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TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO DE STEPHEN TOULMIN - REVISÃO -

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Teoria da argumentação de Stephen Toulmin 
 
Anotações de The uses of argument (1958) e An Introduction to 
Reasoning (1978) de Stephen Toulmin, sem valor científico, para 
consulta dos alunos da Disciplina de Teoria da Argumentação 
Jurídica da Faculdade de Direito da FMP (Prof. Dr. Anizio Pires 
Gavião). Abril de 2020. 
 
1. Introdução 
● A aceitabilidade da argumentação prática não depende da lógica 
● Modelo de Toulmin (The uses of argument, 1958) como método alternativo para 
analisar e avaliar a argumentação 
● O critério de validade da lógica formal não é adequado para avaliar os argumentos 
empregados na linguagem comum da vida diária e, assim também, na argumentação 
jurídica 
● A argumentação prática compara-se à argumentação jurídica 
● Em An Introduction to Reasoning, 1978, Toulmin busca aplicar seu modelo no contexto 
da argumentação jurídica 
● O procedimento argumentativo é guiado por regras 
● Existem regras universais (field-invariant) para analisar e avaliar o procedimento 
argumentativo empregado em todas as áreas do conhecimento 
● Mas existem regras particulares (field-dependent), própria de áreas como o Direito, 
entre outras 
● Em 1980, o modelo da argumentação de Toulmin tornou-se bastante popular no Direito, 
notadamente com instrumento para analisar e avaliar argumentos na prática jurídica 
● Em 1990, quando Inteligência Artificial e Direito desenvolveram-se como campos de 
pesquisa, vários pesquisadores tomaram como ponto de partida o modelo de Toulmin 
para especificação dos diferentes tipos de elementos da justificação judicial 
 
2. Elementos de um argumento 
● A identificação e a força de um argumento dependem de um conjunto de elementos 
● Algumas questões podem ser colocadas: 
● Qual é o ponto de partida de um argumento? 
● Qual é o ponto de chegada de um argumento? 
● Qual é o procedimento que um argumento deve seguir? 
● Qual é a sequência de passos que um argumento deve observar, e quais são as relações 
entre esses sucessivos passos? 
● Quais são as questões que podem ser formuladas para testar um argumento? 
● Essas questões podem ser respondidas a partir dos 4 elementos de um argumento: 
● 1) Conclusão (Claim): é o ponto de chegada do argumento, seu resultado, objeto central 
do assunto proposto pelo argumento 
● 2) Fato (Ground): são as informações, circunstâncias, evidências, dados conhecidos ou 
presumidos assumidos apresentados para justificar a aceitabilidade da conclusão; são 
observações empíricas, dados científicos, dados estatísticos ou temas de conhecimento 
comum relevantes para a aceitabilidade da conclusão 
● 3) Regra de garantia (Warrant): é o que justifica a passagem do fato para a conclusão; 
o movimento do fato para a conclusão é garantido por diferentes regras próprias das 
diversas áreas do conhecimento (leis da natureza, ciência; normas jurídicas e 
precedentes, Direito; regras da experiência, questões práticas gerais 
● 4) Fundamento da regra de garantia (Backing): regras de garantia podem ser colocadas 
em dúvida ou controvertidas, quando, então, devem ser apresentados fundamentos para 
justificar a aceitabilidade da própria regra de garantia 
● Assim, por exemplo, regras jurídicas apresentadas para justificar uma conclusão a partir 
de um conjunto de evidências fáticas podem ter sua validade colocada em dúvida 
● Então, devem ser apresentados fundamentos para justificar a sua validade 
● Por exemplo: 
● Cuida-se de uma regra jurídica dada pelo legislador brasileiro, formal e materialmente 
constitucional. 
● Esses são os elementos de um argumento 
● Eles servem não somente para identificação de um argumento como também para 
avaliar a força de um argumento 
● Eles serão mais detalhadamente avaliados a seguir 
● Antes este exemplo: 
● 1. Conclusão: A deve pagar multa de R$ 500,00 
● 2. Fato: A estava dirigindo um veículo automotor, em via pública, sem cinto de 
segurança; 
● 3. Regra de garantia: Conduzir veículo automotor em via pública, sem cinto de 
segurança, multa de R$ 500,00. 
● 4. Fundamento da regra de garantia: A regra que diz “conduzir veículo automotor em 
via pública, sem de segurança, multa de R$ 500,00” é uma regra válida da legislação 
brasileira, formal e materialmente constitucional. 
 
3. Conclusões 
● A conclusão de um argumento é uma afirmação colocada com pretensão de correção 
e aceitabilidade racional 
● A conclusão é o primeiro elemento para a identificação de um argumento 
● O ponto de partida para identificação de um argumento é a destinação final do 
procedimento argumentativo 
● Então, uma questão na identificação e avaliação de um argumento é uma conclusão, 
destinação ou ponto de chegada clara e objetivamente colocado 
● Assim, ambiguidades, vagueza, incerteza ou falta de clareza quanto ao destino final de 
um argumento devem ser resolvidas previamente 
● Por isso mesmo, deve se identificar exatamente qual é o propósito de um argumento 
ou o que exatamente se pretende provar ou afirmar como verdadeiro 
 
4. Fatos 
● Conclusões, sejam afirmações fáticas, juízos de dever ou juízos de valor, devem ser 
formuladas acompanhadas de conjunto de informações, dados, registros, evidências e 
outros elementos descritivos, caso pretendam aceitabilidade racional 
● A aceitabilidade da conclusão de um argumento depende da aceitabilidade dos fatos, 
informações, dados estatísticos, evidências apresentadas 
● Outra exigência é a de que os fatos apresentados sejam relevantes e pertinentes para a 
aceitabilidade da conclusão 
● Se os fatos apresentados não guardam relação e não têm relevância ou pertinência 
temática com a conclusão, então eles em nada contribuem para a aceitabilidade da 
conclusão 
● A aceitabilidade dos fatos depende de que eles sejam verdadeiros, certos, seguros ou 
confiáveis 
● Um ponto de partida na apresentação dos fatos de um argumento é identificar fatos 
notórios, amplamente conhecidos e compartilhados, cuja verdade não se acha 
controvertida ou sob dúvida 
● Fatos sobre os quais não recaem dúvidas quanto a sua veracidade são pontos de partida 
centrais para o desenvolvimento de um argumento 
● Então, na apresentação e descrição fática de um caso, devem ser assentados os fatos 
verdadeiros ou fatos presumidos como verdadeiros 
● Quem não está disposto e comprometido a apresentar fatos verdadeiros ou presumidos 
verdadeiros não pode colocar pretensão de correção na conclusão de seu argumento, 
esbarrando já na própria aceitabilidade de suas premissas 
● A avaliação de um argumento depende do conjunto total de evidências apresentadas 
justificar a verdade das proposições fáticos 
● As evidências devem ser robustas, sólidas, consistentes e coerentes de modo a ganharem 
aceitabilidade 
● Proposições fáticas frágeis, incertas ou dúbias levam à fragilidade de um argumento 
● Aqui, então, a carga da prova está com aquele que apresenta um argumento 
● Isso será estudado adiante 
 
5. Regras de garantia 
● Regra de garantia estabelece a conexão entre os fatos e a conclusão de um argumento, 
servindo à justificação de sua aceitabilidade racional 
● É o que autoriza o movimento dos fatos para a conclusão 
● Regras de garantia podem ser generalizações, regras da experiência, leis na natureza, 
leis da ciência, valores comuns, costumes, princípios morais, normas jurídicas 
● Regra de garantia autoriza ou legitima a passagem dos fatos para a conclusão 
● Exemplo: 
● 1. Conclusão: A deve pagar multa de R$ 500,00 
● 2. Fato: A estava dirigindo um veículo automotor, em via pública, sem cinto de 
segurança; 
● 3. Regra de garantia: Conduzir veículo automotor em via pública, sem cinto de 
segurança, multa de R$ 500,00. 
● A regra de garantia é a regra jurídica que diz “conduzir veículo automotor em via 
pública, sem cinto de segurança, multa de R$ 500,00”. 
● Atribuindo-se F para fato, W para a regra de garantia e C para conclusão, tem-se que o 
argumento pode ser escrito desse modo: 
● F, W, então C. 
● Exemplo clássico de Toulmin● 1. Conclusão: Harry é cidadão britânico 
● 2. Fato: Harry nasceu nas Bermudas 
● 3. Regra de garantia: Pessoa nascida nas Bermudas é, em geral, britânica 
● 4. Fundamento da garantia: Regra jurídica do Common Law inglês dispõe que pessoa 
nascida nas Bermudas tem cidadania britânica 
 
6. Fundamento da regra de garantia 
● A regra de garantia não pode fundamentar a sua própria validade, sendo necessária 
apresentação de sua fundamentação 
● A fundamentação da regra de garantia é a garantia da garantia 
● Então, deve ser apresentado a fundamento para justificar a aceitabilidade da regra 
garantia 
● No famoso exemplo de Toulmin, a regra de garantia é a de que pessoa nascida nas 
Bermudas, em geral, tem cidadania britânica, mas pode ser levantada objeção sobre o 
que fundamenta essa regra 
● Então, deve ser apresentado esse fundamento: regra jurídica válida do Common Law 
inglês diz que pessoa nascida nas Bermudas tem cidadania britânica 
● O fundamento da regra de garantia na argumentação jurídica pode ser o documento 
legislativo (constitucional e infraconstitucional), trabalhos preparatórios, precedentes 
dos tribunais, etc. 
● A correta escolha da regra de garantia é central para a construção de um bom argumento 
● Na argumentação jurídica, nos chamados casos difíceis, os tribunais enfrentam a 
necessidade de escolher uma ou outra regra de garantia, cada uma apontando para uma 
solução diferente 
● Nos casos que envolvem conflito entre os direitos à informação e os direitos à 
privacidade e intimidade, o problema não é encontrar uma regra de garantia, mas 
escolher entre duas ou mais 
● Um critério para determinar a regra de garantia fazer uma ponderação dos direitos em 
colisão (direito à informação e direito à privacidade), a fim de determinar qual deve ser 
a regra garantia 
● A fundamentação da regra de garantia na argumentação jurídica é um assunto da 
interpretação jurídica, que envolve o emprego dos diversos tipos de argumentos 
interpretativos das normas jurídicas (linguísticos, históricos, sistemáticos, contextuais, 
teleológicos), formulações da ciência jurídica e precedentes dos tribunais 
 
