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DIREITO PENAL PARTE GERAL

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DIREITO PENAL – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
 
Conceito¹- De acordo com o autor José Frederico Mar-
ques, o Direito Penal “é o conjunto de normas que ligam 
ao crime, como fato, a pena como consequência, e disci-
plinam também as relações jurídicas daí derivadas, para 
estabelecer a aplicabilidade de medidas de segurança e a 
tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do 
Estado”. 
 
Conceito²- Conjunto de normas jurídicas que tem por 
objeto a determinação de infrações de natureza penal e 
suas sanções correspondentes – penas e medidas de 
segurança. (Cezar Bitencourt, p. 2). 
 
Conceito ³- É o segmento do ordenamento jurídico que 
detém a função de selecionar os comportamentos huma-
nos mais graves e perniciosos à coletividade, capazes de 
colocar em risco valores fundamentais para a convivência 
social, e descrevê-los como infrações penais, cominando-
lhes, em consequência, as respectivas sanções, além de 
estabelecer todas as regras complementares e gerais 
necessárias à sua correta e justa aplicação. (Fernando 
Capez, pág. 19, 2010). 
 
Direito Penal é o ramo do direito público que se destina a 
combater os crimes e as contravenções penais, através 
da imposição de uma sanção penal. Aqui, surge um pri-
meiro questionamento importantíssimo: 
 
QUAL A DIFERENÇA ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO? 
 
CRIME X CONTRAVENÇÃO 
 
Para encontrar a diferenciação entre estes dois termos 
tão utilizados, devemos recorrer à Lei de Introdução ao 
Código Penal, que dispõe em seu artigo 1º: 
 
Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei co-
mina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, 
quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; 
contravenção, a infração penal a que a lei comina, isolada-
mente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alter-
nativa ou cumulativamente. 
 
Logo, do exposto, podemos resumir: 
 CRIME- Pena de reclusão ou detenção (isoladamente, 
alternativa ou cumulativamente ou não com multa). 
 CONTRAVENÇÃO - Isoladamente prisão simples, prisão 
simples + multa, ou apenas multa. 
 
RECLUSÃO x DETENÇÃO x PRISÃO SIMPLES – 
 
Na prática, não existe hoje diferença essencial entre re-
clusão e detenção. A lei, porém, usa esses termos como 
índices ou critérios para a determinação dos regimes de 
cumprimento de pena. 
 
 Na Reclusão, a pena é cumprida em regime fechado, 
semiaberto ou aberto. 
 Na Detenção, cumpre-se em regime semiaberto ou 
aberto, salvo a hipótese de transferência excepcional 
para o regime fechado. 
 A Prisão Simples é prevista para as contravenções 
penais e não para crimes. Pode ser cumprida nos re-
gimes semiaberto ou aberto, não sendo cabível o re-
gime fechado. 
N o 
Dizemos que o Direito Penal é um ramo do direito público 
por ser composto de regras aplicáveis a todas as pessoas 
e por ter como titular exclusivo do direito de punir o ES-
TADO. 
 
CONCEITO FORMAL e MATERIAL DE DIREITO PENAL- 
 
Formalmente, o Direito Penal se caracteriza pelo conjunto 
de NORMAS (tipo penal incriminador) que descrevem 
condutas (ações ou omissões) criminosas e seus efeitos 
jurídicos. 
 
Materialmente, o Direito Penal se caracteriza pelas condu-
tas reprováveis que afetam os bens jurídicos indispensá-
veis à sociedade, e portanto, passível de sansão penal. 
 
Sob o enfoque Sociológico, Direito Penal é mais um ins-
trumento de controle social de comportamentos desvia-
dos, visando assegurar a necessária disciplina social. 
 
O conceito ANALÍTICO leva em conta os elementos do 
crime. Ele depende da teoria adotada. Vejamos: 
 
 Para a Teoria CCausalista, o crime é fato típico + ilícito 
+ culpável. Para esta teoria, o dolo e culpa estão na 
CCULPABILIDADE. 
 Para teoria Finalista, o crime é fato típico + ilícito + 
culpável. Para esta teoria, o dolo e culpa estão na TI-
PICIDADE. 
 Para Teoria Finalista Dissidente, o crime é composto 
de Fato típico + Ilicitude. Para esta teoria, o dolo e cul-
pa estão na TIPICIDADE. 
 
 
 
O Direito Penal é um dos ramos do direito, se diferencian-
do dos demais por sua consequência jurídica mais drásti-
ca, devendo ser utilizado como última razão. Somente se 
socorre ao direito penal, quando outros ramos do direito 
forem ineficazes para pacificação social. Ele não age no 
mesmo tempo, aguardando a atuação dos demais. 
 
FUNÇÃO DO DIREITO PENAL- 
 
A doutrina moderna discute qual é a função do Direito 
Penal, nascendo, assim, o movimento do funcionalismo. O 
funcionalismo se divide em duas escolas: 
 
a) funcionalismo teleológico; 
b) funcionalismo sistêmico ou radical. 
 
Funcionalismo teleológico ou racional (Roxin) - A função 
do direito penal é assegurar bens jurídicos indispensáveis, 
valendo-se das medidas de política criminal. Ele se vale 
de princípios positivados ou não, de política criminal, e, 
consequentemente, concorda com o princípio da insigni-
ficância (ex: furto de caneta é irrelevante). 
 
Funcionalismo radical ou sistêmico (Jakobs)- 
 
A função do direito penal é resguardar o sistema, a norma 
e o direito posto (o império da lei). Os sistêmicos não 
admitem princípios não-positivados, visto que não se 
encontram no ordenamento jurídico. Desse modo, não 
adotam o princípio da insignificância, pois se preocupam 
com a aplicação da norma, e não com o bem jurídico tute-
lado. 
 
No furto de uma caneta, para Roxin, há irrelevância desta 
ação, se valendo de medidas de política criminal. Não 
prejudica de maneira intolerável o bem jurídico, logo, não 
é função do direito penal resguardar bens jurídicos irrele-
vantes. 
 
Para Jakobs, o agente que furta um veículo ou uma cane-
ta, está ferindo o sistema da mesma forma. Ao ferir o 
sistema, o agente torna-se inimigo do sistema. Por isso é 
denominado DIREITO PENAL DO INIMIGO. 
 
Damásio de Jesus, no artigo intitulado “Direito penal do 
inimigo. Breves considerações”, assim destaca o conceito 
de inimigo para Jakobs, as características do Direito Pe-
nal do Inimigo e as críticas a esta corrente: 
 
Inimigo é todo aquele que reincide persistentemente na 
prática de delitos ou que comete crimes que ponham em 
risco a própria existência do Estado, apontando como 
exemplo maior a figura do terrorista. 
 
 
Aquele que se recusa a entrar num estado de cidadania 
não pode usufruir das prerrogativas inerentes ao conceito 
de pessoa. Se um indivíduo age dessa forma, não pode 
ser visto como alguém que cometeu um "erro", mas como 
aquele que deve ser impedido de destruir o ordenamento 
jurídico, mediante coação. 
 
 CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL DO INIMIGO 
 
De acordo com Jakobs, são as seguintes: 
 
1. Seu objetivo não é a garantia da vigência da norma, 
mas a eliminação de um perigo; 
 
Entre nós, o regime disciplinar diferenciado, previsto nos 
arts. 52 da Lei de Execução Penal, projeta-se nitidamente 
à eliminação de perigos. 
 
2. A punibilidade avança em boa parte para a incrimina-
ção de atos preparatórios; 
 
Inspirando-se num exemplo de Jakobs, pode-se notar 
essa tendência no Brasil, onde uma tentativa de homicídio 
simples, que pressupõe atos efetivamente executórios, 
pode vir a ser punida de modo mais brando do que a for-
mação de quadrilha para prática de crimes hediondos ou 
assemelhados (art. 8.º da Lei n. 8.072, de 1990), na qual 
se tem a incriminação de atos tipicamente preparatórios. 
 
3. A sanção penal, baseada numa reação a um fato pas-
sado, projeta-se também no sentido da segurança con-
tra fatos futuros, o que importa aumento de penas e 
utilização de medidas de segurança. O aumento de 
penas tem sido recurso frequente em nosso País. 
 
Exemplos: Lei dos Crimes Hediondos, Lei de Lavagem de 
Capitais e Lei n. 9.677, de 1998, que dispõe sobre falsifi-
cação de produtos alimentícios ou medicinais. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL DO INIMIGO 
 
No campo do processo penal também se mostram refle-
xos da concepção do indivíduo como "inimigo": 
 
1. A prisão preventiva, medida cautelar utilizada no curso 
de um processo, funda-se no combate a um perigo (de 
fuga, de cometimento de outros crimes, de alteraçãodas provas etc.); 
 
2. Medidas processuais restritivas de liberdades funda-
mentais, como a interceptação das comunicações te-
lefônicas, cuja produção se dá sem a comunicação 
prévia ao investigado ou acusado, e a gravação ambi-
ental; 
 
 
 
3. Possibilidade de decretação da incomunicabilidade de 
presos perigosos etc. 
 
As críticas de Cancio Meliá ao Direito Penal do Inimigo 
podem assim ser sintetizadas: 
 
a. O Direito Penal do Inimigo ofende a Constituição, pois 
esta não admite que alguém seja tratado pelo Direito 
como mero objeto de coação, despido de sua condição 
de pessoa (ou de sujeito de direitos). 
 
b. O modelo decorrente do Direito Penal do Inimigo não 
cumpre sua promessa de eficácia, uma vez que as leis 
que incorporam suas características não têm reduzido 
a criminalidade. 
 
c. O fato de haver leis penais que adotam princípios do 
Direito Penal do Inimigo não significa que ele possa 
existir conceitualmente, i.e., como uma categoria váli-
da dentro de um sistema jurídico. 
 
d. Os chamados "inimigos" não possuem a "especial pe-
riculosidade" apregoada pelos defensores do Direito 
Penal do Inimigo, no sentido de praticarem atos que 
põem em xeque a existência do Estado. O risco que 
esses "inimigos" produzem dá-se mais no plano simbó-
lico do que no real. 
 
e. A melhor forma de reagir contra o "inimigo" e confirmar 
a vigência do ordenamento jurídico é demonstrar que, 
independentemente da gravidade do ato praticado, ja-
mais se abandonarão os princípios e as regras jurídi-
cas, inclusive em face do autor, que continuará sendo 
tratado como pessoa (ou "cidadão"). 
 
f. O Direito Penal do Inimigo, ao retroceder excessiva-
mente na punição de determinados comportamentos, 
contraria um dos princípios basilares do Direito Penal: 
o princípio do DIREITO PENAL DO FATO, segundo o 
qual não podem ser incriminados simples pensamen-
tos (ou a "atitude interna" do autor). 
 
