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1 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC V REDE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA (TUTORIA 2) 1) DIFERENCIAR A REDE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA, BEM COMO OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA REDE DE ATENÇÃO A proposta das Redes de Atenção à Saúde (RAS) foi discutida pela primeira vez no Relatório de Dawson, publicado em 1920, a partir do questionamento de como garantir o acesso com equidade a toda a população (OPAS, 1964). Além da proposta de Redes de Atenção à Saúde (RAS) apresentada no relatório de Dawson, Fleury e Ouverney (2007) propuseram as RAS como forma de gerir políticas e projetos na qual os recursos são escassos e os problemas complexos, e há agentes públicos e privados compondo a rede, de forma central e local; e principalmente onde se manifesta uma crescente demanda por benefícios e por controle social. O Ministério da Saúde define as RAS como “arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado”, normatizando e definindo as diretrizes e a implantação das RAS por meio da Portaria GM/MS nº. 4.279, de 30 de dezembro de 2010 (BRASIL, 2010). As Redes de Atenção à Saúde (RAS) organizam-se por meio de pontos de atenção à saúde, ou seja, locais onde são ofertados serviços de saúde que determinam a estruturação dos pontos de atenção secundária e terciária. A organização das RAS, para ser realizada de forma efetiva, eficiente e com qualidade, deve se estruturar considerando os seguintes fundamentos: a economia de escala, a disponibilidade de recursos, qualidade e acesso, a integração horizontal e vertical, os processos de substituição, os territórios sanitários e os níveis de atenção (MENDES, 2011). Nas RAS o centro de comunicação é a Atenção Primária à Saúde (APS), sendo esta ordenadora do cuidado. A estrutura operacional das RAS expressa alguns componentes principais: centro de comunicação (Atenção Primária à Saúde); pontos de atenção (secundária e terciária); sistemas de apoio (diagnóstico e terapêutico, de assistência farmacêutica, de teleassistência e de informação em saúde); sistemas logísticos (registro eletrônico em saúde, prontuário clínico, sistemas de acesso regulado à atenção e sistemas de transporte em saúde); e sistema de governança (da rede de atenção à saúde) (MENDES, 2009). O Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº 4.279/10, estabelece diretrizes para a organização das Redes de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). As redes estabelecidas na portaria dividem-se em: ✓ Rede Cegonha, estabelecida por meio da Portaria nº 1.459/11; ✓ Rede de Urgência e Emergência (RUE), estabelecida pela Portaria GM/MS nº 1.600/11; 2 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC V ✓ Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), estabelecida pela Portaria GM/MS nº 3.088/11, para as pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas; ✓ Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiências (Viver Sem Limites), estabelecida pela Portaria GM/MS nº 793/12; ✓ Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas, pela Portaria GM/MS nº 438/14. Um dos maiores problemas do Sistema Único de Saúde reside na incoerência entre a situação de condição de saúde brasileira de tripla carga de doença, com o forte predomínio relativo das condições crônicas, e o sistema de atenção à saúde adotado, que é fragmentado, episódico, reativo e voltado prioritariamente para as condições e os eventos agudos. Nesse sentido, as RAS surgem como uma real possibilidade de correção para tal desafio, uma vez que consistem em arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão buscam garantir a integralidade do cuidado (CONASS, 2015). Segundo Rosen e Ham (2008), os objetivos de uma RAS são melhorar a qualidade de vida das pessoas usuárias, os resultados sanitários do sistema de atenção à saúde, a eficiência na utilização de recursos e a equidade em saúde. De acordo com Agranoff e Lindsay (1983), para a gestão eficaz das redes, é fundamental a produção de consensos, construir situações nas quais todos os atores envolvidos no processo se beneficiem dos resultados, buscar harmonizar as decisões políticas e administrativas, negociar as soluções diariamente e monitorar e avaliar permanentemente todos os processos envolvidos na produção do cuidado nas RAS. Os fatores de sucesso das RAS estão relacionados à combinação de liderança interna e externa ao processo de construção/implementação, maior participação de profissionais, ao fortalecimento e ao reconhecimento da Atenção Primária à Saúde (APS) como ordenadora da rede, bem como à importante ferramenta da gestão da clínica a partir de implantação de diretrizes clínicas (GRIFFITH, 1997 apud MENDES 2011). → REDE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA (RUE) URGÊNCIA: é quando a situação requer uma assistência rápida, no menor tempo possível, que não pode ser adiada, a fim de evitar complicações, sofrimento e mesmo risco de morte. Dores abdominais agudas, cólicas renais, luxações, fraturas (dependendo da gravidade), são exemplos de urgências médicas. A palvra deriva do verbo “urgir”, ou seja, “não aceitar demora”. EMERGÊNCIA: é uma situação em que há ameaça à vida, sofrimento intenso ou risco de lesão permanente, havendo necessidade de tratamento médico imediato. São exemplos: para cardiorrespiratória, hemorragias volumosas, infartos, situações que podem levar ao óbito ou danos irreversíveis. Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVA/MS), se observa uma alta morbimortalidade relacionada às violências e aos acidentes de trânsito entre jovens até 40 anos e acima desra faixa etária, alta morbimortalidade relacionada às doenças do aparelho circulatório, como infarto agudo do miocárdio e AVC. Os componentes da RUE são: 3 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC V Um importante mecanismo para o atendimento é a triagem, tal mecanismo tem o papel de identificar os níveis de gravidade e, assim, ajudar na ação coordenada ao atendimento do paciente. Em vários países do mundo, bem como no Brasil, adota-se bastante o a TRIAGEM (OU PROTOCOLO) DE MANCHESTER, que divide os pacientes em CINCO níveis de prioridade – classificando cada nível por uma cor, na qual cada cor irá determinar o tempo de espera para atendimento. 2) COMPREENDER OS MECANISMOS DE REGULAÇÃO PARA CASOS DE REFERÊNCIA E CONTRAREFERÊNCIA E SUA FUNCIONALIDADE A discussão sobre a regulação nas RAS é muito ampla e com poucos consensos sobre o assunto. Aqui, abordaremos a regulação como parte da estrutura operacional das RAS. Algumas redes temáticas têm definições específicas para o acesso à atenção e integralidade do cuidado. A partir das redes temáticas, analisando o território, as suas necessidades e a capacidade instalada, foram realizadas propostas na forma de organização e definição do acesso e fluxos da grade de referência através da construção de Plano de Ação Regional (PAR), conforme as definições em cada rede temática. Rede de Atenção à Urgência (RAU) Definida pela Portaria GM/MS nº 1.600, de 07 de julho de 2011, prevê, nas suas diretrizes, a proposta de acesso regulado, articulado entre todos os componentes da RAU, com a busca da equidade, da integralidade e organização dos serviços regionalmente, por meio do PAR. Inclui a importância da classificação de risco para a priorização de linhas de cuidados (BRASIL, 2011a). Rede Cegonha Definida pela Portaria GM/MS nº 1.459, de 24 de junho de 2011, prevê a responsabilização do acesso por meio da atenção básica, em especial a Estratégia de Saúde da Família (ESF), com a vinculação da gestante à 4Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC V maternidade, por meio do mapa de vínculo, informando durante a gestação qual será a maternidade e incentivando a visita prévia para minimizar desconfortos (BRASIL, 2011b). A regulação está prevista como o quarto componente que integra a Rede Cegonha, com ênfase no acolhimento das intercorrências na gestação, com a avaliação e classificação de risco e vulnerabilidade, acesso ao pré-natal de alto risco em tempo oportuno, realização de exames de pré-natal e acesso aos resultados em tempo oportuno, transporte seguro para as gestantes e puérperas, atendimento aos recém-nascidos de alto risco por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), na Unidade de Suporte Avançado (USA), e implantação do modelo “Vaga Sempre” de acordo com o mapa de vinculação. Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) Possui certa particularidade sobre a regulação, principalmente no que se refere ao acesso, visto que a Atenção Básica e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) são portas de entrada da RAPS; dessa forma, a pessoa poderá entrar na RAPS por qualquer um desses pontos de atenção da rede. Também está prevista a entrada pela porta de urgência, definida no Decreto nº. 7.508, com ênfase no acolhimento e no projeto terapêutico singular como forma de qualificar a atenção na RAPS (BRASIL, 2011c). A definição dessa rede temática está prevista na Portaria GM/MS nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011 (BRASIL, 2011d). Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas É organizada e operacionalizada por meio das linhas de cuidados específicas, considerando os agravos de maior magnitude, de forma que o acesso seja pelos diversos pontos de atenção da rede. Essa rede temática propõe, de forma bem clara, a Atenção Básica como o centro de comunicação das RAS, com papel chave de ordenadora e coordenadora do cuidado e como porta de entrada prioritária para a organização do cuidado. A regulação é definida nessa rede como responsável pela articulação do acesso às ações e aos serviços de saúde de média e de alta densidade tecnológica, buscando a equidade no acesso, considerando a estratificação de risco e as diretrizes clínicas. A Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas é definida pela Portaria GM/MS nº 483, de 1º de Abril de 2014 (BRASIL, 2014). O termo "regulação" vem ocupando progressivamente a agenda da gestão do SUS nas discussões e na sua normalização legal e operativa. Regulação é composta por um conjunto de ações e meios que dirigem, ajustam, facilitam ou limitam determinados processos; abrange tanto o ato de regulamentar (elaborar leis, regras, normas, instruções, etc.) quanto às ações e técnicas que asseguram seu cumprimento (fiscalização, controle, avaliação, auditoria, sanções e premiações). REGULAÇÃO DA REFERÊNCIA E CONTRAREFERÊNCIA Os mecanismos de referência e contrarreferência fazem parte da GESTÃO HOSPITALAR, dessa maneira, é importante saber que a gestão hospitalar atua na: ✓ Classificação de risco ✓ Gestão de leitos ✓ Implantação de protocolos clínicos e administrativos ✓ Adequação de estrutura ✓ Referência e contrarreferência Referenciar um paciente implica em transferi-lo a um estabelecimento especializado a partir do Centro de Saúde. Porém, a comunicação deve ocorrer também no sentido oposto, ou seja, através da contrarreferência desse caso, ocorrendo assim uma dinâmica constante no sistema. Devem existir normas claras para o "estabelecimento de mecanismos e fluxos de referência e contrarreferência, com o objetivo de garantir a integralidade da assistência e o acesso da população aos 5 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC V serviços e ações de saúde de acordo com suas necessidades", evitando dessa forma, erros nos serviços e no acompanhamento dos pacientes. Não deve haver hierarquia entre os diferentes nós da rede, e sim uma organização horizontal dos serviços, pois todos são igualmente importantes para os objetivos propostos. Nesse sentido, respeita-se a importância de cada serviço e orienta os pacientes adequadamente a qual serviço devem recorrer, salientando sempre a porta de entrada no serviço primário. "As redes de atenção à saúde devem ser integradas por sistemas logísticos, sustentados por potentes tecnologias de informação. A ausência de sistemas logísticos adequados é que faz com que a referência e contrarreferência no SUS sejam um discurso reiterado, mas sem possibilidade de concretização". Assim, é valido salientar que o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) define a Atenção Básica como a coordenadora do cuidado e ordenadora da rede de atenção na RAS, o que está em conformidade com a estrutura operacional apresentada por Mendes (2011). Nesse sentido, significa que a Atenção Básica é a porta de entrada preferencial do sistema de saúde, sem desconsiderar as demais portas de entrada previstas no Decreto nº 7.508, de 2011. O Decreto nº 7.508, de 28 de julho de 2011, que regulamenta a Lei nº 8.080/90, define que o acesso à saúde no Brasil é universal, igualitário e, ordenado às ações e serviços de saúde, se inicia pelas portas de entrada do SUS e se completa na rede regionalizada e hierarquizada. Nesse sentido, a Atenção Básica deve cumprir algumas funções para contribuir com o funcionamento das Redes de Atenção à Saúde, são elas: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7508.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7508.htm 6 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC V 3) ENTENDER A FUNCIONALIDADE DO SAMU (ASPECTOS ORGANIZACIONAIS E ELEMENTOS DA REDE) ATENDIMENTO MÓVEL À URGÊNCIA SAMU (192) – É o componente da rede cujo objetivo é ordenar o fluxo assistencial e disponibilizar atendimento precoce e transporte adequado (ambulância, moto, barco) que seja rápido e resolutivo às vítimas acometidas por agravos à saúde de natureza clínica, cirúrgica, gineco-obstétrica, traumática e psiquiátricas mediante envio de veículos tripulados por equipe treinada e capacitada, acessada pelo número 192 e acionado por uma Central de Regulação de Urgências. O SAMU foi implantado no Brasil em 1996, baseado no modelo francês, na cidade de Marília-SP. ➔ OBJETIVO: Ordenar o fluxo assistencial e disponibilizar atendimento precoce e transporte adequado (ambulância, moto, barco) que seja rápido e resolutivo. ➔ Controlado por uma Central de Regulação As unidades móveis para atendimento de urgência podem ser: ▪ Unidade de Suporte Básico de vida terrestre ▪ Unidade de Suporte Avançado de vida terrestre ▪ Equipe de aeromédico ▪ Equipe de embarcação ▪ Motolância ▪ Veículo de Intervenção Rápida A Central de Regulação é parte integrante do SAMU 192, constitui de estrutura física com a atuação de profissionais médicos (MÉDICO REGULADOR), telefonistas auxiliares de regulação médica e rádio-operadores (TARMS) capacitados em regulação das chamadas telefônicas que demandem orientação e/ou atendimento de urgência, por meio de uma classificação e priorização das necessidades de atenção, além de ordenar o fluxo efetivo das referências e contrarreferências dentro da Rede de Atenção.
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