7. Corrente de argumentos 
● Argumentos podem ser analisados e avaliados individualmente, mas na prática da 
linguagem comum diária e nas diversas áreas do conhecimento, um argumento é apenas 
o ponto de partida para outro argumento e, normalmente, este último é o ponto de 
partido para o próximo argumento 
● Argumentos deixam-se vincular uns aos outros por meio de uma corrente de argumentos 
● Uma conexão entre argumentos pode ser mostrada assim: 
● 1. Argumento 1 fundamenta Conclusão Intermediária 1 
● 2. Argumento 2 fundamenta Conclusão Intermediária 2 
● 3. Argumento 3 fundamenta Conclusão Intermediária 3 
● 4. Conclusão final 
● 5. Fato: Conclusão Intermediária 1 + 2 + 3 
● 6. Regra de Inferência 
● 7. Fundamento da regra de inferência 
 
8. Força dos argumentos 
● A força de um argumento depende se as conexões entre as partes do argumento estão 
presentes 
● Nas questões da vida prática as conexões entre as partes dos argumentos não autorizam 
a passagem dos fatos à conclusão de modo absoluto 
● Somente nos casos dos argumentos abstratos da matemática pura é possível relações de 
necessariedade absoluta entre as partes de um argumento 
● As conexões entre partes dos argumentos empregados na resolução de questões práticas 
mais ou menos são qualificadas ou mais ou menos condicionais 
● Conclusões são formuladas com base em evidências não absolutas 
● Quatro temas são centrais para a determinação da força de um argumento: 
● 1) Frases de qualificação: proposições que são empregadas nos argumentos para 
sinalizar graus de certeza da conclusão do argumento, de tal sorte que uma conclusão 
pode ser certa, provável, muito possível, possível, etc. 
● 2) Condições e exceções: fazem com que a força de um argumento seja sempre 
dependente de determinadas circunstâncias e condições 
● Argumentos aparentemente fortes e bem construídos podem ser derrotados, quando 
demonstrado que uma de suas suposições não é verdadeira ou não se tem evidência para 
justificá-la 
● 3) Ônus da prova e dilemas: situações práticas exigem tomada de decisão e, nem sempre, 
todas as informações e evidências estão disponíveis; decisões importantes da vida 
prática são tomadas ainda que ausentes ou insuficientes as evidências necessárias; 
● Nesses caso, suposições e presunções ocupam o lugar das evidências ausentes ou 
insuficientes 
● 4) Relevância do argumento no contexto em que empregado 
● Exemplo A 
● 1. Hidroxicloroquina, então muito provavelmente vai curar a enfermidade do paciente 
● 2. O paciente padece de infecção respiratória causada por coronavirus 
● 3. Penicilina é um medicamento eficaz contra infecção respiratória 
● 4. Estudos científicos e a experiência recentes mostram que Hidroxicloroquina é eficaz 
contra infecção respiratória 
● Exemplo B 
● 1. Hidroxicloroquina, presumivelmente é o medicamento adequado para ser prescrito a 
pacientes com infecção respiratória causada por coronavírus 
● 2. Hidroxicloroquina irá muito provavelmente melhorar as condições de saúda de 
paciente com infecção respiratória causada por coronavírus 
● 3. O medicamento mais efetivo é o que normalmente deve ser prescrito a um paciente 
● 4. O objetivo geral dos medicamentos é alcançar os fins que eles buscam realizar 
● Exemplo C 
● 1. Hidroxicloroquina, presumivelmente é o medicamento adequado para ser prescrito a 
pacientes com infecção respiratória causada por coronavírus 
● 1.1. (Refutação) A menos que o caso é de paciente de risco em razão dos efeitos 
colaterais de Hidroxicloroquina 
● 2. Hidroxicloroquina irá muito provavelmente melhorar as condições de saúde de 
paciente com infecção respiratória causada por coronavírus 
● 3. O medicamento mais efetivo é o que normalmente deve ser prescrito a um paciente 
● 4. O objetivo geral dos medicamentos é alcançar os fins que eles buscam realizar 
 
9. Qualificação das conclusões 
● A força ou a limitação de uma conclusão é indicada pela presença de qualificadores 
● A conclusão formulada é: necessária, certa, presumível, muito provável, provável, 
muito possível, possível, talvez, aparentemente, plausível... 
● Assim: 
● F, então certamente C 
● F, então provavelmente C 
● F, então presumivelmente C 
● Exemplo: 
● 1. A, presumivelmente deverá ser condenado por homicídio, podendo cumprir pena de 
6 a 20 anos de reclusão 
● 2. A desferiu um golpe de faca em B, matando-o 
● 3. A regra jurídica do art. 121 do Código Penal brasileiro estabelece que quem matar 
alguém está sujeito à pena de reclusão de 6 a 20 anos. 
● 4. A regra do art. 121 do Código Penal brasileiro é válida, sendo regularmente aplicada 
pelos juízes e tribunais. 
● No exemplo, presumivelmente em lugar de certamente ou necessariamente porque A 
pode ser absolvido por legítima defesa ou ser penal inimputável por doença mental 
(Refutação) 
 
10. Refutações e exceções 
● Refutações são circunstâncias extraordinárias ou excepcionais capazes de minar a força 
de um argumento 
● A noção de refutação significa que uma regra de garantia autoriza a passagem dos fatos 
para a conclusão apenas na ausência de circunstâncias ou condições excepcionais 
● É que essas circunstâncias ou condições excepcionais podem cortar a inferência – 
retirando a licença para a passagem do fato para a conclusão 
● Refutar significa afastar uma regra de garantia em razão das circunstâncias do caso ou 
de condições de exceção 
● A forma de um argumento: 
● F, então presumivelmente C 
● F, então a suposição de C 
● Mas essa formulação somente é correta quando não há razão prévia para supor que se 
trata de um caso excepcional 
● Quando as exceções são amplamente conhecidas, deve-se empregar esta forma 
● F, então possivelmente C, salvo se R 
 
11. Presunções e dilemas 
● Como começam os argumentos? 
● Por que o afirmado precisa ser justificado? 
● Quando é o caso em queargumentos são necessários? 
● Argumentos são exigidos quando são formulados questionamentos como: 
● Por que? 
● O que? 
● Como? 
● Se não isso, nenhuma questão é colocada e não são exigidos argumentos 
● Quando é esse o caso, quem coloca-se em posição de exigir um argumento deve suportar 
a carga inicial da prova – ou seja – justificar por que está exigindo que argumentos 
sejam apresentados 
● Então, o ônus da prova de mostrar a questão é do desafiante 
● Isso colocado, uma discussão e argumentação racional podem ter lugar 
● Por que usar o medicamento Hidroxicloroquina em pacientes acometidos de infecção 
respiratória por coronavírus? 
● O ponto de partida para o início de uma argumentação é a apresentação de presunções 
● Então, devem ser apresentadas as presunções iniciais sobre o tema da argumentação, 
consistente em formulações que são conhecidas em não controvertidas, a fim de que 
possam ser dados novos passos e formulados novos argumentos 
● Assim, sobre a Hidroxicloroquina devem ser apresentadas informações e dados já 
amplamente conhecidos no âmbito da comunidade científica da área, ou seja, dados 
tomados ou presumidos como verdadeiros 
● Na argumentação jurídica em um tribunal, o ponto de partida são os fatos provados ou 
presumidos como verdadeiros 
● Presunções são admitidas por razões práticas, pois nem sempre é possível recolher todas 
as evidências a respeito da questão ou assunto controvertido 
● A racionalidade de uma conclusão está relacionada não apenas com chegar-se a uma 
conclusão racional, mas também chegar à conclusão em tempo racionalmente aceitável 
● Um ponto central da discussão sobre argumentos e cadeia de argumentos é que eles 
buscam respostas para problemas ou questões, mas nem sempre apenas uma resposta 
ou solução está disponível 
● Frequentemente, então, os problemas levantados têm várias respostas possíveis e 
igualmente plausíveis, situações em que não fica claro qual deve ser a resposta dada 
● No tribunal do júri, o promotor de justiça apresenta bons e bem construídos argumentos 
que justificam a condenação do acusado (C1). Mas, em seguida, a defesa igualmente 
apresenta argumentos igualmente convincentes no sentido da absolvição do acusado 
(C2). 
● Em réplica, o promotor de justiça chama a atenção para fragilidades importantes da 
argumentação da defesa do acusado (C1), que, por sua vez, na tréplica, mostra a fraqueza 
dos argumentos apresentados na réplica (C2) 
● Se os argumentos colocados pelos dois lados (C1) e (C2) são igualmente fortes e 
convincentes, qual é a solução racional? 
● E se os argumentos dos dois lados são frágeis, qualquer um pode ser o preferencial? 
● A forma de resolver esses dilemas estão critérios gerais de razão prática 
● Um dos critérios usados nos julgamentos do tribunal do júri é o de que a acusado 
somente deve condenado acima de qualquer dúvida razoável, em razão do princípio da 
presunção de inocência 
 
12. Relevância e o contexto de um argumento 
● A força de um argumento não está apenas na sua estrutura e conexão entre suas partes, 
mas também no seu conteúdo material 
● A força de um argumento é igualmente substancial 
● Na Suprema Corte do Estados Unidos, os casos normalmente aceitos e admitidos para 
julgamento são aqueles que são colocados bons argumentos não apenas quanto à forma, 
mas que envolvem questões substanciais centrais para a vida social dos norte-
americanos 
● Outra questão central para força de um argumento é reconhecer a relevância ou 
irrelevância de seus elementos 
● O que deve ser observado em um argumento é sua relevância, o que envolve tanto 
questões sobre os fatos, sobre a regra de garantia, fundamento da regra de garantia e 
refutações 
● Com isso, fica colocada a questão de interdependência entre esses elementos 
 
