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DIREITO PENAL – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS Conceito¹- De acordo com o autor José Frederico Mar- ques, o Direito Penal “é o conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como consequência, e disci- plinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade de medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado”. Conceito²- Conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes – penas e medidas de segurança. (Cezar Bitencourt, p. 2). Conceito ³- É o segmento do ordenamento jurídico que detém a função de selecionar os comportamentos huma- nos mais graves e perniciosos à coletividade, capazes de colocar em risco valores fundamentais para a convivência social, e descrevê-los como infrações penais, cominando- lhes, em consequência, as respectivas sanções, além de estabelecer todas as regras complementares e gerais necessárias à sua correta e justa aplicação. (Fernando Capez, pág. 19, 2010). Direito Penal é o ramo do direito público que se destina a combater os crimes e as contravenções penais, através da imposição de uma sanção penal. Aqui, surge um pri- meiro questionamento importantíssimo: QUAL A DIFERENÇA ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO? CRIME X CONTRAVENÇÃO Para encontrar a diferenciação entre estes dois termos tão utilizados, devemos recorrer à Lei de Introdução ao Código Penal, que dispõe em seu artigo 1º: Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei co- mina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isolada- mente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alter- nativa ou cumulativamente. Logo, do exposto, podemos resumir: CRIME- Pena de reclusão ou detenção (isoladamente, alternativa ou cumulativamente ou não com multa). CONTRAVENÇÃO - Isoladamente prisão simples, prisão simples + multa, ou apenas multa. RECLUSÃO x DETENÇÃO x PRISÃO SIMPLES – Na prática, não existe hoje diferença essencial entre re- clusão e detenção. A lei, porém, usa esses termos como índices ou critérios para a determinação dos regimes de cumprimento de pena. Na Reclusão, a pena é cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. Na Detenção, cumpre-se em regime semiaberto ou aberto, salvo a hipótese de transferência excepcional para o regime fechado. A Prisão Simples é prevista para as contravenções penais e não para crimes. Pode ser cumprida nos re- gimes semiaberto ou aberto, não sendo cabível o re- gime fechado. N o Dizemos que o Direito Penal é um ramo do direito público por ser composto de regras aplicáveis a todas as pessoas e por ter como titular exclusivo do direito de punir o ES- TADO. CONCEITO FORMAL e MATERIAL DE DIREITO PENAL- Formalmente, o Direito Penal se caracteriza pelo conjunto de NORMAS (tipo penal incriminador) que descrevem condutas (ações ou omissões) criminosas e seus efeitos jurídicos. Materialmente, o Direito Penal se caracteriza pelas condu- tas reprováveis que afetam os bens jurídicos indispensá- veis à sociedade, e portanto, passível de sansão penal. Sob o enfoque Sociológico, Direito Penal é mais um ins- trumento de controle social de comportamentos desvia- dos, visando assegurar a necessária disciplina social. O conceito ANALÍTICO leva em conta os elementos do crime. Ele depende da teoria adotada. Vejamos: Para a Teoria CCausalista, o crime é fato típico + ilícito + culpável. Para esta teoria, o dolo e culpa estão na CCULPABILIDADE. Para teoria Finalista, o crime é fato típico + ilícito + culpável. Para esta teoria, o dolo e culpa estão na TI- PICIDADE. Para Teoria Finalista Dissidente, o crime é composto de Fato típico + Ilicitude. Para esta teoria, o dolo e cul- pa estão na TIPICIDADE. O Direito Penal é um dos ramos do direito, se diferencian- do dos demais por sua consequência jurídica mais drásti- ca, devendo ser utilizado como última razão. Somente se socorre ao direito penal, quando outros ramos do direito forem ineficazes para pacificação social. Ele não age no mesmo tempo, aguardando a atuação dos demais. FUNÇÃO DO DIREITO PENAL- A doutrina moderna discute qual é a função do Direito Penal, nascendo, assim, o movimento do funcionalismo. O funcionalismo se divide em duas escolas: a) funcionalismo teleológico; b) funcionalismo sistêmico ou radical. Funcionalismo teleológico ou racional (Roxin) - A função do direito penal é assegurar bens jurídicos indispensáveis, valendo-se das medidas de política criminal. Ele se vale de princípios positivados ou não, de política criminal, e, consequentemente, concorda com o princípio da insigni- ficância (ex: furto de caneta é irrelevante). Funcionalismo radical ou sistêmico (Jakobs)- A função do direito penal é resguardar o sistema, a norma e o direito posto (o império da lei). Os sistêmicos não admitem princípios não-positivados, visto que não se encontram no ordenamento jurídico. Desse modo, não adotam o princípio da insignificância, pois se preocupam com a aplicação da norma, e não com o bem jurídico tute- lado. No furto de uma caneta, para Roxin, há irrelevância desta ação, se valendo de medidas de política criminal. Não prejudica de maneira intolerável o bem jurídico, logo, não é função do direito penal resguardar bens jurídicos irrele- vantes. Para Jakobs, o agente que furta um veículo ou uma cane- ta, está ferindo o sistema da mesma forma. Ao ferir o sistema, o agente torna-se inimigo do sistema. Por isso é denominado DIREITO PENAL DO INIMIGO. Damásio de Jesus, no artigo intitulado “Direito penal do inimigo. Breves considerações”, assim destaca o conceito de inimigo para Jakobs, as características do Direito Pe- nal do Inimigo e as críticas a esta corrente: Inimigo é todo aquele que reincide persistentemente na prática de delitos ou que comete crimes que ponham em risco a própria existência do Estado, apontando como exemplo maior a figura do terrorista. Aquele que se recusa a entrar num estado de cidadania não pode usufruir das prerrogativas inerentes ao conceito de pessoa. Se um indivíduo age dessa forma, não pode ser visto como alguém que cometeu um "erro", mas como aquele que deve ser impedido de destruir o ordenamento jurídico, mediante coação. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL DO INIMIGO De acordo com Jakobs, são as seguintes: 1. Seu objetivo não é a garantia da vigência da norma, mas a eliminação de um perigo; Entre nós, o regime disciplinar diferenciado, previsto nos arts. 52 da Lei de Execução Penal, projeta-se nitidamente à eliminação de perigos. 2. A punibilidade avança em boa parte para a incrimina- ção de atos preparatórios; Inspirando-se num exemplo de Jakobs, pode-se notar essa tendência no Brasil, onde uma tentativa de homicídio simples, que pressupõe atos efetivamente executórios, pode vir a ser punida de modo mais brando do que a for- mação de quadrilha para prática de crimes hediondos ou assemelhados (art. 8.º da Lei n. 8.072, de 1990), na qual se tem a incriminação de atos tipicamente preparatórios. 3. A sanção penal, baseada numa reação a um fato pas- sado, projeta-se também no sentido da segurança con- tra fatos futuros, o que importa aumento de penas e utilização de medidas de segurança. O aumento de penas tem sido recurso frequente em nosso País. Exemplos: Lei dos Crimes Hediondos, Lei de Lavagem de Capitais e Lei n. 9.677, de 1998, que dispõe sobre falsifi- cação de produtos alimentícios ou medicinais. DIREITO PROCESSUAL PENAL DO INIMIGO No campo do processo penal também se mostram refle- xos da concepção do indivíduo como "inimigo": 1. A prisão preventiva, medida cautelar utilizada no curso de um processo, funda-se no combate a um perigo (de fuga, de cometimento de outros crimes, de alteraçãodas provas etc.); 2. Medidas processuais restritivas de liberdades funda- mentais, como a interceptação das comunicações te- lefônicas, cuja produção se dá sem a comunicação prévia ao investigado ou acusado, e a gravação ambi- ental; 3. Possibilidade de decretação da incomunicabilidade de presos perigosos etc. As críticas de Cancio Meliá ao Direito Penal do Inimigo podem assim ser sintetizadas: a. O Direito Penal do Inimigo ofende a Constituição, pois esta não admite que alguém seja tratado pelo Direito como mero objeto de coação, despido de sua condição de pessoa (ou de sujeito de direitos). b. O modelo decorrente do Direito Penal do Inimigo não cumpre sua promessa de eficácia, uma vez que as leis que incorporam suas características não têm reduzido a criminalidade. c. O fato de haver leis penais que adotam princípios do Direito Penal do Inimigo não significa que ele possa existir conceitualmente, i.e., como uma categoria váli- da dentro de um sistema jurídico. d. Os chamados "inimigos" não possuem a "especial pe- riculosidade" apregoada pelos defensores do Direito Penal do Inimigo, no sentido de praticarem atos que põem em xeque a existência do Estado. O risco que esses "inimigos" produzem dá-se mais no plano simbó- lico do que no real. e. A melhor forma de reagir contra o "inimigo" e confirmar a vigência do ordenamento jurídico é demonstrar que, independentemente da gravidade do ato praticado, ja- mais se abandonarão os princípios e as regras jurídi- cas, inclusive em face do autor, que continuará sendo tratado como pessoa (ou "cidadão"). f. O Direito Penal do Inimigo, ao retroceder excessiva- mente