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PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL INFECÇÕES INFECÇÕES BACTERIANAS MENINGITES Refere-se à inflamação da leptomeninge (pia-aracnoide e espaço subaracnóideo). Podem ser divididas em agudas e crônicas e, conforme o exsudato, purulentas e granulomatosas, havendo relação entre a evolução clínica da inflamação e o tipo de exsudato: as agudas são purulentas e as crônicas granulomatosas. As meningites agudas são causadas por bactérias piogênicas e as crônicas pelo bacilo da tuberculose. MENINGITES PURULENTAS A etiologia varia de acordo com a faixa etária. No período neonatal, as bactérias mais frequentes são o estreptococo do grupo B e Escherichia coli. Em idades entre 2 e 6 anos e em adultos jovens, o Haemophilus influenzae tipo B e a Neisseria meningitidis (meningococo) são os mais frequentes. Em adultos, Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e Neisseria meningitidis são as principais causas. Infecção no período neonatal se relaciona com baixo peso corporal e imaturidade do sistema imunitário, sendo adquirida da mãe no momento do parto por contaminação do líquido amniótico e pela flora urogenital, ou por portadores sãos durante a permanência no hospital. Indivíduos com risco de adquirir pelo pneumococo são idosos, imunossuprimidos, submetidos a esplenectomia ou portadores de fístula dural pós-traumática. Na maioria dos casos, a bactéria atinge o sistema nervoso pela corrente sanguínea, a partir de infecções das vias aéreas superiores ou pneumonia. A invasão da leptomeninge ocorre após a bactéria atravessar a barreira hematoencefálica. Admite-se que a produção de exotoxinas e a presença de lipopolissacarídeo resultam em lesão da barreira hematoencefálica e na produção de citocinas pró-inflamatórias pelas células endoteliais e macrófagos, permitindo a passagem de bactérias, neutrófilos e plasma. Nas primeiras 48 horas, as alterações macro e microscópicas são pouco evidentes, notando-se hiperemia, marginação leucocitária, discreta infiltração perivascular de neutrófilos e numerosas bactérias livres. Nos dias subsequentes, observa- se também distensão do espaço subaracnóideo por exsudato de aspecto opalescente ou cremoso, banco- amarelado ou com sufusões hemorrágicas. Assim, o exsudato pode ser serofibrinoso, gelatinoso ou purulento, acumulando-se mais ao longo dos vasos meníngeos e dos sulcos cerebrais, de preferência na convexidade, ou na base, ou ocupando a cisterna magna e estendendo-se para a leptomeninge da medula espinhal. Microscopicamente, neutrófilos e, em alguns casos, depósitos de fibrina, ocupam todo o espaço subaracnóideo, os espaços perivasculares do tecido nervoso e o plexo coroide. Nos pacientes com demora no início do tratamento ou com microrganismo resistente, pode haver cronificação do processo; os neutrófilos e a fibrina são parcialmente substituídos por mononucleares e por proliferação fibrovascular que pode levar à obliteração do espaço subaracnóideo ou à oclusão das aberturas do IV ventrículo, resultando em hidrocefalia. Apoptose neuronal é frequente na fáscia dentata do hipocampo e perda de sinapses nas camadas corticais superficiais I e II em caso de meningite pneumocócica. Nos casos de infecções neonatais ou causadas por meningococo, pneumococo e bactérias Gram-negativas, surgem complicações responsáveis por altos índices de mortalidade e morbidade: (1) propagação da infecção ao parênquima cerebral, causando meningocefalite purulenta; (2) propagação da infecção às artérias e veias leptomeníngeas, produzindo artrites ou flebites purulentas e trombose, resultando em pequenos infartos cerebrais; (3) disseminação da infecção às cavidades ventriculares, as quais podem ficar distendidas por material purulento se houver bloqueio na circulação liquorica; (4) fibrose da leptomeninge, nos casos de evolução crônica; a fibrose pode ocluir as cisternas basais, causando bloqueio da circulação liquórica e hidrocefalia comunicante ou obstrutiva, ou comprimir nervos cranianos e raízes espinhais, provocando disfunção; (5) efusão subdural, uma coleção de líquido claro ou parcialmente hemorrágico sob a dura-máter, originado provavelmente por ruptura da aracnoide. As manifestações clínicas variam de febre, prostração, cefaleia, sinais de irritação das raízes nervosas ou meningismo (rigidez na nuca e sinais de Kernig e Brudzinski), fotofobia, vômitos e diminuição do nível de consciência, até as formas septicêmicas fulminantes como hemocultura positiva, hemorragias petequiais cutâneas, poucos sinais meníngeos, necrose hemorrágica maciça das suprarrenais, coagulação intravascular disseminada e colapso circulatório, compondo a síndrome de Waterhouse Friedecshen da meningococcemia. PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Déficits neurológicos focais, crises convulsivas e paralisia dos nervos cranianos indicam complicações de leptomeningite purulenta. O exame do liquor confirma o diagnóstico de meningite bacteriana purulenta encontrando-se líquido turvo ou purulento, com pressão aumentada, geralmente com muitos neutrófilos por milímetro cúbico, níveis de proteínas aumentados e de glicose reduzidos e bactérias identificadas no esfregaço corado por Gram. Atrofia da substância cinzenta cerebral com distribuição temporal mesial/límbica, identificada pela ressonância magnética em sobreviventes de leptomeningite purulenta é responsável por déficits cognitivos e neuropsicológicos a longo prazo. ABSCESSO EPIDURAL (EXTRADURAL) E EMPIEMA SUBDURAL Abscesso epidural consiste em coleção purulenta na região epidural craniana ou no espaço epidural raquidiano, causada usualmente pelo