13. Falácias 
● Falácias são argumentos reconhecidamente problemáticos 
● Falácias são argumentos que aparentam ser fortes, com grande poder argumentativo, 
mas um exame mais rigoroso mostra que isso é apenas uma ilusão 
● O aparente poder de fogo argumentativo está na semelhança dos argumentos falaciosos 
com argumentos corretos 
● A característica central das falácias é que seus elementos não fundamentam a conclusão 
● Os problemas podem estar tanto em cada dos elementos dos argumentos como no 
desenvolvimento do seu procedimento 
● Não existe um catálogo exaustivo de falácias 
● Falácias não se deixam classificar facilmente, muito embora algumas tentativas possam 
ser encontradas na literatura 
● Falácias são complexas e nem sempre podem ser identificadas facilmente 
● Argumentos podem ser falaciosos em um contexto, mas podem deixar ser falaciosos em 
outro contexto 
● O emprego de um argumento falacioso pode ser deliberado ou acidental, honesto ou 
desonesto 
● O emprego deliberado e desonesto de argumentos falaciosos remete aos sofismas 
● Ainda que as falácias não se deixem classificar facilmente, algumas tentativas são 
desenvolvidas 
● Nesse sentido, por exemplo, esta proposta com 5 tipos de falácias 
● 1. Falácias resultantes da ausência de fatos 
● 2. Falácias resultantes da irrelevância das evidências 
● 3. Falácias resultantes da insuficiência das evidências 
● 4. Falácias resultantes da ausência de garantia 
● 5. Falácias resultantes de ambiguidades 
13. 1. Falácias resultantes da ausência de fatos 
● São argumentos que não são argumentos (pseudo-argumentos), pois não são 
apresentadas as evidências para fundamentar a conclusão 
 
1. A falácia da petição de princípio (petitio principii) 
● A evidência apresentada é a própria conclusão formulada de modo diferente 
● A está dizendo a verdade, porque ele nunca mente. 
● Exemplo: 
● Conclusão: A está dizendo a verdade 
● Fato: Ele nunca mente 
● As duas formulações têm o mesmo significado, apenas uma é formulada positivamente 
e outra negativamente 
 
2. Essa falácia ocorre nas definições circulares: 
● Exemplos: 
● Um gato é um animal 
● Uma causa é algo que produz um efeito 
● Destilação é uma operação de destilaria 
 
13.2. Falácias resultantes de fatos irrelevantes 
● Casos em que as evidências apresentadas não são diretamente relevantes para 
fundamentar a conclusão 
● É o caso das falácias consistentes em escapar do assunto objeto central da conclusão 
● Ao invés de apresentar evidências que fundamentam diretamente a conclusão, o 
argumento apresenta outras evidências que não possuem relação direta com o assunto, 
muito embora alguns casos possam aparentar ter relevância para a conclusão 
● Algumas vezes, são apresentadas evidências que tangenciam o assunto colocado na 
conclusão, mas não são relevantes para fundamentar a conclusão propriamente 
● Essa falácia é normalmente empregada como tática para desviar o assunto em uma 
discussão ou não responder uma pergunta difícil 
● Políticos costumam empregar essa tática para evitar responder questões controvertidas 
● Dois tipos de táticas diversionistas na argumentação: 
 
1. A falácia da pista falsa (red herring) 
● Manobra diversionista, consistente em retirar o foco do assunto relevante para outro que 
é meramente tangenciado e desimportante 
● Nesse argumento falacioso, o assunto central é desviado completamente 
● Exemplo: 
● Em um debate sobre a compatibilidade conceitual entre democracia e socialismo, 
apresenta-se o argumento de que as atrocidades cometidas por Stalin são evidências de 
que o socialismo é essencialmente antidemocrático 
● O problema desse argumento é que a evidência apresentada, envolvendo a experiência 
de um país no desenvolvimento do socialismo, nada diz sobre o conceito de democracia 
e sua incompatibilidade conceitual com o conceito de socialismo 
 
2. A falácia do espantalho (straw-man) 
● Manobra diversionista, consistente em distorcer ou reformular o tema de modo a 
simplificar um argumento 
● Argumento empregado quando se atribui a outrem uma formulação fictícia ou quando 
são distorcidas ou reformadas as afirmaçõesde outros, de modo que fiquem mais frágeis 
e mais facilmente atacadas. 
● Exemplo: 
● A diz que o governo só se preocupa com o crime quando questões como pobreza infantil 
e a destruição ambiental continuam a ser subestimadas 
● B diz estar surpreso com o fato de A pensar que o crime é tão sem importância. Com o 
aumento alarmante da violência no país, enfrenta-se uma quebra de lei e ordem em 
grande escala. As pessoas estão inseguras e isso precisa ser atacado. 
● Veja-se que A defende a opinião de que questões como pobreza infantil e destruição 
ambiental deveriam ter mais prioridade na agenda do governo e não apenas a violência. 
● Mas B, para criticar seu adversário, distorce essa opinião criando espantalho. 
● B atribui a seu oponente a tese de que o crime é um problema social sem importância. 
● Mas isso não defendido por A. 
● Então, o que B rejeita é uma opinião que não era sustentada por ninguém e deixa seu 
adversário sem resposta, incorrendo na falácia do espantalho 
 
3. A falácia do apelo à autoridade 
● O argumento de autoridade é um argumento tradicional, bastante conhecimento e muito 
valioso na argumentação prática geral e nas diversas áreas da argumentação 
● Mas o argumento de autoridade pode ser tanto corretamente formulado como também 
tornar-se um argumento falacioso 
● Este é o esquema do argumento de autoridade 
● Premissa maior: A é uma autoridade no assunto S que contém a proposição P 
● Premissa menor: A afirma a proposição que P sobre o assunto S é uma verdade 
● Conclusão: A pode ser tomada como presumivelmente uma verdade 
● Esse argumento pode ser testado com base em 6 questões críticas: 
● 1. Qual é a credibilidade de A como uma autoridade? 
● 2. A é efetivamente uma autoridade na área de conhecimento do assunto S? 
● 3. O afirmado por A é relevante e implica a verdade da proposição P? 
● 4. A é pessoalmente confiável como uma fonte? 
● 5. A proposição P é consistente com o afirmado por outras autoridades sobre o assunto 
S? 
● 6. A proposição encontra-se fundada em alguma evidência? 
● A questão crítica 1 é diferente da questão crítica 4. 
● A questão crítica 4 trata da honestidade ou veracidade da autoridade, cuidando, portanto 
do assunto atinente ao caráter ético da fonte 
● A questão crítica 1 trada da competência e qualificação da autoridade tomada como 
fonte 
● Um argumento de autoridade pode fracassar tanto quando o expert é desonesto e 
mentiroso tanto quando ele não é competente e qualificado suficientemente 
● Assim, quando um argumento de autoridade não responde satisfatoriamente essas 
questões, pode ser o caso de um argumento falacioso 
 
4. A falácia contra a pessoa (argumento ad hominem) 
● Cuida-se de um argumento falacioso porque rejeita ou refuta uma conclusão com base 
em fatos (verdadeiros ou falso) negativamente atribuídos a quem fez ou apresentou essa 
mesma conclusão 
● É um argumento falacioso porque se destina a atacar a pessoa, e não o próprio 
argumento 
● Esse argumento falacioso associa e/ou identifica o caráter, as qualidades ou a situação 
da pessoa com o conteúdo dos argumentos por ela formulados 
● As leis aprovadas no parlamento são contrárias aos interesses da sociedade, pois os 
políticos não são pessoas que devem ser levadas à sério, pensando exclusivamente em 
seus próprios interesses. 
● Ainda constitui argumento falacioso contra a pessoa atribuir culpa por associação 
● É um caso de generalização 
● Nesse caso, associa-se quem argumenta com um grupo desacreditado de pessoas 
● Exemplos: 
● A conclusão de que devem ser reduzidos os níveis de emissão de gases não se sustenta. 
Isso porque é uma conclusão de A, que é membro de um grupo de ambientalistas 
radicais, que não tem qualquer preocupação com o desenvolvimento econômico 
● O fato de uma pessoa ser liberal, conservadora, secular, simpatizante de Lula ou 
Bolsonaro, não implica, por si só, que o afirmado por ela seja falso, injusto ou incorreto, 
desprovido de justificação racional 
 
5. A falácia do argumento pela ignorância 
● O argumento pela ignorância é falacioso quando uma conclusão é apresentada 
erroneamente com base na ausência evidências em sentido contrário 
● Erroneamente, uma conclusão é fundamentada simplesmente porque o contrário não 
pode ser provado 
● Exemplo clássico do ateísta: 
● Deus não existe porque não existem provas de que Deus existe. 
● Como não existem provas de que Deus existe, Deus não existe. 
● A falácia está no fato de que a falta de prova sobre algo não é prova de algo não existe. 
● Falta de provas não é prova 
● Exemplo: 
● Não há provas de que o navio X causou derramamento de petróleo no mar, então o navio 
X não causou derramamento de petróleo no mar 
 
6. A falácia do apelo ao povo 
● Apelo ao povo é uma tentativa falaciosa de fundamentar uma conclusão com base na 
sua suposta popularidade ou ampla aceitação popular 
● O fato de um grupo ou muitas pessoas aceitaram algo como sendo verdade é apresentado 
como prova da veracidade da afirmativa 
● É o caso do argumento fundado no marketing e na publicidade 
● É caso de muitas falácias apresentadas por políticos com base na publicidade e no 
marketing 
● A propaganda nazista continuamente empregou essa estratégia falaciosa para desarmar 
a oposição aludindo aos “verdadeiros alemães” para alinharem-se contra a presença dos 
judeus no território alemão 
● Nas sociedades democráticas a falácia do apelo ao povo pode ter a forma de opiniões 
identificadas com as liberdades constitucionais 
● A popularidade, a opinião dominante ou a vontade da maioria é a última instância da 
democracia 
● Liberdade escolha é igualmente central e decisiva à democracia 
● Popularidade, opinião pública dominante ou a maioria podem levar à tirania da maioria 
com sérios riscos aos direitos e às minorias 
● As maiorias de hoje podem ser as minorias amanhã... 
● Então a proteção das minorias e o direito de divergir são igualmente centrais à 
democracia 
● A aprovação popular não pode justificar revogação dos direitos fundamentais 
● Assim, por exemplo, apelação popular contra a homossexualidade não pode justificar 
negação do direito fundamental de personalidade dos homossexuais 
 