na punição de determinados comportamentos, contraria um dos princípios basilares do Direito Penal: o princípio do DIREITO PENAL DO FATO, segundo o qual não podem ser incriminados simples pensamen- tos (ou a "atitude interna" do autor). No DIREITO PENAL DO FATO, adotado pelo BRASIL, pune- se a conduta praticada pelo agente, independentemente de sua personalidade. OBJETO DO DIREITO PENAL O Direito Penal dirige seus comandos legais ao homem, pois somente este é capaz de executar ações com cons- ciência do fim. O âmbito da normatividade jurídico-penal limita-se às atividades finais humanas. OBJETO JURÍDICO é o bem ou o interesse protegido pela norma penal. OBJETO MATERIAL É A COISA sobre a qual recai a ação do agente, podendo tratar-se tanto de um bem material como de uma pessoa no sentido corporal. Os bens protegidos pelo Direito Penal não interessam exclusivamente ao indivíduo, e sim à sociedade como um todo. A relação entre criminoso e vítima é secundária, pois esta não tem o direito de punir. Finalidade Preventiva: as normas penais visam evitar a prática dos crimes. Falhando a função motivadora (motivar o indivíduo a não se afastar da ordem jurídica), a prevenção genérica, desti- nada a todos, torna-se uma realidade em relação ao infra- tor, caracterizando a PREVENÇÃO ESPECIAL (manifesta- ção do caráter coercitivo do Direito Penal). Classificação do Direito Penal em OBJETIVO e SUBJETI- VO: a) Direito Penal Objetivo: é o conjunto de leis penais em vigor no país (ex: Código Penal). b) Direito Penal Subjetivo: é o direito de punir do Estado. Objetivamente, o Direito Penal se caracteriza pelo conjun- to de normas que definem os delitos e cominam as res- pectivas sanções. Subjetivamente, é o direito do Estado de aplicar a tutela penal. O Estado, como ente dotado de SOBERANIA, de- tém, exclusivamente, o direito de punir (jus puniendi). Esta classificação carece de qualquer utilização prática, pois ambos se complementam, não existindo separada- mente. O direito penal objetivo é expressão (se expressa) ou emanação do direito penal subjetivo. LIMITES AO DIREITO DE PUNIR: a) LIMITE TEMPORAL: exemplo clássico é a prescrição. Há duas exceções (imprescritíveis), que são o crime de racismo e a atividade de grupo armado, civil ou militar, contra o Estado Democrático e a ordem constitucional (conforme art. 5.º, XLII e XLIV, CF/88). b) LIMITE ESPACIAL: princípio da territorialidade (art. 5º do CP), pois em regra, somente se punem fatos ocorri- dos no território nacional. c) LIMITAÇÃO MODAL (LIMITE QUANTO AO MODO): prin- cípio da Dignidade da pessoa humana ou humaniza- ção das penas. Este limite não pode encontrar exce- ções. A ação penal privada não é exceção ao direito de punir do Estado, uma vez que ao ofendido se transfere apenas a PERSECUÇÃO (ou perseguição) PENAL, e não efetivamen- te o direito de punir. O direito de punir é monopólio Estatal. Excepcionalmente, permite-se a aplicação de sanções penais pelos grupos tribais (índios), desde que respeitado o princípio da digni- dade da pessoa humana, proibido em qualquer caso pena de caráter cruel ou infamante, ou pena de morte (art. 57 da Lei 6.001/73 - Estatuto do Índio). É o Estado respeitan- do os costumes e a cultura indígenas. O Estado, como ente dotado de soberania, detém, exclusi- vamente, o direito de punir (jus puniendi). Tratando-se de manifestação de poder soberano, esse direito é exclusivo e indelegável. Mesmo na ação penal de iniciativa privada, o particular possui apenas a prerrogativa de dar início ao processo, por meio da queixa. O jus puniendi, no entanto, continua com o Estado, tanto que é possível a ele conce- der anistia em crime de ação privada (ora, só quem detém o jus puniendi pode a ele renunciar). Esse direito existe abstratamente, independentemente de vir a ser praticada a infração penal, se impõe a todos, indistintamente. O Estado não tem o poder de punir fulano ou beltrano, mas simplesmente tem o poder de punir (qualquer eventual infrator). No momento em que um crime é praticado, esse direito abstrato e impessoal concretiza-se e volta-se especifica- mente contra o delinquente. Nesse instante, de direito passa a pretensão. Pretensão é a disposição de submeter um interesse alheio a um interesse próprio. O Estado passa a ter o inte- resse de submeter o direito de liberdade daquele crimino- so ao seu direito de punição. Surge uma relação jurídico- punitiva com o delinquente, pela qual o direito de punir sai do plano abstrato e se concretiza, voltando-se contra o autor da infração penal. Essa pretensão individual e con- creta, na qual o direito abstrato se transformou, denomi- na-se punibilidade. Punibilidade é a possibilidade de efeti- vação concreta da pretensão punitiva. O direito de punir é, portanto, uma manifestação da sobe- rania de um Estado, consistente na prerrogativa, in abs- tracto, de se impor coativamente a qualquer pessoa que venha a cometer alguma infração penal, desrespeitando a ordem jurídica vigente e colocando em perigo a paz soci- al. A Pretensão Punitiva, disposição concreta que surge para o Estado, consiste em submeter alguém que efeti- vamente praticou uma infração penal a uma punição pre- vista em lei. (CAPEZ, Fernando. Execução penal simplifi- cado. 14. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011). OBS: O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL, de que o Brasil é Estado-parte, não é uma exceção ao monopólio estatal do direito de punir. O Tribunal Penal Internacional tem competência subsi- diária em relação às jurisdições nacionais de seus Esta- dos-partes. Consagrou-se o Princípio da Complementari- dade, isto é, o Tribunal Penal Internacional não pode intervir indevidamente nos sistemas judiciais nacionais, salvo nos casos em que os Estados se mostrem incapa- zes ou não demonstrem efetiva vontade de punir os seus criminosos (resumo: intervém somente se e quando a justiça repressiva interna não funcione). FONTES DO DIREITO PENAL Quando se fala em fonte, fala-se em origem jurídica (de onde vem e como se revela) o Direito Penal. FONTE MATERIAL, DE PRODUÇÃO, SUBSTANCIAL OU DE CRIAÇÃO se preocupa com o órgão encarregado da cria- ção do Direito Penal. Em regra, somente a União está au- torizada a criaro Direito Penal (art. 22 da CF). É compe- tente de forma privativa (e não exclusiva) para elaboração da lei penal. Assim, a União poderá, por meio de lei com- plementar, autorizar os Estados-membros a legislar sobre questões específicas de interesse local (art. 22, p. único, da CF). A fonte material do Direito Penal, portanto, é o Estado, já que compete à UNIÃO legislar sobre matéria penal. FONTE FORMAL, DE COGNIÇÃO OU DE CONHECIMENTO (VEÍCULOS DE REVELAÇÃO DAS NORMAS PENAIS) é o processo de exteriorização da fonte material. É meio de revelar o direito penal criado. É fonte de conhecimento. A fonte FORMAL, por sua vez, pode ser: - IMEDIATA: Lei – é a norma penal que descreve a con- duta e a pena cominada; - MEDIATA: costumes e princípios gerais do direito. Devem ser aplicados com bastante cautela, em face do princípio da reserva legal. Doutrina clássica Doutrina Moderna - Fonte material: União - Fonte formal imediata: Lei. - Fonte formal mediata: Princípios Gerais do Direito e Costumes. - Fonte material: União - Fonte formal imediata: - Lei (única capaz de criar infra- ção penal), - CF, - Tratado Internacional de Direi- tos Humanos - Jurisprudência (ex.: art. 71, CP: “condição de tempo”, a jurispru- dência diz que é de 30 dias) - Complemento de norma penal em branco - Princípios Gerais de Direito (o STF declara inconstitucionali- dade de lei baseado em PGD) - Fonte formal mediata: Doutrina Obs: Costume é fonte informal de direito e PGD foram transferidos para fonte imediata. Se o tratado internacional de direitos humanos foi ratifi- cado antes da EC 45/2004, terá status de norma supra- legal. Se for ratificado depois da EC 45/2004 terá status de norma constitucional, desde que tenha quórum de EC (3/5 dos votos); e de norma supra-legal, quando aprovada por maioria simples. O conceito de drogas tem previsão na portaria do SUS, que traz o rol das substâncias entorpecentes. Desse mo- do, se tem os atos administrativos como fonte formal imediata, já que, neste caso, são complementos de norma penal em branco. COSTUMES: Costumes são comportamentos uniformes e constantes pela convicção de sua obrigatoriedade e necessidade jurídica. Espécies de costume: incriminador, revogador (abolicio- nista) e interpretativo. Não se admite o costume incriminador, pois somente lei cria crime e comina pena (princípio da legalidade) (art. 1º, CP). Exclui-se o direito consuetudinário para fundamenta- ção ou agravação da pena. Não se admite o COSTUME INCRIMINADOR, pois somente LEI cria CRIME e comina PENA (princípio da LEGALIDADE). NO QUE TANGE AO COSTUME REVOGADOR (ABOLICIO- NISTA) HÁ TRÊS CORRENTES: 1ª) É possível, aplicado nos casos em que a infração penal não mais contraria o interesse social. Para essa cor- rente, a contravenção penal de jogo do bicho foi revo- gada. 2ª) Não existe costume abolicionista, mas quando o fato já não é mais indesejado pelo meio social, a lei não de- ve ser aplicada. Para essa corrente, a contravenção penal de jogo do bicho não foi revogada, mas não será aplicada. 