes de lula, revelam: Íon Concentração citoplasmática Concentração extracelular Na+ 50 440 K+ 400 20 Se os neurônios são expostos a um bloqueador respiratório, como o cianeto, a concentração de sódio rapidamente se iguala dentro e fora da célula, o mesmo ocorrendo com o potássio. Em condições normais, qual o mecanismo responsável pela manutenção da diferença entre as concentrações iônicas dentro e fora do neurônio? a) Difusão, pelo qual íons podem atravessar a membrana espontaneamente. b) Osmose, pelo qual apenas a água atravessa a membrana espontaneamente. c) Transporte ativo, pelo qual íons atravessam a membrana com gasto de energia. d) Fagocitose, pelo qual a célula captura partículas sólidas. e) Pinocitose, pelo qual a célula captura gotículas. 10. (FUVEST SP/1987) Concentração de íons em mg/L Na K Mg Ca Cl --+ + 2+ 2+ células água do lago 1900 2400 260 380 3750 28 2 36 26 35 Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br 42 77 Uma célula animal foi mergulhada em uma solução aquosa de concentração desconhecida. Duas alterações ocorridas na célula encontram-se registradas no gráfico. 1. Qual a tonicidade relativa da solução em que a célula foi mergulhada? 2. qual o nome do fenômeno que explica os resultados apresentados no gráfico? a) hipotônica, osmose b) hipotônica, difusão c) hipertônica, osmose d) hipertônica, difusão e) isotônica, osmose 11. (UERJ/2018) Junções comunicantes ou junções gap, um tipo de adaptação da membrana plasmática encontrada em células animais, permitem a comunicação entre os citoplasmas de células vizinhas. Esse tipo de associação entre as células proporciona o seguinte resultado: a) forte adesão b) barreira de proteção c) integração funcional d) exocitose de substâncias 12. (UFJF MG/2017) O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2016 foi para uma área bastante fundamental das Ciências Biológicas. O japonês Yoshinori Ohsumi foi escolhido pela sua pesquisa sobre como a autofagia realmente funciona. Trata-se de uma função ligada ao reaproveitamento do “lixo celular” e também ligada a doenças. Fonte: texto modificado a partir de http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/10/18192 88-japones-vence-nobel-de medicina-por-pesquisa-sobre-aautofagia.shtml de 03/10/2016. Acesso em 16/10/2016. 0 0 t1 t2 tempo va lor es cre sce nte s volume da célula diferença de concentração célula/solução http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/10/18192 Professora Bruna Klassa Aula 01: Curso de Biologia para FUVEST Aula 01 – Citologia I: membrana plasmática www.estrategiavestibulares.com.br
Compartilhar