7. A falácia do apelo à compaixão 
● É o argumento que apela às emoções e sentimentos, buscando simpatia nos casos em se 
coloca a necessidade de decisão racional 
● Cuida-se de uma tática eficaz e comumente empregada na prática da argumentação 
perante tribunais populares, como é o caso do tribunal júri, quando promotores e 
advogados debatem pela condenação e absolvição em processos criminais 
● Pela acusação podem ser apresentados os argumentos: 
● “O acusado cometeu um crime violento, revelando desprezo por um dos valores mais 
caros de nossa sociedade, que é a vida humana, ação que resultou a morte de uma pessoa 
honesta, pai família, cuja esposa e filhos, daqui para frente, não mais poderão 
compartilhar com o esposo e o pai; por isso, então, ele deve ser condenado, punido e 
retirado do convívio social” 
● Por seu lado, a defesa pode argumentar: 
● “Esse jovem acusado não pode ser condenado e punido severamente..., a sua vida, desde 
o início até os dias de hoje tem sido um sofrimento sem fim, sem oportunidades de 
educação e de empregos qualificados..., cuida-se de um dos tantos excluídos sociais..., 
lutando dia-a-dia pela própria sobrevivência, desde criança, quando abandonado pelos 
pais” 
 
8. A falácia do apelo à força 
● O argumento do apelo à força é fundado na ameaça a partir da qual deve-se concordar 
o afirmado na conclusão 
● A ameaça não é necessariamente física, podendo ser moral ou psicológica 
● Cuida-se de um argumento que viola a liberdade e as convicções individuais 
● É o caso quando os líderes de uma organização de criminosa de traficantes ameaçam as 
pessoas que têm conhecimento de suas ações criminosas em caso de elas serem 
chamadas a servirem como testemunhas em investigaçõespoliciais e processos penais 
● Igualmente é o caso da vítima de assédio sexual, ameaçada de demissão caso revele o 
ocorrido 
 
13.3. Falácias resultantes evidências insuficientes 
● Argumentos falaciosos podem resultar da insuficiência das evidências apresentadas para 
fundamentar a conclusão 
● Os fatos e as evidências apresentadas guardam relação com a conclusão que o 
argumento pretende fundamentar, mas são insuficientes para tanto 
 
1. A falácia da generalização apressada 
● Esse argumento falacioso é comumente empregado na linguagem comum ordinária das 
pessoas no dia-a-dia 
● Cuida-se de um “salto à conclusão” 
● Normalmente, aparecem em casos de amostras insuficiente e exemplos atípicos: 
● Amostra insuficiente 
● É o caso de formular uma generalização a partir de alguns poucos passos: concluir que 
todos os carros de uma marca são ruins com base nos relatos de algumas pessoas que 
não tiveram boas experiências com os veículos dessa marca 
● Um caso recorrente do emprego do argumento falacioso da generalização apressado é o 
do argumento formulado a partir de uma amostragem inadequada 
● É o caso da generalização com base estereótipos raciais ou nacionais 
● É o exemplo do argumento que conclui que uma pessoa é preguiçosa e não é dada ao 
trabalho com base na afirmação que é de origem uma região em que as pessoas não 
gostam de trabalhar e são preguiçosas 
● O problema desse argumento está falta da regra de garantia e, caso uma seja 
apresentado, o problema vai dar na sua fundamentação 
● Qualquer tentativa poderá ser facilmente refutada 
● Exemplo atípico 
● É o caso de uma generalização a partir de exemplos atípicos 
● Nesse caso, o exemplo apresentado como evidência não é representativo de um 
fenômeno e não serve de base para uma conclusão geral 
 
2. A falácia do acidente 
● É o argumento fundado em uma regra que é válida e geral, mas que deixa de considerar 
as circunstâncias especiais do caso que excepcionam a regra 
● Nesse argumento, o problema está em não ser percebido alguma particularidade do caso 
que autoriza uma exceção à regra geral 
● Regras gerais são generalizações próprias para disciplinar situações correntes que 
normalmente se acham no contexto do que é esperado acontecer 
● Mas existem situações excepcionais que autorizam a não aplicação da generalização 
contida na regra 
● Na falácia da generalização apressada, a insuficiência é quantitativa dada a existência 
de evidências suficientes para fundamentar a conclusão 
● Na falácia do acidente, a insuficiência é qualitativa na medida em que o argumento não 
falha na consideração das particularidades do caso que afastam a fundamentação da 
conclusão 
● Exemplo: 
● Uma regra diz que “alunos não matriculados na FMP deve pagar R$ 10,00 pela consulta 
de livros na biblioteca”. A, aluno não matriculado na FMP, dirige-se à biblioteca a fim 
de retirar um livro para consulta local. O funcionário recém contratado da biblioteca 
exige-lhe o pagamento do valor fixado na regra. A, então, dirige-se ao Coordenador da 
biblioteca, dizendo está participando do Salão de Iniciação Científica na FMP e que, no 
edital, está contida a disposição que autoriza consulta de livros na biblioteca sem custos. 
Então, o Coordenador da biblioteca dispensa o pagamento do valor exigido, 
reconhecendo que o funcionário recém contratado incorrera na falácia do acidente 
 
13.4 Falácias resultantes da ausência de garantias 
● Esse é o caso quando se supõe a existência de garantias que efetivamente não existem 
ou não servem para suportar a fundamentação da conclusão 
● Nessas falácias compartilha-se a presunção de que uma regra de garantia fundamenta a 
conclusão, quando, contudo, esse é não é realmente o caso 
● Isso acontece normalmente quando, a regra de garantia a respeito da qual há consenso, 
não se acha explícita no argumento 
● E exatamente, uma vez tornada explícita, verifica-se que não há regra de garantia ou 
que há dúvida sobre se a regra garantia fundamenta a conclusão do argumento 
 
1. A falácia da questão complexa 
● Ocorre quando é formulada uma questão que engloba, na verdade, duas perguntas, de 
tal modo que é impossível responder uma sem restar comprometido com a resposta de 
outra 
● Exemplos clássicos: 
● Você já deixou de usar drogas? 
● Em qualquer caso, resposta sim ou não, implica admitir o uso de drogas 
● Então, a pergunta já determina a resposta do destinatário 
● Você já deixou de agredir sua esposa? 
● Resposta sim ou não implica admitir agredir a esposa 
● É o atual Rei da França careca? 
● Como não há Rei da França no momento da pergunta, uma resposta sim ou não é 
inaceitável, pois compromete quem responde com aceitar a existência de um rei, que 
não existe 
● A solução desse problema está em reconhecer que não se trata apenas de uma questão, 
e sim, duas, que não admitem uma única resposta 
● Essa tática é recorrente no ambiente político 
● Um político pode perguntar a outro: 
● Você está ou não está comprometido com a corrosão da família brasileira ao apoiar o 
casamento entre pessoas do mesmo sexo? 
● Essa pergunta, falaciosamente colocada, implica na conclusão de que é impossível 
apoiar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e não estar de acordo com a corrosão 
da família brasileira 
 
2. A falácia da causa falsa 
● Esse argumento falacioso é empregado quando há confusão entre sucessão temporal e 
sequência causal ou quando, erroneamente, um evento é tomado com causa de outro 
● Sucessão temporal e relação causal são fenômenos diferentes 
● Uma situação é a sucessão de dois eventos no tempo, o que significa a ocorrência de um 
evento depois do outro 
● Outra situação é a sequência ou relação causal entre dois eventos, o que significa que 
um evento é causa do outro 
● Sempre que tomo banho, coloco uma camisa azul e vou para a faculdade bicicleta, vou 
bem nas provas. Cuida-se de um argumento falacioso, pois o argumento coloca uma 
sequência temporal entre tomar banho, colocar camisa azul, ir de bicicleta para a 
faculdade e fazer boas as provas. Contudo, não há qualquer evidência de relação causal 
entre tomar banho, colocar camisa azul, ir de bicicleta para a faculdade e fazer boas 
provas 
● Em alguns casos, erroneamente, um evento é tomado como causa de outrem 
● Esse é um caso de erro de causalidade 
● A legislação ambiental brasileira é abundante em estabelecer responsabilidades 
administrativa, civil e criminal por ações lesivas ao meio ambiente e, mesmo assim, 
nunca houve tantos casos relativos a danos ambientais no Brasil. Assim, deve ser 
reduzido o número de leis que estabelecem responsabilidade pelos danos ambientais no 
Brasil 
● Veja-se, o erro de causalidade, pois a legislação ambiental não é causa dos danos 
ambientais 
● Igualmente, incorre nessa falácia quem simplifica as diversas causas de um evento em 
uma única e exclusiva causa 
● O desempenho dos alunos egressos das Faculdades de Direito no Brasil no exame da 
Ordem dos Advogados do Brasil não tem sido bastante insatisfatório e a causa disso 
está nos próprios professores 
● O problema desse argumento está em creditar apenas aos professores o mau 
desempenho dos egressos das Faculdades de Direito no Brasil no exame da Ordem dos 
Advogados do Brasil, quando muitas outras podem, igualmente, ser as causas 
 