3ª) Não existe costume abolicionista. Enquanto não revo- gada por outra lei, a lei será aplicada. Para essa cor- rente o costume não revoga infração penal, tendo em vista que a LICC (aplicável ao Direito Penal) dispõe que uma lei terá vigor até que outra lei a modifique ou re- vogue (art. 2º). Essa corrente é a prevalecente O adultério não é exemplo de costume que revogou a lei, pois foi revogado pela teoria penal de intervenção míni- ma. O costume interpretativo é admitido. Presta-se para inter- pretar ou aclarar o significado das expressões. (ex.: re- pouso noturno previsto no art. 155, p. 1º, do CP: período que a comunidade costumeiramente se recolhe para o descanso diário). PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL Segundo o doutrinador Celso Antônio Bandeira de Mello: “Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreen- são e inteligência, exatamente por definir a lógica e a ra- cionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo". Vamos, a partir de agora, analisar os princípios do Direito Penal que serão importantes para a sua PROVA: 01) PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL: Uma das características de vital importância do Direito Penal brasileiro é o chamado princípio da reserva legal, o qual encontra previsão não só no art. 1º, do Código Penal, mas também na Constituição Federal. Observe: Art. 5º [...] XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; O princípio da reserva legal não é sinônimo do princípio da legalidade, senão espécie. A doutrina não raro confunde ou não distingue suficientemente o princípio da legalida- de e o da reserva de lei. O princípio da reserva legal signi- fica a submissão e o respeito à lei, ou a atuação dentro da esfera estabelecida pelo legislador. O segundo consiste em estatuir que a regulamentação de determinadas maté- rias devem ser feitas, necessariamente, por lei formal. Segundo o Professor DAMÁSIO E. DE JESUS: "(...) O princípio da ou de reserva legal tem significado político, no sentido de ser uma garantia constitucional dos direitos do homem. Constitui a garantia fundamental da liberdade civil, que não consiste em fazer tudo o que se quer, mas somente aquilo que a lei permite. À lei e somente a ela compete fixar as limitações que destacam a atividade criminosa da atividade legítima. Esta é a condição de segurança e li- berdade individual. (...) Assim, não há crime sem que, antes de sua prática, haja uma lei descrevendo-o como fato punível. É lícita, pois, qualquer conduta que não se encontre definida em lei penal incriminadora.” 02) PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE: Este princípio tem base no já citado art. 5º, XXXIX, da Carta Magna e estabelece a necessidade de que o CRIME e a PENA estejam PREVIAMENTE definidos em LEI. Aqui cabe um importante questionamento: Durante o chamado “vacatio legis”, período entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor, já pode um indivíduo ser punido? A resposta é negativa, e para o nosso curso lembre-se sempre de que: Lei penal produz efeitos a partir de sua entrada em vigor. não pode retroagir, salvo se beneficiar o réu. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA -Este princípio surgiu com a ideia de afastar da esfera do Direito Penal situa- ções com pouca significância para a sociedade. Observe um pronunciamento do STF sobre o tema: STF - HC 92961/SP – DJe 07/02/2008- A mínima ofen- sividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do compor- tamento e a inexpressividade da lesão jurídica constitu- em os requisitos de ordem objetiva autorizadores da aplicação do princípio da insignificância. Mas e se, por exemplo, Felipe furta um grão de arroz de Caio, podemos afirmar que o princípio será aplicado e, portanto, a tipicidade afastada? A resposta é negativa, pois o simples fato de um objeto ter um reduzido valor patrimonial não quer dizer que ele não é importante para quem o detém. Explico: Imagine que o supracitado grão de arroz tenha sido dado a Caio por um parente próximo, poucos instantes antes de mor- rer. Não será valioso para ele? Ok, grão de arroz no leito de morte... Realmente peguei pesado, mas acho que agora você não esquece mais que a o pequeno valor do objeto do furto não se traduz, automaticamente, na aplicação do princí- pio da insignificância!!! Vamos ver o que diz o STJ sobre o tema: Para finalizar este importante princípio, é importante res- saltar que,obviamente, ele não se aplica só aos delitos contra o patrimônio, mas A QUALQUER CRIME. Durante o curso voltaremos a tratar deste tema. STJ - HC 60949 PE – DJ 17.12.2007 HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. FURTO DE PULSOS TELEFÔNICOS. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNI- FICÂNCIA. POSSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. O pequeno valor da res furtiva (objeto do furto) não se traduz, automaticamente, na aplicação do princípio da insignificância. Há que se conjugar a importância do objeto material para a vítima, levando-se em con- sideração a sua condição econômica, o valor senti- mental do bem, como também as circunstâncias e o resultado do crime, tudo de modo a determinar, sub- jetivamente, se houve relevante lesão. Precedente desta Corte. 2. Consoante se constata dos termos da peça acusató- ria, a paciente foi flagrada fazendo uma única ligação clandestina em telefone público. Assim, o valor da res furtiva pode ser considerado ínfimo, a ponto de justi- ficar a aplicação do Princípio da Insignificância ou da Bagatela, ante a falta de justa causa para a ação pe- nal. 03) PRINCÍPIO DA ALTERIDADE: Este princípio é interessante e de fácil entendimento. Va- mos compreendê-lo através de um exemplo: Imagine que Felipe, após assistir a um jogo de futebol, fica desesperado com seu time e começa a bater em seu próprio corpo. Felipe poderá ser condenado criminalmen- te por algo? A resposta é NÃO, pois, segundo o princípio da alteridade, ninguém pode ser punido por causar mal APENAS A SI PRÓPRIO. 04) PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA- Segundo este princípio, o Direito Penal deve ser utilizado com muito critério, devendo o legislador fazer uso dele SOMENTE nas situações realmente NECESSÁRIAS de serem rigidamente tuteladas. Veja como o STF trata o assunto: STF - HC 92463/RS – DJ 30.10.2007 [...] O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restri- ção de direitos do indivíduo somente se justificam quan- do estritamente necessárias à própria proteção das pes- soas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesivi- dade. O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado, cujo desvalor - por não impor- tar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integrida- de da própria ordem social. [...] O direito só deve ser aplicado quando estritamente ne- cessário, mantendo-se subsidiário e fragmentário. O direito penal não tem interesse em fatos da natureza, somente em fatos humanos. Ademais, não tem interesse em qualquer fato humano, apenas nos fatos humanos indesejáveis. Como visto, o direito penal é um dos ramos voltados a garantir a pacificação social. Ou seja, serve como instru- mento para inibir comportamentos humanos desviados ou indesejáveis. No entanto, em observância ao princípio da intervenção mínima, o direito penal somente esta legi- timado a agir quando houver o fracasso dos demais ra- mos do direito, acrescido da relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. O princípio da intervenção mínima tem como característi- ca a subsidiariedade e fragmentariedade. Ou seja, só deve intervir quando estritamente necessário, mantendo-se subsidiário e fragmentário. No que tange à subsidiariedade, esta norteia a interven- ção em abstrato, quando os demais ramos do direito fra- cassarem (ineficazes) no controle social. Deve ser a ulti- ma ratio, derradeira trincheira no combate ao comporta- mento humano indesejado. O Direito Penal é subsidiário porque tem consequência jurídica mais drástica. Com relação à fragmentariedade, ela norteia a intervenção no caso concreto. Assim, o Direito Penal somente inter- vém no caso concreto quando presente relevante e intole- rável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Exemplo dado por Rogério: Imagine todos os Direitos reunidos, com exceção do Direito Penal, com a finalidade de buscar a solução para a subtração de coisa alheia móvel. Neste caso, os outros ramos do direito são inefi- cazes, pois não possuem sanções capazes de inibir esta conduta. Em abstrato, o Direito Penal tipifica esta conduta como furto (é, então, subsidiário). Ocorre que diante do furto de uma caneta bic o Direito Penal não pode intervir no caso concreto. Ao selecionar a atuação no caso con- creto, implicará a fragmentariedade. 05) PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA: Segundo este princípio, ninguém pode ser responsabiliza- do por um fato que foi cometido por um terceiro. Tal prin- cípio tem base constitucional. Veja: Art. 5º [...] XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; 06) Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos: Impede que o Estado venha a utilizar o Direito Penal para a proteção de bens ilegítimos. Ex: não compete ao direito penal proteger uma religião, tendo em vista que o Estado é laico. 