Staphylococcus aureus, bacilos gram- negativos do trato intestinal, bacterioides e outros anaeróbios. O abscesso epidural craniano é raro e resulta de otite média, infecção do seio frontal e da mastoide ou como complicação de traumatismo ou neurocirurgia. As manifestações clínicas têm início insidioso e caracterizam-se por febre, cefaleia, vômitos, confusão mental, agitação, crises convulsivas e hemiparesia, por causa do quadro infeccioso, da hipertensão intracraniana e da compressão cerebral. O abscesso epidural raquidiano é mais comum e geralmente secundário a osteomielite da coluna vertebral toracolombar, empiema pleural, abscesso retrofaríngeo e subdiafragmático, abscesso perirrenal ou como explicação de analgesia epidural. A existência de um espaço epidural raquidiano facilita a expansão da coleção purulenta, que tende a envolver vários segmentos espinhais. Os pacientes apresentam febre, dor radicular, parestesias, fraqueza muscular, perda sensorial, disfunção esfincteriana e paralisia, por compressão medular ou das raízes espinhais. As manifestações clínicas podem ser agudas, constituindo uma emergência neurocirúrgica ou surgir lentamente. As infecções purulentas que atingem o espaço subdural (empiema) são geralmente secundárias a sinusites, otites médias ou osteomielites, por extensão direta ou por via venosa, ou resultam de cirurgias ou fraturas cranianas associadas a abscessos epidurais. Cerca de 95% dos casos localizam-se no crânio, usualmente unilateralmente; 5% dos casos localizam-se na coluna vertebral. A coleção purulenta espalha-se por grande extensão do espaço subdural craniano, mas a aracnoide impede que a infecção atinja o espaço subaracnóideo. A propagação da infecção às veias que cruzam o espaço aracnoide resulta em trombose venosa e infarto cerebral. Nos casos de infecção crônica, surgem aderências entre a dura-máter e a leptomeninge e entre esta e a superfície cerebral. A sintomatologia inclui febre, cefaleia, vômitos, confusão mental ou coma, crises convulsivas, hemiparesia ou hemiplegia e disfasia, associados geralmente a história recente de infecção, neurocirurgia ou traumatismo cranioencefálico. O empiemasubdural raquidiano se manifesta com febre, dor nas costas, meningismo, paraparesia ou paraplegia, déficit sensorial e incontinência urinária. ABSCESSO CEREBRAL Em imuncompetentes, é a infecção que mais provoca lesões expansivas com sinais de hipertensão intracraniana. As bactérias mais envolvidas são estreptococos aeróbicos e anaeróbicos. As vias de entrada no SNC são: Sanguínea, a partir de endocardite infecciosa, bronquiectasia, abscessos pulmonares e de outras localizações; Extensão direta ou através de vasos sanguíneos, a partir de infecções purulentas de estruturas adjacentes. Implantação direta em traumatismos cranianos abertos ou em neurocirurgias. Os abscessos de origem hematogênica, geralmente múltiplos, localizam-se principalmente no território de irrigação da artéria cerebral média, quase sempre na substância branca subcortical, de preferência no hemisfério esquerdo. Os causados por extensão ou propagação direta têm relação direta com o foco de origem. O abscesso evolui em três fases: Inicial, denominada cerebrite, que dura poucos dias, caracterizada por área mal delimitada e irregular de necrose hemorrágica associada a edema do tecido nervoso adjacente; Abscesso recente, com duração aproximada de 1 a 2 semanas, evidenciando-se necrose liquefativa central, purulenta, envolvida por tecido nervoso edemaciado contendo tecido de granulação; Abscesso crônico ou antigo, com mais de 2 semanas, no qual a coleção purulenta, às vezes multiloculada, é envolvida por cápsula fibrosa; em torno do PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL abscesso há zona de glicose pouco desenvolvida e extensa área de edema na substância branca. O tecido fibroso da cápsula deriva da parede dos vasos sanguíneos adjacentes. Os abscessos cerebrais se manifestam com febre, manifestações de hipertensão intracraniana, crises convulsivas e déficits focais de aparecimento progressivo, explicados pelo efeito de massa e pela ação destrutiva sobre o tecido nervoso exercidos pela coleção purulenta e pelo edema cerebral associado. NEUROTUBERCULOSE E MICOBACTERIOSES ATÍPICAS No SNC, a tuberculose se apresenta de 3 maneiras: leptomeninge tuberculosa, tuberculoma ou comprometimento da medula espinhal secundário a tuberculose dos corpos vertebrais. LEPTOMENINGITE TUBERCULOSA É a forma mais comum da neurotuberculose e representa uma das complicações mais graves da tuberculose primária. O bacilo de Koch chega à leptomeninge pela via hematogênica e, em muitos casos, coexiste disseminação miliar em outros órgãos. Para outros, a meningite tuberculosa seria derivada de foco antigo, localizado na leptomeninge, não região subpial ou subependimária do encéfalo ou no plexo coroide, espalhando-se desses locais por meio do líquor. As consequências devem-se ao bloqueio nas cisternas basais e a comprometimento da leptomeninge, das raízes nervosas e do parênquima cerebral, este último resultante da meningoencefalite e dos infartos cerebrais. Surgem hidrocefalia e hipertensão intracraniana, rigidez de nuca, paralisia dos nervos cranianos, diminuição do nível de consciência, crises convulsivas e hemiparesia. A TC permite identificar o denso exsudato basal realçado pelo contraste, a hidrocefalia e os infartos cerebrais. O exame do líquor mostra aumento de células mononucleadas, mas pode haver predomínio de polimorfonucleares nas fases iniciais da doença, além do aumento de proteína e redução da glicose. O exsudato é predominantemente gelatinoso, consistente e elástico, de aspecto