3. A falácia da falsa analogia 
● O argumento por analogia é um argumento fundado da comparação e na similaridade 
relevante entre o que é comparado 
● A essência do argumento por analogia está na comparação de objetos, pessoas, ações e 
atos, a fim de estabelecer que o que pode ser afirmado em relação a um caso, pode 
igualmente ser afirmado em relação a outro, observada a similaridade entre o que está 
se comparado e a relevância da comparação para fins de fundamentação da conclusão 
● Exemplo: 
● No Brasil, morrem quase 40 mil pessoas no trânsito e morrem 60 mil pessoas por 
homicídio, na grandemaioria dos casos, causados pelo emprego de arma de fogo. Para 
conduzir um carro, basta habilitação. Por que não autorizar o uso de arma, mediante 
simples autorização. Se o uso de arma de deve ser restrito pelos riscos de mortes, então 
o uso de veículos deve ser igualmente reduzido. 
● Nesse caso, é apontada uma semelhança entre armas e carros quanto à sua capacidade 
de causar mortes. E, como conclusão, defende-se que a liberdade de usar armas não seja 
restringida porque pode provocar mortes, já que a liberdade de usar carros não é 
restringida ainda que cause mortes. 
● O problema desse argumento está na falta de similaridade entre o que está sendo 
comparado. 
● A liberdade para conduzir veículos em via pública não pode ser comparada com a 
liberdade para usar armas de fogo, pois veículos destinam-se a facilidade o exercício da 
liberdade de ir e vir das pessoas, principalmente nas cidades em que o transporte público 
(igualmente realizado com a utilização de veículos) não seria suficiente para o 
deslocamento da população. Por outro lado, armas, longe de incrementarem a segurança 
das pessoas, aumentam a violência, criando mais riscos para a vida das pessoas 
● O exemplo do Caso do Violinista formulado por Judith Jarvis Thompson para justificar 
o direito de a mulher gestante interromper a gravidez, independentemente disso atentar 
contra a vida do nascituro 
 
4. A falácia de envenenar o poço 
● Essa falácia ocorre quando uma informação negativa irrelevante é apresentada para 
desacreditar um argumento 
● Pode ser forma da falácia contra a pessoa, quando, por exemplo, um político busca 
desacreditar seu adversário atribuindo-lhe uma característica ou informação negativa 
● Exemplo: 
● Eu espero ter apresentado meu argumento claramente. Agora, meu adversário vai tentar 
refutá-lo com sua falaciosa, incoerente e ilógica versão da situação 
 
13.5 Falácias resultantes de ambiguidades 
● As falácias de ambiguidade têm origem na ambiguidade das palavras e das frases que 
formam um argumento 
● Uma palavra nada mais é do que um conjunto de símbolos gráficos, cujo significado é 
formulado na sua interpretação e, dessa atividade, podem resultar significados 
diferentes, dependendo de um conjunto não desprezível de variáveis 
● Isso também se aplica a uma frase ou proposição 
● As falácias de ambiguidade aparentam bons argumentos, mas exatamente em razão de 
erros de interpretação são argumentos enganosos 
 
1. Falácia do equívoco 
● É o caso de dúvida quanto ao significado de uma palavra ou proposição conforme 
empregada no argumento 
● O parlamento é o responsável pela criação da legislação no Estados democráticos de 
direito no modelo da família romano-germânica. A lei da gravidade é uma lei. Então, o 
parlamento é o responsável pela criação da lei da gravidade. 
● O problema desse argumento está nos diferentes significados atribuídos à palavra “lei” 
nas duas vezes em que é empregada 
● Criminalidade é ilegalidade. O julgamento de um roubo é ação criminal. O julgamento 
de roubo é realizado em uma ação criminal. Então, o julgamento do tribunal do júri é 
ilegal 
● O problema está nos diferentes significados empregados as palavras criminal e ilegal 
nas vezes empregadas. 
 
2. Falácia da ênfase 
● Esse argumento ocorre quando, acidental ou deliberadamente, coloca-se ênfase em uma 
palavra de modo a distorcer ou encobrir, se desejado, o correto significado 
● Na linguagem verbal, essa falácia ocorre também por meio de gesticulações ou inflexões 
destinadas a distorcer o entendimento do que está sendo afirmado 
● Diferentes significados podem ser retirados do mesmo texto, conforme a ênfase dada na 
sua oralização 
● Algumas palavras resultam sem significado ou com significado obscurecido quando 
retiradas de contexto 
● Falácias da ênfase podem ser facilmente encontrados na publicidade e nas manchetes 
de jornais 
● É o caso das informações colocadas nos anúncios publicitários promocionais, grafadas 
com letras pequenos, marcadas por meio de asteriscos 
● Igualmente as manchetes de jornais sensacionalistas, indicativas de que serão reveladas 
grandes informações para os leitores, mas cujo conteúdo traz poucas novidades ao que 
já é conhecido. 
 
3. Falácia da composição e falácia da divisão 
● A falácia da composição ocorre quando algo é afirmado em relação a um grupo de 
pessoas, mas somente é verdadeiro ou correto em relação a apenas parte dos integrantes 
do grupo 
● A falácia da divisão ocorre quando algo é afirmado em relação a apenas parte dos 
membros de grupo, mas é tomado como sendo verdadeiro ou correto em relação ao 
grupo todo 
● Se as células do corpo humano são microscópicas, então o corpo humano é 
microscópico 
● Se sódio clorídrico é constituído de sódio e cloro, que são venenos para o ser o humano, 
então sódio clorídrico é um veneno para os seres humanos 
● As falácias da composição e da divisão são facilmente confundíveis com as falácias da 
generalização apressada e do acidente 
● Mas, a diferença está em que nas falácias da composição e da divisão, o tema são coisas 
ou grupo de coisas (relação entre o todo e as partes) e nas falácias da generalização 
apressada e do acidente, o problema está nas regras gerais ou de garantia, bem como na 
não desconsideração das exceções 
 
