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Antropologia e Cultura Brasileira

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Prévia do material em texto

Autor: Prof. Rubens Lopes Júnior
Colaboradores: Prof. Enzo Fiorelli Vasques
 Prof. Tânia Sandroni
Antropologia e 
Cultura Brasileira
Professor conteudista: Rubens Lopes Júnior
Nascido em São Caetano do Sul – SP em 1985, é graduado em Relações Internacionais pela Faculdade Santa 
Marcelina de São Paulo (2007), mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2011) 
e doutor em Comunicação Social também pela Universidade Metodista (2018). Realizou o curso Business Programme 
no Newcastle College, Inglaterra, em 2016, sendo o professor responsável pelos alunos intercambistas brasileiros 
daquela turma. 
É docente no ensino superior e em pós-graduação lato sensu há 6 anos, transitando por diversos cursos e temáticas. 
Possui diversas orientações de projetos de pesquisa nos cursos superiores, bem como orientações de Trabalhos de 
Conclusão de Curso e artigos de pós-graduação. Já participou de diferentes bancas e comissões julgadoras e leciona 
disciplinas em inglês. É também coordenador auxiliar do curso de Relações Internacionais no campus Santos na 
Universidade Paulista (UNIP). 
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
L864a Lopes Júnior, Rubens.
Antropologia e Cultura Brasileira / Rubens Lopes Júnior. – 
São Paulo: Editora Sol, 2019.
176 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-219/19, ISSN 1517-9230.
1. Antropologia. 2. Cultura. 3. Religião. I. Título.
CDU 572
U503.43 – 19
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Lucas Ricardi
 Fabrícia Carpinelli
Sumário
Antropologia e Cultura Brasileira
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 A IMPORTÂNCIA DA ANTROPOLOGIA E DA CULTURA PARA 
AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ................................................................................................................... 11
1.1 A antropologia na dimensão da ciência ..................................................................................... 13
1.2 O evolucionismo e a antropologia biológica ............................................................................ 15
1.3 O funcionalismo e a antropologia cultural ................................................................................ 20
1.4 O estruturalismo e a linguística ..................................................................................................... 25
2 AS DIMENSÕES DA CULTURA ..................................................................................................................... 28
2.1 Sentido e alcance da cultura ........................................................................................................... 38
2.2 Cultura e sociedade ............................................................................................................................. 43
3 ANTROPOLOGIA, RELIGIÃO, RITOS E MITOS .......................................................................................... 46
3.1 A religião na perspectiva da antropologia cultural ................................................................ 47
3.2 A religião na perspectiva histórico-político-social no ocidente ....................................... 51
4 RITOS E MITOS E SUA INFLUÊNCIA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ..................................... 57
Unidade II
5 IDEOLOGIA E SUAS CONCEPÇÕES ............................................................................................................ 72
5.1 Identidade e nacionalismo ............................................................................................................... 79
6 ANTROPOLOGIA NA PRÁXIS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: 
O CONCEITO DE PODER E SUA RELAÇÃO COM A CULTURA .............................................................. 90
6.1 A dimensão da cultura nas negociações internacionais ....................................................103
6.2 A antropologia e as dinâmicas do poder como influenciador cultural ........................112
Unidade III
7 A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE BRASILEIRA: UM DIÁLOGO 
COM FREYRE, BUARQUE E RIBEIRO ...........................................................................................................125
7.1 O papel dos portugueses na colonização brasileira .............................................................129
7.2 A importância do indígena na formação brasileira ..............................................................138
8 O PAPEL DOS ESCRAVOS AFRICANOS NA FORMAÇÃO BRASILEIRA.........................................147
8.1 É possível falar em identidade brasileira? ................................................................................153
7
APRESENTAÇÃO
Você deve estar se perguntando: para que estudar antropologia? O que tem a ver isso com 
aquilo? Pois bem... Tudo! E a justificativa para essa resposta é simples: em um mundo cada vez mais 
interconectado, no qual o aparelho celular é, muitas vezes, a extensão do corpo humano, colocando 
em xeque as fronteiras físicas dos países em questão de segundos, o internacionalista deve estar apto a 
compreender todas as dimensões dessas relações.
Existem pessoas oriundas de diferentes culturas em todas as partes do mundo. Sendo assim, 
compreender essas dinâmicas em sua dimensão antropológica e cultural é fundamental para que você 
possa lançar um olhar construtivo para a sua prática profissional (atual ou futura). Assim, para um 
profissional ser bem-sucedido, é importante que saiba lidar com o outro.
Para isso, é fundamental que possamos estudar e compreender a aplicabilidade de conceitos como 
etnocentrismo, relativismo, rito, mito, alteridade, troca simbólica e cultura. O estudo da antropologia 
enquanto instrumento de compreensão da realidade é fundamental.
Outro aspecto de suma importância para o seu sucesso profissional em nossa área é compreender o 
papel e as dinâmicas próprias de nosso país. Para tal, o estudo da evolução histórica da cultura brasileira, 
sua cadeia de significação, nossa multiculturalidade e o que entendemos por identidade e etnia também 
poderão nos ajudar.
Compreender o porquê de fazermos o que fazemos é primordial para o sucesso profissional do 
internacionalista. É necessário saber que cada cultura é fruto de um determinado contexto, assim como 
admitir as diferenças e não deixar que elas atrapalhem os negócios.
Imagine você negociando com uma empresa alemã, por exemplo, que marca a reunião para começar 
às 14h15min, e nós, brasileiros, de uma forma assustadoramente natural, frequentemente marcamos 
nossos horários assim: “umas 14h, 15h está bom...”.
O estudo antropológiconos dá subsídios para que possamos compreender questões contemporâneas 
que invadem os portais eletrônicos e os telejornais diários, como migrações internacionais e soberanias 
territoriais. A antropologia também é responsável por estudos sobre diversidade cultural, hegemonias e 
muitas outras coisas.
Assim, ao final desta disciplina, você estará apto para: 
• Reconhecer os conceitos centrais da antropologia e identificar aspectos essenciais da cultura 
brasileira frente ao campo das relações internacionais. 
• Distinguir e oportunizar aspectos relevantes das interligações entre os diversos fatores da vida 
social e cultural, sistemas de crença, dinâmicas globais, comportamentos individuais e meio 
ambiente físico e o respeito da e pela alteridade.
• Compreender a complexidade da cultura brasileira e as dinâmicas cotidianas.
8
 Observação
Lembre-se: por trás das relações internacionais existem pessoas e 
sociedades que possuem suas próprias dinâmicas, sendo elas responsáveis 
por comportamentos e práticas que aparecem nas relações entre os 
players internacionais.
INTRODUÇÃO
Para facilitar a compreensão da nossa disciplina, dividimos o conteúdo em três pilares: a antropologia, 
a cultura brasileira e a relação entre esses aspectos frente às relações internacionais. 
Inicialmente, discutiremos o que são a antropologia, as dimensões da cultura e a conexão desses 
estudos com as relações internacionais. No campo antropológico, vamos estudar a dimensão científica da 
antropologia, abordando três correntes de pensamento (evolucionismo, funcionalismo e estruturalismo) 
através do estudo de suas ideias centrais. Entretanto, ao mesmo tempo, dialogaremos com o âmbito 
biológico e cultural da antropologia. Outro aspecto relevante para o internacionalista é a linguística, 
ciência que também é classificada como parte da antropologia, mesmo porque no meio internacional 
nos deparamos inevitavelmente com culturas e línguas distintas.
Salientamos que esse panorama é somente uma parte do todo, uma breve apresentação de algumas 
teorias e correntes, não de todas. A escolha dessas teorias se deu pelo fato de serem mais interessantes 
para o campo das relações internacionais. 
De modo algum o assunto se encerra aqui. Sinta-se à vontade para buscar novas bibliografias, pois a 
ideia é mostrar, acima de tudo, a importância desse estudo para nossa área. Vale ressaltar também que 
antropologia é tanto uma ciência quanto um pensar filosófico e pode ser uma excelente ferramenta 
para o internacionalista se capacitar e exercer sua profissão.
Já no campo da cultura, trataremos do próprio conceito de cultura, seu desenvolvimento histórico 
e sua influência na antropologia e nas relações internacionais. Para tal, estudaremos as definições de 
cultura e seus múltiplos sentidos, bem como as características que existem em cada uma delas. Também 
veremos o sentido e o alcance da cultura, pois é necessário compreendermos como ela opera e até onde 
vai sua influência. Completando esse passeio pelo conceito de cultura, analisaremos a relação da cultura 
com a sociedade.
Vamos ainda estudar o aspecto da religião na antropologia. Embora falar de religião seja um tanto 
quanto complexo, afinal, em nosso imaginário, “política, futebol e religião não se discute”, ela é fator 
determinante para as relações internacionais contemporâneas. Mesmo depois da Paz de Vestfália, em 
1648, quando a religião foi relegada ao campo do privado, ela não desaparece por completo. Muito pelo 
contrário, ela se transforma de tal maneira que sua influência fica evidente em outras formas do fazer 
religioso. Por isso, iremos estudar a religião na perspectiva antropológica e em sua dimensão política, pois 
9
ela foi elemento fundador de diversas sociedades. Vamos estudar também o papel do rito na sociedade 
contemporânea, pois ele transcende o caráter religioso nos dias de hoje. O mito também é importante 
porque ele atua como narrativa nas sociedades e pode, inclusive, influenciar comportamentos humanos.