brancacento ou branco-acinzentado. É mais intenso na base do encéfalo, aderindo de modo característico ao polígono de Willis, raízes de nervos cranianos e cisternas basais, o que impede sua visualização e provoca obstrução das aberturas laterais e medianas no quarto ventrículo, podendo causar hidrocefalia. Granulações brancacentas diminutas, correspondentes a granulomas isolados ou confluentes são encontradas na intimidade da leptomeninge e na superfície cerebral, especialmente nas regiões orbitofrontal posterior e mediobasal temporal e nas bordas do sulco lateral. É frequente aderência da leptomeninge à superfície cerebral, que, aos cortes, mostra aspecto granuloso, cor mais escura e borramento da junção córtex-substância branca. Microscopicamente, essas áreas correspondem a meningoencefalite. Os granulomas têm área central de necrose caseosa envolvida por células gigantes multinucleadas, células epitelioides, observando-se focos múltiplos de necrose caseosa, infiltrado de mono e polimorfonucleares, extensa exsudação de fibrina e vários bacilos. As lesões atingem a leptomeninge e vasos sanguíneos e estendem-se ao tecido nervoso adjacente, caracterizando uma meningoencefalite. Além de necrose da parede vascular com trombose oclusiva e de formação de granulomas em torno e na parede de vasos, as artérias de pequeno calibre podem exibir endartrite, fibrose intimal e redução da luz, que provocam infartos cerebrais TUBERCULOMA O tuberculoma é a confluência de pequenos tubérculos. Este também pode surgir como manifestação de tuberculose isolada, independente do processo meníngeo. A lesão forma-se em qualquer lugar do SNC, mas tem preferência pelos hemisférios cerebelares, lóbulo paracentral e ponte. Pode manifestar-se como lesão que ocupa espaço, causando hipertensão intracraniana. Apresenta-se como um nódulo que pode atingir grande volume, único ou frequentemente múltiplo, esferoidal, de consistência firme, com centro caseificado, branco- amarelado, e zona periférica de contorno circinado. O quadro macroscópico consiste em extensa área central de necrose caseosa envolvida por inflamação granulomatosa circundada por anel fibroso e, mais externamente, por faixa de gliose. As lesões antigas podem calcificar. Em pacientes imunossuprimidos, pode exibir características distintas, formado por área central de necrose coliquativa contendo numerosos bacilos, envolvida por cápsula fibrosa, faltando a reação granulomatosa típica. Nesses casos, a lesão é denominada abscesso tuberculoso. NEUROSSÍFILIS PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Os espiroquetas atingem a leptomeninge no período secundário ou de generalização, cerca de 4 a 8 semanas após a infecção inicial ou primária. O comprometimento meníngeo caracteriza-se por linfócitos e plasmócitos ao redor de vasos e no líquor (meningite sifilítica). O processo pode involuir espontaneamente ou com tratamento. É uma manifestação tardia da doença não tratada. NEUROSSÍFILIS MENINGOVASCULAR Refere-se ao envolvimento da leptomeninge e de artérias pela inflamação, usualmente 5 a 12 anos após a infecção primária. O acometimento meníngeo nas formas sintomáticas explica a cefaleia. Lesão da via óptica é responsável por ausência do reflexo pupila, enquanto é conservada a acomodação, constituindo o sinal de Argyll-Robertson. Hemiparesia, distúrbios de linguagem e outras manifestações focais surgem em consequência das lesões vasculares e gomas no parênquima. Fibrose da leptomeninge basal pode resultar em bloqueio da circulação liquórica e hidrocefalia, além de paralisia de nervos cranianos. Microscopicamente, é uma leptomeningite crônica com infiltrado inflamatório perivascular de linfócitos e plasmócitos e fibrose. As artérias de grande, médio e pequeno calibre, mais comumente a artéria cerebral média, apresentam endocardite obliterante, caracterizada por fibrose intimal concêntrica com preservação da limitante elástica interna e redução da luz, resultando em infartos. Pode haver extensão do infiltrado inflamatório para alguns nervos cranianos (oculomotor, vestibulococlear e óptico). NEUROSSÍFILIS PARÉTICA (PARALISIA GERAL DO INSANO) É uma encefalite crônica difusa com comprometimento cortical e atrofia cerebral,associada a lesões da forma meningovascular, geralmente 15 a 20 anos após a infecção primária. A leptomeninge é espessa e opaca. Os giros são retraídos, particularmente no lobo frontal. Os ventrículos são dilatados e a parede ventricular finamente granulosa. Ao microscópio, encontram-se infiltrado linfoplasmocitário perivascular, perda neuronal difusa e atrofia dos remanescentes; coexiste atrocitose fibrilar e proliferação microglial pecular com aparecimento de “células em bastão” e gliose. Desnutrição neuronal é a causa principal da atrofia cerebral, sendo também responsável pelo estado demencial progressivo, alterações psiquiátricas, crises convulsivas e perda do controle motor. TABE DORSAL Refere-se ao comprometimento das raízes e dos funículos posteriores da medula espinhal. Ocorre 20 a 25 anos após a infecção primária. Admite-se que a degeneração das raízes posteriores resulta de inflamação e perda neuronal dos gânglios espinhais. A sintomatologia deriva da interrupção da via sensitiva ascendente na altura da medula espinhal, que leva a perda da sensibilidade dolorosa, vibratória e postural, ataxia estática e dinâmica, ausência dos reflexos tendíneos, hipotonia muscular, sintomas oculares e atrofia do nervo ópico. Perda de sensibilidade dolorosa resulta em lesões cutâneas e das articulações provocadas por traumatismos. Caracteriza-se por perda axonal e da bainha de mielina das raízes posteriores, resultando em degeneração