07) P. da insignificância ou bagatela. Visão dos tribunais - STF e STJ- Critérios/ requisitos necessários para configuração do delito de bagatela (princípio da insignificância) no enten- dimento de ambos os tribunais supramencionados: a) conduta minimamente ofensiva; b) ausência de periculosidade do agente; c) reduzido grau de reprovação do comportamento; d) lesão jurídica inexpressiva. O p. da insignificância recai sobre o fato, assim, não tem nada a ver atentar para as condições pessoais do agente. Somente critérios objetivos podem nortear tal princípio e nada de consideras os antecedentes da pessoa. OBS.: Crime de moeda falsa - ambos não admitem a aplicação de tal princípio nos crimes contra a fé pública. Já o crime de descaminho - ambos aceitam a aplicação do princípio em tela. Agora vejamos AS DIVERGÊNCIAS entre os posiciona- mentos dos tribunais: O STF aplica o Princípio da insignificância nos crimes contra a administração pública Existem julgados avalian- do a capacidade econômica da vítima. O STJ não aplica o Princípio da insignificância nos crimes contra a administração pública. Ou seja, o direito penal não pode punir o agente pelo o que ele é, pelo que ele pensa ou por seu estilo de vida. Associ- ar com o filme EASY RIDER... Seus pensamentos, desejos, meras cogitações ou estilo de vida, não são puníveis. É o direito penal do fato e não direito penal do autor. A aplicabilidade do Princípio da insignificância pode ser aplicado ao criminoso reincidente? O fato para ser insignificante tem que ter requisitos obje- tivos, e não requisitos subjetivos, que constituiria neste caso a aplicação do direito penal, segundo os critérios do direito penal do autor, o que é vedado, sendo este o en- tendimento prevalecente. Entretanto, há julgados no STJ condicionando a aplicação do Princípio da insignificância aos bons antecedentes do agente. 08) Princípio da responsabilidade pessoal: Proíbe-se o castigo penal pelo fato de outrem, não se ad- mite a responsabilidade coletiva. O STF tem anulado o processo por inépcia da inicial, em especial, crimes previ- denciários e societários, não basta apontar os diretores, mas dizer o que cada um fez. É difícil individualizar, mas tem de dizer como o ser concorreu com o crime. Enfim, a denúncia genérica é proibida com fundamento no princí- pio da responsabilidade pessoal. 09) Responsabilidade subjetiva: Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, só podendo ser responsabilizado se ele foi queri- do (dolo direto), aceito (dolo eventual) ou previsível (cul- pa). Trata-se de princípiodiametralmente oposto a res- ponsabilidade objetiva. Somente há punição a fatos dese- jados, desejáveis ou previsíveis. Ou seja, não há respon- sabilidade penal sem dolo ou culpa. Tem prova/concurso pedindo exceções do CP (não de lei especial – como o caso da pessoa jurídica). 10) Culpabilidade: Basta dissertar sob os elementos/requisitos da culpabili- dade. Trata-se de postulado limitador do direito de punir. Assim, só pode o Estado punir agente imputável com po- tencial consciência da ilicitude, quando dele exigível con- duta diversa. Enfim, não há responsabilidade penal sem um agente capaz, com potencial consciência da ilicitude do fato, sendo dele exigível um comportamento ou condu- ta adversa. 11) Presunção de inocência ou da não culpa: Postulado que garante ao cidadão, até o trânsito em jul- gado de sentença condenatória penal, a presunção de inocência (art. 5º, inc. LVII, da CF). 12) Proibição da pena indigna: A ninguém pode ser imposta uma pena ofensiva à digni- dade da pessoa humana. Está ligado ao princípio da dig- nidade da pessoa humana. Este princípio tem previsão no art. 5º, item 1, da CADH. 13) Humanização das penas ou humanidade das penas: Não se admite pena desumana, cruel ou degradante. Este princípio tem previsão no art. 5º, item 2, da CADH. Assim, proíbe – se a prisão perpétua e, em regra, a pena de mor- te. Excepcionalmente admitimos a pena de morte (caso de guerra declarada – executada por meio de fuzilamen- to). 14) Proporcionalidade: A pena deve ser proporcional à gravidade do fato/delito desconsiderando as qualidades pessoais do agente*** (princípio implícito no princípio da individualização de pena – a doutrina moderna nem fala mais em p. da indivi- dualização da pena e tão somente em proporcionalidade.) OBS: O direito penal do fato determina que o tipo penal só deve incriminar fatos, comportamentos humanos voluntá- rios. No entanto, no momento da individualização da pena é imprescindível considerar o rol de qualidades do agente (positivas ou negativas) a fim de obedecer à responsabili- dade penal individual. 15) Vedação do bis in idem: Ninguém pode ser punido mais de uma vez pela prática do mesmo ato. Deve ser analisado a partir do tripé: a) Material: ninguém pode ser condenado pela segunda vez em razão do mesmo fato; b) Processual: ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo crime, por tal ângulo; e c) Execucional: ninguém pode ser executado duas vezes por condenações relacionadas ao mesmo fato. 16) Da legalidade: Vejamos o artigo abaixo: Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. A primeira corrente diz que adotamos o p. da legalidade ( = sinônimo da reserva legal) – não prevalece. Já a segunda corrente diz que adotamos do Princípio da Reserva Legal, porque a lei tomada em sentido ampla abrange todas as espécies normativas. Já tomada no seu sentido restrito abrange somente LO e LC. O artigo primei- ro toma a lei no sentido restrito (esta que adotamos). Uma terceira corrente diz que trata do p. da legalidade que é o é reserva mais anterioridade legal. O princípio da Legalidade (reserva legal mais anteriorida- de): constitui uma real limitação ao poder estatal de inter- ferir na esfera individual das liberdades. Em síntese, é a limitação ao poder punitivo do Estado. A legalidade tem previsão: a) no art.5º, XXXIX, da CF; b) no art. 1º do CP; c) no art. 9º da Convenção Americana de Direitos Huma- nos – CADH; d) no Estatuto de Roma – criou a o TPI – art. 22. Base legal do p. da legalidade: CF art. 5º, XXXIX Fundamentos do p. da legalidade 1. Político: exigência de vinculação do executivo e do judiciário a lei abstrata a fim de impedir poder punitivo com base no livre arbítrio; 2. Democrático: respeito ao p. da divisão de poderes ou funções, ou seja, o parlamento representante do povo deve ser responsável pela criação dos tipos penais; 3. Jurídico: uma lei prévia e clara produz importante efei- to intimidativo. OBS: Art. 1º, CP e as contravenções penais O CP (ART.1º) não menciona as contravenções penais quanto à observância da legalidade. Mas a doutrina é pacífica no sentido de que o princípio da legalidade se aplica aos crimes, bem como às contravenções penais. Art. 1º, CP e as medidas de segurança Art. 1º do CP - diz que não há pena sem prévia cominação legal, como ficam as medidas de segurança, aplica-se o p. da legalidade? Há duas correntes: a) não se estende às medidas de segurança o princípio da legalidade, vez que não se pretende punir, mas sim curar – caráter curativo (Francisco de Assis Toledo); e b) se estende, vez que a medida de segurança é uma es- pécie de sanção penal, logo, não se pode negar seu ca- ráter aflitivo (corrente majoritária e posição do STF). PARTE GERAL- DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL Anterioridade da Lei Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. MEDIDA PROVISÓRIA NÃO PODE CRIAR CRIME NEM CO- MINAR PENA? Primeira Corrente- diz que NÃO. Para esta corrente MP não combina com dir. penal, ainda que convertida em lei. Com base na CF, art. 62, par.1º: Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre ma- téria: I – relativa a: b) direito penal, processual penal e processual civil; Segunda Corrente- Contudo, outra corrente (adotada pelo STF) discorda da primeira, no sentido de que a MP quan- do versar sobre direito penal não incriminador pode ser adotada. Destaca o RE 254.818 do Paraná discutindo os efeitos benéficos trazidos pela MP 1.571/97 (permitiu o parcelamento de débitos previdenciários e tributários com efeito extintivo da punibilidade). Lei delegada- incabível – art. 68, par. 1º, CF Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presiden- te da República, que deverá solicitar a delegação ao Con- gresso Nacional. § 1º - Não serão objeto de delegação os atos de compe- tência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação so- bre: II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; Resolução do TSE, CNJ e CNMP (a resolução não é lei em sentido estrito), também não podem criar crime ou comi- nar pena, pois têm força meramente normativa. LEI COMPLETA OU INCOMPLETA A lei penal poderá ser completa se dispensar outra espé- cie normativa ou interpretação valorativa do juiz. Ex: art. 121. Contudo a lei penal poderá ser incompleta - depende de complemento normativo ou valorativo. 