No DIREITO PENAL DO FATO, adotado pelo BRASIL, pune-
se a conduta praticada pelo agente, independentemente 
de sua personalidade. 
 
 OBJETO DO DIREITO PENAL 
 
O Direito Penal dirige seus comandos legais ao homem, 
pois somente este é capaz de executar ações com cons-
ciência do fim. 
 
O âmbito da normatividade jurídico-penal limita-se às 
atividades finais humanas. 
 
OBJETO JURÍDICO é o bem ou o interesse protegido pela 
norma penal. 
 
OBJETO MATERIAL É A COISA sobre a qual recai a ação 
do agente, podendo tratar-se tanto de um bem material 
como de uma pessoa no sentido corporal. 
 
Os bens protegidos pelo Direito Penal não interessam 
exclusivamente ao indivíduo, e sim à sociedade como um 
todo. A relação entre criminoso e vítima é secundária, 
pois esta não tem o direito de punir. 
 
Finalidade Preventiva: as normas penais visam evitar a 
prática dos crimes. 
 
Falhando a função motivadora (motivar o indivíduo a não 
se afastar da ordem jurídica), a prevenção genérica, desti-
nada a todos, torna-se uma realidade em relação ao infra-
tor, caracterizando a PREVENÇÃO ESPECIAL (manifesta-
ção do caráter coercitivo do Direito Penal). 
 
Classificação do Direito Penal em OBJETIVO e SUBJETI-
VO: 
 
a) Direito Penal Objetivo: é o conjunto de leis penais em 
vigor no país (ex: Código Penal). 
b) Direito Penal Subjetivo: é o direito de punir do Estado. 
 
Objetivamente, o Direito Penal se caracteriza pelo conjun-
to de normas que definem os delitos e cominam as res-
pectivas sanções. 
 
Subjetivamente, é o direito do Estado de aplicar a tutela 
penal. O Estado, como ente dotado de SOBERANIA, de-
tém, exclusivamente, o direito de punir (jus puniendi). 
Esta classificação carece de qualquer utilização prática, 
pois ambos se complementam, não existindo separada-
mente. O direito penal objetivo é expressão (se expressa) 
ou emanação do direito penal subjetivo. 
 
LIMITES AO DIREITO DE PUNIR: 
 
a) LIMITE TEMPORAL: exemplo clássico é a prescrição. 
Há duas exceções (imprescritíveis), que são o crime de 
racismo e a atividade de grupo armado, civil ou militar, 
contra o Estado Democrático e a ordem constitucional 
(conforme art. 5.º, XLII e XLIV, CF/88). 
 
b) LIMITE ESPACIAL: princípio da territorialidade (art. 5º 
do CP), pois em regra, somente se punem fatos ocorri-
dos no território nacional. 
 
c) LIMITAÇÃO MODAL (LIMITE QUANTO AO MODO): prin-
cípio da Dignidade da pessoa humana ou humaniza-
ção das penas. Este limite não pode encontrar exce-
ções. 
 
 
A ação penal privada não é exceção ao direito de punir do 
Estado, uma vez que ao ofendido se transfere apenas a 
PERSECUÇÃO (ou perseguição) PENAL, e não efetivamen-
te o direito de punir. 
 
O direito de punir é monopólio Estatal. Excepcionalmente, 
permite-se a aplicação de sanções penais pelos grupos 
tribais (índios), desde que respeitado o princípio da digni-
dade da pessoa humana, proibido em qualquer caso pena 
de caráter cruel ou infamante, ou pena de morte (art. 57 
da Lei 6.001/73 - Estatuto do Índio). É o Estado respeitan-
do os costumes e a cultura indígenas. 
 
O Estado, como ente dotado de soberania, detém, exclusi-
vamente, o direito de punir (jus puniendi). Tratando-se de 
manifestação de poder soberano, esse direito é exclusivo 
e indelegável. Mesmo na ação penal de iniciativa privada, 
o particular possui apenas a prerrogativa de dar início ao 
processo, por meio da queixa. O jus puniendi, no entanto, 
continua com o Estado, tanto que é possível a ele conce-
der anistia em crime de ação privada (ora, só quem detém 
o jus puniendi pode a ele renunciar). Esse direito existe 
abstratamente, independentemente de vir a ser praticada 
a infração penal, se impõe a todos, indistintamente. O 
Estado não tem o poder de punir fulano ou beltrano, mas 
simplesmente tem o poder de punir (qualquer eventual 
infrator). 
 
No momento em que um crime é praticado, esse direito 
abstrato e impessoal concretiza-se e volta-se especifica-
mente contra o delinquente. Nesse instante, de direito 
passa a pretensão. 
 
Pretensão é a disposição de submeter um interesse 
alheio a um interesse próprio. O Estado passa a ter o inte-
resse de submeter o direito de liberdade daquele crimino-
so ao seu direito de punição. Surge uma relação jurídico-
punitiva com o delinquente, pela qual o direito de punir sai 
do plano abstrato e se concretiza, voltando-se contra o 
autor da infração penal. Essa pretensão individual e con-
creta, na qual o direito abstrato se transformou, denomi-
na-se punibilidade. Punibilidade é a possibilidade de efeti-
vação concreta da pretensão punitiva. 
 
O direito de punir é, portanto, uma manifestação da sobe-
rania de um Estado, consistente na prerrogativa, in abs-
tracto, de se impor coativamente a qualquer pessoa que 
venha a cometer alguma infração penal, desrespeitando a 
ordem jurídica vigente e colocando em perigo a paz soci-
al. A Pretensão Punitiva, disposição concreta que surge 
para o Estado, consiste em submeter alguém que efeti-
vamente praticou uma infração penal a uma punição pre-
vista em lei. (CAPEZ, Fernando. Execução penal simplifi-
cado. 14. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011). 
 
 
 OBS: 
 
O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL, de que o Brasil é 
Estado-parte, não é uma exceção ao monopólio estatal 
do direito de punir. 
 
O Tribunal Penal Internacional tem competência subsi-
diária em relação às jurisdições nacionais de seus Esta-
dos-partes. Consagrou-se o Princípio da Complementari-
dade, isto é, o Tribunal Penal Internacional não pode 
intervir indevidamente nos sistemas judiciais nacionais, 
salvo nos casos em que os Estados se mostrem incapa-
zes ou não demonstrem efetiva vontade de punir os seus 
criminosos (resumo: intervém somente se e quando a 
justiça repressiva interna não funcione). 
 
FONTES DO DIREITO PENAL 
 
Quando se fala em fonte, fala-se em origem jurídica (de 
onde vem e como se revela) o Direito Penal. 
 
FONTE MATERIAL, DE PRODUÇÃO, SUBSTANCIAL OU DE 
CRIAÇÃO se preocupa com o órgão encarregado da cria-
ção do Direito Penal. Em regra, somente a União está au-
torizada a criaro Direito Penal (art. 22 da CF). É compe-
tente de forma privativa (e não exclusiva) para elaboração 
da lei penal. Assim, a União poderá, por meio de lei com-
plementar, autorizar os Estados-membros a legislar sobre 
questões específicas de interesse local (art. 22, p. único, 
da CF). A fonte material do Direito Penal, portanto, é o 
Estado, já que compete à UNIÃO legislar sobre matéria 
penal. 
 
FONTE FORMAL, DE COGNIÇÃO OU DE CONHECIMENTO 
(VEÍCULOS DE REVELAÇÃO DAS NORMAS PENAIS) é o 
processo de exteriorização da fonte material. É meio de 
revelar o direito penal criado. É fonte de conhecimento. A 
fonte FORMAL, por sua vez, pode ser: 
 
- IMEDIATA: Lei – é a norma penal que descreve a con-
duta e a pena cominada; 
 
- MEDIATA: costumes e princípios gerais do direito. 
Devem ser aplicados com bastante cautela, em face 
do princípio da reserva legal. 
 
Doutrina clássica Doutrina Moderna 
- Fonte material: União 
 
- Fonte formal imediata: 
Lei. 
 
- Fonte formal mediata: 
Princípios Gerais do 
Direito e Costumes. 
- Fonte material: União 
 
- Fonte formal imediata: 
- Lei (única capaz de criar infra-
ção penal), 
- CF, 
- Tratado Internacional de Direi-
tos Humanos 
 
 
 
- Jurisprudência (ex.: art. 71, CP: 
“condição de tempo”, a jurispru-
dência diz que é de 30 dias) 
- Complemento de norma penal 
em branco 
- Princípios Gerais de Direito (o 
STF declara inconstitucionali-
dade de lei baseado em PGD) 
- Fonte formal mediata: Doutrina 
 
Obs: Costume é fonte informal de 
direito e PGD foram transferidos 
para fonte imediata. 
 
Se o tratado internacional de direitos humanos foi ratifi-
cado antes da EC 45/2004, terá status de norma supra-
legal. Se for ratificado depois da EC 45/2004 terá status 
de norma constitucional, desde que tenha quórum de EC 
(3/5 dos votos); e de norma supra-legal, quando aprovada 
por maioria simples. 
 
O conceito de drogas tem previsão na portaria do SUS, 
que traz o rol das substâncias entorpecentes. Desse mo-
do, se tem os atos administrativos como fonte formal 
imediata, já que, neste caso, são complementos de norma 
penal em branco. 
 
 COSTUMES: 
 
Costumes são comportamentos uniformes e constantes 
pela convicção de sua obrigatoriedade e necessidade 
jurídica. 
 
Espécies de costume: incriminador, revogador (abolicio-
nista) e interpretativo. 
 
Não se admite o costume incriminador, pois somente lei 
cria crime e comina pena (princípio da legalidade) (art. 1º, 
CP). Exclui-se o direito consuetudinário para fundamenta-
ção ou agravação da pena. Não se admite o COSTUME 
INCRIMINADOR, pois somente LEI cria CRIME e comina 
PENA (princípio da LEGALIDADE). 
 
NO QUE TANGE AO COSTUME REVOGADOR (ABOLICIO-
NISTA) HÁ TRÊS CORRENTES: 
 
1ª) É possível, aplicado nos casos em que a infração penal 
não mais contraria o interesse social. Para essa cor-
rente, a contravenção penal de jogo do bicho foi revo-
gada. 
 