walleriana dos funículos posteriores da medula espinhal, que se tornam adelgaçados, cinza-amarelados e de consistência aumentada. Em consequência, a medula torna-se achatada, ou mesmo escavada nos casos de longa duração. As lesões são mais graves na coluna lombossacra. Coexiste discreto aumentado linfoplasmocitário na leptomeninge e nos gânglios espinhais associado a perda neuronal e proliferação das células satélites. INFECÇÕES POR VÍRUS A encefalite viral é uma infecção parenquimatosa do encéfalo quase sempre associada à inflamação meníngea (meningoencefalite) e algumas vezes com envolvimento simultâneo da medula espinhal (encefalomielite). Algumas viroses tendem a infectar o SN. Esse tropismo neural possui diversas formas: algumas viroses infectam alguns tipos específicos de células, enquanto outras possuem preferencia pelo envolvimento de áreas particulares do encéfalo. A latência é um aspecto importante das infecções virais do SNC. As infecções sistêmicas virais, na ausência de evidencia direta de penetração viral no interior do SNC, podem ser seguidas por uma doença mediada pelo sistema imune. HERPESVÍRUS SEMPLEX DO TIPO 1 É mais comum em crianças e adultos jovens. Os sintomas clínicos mais frequentes são alterações no humor, na memória e no comportamento. PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Inicia e acomete com mais gravidade as regiões inferior e medial dos lobos temporais e do giro orbital dos lobos frontais. A infecção é necrotizante e com frequência hemorrágica nas regiões afetadas com mais gravidade. Os infiltrados inflamatórios perivasculares estão, em geral, presentes e os corpúsculos de inclusão viral intranuclear do tipo A de Cowdry podem ser encontrados tanto em neurônios quanto na glia. HERPESVÍRUS SIMPLEX DO TIPO 2 Pode causar meningite em indivíduos adultos, porém, até 50% dos neonatos nascidos por parto vaginal de mulheres com infecção primária ativa por HSV adquirem a infecção durante a passagem pelo canal de parto e desenvolvem grave encefalite. Em casos de infecção ativa por HSV, o HSV-2 pode causar uma encefalite necrose, aguda e hemorrágica. VÍRUS VARICELA-ZÓSTER (HERPES-ZÓSTER) Após a infecção primária, o vírus entra em uma fase latente no interior dos neurônios sensoriais da raiz dorsal ou do gânglio do trigêmeo. A reativação da infecção em adultos (cobreiro) geralmente se manifesta como uma erupção vesicular e dolorosa da pele, com uma distribuição restrita a um único ou a poucos dermátomos. A reativação da herpes-zóster é um processo autolimitado, mas pode ocorrer uma síndrome de neuralgia pós-herpética, particularmente quando ocorre após os 60 anos de idade. CITOMEGALOVÍRUS A infecção no SN ocorre em fetos ou em indivíduos imunossuprimidos. O resultado da infecção intrauterina é a necrose periventricular que produz grave destruição do cérebro, seguida posteriormente por microcefalia e calcificações periventriculares. Em indivíduos imunossuprimidos, o padrão mais comum de envolvimento é o de uma encefalite subaguda, que pode estar associada a inclusões que contenham CMV. RAIVA O exame macroscópico do cérebro mostra intenso edema e congestão vascular. Ao exame microscópico existe uma degeneração neuronal difusa e reação inflamatória que é mais grave no tronco encefálico. Os corpúsculos de Negri, que são o acho microscópico patognomônico da raiva, são inclusões citoplasmáticas eosinofílicas que podem ser encontradas no hipocampo e nas células de Purkinje do cerebelo, que são locais onde habitualmente não há inflamação. O vírus entra no SNC por via ascendente ao longo dos nervos periféricos a partir do ferimento e o período de incubação (geralmente entre 1 e 3 meses) depende da distância entre o ferimento e o cérebro. A doença inicia com sintomas não específicos como mal- estar, cefaleia e febre, mas a conjunção desses sintomas com a presença de parestesias locais ao redor do ferimento é diagnóstica. À medida em que a infecção avança, os indivíduos afetados mostram extraordinária excitabilidade do SNC. A contração da musculatura faríngea durante a deglutição faz com que a boca fique espumosa, o que pode levar a uma aversão a deglutir até mesmo água (hidrofobia). Ocorre meningismo e, à medida que a doença avança, paralisia flácida. Períodos de alternância entre mania e estupor progridem para coma e óbito por falência respiratória. MENINGOENCEFALITE FÚNGICA Acomete principalmente indivíduos imunossuprimidos. Existem três padrões principais de infecção fúngica do SNC: meningite crônica, vasculite e invasão parenquimatosa. A vasculite é encontrada com mais frequência no caso de mucormicose e apergilose, ambas caracterizadas pela invasão fúngica direta das paredes dos vasos sanguíneos, porém, ocasionalmente ocorre em outras infecções como a candidíase. A trombose vascular resultante produz infarto, com frequência hemorrágico, e que subsequentemente se torna séptico a partir do crescimento interno do fungo causador de infecção. A invasão parenquimatosa, normalmente na forma de granulomas ou abscessos pode ocorrer com a maior parte dos fungos e com frequência coexiste com meningite. A cândida e o criptococo são os fungos que mais frequentemente invadem o encéfalo. A candidíase normalmente produz microabscessos múltiplos, com ou sem formação de granuloma. A meningite criptocócica pode ser fulminante e fatal (HIV). O encéfalo mostra uma meningite crônica que afeta as leptomeninges basais, que são opacas e espessadas por tecido conjuntivo reativo, podendo obstruir o fluxo do LCR a PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL partir dos forames de Magendie e Luschka, levando à hidrocefalia. Os cortes do encéfalo