Na sequência, você compreenderá a importância da antropologia para as relações internacionais, 
lembrando que o profissional desse campo irá atuar no âmbito empresarial, em organizações voltadas 
para os negócios internacionais, e também na diplomacia, seja ela de Estados ou corporativa, ou 
trabalhar com assessoria especializada em assuntos de alcance global, por exemplo. Enfim, há um leque 
de possibilidades que se desenrola no mundo atualmente, e é de suma importância termos exemplos de 
como essas dinâmicas funcionam.
Por isso, vamos ver conceitos como ideologia e poder, entendendo tais termos nas concepções mais 
conhecidas de Marx e Foucault, respectivamente. Ideologia é algo muito falado, mas pouco compreendido 
de fato. Também vamos trabalhar os conceitos de pós-modernidade e nacionalismo, pois em tempos nos 
quais existem muitas referências sociais, há uma crise do indivíduo na contemporaneidade justamente 
por essa multiplicidade de referências. Inclusive tivemos, no século XX, várias nações que elevaram seu 
nacionalismo ao grau mais perigoso possível, culminando em regimes fascistas e guerras globais.
É importante compreendermos a dimensão dos símbolos e como eles são usados para dar coesão 
social. Por isso, vamos ver na prática como o samba foi utilizado no governo Vargas para dar coesão social, 
no intuito de se criar um símbolo que desse unidade ao país recém-saído da monarquia, sendo utilizado 
até como elemento na política externa. O samba? Sim! Ou você acha mesmo que todo brasileiro 
nasce sambando?
E já que vamos falar de um gênero musical, a própria música ocidental é fruto de uma política da 
Igreja Católica para a manutenção e a ampliação do seu poder na Europa. Dessa forma, o poder pode 
ser visto em diferentes situações que, se não estudarmos de fato, sequer percebemos a sua influência. 
É o caso dos filmes de Hollywood, que também foram utilizados para fins ideológicos e para o exercício 
de poder.
Por fim, conversaremos em verde e amarelo. Veremos um panorama sócio-histórico da formação 
do Brasil e as relações entre as três etnias principais que formaram o povo brasileiro. Nossos 
interlocutores são consagrados autores brasileiros, como Gilberto Freyre (2004). Utilizaremos sua 
obra-prima, Casa-grande & Senzala. Nosso outro interlocutor será Sérgio Buarque de Holanda (2016) 
e seu livro Raízes do Brasil. E completando nossos autores, dialogaremos com Darcy Ribeiro (2015), 
conhecido autor das causas indígenas.
Estudaremos as três etnias responsáveis pelo surgimento do povo brasileiro. 
Primeiro, falaremos sobre os portugueses. Longe daquela perspectiva do senso comum em que os 
europeus são um povo “frio”, os portugueses que chegam na então Ilha de Vera Cruz já têm larga 
experiência em colonização, bem como na utilização da miscigenação para povoar sua colônia. Ou seja, 
nossa primeira geração não nasceu como fruto do amor que leva à constituição de família, mas sim para 
haver população suficiente para consolidar a colônia.
10
Na sequência, ao estudar os indígenas, entenderemos quais aspectos das culturas ameríndias ainda 
se fazem presente em nosso DNA. Ainda veremos que a figura da mulher e do menino indígena foram 
cruciais para os interesses da Coroa Portuguesa e que também são fruto da organização social nativa as 
relações de parentesco no exercício do poder.
Por fim, ao estudarmos a influência dos escravos negros africanos, poderemos perceber como as 
dinâmicas sociais de exploração se enraizaram em nossa sociedade, consolidando aspectos que nos 
custam admitir. Eles foram responsáveis por espalhar a língua portuguesa, por exemplo. Isso molda 
nossa forma de enxergar o mundo.
Compreender o fenômeno global em sua dimensão antropológica irá capacitá-lo a enxergar novos 
horizontes nos negócios globais. Portanto, estudaremos alguns conceitos como nacionalismo, migrações 
e ideologia, o papel da cultura nos negócios, entre muitas outras questões que se fazem relevantes e 
influenciam diretae indiretamente os mercados globais.
11
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Unidade I
1 A IMPORTÂNCIA DA ANTROPOLOGIA E DA CULTURA PARA AS 
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A antropologia é tanto uma ciência como um pensar filosófico. Ela lida com uma variedade de temas 
que são fundamentais para as relações internacionais, caminha desde a linguística até a arqueologia e 
também estuda conceitos como cultura, subcultura, tradição e folclore. Aliás, Geertz (2013) afirma que 
a cultura é a semente que fez surgir a antropologia.
Ela percorre temas como tabus sociais e economia, e discute questões de poder e Estado dentro 
da chamada antropologia política. É uma ciência que possibilita uma infinidade de abordagens 
socioculturais, as quais dão um arcabouço de conhecimento de dinâmicas que são fundamentais para o 
profissional de relações internacionais.
A palavra antropologia é composta por dois substantivos gregos: anthropos, que significa “homem”, 
e logia, que significa “estudo”. Porém, Gomes (2008) afirma que antes de ser estudo, o sufixo logia deriva 
de logos, que, também em grego, significa “razão”. Sendo assim, podemos perceber como a antropologia 
está diretamente relacionada à razão – base da filosofia e ciência – e às relações entre os homens.
 Observação
A palavra homem, utilizada pelos autores clássicos, designa ser humano, 
e o não uso da palavra mulher está relacionado ao desenvolvimento dessas 
sociedades. Olhe só, uma observação antropológica!
Embora a palavra antropologia seja de origem grega, não foram eles que inventaram tal estudo pelo 
fato de que eram uma sociedade fechada em si. Se eram assim, como poderiam estudar o outro? É só 
no reconhecimento de que existem culturas – no plural – que podemos pensar em antropologia ou no 
estudo do homem. 
Desse modo, os estudos antropológicos sistematizados como disciplina só surgiram diante de um 
contexto social europeu no qual as sociedades que estavam ali instaladas passaram a reconhecer a 
existência de outras sociedades completamente diferentes da sua.
Esse momento remete exatamente à transição sociocultural do período renascentista ao momento do 
surgimento da sociedade capitalista moderna e à expansão além-mar desses povos; momento importantíssimo 
para o surgimento de elementos que posteriormente vêm a ser fundamentais nas relações internacionais.
12
Unidade I
Laplantine (2003) afirma que o nascimento da antropologia contemporânea se dá na descoberta do 
que os europeus chamam de Novo Mundo, pois, ao se depararem com realidade tão distinta da sua, eles 
sentiram a necessidade de explicar aquilo que haviam descoberto. 
O mais interessante é que, embora a antropologia seja um campo relativamente recente, o interesse 
do ser humano em buscar respostas para questões fundamentais data desde as primeiras tribos e 
civilizações de que se tem registros. Acontece que com as descobertas de civilizações diferentes 
daquelas europeias, um objeto de estudo se mostra à frente de pesquisadores e estudiosos de questões 
sobre a humanidade.
A antropologia, então, compreende o homem na sua dimensão individual e em sua dimensão 
coletiva, o ser em sociedade inserido dentro de uma (às vezes mais) cultura. Esse momento da história 
ocidental remete ao iluminismo, consolidando o fato de a antropologia ser uma ciência que está em 
diálogo com o campo da filosofia.
 Observação
Conforme o Dicionário Priberam, iluminismo é: 
1. Doutrina de certos movimentos religiosos marginais, baseada na 
crença de uma iluminação interior ou em revelações inspiradas diretamente 
por Deus. 2. Movimento de renovação científica na Itália, no século XVIII. 
Para que esse tipo de estudo seja possível, deve existir uma característica fundamental para essa 
ciência: a capacidade de se distanciar de sua própria cultura. Pois, somente assim, é possível que se 
estude outra cultura sem se utilizar a sua por base. 
Para se obter esse pensar é preciso ter-se ou criar-se a capacidade de sair ou 
tomar distância de sua própria cultura, dos valores por ela cultivados, para 
daí penetrar e entender outras culturas pelos valores dessas outras culturas, 
não de sua própria. Tal método de pensar é condição sine qua non para 
existir o pensamento antropológico (GOMES, 2008, p. 12).
Consequentemente, a distância em relação a nossa sociedade nos dá a possibilidade de perceber que 
aquilo que para nós era tido como natural é uma construção social. Esse aspecto da antropologia é o 
choque cultural que leva o pesquisador a repensar a abordagem comum a partir da perspectiva de sua 
própria cultura. É o início da reflexão que leva ao surgimento do conceito de alteridade. 
Ademais, o contato com outras culturas nos causa um estranhamento, uma certa perplexidade 
que, acima de tudo, fez com que os pesquisadores refletissem sobre o que não enxergavam a respeito 
da própria cultura. Afinal, o “conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente 
pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura 
possível entre tantas outras, mas não a única” (LAPLANTINE, 2003, p. 13).
13
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
É diante dessa condição que a antropologia começa a se desenvolver tanto como pensar filosófico 
quanto como ciência.
Figura 1 – Comida chinesa
1.1 A antropologia na dimensão da ciência
Se partirmos do pressuposto de a antropologia ser ciência, só pelo fato de ser ciência, ela 
já nos diz algo: o ser humano pode ser estudado. Não só estudado, mas “pode ser objetivado, 
esquadrinhado, medido, calculado, dimensionado no tempo e no espaço, tal qual outros objetos 
científicos” (GOMES, 2008, p. 13).