2ª) Não existe costume abolicionista, mas quando o fato 
já não é mais indesejado pelo meio social, a lei não de-
ve ser aplicada. Para essa corrente, a contravenção 
penal de jogo do bicho não foi revogada, mas não será 
aplicada. 
3ª) Não existe costume abolicionista. Enquanto não revo-
gada por outra lei, a lei será aplicada. Para essa cor-
rente o costume não revoga infração penal, tendo em 
vista que a LICC (aplicável ao Direito Penal) dispõe que 
uma lei terá vigor até que outra lei a modifique ou re-
vogue (art. 2º). Essa corrente é a prevalecente 
 
O adultério não é exemplo de costume que revogou a lei, 
pois foi revogado pela teoria penal de intervenção míni-
ma. 
 
O costume interpretativo é admitido. Presta-se para inter-
pretar ou aclarar o significado das expressões. (ex.: re-
pouso noturno previsto no art. 155, p. 1º, do CP: período 
que a comunidade costumeiramente se recolhe para o 
descanso diário). 
 
 PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 
 
Segundo o doutrinador Celso Antônio Bandeira de Mello: 
“Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um 
sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental 
que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o 
espírito e servindo de critério para a sua exata compreen-
são e inteligência, exatamente por definir a lógica e a ra-
cionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a 
tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos 
princípios que preside a intelecção das diferentes partes 
componentes do todo unitário que há por nome sistema 
jurídico positivo". Vamos, a partir de agora, analisar os 
princípios do Direito Penal que serão importantes para a 
sua PROVA: 
 
01) PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL: 
 
Uma das características de vital importância do Direito 
Penal brasileiro é o chamado princípio da reserva legal, o 
qual encontra previsão não só no art. 1º, do Código Penal, 
mas também na Constituição Federal. Observe: 
 
Art. 5º [...] 
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem 
pena sem prévia cominação legal; 
 
O princípio da reserva legal não é sinônimo do princípio da 
legalidade, senão espécie. A doutrina não raro confunde 
ou não distingue suficientemente o princípio da legalida-
de e o da reserva de lei. O princípio da reserva legal signi-
fica a submissão e o respeito à lei, ou a atuação dentro da 
esfera estabelecida pelo legislador. O segundo consiste 
em estatuir que a regulamentação de determinadas maté-
rias devem ser feitas, necessariamente, por lei formal. 
 
Segundo o Professor DAMÁSIO E. DE JESUS: 
 
 
 
"(...) O princípio da ou de reserva legal tem significado 
político, no sentido de ser uma garantia constitucional 
dos direitos do homem. 
 
Constitui a garantia fundamental da liberdade civil, que 
não consiste em fazer tudo o que se quer, mas somente 
aquilo que a lei permite. À lei e somente a ela compete 
fixar as limitações que destacam a atividade criminosa da 
atividade legítima. Esta é a condição de segurança e li-
berdade individual. (...) Assim, não há crime sem que, 
antes de sua prática, haja uma lei descrevendo-o como 
fato punível. É lícita, pois, qualquer conduta que não se 
encontre definida em lei penal incriminadora.” 
 
02) PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE: 
 
Este princípio tem base no já citado art. 5º, XXXIX, da 
Carta Magna e estabelece a necessidade de que o CRIME 
e a PENA estejam PREVIAMENTE definidos em LEI. Aqui 
cabe um importante questionamento: Durante o chamado 
“vacatio legis”, período entre a publicação da lei e a sua 
entrada em vigor, já pode um indivíduo ser punido? 
 
A resposta é negativa, e para o nosso curso lembre-se 
sempre de que: 
 
Lei penal produz efeitos a partir de sua entrada em vigor. 
não pode retroagir, salvo se beneficiar o réu. 
 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA -Este princípio surgiu 
com a ideia de afastar da esfera do Direito Penal situa-
ções com pouca significância para a sociedade. Observe 
um pronunciamento do STF sobre o tema: 
 
STF - HC 92961/SP – DJe 07/02/2008- A mínima ofen-
sividade da conduta, a ausência de periculosidade social 
da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do compor-
tamento e a inexpressividade da lesão jurídica constitu-
em os requisitos de ordem objetiva autorizadores da 
aplicação do princípio da insignificância. 
 
Mas e se, por exemplo, Felipe furta um grão de arroz de 
Caio, podemos afirmar que o princípio será aplicado e, 
portanto, a tipicidade afastada? 
 
A resposta é negativa, pois o simples fato de um objeto 
ter um reduzido valor patrimonial não quer dizer que ele 
não é importante para quem o detém. Explico: Imagine 
que o supracitado grão de arroz tenha sido dado a Caio 
por um parente próximo, poucos instantes antes de mor-
rer. Não será valioso para ele? 
 
Ok, grão de arroz no leito de morte... 
 
 
Realmente peguei pesado, mas acho que agora você não 
esquece mais que a o pequeno valor do objeto do furto 
não se traduz, automaticamente, na aplicação do princí-
pio da insignificância!!! 
 
Vamos ver o que diz o STJ sobre o tema: 
 
Para finalizar este importante princípio, é importante res-
saltar que,obviamente, ele não se aplica só aos delitos 
contra o patrimônio, mas A QUALQUER CRIME. Durante o 
curso voltaremos a tratar deste tema. 
 
STJ - HC 60949 PE – DJ 17.12.2007 
HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. FURTO DE PULSOS 
TELEFÔNICOS. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNI-
FICÂNCIA. POSSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 
 
1. O pequeno valor da res furtiva (objeto do furto) não se 
traduz, automaticamente, na aplicação do princípio 
da insignificância. Há que se conjugar a importância 
do objeto material para a vítima, levando-se em con-
sideração a sua condição econômica, o valor senti-
mental do bem, como também as circunstâncias e o 
resultado do crime, tudo de modo a determinar, sub-
jetivamente, se houve relevante lesão. Precedente 
desta Corte. 
2. Consoante se constata dos termos da peça acusató-
ria, a paciente foi flagrada fazendo uma única ligação 
clandestina em telefone público. Assim, o valor da res 
furtiva pode ser considerado ínfimo, a ponto de justi-
ficar a aplicação do Princípio da Insignificância ou da 
Bagatela, ante a falta de justa causa para a ação pe-
nal. 
 
 
03) PRINCÍPIO DA ALTERIDADE: 
 
Este princípio é interessante e de fácil entendimento. Va-
mos compreendê-lo através de um exemplo: 
Imagine que Felipe, após assistir a um jogo de futebol, 
fica desesperado com seu time e começa a bater em seu 
próprio corpo. Felipe poderá ser condenado criminalmen-
te por algo? 
 
A resposta é NÃO, pois, segundo o princípio da alteridade, 
ninguém pode ser punido por causar mal APENAS A SI 
PRÓPRIO. 
 
04) PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA- 
 
Segundo este princípio, o Direito Penal deve ser utilizado 
com muito critério, devendo o legislador fazer uso dele 
SOMENTE nas situações realmente NECESSÁRIAS de 
serem rigidamente tuteladas. Veja como o STF trata o 
assunto: 
 
 
 
STF - HC 92463/RS – DJ 30.10.2007 
[...] 
O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima 
circunstância de que a privação da liberdade e a restri-
ção de direitos do indivíduo somente se justificam quan-
do estritamente necessárias à própria proteção das pes-
soas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes 
sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que 
os valores penalmente tutelados se exponham a dano, 
efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesivi-
dade. O direito penal não se deve ocupar de condutas 
que produzam resultado, cujo desvalor - por não impor-
tar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - 
não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, 
seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integrida-
de da própria ordem social. 
[...] 
 
O direito só deve ser aplicado quando estritamente ne-
cessário, mantendo-se subsidiário e fragmentário. 
 
O direito penal não tem interesse em fatos da natureza, 
somente em fatos humanos. Ademais, não tem interesse 
em qualquer fato humano, apenas nos fatos humanos 
indesejáveis. 
 
Como visto, o direito penal é um dos ramos voltados a 
garantir a pacificação social. Ou seja, serve como instru-
mento para inibir comportamentos humanos desviados 
ou indesejáveis. No entanto, em observância ao princípio 
da intervenção mínima, o direito penal somente esta legi-
timado a agir quando houver o fracasso dos demais ra-
mos do direito, acrescido da relevante lesão ou perigo de 
lesão ao bem jurídico tutelado. 
 
O princípio da intervenção mínima tem como característi-
ca a subsidiariedade e fragmentariedade. Ou seja, só deve 
intervir quando estritamente necessário, mantendo-se 
subsidiário e fragmentário. 
 
No que tange à subsidiariedade, esta norteia a interven-
ção em abstrato, quando os demais ramos do direito fra-
cassarem (ineficazes) no controle social. Deve ser a ulti-
ma ratio, derradeira trincheira no combate ao comporta-
mento humano indesejado. O Direito Penal é subsidiário 
porque tem consequência jurídica mais drástica. 
 
Com relação à fragmentariedade, ela norteia a intervenção 
no caso concreto. Assim, o Direito Penal somente inter-
vém no caso concreto quando presente relevante e intole-
rável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. 
 
Exemplo dado por Rogério: Imagine todos os Direitos 
reunidos, com exceção do Direito Penal, com a finalidade 
de buscar a solução para a subtração de coisa alheia 
móvel. Neste caso, os outros ramos do direito são inefi-
cazes, pois não possuem sanções capazes de inibir esta 
conduta. Em abstrato, o Direito Penal tipifica esta conduta 
como furto (é, então, subsidiário). Ocorre que diante do 
furto de uma caneta bic o Direito Penal não pode intervir 
no caso concreto. Ao selecionar a atuação no caso con-
creto, implicará a fragmentariedade. 
 
05) PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA: 
 
Segundo este princípio, ninguém pode ser responsabiliza-
do por um fato que foi cometido por um terceiro. Tal prin-
cípio tem base constitucional. Veja: 
 
 Art. 5º [...] 
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, 
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do 
perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos 
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do 
patrimônio transferido; 
 
06) Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos: 
 
Impede que o Estado venha a utilizar o Direito Penal para 
a proteção de bens ilegítimos. Ex: não compete ao direito 
penal proteger uma religião, tendo em vista que o Estado 
é laico. 
 
07) P. da insignificância ou bagatela. 
 
Visão dos tribunais - STF e STJ- 
 
Critérios/ requisitos necessários para configuração do 
delito de bagatela (princípio da insignificância) no enten-
dimento de ambos os tribunais supramencionados: 
 
a) conduta minimamente ofensiva; 
b) ausência de periculosidade do agente; 
c) reduzido grau de reprovação do comportamento; 
d) lesão jurídica inexpressiva. 
 
