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Transmissão Sináptica e Processamento de Informação

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1 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
 
 
 
 
FISIOLOGIA DA TRANSMISSÃO 
É preciso ter bem claro, antes de tudo, em que consiste a transmissão sináptica. Intuitivamente, poderíamos pensar que os potenciais 
de ação gerados em um neurônio e propagados ao longo do seu axônio são todos transmitidos sem alterações para o segundo 
neurônio. Assim, a transmissão sináptica seria simplesmente a passagem incondicional de informações entre os neurônios. No 
entanto, se esse fosse sempre o caso, não haveria necessidade da sinapse! Bastaria que as células nervosas formassem um sincício. 
Na verdade, embora haja exemplos de transmissão sináptica de tipo mais simples, como o que acabamos de mencionar, na grande 
maioria dos casos não é assim. Nem os potenciais de ação “passam” de uma célula à outra, nem o Seu conteúdo de informação é 
transmitido sempre inalterado. 
A transmissão sináptica consiste em uma dupla conversão de códigos. A informação produzida pelo neurônio é veiculada 
eletricamente (na forma de potenciais de ação) até os terminais axônicos, e nesse ponto é transformada e veiculada quimicamente 
para o neurônio conectado. A seguir, nova transformação: a informação química é “percebida” pelo segundo neurônio e volta a ser 
veiculada eletricamente, com a gênese e a condução de outros potenciais de ação. 
Nessa dupla conversão, o conteúdo de informação que o primeiro neurônio veicula é quase sempre modificado, pois o número e a 
distribuição temporal dos potenciais de ação que o segundo neurônio produz tomam-se diferentes daqueles originados no primeiro 
neurônio. 
Essa característica transformadora é justamente a propriedade mais importante da sinapse, pois é ela que confere ao sistema 
nervoso a sua enorme e diversificada capacidade de processamento de informação. A sinapse é um chip biológico, pois nela se 
realizam as computações de que os circuitos neurais são capazes - de filtragem, amplificação, adição, bloqueio e tantas outras. É 
claro que essa capacidade de processamento se enriquece quando as sinapses se associam. 
Já vimos que a transmissão sináptica envolve a conversão do impulso nervoso, de natureza elétrica, em uma mensagem química 
carreada por substâncias neuromediadoras, e depois novamente em impulsos elétricos já na célula pós-sináptica. As etapas da 
transmissão sináptica podem então ser resumidas do seguinte modo: 
1. síntese, transporte e armazenamento do neuromediador; 
2. deflagração e controle da liberação do neuromediador na fenda sináptica; 
3. difusão e reconhecimento do neuromediador pela célula pós-sináptica; 
4. deflagração do potencial pós-sináptico; 
5. desativação do neuromediador. 
Essas etapas, obviamente, dizem respeito a uma sinapse individual, mas é preciso considerar que cada célula recebe em sua 
superfície dendrítica e somática dezenas de milhares de sinapses. O resultado, em termos da atividade do neurônio pós-sináptico, 
depende da interação dos potenciais produzidos por todas essas sinapses, um processo conhecido como integração sináptica. 
Um PA chega ao terminal pré-sináptico, o que faz os canais de Ca2+ (cálcio) voltagem-dependentes se abrirem. Esse influxo de Ca2+ 
faz as vesículas cheias de neurotransmissores se fundirem com a membrana e difundirem o neurotransmissor para a fenda 
sináptica. O neurotransmissor se liga aos receptores pós-sinápticos, e os canais iônicos se abrem. O tipo de canal iônico aberto 
determinará se é induzido um potencial pós-sináptico inibitório (PPSI) ou excitatório (PPSE). Um influxo de Na produz um PPSE e faz 
N E U R O L O G I A 
 
2 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
a membrana chegar mais perto do limiar. Um influxo de Cl (cloreto) produz um PPSI e afasta o potencial de membrana do limiar. Os 
neurotransmissores são específicos para a produção de PPSIs ou PPSEs. 
 