Compreendendo a antropologia por essa perspectiva, ela está lado a lado com outras ciências que 
compõem um bloco denominado ciências humanas ou ciências sociais. Ela seria, hipoteticamente, irmã 
da sociologia, que se preocupa com o ser humano inserido na coletividade (sociedade). Também poderia 
ser prima da economia, que enxerga o aspecto material da sociedade, desde bens e trocas. Embora 
facilmente possamos entender a economia como uma ciência exata – afinal, economia remete aos 
números –, essa ciência também trata de temas como desigualdade social, por exemplo.
A antropologia também pode ser considerada prima da ciência política, pois esta busca compreender 
as relações de poder dentro de uma sociedade, bem como mecanismos de convivência e até mesmo 
controle. Até a psicologia pode ser compreendida como parente da antropologia, pois ela estuda a 
psique do ser humano. É verdade que ela transita por entre o indivíduo em seu aspecto fisiológico 
filosófico, mas não deixa de ser uma ciência humana.
Sendo assim, podemos compreender que a “antropologia é a ciência humana que presume abordar 
um pouco de tudo que cada outra ciência humana aprecia” (GOMES, 2008, p. 15). Porém, ao mesmo 
tempo, “só pode ser considerada como antropológica uma abordagem integrativa que objetive levar em 
consideração múltiplas dimensões do ser humano em sociedade” (LAPLANTINE, 2003, p. 9).
Nessa ótica, a antropologia é uma ferramenta de compreensão da realidade. E quando pensamos 
na antropologia enquanto ciência, admitimos que uma variedade de mecanismos de compreensão 
14
Unidade I
podem fazer parte de um leque maior. Assim, ciências como a arqueologia, a linguística, a antropologia 
biológica e muitas outras ciências fazem parte da antropologia. 
Além do mais, precisamos definir incialmente que a antropologia é uma ciência ambiciosa, pois ela 
não é apenas o estudo dos elementos que compõem as sociedades, mas sim um estudo que abrange todas 
as sociedades humanas, inclusive aquela em que nós estamos inseridos. Ela estuda as diversidades 
geográficas, históricas e culturais, daí a preocupação em situar o outro. 
Figura 2 – Museu de Antropologia do México
Para melhor compreendermos essa tal antropologia, dividimos seu campo em duas dimensões de 
atuação: a antropologia biológica e a cultural.
A antropologia biológica se preocupacom a busca pelo entendimento do ser humano e sua 
natureza biológica, física. Ela estuda o ser humano enquanto um espécime e questiona qual é o nosso 
lugar no mundo e na cadeia evolutiva, assim como todo tipo de assuntos que trazem questionamentos 
dessa natureza.
Já a busca pelo entendimento do ser humano enquanto produtor de cultura fica a cargo da 
antropologia cultural. Afinal, o ser humano é o único dos animais que é capaz de criar cultura e ser 
influenciado por ela. Compreender quais são as relações, os símbolos, signos e significações; as dinâmicas 
sociais, seus ritos e mitos; estudar os elementos que passam de geração em geração, não como herança 
genética, mas através da linguagem e tradições, fica a cargo dessa dimensão antropológica.
Não é segredo que a segunda concepção antropológica descrita nos é mais atraente, não é mesmo? 
Em nossa sociedade cada vez mais interconectada, hoje mais do que em outros tempos, as diferenças 
culturais ficam evidentes e vão influenciar todas as negociações entre diferentes culturas e sociedades.
Embora a parte que nos remete à cultura seja a mais interessante para nosso curso, é importante 
compreendermos cada degrau e subdivisão que a antropologia possui. 
15
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Em seu desenvolvimento enquanto campo de estudo, a antropologia acabou por ser dividida 
em diferentes subgrupos e sofreu influência de diferentes correntes de pensamento. Uma corrente 
de pensamento é uma espécie de teoria que normalmente influencia todos os aspectos de uma 
sociedade em um determinado momento no tempo. Consequentemente, as ciências da época são 
influenciadas também.
Para melhor compreendermos como essa dinâmica se dá, nos próximos tópicos iremos estudar 
algumas dessas correntes e, ao mesmo tempo, exemplificar a influência dessa corrente de 
pensamento em alguma subdivisão da antropologia para que possamos entender quais as relações 
entre esses dois aspectos.
Como ressaltamos anteriormente, essa nossa reflexão não contempla todos os campos 
antropológicos nem todas as correntes de pensamentos, mas sim aquelas que são mais interessantes 
para as relações internacionais.
1.2 O evolucionismo e a antropologia biológica
A antropologia biológica ou antropologia física é um campo de estudo que se preocupa com temas 
como a transição do nomadismo para o sedentarismo e em compreender como o ser humano se 
deslocou e se adaptou aos quatro cantos do planeta (embora ele seja esférico!). A antropologia biológica 
se preocupa em compreender a evolução do ser humano, ou seja, como passamos de neandertais para 
Homo sapiens. Enfim, todos os temas que seguem essa linha de questionamento se encontram na esfera 
da antropologia biológica. 
Compreender a antropologia biológica é saber que ela é muito mais do que documentários televisivos 
sobre a “busca do elo perdido” ou “qual a semelhança do ser humano com o chimpanzé”. É saber que ela 
foi influenciada pela teoria evolucionista de Charles Darwin, de 1859, por exemplo.
É compreender essa teoria que afirma que a continuidade da vida depende de “uma série de processos 
químicos” e “da capacidade de disputa de cada espécie dentro do ambiente em que está inserida” 
(GOMES, 2008, p. 16). A antropologia biológica é uma espécie de elo entre as pesquisas das ciências 
biológicas e os estudos das ciências humanas.
O evolucionismo é uma linha de pensamento que ganha popularidade no século XIX. Ele é responsável 
pela influência da Teoria Geral da Evolução também nos fenômenos de cunho cultural. 
Uma corrente de pensamento normalmente se transforma em teoria. Ela é fruto do trabalho de muitos 
pesquisadores de diversas áreas. Através dessa ótica proposta por uma corrente de pensamento, há uma 
infinidade de possibilidades a frente do pesquisador, sendo que ele tem total liberdade de escolher como 
irá estudar tal sociedade, desde que siga alguns padrões estabelecidos nesse consenso do pensar.
Por meio da influência do evolucionismo, a antropologia passa “a ser pensada como uma ciência que 
iria contribuir para enquadrar o homem e suas culturas num plano contínuo, ou ao menos paralelo ao 
plano biológico” (GOMES, 2008, p. 12).
16
Unidade I
Segundo Marconi (2013), mesmo com Darwin sendo o pai da teoria, na área da cultura outros já 
estavam – ao mesmo tempo e até mesmo antes que ele – desenvolvendo teorias nas quais os objetos de 
estudo eram classificados em estágios de evolução. 
Para se estudar uma cultura sob a ótica evolucionista, existem três princípios básicos: sucessão linear, 
métodos comparativo e sobrevivência. Linear porque ela é cronológica, um estudo das suas mudanças 
ao longo do tempo. É a mesma lógica utilizada no algoritmo das redes sociais, nossa timeline. Ela 
demonstra um desenvolvimento, sempre está em constante evolução e segue o tempo, que sempre vai 
para frente. Portanto, justificava a lógica presente na cultura europeia de existirem sociedades superiores 
(eles) e inferiores (seus colonizados).
É necessário o método comparativo, porque nele se parte do pressuposto de que existe hierarquia 
por causa da evolução das sociedades não seguir o mesmo curso, sendo assim, é necessário comparar 
uma cultura com a outra para avaliar e validar tal teoria.
Mas qual o critério comparativo? Sobrevivência.
Entretanto, temos duas perspectivas para a ideia de sobrevivência. Primeiro, na perspectiva de 
continuidade da espécie, sendo literalmente uma luta de vida ou morte pela continuidade da vida. 
Porém, no campo da cultura, o conceito de “sobrevivência” significa a capacidade de “perpetuação de 
um fenômeno originário em épocas anteriores, em condições diversas” (MARCONI, 2013, p. 247).
Figura 3 – Charge da Teoria da Evolução
E qual a relação dessa ciência com as relações internacionais? 
Vamos fazer um rápido exercício reflexivo: imaginemos um país que seja uma teocracia. Agora, imagine 
você em um eventual trabalho de negociação internacional entre uma empresa de um país laico de base 
científica-tecnológica, negociando com uma empresa ou até mesmo um governo teocrático e tradicional.
 
17
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
 Observação
Conforme o Dicionário Priberam, teocracia é: 
1. Sociedade em que a autoridade, considerada como emanação de 
Deus, é exercida pelos seus ministros. 2. Governo em que o poder está na 
mão do clero. 
É uma situação na qual há um interlocutor oriundo de uma lógica cultural oposta ao outro. 
Consequentemente, os diferentes hábitos e formas de se enxergar o mundo estarão presentes em 
todos os aspectos dessa negociação, dificultando ainda mais esse processo. Ou o profissional de 
relações internacionais está preparado para tais circunstâncias nas quais há um choque cultural, ou 
não haverá negociação.
Vamos além: uma das frases clássicas que resume a teoria de Darwin é “a sobrevivência do mais apto”. 
Essa frase “sintetiza a teoria da evolução, mesmo que se compreenda modernamente que a disputa 
entre as espécies dá vez, com frequência, a processos cooperativos” (GOMES, 2008, p. 16). 
Disputa, processos cooperativos... Como é parecido com o meio internacional, não?
Gomes (2008) afirma que o ser humano surgiu há cerca de 200 mil anos, sendo que em torno 
de 80 mil anos evoluiu fisicamente para nossa condição atual, sem nenhuma grande mudança 
posterior. Além do mais, o autor afirma que a evolução humana ocorreu através de processos 
idênticos aos outros animais. Nitidamente, percebemos a influência da teoria evolucionista 
darwiniana nesse estudo.