O p. da insignificância recai sobre o fato, assim, não tem 
nada a ver atentar para as condições pessoais do agente. 
Somente critérios objetivos podem nortear tal princípio e 
nada de consideras os antecedentes da pessoa. OBS.: 
 
Crime de moeda falsa - ambos não admitem a aplicação 
de tal princípio nos crimes contra a fé pública. 
 
Já o crime de descaminho - ambos aceitam a aplicação 
do princípio em tela. 
 
Agora vejamos AS DIVERGÊNCIAS entre os posiciona-
mentos dos tribunais: 
 
 
 
O STF aplica o Princípio da insignificância nos crimes 
contra a administração pública Existem julgados avalian-
do a capacidade econômica da vítima. 
 
O STJ não aplica o Princípio da insignificância nos crimes 
contra a administração pública. 
 
Ou seja, o direito penal não pode punir o agente pelo o que 
ele é, pelo que ele pensa ou por seu estilo de vida. Associ-
ar com o filme EASY RIDER... Seus pensamentos, desejos, 
meras cogitações ou estilo de vida, não são puníveis. É o 
direito penal do fato e não direito penal do autor. 
 
A aplicabilidade do Princípio da insignificância pode ser 
aplicado ao criminoso reincidente? 
 
O fato para ser insignificante tem que ter requisitos obje-
tivos, e não requisitos subjetivos, que constituiria neste 
caso a aplicação do direito penal, segundo os critérios do 
direito penal do autor, o que é vedado, sendo este o en-
tendimento prevalecente. Entretanto, há julgados no STJ 
condicionando a aplicação do Princípio da insignificância 
aos bons antecedentes do agente. 
 
08) Princípio da responsabilidade pessoal: 
 
Proíbe-se o castigo penal pelo fato de outrem, não se ad-
mite a responsabilidade coletiva. O STF tem anulado o 
processo por inépcia da inicial, em especial, crimes previ-
denciários e societários, não basta apontar os diretores, 
mas dizer o que cada um fez. É difícil individualizar, mas 
tem de dizer como o ser concorreu com o crime. Enfim, a 
denúncia genérica é proibida com fundamento no princí-
pio da responsabilidade pessoal. 
 
09) Responsabilidade subjetiva: 
 
Não basta que o fato seja materialmente causado pelo 
agente, só podendo ser responsabilizado se ele foi queri-
do (dolo direto), aceito (dolo eventual) ou previsível (cul-
pa). Trata-se de princípiodiametralmente oposto a res-
ponsabilidade objetiva. Somente há punição a fatos dese-
jados, desejáveis ou previsíveis. Ou seja, não há respon-
sabilidade penal sem dolo ou culpa. Tem prova/concurso 
pedindo exceções do CP (não de lei especial – como o 
caso da pessoa jurídica). 
 
10) Culpabilidade: 
 
Basta dissertar sob os elementos/requisitos da culpabili-
dade. Trata-se de postulado limitador do direito de punir. 
Assim, só pode o Estado punir agente imputável com po-
tencial consciência da ilicitude, quando dele exigível con-
duta diversa. Enfim, não há responsabilidade penal sem 
um agente capaz, com potencial consciência da ilicitude 
do fato, sendo dele exigível um comportamento ou condu-
ta adversa. 
 
11) Presunção de inocência ou da não culpa: 
 
Postulado que garante ao cidadão, até o trânsito em jul-
gado de sentença condenatória penal, a presunção de 
inocência (art. 5º, inc. LVII, da CF). 
 
12) Proibição da pena indigna: 
 
A ninguém pode ser imposta uma pena ofensiva à digni-
dade da pessoa humana. Está ligado ao princípio da dig-
nidade da pessoa humana. Este princípio tem previsão no 
art. 5º, item 1, da CADH. 
 
13) Humanização das penas ou humanidade das penas: 
 
Não se admite pena desumana, cruel ou degradante. Este 
princípio tem previsão no art. 5º, item 2, da CADH. Assim, 
proíbe – se a prisão perpétua e, em regra, a pena de mor-
te. Excepcionalmente admitimos a pena de morte (caso 
de guerra declarada – executada por meio de fuzilamen-
to). 
 
14) Proporcionalidade: 
 
A pena deve ser proporcional à gravidade do fato/delito 
desconsiderando as qualidades pessoais do agente*** 
(princípio implícito no princípio da individualização de 
pena – a doutrina moderna nem fala mais em p. da indivi-
dualização da pena e tão somente em proporcionalidade.) 
 
OBS: O direito penal do fato determina que o tipo penal só 
deve incriminar fatos, comportamentos humanos voluntá-
rios. No entanto, no momento da individualização da pena 
é imprescindível considerar o rol de qualidades do agente 
(positivas ou negativas) a fim de obedecer à responsabili-
dade penal individual. 
 
15) Vedação do bis in idem: 
 
Ninguém pode ser punido mais de uma vez pela prática 
do mesmo ato. Deve ser analisado a partir do tripé: 
 
a) Material: ninguém pode ser condenado pela segunda 
vez em razão do mesmo fato; 
 
b) Processual: ninguém pode ser processado duas vezes 
pelo mesmo crime, por tal ângulo; e 
 
c) Execucional: ninguém pode ser executado duas vezes 
por condenações relacionadas ao mesmo fato. 
 
 
 
 
 
16) Da legalidade: 
 
Vejamos o artigo abaixo: 
 
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não 
há pena sem prévia cominação legal. 
 
A primeira corrente diz que adotamos o p. da legalidade ( 
= sinônimo da reserva legal) – não prevalece. 
 
Já a segunda corrente diz que adotamos do Princípio da 
Reserva Legal, porque a lei tomada em sentido ampla 
abrange todas as espécies normativas. Já tomada no seu 
sentido restrito abrange somente LO e LC. O artigo primei-
ro toma a lei no sentido restrito (esta que adotamos). 
Uma terceira corrente diz que trata do p. da legalidade 
que é o é reserva mais anterioridade legal. 
 
O princípio da Legalidade (reserva legal mais anteriorida-
de): constitui uma real limitação ao poder estatal de inter-
ferir na esfera individual das liberdades. Em síntese, é a 
limitação ao poder punitivo do Estado. 
 
A legalidade tem previsão: 
 
a) no art.5º, XXXIX, da CF; 
b) no art. 1º do CP; 
c) no art. 9º da Convenção Americana de Direitos Huma-
nos – CADH; 
d) no Estatuto de Roma – criou a o TPI – art. 22. 
 
Base legal do p. da legalidade: 
 
CF art. 5º, XXXIX 
 
Fundamentos do p. da legalidade 
 
1. Político: exigência de vinculação do executivo e do 
judiciário a lei abstrata a fim de impedir poder punitivo 
com base no livre arbítrio; 
2. Democrático: respeito ao p. da divisão de poderes ou 
funções, ou seja, o parlamento representante do povo 
deve ser responsável pela criação dos tipos penais; 
3. Jurídico: uma lei prévia e clara produz importante efei-
to intimidativo. 
 
OBS: Art. 1º, CP e as contravenções penais 
 
O CP (ART.1º) não menciona as contravenções penais 
quanto à observância da legalidade. Mas a doutrina é 
pacífica no sentido de que o princípio da legalidade se 
aplica aos crimes, bem como às contravenções penais. 
 
Art. 1º, CP e as medidas de segurança 
 
Art. 1º do CP - diz que não há pena sem prévia cominação 
legal, como ficam as medidas de segurança, aplica-se o 
p. da legalidade? 
 
Há duas correntes: 
 
a) não se estende às medidas de segurança o princípio 
da legalidade, vez que não se pretende punir, mas sim 
curar – caráter curativo (Francisco de Assis Toledo); e 
 
b) se estende, vez que a medida de segurança é uma es-
pécie de sanção penal, logo, não se pode negar seu ca-
ráter aflitivo (corrente majoritária e posição do STF). 
 
PARTE GERAL- DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL 
 
Anterioridade da Lei 
 
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não 
há pena sem prévia cominação legal. 
 
MEDIDA PROVISÓRIA NÃO PODE CRIAR CRIME NEM CO-
MINAR PENA? 
 
Primeira Corrente- diz que NÃO. Para esta corrente MP 
não combina com dir. penal, ainda que convertida em lei. 
Com base na CF, art. 62, par.1º: 
 
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da 
República poderá adotar medidas provisórias, com força de 
lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. 
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre ma-
téria: 
I – relativa a: 
b) direito penal, processual penal e processual civil; 
 
Segunda Corrente- Contudo, outra corrente (adotada pelo 
STF) discorda da primeira, no sentido de que a MP quan-
do versar sobre direito penal não incriminador pode ser 
adotada. Destaca o RE 254.818 do Paraná discutindo os 
efeitos benéficos trazidos pela MP 1.571/97 (permitiu o 
parcelamento de débitos previdenciários e tributários com 
efeito extintivo da punibilidade). 
 
Lei delegada- incabível – art. 68, par. 1º, CF 
 
Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presiden-
te da República, que deverá solicitar a delegação ao Con-
gresso Nacional. 
§ 1º - Não serão objeto de delegação os atos de compe-
tência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência 
privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a 
matéria reservada à lei complementar, nem a legislação so-
bre: 
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos 
e eleitorais; 
 
 
Resolução do TSE, CNJ e CNMP (a resolução não é lei em 
sentido estrito), também não podem criar crime ou comi-
nar pena, pois têm força meramente normativa. 
 
LEI COMPLETA OU INCOMPLETA 
 
A lei penal poderá ser completa se dispensar outra espé-
cie normativa ou interpretação valorativa do juiz. 
 
Ex: art. 121. Contudo a lei penal poderá ser incompleta - 
depende de complemento normativo ou valorativo. 1. 
Completa; e 2. Incompleta 
 
A INCOMPLETA pode ser do tipo - NORMA PENAL EM 
BRANCO – isto é depende de outra espécie legislativa. A 
norma penal em branco é aquela com preceito secundário 
(pena) determinado, porém, com preceito primário (conte-
údo) indeterminado, dependendo, para sua exeqüibilidade 
(eficácia), de complementação por outra norma ou ato 
administrativo. A complementação pode se dar por uma 
norma da mesma espécie normativa (lei) ou por uma 
norma de outra espécie normativa (ato normativo). Ade-
mais, temos as espécies de norma penal em branco: 
 
NORMA PENAL EM BRANCO EM SENTIDO ESTRITO, 
PRÓPRIA OU HETEROGÊNEA- o complemento normativo 
não emana do legislador. A lei é complementada por ato 
normativo diverso de lei – emana do executivo. 
 
