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O DESENVOLVIMENTO DA INFRAESTRUTURA LATINOAMERICANA E OS REAIS INTERESSES REGIONAIS Natally Sato Considerando o tamanho da América Latina e Caribe, bem como a suas complexidades econômicas e suas gigantescas populações, fica evidente que as condições de infraestrutura dos países que compõem o continente carecem de uma ampliação significativa, com destaque para as áreas de logística em transporte, mobilidade e energia. Na área de transporte, o continente apresenta um baixo índice de ferrovias instaladas e estradas pavimentadas, além de uma irrisória indústria estaleira (produção de navios), uma indústria aeroespacial ainda pouco desenvolvida e uma caótica organização das cidades. Sendo que a região ainda se apoia no modelo de transportes automotivos e na dependência de importações de veículos e seus componentes do estrangeiro. Na área de mobilidade, a escassez de uma diversidade industrial também acarreta uma grande precarização de meios de transportes urbanos para o deslocamento das grandes massas e, para agravar a situação, a região ostenta os maiores índices populacionais em concentrados em megacidades tais como Rio, São Paulo, Buenos Aires, Lima, Cidade do México e Caracas. O processo de constituição dessas cidades causou uma explosão desordenada das habitações urbanas sem um planejamento básico da infraestrutura, como o fornecimento de água e tratamento de esgoto, coleta e processamento de lixo e fornecimento de energia elétrica contínua e renovável. Todos esses problemas apontam para a questão da falta de desenvolvimento tecnológico-industrial dos países latino-americanos e caribenhos como a principal dificuldade para responder às demandas das populações. A questão da energia destaca-se, visto que, o atual modelo de expansão urbana acarretou a dependência de fontes não renováveis, sobretudo o petróleo que alimenta os sistemas de transporte e o carvão utilizado para produção de eletricidade. Além disso, a geografia do território americano impõe a necessidade de fontes mais diversificadas e limpas, tais como as hidroelétricas, eólicas e solares. A energia hidroelétrica vem se destacando como a maior matriz do continente, contudo, a implantação desse modelo enfrenta graves problemas, sobretudo o grande impacto ambiental causado pela construção de barragens, o deslocamento de populações tradicionais de seus locais de origem, agredindo os direitos dos povos originários das Américas, e a falta de disponibilidade para implantação deste modelo em regiões desérticas, semiáridas, montanhosas e insulares. Sendo assim, é possível afirmar que, embora a matriz hidroelétrica seja a mais versátil, barata, limpa e renovável do continente, ela não atende os reais interesses dos povos latino-americanos e caribenhos. Esse diagnóstico faz retornar a questão da diversificação tecnológica-industrial no continente, considerando que as outras matrizes eólicas e solar ainda apresentam um alto custo de produção e uma dependência de importações do estrangeiro. Nesse cenário, seria óbvio mencionar que o Continente carece de um Projeto Estratégico e de uma parceria convergente entre os Estados-nações. Nessa perspectiva, é válido ressaltar que já existem projetos que propõe a construção de uma rede de infraestrutura entre os países latinos. Destacam-se entre eles o IIRSA (Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana) proposto a partir dos anos 2000 e, posteriormente, a criação da e COSIPLAN (Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento) no interior da organização UNASUL. Ambas as iniciativas foram encabeçadas pelas nações Sul-americanas e se afastaram da convergência com os países Centro-americanos, México e Caribenhos. Porém, estas duas iniciativas conseguiram o mérito de ser o primeiro projeto de cooperação em infraestrutura entre países latino-americanos a sair do papel. Não obstante, duas contradições se instalaram em meio a estas iniciativas. A primeira diz respeito ao modelo de financiamento dos projetos, que, a princípio, buscaria uma cooperação entre os estados latino-americanos para o financiamento das obras através de Instituições regionais, algumas foram criadas especialmente para isto, tais como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), CAF (Cooperação Andina de Fomento), BCIE (Banco Centro-americano de Integração Econômica), FONPLATA (Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata), e o BNDES-Brasil (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Esta proposta de financiamento para o desenvolvimento latino-americano entrou em contradição com diversas políticas de incentivo ao financiamento internacional dos países membros através de organismos estrangeiros, tais como, o Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e União Europeia. Algumas das nações da região atenderam às exigências de abertura para os Mercados mundiais, estímulos fiscais para instalação de multinacionais na região, concessões públicas para a iniciativa privada e a desestatização de empresas nacionais. Consequentemente, este conjunto de medidas acarretaram na redução da soberania dos Estados Latinoamericanos e na diminuição da capacidade de controle e fomento dos projetos de infraestrutura. A segunda contradição consiste na limitação da pretensão dos projetos em desenvolver somente a infraestrutura relacionada aos modelos de produção já instalados na América Latina, ou seja, de financiar somente a infraestrutura da agroindústria extrativista de exportação, sem desafiar a ordem desigual e dependente do Mercado mundial, que reduz a América Latina e o Caribe como regiões exportadoras de commodities, com pouca capacidade de produção/exportação de alta-tecnologia. Sendo assim, é válido concluir que os projetos de desenvolvimento já existentes são contraditórios e insuficientes para atender aos reais interesses regionais.
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