Porém, o ser humano desenvolveu habilidades muito além de outros animais, incluindo a fabricação 
e utilização de ferramentas, o domínio do fogo e a criação de sistemas linguísticos, aumentando sua 
capacidade de comunicação. Toda essa evolução se dá, então, por conta da criação de uma dimensão 
cultural de convivência.
Talvez um dos pontos fundamentais para a consolidação da sociedade moderna seja a “adoção 
generalizada de um costume social excepcional, a proibição do incesto, isto é, de relaçõessexuais entre 
pais e filhos e irmãos e irmãs, como regra fundamental da sociedade humana” (GOMES, 2008, p. 17). 
Assim, o incesto torna-se tabu.
O evolucionismo influencia a antropologia principalmente no século XIX, pois essa ciência, ao se 
ancorar nessa perspectiva de evolução das espécies, identifica que existe uma espécie humana, igual a 
sua, mas que seu desenvolvimento, no que tange aos aspectos socioculturais, econômicos e políticos, se 
desenrola em um tempo e lógica completamente diferentes da europeia. Vale também nossa atenção ao 
fato de que essa perspectiva evolucionista também serve de subsídio para o colonialismo.
18
Unidade I
A antropologia evolucionista, cujas ambições nos parecem hoje 
desmedidas, não hesita em esboçar em grandes traços afrescos 
imponentes, através dos quais afirma com arrogância julgamentos de 
valores sem contestação possível. A convicção da marcha triunfante 
do progresso é tal que, juntando e interpretando fatos provenientes 
do mundo inteiro (à luz justamente dessa hipótese central), julga-se 
que será possível extrair as leis universais do desenvolvimento da 
humanidade (LAPLANTINE, 2003, p. 52).
Embora a teoria evolucionista se encaixe facilmente no campo da antropologia física, ela dialoga 
entre os aspectos biológicos e culturais. E, mesmo que seja fácil de constatar o fato de a biologia 
influenciar a cultura, podemos também pensar na direção contrária. Um exemplo disso é a utilização 
do fogo para se cozinhar os alimentos. Por conta dessa prática, “os grandes molares, encontrados nos 
fósseis de alguns ancestrais humanos e próprios para triturar sementes, ficaram dispensados dessa 
função, já que sementes cozidas são mais facilmente mastigáveis” (GOMES, 2008, p. 17).
Existem duas questões básicas que orientam as pesquisas de antropologia biológica: a primeira 
delas é compreender a posição do Homo sapiens na escala evolutiva. A segunda é tentar entender o 
quanto de “animal” ainda há no ser humano; é compreender o quanto de nossas ações ainda é fruto 
dos instintos de ser humano – aqui no sentido do verbo “ser” – e o quanto de ser humano é oriundo de 
transformações culturais, como religião ou política, por exemplo.
Novamente, podemos traçar um paralelo com o campo das relações internacionais. Essa busca da 
antropologia biológica pode nos ajudar a entender e refletir sobre as nações viverem em paz ou se o 
ser humano é incapaz de tal feito, dado o seu instinto de sobrevivência, assim como os animais, nessa 
perspectiva evolucionista.
Uma das ferramentas que dá subsídio para a antropologia biológica é a anatomia. Por que a anatomia? 
Porque grande parte da pesquisa desse campo está em esqueletos e ossos fossilizados. 
Outra ferramenta da antropologia biológica é a genética. Embora as pesquisas sobre genética 
sejam recentes, datando principalmente da segunda metade do século XX, ela nos dá subsídios para 
compreender as diferenças e semelhanças entre as espécies. Além do mais, na pesquisa forense, a 
genética pode ser utilizada para a resolução de crimes.
Nos anos 1980, os estudos sobre genética e a própria aplicação dessa ferramenta científica foi 
fundamental para o reconhecimento biológico dos netos das avós da Praça de Maio, na Argentina, pois 
com a morte dos pais no período da ditadura argentina, muitos desses netos e netas sequer sabiam que 
não eram filhos legítimos das famílias em que foram criados.
19
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
 Saiba mais
Sobre o tema, assista ao filme:
500: os bebês roubados pela ditadura argentina. Dir. Alexandre Valenti, 
Argentina: Intuition Films & Docs, 2013. 105 minutos.
Se pensarmos na relação da dimensão cultural com a dimensão biológica do estudo das sociedades 
através de antropologia, podemos chegar na arqueologia.
Quando se pensa na palavra arqueologia, é inevitável que imaginemos uma escavação em alguma 
tumba muito antiga, em um lugar longínquo, quem sabe de um grande faraó, ou em pedras preciosas, 
brilhantes, esperando o primeiro explorador de chapéu marrom para serem capturadas. No entanto, essa 
descrição está baseada em cenas que, de alguma forma, fazem parte do nosso imaginário. Cada um de 
nós imagina a cena de um jeito, mas, coletivamente, algumas ideias são praticamente as mesmas. 
É o conceito de imaginário ligado ao conceito de cultura. Imaginário foi um termo que ganhou 
notoriedade em meados do século XX, mas que já vinha sendo estudado desde um século antes. Para 
Maffessoli (2001), imaginário remete a uma espécie de estado de espírito de um povo. Não é algo 
simplesmente racional, pois traz consigo o imponderável, um certo mistério. “É uma força social de 
ordem espiritual, uma construção mental, que se mantém ambígua, perceptível, mas não quantificável” 
(MAFFESSOLI, 2001, p. 75).
Exatamente por isso que, quando pensamos em arqueologia, algumas imagens já vêm na nossa 
cabeça. Embora tenhamos algumas sinapses cerebrais, elas são constituídas por conta das relações sociais.
Quer ver o poder do imaginário? Pense em aniversário. O que vem na sua mente? Festa, comemoração, 
bolo, parabéns.... Não há mágica nisso, mas uma correlação da realidade com o pensamento coletivo.
Contudo, independentemente de nosso imaginário, compreender a dimensão da arqueologia para a 
antropologia é importante para o estudo das relações internacionais. Afinal, ela é uma excelente forma 
de se compreender – através de uma espécie de reconstituição a partir dos “achados” – como era a 
dinâmica de uma sociedade antiga.
A ideia é reconstituir o passado por meio das evidências concretas que 
podem ser, literalmente, desenterradas: lascas de pedras que um dia foram 
facas, furadores e raspadores; ossos, esqueletos e corpos mumificados, que 
podem dar dados sobre idade, doenças, hábitos alimentares, status social [...] 
(GOMES, 2008, p. 17).
Agora, imagine o que é preciso para chegarmos a esse ponto. Ser arqueólogo é estar durante muito 
tempo à disposição da escavação, suando na poeira que vem da limpeza de esqueletos ou dos cacos de 
20
Unidade I
objetos raros. E se pensarmos sob o aspecto cultural da antropologia, reconstituir a dinâmica de uma 
sociedade antiga é criar a possibilidade de se compreender diversos processos de mudanças culturais, 
estudando sua relação com a cultura nos dias de hoje. 
Figura 4 – Antropólogos trabalhando
É por isso que a arqueologia é considerada uma técnica de descoberta, que atende tanto a 
antropologia biológica como a cultural. O interessante é que, ao mesmo tempo, muitas técnicas da 
própria arqueologia vêm da química, da geologia e até mesmo da própria anatomia.
Uma das tarefas mais árduas da arqueologia é conseguir datar determinado sítio arqueológico a 
partir do estudo de materiais retirados naquele local. E outro desafio de peso é dialogar com conceitos 
da antropologia cultural, pois, se é possível reconstruir uma sociedade antiga a partir dos achados, é 
possível estudar a sua evolução.
1.3 O funcionalismo e a antropologia cultural
Sabemos que a antropologia cultural, embora em uma dimensão diferente, dialoga com a 
antropologia física. Porém, vale ressaltar que o campo da antropologia cultural é fundamental para o 
internacionalista. Ela também é conhecida como filosofia da cultura, e suas reflexões giram em torno da 
lógica, de modo muito parecido como ocorria na filosofia antiga. 
Um dos mais importantes instrumentos de pesquisa que traz grande contribuição para a antropologia 
é a etnografia, que é um estudo descritivo das sociedades designadas como objetos de estudos. Tal campo 
de estudos é, então, um emaranhado de estruturas “amarradas umas às outras, que são simultaneamente 
estranhas, irregulares e inexplícitas, e que ele tem de, de alguma forma, primeiro apreender e depois 
apresentar” (GEERTS, 2013, p. 7). Para que o etnógrafo tenha sucesso na sua pesquisa, é necessário 
“estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, 
manter um diário, e assim por diante” (GEERTZ,2013, p. 4). 
21
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Vimos há pouco que a antropologia cultural possui uma característica histórica fundamental para 
sua existência: ela é fruto do iluminismo. Conseguinte, os caminhos traçados pelas sociedades que 
foram influenciadas por essa corrente de pensamento tiveram contato com relatos, livros e diários 
trazidos por exploradores e comerciantes de outros lugares, descrevendo culturas distintas da europeia, 
o que chamou muita atenção de curiosos e pesquisadores.
Porém, segundo Laplantine (2003), não basta viajar e ver o diferente para se tornar etnólogo. Para 
ele, a etnografia só surge quando o pesquisador admite que ele próprio deve estar no campo de estudos, 
pois somente através da observação direta é possível realizar a etnografia. Ademais, é somente nesse 
período que o conceito de homem se constitui não somente como sujeito, mas também como um 
objeto passível de estudo. 