14. Argumentos 
 
14.1 Argumento por analogia 
 
● O argumento por analogia é empregado em diversas áreas do conhecimento. 
● A correção do argumento: conclusões fundadas. 
● A incorreção do argumento: falácia informal. 
● Dois tipos de argumento por analogia. 
● Primeiro tipo: 
● Versão mais amplamente aceita. 
● Comparação entre casos com características similares. 
● Questão central: similaridade. 
● Comparação entre C1 (caso fonte) e C2 (caso alvo). 
● Transição do caso fonte (source case) para o caso alvo (target case). 
● Similaridade entre os casos justifica transferência de uma verdade em C1 para uma 
verdade em C2. 
● Premissa de similaridade: C1 é similar a C2. 
● Premissa base: A é verdade em C1. 
● Conclusão: A é verdade em C2. 
● Essa forma, aplicada a casos concretos, pode ser aperfeiçoada desse modo. 
● Premissa base: uma situação é descrita em C1. 
● Premissa derivada: A é uma conclusão de C1. 
● Premissa de similaridade: C1 é similar a C2. 
● Conclusão: A é uma conclusão de C2. 
● As duas formas podem ser usadas e bem empregadas. 
● A verdade da premissa derivada (2) depende do auditório. 
● A vantagem da segunda forma é indicar a premissa derivada. 
● A premissa derivada diz que uma conclusão é aceita como plausível pelo auditório em 
um C1. 
● A força do argumento por analogia pode ser colocada à prova por meio de questões 
críticas (QC). 
● QC1. Existem diferenças entre C1 e C2 capazes o bastante para comprometer a 
similaridade entre os dois casos? 
● QC2. A é uma conclusão correta de C1? 
● QC3. Não existe um C3, igualmente similar a C2, mas cuja conclusão não é A? 
● A QC1 coloca em dúvida a força do argumento a partir das diferenças entre C1 e C2. 
● A QC2 questiona a própria verdade da conclusão em C1. 
● A QC3 é o contra-argumento do argumento por analogia. 
● Esse contra-argumento ataca a conclusão do argumento por analogia. 
● Exemplo do Violinista (Thomson, J. A defense of abortion, 1971). 
● O uso mais famoso do argumento por analogia na filosofia do Séc. 20. 
● “A” acorda em um hospital conectado por aparelhos a um famoso violinista. 
● “A” foi sequestrado, sedado e conectado ao violinista por que era a única pessoa cujos 
rins poderiam ser usados para a sobrevivência do violinista. 
● O hospital informa que não pode ser fazer nada, pois o desligamento implicará a morte 
do violinista. 
● “A” deve esperar nove meses a fim de que seja feito o desligamento. 
● Judith Thomson empregou o argumento por analogia para defender o direito ao aborto. 
● Premissa base: uma situação é descrita caso do violinista C1. 
● Premissa derivada: A não tem o dever de permanecer ligado,por nove meses, ao 
violinista para garantir a sua sobrevivência: A tem o direito a ser desligado dos aparelhos 
que o conectam ao violinista (conclusão de C1). 
● Premissa de similaridade: caso do A (C1) é similar ao de uma mulher grávida (C2). 
● Conclusão: mulher grávida tem direito ao aborto. 
● Esse argumento pode ser atacado em vários pontos. 
● Dois podem ser destacados a partir da QC2. 
● Source case: não há relação entre o violinista e a pessoa. 
● Target case: há relação entre a mulher grávida e o feto. 
● No source case pessoa nada fez para ser ligada ao violinista... 
● Então, no target case, a conclusão somente poder formulada no caso de mulher que nada 
fez para resultar grávida (caso de estupro). 
● No entanto, a questão central: definir a noção de similaridade da premissa de 
similaridade. 
● Segundo tipo. 
● Este tipo é dominante nos livros de lógica: Copi e Cohen (Introduction to logic, 1990) 
e Hurley (A concise Introduction to logic, 2003). 
● Esse argumento pode ser esquematizado assim: 
● Os objetos do tipo X têm as propriedades G, H, etc. 
● Os objetos do tipo Y têm as propriedades G, H, etc. 
● Os objetos do tipo X têm a propriedade F. 
● Então, os objetos do tipo Y têm a propriedade F. 
● Como argumento indutivo, a analogia pode ser forte ou fraca. 
● A força do argumento depende da semelhança relevante. 
● A questão da semelhança relevante é central. 
● A semelhança deve ser relevante para o argumento. 
● Quanto maior a semelhança relevante, maior a força do argumento. 
● Quanto maior a dessemelhança relevante, menor a força do argumento. 
● Exemplo: 
● Experimento com ratos para determinar o efeito da sacarina no ser humano. 
● Pesquisa comprovou que ratos que receberam doses de sacarina contraíram câncer na 
bexiga. 
● A partir das semelhanças fisiológicas entre ratos e seres humanos em vários aspectos, 
os cientistas concluíram que a ingestão de sacarina cria risco de câncer para os seres 
humanos. 
● Seres humanos e ratos são diferentes, mas a semelhança fisiológica é relevante para o 
argumento. 
● Exemplo: 
● A pretende comprar um novo carro, mas que tenha baixo consumo de combustível. 
● A concluiu que deve comprar um carro Ford Focus, pois observou que seu amigo B tem 
um Ford Focus, que apresenta baixo consumo de combustível. 
● Algumas similaridades que suportam a analogia: mesma marca, modelo, motor, pneus. 
● Outras similaridades são irrelevantes: cor do carro, vidros, acabamentos internos. 
● Algumas diferenças podem enfraquecer o argumento: 
● A dirige de forma mais agressiva do que B ou o modelo novo é mais pesado do que o 
anterior. 
● Então, a força de um argumento por analogia depende da determinação da relevância 
das similaridades. 
● A força do argumento por analogia depende dos fatores ou propriedades que os casos 
compartilham e dos fatores ou propriedades que eles não compartilham ou dividem. 
● Essa questão remete para o peso dos fatores ou propriedades de similaridade e 
dissimilaridade. 
● O argumento por analogia é um argumento superável ou derrotável (defeasible form). 
● Fatores ou propriedades relevantes de similaridade fundamentam a força do argumento. 
● Fatores ou propriedades relevantes de dissimilaridade enfraquecem ou derrotam o 
argumento. 
● A força do argumento depende do peso dos fatores ou propriedades relevantes de 
similaridade e dissimilaridade. 
● Quanto maior o peso (relevância) do fator, ou propriedade compartilhada, maior a força 
do argumento por analogia. 
● O método de três passos (Ashley, 1988). 
● Primeiro passo: C1 e C2 apresentam similaridades de fatores relevantes para justificar 
a conclusão de que o afirmado verdadeiro em C1, também pode ser afirmado verdadeiro 
em C2. 
● Segundo passo: apresentação das questões críticas. 
● Terceiro passo: análise e respostas às questões críticas. 
● Exemplo do Caso Silkwood. 
● Caso Silkwood v. Kerr-McGee Coorporation. 
● Karen Silkwood trabalhava na Kerr-McGee no polimento de pinos de plutônio usados 
em reatores nucleares. Tempos depois, Karen restou morta em um misterioso acidente 
de carro. Exames revelaram que Karen tinha sido submetida a perigosos níveis de 
radiação por plutônio. 
● Kerr-McGee, a despeito de provas de sua contribuição dolosa ou culposa para o 
resultado, resultou responsabilizada pelos danos à família de Karen Silkwood por 
executar atividade perigosa, condenada pelo júri a pagar mais de dez milhões de dólares. 
● O argumento de Gerry Spencer. 
● “If the lion got away, Kerr-McGee has to pay”. 
● O caso do leão que escapou do zoológico e matou uma pessoa. 
● O dono do zoológico adotou todas as providências de segurança, mas o leão escapou e 
matou uma pessoa. 
● O Direito diz que o dono do zoológico é responsável pelos danos que o leão causar a 
outras pessoas, por manter atividade perigosa. 
● Um leão escapou do zoológico e matou uma pessoa, devendo o dono ser 
responsabilizado pelos danos causados à família da pessoa morta. 
● O caso Silkwood é similar ao caso do leão. 
● O plutônio (como o leão) escapou e contaminou Karen Silkwood. 
● Teoria da ação (Theory of Script) e similaridade. 
● Uma sequência de proposições (frases) na qual cada proposição se segue uma da outra, 
formando uma cadeia que fundamenta uma conclusão. 
● “Bob swings his golf club, he hits a golf ball, the golf ball flies through the air, the golf 
ball lands on the grass, the golf ball rules towards the cup, the golf ball stops at a point 
six inches short of the cup”. 
● Esquema da história no caso do leão. 
● X é muito perigoso para a pessoa Y. 
● X está seguramente condicionado e não pode causar dano a Y. 
● X pertence a Z, que o mantém adotando todas as medidas de segurança. 
● X não está totalmente seguro e condicionado, podendo causar dano a Y. 
● X não há provas ou evidências de como X escapou. 
● X causou danos à pessoa Y. 
● Z é responsável pelo dano causado à Y. 
● Esquema da história do caso Silkwood. 
● Plutônio é muito perigoso para os empregados. 
● Plutônio está seguramente condicionado e não pode causar dano aos empregados. 
● Plutônio pertence à Kerr-McGee, que o mantém conforme todas as medidas de 
segurança e proteção até então conhecidas. 
● Plutônio não está totalmente acondicionado e pode escapar. 
● Não há provas ou evidências de como plutônio escapou. 
● Karen Silkwood, empregada da Kerr-McGee resultou morta por contaminação por 
plutônio. 
● Kerr-McGee é responsável pelos danos causados à Karen Silkwood. 
● Argumentação por analogia: descritiva e normativa. 
● Argumentação por analogia descritiva. 
● Proposições são descritivas: afirmam um estado de coisas. 
● Comparação das características de uma coisa, pessoa ou situação com as características 
de outra coisa, pessoa ou situação. 
● Câmeras de vigilância nas vias públicas serão efetivas em Itaqui, pois provaram ser 
efetivas em Porto Alegre. 
● A comparação assume que há similaridades relevantes quanto à segurança entre Itaqui 
e Porto Alegre, que justificam extrapolar as características em comum. 
● Argumentação por analogia normativa. 
● Princípio da consistência possui papel central. 
● Princípio da consistência: regra de justiça. 
● Coisas, situações e pessoas de uma mesma categoria devem ser tratadas do mesmo 
modo. 
● Empregados do departamento administrativo devem ter seus salários elevados, pois os 
empregados dos outros departamentos ganharam aumento. 
● Princípio da consistência: comparação entre coisas, situações ou pessoas de uma mesma 
categoria. 
● Analogia normativa como a priori reasoning (Govier, 1987): 
● Você deve fazer X, pois em uma situação similar você faria X. 
● Caso da comparação com situação não existente. 
● Exemplo dos pacifistas. 
● Você, pacifista, não usaria de violência para salvar sua mãe de uma agressão? 
● Analogia figurativa. 
● Analogia para justificar tratamento diferente. 
● Elementos comparados estão em diferentes situações. 
● Argumento do Presidente Truman dos Estados Unidos, em defesa do imediato ataqueà 
Coreia, logo no início do conflito. 
● O melhor momento para enfrentar uma ameaça é no início. É muito mais fácil apagar 
um incêndio logo no seu início do que depois, quando tudo já se acha em chamas. 
● Guerra e incêndio são situações diferentes e não se comparam. 
● A comparação é abstrata de relações. 
● Comparação de relações metafóricas. 
● Analogia e o argumento do raciocínio paralelo. 
● Caso especial do argumento por analogia. 
● Esquema básico do argumento por analogia. 
● Forma de Aristóteles e Perelman. 
● A está para B como C está para D. 
● As maçãs argentinas são doces. 
● As maçãs brasileiras são semelhantes às maçãs argentinas. 
● Logo, as maçãs brasileiras são doces. 
● C1 é similar a C2. 
● A é verdade em C1. 
● Logo, A é verdade em C2. 
● Exemplos do emprego estatal de câmaras de vigilância: 
● Fixas, colocadas em satélites ou conduzidas por drones. 
● Você deve concordar com a utilização de câmaras conduzidas por drones em razão do 
custo-benefício, a despeito das questões de privacidade, pois você concorda com o uso 
de câmaras de vigilância fixas ou em satélites, em atenção ao custo-benefício e a 
despeito das questões de privacidade. 
● Esquema: 
● Conclusão: você deve aceitar a proposição S. 
● Premissa 1: Porque, na situação C, a proposição A o convenceu de aceitar a proposição 
B. 
● Premissa 2: Na situação R, você aceitou a proposição T. 
● Premissa 3: Aceitar B com base em A, na situação C, é comparável a aceitar S com base 
R na situação T. 
 
14.2 Argumento por generalização 
 
● O argumento por generalização pode ser identificado com o argumento indutivo por 
enumeração ou com o designado silogismo estatístico 
● Quando pessoas ou coisas são semelhantes, elas podem ser reunidas em grupos e, sobre 
elas, são possíveis generalizações 
● Argumentos por generalização envolvem a formulação de proposições gerais com base 
em uma amostragem representativa de um grupo de pessoas, coisas e instituições 
● As pesquisas de opinião pública, de aprovação de governantes, assim como pesquisas 
para revelar tendências eleitorais ou tendências mercadológicas autorizam formular 
generalizações 
● Uma amostragem populacional é selecionada a partir de critérios previamente definidos 
a fim representar todas as pessoas a serem incluídas na generalização ou, igualmente, 
pode ser apenas aleatoriamente escolhida, de tal sorte que cada membro da população 
esteja ali representado 
● A força do argumento por generalização depende da representatividade da amostra 
● Ela deve ser tal que a adição de mais pessoas não altere o resultado 
● Outro critério é o de que a mostra seja atual, objetiva e selecionada de modo imparcial 
● A questão histórica temporal é igualmente importante para a força do argumento por 
generalização, exatamente porque modificações históricas podem levar à 
imprestabilidade da generalização 
● Pesquisas dirigidas, conduzidas a respostas desejadas, certamente levarão a 
generalizações falaciosas 
● Veja-se este exemplo de uma generalização por amostragem 
● Todos os grãos da amostra observada são do tipo A. 
● Logo, presumivelmente todos os grãos do barril são do tipo A. 
● A premissa diz apenas que todos os grãos observados são do tipo A. 
● A conclusão amplia o conteúdo da premissa para a totalidade dos grãos do barril. 
● Trata-se de uma generalização com base em uma amostragem. 
● A indução por enumeração pode chegar a conclusões falsas. 
● A falácia da estatística insuficiente: falácia da conclusão apressada. 
● Generalizar sem uma amostra significativa para sustentar a generalização. 
● O problema central é saber se a amostra é suficiente para a verdade da conclusão. 
● Exemplo: 
● Concluir que um automóvel é ruim porque duas pessoas que você conhece tiveram 
problemas com carro da mesma marca e modelo. 
● Pessoas preconceituosas (religião ou raça) costumam fazer generalizações, concluindo 
características de toda uma classe pela observação de um ou dois casos. 
● A falácia da estatística tendenciosa. 
● A amostra observada deve ser representativa. 
● Exemplo: 
● Uma característica indesejável (terrorista) é atribuída um grupo minoritário de 
muçulmanos. São anotados e destacados todos os casos de muçulmanos que praticaram 
atos terroristas, mas nada se diz sobre a expressiva maioria de muçulmanos que nunca 
se envolveu em atos de terroristas. 
● Generalização baseada em amostra que se sabe não ser representativa e que se tem 
motivos para suspeitar que não seja representativa. 
● Caso de generalização estatística. 
● 75% dos grãos do barril são do tipo A. 
● O próximo grão a ser retirado é um grão do barril. 
● O próximo grão a ser retirado é do tipo A. 
● A conclusão vai além das premissas. 
● A conclusão poderia ser: o próximo grão será, provavelmente, do tipo A. 
● Mas, provavelmente, não está nas premissas. 
● Exemplo: 
● A grande maioria dos homens brasileiros com casos de câncer pulmonar avançado não 
sobreviverá por mais de três anos. 
● A é um homem brasileiro. 
● A não sobreviverá por mais de três anos. 
● Esse é um argumento indutivo aceitável, consideradas as evidências conhecidas. 
● Condições do argumento indutivo aceitável: 
● Premissas verdadeiras. 
● Forma correta. 
● Premissas abrangem todas as evidências relevantes conhecidas (requisito da evidência 
total). 
● Violação (3): falácia da evidência incompleta ou insuficiente 
 