Ex: art. 33 da Lei 11.343/06 (lei de drogas) é complemen-
tado por uma portaria do Ministério da Saúde. Portaria 
344 de 98 -traz o que é droga. 
 
NORMA PENAL EM BRANCO EM SENTIDO AMPLO, IM-
PRÓPRIA OU HOMOGÊNEA: a lei é complementada pela 
mesma espécie normativa (lei). 
 
São aquelasem que o complemento é determinado pela 
mesma fonte formal da norma incriminadora, ou seja, o 
complemento tem a mesma natureza jurídica e provém do 
mesmo órgão que elaborou a lei penal incriminadora. 
 
Exemplo: Observe o art. 169, parágrafo único, I, do Código 
Penal: 
 
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao 
seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. 
Parágrafo único - Na mesma pena incorre: 
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no 
todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do 
prédio; 
 
 
 
Mas o que é "tesouro"? Para a correta complementação 
do art. 169, parágrafo único, I, do CP (norma penal em 
branco), devemos recorrer ao Código Civil que em seu art. 
1264 leciona que tesouro é: 
 
Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto 
e de cujo dono não haja memória [...]. 
 
Neste exemplo, temos uma LEI, editada pelo LEGISLATI-
VO, complementando norma de mesma especificação. 
 
STJ, HC 98113/MS, DJ 15.06.2009 
O art. 1°, I, da Lei 8.176/91, ao proibir o comércio de 
combustíveis em desacordo com as normas estabeleci-
das na forma da lei, é norma penal em branco em senti-
do estrito, porque não exige a complementação median-
te lei formal, podendo sê-lo por normas administrativas 
infralegais, estas sim, estabelecidas "na forma da lei". 
 
OBSERVAÇÃO 
 
Alguns autores referem-se à chamada lei penal em branco 
inversa ou ao avesso. Trata-se de situação em que o pre-
ceito primário é completo, mas o secundário necessita de 
complementação. Neste caso, o complemento só pode 
ocorrer por lei sob pena de afronta ao princípio da reserva 
legal. 
 
Trata-se de uma 
 
A norma penal em branco fere o princípio da taxatividade? 
 
Não, pois apesar de formular proibição genérica comple-
mentável, a norma penal em branco não fere o princípio 
da taxatividade, vez que sua eficácia fica sustada até que 
completada seja. 
 
E o respeito ao fundamento democrático do p. da legali-
dade? 
 
Ex: portaria que diz o que é drogas. Não foi o parlamento 
que fez, mas sim o executivo. 
 
A norma penal em branco em sentido estrito (complemen-
to não é dado pelo legislador) é inconstitucional. Esta 
modalidade ofende o p. da reserva legal, visto que o seu 
conteúdo poderá ser modificado sem que haja uma dis-
cussão amadurecida da sociedade (Rogério Greco). 
 
Já outra corrente diz que na norma penal em branco em 
sentido estrito existe um tipo penal incriminador que tra-
duz os requisitos básicos do delito (verbo do tipo, sujei-
tos, objetos jurídico e material, etc.). O que a autoridade 
administrativa pode fazer é explicitar um dos requisitos 
típicos dado pelo legislador (corrente majoritária – LFG, 
p.ex.) 
 
 
 LEI PENAL 
 
CONCEITO 
 
A lei penal é a fonte formal imediata do Direito Penal e é 
classificada pela doutrina majoritária em incriminadora e 
não incriminadora. 
Dizemos “incriminadoras” aquelas que criam crimes e 
cominam penas como, por exemplo: 
 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
 
Sua estrutura apresenta dois preceitos, um primário (que 
expõe a conduta) e um secundário (que determina a pe-
na): 
 
Diferentemente, as leis penais não incriminadoras são as 
que não criam delitos e nem cominam penas, e subdivi-
dem-se em: 
 
a) PERMISSIVAS - Autorizam a prática de condutas típi-
cas. Exemplo: 
 
Art. 23 do CP. 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I - em estado de necessidade; 
II - em legítima defesa; 
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício 
regular de direito. 
 
b) EXCULPANTES - Estabelecem a não culpabilidade do 
agente ou caracteriza a impunidade de algum crime. 
Observe: 
 
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, 
valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de 
que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito 
próprio ou alheio: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 
[...] 
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o cri-
me de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, 
se precede à sentença irrecorrível, EXTINGUE A PUNIBILIDA-
DE; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. 
 
c) INTERPRETATIVAS- Explicam determinado conceito, 
tornando clara a sua aplicabilidade. É o caso do artigo 
327 do CP, que explica o conceito de funcionário públi-
co para fins penais: 
 
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efei-
tos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remune-
ração, exerce cargo, emprego ou função pública. 
 
ANALOGIA 
 
A analogia jurídica consiste em aplicar a um caso não 
previsto pelo legislador a norma que rege caso análogo, 
semelhante. Por exemplo, a aplicação de dispositivo refe-
rente à empresa jornalística a uma firma dedicada à edi-
ção de livros e revistas. 
 
A analogia não diz respeito à interpretação jurídica pro-
priamente dita, mas à integração da lei, pois sua finalida-
de é justamente SUPRIR LACUNAS DESTA. A analogia se 
apresenta nas seguintes espécies: 
 
a) Analogia in malam partem – 
 
É aquela em que se supre a lacuna legal com algum dis-
positivo prejudicial ao réu. Isto não é possível no nosso 
ordenamento jurídico e desta forma já se pronunciou o 
STJ e o STF. Observe: 
 
STJ - REsp 956.876/RS - 2007/0124539-5 
Não cabe ao Julgador aplicar uma norma, por assemelha-
ção, em substituição a outra validamente existente, sim-
plesmente por entender que o legislador deveria ter regula-
do a situação de forma diversa da que adotou; não se pode, 
por analogia, criar sanção que o sistema legal não haja 
determinado, sob pena de violação do princípio da reserva 
legal. 
 
STF - INQUÉRITO: Inq 1145 PB – 19.12.2006 
Não é possível abranger como criminosas condutas que 
não tenham pertinência em relação à conformação estri-
ta do enunciado penal. Não se pode pretender a aplica-
ção da analogia para abarcar hipótese não mencionada 
no dispositivo legal (analogia in malam partem). Deve-se 
adotar o fundamento constitucional do princípio da lega-
lidade na esfera penal. Por mais reprovável que seja a 
lamentável prática da "cola eletrônica", a persecução 
penal não pode ser legitimamente instaurada sem o 
atendimento mínimo dos direitos e garantias constituci-
onais vigentes em nosso Estado Democrático de Direito. 
 
b) Analogia in bonam partem – 
 
Neste caso, aplica-se ao caso omisso uma norma favorá-
vel ao réu. Este tipo de analogia é aceito em nosso orde-
namento jurídico e desta forma já se posicionou o STF em 
diversos julgados. 
 
Observe: 
 
 
 
 
HC/97676 - HABEAS CORPUS – 03/08/2009 
Assim, é perfeitamente aplicável a analogia in bonam 
partem, a fim de extinguir a punibilidade do réu, garan-
tindo-se a aplicação do princípio da isonomia, pois é 
defeso ao julgador conferir tratamento diverso a situa-
ções equivalentes. 
 
ABOLITIO CRIMINIS 
 
O instituto da abolitio criminis ocorre quando uma lei nova 
trata como lícito fato anteriormente tido como criminoso, 
ou melhor, quando a lei nova descriminaliza fato que era 
considerado infração penal. Encontra embasamento no 
artigo 2º do Código Penal, que dispõe da seguinte forma: 
 
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posteri-
or deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a 
execução e os efeitos penais da sentença condenatória. 
 
Não se confunde a descriminalização com a despenaliza-
ção, haja vista a primeira delas (descriminalização) retirar 
o caráter ilícito do fato, enquanto que a outra é o conjunto 
de medidas que visam eliminar ou suavizar a pena de 
prisão. Assim, na despenalização a conduta ainda é con-
siderada um crime. 
 
Segundo os princípios que regem a lei penal no tempo, a 
lei abolicionista É NORMA PENAL RETROATIVA, atingindo 
fatos pretéritos, ainda que acobertados pelo manto da 
coisa julgada. Isto porque o respeito à coisa julgada é 
uma garantia do cidadão em face do Estado. Logo, alei 
posterior só não pode retroagir se for prejudicial ao réu. 
 
Entende a maioria da doutrina, inclusive o Supremo Tribu-
nal Federal, que é perfeitamente possível abolitio criminis 
por meio de medida provisória. Cite-se como exemplo o 
seguinte julgado do STF: 
 
STF - AI 680.361/SC - DJ 9.03.2010 
Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria 
penal – extraída pela doutrina consensual - da interpre-
tação sistemática da Constituição -, não compreende a 
de normas penais benéficas, assim, as que abolem cri-
mes ou lhes restringem o alcance, extingam ou abran-
dem penas ou ampliam os casos de isenção de pena ou 
de extinção de punibilidade. 
 
Para finalizar, exemplo claro de abolitio criminis em nosso 
ordenamento jurídico foi o que aconteceu com o adultério, 
que desde 2005 não é mais considerado crime. 
 
 
 
 
 
LEI ABOLICIONISTA PODE RETROAGIR NA VACATIO LE-
GIS? 
 
Primeira corrente: é possível, sabendo que a finalidade 
primordial da vacatio legis é tornar a lei conhecida não faz 
sentido que aqueles que já se inteiraram do seu teor fi-
quem impedidos de lhe prestar obediência, em especial, 
quando o preceito é mais brando. - Art. 28, Lei de Drogas, 
usuário. (adotar prova Defensoria pública). 
 
Segunda corrente: não é possível, pois é desprovida de 
eficácia jurídica e social devendo imperar a lei vigente. 
 
Fazendo-se um confronto entre a lei anterior e a lei poste-
rior, a segunda tem uma parte mais benéfica e outra mais 
gravosa em relação à primeira. Desse modo, aplica-se 
uma “terceira lei” (lex tertia), resultado da combinação 
das duas leis. É possível? 
 
Não é admissível a combinação de leis, pois, ao proceder 
assim, o juiz ofende o princípio da separação dos Pode-
res, penetra em campo exclusivo e privativo do legislador, 
tornando-se legislador positivo, que é absolutamente pro-
ibido (Nelson Hungria e a 1ª turma do STF - RHC 94802). 
 
Como tratar a sucessão de lei penal no caso de continui-
dade delitiva? 
 
Apesar de cometido o delito em continuidade delitiva, 
para fins da pena, considera-se que só um crime foi prati-
cado. 
 
