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Brenda Gouveia Ramos É uma infecção zoonótica, não é contagiosa e tem característica de ser crônica. A forma cutânea não irá evoluir para a forma visceral, mas pode ter acometimento mucoso. A lesão pode “curar” espontaneamente, porém, no futuro pode acometer a mucosa e cartilagens da nasofaringe. Pode ser localizada ou difusa. É causada por protozoários do gênero Leishmania e transmitida pela picada da fêmea do flebótomo infectado, que é o vetor da doença. Ocorre em todos os estados brasileiros, mas algumas áreas têm maior incidência que outras. Perfis epidemiológicos: Silvestre: homem em idade laboral, adentra na floresta em atividade de extração, agronegócio, interrompendo o ciclo natural da doença. Reservatório silvestre da Leishmania: roedores, marsupiais, tamanduá, tatu. Urbano: acomete qualquer gênero em qualquer faixa etária. Adaptação do flebótomo ao peridomicílio. O reservatório do agente etiológico pode ser animal doméstico ou homem. Leishmania l. amazonensis: predomina na Amazônia, causa mais a forma cutânea anérgica difusa. Leishmania v. guyanensis: causam geralmente múltiplas lesões cutâneas porque os mosquitos andam em núvem o que leva a múltiplas picadas. Leishmania v. brasiliensis: é a espécie que mais causa a forma cutânea e mucocutânea no Brasil e América. Inseto vetor: Brenda Gouveia Ramos Flebotomineos – gênero Lutzona Conhecido popularmente por mosquito palha. No inseto: a leishmania tem forma promastigota, sem flagelos. Seres humanos: forma amastigota, intracelular. Inoculação em áreas expostas: extremidades dos membros, face. Período de incubação: 2 semanas a 2 anos. Lesão com aspecto variado: eritema, edema, infiltração, pápula, verrucosidade, úlcera (95%). Pode ter linfangite e adenopatia discreta. Formas clínicas: Leishmaniose Tegumentar Cutânea o Localizada o Disseminada o Reicidiva cútis - reativação localizada após a cicatrização espontânea ou medicamentosa. o Difusa/anérgica Leishmaniose Tegumentar Mucosa o Tardia, Concomitante, Primária ou Contígua. A disseminação hematogênica ou por contiguidade para a mucosa nasofaríngea pode ter como consequência a disfunção ou destruição desses tecidos. Forma cutânea localizada Mais frequente Acometimento primário da pele – inoculação Lesão única ou múltiplas – múltiplas picadas Imunidade celular preservada – reação de Montenegro positiva. (Avalia resposta imune celular específica contra o parasita) Melhor prognóstico e boa resposta ao tratamento Apenas 3% evolui para lesão mucosa Pode ter evolução para o quadro anérgico ou hiperégico. Pólo hiperérgico: se a resposta imune celular específica for elevada – TH1 Pólo anérgico: desenvolve resposta imune humoral inespecífica – TH2. A lesão primária típica é forma clínica mais frequente. Ocorre de 1 semana até 3 meses da picada. Uma ou várias pápulas eritematosas, adenopatia regional e linfangite. Evolução para úlcera de características bem definidas: a lesão é redonda, borda circular, elevada (em moldura), infiltrada (edema da borda), fundo com granulações grosseiras de tecido vermelho vivo com exsudato. Existe pouco exudato seroso ou sero-purulento. Cerca de 95% dos pacientes vão desenvolver a úlcera caracterísica. A lesão não dói muito, geralmente. Existe uma diferenciação do aspecto exuberante da lesão e a pouca sintomatologia que o paciente refere. Geralmente os pacientes não procuram atendimento porque a lesão dói, e sim pelo aspecto. Brenda Gouveia Ramos Tendência à resolução espontânea em 6-12 m, cicatriz atrófica. Porque a lesão é profunda na derme. Diagnóstico diferencial: Ectima seria um diagnóstico diferencial para a úlcera da leishmaniose, mas tem bordas menos elevadas, crosta espessa e aderida, a lesão é seca e sem a granulação grosseira. É mais flogístico e mais doloroso. Observação: quando o paciente tem mais de uma lesão e tem mudança de padrão, deve ter outra infecção concomitante. Apresentações menos comuns: A leishmaniose é uma grande simuladora de outras lesões e pode ter várias outras apresentações menos comuns: Eritema e edema com infiltração; Pápula; Tubérculo; Verrucosidade – qualquer verruga muito exuberante que não suspeitamos de verruga vulgar: diagnóstico diferencial PLECT P Paracoccidioidomicose, L Leishmaniose, E Espirotricose, C Cronomicose, Carcinoma espinocelular, T Tuberculose Forma cutânea disseminada L. amazonensis e L. brasiliensis; Apenas 2% dos casos; Acomete tronco e face – lesões acneiformes com comprometimento folicular, localizada em 2 ou mais regiões corpóreas; 30% evolui para lesão de mucosa; Disseminação hematogênica; Não necessariamente as lesões são resultantes de picada, pois geralmente a lesão da picada é uma úlcera. Associação com sintomas gerais: adinamia, prostração, febre baixa. De cara, você não vai pensar em Leishmaniose, existem vários diagnósticos diferenciais para essa apresentação clínica, mas é importante conhecer e saber que embora seja raro, a leishmaniose pode se manifestar