14.3 Argumento por evidência 
● Esse argumento afirma que, se duas ou mais coisas ou situações estão proximamente 
relacionadas, a presença ou a ausência de outra indica a presença ou ausência de outra 
● Assim, se a situação S1 tem estreita e direta relação de vinculação com a situação S2, 
então a ocorrência de S1 permite concluir que, muito presumivelmente, tem-se a 
ocorrência de S2 
● Esse é um caso de argumento que tem por base uma estreita relação de causa e efeito 
● Assim, por exemplo, impressões digitais são evidências que servem para distinguir um 
indivíduo, assim como a marca de uma pisada no chão serve para indicar que uma 
pessoa caminhou pelo local recentemente ou que, “onde há fogo, há fumaça” 
● Veja-se que a proposição, “onde há fumaça, há fogo”, por outro lado, indica uma relação 
frouxa e frágil entre fumaça e fogo, notadamente porque vários são os casos em que se 
pode ter fumaça independentemente de fogo (fumaça pode ser produzida uma máquina) 
● Na investigação criminal, na ausência de evidências diretas em crime de homicídio, 
evidências podem sinalizar que o acusado muito provavelmente matou a vítima. O 
acusado era casado com a vítima, com vários registros de agressões anteriores contra a 
mesma; uma semana antes do crime, o acusado comprou uma arma; vizinhos ouviram 
uma discussão, gritos e os disparados no apartamento onde morava a vítima; o acusado, 
quando foi localizado, estava no aeroporto para realizar uma viagem para o exterior e, 
quando viu a polícia, procurou fugir 
 
14.4 Argumento causal 
● O argumento causal é fundado em uma relação forte de causa e efeito 
● Ela é mais forte do que a relação entre coisas ou situações do argumento por evidência 
● No caso do argumento causal, um evento é causa do outro ou condição do outro. 
● Nesses casos, os eventos não apenas aparecem regularmente juntos, mas são se acham 
causalmente conectados 
● Impressões digitais e manchas de sangue não são apenas evidências da autoria do crime, 
pois podem ser causados pela presença do acusado na cena do crime 
● Febre não é apenas sinal de doença, pode ser causada pela enfermidade (podendo não 
decorrer da enfermidade?) 
● O argumento causal é fundado em uma generalização causal: 
● a) se uma determinada causa é empiricamente observada, então seu efeito pode ser 
esperado 
● b) se, por outro lado, um efeito é observado, então a sua causa pode ser presumida 
● Assim, se a existência de um ou outro pode ser demonstrada em uma particular situação, 
então a existência de um ou outro pode ser sustentada 
● Como estabelecerrelações de causalidade? 
● Os métodos de generalização de John Stuart Mill: 
 
a) Método da concordância 
● O método da concordância diz que se duas ou mais instâncias de um fenômeno sob 
investigação tem somente uma circunstância em comum, a circunstância, a qual todas 
as instâncias concordam, é a causa (ou efeito) do dado fenômeno 
● Para uma propriedade ser uma condição necessária, ela deve estar sempre presente 
quando o efeito estiver presente. Obviamente, qualquer propriedade não presente 
quando o efeito é presente, não pode ser uma condição necessária ao efeito. 
● Simbolicamente, esta é a forma do argumento: 
● 1) A, B, C e D ocorrem junto com W, X, Y, Z 
2) A, E, F e G ocorrem junto com W, T, U, V 
● 3) Então, consequentemente A é a causa de W 
● Simbolicamente, de outro modo: 
● ABCD efeito X. 
● ABCE efeito X. 
● ABDF efeito X. 
● ACDG efeito X. 
● Qual é a causa de X. 
● A, B, C, D, E, F e G são as várias circunstâncias. 
● Como A é a única circunstância comum, então A é a causa. 
● Exemplo: 
● Alta expectativa de vida e baixas taxas de mortalidade infantil em países que têm um 
programa nacional de saúde, permite concluir que programas de saúde são as causas das 
boas condições de saúde da população desses países 
● Exemplo: 
● Comerciante de laranja deseja descobrir porque as laranjas que compra para revender 
estão murchas e sem suco. Verifica que isso acontece a todas as laranjas que compra, 
independentemente de serem adquiridas de produtores e regiões diferentes, bem como 
de serem transportadas de barco, trem ou caminhão. Isso acontece com laranjas de 
qualquer espécie. 
● Qual a causa do efeito (laranjas murchas e sem suco)? 
● O comerciante constata as laranjas têm algo em comum: todas são congeladas. 
● Então conclui que a causa é o congelamento das laranjas: uma vez congeladas, as 
laranjas resultam murchas e sem suco 
● Problema do método da concorrência: 
● O método da concorrência somente pode determinar a causa se ela está entre uma das 
causas investigadas. Se a causa não está entre as arroladas e investigadas, ela não poderá 
ser determinada pelo método da concorrência 
● Veja-se este exemplo: 
● O caso do homem que pretendia descobrir o que causava sua embriaguez. 
● No primeiro dia, bebe uísque com guaraná. 
● No segundo dia, bebe vinho com guaraná. 
● No terceiro dia, bebe vodca com guaraná. 
● No quarto dia, bebe rum com guaraná. 
● Então, descobre a causa: guaraná, pois é a causa concorrente que aparece em comum 
● 
b) Método da diferença 
● O método da diferença diz que se um aspecto está presente em um caso e ausente no 
outro, ele faz a diferença entre a ocorrência ou não ocorrência do efeito 
● Se um conjunto de circunstâncias leva a um dado fenômeno, e outro conjunto de 
circunstâncias não leva, e os dois conjuntos diferem em apenas um fator, que é presente 
no primeiro conjunto, mas não no segundo, então o fenômeno pode ser atribuído a este 
fator. 
● Simbolicamente, o método da diferença pode ser representado como: 
● 1) A, B, C e D ocorrem junto com W, X, Y, Z 
2) B C D ocorrem junto com X, Y, Z 
● 3) Então, consequentemente A é a causa, ou o efeito, ou uma parte da causa de W. 
● Simbolicamente, de outro modo: 
● ABCD efeito X. 
● (Não A) BCD efeito não X. 
● Exemplo: 
● Estudos destinados a mostrar a relevância da genética e do meio ambiente para o 
desenvolvimento e comportamento humano usam essa forma de argumento quando tem 
por objeto gêmeos idênticos 
● Geneticamente eles são precisamente semelhantes. Quando, por alguma razão, eles são 
separados ao nascer e crescem em lugares e famílias diferentes, subsequentes diferenças 
de personalidade, comportamento e outros aspectos podem ser atribuídos ao meio 
ambiente ao invés das causas genéticas, pois aqueles são os aspectos relevantes de 
diferença 
● Exemplo: 
● Beber café depois do jantar provoca insônia? 
● Quem bebe café depois do jantar, não conseguir dormir. 
● Em dois dias seguidos, A faz, come e bebe exatamente as mesmas coisas, exceto uma. 
● No primeiro dia, não toma café. 
● No segundo dia, toma café. 
● No primeiro dia, A dorme a noite inteira. 
● No segundo dia, A não consegue dormir. 
● Conclusão: café causa insônia. 
● Veja-se que A fez, comeu e bebeu exatamente a mesma coisa, salvo que em um dia 
tomou não tomou café e no outro tomou café antes de dormir. Então, a causa de sua 
insônia está em tomar café antes de dormir. 
 