 
SOMAÇÃO TEMPORAL-ESPACIAL 
O neurônio pós-sináptico disparará um PA quando o potencial limiar tiver sido atingido. Uma única sinapse não tem a capacidade de 
aproximar um neurônio pós-sináptico do limiar com um único potencial sinapticamente evocado. Apenas o efeito cumulativo de 
milhares de sinapses em um dado neurônio pós-sináptico provocará um PA. As sinapses que recebem o input devem estar próximas 
e recebê-lo no mesmo momento, o que é denominado somação temporoespacial. A figura mostra como potenciais evocados 
sinapticamente recebidos ao mesmo tempo e no mesmo local podem aproximar o neurônio do limiar, resultando na geração de um 
PA. Um PA é uma resposta de tudo ou nada, mas um potencial evocado sinapticamente é graduado em magnitude. O aumento na 
quantidade de neurotransmissores na fenda sináptica resulta em maior ativação do receptor; por sua vez, mais íons fluem para 
dentro do terminal pós-sináptico. 
 
3 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
 RECEPTORES IONOTRÓPICOS 
Os receptores pós-sinápticos podem ser ionotrópicos ou metabotrópicos. Nos 
primeiros, um receptor de neurotransmissor é acoplado a um canal iônico. Quando o 
neurotransmissor se liga ao receptor, uma alteração conformacional permite que os 
íons fluam através do canal. O fluxo de íons pode alterar o potencial de membrana 
da célula pós-sináptica, aproximando-o (pela abertura dos canais de Na) ou 
afastando-o do limiar (pela abertura dos canais de Cl). Assim, os receptores 
ionotrópicos têm um efeito direto sobre os movimentos de íons, afetando diretamente 
um canal iônico 
 RECEPTORES METABOTRÓPICOS 
Nesses receptores, um receptor de neurotransmissor é acoplado a cascatas de 
sinalização intracelulares, muitas vezes por mecanismos de acoplamento à proteína 
G (frequentemente envolvendo enzimas). Isso terá um efeito indireto sobre os 
movimentos de íons pela modulação dos canais pós-sinápticos ou abertura ou 
fechamento seletivo dos canais. 
NEUROTRANSMISSORES 
Os neurotransmissores são moléculas liberadas pelos neurônios pré- -sinápticos 
e são o meio de comunicação em uma sinapse química. Eles se ligam a receptores 
de neurotransmissores, podendo se acoplar a um canal iônico (receptores 
ionotrópicos) ou a um processo de sinalização intracelular (receptores 
metabotrópicos). Os neurotransmissores são específicos para o receptor em que 
se ligam e provocam uma resposta específica nos neurônios pós-sinápticos, 
resultando em um sinal excitatório ou inibitório. 
1) Glutamato 
O glutamato é o neurotransmissor excitatório mais comum no SNC. Ele pode se 
ligar a receptores ionotrópicos de glutamato, que incluem os receptores NMDA (N-
metil-D-aspartato), receptores de AMPA (-amino-3-hidroxilo-5-metil-4-
isoxazole-propionato) e receptores de cainato. 
Todos esses receptores causam um influxo de cátions (carga positiva) nos 
neurônios pós-sinápticos. O receptor de NMDA é um pouco diferente do AMPA e do 
cainato, pois seu poro é bloqueado por um íon Mg2, a menos que a membrana pós-
sináptica seja despolarizada. 
Uma vez desbloqueado, o canal é permeável não só ao Na, mas também a grandes 
quantidades de Ca2. Um excesso de influxo de Ca2 pode resultar em uma cascata 
de eventos que pode levar à morte celular. 
O glutamato também pode se ligar a uma família de receptores metabotrópicos de 
glutamato (mGluRs), que iniciam a sinalização intracelular capaz de modular os canais iônicos pós-sinápticos indiretamente. Isso 
costuma aumentar a excitabilidade dos neurônios pós-sinápticos. 
 