revelam material gelatinoso no interior do espaço subaracnóideo e pequenos cistos no interior do parênquima, que são espacialmente proeminentes nos núcleos da base e na distribuição das artérias lenticuloestriadas. TUMORES GLIOMAS Grupo mais comum de tumores encefálicos primários. ASTROCITOMA INFILTRATIVOS Contribui com cerca de 80% dos tumores encefálicos primários em adultos. Normalmente encontrado nos hemisférios cerebrais, também podem ocorrer no cerebelo, no tronco encefálico ou na coluna espinal. Os sinais e sintomas mais comuns são crises convulsivas, cefaleias e déficits neurológicos focais relacionadoscom o local anatômico de envolvimento. Mostram um espectro de diferenciação histológica que se correlaciona bem com o curso e a resposta clínica, sendo que dentro desse espectro, os tumores variam de atrocitoma difuso (grau II/IV) até astrocitoma anaplásico (grau III/IV) a gliobastoma (grau IV/IV). O astrocitoma difuso é um tumor infiltrativo pouco definido, acizentado que se expande e distorce o encéfalo invadido. Esses tumores variam de tamanho, desde poucos centímetros a lesões extensas, que substituem todo um hemisfério. A superfície de corte do tumor pode ser firme ou amolecida e gelatinosa, sendo que também pode ser observada degeneração cística. Pode aparecer bem demarcado no tecido encefálico adjacente, porém, infiltração além das margens externas está sempre presente. Ao exame macroscópico, são caracterizados por aumento leve e moderado na celularidade glial, pelo pleomorfismo nuclear variável e por uma rede de prolongamentos astrocíticos finos entremeados. O astrocitomas anaplásicos apresentam regiões que são mais densamente celulares e possuem pleomorfismo nuclear maior, sendo que figuras mitóticas são frequentemente observadas. O glioblastoma tem variações no aspecto macroscópico de região para região. Algumas áreas são firmes e brancas, outras são amolecidas e amareladas devido à necrose, e ainda outras mostram regiões de degeneração cística e hemorrágica. Ocorre necrose e proliferação celular endotelial ou vascular. As células tumorais se arranjam ao longo das bordas das regiões necróticas, produzindo um padrão histológico chamado de pseudopaliçada. Os sintomas presentes nos astrocitomas dependem localização e da velocidade de crescimento do tumor. Os astrocitomas difusos bem diferenciados podem permanecer estáticos ou progredir apenas lentamente por anos. Ao final, no entanto, ocorre deterioração clínica que normalmente é consequência do surgimento de tumor de crescimento mais rápido e de maior grau histológico. PILOCÍTICO São distinguíveis dos outros tipos de tumores devido ao seu aspecto patológico e comportamento quase sempre benigno. Normalmente ocorrem em crianças e em adultos jovens e, geralmente, se localizam no cerebelo, mas também podem surgir no assoalho e nas paredes do terceiro ventrículo, nos nervos ópticos e ocasionalmente nos hemisférios cerebrais. Crescem muito lentamente e, particularmente no cerebelo, podem ser tratados com ressecção. OLIGODENDROGLIOMA Mais comuns na quarta e quinta décadas de vida. Os pacientes podem ter vários anos de queixas neurológicas, incluindo crises convulsivas. As lesões são encontradas principalmente nos hemisférios cerebrais, com uma predileção pela substância branca. Massas acinzentadas, gelatinosas, bem circunscritas, frequentemente com cistos, hemorragia focal e calcificação. DOENÇA CEREBROVASCULAR A doença cerebrovascular inclui três categorias principais: hemorragia, trombose e embolismo. O acidente vascular é a designação clínica que se aplica a todas essas condições, em particular, quando os sintomas iniciam agudamente. Do ponto de vista da fisiopatologia e da anatomia patológica, a doença cerebrovascular tem dois processos: 1. Hipóxia, isquemia e infarto resultantes do prejuízo do fornecimento de oxigênio aos tecidos do SNC; 2. Hemorragia resultante da ruptura de um vaso do SNC. HIPÓXIA, ISQUEMIA E INFARTO O cérebro pode ser privado de oxigênio por diversos mecanismos: hipóxia causada pela baixa pressão parcial de PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL oxigênio, pelo comprometimento da capacidade do sangue em transportar oxigênio ou pela inibição do uso do oxigênio pelo tecido; ou isquemia, transitória ou permanente, após interrupção do fluxo circulatório normal. A interrupção pode ser consequente à redução na pressão de perfusão (hipotensão), da obstrução de pequenos ou grandes vasos, ou de ambos. Quando a perfusão de uma porção do encéfalo está reduzida, a sobrevivência do tecido depende da presença de circulação colateral, da duração da isquemia e da magnitude e rapidez da redução do fluxo. Esses fenômenos determinam o local anatômico preciso e o tamanho da lesão e, consequentemente, o déficit clínico. Dois principais tipos de lesão isquêmica aguda são identificáveis: • Isquemia cerebral global: ocorre quando há redução generalizada da perfusão cerebral, como ocorre no infarto cardíaco, no choque e na hipotensão grave; • Isquemia cerebral focal, seguida da redução ou da interrupção do fluxo sanguíneo para uma área localizada do encéfalo devido à doença de grandes vasos (oclusão arterial embólica ou trombótica – aterosclerose) ou à doença de pequenos vasos (vasculite ou oclusão secundaria a lesões ateroscleróticas). A depleção metabólica de energia associada à isquemia pode levar à liberação inapropriada de aminoácidos que atuam como neurotransmissores excitatórios, como o glutamato, iniciando o dano celular por permitir influxo excessivo de íons cálcio através dos receptores de glutamato do tipo NMDA. Essa elevação celular dos íons cálcio, por sua vez, dispara uma ampla