A antropologia social também contribui para a modificação da própria maneira de se fazer ciência. 
No Renascimento, a capacidade de observação se populariza, acrescentando uma nova forma de 
compreender o mundo diferente daquela visão de mundo dos gregos antigos. 
O Renascimento foi um período histórico que remete ao século XI, quando a Europa começa a 
enxergar o mundo de uma nova maneira. É o momento de reinvenção da vida econômica, há um 
aumento populacional e o nascimento das modernas cidades. Ao mesmo tempo, é o período da expansão 
de várias nações europeias. Por exemplo, da “conquista da Inglaterra pelos Normandos, alguns passos 
importantes no sentido da reconquista da Espanha aos muçulmanos, a primeira cruzada” (PALISCA; 
GROUT, 2014, p. 96).
Porém, também é importante destacar que essas mudanças na concepção de mundo também se 
dão no campo cultural. É nesse período que temos as primeiras traduções dos escritos árabes e gregos, 
também é o momento do surgimento das primeiras universidades, entre diversos outros fatores que 
funcionaram como um despertar das capacidades humanas. Isso porque, há muitos séculos, a cultura 
europeia esteve sob o domínio da igreja cristã institucionalizada. Dessa maneira, esse momento de 
ruptura com o antigo sistema de vida foi como um renascimento para aquelas sociedades. 
No fundo, é a constituição de uma nova forma de se enxergar o ser humano, que, assim, passa a ser 
compreendido em sua “existência concreta, envolvida nas determinações de seu organismo, de suas relações de 
produção, de sua linguagem, de suas instituições, de seus comportamentos” (LAPLANTINE, 2003, p. 40).
Um grande etnógrafo da antropologia que merece nossa atenção é Franz Boas (1858–1942). Ele é 
considerado um pesquisador de campo e conhecido por ser um detalhista na sua descrição etnográfica, 
pois ele descrevia, por exemplo, desde o tipo de material com que as casas eram construídas até a nota 
que era cantada na melodia das canções locais.
Ele também é um dos defensores de que o costume de uma sociedade só tem significação dentro 
dela mesma. Também foi pioneiro em defender que somente o pesquisador qualificado – e não mais 
o viajante que escrevia um diário – tem capacidade para analisar o costume naquele contexto. Assim, 
a partir de Boas, a etnografia começa a se preocupar com o que estudar, e não sair pegando qualquer 
material aleatoriamente.
22
Unidade I
Boas também coloca todos os objetos de estudos em um mesmo patamar, afirmando que não 
existe um melhor e um pior. Para ele, uma história contada por qualquer pessoa tem tanto valor, 
etnograficamente falando, do que a mitologia da sociedade. E o pesquisador também deu muita 
importância para a linguística, pois, para ele, estudar a língua é necessário porque as tradições locais 
não poderiam ser traduzidas.
Outro grande nome da etnografia que merece destaque é Bronislaw Malinowski (1884–1942). Ele 
é conhecido, assim como Boas, por ser um dos antropólogos que mais viveu em campo. Sua pesquisa 
visava compreender até o que as pessoas daquelas sociedades sentiam. Ele também era um pesquisador 
que defendia que se apenas um objeto de uma sociedade fosse estudado, esse objeto já traria pistas do 
perfil da sociedade toda. Esse aspecto é um contraste com o detalhismo de Franz Boas.
Além do mais, Malinowski defendia que uma sociedade, para ser compreendida antropologicamente, 
deveria ser estudada na sua totalidade. Ele, de certa forma, rompe com as abordagens históricas que até 
então eram populares na antropologia. 
Com Malinowski, a antropologia se torna uma “ciência” da alteridade que vira 
as costas ao empreendimento evolucionista de reconstituição das origens 
da civilização e se dedica ao estudo das lógicas particulares características 
de cada cultura (LAPLANTINE, 2003, p. 61).
Figura 5 – Museo “Alto Bierzo” de Bembibre de El Bierzo, província de León, Espanha – Etnografía
Talvez o maior legado de Malinowski tenha sido contribuir com a utilização da corrente de 
pensamento chamada de funcionalismo no campo da antropologia. O funcionalismo é uma teoria que 
admite que o “o indivíduo sente um certo número de necessidades, e cada cultura tem precisamente 
como função a de satisfazer à sua maneira essas necessidades fundamentais” (LAPLANTINE, 2003, p. 62). 
Cada sociedade, então, elabora subdivisões, através da criação de instituições políticas ou econômicas, 
por exemplo, para que possam responder a anseios coletivos. Essas soluções são sempre originais porque 
elas fornecem a resposta para determinada sociedade. Ademais, na visão funcionalista, as sociedades 
são estáveis e não possuem conflitos, buscando o equilíbrio justamente na criação dessas instituições.
23
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
O funcionalismo é uma corrente de pensamento que, no estudo antropológico, contribuiu para 
a ruptura com as antecessoras. É a mudança de foco do olhar histórico e evolucionista para a lógica 
da cultura como um todo, um sistema, “relacionando a sociedade a um organismo, a uma unidade 
complexa, a um todo organizado” (MARCONI, 2013, p. 255). É uma corrente que também tem devida 
importância nas mudanças de paradigmas da sociologia.
Se o funcionalismo se preocupa com o todo, com a maior parte dos componentes e das relações 
que eles estabelecem entre si, todos os detalhes da sociedade importam. Assim, o funcionalismo pode 
ser considerado como o pai da etnografia, pois ela nada mais é do que uma forma funcionalista de se 
descrever uma sociedade. “Cada costume é socialmente significativo, já que integra uma estrutura, 
participando de um sistema organizado de atividades. Uma cultura não é simplesmente um organismo, 
mas um sistema” (MARCONI, 2013, p. 256).
Outro aspecto interessante do pensamento de Malinowski é o fato de o autor romper com o 
estigma evolucionista que herdara de outra época, direcionando sua forma de enxergar o mundo para 
a alteridade. Ou seja, ele se identificava com a sociedade estudada, não com a sociedade dita civilizada 
da qual nascera.
Assim, o funcionalismo nos deixa de herança o fato de que a cultura é um sistema, com lógica 
própria, oriunda de um determinado contexto. São partes independentes que se relacionam entre si. 
Divide a existência em cultural e natural, e é uma corrente de pensamento que delimita e estuda o 
conceito de necessidades. O funcionalismo introduz uma característica que vem a ser fundamental na 
antropologia: o relativismo cultural, possibilitando o estudo de outras culturas sem ser projetada a 
visão cultural do pesquisador.
Embora inicialmente os costumes ou rituais que ficaram conhecidos na Europa pudessem ser 
interpretados como bizarros, algumas pessoas passaram a questionar qual era o sentido para aquele 
povo que praticava tal ritual. Laplantine (2003) afirma que essa mudança faz parte do próprio 
amadurecimento do campo antropológico, que passa a enxergar o mau selvagem como bom selvagem. 
Vale atentarmo-nos para o fato de que essa transição não exime nem condena o fato de que a admiração 
possa ser apenas estética ou romantizada.Vale ressaltar que esse ímpeto expansionista europeu do século XVI é responsável por iniciar o 
processo de colonização das Américas. A religião dominante na Europa nesse período também tem papel 
fundamental, pois havia uma “destinação cristã de construtores do reino de Deus no Novo Mundo, de 
soldados apostólicos da cristandade universal” (RIBEIRO, 2015, p. 45). A religião era uma justificativa 
para uma expansão territorial e norteava um processo civilizatório.
É importante atentarmo-nos também ao fato de que esse é o contexto de surgimento do conceito de 
civilização. Para Laplantine (2003), essa questão de designar um rótulo para outras culturas diferentes da 
europeia já vem desde os gregos. Para eles, tudo que não era parte da cultura helenística era visto como 
bárbaro. No período renascentista – séculos XVII e XVIII, principalmente – se chamavam de selvagens. 
O termo primitivos ganha força somente no século XIX. A influência desse modo de enxergar o mundo aparece 
na literatura da Ciência Política, no conceito de estado de natureza utilizado por Thomas Hobbes, por exemplo.
24
Unidade I
 Saiba mais
Para Thomas Hobbes, o estado de natureza é a “guerra de todos contra 
todos”, contrastando com a sociedade civil que seria criada a partir do 
pacto de surgimento do Estado. 
Sobre o assunto, leia: 
WEFFORT, F. C. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2006. (v. 1).
HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
Se pensarmos nas próprias relações internacionais contemporâneas, enxergamos o mesmo discurso 
de civilização X bárbaros na justificativa de intervenções ocidentais no Oriente Médio, em sua maioria 
sob uma sombra maior chamada de terrorismo. Essa visão de mundo que hierarquiza as sociedades 
justifica ações além das fronteiras de seus países, ocasionando efeitos instantâneos e irremediáveis em 
sociedades tidas como inferiores.
Analisar através da ótica antropológica, segundo Laplantine (2003), é uma forma de se expulsar o 
outro da cultura para a natureza, pois eles estão em uma parte da cultura na qual a sociedade europeia – e, no 
caso de nosso exemplo, a sociedade ocidental – não participa. É como se a sociedade que interfere na 
outra – que é vista como inferior – já tivesse superado essa fase em outros tempos.
Como exemplo dessa afirmação, a própria forma como os europeus descrevem os ameríndios, 
por exemplo, nos mostra tal faceta. Para eles, além do critério religioso, a aparência física, a nudez, 
os hábitos de alimentação, a linguagem, absolutamente todos os elementos em que consistiam as 
sociedades eram distintos. 
