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Como ensinar Literatura

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Nina Paulino
Síntese - Como ensinar literatura?
Licenciatura em ensino de Português com habilitações em ensino de Inglês
Universidade Rovuma
Cabo Delgado
2021
Como ensinar literatura? 
O texto "Como Ensinar Literatura", incluído na primeira edição de “Ao Contrário de Penélope” separa rigorosamente a literatura da pedagogia, acrescentando então: A literatura não se fez para ensinar: é a reflexão sobre a literatura que nos ensina. Outra formulação idêntica refere que ensinar literatura é apresentar um instrumental adequado e explicar a maneira de uma pessoa tirar proveito dele. Daí resulta que se ensina a escrever estudos sobre literatura, e estudos sobre os estudos de literatura, indefinidamente; ou ainda se ensina a ensinar literatura.
O que é que se ensina na teoria e na prática do ensino da literatura? 
Não se ensina literatura enquanto arte, mas antes os factos objectivos que instituem e disciplinam essa arte. Enquanto expressão artística, a literatura é uma abstracção conceptual, ao passo que os factos que nos permitem identificar objectivamente tal expressão e indiciá-la como fenómeno artístico é que constituem o lado ensinável da literatura.
O que se ensina na verdade, segundo Ceia, é o facto literário e não a abstracção do conjunto de todos os factos que reconhecemos como literários e que constituem, em última instância, a literatura. Posso ensinar o sentido de um texto, mas estou na prática a ensinar como é que consegui factualizar um conjunto de significantes/significados dispostos num texto. Por outro lado, só posso ensinar o sentido de um texto tal como eu, leitor livre, o concebo. A literatura-arte não está nunca dependente da intervenção de um leitor para que a sua existência original seja validada; mas todo o ensino dos dados objectivos da literatura depende exclusivamente do trabalho de um leitor sobre os textos que se dizem literários. Ensinamos literatura essencialmente porque investimos o nosso olhar naquilo que faz essa literatura e não naquilo que a define aprioristicamente.
É correcto introduzir o estudo da literatura a partir de uma definição de literatura?
Todo aquele que inicia o ensino da literatura por uma definição do conceito de literatura está convencido que sabe o que está a definir. Raramente este pedagogo se predisporá à investigação. Só ele poderá interrogar o fenómeno literário sem perturbar a sua essência; isto é, só pela discussão de sucessivas hipóteses, só pela procrastinação assumida da resposta à pergunta "O que é a literatura?" pode-se chegar perto do que ela traduza de facto. O que ensinamos, na verdade, é a sinfonia das opiniões ou das hipóteses formuladas em face do fenómeno reconhecido como literário.
O professor de literatura que apenas recorre a juízos evidentes (ou que assume para si próprio que aquilo que enunciou é irrefutável), em vez de os fazer circular dialecticamente, integrando-os na malha das hipóteses, regra geral, consideram o seu saber e o seu ensino como infalíveis. Na prática, a sua estratégia pedagógica não é muito diferente da erística que valeu aos sofistas o descrédito secular. 
Como ensinar os factos que indiciam a literatura?
A literatura é fundamentalmente uma prática epistemológica da estética, isto é, um exercício de re-criação do mundo através da linguagem que nos esforçamos por realizar em determinadas condições e produzir determinados efeitos e cujo resultado final terá de ser sempre a produção de um novo significado, que escreveremos Significado, para dizer que se trata de um universo de sentidos.
Dizer que a "literatura não se fez para ensinar", retomando as palavras de Jacinto do Prado Coelho, pode sugerir, em primeiro lugar, que a literatura está em conflito com a pedagogia; em segundo, que a génese do fenómeno literário tem uma determinada relação com a pedagogia e que essa relação se funda numa negatividade ou exclusão recíproca; e em terceiro, que a literatura, não podendo ser ensinada, isto é, existindo virada somente para si mesmo, nunca poderá ser objecto de estudo. Qualquer das leituras é incorrecta: a literatura não está em conflito com a pedagogia ou nenhuma outra ciência, a não ser que esse conflito sirva para fazer literatura; a génese do fenómeno literário não se faz naturalmente com o objectivo de se relacionar com a pedagogia, da mesma forma que a pedagogia se constitui em ciência independentemente do facto de vir a utilizar a literatura como objecto de realização; a literatura não se fez para ser ensinada, mas de certeza que se pode ensinar sem com isso excluirmos a sua originalidade nem nos servirmos deste facto de relação para a separarmos da pedagogia.
Não se pode ensinar literatura, mas unicamente a(s) condição(ões) que nos permite(m) estudar literatura. Aquilo que chamamos conhecimento textual é o objecto de estudo do professor de literatura e que tal ciência é afinal de contas conhecimento do funcionamento da linguagem. O ensino da literatura pode fazer-se por esta via analítica. Ensinar passa a ser equivalente à criação de condições de acesso ao conhecimento mais do que à falsa convicção de que é possível deter conhecimento e transmiti-lo, porque quem segue esta via está normalmente convencido de que não tem nada para aprender e que sabe o suficiente para cumprir profissionalmente a sua missão.
Quer a didáctica da literatura quer a própria literatura constituem exercícios naturais das funções vitais da vida cognitiva, fazendo uso de todas elas: a percepção externa do mundo sensível e dos seus fenómenos corresponde à criação textual do autor; a consciência corresponde ao conhecimento do eu textual (todos aqueles que podem representar esta identidade: autor, narrador, personagens) e dos seus actos; a razão corresponde ao trabalho de leitura textual, facilmente identificado no trabalho crítico do estudo das relações necessárias entre os sentidos de um texto, das identidades, causalidades, finalidades, leis e princípios de significação.
Portanto, ensinar literatura é ensinar levar o aluno a conhecer os elementos que fazem a literatura, ou seja, é levar o aluno a saber o papel do autor, do narrador, das personagens num texto literário. 
 
 
 
 
Nina
 
Paulino
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Síntese
 
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Delgado
 
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Nina Paulino 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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