 
4 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
2) GABA e glicina 
O ácido-aminobutírico (GABA) e a glicina são os neurotransmissores inibitórios mais importantes do SNC. Cerca de metade de todas 
as sinapses inibitórias na medula espinal utiliza glicina. A glicina se liga a um receptor ionotrópico, que permite o influxo de Cl. 
A maioria das outras sinapses inibitórias do SNC utiliza GABA. O GABA pode se ligara receptores ionotrópicos GABA (GABAA e GABAC), 
que induzem um influxo de Cl quando ativados. Esse influxo leva a um acúmulo de carga negativa, que afasta o potencial de 
membrana de seu limiar (ou seja, o neurônio é inibido). O GABAB (receptor metabotrópico do GABA) ativa os canais de K e bloqueia os 
de Ca2 , resultando em perda líquida da carga positiva, o que também conduz à hiperpolarização da célula pós-sináptica. 
3) Acetilcolina 
A acetilcolina (ACh) é o neurotransmissor utilizado no SNP (gânglios do sistema motor visceral) e SNC (cérebro). Também é utilizado 
na junção neuromuscular (ver Capítulo 3, “Visão Geral do Sistema Nervoso Periférico”). Existem dois tipos de receptores de ACh: 1) 
Os receptores nicotínicos de ACh são receptores ionotrópicos e estão acoplados a um canal de cátion não seletivo; 2) os receptores 
muscarínicos de ACh compreendem uma família de receptores metabotrópicos ligada a vias mediadas pela proteína G. Não há 
mecanismo de recaptação de ACh pela fenda sináptica. Sua depuração depende da enzima acetilcolinesterase, que hidrolisa o 
neurotransmissor e o desativa. 
4) Dopamina 
A dopamina está envolvida em muitos circuitos do cérebro associados a emoções, motivação e recompensa. Atua em receptores 
acoplados à proteína G; sua ação pode ser tanto excitatória (via receptores D1) quanto inibitória (via receptores D2). 
5) Noradrenalina 
A noradrenalina (também conhecida como norepinefrina) é um neurotransmissor essencial envolvido no estado de vigília e atenção. 
Atua nos receptores metabotrópicos -adrenérgicos e -adrenérgicos, ambos excitatórios. A adrenalina (também conhecida como 
epinefrina) atua sobre os mesmos receptores, mas sua concentração no SNC é muito mais baixa que a de noradrenalina. 
6) Serotonina 
A serotonina pode ter tanto efeitos excitatórios quanto inibitórios. Está envolvida em uma infinidade de vias que regulam o humor, a 
emoção e várias vias homeostáticas. A maioria dos receptores de serotonina é do tipo metabotrópica. Existe apenas um receptor 
ionotrópico, que é um canal de cátions não seletivo, sendo, portanto, excitatório. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
CLASSIFICAÇÃO E PROPRIEDADES DAS SINAPSES 
AS S INAPSES 
 