1. Completa; e 2. Incompleta A INCOMPLETA pode ser do tipo - NORMA PENAL EM BRANCO – isto é depende de outra espécie legislativa. A norma penal em branco é aquela com preceito secundário (pena) determinado, porém, com preceito primário (conte- údo) indeterminado, dependendo, para sua exeqüibilidade (eficácia), de complementação por outra norma ou ato administrativo. A complementação pode se dar por uma norma da mesma espécie normativa (lei) ou por uma norma de outra espécie normativa (ato normativo). Ade- mais, temos as espécies de norma penal em branco: NORMA PENAL EM BRANCO EM SENTIDO ESTRITO, PRÓPRIA OU HETEROGÊNEA- o complemento normativo não emana do legislador. A lei é complementada por ato normativo diverso de lei – emana do executivo. Ex: art. 33 da Lei 11.343/06 (lei de drogas) é complemen- tado por uma portaria do Ministério da Saúde. Portaria 344 de 98 -traz o que é droga. NORMA PENAL EM BRANCO EM SENTIDO AMPLO, IM- PRÓPRIA OU HOMOGÊNEA: a lei é complementada pela mesma espécie normativa (lei). São aquelasem que o complemento é determinado pela mesma fonte formal da norma incriminadora, ou seja, o complemento tem a mesma natureza jurídica e provém do mesmo órgão que elaborou a lei penal incriminadora. Exemplo: Observe o art. 169, parágrafo único, I, do Código Penal: Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único - Na mesma pena incorre: I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio; Mas o que é "tesouro"? Para a correta complementação do art. 169, parágrafo único, I, do CP (norma penal em branco), devemos recorrer ao Código Civil que em seu art. 1264 leciona que tesouro é: Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória [...]. Neste exemplo, temos uma LEI, editada pelo LEGISLATI- VO, complementando norma de mesma especificação. STJ, HC 98113/MS, DJ 15.06.2009 O art. 1°, I, da Lei 8.176/91, ao proibir o comércio de combustíveis em desacordo com as normas estabeleci- das na forma da lei, é norma penal em branco em senti- do estrito, porque não exige a complementação median- te lei formal, podendo sê-lo por normas administrativas infralegais, estas sim, estabelecidas "na forma da lei". OBSERVAÇÃO Alguns autores referem-se à chamada lei penal em branco inversa ou ao avesso. Trata-se de situação em que o pre- ceito primário é completo, mas o secundário necessita de complementação. Neste caso, o complemento só pode ocorrer por lei sob pena de afronta ao princípio da reserva legal. Trata-se de uma A norma penal em branco fere o princípio da taxatividade? Não, pois apesar de formular proibição genérica comple- mentável, a norma penal em branco não fere o princípio da taxatividade, vez que sua eficácia fica sustada até que completada seja. E o respeito ao fundamento democrático do p. da legali- dade? Ex: portaria que diz o que é drogas. Não foi o parlamento que fez, mas sim o executivo. A norma penal em branco em sentido estrito (complemen- to não é dado pelo legislador) é inconstitucional. Esta modalidade ofende o p. da reserva legal, visto que o seu conteúdo poderá ser modificado sem que haja uma dis- cussão amadurecida da sociedade (Rogério Greco). Já outra corrente diz que na norma penal em branco em sentido estrito existe um tipo penal incriminador que tra- duz os requisitos básicos do delito (verbo do tipo, sujei- tos, objetos jurídico e material, etc.). O que a autoridade administrativa pode fazer é explicitar um dos requisitos típicos dado pelo legislador (corrente majoritária – LFG, p.ex.) LEI PENAL CONCEITO A lei penal é a fonte formal imediata do Direito Penal e é classificada pela doutrina majoritária em incriminadora e não incriminadora. Dizemos “incriminadoras” aquelas que criam crimes e cominam penas como, por exemplo: Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Sua estrutura apresenta dois preceitos, um primário (que expõe a conduta) e um secundário (que determina a pe- na): Diferentemente, as leis penais não incriminadoras são as que não criam delitos e nem cominam penas, e subdivi- dem-se em: a) PERMISSIVAS - Autorizam a prática de condutas típi- cas. Exemplo: Art. 23 do CP. Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. b) EXCULPANTES - Estabelecem a não culpabilidade do agente ou caracteriza a impunidade de algum crime. Observe: Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. [...] § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o cri- me de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, EXTINGUE A PUNIBILIDA- DE; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. c) INTERPRETATIVAS- Explicam determinado conceito, tornando clara a sua aplicabilidade. É o caso do artigo 327 do CP, que explica o conceito de funcionário públi- co para fins penais: Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efei- tos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remune- ração, exerce cargo, emprego ou função pública. ANALOGIA A analogia jurídica consiste em aplicar a um caso não previsto pelo legislador a norma que rege caso análogo, semelhante. Por exemplo, a aplicação de dispositivo refe- rente à empresa jornalística a uma firma dedicada à edi- ção de livros e revistas. A analogia não diz respeito à interpretação jurídica pro- priamente dita, mas à integração da lei, pois sua finalida- de é justamente SUPRIR LACUNAS DESTA. A analogia se apresenta nas seguintes espécies: a) Analogia in malam partem – É aquela em que se supre a lacuna legal com algum dis- positivo prejudicial ao réu. Isto não é possível no nosso ordenamento jurídico e desta forma já se pronunciou o STJ e o STF. Observe: STJ - REsp 956.876/RS - 2007/0124539-5 Não cabe ao Julgador aplicar uma norma, por assemelha- ção, em substituição a outra validamente existente, sim- plesmente por entender que o legislador deveria ter regula- do a situação de forma diversa da que adotou; não se pode, por analogia, criar sanção que o sistema legal não haja determinado, sob pena de violação do princípio da reserva legal. STF - INQUÉRITO: Inq 1145 PB – 19.12.2006 Não é possível abranger como criminosas condutas que não tenham pertinência em relação à conformação estri- ta do enunciado penal. Não se pode pretender a aplica- ção da analogia para abarcar hipótese não mencionada no dispositivo legal (analogia in malam partem). Deve-se adotar o fundamento constitucional do princípio da lega- lidade na esfera penal. Por mais reprovável que seja a lamentável prática da "cola eletrônica", a persecução penal não pode ser legitimamente instaurada sem o atendimento mínimo dos direitos e garantias constituci- onais vigentes em nosso Estado Democrático de Direito. b) Analogia in bonam partem – Neste caso, aplica-se ao caso omisso uma norma favorá- vel ao réu. Este tipo de analogia é aceito em nosso orde- namento jurídico e desta forma já se posicionou o STF em diversos julgados. Observe: HC/97676 - HABEAS CORPUS – 03/08/2009 Assim, é perfeitamente aplicável a analogia in bonam partem, a fim de extinguir a punibilidade do réu, garan- tindo-se a aplicação do princípio da isonomia, pois é defeso ao julgador conferir tratamento diverso a situa- ções equivalentes. ABOLITIO CRIMINIS O instituto da abolitio criminis ocorre quando uma lei nova trata como lícito fato anteriormente tido como criminoso, ou melhor, quando a lei nova descriminaliza fato que era considerado infração penal. Encontra embasamento no artigo 2º do Código Penal, que dispõe da seguinte forma: Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posteri- or deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Não se confunde a descriminalização com a despenaliza- ção, haja vista a primeira delas (descriminalização) retirar o caráter ilícito do fato, enquanto que a outra é o conjunto de medidas que visam eliminar ou suavizar a pena de prisão. Assim, na despenalização a conduta ainda é con- siderada um crime. Segundo os princípios que regem a lei penal no tempo, a lei abolicionista É NORMA PENAL RETROATIVA, atingindo fatos pretéritos, ainda que acobertados pelo manto da coisa julgada. Isto porque o respeito à coisa julgada é uma garantia do cidadão em face do Estado. Logo, alei posterior só não pode retroagir se for prejudicial ao réu. Entende a maioria da doutrina, inclusive o Supremo Tribu- nal Federal, que é perfeitamente possível abolitio criminis por meio de medida provisória. Cite-se como exemplo o seguinte julgado do STF: STF - AI 680.361/SC - DJ 9.03.2010 Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal – extraída pela doutrina consensual - da interpre- tação sistemática da Constituição -, não compreende a de normas penais benéficas, assim, as que abolem cri- mes ou lhes restringem o alcance, extingam ou abran- dem penas ou ampliam os casos de isenção de pena ou de extinção de punibilidade. Para finalizar, exemplo claro de abolitio criminis em nosso ordenamento jurídico foi o que aconteceu com o adultério, que desde 2005 não é mais considerado crime. LEI ABOLICIONISTA PODE RETROAGIR NA VACATIO LE- GIS? Primeira corrente: é possível, sabendo que a finalidade primordial da vacatio legis é tornar a lei conhecida não faz sentido que aqueles que já se inteiraram do seu teor fi- quem impedidos de lhe prestar obediência, em especial, quando o preceito é mais brando. - Art. 28, Lei de Drogas, usuário. (adotar prova Defensoria pública). Segunda corrente: não é possível, pois é desprovida de eficácia jurídica e social devendo imperar a lei vigente. Fazendo-se um confronto entre a lei anterior e a lei poste- rior, a segunda tem uma parte mais benéfica e outra mais gravosa em relação à primeira. Desse modo, aplica-se uma “terceira lei” (lex tertia), resultado da combinação das duas leis. É possível? Não é admissível a combinação de leis, pois, ao proceder assim, o juiz ofende o princípio da separação dos Pode- res, penetra em campo exclusivo e privativo do legislador, tornando-se legislador positivo, que é absolutamente pro- ibido (Nelson Hungria e a 1ª turma do STF - RHC 94802). Como tratar a sucessão de lei penal no caso de continui- dade delitiva? Apesar de cometido o delito em continuidade delitiva, para fins da pena, considera-se que só um crime foi prati- cado. Se quando ele começou a praticar o crime ‘A’ com pena de 1 a 4 anos e quando do 3º crime (crime continuado) a lei era ‘B’ com pena de 2 a 8 anos. Esse crime sofre as penas da lei A ou B? 1ª C – se vários crimes em continuidade delitiva (art. 71, CP) são praticados sob a égide de duas leis, sendo uma mais grave, o conflito resolve-se pela aplicação do princípio da retroatividade ou ultratividade da lei mais benéfica. 