Se quando ele começou a praticar o crime ‘A’ com pena 
de 1 a 4 anos e quando do 3º crime (crime continuado) a 
lei era ‘B’ com pena de 2 a 8 anos. Esse crime sofre as 
penas da lei A ou B? 
 
1ª C – se vários crimes em continuidade delitiva (art. 71, 
CP) são praticados sob a égide de duas leis, sendo 
uma mais grave, o conflito resolve-se pela aplicação 
do princípio da retroatividade ou ultratividade da lei 
mais benéfica. 
 
2ª C – aplica-se a lei vigente ao término da cessação da 
continuidade. O agente que prosseguiu na continuida-
de delitiva após o advento da lei nova tinha a possibili-
dade de motivar-se pelos imperativos desta ao invés 
de persistir nas práticas de seus crimes. Submete-se, 
portanto, ao novo regime, ainda que mais grave, sem 
violação ao princípio da legalidade. 
 
A 2ª corrente hoje está sumulada no STF - Súmula 711 - A 
lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao 
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessa-
ção da continuidade ou da permanência. 
 
 
 
LEI PENAL MAIS BENÉFICA 
 
Imaginemos que Felipe cometeu um delito. Meses depois, 
após sua condenação transitada em julgado, a lei penal é 
modificada, tornando-se mais benéfica. Para este caso, 
ela retroagirá? 
 
Para obter a resposta você deve verificar o parágrafo úni-
co do artigo 2º do Código Penal, que dispõe: 
 
Art. 2º[...] 
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo 
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que 
decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 
 
Para ficar bem claro, vamos aplicar o regramento legal em 
um caso prático: 
 
Em 2006 tivemos o advento da lei nº. 11.343, conhecida 
como Lei de Drogas. Até então, caso determinado indiví-
duo fosse encontrado com drogas, mesmo para consumo 
próprio, estaria cometendo um crime e poderia, inclusive, 
ser preso. 
 
A nova lei veio despenalizar a conduta, ou seja, hoje, se 
um indivíduo estiver com drogas para consumo pessoal, 
não pode ser preso 
 
 OBS: 
A retroatividade é automática, dispensa cláusula expres-
sa e alcança inclusive os fatos definitivamente julgados! 
 
Atenção, agora, para um importante detalhe: Tratamos 
que a lei mais favorável é RETROATIVA. Sendo assim, 
somente podemos falar em RETROATIVIDADE quando lei 
posterior for mais benéfica ao agente, em comparação 
àquela que estava em vigor quando o crime foi praticado. 
 
Observe: 
 
Mas imaginemos que Caio comete um delito sob a égide 
de uma LEI “A”. Meses depois uma LEI “B” revoga a LEI 
“A”, trazendo regras mais gravosas ao crime cometido por 
Caio. O que fazer neste caso? 
 
Para esta situação, em que um delito é praticado durante 
a vigência de uma lei que posteriormente é revogada por 
outra prejudicial ao agente, ocorrerá a ULTRATIVIDADE da 
lei. Quando se diz que uma lei penal é dotada de ultrativi-
dade, quer-se afirmar que ela, apesar de não mais vigente, 
continua a vincular os fatos anteriores à sua saída do 
sistema. 
 
Lei temporária em sentido estrito: é aquele que tem prazo 
pré-fixado em seu texto o tempo de sua vigência. Geral-
mente é de curta duração. 
Lei excepcional: É a que atende as transitórias necessi-
dades estatais, tais como guerras, calamidades, epidemi-
as etc. Perdura por todo o tempo excepcional. 
 
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorri-
do o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias 
que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua 
vigência. 
 
 OBS.: 
A ultratividade do art. 3º é necessária, pois do contrário 
se sancionaria o absurdo de reduzir as disposições des-
tas leis a uma espécie de ineficácia preventiva em rela-
ção aos fatos, por elas validamente vetados, que fossem 
cometidos na eminência do vencimento. 
 
1ª C – sabendo que a CF/88 não traz qualquer exceção à 
proibição da ultratividade maléfica, Zaffaroni entende 
que o art. 3º não foi recepcionado. A CF prevê a regra e 
não a exceção. Rogério Greco, Mauricio Antônio Ribei-
ro Lopes também concordam. 
 
2ª C – esta prevalece: não se vislumbra ofensa ao princí-
pio da retroação mais benéfica (art. 5º, XL, CF), pois a 
norma penal (temporária em sentido estrito ou amplo) 
possui, como elemento do tipo, o fator ‘tempo’ de mo-
do que ao deixar de viger, não lhe sucede nenhuma lei 
nova, mas apenas existe um retorno daquela que regu-
lava a situação anteriormente. (Nucci, Damásio, LFG). 
 
Do exposto, podemos resumir: 
 
RETROATIVIDADE- Fenômeno jurídico em que se aplica 
uma norma a fato ocorrido ANTES do início da vigência da 
nova lei. 
 
ULTRATIVIDADE- Fenômeno jurídico pelo qual há a apli-
cação da norma APÓS a sua revogação. 
 
 OBS.: 
Alguns autores referem-se à chamada lei penal em bran-
co inversa ou ao avesso. Trata-se de situação em que o 
preceito primário é completo, mas o secundário necessi-
ta de complementação. Neste caso, o complemento só 
pode ocorrer por lei sob pena de afronta ao princípio da 
reserva legal. 
 
 CONFLITO APARENTE DE LEIS 
 
"Ocorre o conflito aparente de normas penais quando o 
mesmo fato se amolda a duas ou mais normas incriminado-
ras. A conduta, única, parece subsumir-se em diversas nor-
mas penais. Ou seja, há uma unidade de fato e uma plurali-
dade de normas contemporâneas identificando aquele fato 
como criminoso." 
 
 
 
Resumindo, o conflito aparente de leis penais ocorre 
quando a um só fato, aparentemente, duas ou mais leis 
são aplicáveis, ou seja, o fato é único, no entanto, existe 
uma pluralidade de normas a ele aplicáveis. 
 
Como diz a própria expressão, o conflito é aparente, pois 
se resolve com a correta interpretação da lei. Para Nélson 
Hungria: 
 
"Não é admissível que duas ou mais leis penais ou dois ou 
mais dispositivos da mesma lei penal se disputem, com igual 
autoridade, exclusiva aplicação ao mesmo fato. Para evitar a 
perplexidade ou a intolerável solução pelo bis in idem, o direi-
to penal (como o direito em geral)dispõe de regras, explícitas 
ou implícitas, que previnem a possibilidade de competição 
em seu seio." 
 
A doutrina, regra geral, indica 04 princípios a serem apli-
cados a fim de solucionar o conflito aparente de leis pe-
nais, são eles: 
 
1. SUBSIDIARIEDADE; 
2. ESPECIALIDADE; 
3. CONSUNÇÃO; 
4. ALTERNATIVIDADE 
 
O conhecimento destes 04 princípios é importante para a 
sua PROVA e, para lembrá-los, observe que juntos formam 
a palavra SECA!!! 
 
Vamos conhecê-los: 
 
01) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE 
 
Estabelece que a lei especial prevalece sobre a geral. 
Considera-se lei especial aquela que contém todos os 
requisitos da lei geral e mais alguns chamados especiali-
zantes. 
 
Exemplo: O crime de infanticídio, previsto no artigo 123 do 
Código Penal, tem um núcleo idêntico ao do crime de ho-
micídio, tipificado pelo artigo 121, qual seja, "matar al-
guém". Torna-se figura especial, ao exigir elementos dife-
renciadores: A autora deve ser a mãe e a vítima deve ser o 
próprio filho, nascente ou neonato, cometendo-se o delito 
durante o parto ou logo após, sob influência do estado 
puerperal. 
 
02) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE 
 
Subdivide-se em expresso e tácito. 
 
Ocorre a subsidiariedade expressa, quando a própria 
norma reconhece seu caráter subsidiário, admitindo inci-
dir somente se não ficar caracterizado o fato de maior 
gravidade. 
Como exemplo, compete citar o crime de perigo para a 
vida ou saúde de outrem (art. 132, CP): 
 
"Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo dire-
to e iminente: 
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, se o fato não consti-
tuir crime mais grave". 
 
Como se retira do preceito secundário do artigo transcrito, 
somente "se o fato não constituir crime mais grave" é que 
a pena relativa ao delito descrito no art. 132 será aplicada 
ao agente. 
 
No caso da subsidiariedade tácita a norma nada diz, mas, 
diante do caso concreto, verifica-se seu caráter secundá-
rio. 
 
Exemplo claro é o do crime de roubo em que a vítima, 
mediante emprego de violência, é constrangida a entregar 
a sua bolsa ao agente. 
 
Aparentemente, incidem o tipo definidor do roubo (norma 
primária) e o do constrangimento ilegal (norma subsidiá-
ria), sendo que o constrangimento ilegal, no caso, foi ape-
nas uma fase do roubo, além do fato de este ser mais 
grave. 
 
03) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO 
 
Conhecido também como PRINCÍPIO DA ABSORÇÃO, é 
um princípio aplicável nos casos em que há uma suces-
são de condutas com existência de um nexo de depen-
dência. De acordo com tal princípio, o crime mais grave 
absorve o crime menos grave. 
 
Ao contrário do que ocorre no princípio da especialidade, 
aqui não se reclama a comparação abstrata entre as leis 
penais. Comparam-se os fatos, inferindo-se que o mais 
grave consome os demais, sobrando apenas a lei penal 
que o disciplina. Mas como assim? 
 
Para uma melhor compreensão, pensemos, por exemplo, 
no crime de furto qualificado (art. 155, § 4°, do Código 
Penal). Veja: 
 
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia 
móvel: 
[...] 
Furto qualificado 
§ 4° - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se 
o crime é cometido: 
 
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtra-
ção da coisa; 
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada 
ou destreza; 
 
 
III - com emprego de chave falsa; 
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. 
 
Simplesmente olhando para o tipo penal, não posso dizer 
que ele sofre consunção, pois que dele, em si, nada posso 
aferir quanto a sua correspondência íntima com outro 
crime. Assim, o que importa para sua PROVA é que ABS-
TRATAMENTE É IMPOSSÍVEL SABER SE UM CRIME É, OU 
NÃO, CONSUNTIVO. 
 
No entanto, se digo que o agente Felipe, com o intuito de 
furtar bens de uma residência, escala o muro que a cerca 
e, utilizando-se de chave falsa, abrelhe a porta e penetra 
em seu interior, subtraindo-lhe os bens e fugindo logo em 
seguida, posso, com toda a certeza, afirmar que o princí-
pio da consunção se faz presente. 
 