variedade de processos incluindo a ativação inapropriada das cascatas de sinalização, geração de radicais livres e lesão mitocondrial. Todos esses mecanismos juntos levam à morte celular, principalmente por meio de necrose. HIPOTENSÃO, HIPOPERFUSÃO E ESTADOS DE BAIXO FLUXO (ISQUEMIA CEREBRAL GLOBAL) Nos casos leves de isquemia cerebral global, pode haver somente um estado confusional pós-isquêmico transitório seguido por completa recuperação e nenhum dano tecidual irreversível. Existe uma hierarquia de sensibilidade entre as células do SNC: os neurônios são os mais sensíveis, apesar das células gliais também serem vulneráveis. Existe também variação na suscetibilidade da população de neurônios em diferentes regiões do SNC (vulnerabilidade seletiva), baseada em parte nas diferenças do fluxo sanguíneo cerebral regional e nas necessidades metabólicas das células. Na isquemia cerebral global grave, ocorre morte neuronal difusa, independente da vulnerabilidade da região. Quando os pacientes com essa forma de lesão difusa são mantidos sob ventilação mecânica, o encéfalo sofre um processo autolítico gradual – também conhecido como “encéfalo de respirador”. Infartos em zona limítrofe ocorrem em regiões do encéfalo ou da medula espinhal que se situam em regiões mais distais da irrigação do sangue arterial, as zonas limítrofes entre os territórios arteriais. Nos hemisférios cerebrais, a zona limítrofe de distribuição das artérias cerebrais anterior e média são as que correm maior risco. Dano nessa região produz uma banda de necrose em forma de foice sobre a convexidade cerebral, situada poucos centímetros ao lado da fissura inter-hemisférica. São, com frequência, observados após episódios de hipotensão. Morfologia no contexto de isquemia global, o encéfalo se apresenta edemaciado, os giros estão aumentados e os sulcos estreitados. A superfície de corte mostra fraca demarcação entre a substância branca e a cinzenta. As alterações microscópicas de lesão irreversível estão agrupadas em 3 categorias: 1. Alterações iniciais: ocorrem entre 12 e 24 horas após a agressão, incluem as alterações neuronais agudas, ou seja, neurônio vermelho, que é caracterizado por microvacuolização, seguida por eosinofilia do citoplasma neuronal, e posteriormente por picnose nuclear e cariorrexe. Alterações agudas semelhantes ocorrem um pouco depois com astrócitos e oligodendrócitos. As células piramidais em CA1 (setor de Sommer) do hipocampo, as células de Purkinje do cerebelo e os neurônios piramidais corticais são os mais suscetíveis à isquemia de curta duração. Após a lesão aguda, a reação do dano tecidual inicia com infiltração de neutrófilos. Neurônio vermelhoPATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL 2. Alterações subagudas: ocorrem em um período entre 24 horas e 2 semanas, incluindo necrose de tecido, influxo de macrófagos, proliferação vascular e gliose reativa. 3. A reparação, que aparece mais após duas semanas, é caracterizada pela remoção de tecido necrótico, pela perda da estrutura do SNC e por gliose. ISQUEMIA CEREBRAL FOCAL – INFARTO A PARTIR DA OBSTRUÇÃO DO FORNECIMENTO SANGUÍNEO LOCAL A oclusão de uma artéria cerebral pode levar à isquemia focal e, se mantida, ao infarto de uma região específica dentro do território de distribuição dos vasos comprometidos. O tamanho, a localização e a forma do infarto, além da extensão da lesão tecidual resultante, são determinados pelos fatores modificadores, sendo que o mais importante é a adequação do fluxo colateral. A principal fonte de fluxo colateral é o polígono de Willis. O reforço parcial e inconstante está disponível sobre a superfície do encéfalo para os ramos distais das artérias cerebrais anterior, média e posterior através das anastomoses leptomeníngeas corticais. Por outro lado, existe um pequeno ou nenhum fluxo colateral para os vasos perfurantes profundos que suprem estruturas como o tálamo, os núcleos da base e a substância branca profunda. Pode ocorrer devido à trombose in situ, embolização a partir de uma origem distante, ou diversas formas de vasculites. A maior parte das oclusões trombóticas ocorre devido a arterosclerose. Os locais mais comuns de trombose primária que causam infarto cerebral são a bifurcação da carótida, a origem da artéria cerebral média e em ambas as extremidades da artéria basilar. Há associação frequente com doenças sistêmicas, como hipertensão arterial e diabetes. A embolia encefálica possui muitas origens, sendo que os trombos murais cardíacos estão entre as principais fontes. O território de distribuição da artéria cerebral média – a extensão direta da artéria carótida interna – é mais frequentemente afetada pelo infarto embólico, sendo que a incidência é praticamente igual nos dois hemisférios. O êmbolo tende a se alojar onde os vasos se ramificam ou em áreas de estenose luminal preexistente. Os indivíduos afetados manifestam disfunção cerebral generalizada com distúrbios das funções corticais superiores e da consciência, com frequência sem sinais de localização. A poliarterite nodosa e outras vasculites não infecciosas podem envolver os vasos cerebrais e causar infartos únicos ou múltiplos em diferentes regiões do cérebro. A angeíte primária do SNC é uma doença inflamatória que envolve múltiplos vasos de pequeno e médio calibres localizados no parênquima ou na subaracnoide e é caracterizada por inflamação crônica, células multinucleadas gigantes e destruição da parede vascular. Indivíduos afetados manifestam quadro clínico de encefalopatia difusa ou multifocal, com frequente disfunção cognitiva. Os infartos são divididos em dois grupos: 1. Infarto hemorrágico: caracterizado por múltiplas