2ª C – aplica-se a lei vigente ao término da cessação da continuidade. O agente que prosseguiu na continuida- de delitiva após o advento da lei nova tinha a possibili- dade de motivar-se pelos imperativos desta ao invés de persistir nas práticas de seus crimes. Submete-se, portanto, ao novo regime, ainda que mais grave, sem violação ao princípio da legalidade. A 2ª corrente hoje está sumulada no STF - Súmula 711 - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessa- ção da continuidade ou da permanência. LEI PENAL MAIS BENÉFICA Imaginemos que Felipe cometeu um delito. Meses depois, após sua condenação transitada em julgado, a lei penal é modificada, tornando-se mais benéfica. Para este caso, ela retroagirá? Para obter a resposta você deve verificar o parágrafo úni- co do artigo 2º do Código Penal, que dispõe: Art. 2º[...] Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Para ficar bem claro, vamos aplicar o regramento legal em um caso prático: Em 2006 tivemos o advento da lei nº. 11.343, conhecida como Lei de Drogas. Até então, caso determinado indiví- duo fosse encontrado com drogas, mesmo para consumo próprio, estaria cometendo um crime e poderia, inclusive, ser preso. A nova lei veio despenalizar a conduta, ou seja, hoje, se um indivíduo estiver com drogas para consumo pessoal, não pode ser preso OBS: A retroatividade é automática, dispensa cláusula expres- sa e alcança inclusive os fatos definitivamente julgados! Atenção, agora, para um importante detalhe: Tratamos que a lei mais favorável é RETROATIVA. Sendo assim, somente podemos falar em RETROATIVIDADE quando lei posterior for mais benéfica ao agente, em comparação àquela que estava em vigor quando o crime foi praticado. Observe: Mas imaginemos que Caio comete um delito sob a égide de uma LEI “A”. Meses depois uma LEI “B” revoga a LEI “A”, trazendo regras mais gravosas ao crime cometido por Caio. O que fazer neste caso? Para esta situação, em que um delito é praticado durante a vigência de uma lei que posteriormente é revogada por outra prejudicial ao agente, ocorrerá a ULTRATIVIDADE da lei. Quando se diz que uma lei penal é dotada de ultrativi- dade, quer-se afirmar que ela, apesar de não mais vigente, continua a vincular os fatos anteriores à sua saída do sistema. Lei temporária em sentido estrito: é aquele que tem prazo pré-fixado em seu texto o tempo de sua vigência. Geral- mente é de curta duração. Lei excepcional: É a que atende as transitórias necessi- dades estatais, tais como guerras, calamidades, epidemi- as etc. Perdura por todo o tempo excepcional. Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorri- do o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. OBS.: A ultratividade do art. 3º é necessária, pois do contrário se sancionaria o absurdo de reduzir as disposições des- tas leis a uma espécie de ineficácia preventiva em rela- ção aos fatos, por elas validamente vetados, que fossem cometidos na eminência do vencimento. 1ª C – sabendo que a CF/88 não traz qualquer exceção à proibição da ultratividade maléfica, Zaffaroni entende que o art. 3º não foi recepcionado. A CF prevê a regra e não a exceção. Rogério Greco, Mauricio Antônio Ribei- ro Lopes também concordam. 2ª C – esta prevalece: não se vislumbra ofensa ao princí- pio da retroação mais benéfica (art. 5º, XL, CF), pois a norma penal (temporária em sentido estrito ou amplo) possui, como elemento do tipo, o fator ‘tempo’ de mo- do que ao deixar de viger, não lhe sucede nenhuma lei nova, mas apenas existe um retorno daquela que regu- lava a situação anteriormente. (Nucci, Damásio, LFG). Do exposto, podemos resumir: RETROATIVIDADE- Fenômeno jurídico em que se aplica uma norma a fato ocorrido ANTES do início da vigência da nova lei. ULTRATIVIDADE- Fenômeno jurídico pelo qual há a apli- cação da norma APÓS a sua revogação. OBS.: Alguns autores referem-se à chamada lei penal em bran- co inversa ou ao avesso. Trata-se de situação em que o preceito primário é completo, mas o secundário necessi- ta de complementação. Neste caso, o complemento só pode ocorrer por lei sob pena de afronta ao princípio da reserva legal. CONFLITO APARENTE DE LEIS "Ocorre o conflito aparente de normas penais quando o mesmo fato se amolda a duas ou mais normas incriminado- ras. A conduta, única, parece subsumir-se em diversas nor- mas penais. Ou seja, há uma unidade de fato e uma plurali- dade de normas contemporâneas identificando aquele fato como criminoso." Resumindo, o conflito aparente de leis penais ocorre quando a um só fato, aparentemente, duas ou mais leis são aplicáveis, ou seja, o fato é único, no entanto, existe uma pluralidade de normas a ele aplicáveis. Como diz a própria expressão, o conflito é aparente, pois se resolve com a correta interpretação da lei. Para Nélson Hungria: "Não é admissível que duas ou mais leis penais ou dois ou mais dispositivos da mesma lei penal se disputem, com igual autoridade, exclusiva aplicação ao mesmo fato. Para evitar a perplexidade ou a intolerável solução pelo bis in idem, o direi- to penal (como o direito em geral)dispõe de regras, explícitas ou implícitas, que previnem a possibilidade de competição em seu seio." A doutrina, regra geral, indica 04 princípios a serem apli- cados a fim de solucionar o conflito aparente de leis pe- nais, são eles: 1. SUBSIDIARIEDADE; 2. ESPECIALIDADE; 3. CONSUNÇÃO; 4. ALTERNATIVIDADE O conhecimento destes 04 princípios é importante para a sua PROVA e, para lembrá-los, observe que juntos formam a palavra SECA!!! Vamos conhecê-los: 01) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE Estabelece que a lei especial prevalece sobre a geral. Considera-se lei especial aquela que contém todos os requisitos da lei geral e mais alguns chamados especiali- zantes. Exemplo: O crime de infanticídio, previsto no artigo 123 do Código Penal, tem um núcleo idêntico ao do crime de ho- micídio, tipificado pelo artigo 121, qual seja, "matar al- guém". Torna-se figura especial, ao exigir elementos dife- renciadores: A autora deve ser a mãe e a vítima deve ser o próprio filho, nascente ou neonato, cometendo-se o delito durante o parto ou logo após, sob influência do estado puerperal. 02) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE Subdivide-se em expresso e tácito. Ocorre a subsidiariedade expressa, quando a própria norma reconhece seu caráter subsidiário, admitindo inci- dir somente se não ficar caracterizado o fato de maior gravidade. Como exemplo, compete citar o crime de perigo para a vida ou saúde de outrem (art. 132, CP): "Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo dire- to e iminente: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, se o fato não consti- tuir crime mais grave". Como se retira do preceito secundário do artigo transcrito, somente "se o fato não constituir crime mais grave" é que a pena relativa ao delito descrito no art. 132 será aplicada ao agente. No caso da subsidiariedade tácita a norma nada diz, mas, diante do caso concreto, verifica-se seu caráter secundá- rio. Exemplo claro é o do crime de roubo em que a vítima, mediante emprego de violência, é constrangida a entregar a sua bolsa ao agente. Aparentemente, incidem o tipo definidor do roubo (norma primária) e o do constrangimento ilegal (norma subsidiá- ria), sendo que o constrangimento ilegal, no caso, foi ape- nas uma fase do roubo, além do fato de este ser mais grave. 03) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO Conhecido também como PRINCÍPIO DA ABSORÇÃO, é um princípio aplicável nos casos em que há uma suces- são de condutas com existência de um nexo de depen- dência. De acordo com tal princípio, o crime mais grave absorve o crime menos grave. Ao contrário do que ocorre no princípio da especialidade, aqui não se reclama a comparação abstrata entre as leis penais. Comparam-se os fatos, inferindo-se que o mais grave consome os demais, sobrando apenas a lei penal que o disciplina. Mas como assim? Para uma melhor compreensão, pensemos, por exemplo, no crime de furto qualificado (art. 155, § 4°, do Código Penal). Veja: Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: [...] Furto qualificado § 4° - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtra- ção da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. Simplesmente olhando para o tipo penal, não posso dizer que ele sofre consunção, pois que dele, em si, nada posso aferir quanto a sua correspondência íntima com outro crime. Assim, o que importa para sua PROVA é que ABS- TRATAMENTE É IMPOSSÍVEL SABER SE UM CRIME É, OU NÃO, CONSUNTIVO. No entanto, se digo que o agente Felipe, com o intuito de furtar bens de uma residência, escala o muro que a cerca e, utilizando-se de chave falsa, abrelhe a porta e penetra em seu interior, subtraindo-lhe os bens e fugindo logo em seguida, posso, com toda a certeza, afirmar que o princí- pio da consunção se faz presente. Neste caso, o furto qualificado pela escalada e pelo em- prego de chave falsa (art. 155, § 4°, II, 3a figura, e III, do Código Penal) ABSORVE a violação de domicílio qualifica- da (art. 150, § 1°, 1a figura, do Código Penal), que lhe ser- viu de meio necessário. 04) PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE Ocorre quando uma norma jurídica prevê diversas condu- tas, alternativamente, como modalidades de uma mesma infração. Para estes casos, mesmo que o infrator cometa mais de uma dessas 'condutas alternativas', isto é, se, acaso, violar mais de um dever jurídico, será apenado somente uma vez. É comum no Direito Ambiental a norma jurídica determi- nar várias modalidades de conduta para a mesma infra- ção. Por exemplo, o artigo 11do Decreto 3.179, de 21.9.1999, que regulamenta a Lei 9.605/1998, estabelece: "Art. 11. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espéci- mes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: multa de (...)." O infrator será apenado apenas uma vez, ainda que realize diversos comportamentos estabelecidos na norma. Por exemplo, se a pessoa caça e depois mata determinado animal silvestre, sofrerá apenas uma reprimenda. Para ficar bem claro, vamos analisar outro exemplo: As- sim dispõe o artigo 193 da Lei 9.503, de 23.9.1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro: "Art. 193. Transitar com o veículo em calçada, passeios, passarelas, ciclovias, ciclofaixas, ilhas, refúgios, ajardina- mentos,canteiros centrais e divisores de pista de rolamento, acostamentos, marcas de canalização, gramados e jardins públicos: Penalidade: multa (...)". Ao menos em linhas gerais, se a pessoa transita com o veículo na calçada, na ciclovia e depois no acostamento, não cometerá tantas infrações quantos forem os deveres violados. Trata-se de ilícito administrativo de "condutas múltiplas" e ele sofrerá única sanção em face do princípio da alternatividade. Finalizando este tópico, cabe pela im- portância ressaltar: O conflito de normas é aparente, ou seja, sempre pode ser solucionado através de uma correta interpretação. TEMPO DO CRIME Guerreiro, imagine que Felipe atira em Caio no dia 15 de março de 2011, quando possuía 17 anos, 28 dias e 6 ho- ras. Caio é socorrido, levado ao hospital e vem a falecer no dia 03 de abril de 2011, em virtude dos disparos. Neste caso, Felipe poderá ser condenado? Perceba que temos a ação ocorrendo em uma data (dis- paros) e o resultado em outra. Como encontrar a solução para este questionamento? Para determinar o tempo do crime, a doutrina criminal tem apresentado três teorias, quais sejam, a teoria da atividade, do resultado e da ubiquidade (mista). Teoria da Atividade O crime ocorre no lugar em que foi praticada a ação ou omissão, ou seja, a conduta crimino- sa. Ex.: o crime de homicídio é praticado no lugar em que o agente dispara a arma de fogo com a intenção de matar a vítima; Teoria do Resultado - O crime ocorre no lugar em que ocorreu o resultado. Ex.: o crime de homicídio é praticado no lugar em que a vítima morreu, ainda que outro tenha sido o lugar da ação; Teoria da Ubiquidade - Também conhecida por teoria mis- ta, já que para esta teoria o crime ocorre tanto no lugar em que foi praticada a ação ou omissão (atividade) como onde se produziu, ou deveria se produzir o resultado (resultado). O Código Penal adota claramente, em seu artigo 4°, a TE- ORIA DA ATIVIDADE para determinar o tempo do crime. Observe: Art. 4° - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resul- tado Desta forma, fica claro que em nosso exemplo inicial Felipe não poderá ser condenado com base no Código Penal, pois era menor quando da ação do delito. Serão cabíveis para o caso as disposições do Estatuto da Crian- ça e do Adolescente. EFEITOS DA TEORIA DA ATIVIDADE PARAO TEMPO DO CRIME- A adoção da teoria da atividade para a determinação do tempo do crime apresenta algumas consequências, den- tre as quais as seguintes são importantes para a sua PROVA: 1. Aplica-se a lei em vigor ao tempo da conduta, exceto se a do tempo do resultado for mais benéfica. 2. Apura-se a imputabilidade NO MOMENTO DA CONDU- TA. CRIME PERMANENTE * é o crime cujo momento Consumati- vo se prolonga no tempo. exemplo: CP, art. 148 - sequestro e cárcere privado. CRIME CONTINUADO * o instituto do crime continuado é uma ficção jurídica que, exigindo o cumprimento de requisi- tos objetivos (mesma espécie, condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes), equipara a realização de vários crimes a um só. exemplo: caixa de su- permercado que, dia após dia, e na esperança de que o seu superior exerça as suas funções negligentemente, tira pe- queno valor diário do caixa, que pode tornar-se considerável com o passar do tempo. CRIME HABITUAL * consoante Capez, "é o composto pela reiteração de atos que revelam um estilo de vida do agente, por exemplo, rufianismo (CP, art. 230), exercício ilegal da medicina; só se consuma com a habitualidade na conduta. Prosseguindo: 3. Nos crimes permanentes, enquanto perdura a ofensa ao bem jurídico (Exemplo: extorsão mediante seques- tro), o tempo do crime se dilatará pelo período de per- manência. Assim, se o autor, menor, durante a fase de execução do crime vier a atingir a maioridade, respon- derá segundo o Código Penal e não segundo o Estatu- to da Criança e do Adolescente — ECA (Lei n. 8.069/90). 4. Nos crimes continuados em que os fatos anteriores eram punidos por uma lei, operando-se o aumento da pena por lei nova, aplica-se esta última a toda unidade delitiva, desde que sob a sua vigência continue a ser praticado. A importantíssima súmula 711 do STF resume os itens 03 e 04. Observe: SÚMULA 711 DO STF A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 5. No Crime Habitual em que haja sucessão de leis, deve ser aplicada a nova, ainda que mais severa, se o agen- te insistir em reiterar a conduta criminosa. LEI PENAL NO ESPAÇO O Código Penal trata de maneira detalhada da aplicação da Lei Penal no espaço e, assim, torna claro para a socie- dade onde as normas definidas pelo Legislador Brasileiro serão aplicadas. Sabendo que um fato punível pode, eventualmente, atingir os interesses de 2 ou mais Estados igualmente sobera- nos, o estudo da lei penal no espaço visa a descobrir qual é o âmbito territorial de aplicação da lei penal brasileira, bem como de que forma o Brasil se relaciona com outros países em matéria penal. Um fato atingindo vários Estados soberanos. A REGRA para dirimir conflitos e dúvidas é a utilização do princípio da TERRITORIALIDADE, ou seja, aplica-se a lei penal aos crimes cometidos em território nacional. Tal preceito encontra-se no Código Penal, observe: Art. 5° - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de conven- ções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. Há exceções que ocorrem quando o brasileiro pratica crime no exterior ou um estrangeiro comete delito no Bra- sil. Fala-se, assim, que o Código Penal adotou o princípio da TERRITORIALIDADE TEMPERADA OU MITIGADA. Dito isto, vamos esmiuçar a regra e as exceções: PRINCÍPIO DE TERRITORIALIDADE O CP adotou a territorialidade RELATIVA ou TEMPERADA PELA INTRATERRITORIALIDADE (“sem prejuízo de con- venções, tratados e regras de direito internacional”). Em termos jurídicos, território é o espaço em que o Estado exerce sua soberania política. Para a sua PROVA você não precisa saber exatamente o que compreende o terri- tório brasileiro, bastando apenas o conhecimento do dis- posto nos parágrafos 1° e 2° do artigo 5°, que dispõe: Art. 5° [...] § 1° - Para os efeitos penais, consideram-se como exten- são do território nacional as embarcações e aeronaves brasi- leiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade priva- da, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo corres- pondente ou em alto mar. § 2° - É também aplicável a lei brasileira aos crimes prati- cados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no terri- tório nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Territorialidade: o crime é praticado no Brasil e a lei aplicada é a brasi- leira. Extraterritorialidade: o crime é praticado no exterior, porém, aplica-se a lei brasi- leira. Intraterritorialidade: o crime é praticado no Brasil, porém, aplica-se a lei es- trangeira (ex: imuni- dade diplomática). Com base nos supracitados parágrafos, imagine que Feli- pe, brasileiro, está na Argentina e confere lesões corporais graves em um "Hermano". Diante de tal fato, Felipe, per- seguido por policiais, corre para um navio da marinha de guerra do Brasil e o adentra. Neste caso, Felipe poderá ser preso pelos policiais Argentinos? A resposta é negativa, pois o navio será considerado ex- tensão do território Brasileiro e não poderá ser penetrado peles policiais Argentinos. Agora outra situação... Caio, Americano, está em um cru- zeiro que passará pelas belas praias do Rio de Janeiro. Nas proximidades de Copacabana, Caio atira em Caio. Diante desta situação, o que fazer? Caio pode ser preso segundo as leis brasileiras? A resposta é positiva, pois, com base no parágrafo 2° do artigo 5°, para crimes praticados a bordo de embarcações privadas estrangeiras, achando-se estas em porto ou mar territorial do Brasil, aplica-se a lei brasileira. Como percebe, as regras são de fácil aplicação, mas o correto entendimento é fundamental para sua PROVA. A imunidade diplomática dos que se encontram no Brasil a serviço do Estado estrangeiro, tem natureza jurídica de causa funcional de isenção de pena (excludente de puni- bilidade), não sendo causa de atipicidade, excludente de ilicitude ou de culpabilidade, pois, se assim o fosse, a imunidade diplomática agasalharia co-autores não deten- tores de imunidade diplomática. PRINCÍPIOS QUE MITIGAM A TERRITORIALIDADE Vimos que o Código Penal adota o princípio da territoriali- dade temperada ou mitigada por haverem exceções ao princípio da territorialidade. Vamos conhecê-las: 01) PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE OU DA PERSONALI- DADE Autoriza a submissão à lei brasileira dos crimes pratica- dos no estrangeiro por autor brasileiro ou contra vítima brasileira. Este princípio se subdivide em outros dois: a) Princípio da Personalidade Ativa – Só se considera a nacionalidade do autor do delito, ou seja, independentemente da nacionalidade do sujeito passivo e do bem jurídico ofendido, o agente é punido de acordo com a lei brasileira. Encontra-se disposto no art. 7.