Neste caso, o furto qualificado pela escalada e pelo em-
prego de chave falsa (art. 155, § 4°, II, 3a figura, e III, do 
Código Penal) ABSORVE a violação de domicílio qualifica-
da (art. 150, § 1°, 1a figura, do Código Penal), que lhe ser-
viu de meio necessário. 
 
04) PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE 
 
Ocorre quando uma norma jurídica prevê diversas condu-
tas, alternativamente, como modalidades de uma mesma 
infração. Para estes casos, mesmo que o infrator cometa 
mais de uma dessas 'condutas alternativas', isto é, se, 
acaso, violar mais de um dever jurídico, será apenado 
somente uma vez. 
É comum no Direito Ambiental a norma jurídica determi-
nar várias modalidades de conduta para a mesma infra-
ção. Por exemplo, o artigo 11do Decreto 3.179, de 
21.9.1999, que regulamenta a Lei 9.605/1998, estabelece: 
 
"Art. 11. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espéci-
mes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a 
devida permissão, licença ou autorização da autoridade 
competente, ou em desacordo com a obtida: multa de (...)." 
 
O infrator será apenado apenas uma vez, ainda que realize 
diversos comportamentos estabelecidos na norma. Por 
exemplo, se a pessoa caça e depois mata determinado 
animal silvestre, sofrerá apenas uma reprimenda. 
 
Para ficar bem claro, vamos analisar outro exemplo: As-
sim dispõe o artigo 193 da Lei 9.503, de 23.9.1997, que 
institui o Código de Trânsito Brasileiro: 
 
"Art. 193. Transitar com o veículo em calçada, passeios, 
passarelas, ciclovias, ciclofaixas, ilhas, refúgios, ajardina-
mentos,canteiros centrais e divisores de pista de rolamento, 
acostamentos, marcas de canalização, gramados e jardins 
públicos: Penalidade: multa (...)". 
 
Ao menos em linhas gerais, se a pessoa transita com o 
veículo na calçada, na ciclovia e depois no acostamento, 
não cometerá tantas infrações quantos forem os deveres 
violados. Trata-se de ilícito administrativo de "condutas 
múltiplas" e ele sofrerá única sanção em face do princípio 
da alternatividade. Finalizando este tópico, cabe pela im-
portância ressaltar: 
 
O conflito de normas é aparente, ou seja, sempre pode 
ser solucionado através de uma correta interpretação. 
 
 TEMPO DO CRIME 
 
Guerreiro, imagine que Felipe atira em Caio no dia 15 de 
março de 2011, quando possuía 17 anos, 28 dias e 6 ho-
ras. Caio é socorrido, levado ao hospital e vem a falecer 
no dia 03 de abril de 2011, em virtude dos disparos. 
 
Neste caso, Felipe poderá ser condenado? 
 
Perceba que temos a ação ocorrendo em uma data (dis-
paros) e o resultado em outra. Como encontrar a solução 
para este questionamento? 
 
Para determinar o tempo do crime, a doutrina criminal 
tem apresentado três teorias, quais sejam, a teoria da 
atividade, do resultado e da ubiquidade (mista). 
 
Teoria da Atividade O crime ocorre no lugar em que foi 
praticada a ação ou omissão, ou seja, a conduta crimino-
sa. Ex.: o crime de homicídio é praticado no lugar em que 
o agente dispara a arma de fogo com a intenção de matar 
a vítima; 
 
Teoria do Resultado - O crime ocorre no lugar em que 
ocorreu o resultado. 
 
Ex.: o crime de homicídio é praticado no lugar em que a 
vítima morreu, ainda que outro tenha sido o lugar da ação; 
 
Teoria da Ubiquidade - Também conhecida por teoria mis-
ta, já que para esta teoria o crime ocorre tanto no lugar 
em que foi praticada a ação ou omissão (atividade) como 
onde se produziu, ou deveria se produzir o resultado 
(resultado). 
 
O Código Penal adota claramente, em seu artigo 4°, a TE-
ORIA DA ATIVIDADE para determinar o tempo do crime. 
Observe: 
 
Art. 4° - Considera-se praticado o crime no momento da 
ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resul-
tado Desta forma, fica claro que em nosso exemplo inicial 
Felipe não poderá ser condenado com base no Código 
Penal, pois era menor quando da ação do delito. Serão 
cabíveis para o caso as disposições do Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente. 
 
 
EFEITOS DA TEORIA DA ATIVIDADE PARAO TEMPO DO 
CRIME- 
 
A adoção da teoria da atividade para a determinação do 
tempo do crime apresenta algumas consequências, den-
tre as quais as seguintes são importantes para a sua 
PROVA: 
 
1. Aplica-se a lei em vigor ao tempo da conduta, exceto 
se a do tempo do resultado for mais benéfica. 
 
2. Apura-se a imputabilidade NO MOMENTO DA CONDU-
TA. 
 
CRIME PERMANENTE * é o crime cujo momento Consumati-
vo se prolonga no tempo. exemplo: CP, art. 148 - sequestro 
e cárcere privado. 
 
CRIME CONTINUADO * o instituto do crime continuado é 
uma ficção jurídica que, exigindo o cumprimento de requisi-
tos objetivos (mesma espécie, condições de tempo, lugar, 
maneira de execução e outras semelhantes), equipara a 
realização de vários crimes a um só. exemplo: caixa de su-
permercado que, dia após dia, e na esperança de que o seu 
superior exerça as suas funções negligentemente, tira pe-
queno valor diário do caixa, que pode tornar-se considerável 
com o passar do tempo. 
 
CRIME HABITUAL * consoante Capez, "é o composto pela 
reiteração de atos que revelam um estilo de vida do agente, 
por exemplo, rufianismo (CP, art. 230), exercício ilegal da 
medicina; só se consuma com a habitualidade na conduta. 
 
Prosseguindo: 
 
3. Nos crimes permanentes, enquanto perdura a ofensa 
ao bem jurídico (Exemplo: extorsão mediante seques-
tro), o tempo do crime se dilatará pelo período de per-
manência. Assim, se o autor, menor, durante a fase de 
execução do crime vier a atingir a maioridade, respon-
derá segundo o Código Penal e não segundo o Estatu-
to da Criança e do Adolescente — ECA (Lei n. 
8.069/90). 
 
4. Nos crimes continuados em que os fatos anteriores 
eram punidos por uma lei, operando-se o aumento da 
pena por lei nova, aplica-se esta última a toda unidade 
delitiva, desde que sob a sua vigência continue a ser 
praticado. 
 
A importantíssima súmula 711 do STF resume os itens 03 
e 04. Observe: 
 
 
 
 
SÚMULA 711 DO STF 
A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou 
ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à 
cessação da continuidade ou da permanência. 
 
5. No Crime Habitual em que haja sucessão de leis, deve 
ser aplicada a nova, ainda que mais severa, se o agen-
te insistir em reiterar a conduta criminosa. 
 
LEI PENAL NO ESPAÇO 
 
O Código Penal trata de maneira detalhada da aplicação 
da Lei Penal no espaço e, assim, torna claro para a socie-
dade onde as normas definidas pelo Legislador Brasileiro 
serão aplicadas. 
 
Sabendo que um fato punível pode, eventualmente, atingir 
os interesses de 2 ou mais Estados igualmente sobera-
nos, o estudo da lei penal no espaço visa a descobrir qual 
é o âmbito territorial de aplicação da lei penal brasileira, 
bem como de que forma o Brasil se relaciona com outros 
países em matéria penal. 
 
Um fato atingindo vários Estados soberanos. 
 
A REGRA para dirimir conflitos e dúvidas é a utilização do 
princípio da TERRITORIALIDADE, ou seja, aplica-se a lei 
penal aos crimes cometidos em território nacional. Tal 
preceito encontra-se no Código Penal, observe: 
 
Art. 5° - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de conven-
ções, tratados e regras de direito internacional, ao crime 
cometido no território nacional. 
 
Há exceções que ocorrem quando o brasileiro pratica 
crime no exterior ou um estrangeiro comete delito no Bra-
sil. Fala-se, assim, que o Código Penal adotou o princípio 
da TERRITORIALIDADE TEMPERADA OU MITIGADA. 
 
Dito isto, vamos esmiuçar a regra e as exceções: 
 
PRINCÍPIO DE TERRITORIALIDADE 
 
O CP adotou a territorialidade RELATIVA ou TEMPERADA 
PELA INTRATERRITORIALIDADE (“sem prejuízo de con-
venções, tratados e regras de direito internacional”). 
 
Em termos jurídicos, território é o espaço em que o Estado 
exerce sua soberania política. Para a sua PROVA você 
não precisa saber exatamente o que compreende o terri-
tório brasileiro, bastando apenas o conhecimento do dis-
posto nos parágrafos 1° e 2° do artigo 5°, que dispõe: 
 
 
 
 
 
 
Art. 5° [...] 
§ 1° - Para os efeitos penais, consideram-se como exten-
são do território nacional as embarcações e aeronaves brasi-
leiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro 
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as 
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade priva-
da, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo corres-
pondente ou em alto mar. 
§ 2° - É também aplicável a lei brasileira aos crimes prati-
cados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de 
propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no terri-
tório nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e 
estas em porto ou mar territorial do Brasil. 
 
Territorialidade: o 
crime é praticado 
no Brasil e a lei 
aplicada é a brasi-
leira. 
Extraterritorialidade: 
o crime é praticado 
no exterior, porém, 
aplica-se a lei brasi-
leira. 
Intraterritorialidade: 
o crime é praticado 
no Brasil, porém, 
aplica-se a lei es-
trangeira (ex: imuni-
dade diplomática). 
 
Com base nos supracitados parágrafos, imagine que Feli-
pe, brasileiro, está na Argentina e confere lesões corporais 
graves em um "Hermano". Diante de tal fato, Felipe, per-
seguido por policiais, corre para um navio da marinha de 
guerra do Brasil e o adentra. Neste caso, Felipe poderá ser 
preso pelos policiais Argentinos? 
 
A resposta é negativa, pois o navio será considerado ex-
tensão do território Brasileiro e não poderá ser penetrado 
peles policiais Argentinos. 
 
Agora outra situação... Caio, Americano, está em um cru-
zeiro que passará pelas belas praias do Rio de Janeiro. 
Nas proximidades de Copacabana, Caio atira em Caio. 
Diante desta situação, o que fazer? Caio pode ser preso 
segundo as leis brasileiras? 
 
A resposta é positiva, pois, com base no parágrafo 2° do 
artigo 5°, para crimes praticados a bordo de embarcações 
privadas estrangeiras, achando-se estas em porto ou mar 
territorial do Brasil, aplica-se a lei brasileira. 
 
