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COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA LATINA E CARIBE Natally Sato A partir do documentário Ciudades de Latinoamérica, podemos perceber algumas diferenças entre a colonização espanhola e portuguesa. A colonização espanhola foi predominantemente centrada na criação de novas cidades, que representavam a criação de uma nova sociedade, uma nova Europa. As cidades eram consideradas o centro de comando da vida cultural, política e econômica das colônias e, sobretudo, do controle da produção no interior dos vice-reinados da América Espanhola. Já a colonização portuguesa foi predominantemente vinculada à exportação da produção do interior, ou seja, tinha uma característica mais rural e utilizavam a escravidão africana no interior da colonia com uma relativa autonomia, sem depender tanto do comando das grandes cidades. Estas cidades Latinoamericanas expandiram suas populações e suas zonas metropolitanas de forma vertiginosa e absurdamente rápida. A partir de meados do século XX, o processo de urbanização foi tão rápido que em 50 anos surgiram várias megalópoles como Ciudad de México, São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Montevidéu, Lima, Santiago e Bogotá. Dois casos que mais se destacam são a Capital Federal do México e São Paulo que, somadas com suas zonas metropolitanas, possuem mais de 20 milhões de habitantes. Estas cidades expandiram suas populações por meio de dois fatores significativos, primeiramente pelas ondas migratórias advindas da Europa entre os anos finais do século XIX até a década de 1930, e segundamente pela migração das populações do interior rural dos países aos grandes centros urbanos a partir de meados do século XX. Cada uma das cidades teve um processo de crescimento particular e com características próprias ao modelo de urbanização de seus respectivos países, mas, duas características são comuns a todas elas, o desenvolvimento desordenado e a explosão populacional. No caso de Buenos Aires, a cidade passou por um processo de reurbanização e embelezamento no período de 1890 a 1920. Sob inspiração francesa, Buenos Aires, assim como La Plata, passaram por reformas de infraestrutura, saneamento e pavimentação, além da construção de edifícios e espaços verdes. No entanto, o espaço da cidade também era compartilhado com uma periferia pobre e marginalizada de imigrantes europeus que se instalaram na Argentina no início do século XX. Este processo inicial de expansão através da imigração europeia também foi comum a outras cidades do Brasil, Colômbia, México e outros países latinos. Porém, a verdadeira explosão populacional ocorreu devido a migração dos interiores rurais até as grandes capitais metropolitanas. No caso da Ciudad de México, a população campesina passou a emigrar em massa a partir da década de 1930, como uma das consequências da crise capitalista de 1929 que causou uma queda abrupta nos preços dos produtos agrícolas, gerando assim o aumento da desocupação no campo e a consequente migração dos trabalhadores para as zonas urbanas em busca de melhores condições de vida. O mesmo fenômeno pode ser observado nas megalópoles de São Paulo e Rio de Janeiro. Contudo, o crescimento aumentou radicalmente a partir das décadas de 1950 e 1960, um período marcado pela intensificação da industrialização destas cidades e a formação de periferias empobrecidas, onde se alocaram as massas de migrantes trabalhadores em condições precárias até os dias atuais. A expansão caótica da população urbana acarretou uma série de problemas comuns a todos os grandes centros metropolitanos da América Latina, independentemente do processo de formação de cada país. A princípio, é necessário destacar a desigualdade econômica e social que produziu uma pobreza generalizada nas periferias urbanas, ocasionada pela falta de emprego e sub-ocupação em trabalhos totalmente precários. Em segundo lugar, observa-se que com a total falta de planejamento, a desassistência do Estado permitiu a formação de grandes comunidades carentes de infraestrutura, saneamento básico, assistência médica e educacional. Diante disso, a criminalidade se instalou de modo generalizado - o resultado da combinação da marginalização histórica das periferias e das políticas de combate às drogas - a partir da segunda metade do século XX. Vale destacar o caso mais emblemático da cidade do Rio de Janeiro, na qual os trabalhadores empobrecidos, alocados nos morros, vivem constantemente com a guerra armada entre polícias estatais e narcotraficantes. Apesar disso, houveram casos em que a expansão demográfica foi menos acentuada, tais como as cidades de Buenos Aires e Montevidéu, que desenvolveram projetos de urbanização mais planificados e lograram um crescimento menos explosivo, embora não tenham deixado de compartilhar dos mesmos problemas como a pobreza e a criminalidade. Por último, é importantíssimo ressaltar o problema destas populações com o meio ambiente. A falta ou precariedade do abastecimento de água é o principal desafio que as cidades latinoamericanas enfrentarão no século XXI. Ademais, outros problemas se acumulam devido a superpopulação, tais como a produção de lixo e esgoto, a contaminação do ar e da água, o extermínio de vegetações, dentre outros problemas que, em diferentes graus, diminuem a qualidade de vida nos espaços urbanos. No quadro geral, todos os problemas históricos acima citados se impõe como desafios para as metrópoles latinoamericanas, sobretudo aos Estados Nacionais do continente. Resolver as dificuldades da superpopulação, da infraestrutura, ou do meio ambiente não serão possíveis somente com a iniciativa isolada de cada comunidade local, de cada cidade, mas, com a ação das comunidades nacionais e sua indispensável colaboração transnacional. Portanto, é necessário repensar o modelo de cidade e construir um novo projeto, para direcionar um profundo processo de transformação. A América Latina já demonstrou ser capaz de desenvolver projetos de urbanização planejada, tais como em Brasília, La Plata, e o caso de Montevidéu. Com estes exemplos, é válido afirmar que o horizonte de uma ampla reurbanização da América Latina é mais do que uma perspectiva ideal, é um projeto possível.
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