Ora, eles não acreditavam no deus cristão (porque sequer conheciam o que o europeu entende 
por religião) e, por conta disso, foram considerados “sem alma”; eles não tinham a linguagem 
europeia, por isso foram taxados como um povo sem língua; eles tinham aparências diferentes (eram 
considerados feios) e se alimentavam como “animais”. Assim, não houve outra perspectiva a não ser 
taxá-los exatamente como animais.
O século XIX é emblemático para as relações humanas aos olhos da antropologia; já para as relações 
internacionais, é importante por questões geopolíticas. É o período de consolidação de conquistas 
coloniais, principalmente na África, pois nas Américas o expansionismo se dá desde o século XVI. Um 
momento importante para a determinação de cursos históricos é a assinatura do Tratado de Berlim no 
ano de 1885, determinando a partilha da África entre seus colonizadores.
Para nosso campo de estudos é importante o fato de que esse tratado põe fim à soberania de nações 
africanas. Ao mesmo tempo, consolida-se a antropologia moderna. É também no século XIX que a noção 
de selvagem vem a transformar-se em primitivo.
25
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
É no movimento dessa conquista que se constitui a antropologia moderna, o 
antropólogo acompanhando de perto, como veremos, os passos do colono. 
Nessa época, a África, a Índia, a Austrália, a Nova Zelândia passam a ser 
povoadas de um número considerável de emigrantes europeus; não se trata 
mais de alguns missionários apenas, e sim de administradores. Uma rede de 
informações se instala (LAPLANTINE, 2003, p. 48).
Toda essa exemplificação pode ser considerada fruto de mutações de aspectos culturais, sendo 
que nos dias de hoje acrescenta-se o fato do rápido desenvolvimento tecnológico, inédito para a 
humanidade. Assim, as sociedades atuais não seriam mais sociedades tradicionais, mas ainda não 
temos como classificá-las e nem os estudos dão conta de suas mudanças justamente por conta da 
velocidade delas.
Diante dessa perspectiva, a antropologia pode ser considerada um instrumento de investigação para 
o melhor entendimento de aspectos cruciais para o profissional de relações internacionais, como crises 
de identidade nacionais.
A antropologia cultural pode nos ajudar a compreender também o pluralismo cultural, ou seja, 
choque de línguas, formas de pensar e técnicas de convívio e sobrevivência. Talvez o aspecto mais 
relevante para nós pode ser uma forma de se evitar conflitos ocasionados por choques religiosos, 
econômicos e socioculturais.
1.4 O estruturalismo e a linguística
A linguística é uma ciência muito importante para o profissional de relações internacionais. Ela estuda 
as “línguas humanas, suas estruturas internas, suas conexões mútuas, suas histórias, sua capacidade de 
mudança e, especialmente, o significado que elas dão ao homem e à cultura” (GOMES, 2008, p. 24). 
Se partirmos dessa perspectiva, estudar a língua de um país é, acima de tudo, também estudar um 
pouco de sua cultura e sua própria história, conhecimento que pode ser fundamental para o sucesso 
em nossa profissão.
Vale ressaltar que os antropólogos da área da linguística estudam muito mais línguas não europeias, 
pois eles acreditam que através da língua seja possível aprender tanto o mundo da natureza como o 
da cultura. “A língua seria o veículo da cultura, que, por sua vez, é a intermediação entre o homem e a 
natureza” (GOMES, 2008, p. 24).
Como um exemplo de contribuição da linguística para as relações internacionais, podemos elucidar 
o fato de que o estudo da evolução de uma determinada língua pode demonstrar o seu deslocamento 
físico e, consequentemente, servir de ferramenta para se estudar fluxos migratórios.
Também podemos, através do estudo histórico da língua, compreender o poder de persuasão dela 
através do estudo da retórica e do discurso, ferramentas fundamentais nas negociações internacionais. 
Orlandi (2003) afirma que o discurso é a capacidade e a linguagem necessária do ser humano para 
dar sentido entre a realidade natural e social em que está inserido. Já Bourdieu (1996), a partir de 
26
Unidade I
uma ótica cultural, afirma que para se compreender um discurso, é necessário entender as condições 
da formação dele.
Se pensarmos na sociedade brasileira, a análise de Beltrão (1980) pode nos ser útil para reflexão. 
Ele afirma que a história brasileira é escrita através da capacidade de absorção, por parte das culturas 
nativas, das características de seus conquistadores. Mas, ao mesmo tempo, possui a capacidade de 
conservação dos traços culturais da sua cultura original. Estamos falando de outro conceito muito 
importante para nossos estudos: miscigenação, que vamos estudar logo mais.
Para chegar a essa conclusão, Beltrão (1980) estuda a língua falada no Brasil, pois, para o autor, ela 
era – e continua sendo – o instrumento principal de comunicação das pessoas. Embora a nossa língua 
tenha o tronco latino, ela foi enriquecida depois da interação das culturas indígena e africana. 
Podemos pensar também que o estudo da linguística pode servir como ferramenta de compreensão 
do desenvolvimento cultural de uma sociedade, pois cada língua nasce dentro de cada cultura específica. 
O português é falado no Brasil por conta de nossa história, fruto das nossas próprias interações sociais.
Entretanto, historicamente, desde nossa colonização, a língua falada no Brasil erade origem 
ameríndia e, por conta das interações entre os colonos e jesuítas, a mais difundida era o tupi. 
O português só se tornou língua oficial no século XIX, com a chegada da Coroa Portuguesa. Assim, 
a população foi obrigada a adotar a língua portuguesa “sem estudá-la, aprendendo-a de ouvido, 
envolvendo-a nas roupagens verdes das florestas ou sanguínea-e-negras da distante, ensolarada e 
saudosa África” (BELTRÃO, 1980, p. 10). 
As línguas “têm as palavras de que suas culturas precisam para representar suas características 
e propriedades” (GOMES, 2008, p. 25). Assim, justifica-se o fato de as línguas terem a capacidade de 
serem todas diferentes entre si. A língua é capaz de explicar desde pensamentos abstratos até descrições 
precisas. As palavras se misturam e se transformam, como em um grande caldeirão sob o fogo, fazendo 
com que novas palavras sejam criadas. Elas podem até ser misturadas com outras línguas, mas sua 
significação é fruto do contexto em que ela está inserida.
Se pensarmos de uma forma prática, os estudiosos da linguística foram capazes de estudar e 
compreender que uma língua tem sua própria sistematização. Os sons emitidos só fazem sentido ali 
naquele sistema que estão inseridos e não fazem sentido algum em outro sistema. É por isso que o 
internacionalista tem que estudar outras línguas, como o inglês e o espanhol, pois faz parte das relações 
que se desdobram no sistema internacional.
Ademais, as palavras representam coisas reais, mas só possuem sentido se inseridas em um 
determinado sistema, que pode ser o português, o inglês, o espanhol, o russo, o francês... Cada idioma 
representa um sistema próprio de significação e – não é mera coincidência – tais palavras também 
podem designar nacionalidades.
27
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Figura 6 – Globo representando as línguas
Vale ressaltar que embora a antropologia se debruce em grande parte nos estudos de povos de origens 
não europeias, a linguística nos dias de hoje é, segundo Laplantine (2003), responsável também por estudos 
na área de comunicação, frutos de modernas técnicas como a mass media e a cultura audiovisual.
 Observação
Conforme o Dicionário Priberam, mass media é uma locução inglesa, do 
inglês mass, massa + latim media, meios. Trata-se do conjunto dos meios 
de comunicação social. 
Os estudos da linguística ficaram populares sob a influência do pensamento estruturalista. Segundo 
os pesquisadores adeptos dessa corrente, o estruturalismo é um refinamento da teoria funcionalista. 
Um dos principais antropólogos do estruturalismo é Claude Lévi-Strauss (1908–2009), um belga que 
chegou, inclusive, a dar aulas como convidado no Brasil.
Segundo Marconi (2013), a concepção de estrutura é oriunda do campo da linguística, pois, como 
vimos, esse campo de estudo sistematiza a língua em uma forma estrutural, como a estrutura que 
sustenta um prédio, por exemplo. Dessa maneira, a estrutura funciona como um modelo de compreensão, 
pois o objeto de estudo são as relações sociais.
Refere-se à estrutura como um sistema que reflete a realidade social ou 
cultural, seu funcionamento, as alterações regulares a que está sujeita, o rumo 
das transformações provocadas por fatores externos à cultura, e as previsões 
de reação quando alguma de suas partes é afetada (MARCONI, 2013, p. 263).
Para ser estrutura, esse modelo de estudo deve possuir quatro aspectos. O primeiro deles é ter um 
caráter de sistema, o que significa que, por conta dessas relações, qualquer alteração afeta todo o sistema, 
o que é muito parecido com o pensamento da corrente funcionalista. O segundo é a possibilidade de 
se agrupar os elementos a serem estudados em modelos, em uma espécie de família. O terceiro é seu 
caráter de previsibilidade, pois, a partir das duas primeiras premissas, é possível até prever como será a 
28
Unidade I
reação em caso de mudança em qualquer um de seus elementos. E, finalmente, o quarto é a totalidade, 
pois ela deve explicar todos os fatos que estão sendo observados e estudados.
Em suma, o estruturalismo pode ser considerado simultaneamente um conjunto de teorias e um 
método de análise da realidade. Sua herança consiste em uma visão sistêmica da cultura voltada à 
totalidade do fenômeno. Cria noções como estrutura social e a adota modelos de estudo. É uma forma 
de pensamento que é importante para a história das ciências.