Como percebe, as regras são de fácil aplicação, mas o 
correto entendimento é fundamental para sua PROVA. 
 
A imunidade diplomática dos que se encontram no Brasil 
a serviço do Estado estrangeiro, tem natureza jurídica de 
causa funcional de isenção de pena (excludente de puni-
bilidade), não sendo causa de atipicidade, excludente de 
ilicitude ou de culpabilidade, pois, se assim o fosse, a 
imunidade diplomática agasalharia co-autores não deten-
tores de imunidade diplomática. 
 
 
 
PRINCÍPIOS QUE MITIGAM A TERRITORIALIDADE 
 
Vimos que o Código Penal adota o princípio da territoriali-
dade temperada ou mitigada por haverem exceções ao 
princípio da territorialidade. Vamos conhecê-las: 
 
01) PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE OU DA PERSONALI-
DADE 
 
Autoriza a submissão à lei brasileira dos crimes pratica-
dos no estrangeiro por autor brasileiro ou contra vítima 
brasileira. 
 
Este princípio se subdivide em outros dois: 
 
a) Princípio da Personalidade Ativa – 
 
Só se considera a nacionalidade do autor do delito, ou 
seja, independentemente da nacionalidade do sujeito 
passivo e do bem jurídico ofendido, o agente é punido de 
acordo com a lei brasileira. Encontra-se disposto no art. 
7.°, I, alínea "d" e II, "b" do Código Penal: 
 
Art. 7° - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos 
no estrangeiro: 
I - os crimes: [...] 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro [...] 
II - os crimes: [...] 
b) praticados por brasileiro;b) 
 
b) Princípio da Personalidade Passiva Considera-se so-
mente a nacionalidade da vítima do delito. Encontra 
previsão no art. 7.°, § 3°, do Código Penal: 
 
§ 3° - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido 
por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas 
as condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
 
02) PRINCÍPIO DA DEFESA REAL OU DA PROTEÇÃO 
 
A lei penal é aplicada independente da nacionalidade do 
bem jurídico atingido pela ação delituosa, onde quer que 
ela tenha sidopraticada e independente da nacionalidade 
do agente. O Estado protege os seus interesses além das 
fronteiras. Observe o preceituado no Código Penal: 
 
Art. 7° - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos 
no estrangeiro: 
I - os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Repúbli-
ca; 
 
 
 
 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distri-
to Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa 
pública, sociedade de economia mista, autarquia ou funda-
ção instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu 
serviço; 
 
03) PRINCÍPIO DA JUSTIÇA UNIVERSAL 
 
As leis penais devem ser aplicadas a todo e qualquer fato 
punível, seja qual for a nacionalidade do agente, do bem 
jurídico lesado ou posto em perigo e em qualquer local 
onde o fato foi praticado. 
 
A lei penal deve ser aplicada a todos os homens, indepen-
dentemente do local onde se encontrem. 
 
É um princípio baseado na cooperação penal internacio-
nal e permite a punição, por todos os Estados, da totali-
dade dos crimes que forem objeto de tratados e de con-
venções internacionais. Fundamenta-se no dever de soli-
dariedade na repressão de certos delitos cuja punição 
interessa a todos os povos. Exemplos: Tráfico de drogas, 
comércio de seres humanos, genocídio etc. 
 
Encontra previsão no art. 7°, II, "a", do Código Penal: 
 
Art. 7° [...] 
[... ] 
II - os crimes 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a re-
primir; 
 
04) PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO 
 
Segundo este princípio, deve ser aplicada a lei penal brasi-
leira aos crimes cometidos em aeronaves ou embarca-
ções brasileiras, mercantes ou de propriedade privada 
quando estiverem em território estrangeiro e aí não sejam 
julgados. Está previsto no artigo 7°, II, "c", do Código Pe-
nal: 
 
Art. 7° [...] 
II - os crimes 
[... ] 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, 
mercantes ou de propriedade privada, quando em território 
estrangeiro e aí não sejam julgados. 
 
A lei está delimitada pelo território, mas o que é território? 
 
Espaço físico + espaço jurídico 
 
Segundo o art. 5º, par. 1º, do CP, consideram-se como 
extensão do território nacional as embarcações e aerona-
ves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do gover-
no brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as 
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de 
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no 
espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. Em alto-
mar ou no espaço aéreo correspondente nenhum país 
exerce soberania, por isso se aplica a lei brasileira. 
 
A embaixada e o consulado brasileiro no exterior, para 
efeitos penais, não são considerados territórios por ex-
tensão. São considerados territórios por extensão apenas 
para fins constitucionais e políticos, pois uma embaixada 
norte-americana no Brasil não poderá ser invadida pelo 
governo brasileiro (garantia da inviolabilidade), sendo 
inviolável. 
 
Sendo o crime praticado em avião particular a serviço do 
Governo, independentemente do espaço aéreo onde se 
encontre ou da nacionalidade do sujeito ativo e passivo, 
aplica-se a lei brasileira. 
 
Pelo princípio da reciprocidade, previsto no art. 5º, p. 2º, 
do CP, também se aplica a lei brasileira aos crimes prati-
cados em embarcações ou aeronaves estrangeiras priva-
das, que se encontre em pouso ou vôo no espaço aéreo 
brasileiro, ou em porto ou mar territorial brasileiro. Se a 
embarcação ou aeronave for pública ou estiver a serviço 
de Governo estrangeiro, mesmo estando em mar territori-
al ou espaço aéreo brasileiro, aplica-se a lei do estrangei-
ro. 
 
Suponha que um navio brasileiro naufragou em alto-mar, 
onde um americano veio a matar um holandês. Neste 
caso concreto, aplica-se a lei brasileira, pois os destroços 
do navio continuam ostentando a lei brasileira. 
 
Imagine que uma embarcação brasileira em alto-mar coli-
de com uma embarcação chilena. Os sobreviventes cons-
troem uma jangada com os destroços de ambos os navi-
os. Suponha que nesta jangada um português matou um 
argentino. Qual será a lei aplicável ao caso? A lei não re-
solve este problema, aplicando-se o princípio da naciona-
lidade ativa. 
 
Se um navio esta atracado na costa brasileira, e um co-
lombiano que estava a bordo, desce do navio e estupra 
uma brasileira, será julgado pela lei brasileira, desde que 
não esteja a serviço do governo colombiano. Se ele des-
ceu da embarcação em dia que se encontrava de folga, 
aplica-se a lei brasileira. 
 
Suponha uma aeronave que sai de Portugal com destino à 
Argentina, onde ocorre um homicídio no momento em que 
sobrevoa o espaço aéreo brasileiro. Neste caso, não se 
aplica a lei penal brasileira, mas sim o instituto da passa-
gem inocente (passagem necessária para chegar ao seu 
destino). 
 
 
Já se entendeu na doutrina e na jurisprudência que crime 
cometido dentro do território nacional, a bordo de avião, 
que apenas sobrevoa o país, sem pousar aplica-se a lei 
penal brasileira. 
 
Hoje, porém, se adota a chamada TEORIA DA PASSAGEM 
INOCENTE, não se aplicando a lei brasileira quando o na-
vio ou a aeronave passa pelo território nacional apenas 
como passagem necessária para chegar ao seu destino 
(aqui não atracará ou aterrissará). Logo, é mais uma hipó-
tese de intraterritorialidade. 
 
Havendo dúvida quanto à bandeira da embarcação em 
alto mar, aplica-se o princípio da nacionalidade ativa. Se, 
por exemplo, a embarcação holandesa em alto mar rece-
be brasileiros para a prática de aborto, não haverá crime, 
tendo em vista que é permitido o aborto na Holanda. Res-
salta-se que, em alto mar aplica-se a lei da bandeira. 
 
Não há aplicação da lei brasileira nas contravenções pe-
nais cometidas no estrangeiro. Ou seja, não existe aplica-
ção do princípio da extraterritorialidade para contraven-
ções. 
 
LUGAR DO CRIME 
 
Até agora falamos bastante da territorialidade, mas para 
sabermos se um delito operou-se no território Nacional 
precisamos aprender como determinar o lugar do crime. 
 
Quando falamos sobre o tempo do crime, ou seja, o mo-
mento em que o crime é cometido, tratamos de três teori-
as: ATIVIDADE, RESULTADO e MISTA ou da UBIQUIDADE. 
Está lembrado? 
 
Naquela oportunidade, afirmamos que para definir o mo-
mento do crime adotou-se a teoria da atividade. Portanto, 
tem-se como praticado o crime NO MOMENTO da ATIVI-
DADE. 
 
Aqui, a questão é saber ONDE se tem como cometido o 
delito. O problema é o lugar (espaço) e não o tempo. De-
vemos, mais uma vez, para solucionar qualquer conflito, 
recorrer às três teorias: 
 
TEORIA DA ATIVIDADE * O CRIME É COMETIDO NO LU-
GAR ONDE FOI PRATICADA A ATIVIDADE (CONDUTA= 
AÇÃO OU OMISSÃO). 
 
TEORIA DO RESULTADO * O LUGAR DO CRIME É ONDE 
OCORREU O RESULTADO, INDEPENDENTEMENTE DE 
ONDE FOI PRATICADA A CONDUTA. 
 
TEORIA MISTA (OU DA UBIQUIDADE) * CONSIDERA, POR 
SUA VEZ, QUE O CRIME É COMETIDO TANTO NO LUGAR 
DA ATIVIDADE QUANTO NO LUGAR DO RESULTADO. 
O Código Penal, ao tratar do tema, dispõe: 
 
Art. 6° - Considera-se praticado o crime no lugar em que 
ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como 
onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
 
Mnemônico: LUTA 
Lugar Ubiquidade 
Tempo Atividade 
 
Obs.: se em território brasileiro unicamente ocorre o plane-
jamento ou preparação do crime, o fato não interessa ao 
direito brasileiro. 
 
O Código Penal adotou a TEORIA DA UBIQUIDADE, valen-
do ressaltar que na própria previsão do art. 6° do Código 
Penal esta incluída o lugar da tentativa, ou seja, "[...] onde 
se produziu ou deveria produzir-se o resultado". Busca-se, 
com a teoria mista do lugar do delito, solucionar o pro-
blema dos conflitos negativos de competência (Dentro do 
Território Nacional) e o problema dos crimes à distância 
(Brasil - Exterior), em que ação e o resultado se desenvol-
vem em lugares diversos. 
 
Como exemplo, podemos citar o seguinte caso: 
 
Imagine que Felipe, residente no Brasil, envia uma carta 
bomba para um cidadão

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