°, I, alínea "d" e II, "b" do Código Penal: Art. 7° - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: [...] d) de genocídio, quando o agente for brasileiro [...] II - os crimes: [...] b) praticados por brasileiro;b) b) Princípio da Personalidade Passiva Considera-se so- mente a nacionalidade da vítima do delito. Encontra previsão no art. 7.°, § 3°, do Código Penal: § 3° - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. 02) PRINCÍPIO DA DEFESA REAL OU DA PROTEÇÃO A lei penal é aplicada independente da nacionalidade do bem jurídico atingido pela ação delituosa, onde quer que ela tenha sidopraticada e independente da nacionalidade do agente. O Estado protege os seus interesses além das fronteiras. Observe o preceituado no Código Penal: Art. 7° - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Repúbli- ca; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distri- to Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou funda- ção instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 03) PRINCÍPIO DA JUSTIÇA UNIVERSAL As leis penais devem ser aplicadas a todo e qualquer fato punível, seja qual for a nacionalidade do agente, do bem jurídico lesado ou posto em perigo e em qualquer local onde o fato foi praticado. A lei penal deve ser aplicada a todos os homens, indepen- dentemente do local onde se encontrem. É um princípio baseado na cooperação penal internacio- nal e permite a punição, por todos os Estados, da totali- dade dos crimes que forem objeto de tratados e de con- venções internacionais. Fundamenta-se no dever de soli- dariedade na repressão de certos delitos cuja punição interessa a todos os povos. Exemplos: Tráfico de drogas, comércio de seres humanos, genocídio etc. Encontra previsão no art. 7°, II, "a", do Código Penal: Art. 7° [...] [... ] II - os crimes a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a re- primir; 04) PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO Segundo este princípio, deve ser aplicada a lei penal brasi- leira aos crimes cometidos em aeronaves ou embarca- ções brasileiras, mercantes ou de propriedade privada quando estiverem em território estrangeiro e aí não sejam julgados. Está previsto no artigo 7°, II, "c", do Código Pe- nal: Art. 7° [...] II - os crimes [... ] c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. A lei está delimitada pelo território, mas o que é território? Espaço físico + espaço jurídico Segundo o art. 5º, par. 1º, do CP, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aerona- ves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do gover- no brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. Em alto- mar ou no espaço aéreo correspondente nenhum país exerce soberania, por isso se aplica a lei brasileira. A embaixada e o consulado brasileiro no exterior, para efeitos penais, não são considerados territórios por ex- tensão. São considerados territórios por extensão apenas para fins constitucionais e políticos, pois uma embaixada norte-americana no Brasil não poderá ser invadida pelo governo brasileiro (garantia da inviolabilidade), sendo inviolável. Sendo o crime praticado em avião particular a serviço do Governo, independentemente do espaço aéreo onde se encontre ou da nacionalidade do sujeito ativo e passivo, aplica-se a lei brasileira. Pelo princípio da reciprocidade, previsto no art. 5º, p. 2º, do CP, também se aplica a lei brasileira aos crimes prati- cados em embarcações ou aeronaves estrangeiras priva- das, que se encontre em pouso ou vôo no espaço aéreo brasileiro, ou em porto ou mar territorial brasileiro. Se a embarcação ou aeronave for pública ou estiver a serviço de Governo estrangeiro, mesmo estando em mar territori- al ou espaço aéreo brasileiro, aplica-se a lei do estrangei- ro. Suponha que um navio brasileiro naufragou em alto-mar, onde um americano veio a matar um holandês. Neste caso concreto, aplica-se a lei brasileira, pois os destroços do navio continuam ostentando a lei brasileira. Imagine que uma embarcação brasileira em alto-mar coli- de com uma embarcação chilena. Os sobreviventes cons- troem uma jangada com os destroços de ambos os navi- os. Suponha que nesta jangada um português matou um argentino. Qual será a lei aplicável ao caso? A lei não re- solve este problema, aplicando-se o princípio da naciona- lidade ativa. Se um navio esta atracado na costa brasileira, e um co- lombiano que estava a bordo, desce do navio e estupra uma brasileira, será julgado pela lei brasileira, desde que não esteja a serviço do governo colombiano. Se ele des- ceu da embarcação em dia que se encontrava de folga, aplica-se a lei brasileira. Suponha uma aeronave que sai de Portugal com destino à Argentina, onde ocorre um homicídio no momento em que sobrevoa o espaço aéreo brasileiro. Neste caso, não se aplica a lei penal brasileira, mas sim o instituto da passa- gem inocente (passagem necessária para chegar ao seu destino). Já se entendeu na doutrina e na jurisprudência que crime cometido dentro do território nacional, a bordo de avião, que apenas sobrevoa o país, sem pousar aplica-se a lei penal brasileira. Hoje, porém, se adota a chamada TEORIA DA PASSAGEM INOCENTE, não se aplicando a lei brasileira quando o na- vio ou a aeronave passa pelo território nacional apenas como passagem necessária para chegar ao seu destino (aqui não atracará ou aterrissará). Logo, é mais uma hipó- tese de intraterritorialidade. Havendo dúvida quanto à bandeira da embarcação em alto mar, aplica-se o princípio da nacionalidade ativa. Se, por exemplo, a embarcação holandesa em alto mar rece- be brasileiros para a prática de aborto, não haverá crime, tendo em vista que é permitido o aborto na Holanda. Res- salta-se que, em alto mar aplica-se a lei da bandeira. Não há aplicação da lei brasileira nas contravenções pe- nais cometidas no estrangeiro. Ou seja, não existe aplica- ção do princípio da extraterritorialidade para contraven- ções. LUGAR DO CRIME Até agora falamos bastante da territorialidade, mas para sabermos se um delito operou-se no território Nacional precisamos aprender como determinar o lugar do crime. Quando falamos sobre o tempo do crime, ou seja, o mo- mento em que o crime é cometido, tratamos de três teori- as: ATIVIDADE, RESULTADO e MISTA ou da UBIQUIDADE. Está lembrado? Naquela oportunidade, afirmamos que para definir o mo- mento do crime adotou-se a teoria da atividade. Portanto, tem-se como praticado o crime NO MOMENTO da ATIVI- DADE. Aqui, a questão é saber ONDE se tem como cometido o delito. O problema é o lugar (espaço) e não o tempo. De- vemos, mais uma vez, para solucionar qualquer conflito, recorrer às três teorias: TEORIA DA ATIVIDADE * O CRIME É COMETIDO NO LU- GAR ONDE FOI PRATICADA A ATIVIDADE (CONDUTA= AÇÃO OU OMISSÃO). TEORIA DO RESULTADO * O LUGAR DO CRIME É ONDE OCORREU O RESULTADO, INDEPENDENTEMENTE DE ONDE FOI PRATICADA A CONDUTA. TEORIA MISTA (OU DA UBIQUIDADE) * CONSIDERA, POR SUA VEZ, QUE O CRIME É COMETIDO TANTO NO LUGAR DA ATIVIDADE QUANTO NO LUGAR DO RESULTADO. O Código Penal, ao tratar do tema, dispõe: Art. 6° - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Mnemônico: LUTA Lugar Ubiquidade Tempo Atividade Obs.: se em território brasileiro unicamente ocorre o plane- jamento ou preparação do crime, o fato não interessa ao direito brasileiro. O Código Penal adotou a TEORIA DA UBIQUIDADE, valen- do ressaltar que na própria previsão do art. 6° do Código Penal esta incluída o lugar da tentativa, ou seja, "[...] onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado". Busca-se, com a teoria mista do lugar do delito, solucionar o pro- blema dos conflitos negativos de competência (Dentro do Território Nacional) e o problema dos crimes à distância (Brasil - Exterior), em que ação e o resultado se desenvol- vem em lugares diversos. Como exemplo, podemos citar o seguinte caso: Imagine que Felipe, residente no Brasil, envia uma carta bomba para um cidadão
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