hemorragias petequiais, algumas vezes confluentes, em geral, associado a eventos embólicos; presume-se que seja secundária à reperfusão dos vasos e tecidos lesados, seja por meio de colaterais ou pela dissolução de material oclusivo intravascular. Parte mais clara: edema Vasos sanguíneos com proliferação endotelial PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL 2. Infartos não hemorrágicos: geralmente se associam à trombose; a aparência macroscópica varia de acordo com o tempo transcorrido após a interrupção do fluxo sanguíneo; durante as primeiras seis horas de lesão irreversível, pouco pode ser observado (recente); em 48 horas, o tecido se torna pálido, amolecido e edemaciado, e a junção corticocentral pode ficar indistinguível; de 2 a 10 dias, o encéfalo se torna gelatinoso e friável, e os limites previamente maldefinidos, entre o tecido normal e o anormal, se tornam mais evidentes; de 10 a 3 semanas, o tecido se liquefaz, deixando no fim uma cavidade preenchida por líquida e recoberta por tecido cinza escuro, que gradualmente se expande à medida que o tecido morto é removido; após as primeiras 12 horas, são encontradas alterações isquêmicas neuronais (neurônios vermelhos) e tanto edema citotóxico quanto vasogênico; as células fagocíticas ficam evidentes nas primeiras 48 horas e se tornam células predominantes nas 2 a 3 semanas seguintes; os astrócitos reativos podem ser vistos a partir de 1 semana após a lesão; no córtex, a cavidade é separada das meninges e do espaço subaracnóideo por uma camada de tecido gliótico, derivado da camada molecular do córtex. Os infartos da medula espinhal podem ser observados em decorrência da hipoperfusão por oclusão de artérias tributarias provenientes da aorta. DOENÇA CEREBROVASCULAR HIPERTENSIVA INFARTOS LACUNARES A hipertensão afeta as artérias perfurantes cerebrais, as arteríolas que suprem os núcleos da base, a substância branca hemisférica e o tronco encefálico. Esses vasos desenvolver esclerose arteriolar e podem ficar ocluídos. Uma consequência clínica e patológica das lesões arteriais no SNC é o desenvolvimento de infartos cavitários únicos ou múltiplos, de pequenas dimensões, conhecidos como lacunas. Esses espaços podem ocorrer, em ordem decrescente de frequência, no núcleo lentiforme, no tálamo, na cápsula interna, na substância branca profunda, no núcleo caudado e na ponte. Na microscopia, elas aparecem como áreas de perda tecidual por macrófagos esparsos, abarrotados com lípides e margeados por gliose. HEMORRAGIAS EM FENDA A hipertensão pode dar origem à ruptura da vasos perfurantes de pequenos calibres e à ocorrência de pequenas hemorragias. Com o tempo, as hemorragias são reabsorvidas, deixando uma cavidade em forma de fenda, margeada por coloração acastanhada. Ao exame microscópico, mostram destruição focal local, macrófagos carregados de pigmento e gliose. ENCEFALOPATIA HIPERTENSIVA Síndrome clínico-patológica que ocorre em indivíduos com hipertensão maligna, caracterizada por disfunção cerebral Infarto anêmico recente (1 semana) Infarto anêmico antigo PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL difusa, apresentando cefaleia, confusão, vômitos e convulsões. Indivíduos que ao longo de muitos meses ou anos sofrem infartos múltiplos, bilaterais da substância cinzenta e branca podem apresentar uma síndrome clínica caracterizada por demência, distúrbio da marcha e sinais pseudobulbares, com frequência associados a déficits focais neurológicos. HEMORRAGIA INTRACRANIANA HEMORRAGIA INTRACEREBRAL (INTRAPARENQUIMATOSA) A hemorragia intraparenquimatosa espontânea, em geral, ocorre no meio ou no fim da vida adulta, com um pico de incidência aos 60 anos, sendo que na maior parte das vezes, é causada pela ruptura de pequenos vasos intraparenquimatosos. Quando ocorre nos núcleos da base ou no tálamo, elas são designadas hemorragias dos núcleos da base, para distingui- las das que ocorrem nos hemisférios cerebrais, que são denominadas hemorragias lobares. A hipertensão é a causa mais comum de hemorragia parenquimatosa encefálica. Esse quadro causa um grande número de anormalidades nas paredes dos vasos, incluindo arterioesclerose acelerada dos grandes vasos, aterioesclerose hialina dos pequenos vasos e, nos casos mais graves, alterações proliferativas e franca necrose das arteríolas. Alguns casos de hipertensão crônica estão associados ao desenvolvimento de pequenos aneurismas, conhecidos como microanuerismas de Charcot-Bouchard, que ocorrem em vasos muito pequenos e que são encontrados com maior frequência nos núcleos da base. As hemorragias agudas, independente da etiologia, são caracterizadas pelo extravasamento de sangue com compressão do parênquima adjacente. Hemorragias antigasmostram áreas de destruição cavitária do encéfalo. Microscopicamente, as lesões iniciais consistem em um núcleo central de sangue coagulado circundado por uma borda de tecido encefálico mostrando alterações anóxicas neuronais e gliais, como edema. Por fim, o edema se soluciona com o surgimento de macrófagos abarrotados de lípides e de pigmentos. HEMORRAGIA SUBARACNOIDE E RU PTURA DE ANEURISMA SACULAR A causa mais frequente de hemorragia subaracnóidea de significado clínico é a ruptura de um aneurisma sacular. O aneurisma sacular é o tipo mais comum de aneurisma intracraniano, sendo que 90% deles são encontrados próximos à principal ramificação arterial na circulação anterior. O aneurisma sacular não rompido é uma evaginação em forma de bolsa de paredes finas, que em geral se localiza em alguma ramificação arterial no polígono de Willis ou em algum vaso importante pouco abaixo dele. Possuem uma superfície brilhante e avermelhada