dessa forma. Leishmaniose cutânea difusa L. amasonensis Forma rara Não responde bem ao tratamento (regressão parcial), chance de cronificar e de reicidivar. Polo anérgico – TH2 – reação de Montenegro negativa - multibacilar. Se a resposta imune não é efetiva, o parasita encontra menor dificuldade de se reproduzir e a doença se torna multibacilar. Aresentação: lesões difusas, máculas, pápulas ou nódulos, polimorfismo e infiltração. Lesões múltiplas, recobrem grandes áreas corpóreas, principalmente face, membros e nádegas. Poupa o couro cabeludo, regiões inguinais, axilas e palmas. Em geral não ulcera. Evolução lenta Lesões ricas em macrófagos, abundantes em parasitas. Brenda Gouveia Ramos Pode ter fáscie leonina – diagnóstico diferencial com hanseníase virchowiana. Anergia: é a ausência de resposta imune efetiva. Os macrófagos serão incapazes de destruir o patógeno, causa lesões difusas, que podem ser incapacitantes. Leishmaniose cutâneo-mucosa Principalmente L. brasiliensis Pólo hiperérgico – pauciparasitário – TH1 – Reação Montenegro fortemente positiva Resposta terapêutica ruim, muito reicidivante. 3 a 5% dos casos da leishmaniose cutânea localizada irão evoluir para essa forma, mesmo 10 anos depois da úlcera inicial. A maioria dos pacientes não tem a Leishmaniose cutânea ativa. Pode ter sintomas no trato respiratório superior: rouquidão, pigarro, disfagia. Existe muita resposta imune especifica, o parasita não se desenvolve muito nesse ambiente. O teste de Montenegro dá fortemente positivo porque a resposta imune dele está muito exacerbada. Essa resposta imune está mais relacionada ao próprio indivíduo do que ao parasita. Geralmente, o paciente que irá faz essa forma clínica teve a apresentação inicial clássica da leishmaniose cutânea, com a úlcera e tudo mais, mas a lesão teve remissão espontânea, o paciente nem sequer tratou, ou não fez o tratamento corretamente. Um belo dia, o paciente passa a apresentar sintomas no trato respiratório superior, e quando vai ao médico, encontra a lesão em mucosa oral ou nasofaríngea. Maior chance de apresentação da forma mucosa: Sexo masculino Lesões primárias extensas e/ou múltiplas Lesões acima da cintura Duração > 1 ano Tratamento inadequado Apresentação clínica: Envolvimento mucoso por contiguidade, disseminação linfática ou hematogênica (mais comum); Eritema e infiltração no septo nasal, que evolui para úlcera, fazendo destruição da cartilagem. Destruição de septo nasal: nariz de anta ou em tapir Área adjacente com eritema e edema A lesão de mucosa podeacometer lábios, palato, gengiva, língua, faringe e laringe. A sintomatologia depende da localização. Brenda Gouveia Ramos Nesse paciente aqui, a lesão já é muito mais crônica. Existe a destruição do septo e um edema, eritema e infiltrado em toda região centro-facial, já em direção a região malar. Cruz da Espundia ou de Escomel: Lesão característica da leishmaniose cutânea, apresenta-se como uma lesão úlcero-vegetante, com granulações grosseiras separadas por sulcos, que se cruzam no palato. Leishmaniose linfonodal Linfadenopatia generalizada sem lesão tegumentar Diagnóstico muito mais difícil, porque existe uma infinidade de doenças que se apresentam nessa forma. Polo anérgico. Paciente com SIDA: Quadros atípicos, tendência à disseminação e visceralização, pouca resposta ao tratamento. Clínico, epidemiológico e laboratorial. Diagnóstico ideal: confirmação diagnóstica por métodos parasitológicos: exame direto, cultura ou inoculação em animais. Exame direto - 90%: Leishman ou Giemsa Borda interna da úlcera; Até 1 ano: a positividade diminui com o tempo. Cultura – 80%: Utiliza o mesmo material que o exame direto Pode determinar a espécie Não muito comum na prática Biópsia e histopatológico: Pode visualizar o parasita dentro de macrófagos na derme Muito usado na prática clínica Teste de Montenegro: Teste intradérmico: injeta na derme solução com partes inativas de leishmania; Avalia a reação inflamatória Se for maior que 5mm, é positivo. Detecta se o paciente já teve contato e desenvolveu imunidade específica para a leishmaniose, pode ser positivo até 10 anos do contato, independente se foi tratado ou não. É negativo: o Nas formas anérgicas; o Primeiras 4-6 semanas (30 dias) o Indivíduos precocemente tratados Teste sorológico: Imunofluorescência indireta – IFI Detecta anticorpos contra a Leishmania Não é muito específico: anticorpos podem cair ou desaparecer após tratamento e cura Não reage na forma mucosa Pode ser positivo na forma anérgica Seguimento sorológico após tratamento Muito usado na prática ELISA e PCR Existe, mas ninguém usa porque é caro. Pode identificar a espécie também. Brenda Gouveia Ramos Glucantimi: n-metilglucamina Primeira escolha Via parenteral: EV ou IM Usar por 20-30 dias seguidos Efeitos colaterais: renais, cardíacos (arritimias), efeito teratogênico, etc. Anfotericina B Escolha para gestantes Pentamidina Pentoxifilina Miltefosina
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