c) Método da junção entre concordância e diferença 
● Se duas ou mais instâncias onde um fenômeno ocorre tem somente uma circunstância 
em comum, enquanto em duas ou mais outras instâncias onde o fenômeno não ocorre 
não têm nada em comum exceto a falta daquela circunstância, a circunstância na qual 
as instâncias diferem, é o efeito, ou a causa, ou necessariamente parte da causa do 
fenômeno. 
● Simbolicamente, o método da junção entre concordância e diferença pode ser 
representado como: 
● 1) A, B e C ocorrem juntos com W, Y e Z 
2) A, D e E ocorrem juntos com X, T e W e também B e C ocorrem com Y e Z 
● 3) Então, consequentemente A é a causa, ou o efeito, ou parte da causa de X. 
● Simbolicamente, de outro modo: 
● ABCD, então X (não A) BCD, então não X 
● ABCE, então X (não A) BCE, então não X 
● ABDF, então X (não A) BDF, então não X 
● ACDG, então X (não A) BCG, então não X 
● Exemplo: 
● Caso das causas da turbulência acentuada na traseira de aviões. 
● Qual é a causa? 
● A chamada turbulência da ponta da asa somente ocorre quando o avião está no ar, 
sustentado pelas asas 
● Ela não ocorre quando a aeronave está sustentada pelo trem de pouso no solo 
● Essa constatação é resultado do método da concorrência: constatada a turbulência 
sempre que o avião está sustentado pelas asas, independentemente de quaisquer outras 
condições 
● O próximo passo é empregar o método da diferença, analisando todos os casos em que 
fenômeno (turbulência na traseira da aeronave) está ausente 
● Constatação de que todos os casos da turbulência de asa são semelhantes aos casos em 
que a turbulência de asa não está presente, salvo quanto o fato de que no último conjunto 
existe uma diferença: o avião não está voando 
 
f) Causas suficientes e causas necessárias 
● Causas diferem de condições. 
● Nem todas as condições suficientes são causas suficientes. 
● Nem todas as condições necessárias são causas necessárias. 
● Condição suficiente: 
● Satisfaz o mínimo necessário para assegurar o resultado (evento). 
● Se o antecedente é verdadeiro, então o consequente é verdadeiro. 
● X ser verdadeiro é suficiente para Y ser verdadeiro. 
● Se X, então Y. 
● Se A obteve 7,0 na prova, então A alcançou a média para aprovação. 
● Se A for decapitado, então morrerá. 
● A decapitação é uma condição suficiente para a morte, mas não uma necessária (morte 
pode se dar por outras causas). 
● Ser aprovado em TAJ não é uma condição suficiente para conclusão do Curso de Direito 
na FMP, pois existem outras disciplinas. 
● Condição necessária: 
● Condição obrigatória para assegurar o resultado (evento). 
● Se X, então Y. 
● Relação entre X e Y: X não pode ocorrer sem Y. 
● Se A joga futebol, então A pratica esporte. 
● Se A não for aprovado em TAJ, não concluirá Direito na FMP. 
● Ser aprovado em TAJ é condição necessária para a conclusão do curso de Direito na 
FMP. 
● O resultado (conclusão do curso) não ocorre se não cumprida a condição (aprovação em 
TAJ). 
● Condição necessária e suficiente: 
● Caso de igualdade total entre X e Y. 
● Se e somente se 
● Causa suficiente: 
● Se A produz sempre X, A é causa suficiente de X. 
● Se do congelamento de laranjas resulta sempre laranjas sem gosto e sem suco, então o 
congelamento é uma causa suficiente para estragar as laranjas. 
● Causa necessária: 
● A é causa necessária de X se X não pode ocorrer na ausência de A. 
● O congelamento de laranjas não é causa necessária de laranjas sem gosto e sem suco, 
pois esse efeito pode resultar de outras causas (falta de irrigaçãona época própria). 
● Acionar o interruptor de luz é causa necessária para acender a lâmpada, mas não é 
suficiente. Acionar o interruptor não acende lâmpada que está queimada. 
 
15. Ética argumentativa 
 
● A formulação de um argumento e a união de um argumento ao outro desenvolve-se sob 
a base de um procedimento 
● A argumentação prática exige um código de ética argumentativa 
● Além das exigências colocadas à correta formulação de argumentos, devem ser 
observadas exigências quanto ao procedimento ético de quem apresenta os argumentos 
● Na prática da argumentação jurídica judicial, as partes devem formular e desenvolver 
cadeias de argumentos corretamente, observadas as exigências formais dos próprios 
procedimentos jurídicos e também da argumentação correta 
● Desafiar essas exigências é desafiar os juízes e tribunais e também a própria 
razoabilidade da pretensão judicial apresentada para julgamento 
● Sócrates costuma designar pessoas com “ódios da razão” àquelas que não conseguiam 
ouvir argumentos contrários aos seus e debater abertamente com esses argumentos 
● Uma argumentação ou discussão racional somente pode ser exitosa se envolver pessoas 
abertas a argumentos contrários aos seus 
● Algumas exigências da ética argumentativa: 
● Disposição para receber, ouvir e avaliar cuidadosamente argumentos contrários aos seus 
pontos de vista 
● Quem se faz de surdo, desprezando graciosamente argumentos que lhe são 
apresentados, não pode pretender participar de uma interação argumentativa racional 
● Quem tem interesse em participar de uma interação argumentativa racional deve abrir-
se para ouvir argumentos dos seus adversários, inclusive, colocando-se no lugar deles 
para buscar melhor entender seus argumentos 
● Ao aceitar participar de uma argumentação racional, assume-se o compromisso de 
aceitar o resultado da argumentação 
● Os procedimentos da argumentação prática devem observar o princípio da ética da 
cooperação 
● Quem apresenta argumentos deve buscar apresentar os melhores argumentos para 
contribuir para a melhor e mais bem informação tomada de decisão por parte daquele 
que tem a atribuição para decidir 
● No caso do procedimento judicial de tomada de decisões jurídicas, as partes adversárias 
devem colaborar a apresentação das melhores razões a fim de que o juiz e o tribunal 
competentes tomem a melhor e mais bem fundamentada decisão 
 
15. Argumentação jurídica 
● A argumentação jurídica na prática judicial de tomada de decisões é adversarial, cada 
parte, de seu lado, apresentando argumentos para fundamentar a conclusão do caso a ser 
decidido pelo juiz ou tribunal conforme seus próprios interesses 
● Não é objetivo central dos argumentos apresentados por uma parte convencer a parte 
adversária, mas sim alcançar a aceitabilidade por quem tem competência para a tomada 
de decisão, no caso, juízes e tribunais competentes 
● Na argumentação jurídica na prática judicial, a conclusão dos argumentos apresentados 
pelas partes, juízes e tribunais deve ser justificada pelos dados fáticos, regras de garantia 
e fundamentos das regras de garantias 
● Nas ações penais, cuida-se de argumentos que são apresentados para justificar a 
conclusão final no sentido da absolvição ou condenação do acusado de crimes como 
furto, roubo, estupro, extorsão, homicídio, etc. 
● Nas ações civis, cuida-se argumentos que são apresentados para justificar a procedência 
ou improcedência de uma demanda, ou o provimento ou não provimento de um recurso 
● E isso aplica-se a qualquer argumento ou cadeia de argumentos de qualquer peça 
processual em que seja formulado um pedido ou dado um provimento jurisdicional por 
um juiz ou tribunal 
● O pedido de indenização formulado pela parte A contra a parte B na petição inicial de 
uma ação de indenização por dano moral é a conclusão de uma cadeia argumentos, onde 
são apresentados fatos, regras de garantia e fundamentos da regra de garantia 
● Assim, também, a decisão do juiz e do tribunal 
● Cuida-se de uma atividade complexa, pois não basta apenas afirmar a existência de um 
fato e de uma norma jurídica, atribuindo-se ao fato a consequência jurídica fixada na 
regra de garantia 
● Não basta afirmar a existência de fato, devendo-se serem apresentadas as evidências 
que satisfação a sua condição de verdade 
● Não basta indicar uma determinada norma jurídica como regra de garantia, devendo-se, 
na fundamentação da garantia, apresentar razões para justificar a interpretação dada, 
bem como justificar, conforme as particularidades do fato, a não aplicação de uma 
exceção capaz de refutar a regra de garantia tomada em conta 
● Os argumentos apresentados na argumentação jurídica são formulados a partir de 
premissas fáticas e premissas jurídicas 
 
1. Questões de fato e as premissas fáticas 
● As premissas fáticas são construídas a partir das circunstâncias factuais de um caso e 
são justificadas com base em argumentos empíricos, notadamente as evidências 
● As evidências são provas apresentadas para justificar a verdade, a plausibilidade da 
verdade ou a presunção de verdade das premissas apresentadas 
● Quem apresenta um argumento assume o ônus da carga da prova das premissas fáticas 
do argumento apresentado 
● Deve-se distinguir o ônus de produzir uma prova, do ônus de apresentar argumentos 
sobre uma prova e da escolha tática do momento de apresentar uma prova 
● As premissas fáticas são afirmações descritivas passíveis de verdade: uma proposição é 
verdadeira se estão presentes as suas condições de verdade 
● A satisfação das condições de verdade de uma proposição depende de que sejam 
apresentadas evidências nesse sentido, quando, então, entram em cena os diversos meios 
de provas admitidos 
● As provas ou evidências são documentos públicos ou privados, contratos, depoimentos 
de testemunhas, fotografias, vídeos, áudios, laudos periciais 
● Uma vez apresentadas, qualquer dessas provas ou evidências podem ser controvertidas, 
exigindo-se justificação, no caso uma regra de garantia 
● Por exemplo, o depoimento de uma testemunha pode ser questionado 
● Para justificar o seu depoimento, pode ser empregada a regra de garantia de que se trata 
de pessoa que assistiu pessoalmente o evento em questão, encontrando-se em condições 
de dizer a verdade, pelo que merece total credibilidade 
● Como fundamento da regra dessa regra de garantia, pode ser formulado que as regras 
da experiência ensinam que as testemunhas presenciais de um evento merecem 
credibilidade, especialmente quando a testemunha descreve o evento com acurado 
detalhamento, sob juramento e cuidadosamente escrutinada 
● Igualmente, o testemunho de um expert pode ser colocado questionado e colocado em 
dúvida 
● Nesse caso, pode ser apresentado como regra de garantia, para justificar o depoimento 
do expert, a sua expertise e condições técnicas suficientes para dar um parecer confiável 
sobre os assuntos técnicos relativos ao evento em questão 
● Como fundamento dessa regra de garantia, pode ser formulado que o expert tem a 
formação técnica, a experiência prática profissional e acadêmica científica sobre o 
assunto técnico em questão, de tal modo que está autorizado a opinar com autoridade 
que merece credibilidade 
 
2. Questões jurídicas e as premissas jurídicas 
● As questões e as premissas jurídicas dizem com a interpretação e aplicação das normas 
jurídicas, o que guarda direta relação com os fatos que constituem o caso apresentado 
● A interpretação e aplicação das normas jurídicas dependem dos fatos e circunstâncias 
fáticas que configuram o caso jurídico 
● As premissas jurídicas são formuladas a partir das normas jurídicas retiradas da 
interpretação das disposições jurídicas dadas na legislação constitucional e 
infraconstitucional em quaisquer dos níveis da federação (federal, estadual e municipal) 
● Igualmente, as premissas jurídicas são formuladas a partir das contribuições da 
dogmática jurídica, notadamente

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