Vale ressaltar que os conceitos, aspectos e contextos históricos descritos contemplam apenas um 
breve panorama para situar a importância da antropologia para as relações internacionais. Vamos, agora, 
compreender a dimensão da cultura e sua influência em nossa área do saber.
2 AS DIMENSÕES DA CULTURA
Cultura é uma palavra que a todo momento é falada por nós. Entretanto, o que não percebemos é 
que ela não é somente uma palavra, mas sim um conceito. Como não percebemos isso, também não 
notamos que esse conceito tem diversos sentidos. 
É muito comum ouvirmos coisas como “essa pessoa é muito culta” ou até mesmo “falta cultura 
para esse povo”. Mas o que é essa tal cultura? Será que é possível “adquirir” cultura, como algo que 
você compra e possui? Ou será algo intrínseco ao ser humano? E nem é preciso dizer que cultura é 
fundamental nas relações internacionais, não é mesmo?
É importante refletirmos sobre esse conceito, sua dimensão e sua relação com a antropologia e, 
principalmente, com as relações internacionais.
Antes de começarmos nossa reflexão, vamos admitir três pressupostos sobre cultura:
• Ela não é inata. Você não nasce com ela. Não há como você nascer no Brasil com a cultura da 
Rússia já pronta em você.
• Não é certa, nem errada. Não entramos aqui em méritos de especificidades de cada cultura. 
Sabemos que é difícil falar que não é errada a morte por apedrejamento como condenação em 
alguns países, por exemplo. Mas para que possamos estudar a cultura, é necessário estar antenado 
ao princípio básico da antropologia: o outro. 
• Ela não se refere ao comportamento individual, mas sim coletivo – embora possamos dizer que 
uma pessoa é culta. Pois então, percebeu a complexidade do termo?
Segundo Gomes (2008), a conceituação de cultura é tão complexa que na década de 1950 um 
antropólogo americano compilou mais de 250 variações de sentido desse conceito! Pior: hoje talvez 
tenhamos mais, pois cultura não é algo que se restringe ao estudioso, mas sim algo que está presente 
no povo. Entretanto, para facilitar nossa compreensão, os estudiosos agruparam tais definições em 
grupos menores.
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ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Talvez a relação mais evidente no que tange ao termo cultura seja a velha máxima de cultura 
popular e cultura erudita. Aliás, o termo cultura é mais conhecido como sinônimo de erudição, pois é 
percebido como uma espécie de refinamento social. Ela fica evidente nos comportamentos socais, como 
a etiqueta demonstrando atributo de classe, no conhecimento filosófico, literário, musical – clássico – e 
muitas outras formas de interação social. Além disso, ela aparece muito nas redes e colunas sociais. Essa 
conceituação de cultura é a “acepção original da palavra ‘cultura’ tal como concebida pelos romanos 
(‘cultura’ é palavra latina que vem do verbo ‘colere’, ‘cultivar’)” (GOMES, 2008, p. 33).
Um desdobramento interessante dessa forma de conceber cultura vem da Alemanha do século XVIII, 
entendendo a cultura como uma espécie de formação, no sentido de desenvolvimento tanto individual 
(daí nossa confusão com o termo) quanto coletivo.
A cultura nessa concepção estaria relacionada e seria responsável pela formação intelectual do 
indivíduo, assim como a formação comportamental. Os padrões a serem seguidos eram os tidos como 
refinados, os superiores. Como consequência, haveria pessoas com mais ou menos cultura e sociedades 
com culturas mais consolidadas do que outras.
É essa concepção de cultura que fez nascer no brasileiro o que alguns estudiosos como Darcy Ribeiro 
e Paulo Freyre entendem como “síndrome do colonizado” ou “complexode vira-lata”: aquela forma de 
pensar no qual tudo que “vem de fora” é melhor do que a cultura daqui, pois somos inferiores.
É comum também compreendermos cultura no campo das manifestações artísticas, sendo as 
produções de um povo. Essas produções transitam entre cultura popular e erudita, passando desde o 
teatro até as manifestações folclóricas. Nos próximos tópicos iremos analisar a fundo as dimensões do 
popular e do erudito, pois tais perspectivas são fundamentais nas relações internacionais, principalmente 
no que tange aos protocolos de negociação.
Outra categoria que se encaixa no conceito de cultura diz respeito aos hábitos de um povo, sua 
forma de ser. Normalmente, são costumes próprios de uma determinada sociedade que acabam por 
ser indicadores justamente do seu modo de vida. Os comportamentos – e aqui incluindo o intelectual 
e emocional – de uma coletividade também fazem parte da conceituação de cultura. No Brasil, as 
diferenças regionais são um belo exemplo dessa perspectiva.
Assim, diz-se que no Nordeste, comer rapadura com farinha, e em Minas Gerais, 
comer broa de milho – faz parte da cultura dessas regiões. Dormir em rede no 
Nordeste, ir à praia aos domingos no Rio de Janeiro, passar as tardes de sábado 
nos shopping centers em São Paulo e noutras cidades modernizadas – é parte 
da cultura. O jeito maneiroso do baiano, a desconfiança do mineiro, a elástica 
de gozação do carioca, ou rígida lógica do português – são manifestações de 
suas respectivas culturas (GOMES, 2008, p. 34).
Temos também o entendimento de cultura como a identidade de um povo. Ela se forma em torno de 
símbolos carregados de significados que fazem com que valores estejam acima de diferenças sociais, como 
região, religião ou até mesmo classe social. O simbólico é responsável por diferenciar um povo de outro, 
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Unidade I
pois cada coletividade tem seu respectivo simbolismo. Falando novamente de Brasil, grandes exemplos de 
como a cultura é interpretada dessa maneira são o futebol, o Carnaval e até mesmo o “jeitinho brasileiro”.
Existem também algumas concepções de cultura que são mais difíceis de enxergar. Um exemplo 
é a compreensão da cultura ser “aquilo que está por trás dos costumes e das atitudes de um povo. 
Aqui o conceito de cultura se intelectualiza, torna-se abstrato” (GOMES, 2008, p. 35). Essa visão 
entende a cultura como uma espécie de estrutura – ou sistema – inconsciente, sendo responsável 
pelo comportamento e pensamento de um povo.
 Lembrete
Estrutura, sistema, modelo, padrão... Estamos diante de um exemplo da 
influência do estruturalismo nos estudos de cultura, assim como vimos há 
pouco na antropologia.
A cultura também pode ser considerada como algo simplesmente que dá sentido a todos os 
aspectos da vida social de um determinado povo. Ela seria, ao mesmo tempo, valores, comportamentos, 
pensamentos, atos políticos ou econômicos, religião, artes... enfim, o pano de fundo para todas as ações 
de uma coletividade.
Por fim, podemos também compreender a cultura de uma forma mais genérica: “tudo aquilo que 
o homem vivencia, realiza, adquire e transmite por meio da linguagem” (GOMES, 2008, p. 35). Essa 
definição é uma das primeiras que os estudiosos da cultura cunharam no século XIX.
Quantas concepções! E quantos exemplos brasileiros! 
Ao mesmo tempo, chamamos atenção para uma coisa: todos são construções sociais. Além disso, 
nenhum deles abarca 100% dos hábitos sociais e não explica precisamente como as coisas são. 
É justamente por isso que os profissionais das relações internacionais têm que estar aptos a 
compreenderem a importância da cultura na maioria das concepções possíveis.
Figura 7 – Meninas africanas
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ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Como vimos, existem muitos sentidos do termo cultura. Entretanto, para que possamos compreender 
sua importância para as relações internacionais, devemos estudar as conceituações de cultura e, 
obviamente, seus impactos nas dinâmicas de nossa profissão.
Segundo Laraia (2009), o fascínio pelo outro já aparece no filósofo grego Herótodo – embora os 
gregos fossem uma sociedade fechada, como vimos anteriormente. Aparece também nos relatos de 
Marco Polo e até do padre José de Anchieta. Todos eles ficaram instigados pelos hábitos diferentes dos 
seus após o contato com o outro.
Embora seja importante compreender um panorama histórico do conceito de cultura, nas relações 
sociais contemporâneas – aqui incluídas também as relações entre nações – esse conceito é evidente.
Um exemplo é o trânsito na Inglaterra, onde as vias seguem uma lógica oposta à nossa. Podemos 
falar de hábitos alimentares, como o não consumo de carne de vaca na Índia ou a proibição do consumo 
de carne de porco entre judeus e muçulmanos, dentre tantas incontáveis possibilidades.
Entretanto, vale nossa reflexão para um fato determinante sobre a importância da cultura para os 
estudos sociais: ela rompe com o determinismo biológico, isto é, “os antropólogos estão totalmente 
convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais” (LARAIA, 
2009, p. 11). É exatamente por isso que elucidamos anteriormente que cultura não é inata. A pessoa não 
nasce com ela, não é um fator biológico.
Em outras palavras, se transportarmos para o Brasil, logo após o seu 
nascimento, uma criança sueca e a colocarmos sob os cuidados de uma 
família sertaneja, ela crescerá como tal e não se diferenciará mentalmente 
em nada de seu irmãos de criação. Ou ainda, se retirarmos uma criança 
xinguana de seu meio e a educarmos como filha de uma família de alta classe 
média de Ipanema, o mesmo acontecerá: ela terá as mesmas oportunidades 
de desenvolvimento que os seus novos irmãos (LARAIA, 2009, p. 14).