e uma parede fina e translúcida. Placas ateromatosas, calcificação ou oclusão trombótica podem ser encontradas na parede ou no lúmen do aneurisma. A ruptura geralmente ocorre no ápex do saco aneurismático com extravasamento de sangue para o espaço subaracnóideo, para o parênquima cerebral ou para ambos. A parede arterial adjacente ao colo do aneurisma frequentemente mostra espessamento da camada íntima e atenuação gradual da camada média à medida que ela se aproxima do colo. Na altura do colo do aneurisma, a camada muscular e a lâmina elástica da íntima desaparecem abruptamente, estando ausentes no saco propriamente dito. Este, por sua vez, é constituído de camada íntima hialinizada. O rompimento pode ocorrer em qualquer momento, mas se associa a um aumento abrupto da pressão arterial. Os indivíduos apresentam súbita e excruciante cefaleia, perdendo rapidamente a consciência. Nos primeiros dias após a ruptura, existe um risco adicional de lesão isquêmica em decorrência de vasoespasmo que afeta as artérias irrigadas pelo sangue extravasado. DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS Doenças da substância cinzenta caracterizadas por progressiva perda de neurônios com alterações secundarias associadas aos tratos da substância branca. O padrão neuronal de perda é seletivo. Um ponto comum entre as doenças neurodegenerativas é a presença de agregados proteicos que são resistentes à degradação pelo sistema proteosoma-ubiquitina. Esses agregados são conhecidos histologicamente como inclusões, que algumas vezes são marcadores destas diferentes doenças. A base do agregado varia de uma doença para a outra. As doenças neurodegenerativas podem ser agrupadas de duas formas: • Anatômico/sistemático: baseada nas regiões anatômicas do SNC que são primariamente PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL afetadas, o que em geral se reflete nos sintomas clínicos; • Patológico: baseada nos tipos de inclusão ou de estruturas anormais observadas. DOENÇAS DEGENERATIVAS QUE AFETAM O CÓRTEX DOENÇA DE ALZHEIMER É a causa mais comum de demência em idosos. Geralmente se apresenta inicialmente como um prejuízo insidioso das funções intelectuais superiores, com alterações de humor e comportamento. Posteriormente, ocorre manifestação de desorientação progressiva, perda de memória e afasia, indicando disfunção cortical grave. Macroscopicamente, o encéfalo mostra graus variáveis de atrofia cortical e acentuado aumento do tamanho dos sulcos cerebrais, que é mais pronunciado nos lobos frontais, temporais e parietais. Em decorrência da atrofia, se observa um aumento compensatório dos ventrículos secundária à perda de parênquima e redução do volume cerebral. As estruturas do lobo temporal medial, incluindo o hipocampo, córtex entorrinal e amigdala, estão envolvidos precocemente no curso da doença e se tornam gravemente atrofiadas nas fases avançadas. As principais anormalidades microscópicas são a formação das placas neuríticas (senis) e dos emaranhados neurofibrilares. Existe perda neuronal e gliose reativa de caráter progressivo e que no final é grave nas mesmas regiões onde há maior carga de placas e de emaranhados. As placas neuríticas são coleções esféricas focais de processos neuríticos dilatados e tortuosos, que são frequentemente encontrados ao redor de um núcleo central de amiloide, que pode ser circundado por um halo claro. As placas são encontradas no hipocampo, na amigdala e no neocórtex, em geral poupando de forma relativa o córtex motor e sensorial. Os emaranhados neurofibrilares são feixes de filamentos no citoplasma dos neurônios que deslocam ou rodeiam o núcleo. Nos neurônios piramidais, eles assumem com frequência a forma de chama, sendo que nas células mais arredondadas, o trançado de fibras em forma de cesto ao redor do núcleo assume um contorno arredondado (emaranhados globosos). São frequentemente encontrados nos neurônios corticais, especialmente no córtex entorrinal. O maior componente é a proteína tau. A anormalidade fundamente da DA é a deposição de peptídeos beta amilóides, que são derivados do processamento da APP. A APP é uma proteína da superfície celular com um único domínio transmembrana que pode funcionar como receptor. A porção beta amilóide da proteína se estende da região extracelular para o domínio transmembrana. O processamento da APP começa com a clivagem do domínio extracelular, seguido por uma clivagem no interior da membrana. As formas familiais da DA apoiam o papel central do peptídeo beta amiloide na geração do passo crítico para dar início à patogenia. O gene que codifica a APP se localiza na região da síndrome de Down, a patologia da DA é o evento final do prejuízo cognitivo desses indivíduos afetados. DOENÇAS DEGENERATIVAS DOS NÚCLEOS DA BASE E DO TRONCO ENCEFÁLICO PARKINSONISMO É uma síndrome clínica caracterizada pela diminuição da expressão facial, postura encurvada, diminuição dos movimentos voluntários, marcha festinente, rigidez e tremor. DOENÇA DE PARKINSON O diagnóstico é feito em indivíduos com sinais de parkinsonismo progressivo (tremor, rigidez e bradicinesia), responsivos a L-DOPA, na ausência de etiologia tóxica ou de outra etiologia conhecida. Placa senil corada por vermelho congo PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Os achados macroscópicos são palidez da substância negra e do locus ceruleus. Na microscopia, existe uma perda dos neurônios catecolaminéricos pigmentados nessas regiões, associados à gliose. Podem ser encontrados os corpúsculos de Lewy, que são compostos por filamentos finos, densamente empacotados no centro, porém frouxos na borda.
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