 Observação
Vale ressaltar que, embora haja uma ruptura com a biologia, os 
estudos sobre cultura não negam a importância dessa ciência, pois somos 
a mesma espécie.
Assim, o papel da cultura ganha mais importância ainda para os estudos antropológicos e para as 
relações internacionais. Um bom exemplo disso está no fato de que até pouco tempo atrás “a carreira 
diplomática, o quadro de funcionários do Banco do Brasil, entre outros exemplos, eram atividades 
exclusivamente masculinas” (LARAIA, 2009, p. 14). Na complexidade atual das relações sociais, 
compreender a dimensão da cultura é fator determinante no sucesso profissional.
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Unidade I
Entre o final do século XIX e o início do XX surgiram algumas teorias sobre a cultura embasadas 
no princípio do determinismo geográfico. Essa corrente de pensamento que norteou alguns 
pesquisadores apega-se ao fato de que as diferenças físicas do ambiente em que uma sociedade 
está inserida afetam a diversidade cultural. 
Porém, a partir da década de 1920, outros antropólogos refutaram essa ideia afirmando que o 
ambiente influencia até determinado ponto, pois existe uma limitação da influência da geografia sobre 
aspectos culturais. E eles justificam sua posição no fato de que é possível existirem várias culturas em 
um mesmo ambiente físico. Ademais, as tecnologias que o ser humano vem desenvolvendo ao longo de 
sua história também contribuem para que superemos dificuldades geográficas.
As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas 
em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico 
ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi 
a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de 
insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no 
mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou 
membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos 
outros animais por ser o único que possui cultura (LARAIA, 2009, p. 16).
Mas o que é essa tal cultura? E como surge sua conceituação?
Para respondermos essas questões, é necessário entender os antecedentes do termo, pois foi a partir 
deles que o conceito foi cunhado.
Segundo Laraia (2009), o termo culturafoi cunhado pela primeira vez, em inglês (culture), por 
Tylor, em meados do século XVIII. Ele abarcou nesse termo a significação da palavra alemã kultur, que 
designava os aspectos espirituais de uma sociedade, com o termo francês civilization, que se referia às 
realizações de um povo, mas no âmbito material. Assim, Tylor acoplava em uma única palavra os termos 
que designavam as possibilidades da realização humana – material e espiritual –, contrapondo a ideia 
de inatismo.
Entretanto, vale ressaltar que Tylor não foi o inventor do termo, mas sim o sistematizador. O termo 
já estava presente, embora sem uma definição, desde os pensamentos de Locke, na transição dos séculos 
XVII para o XVIII, como também já poderia ser percebido em Turgot e Rousseau no século XVIII.
No decorrer da história, principalmente no século XX, o termo foi ganhando outras definições. 
Com tantas variações, a confusão sobre os estudos da cultura aumentou. É por isso que Geertz 
(2013) chega a afirmar que era necessária uma definição mais específica para que os estudos 
possam evoluir.
Assim, a definição de cultura que defende o autor é semiótica. O autor adota uma postura weberiana, 
acreditando que o ser humano é um “animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, 
assumo cultura como sendo essas teias e a sua análise” (GEERTZ, 2013, p. 4).
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ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
 Observação
Semiótica é a ciência dos modos de produção, de funcionamento e de 
recepção dos diferentes sistemas de sinais de comunicação entre indivíduos 
ou coletividades. 
Nessa perspectiva, a cultura é uma ciência interpretativa que tem por meta procurar os significados 
das relações humanas, diferenciando de outros campos do saber que entendem a cultura como um 
objeto passível de ser analisado em leis.
Ademais, na perspectiva da semiótica, analisar a cultura é uma forma de acessar o mundo conceitual, 
onde vivem os sujeitos culturais. Assim, seria uma forma de superar a dificuldade em acessar um 
universo de ação simbólica não familiar ao pesquisador, suavizando o dilema da vontade de aprender e 
a necessidade de analisar.
Contudo, mesmo entre a definição de Taylor e as inquietações de Geertz (2013), temos algo em 
comum: a cultura é específica do ser humano. O que diferencia nós de outras espécies é a “capacidade 
de fabricação de instrumentos, capazes de tornar mais eficiente o seu aparato biológico” (LARAIA, 2009, 
p. 23). E essa capacidade fez com que nos tornássemos os únicos animais a possuir cultura.
A primeira definição cunhada por Taylor no século XVIII trazia consigo uma relação de causa e 
efeito. Para ele, a cultura era um objeto que precisava ser estudado de forma sistemática, pois 
era um fenômeno natural que possuía causas – e, consequentemente, efeitos – e regularidade. 
Somente dessa forma seria possível um estudo objetivo capaz de formular leis sobre o processo de 
evolução e aculturação.
Trata-se de um viés evolucionista. Note o uso dos termos fenômeno natural e evolução. É por isso que 
Taylor vai amplamente buscar subsídio também nas ciências naturais. Para esse autor, a desigualdade 
seria oriunda de estágios diferentes na evolução das sociedades, pois os seres humanos compõem uma 
mesma espécie.
Já Kroeber, na transição do século XIX para o XX, faz uma interpretação interessante. Ele dimensiona 
o que seria uma espécie de equilíbrio entre o lado biológico e o lado cultural. Não é possível negar o fato 
de que o ser humano é da ordem dos primatas e que para sobreviver é necessário coisas vitais como se 
alimentar, respirar e dormir. Porém, a sacada do autor está no fato de perceber que, embora questões 
vitais sejam comuns nos seres humanos em todas as sociedades, cada uma faz de uma maneira, de acordo 
com a sua cultura. Assim, a grande variedade de formas em se fazer as coisas vitais é quantitativamente 
maior do que as próprias necessidades.
É esta grande variedade na operação de um número tão pequeno de funções 
que faz com que o homem seja considerado um ser predominantemente 
cultural. Os seus comportamentos não são biologicamente determinados. 
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Unidade I
A sua herança genética nada tem a ver com as suas ações e pensamentos, pois 
todos os seus atos dependem inteiramente de um processo de aprendizado 
(LARAIA, 2009, p. 28).
Podemos perceber uma relação intrínseca entre cultura e questões biológicas. Assim como na 
antropologia, o conceito de cultura também está no centro de dilemas acadêmicos e também pode 
fazer parte de dilemas do cotidiano. Quer ver só?
É muito comum, em nosso cotidiano, associarmos a destreza de uma pessoa a um talento inato. 
Imaginemos um grande violinista. Logo após a beleza da peça executada por ele é fácil dizermos “ele é 
muito talentoso”, por exemplo. Quando afirmamos isso, afirmamos quase que magicamente a ideia de 
que ele nasceu com algo que as outras pessoas não nasceram. 
Claro que nem todos tocam violino, mas será mesmo que essa pessoa nasceu com essa aptidão?
O que temos de fazer é tomar cuidado com o outro lado que esse pensamento pode trazer. Ele pode 
se tornar, acima de tudo, uma explicação que remete à discriminação, tanto social como racial, no 
intuito de se justificar diferenças sociais. 
Pergunta: se esse gênio do violino tivesse nascido em uma cultura na qual o campo da música contasse 
somente com instrumentos rítmicos, ele seria o gênio do violino sem o contato com o instrumento?
Pode parecer um exemplo até banal, mas esse pensamento que atribui os feitos sociais a uma 
“determinação genética” já justificou coisas como a escravidão e até mesmo a nomeação de pessoas de 
dinastias antigas ou de grandes empresas e companhias para cargos especiais.
O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um 
herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento 
e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam. 
A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as 
inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de 
um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade (LARAIA, 
2009, p. 34).
É por isso que, para Laraia (2009), não é suficiente que a natureza crie seres humanos muito 
inteligentes, mesmo porque ela já faz isso. Porém, é necessário que esses indivíduos tenham ao seu 
alcance material e possibilidade para que possam exercer sua criatividade. Além do mais, não precisamos 
nem dizer sobre o exemplo que, acima de tudo, é necessário muito estudo.
Portanto, podemos pensar a cultura em diferentes aspectos. O primeiro deles se deve ao fato de que 
a cultura é determinante no comportamento do ser humano e justifica nossas ações, muito mais do 
que a genética. Assim, o ser humano age de acordo com determinados padrões culturais.
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ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
A cultura também é responsável pela adaptabilidade do ser humano em diferentes ambientes. 
Vemos isso no fato de que somos capazes de nos adaptar a um ambiente sem que mudemos nosso 
aparato biológico.
É por isso que os estudiosos da cultura afirmam que o ser humano foi o único animal capaz de 
superar as diferenças ambientais, sendo uma espécie presente em praticamente todos os ambientes do 
planeta. Isso contraria o determinismo geográfico.
Enquanto o urso polar não pode mudar de seu ambiente, pois não suportaria 
um grande aumento de temperatura, um esquimó pode transferir-se de sua 
região gelada para um país tropical e em pouco tempo estaria adaptado 
ao mesmo, bastando apenas trocar o seu equipamento cultural pelo 
desenvolvido no novo hábitat. Ao invés de um iglu capaz de conservar 
as menores parcelas de calor, preferiria, então, ocupar um apartamento 
refrigerado, ao mesmo tempo em que trocaria suas pesadas vestimentas por 
roupas muito leves ou quase inexistentes (LARAIA, 2009, p. 33).
Contudo, essa concepção da cultura admite que o ser humano depende, assim, muito mais do 
aprendizado que adquire do que de atitudes instintivas, sem negar as

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