Hoje se sabe que efetivamente existem sinapses elétricas no sistema nervoso central dos vertebrados, mais frequentemente durante 
o desenvolvimento, mas também na vida adulta. A estrutura dessas sinapses foi desvendada através do microscópio eletrônico e 
outras técnicas, e predominou o nome junção comunicante ’ para caracterizá-la, já que estruturas semelhantes com esse nome 
tinham sido identificadas em outros tecidos do organismo, como o fígado, a pele e o coração. 
A junção comiinicante é uma região de aproximação entre duas células, onde as membranas ficam separadas por um espaço exíguo 
de cerca de 3 nm. A membrana dessa região, cm ambas as células, possui canais iônicos especiais (os conexons) formados por seis 
subunidades proteicas chamadas conexinas, que em certas situações se acoplam quimicamente, formando verdadeiros poros de 2 
nm de diâmetro. Em comparação com outros canais iônicos, esse é um grande diâmetro. Por isso, quando um conexon se acopla a 
outro situado na célula contígua, por eles passam várias espécies iônicas e até mesmo moléculas pequenas. Diz-se, então, que as 
duas células estão acopladas. Nesse caso, quando uma das células entra em atividade, ou seja, produz potenciais de algum tipo, as 
correntes iônicas correspondentes passam diretamente pelas junções comunicantes para a outra célula. 
A transmissão elétrica através das junções comunicantes pode ser controlada pelas células acopladas. O acoplamento pode ser 
“ligado” ou “desligado” pela variação de parâmetros metabólicos do citoplasma, como o pH e a concentração de íons Ca2+ , e até 
mesmo o potencial das membranas acopladas. Acredita-se que, nessas condições (queda do pH, elevação da concentração 
citoplasmática de Ca++, ou despolarização da membrana), os conexons das células ligadas pelas junções comunicantes “se 
reconhecem” , ou seja, reagem quimicamente, o que muda sua conformação espacial, como o diafragma de uma câmera fotográfica, 
abrindo-se para permitir a passagem, de ions e moléculas. 
Nas células acopladas não há propriamente processamento de informação: os potenciais gerados em uma delas passam quase sem 
alteração para a outra. Além disso, na maioria dessas junções é indiferente o sentido de passagem da informação, embora existam 
algumas junções comunicantes unidirecionais (chamadas junções retificadoras, por analogia com um dispositivo eletrônico que 
permite a passagem de corrente elétrica apenas em uma direção). 
No caso das células cardíacas, por exemplo, é necessário fazê-las contrair-se ao mesmo tempo, para que as cavidades cardíacas 
possam impulsionar o sangue adiante. 
No caso do sistema nervoso, o acoplamento e o desacoplamento das junções comunicantes são particularmente útil durante o 
desenvolvimento, quando é preciso fazer com que populações numerosas de neurônios juvenis iniciem sincronizadamente um 
determinado processo ontogenético. 
E o que acontece quando se inicia a diferenciação, etapa que parece ser disparada pelo desacoplamento dos neuroblastos situados 
nas zonas germinativas. Também nos adultos, certas populações neuronais são acopladas, como é o caso de neurônios do tronco 
encefálico encarregados do controle do ritmo respiratório, uma função que requer o disparo sincronizado dos neurônios que 
comandam os músculos da respiração. 
 
 
 
6 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
 
 
Em primeiro lugar, o processo evolutivo, que presumivelmente ocorreu das sinapses elétricas para as sinapses químicas, tomou 
vantajoso para o processamento de informações o aparecimento entre dois neurônios adjacentes de uma região especializada de 
contato por contiguidade, mas sem continuidade. O espaço entre as membranas nessa região é conhecido como fenda sináptica e 
mede 20-50 nm, bastante maior que o das junções comunicantes. 
Esse espaço é ocupado por uma matriz proteica adesiva que favorece não só a fixação das duas células, mas também a difusão de 
moléculas no interior da fenda. Como a transmissão sináptica é unidirecional, chamaremos a região sináptica da primeira célula de 
elemento pré-sináptico, e a região sináptica da segunda célula de elemento pós-sináptico. O elemento pré-sináptico é geralmente 
um terminal axônico, e o elemento pós-sináptico é geralmente um dendrito 
O terminal pré-sináptico tem como característica mais saliente a presença das vesículas sinápticas, pequenas esférulas de cerca 
de 50 nm de diâmetro, muito numerosas, que se aglomeram nas proximidades da membrana pré-sináptica. 
Algumas dessas esférulas são maiores (cerca de (100-200 nm) e o material em seu interior é elétron-denso. São chamadas, nesse 
caso, grânulos secretores, pois sua função é um tanto diferente da função das vesículas. 
Na membrana pré-sináptica, fixas pelo lado de dentro do terminal existem pequenas estruturas de forma cônica ou piramidal, 
chamadas zonas ativas. Finalmente, em alguns tipos de sinapses, a membrana pós-sináptica é mais espessa que as regiões mais 
afastadas da membrana da segunda célula. Todas essas estruturas situadas na sinapse alojam um exército de proteínas bastante 
especializadas, que participam de cada etapa do mecanismo molecular da transmissão sináptica. 
A informação que chega ao elemento pré-sináptico vem na forma de 
potenciais de ação propagados pelo axônio até os terminais. A seguir, 
como a larga fenda sináptica e a ausência de conexons impedem a 
passagem direta de correntes iônicas para a célula pós-sináptica, 
ocorre a conversão da informação elétrica conduzida pelos 
potenciais de ação em informação química. 
Os potenciais de ação causam a liberação, na fenda sináptica, deuma certa quantidade de substância que geralmente está 
armazenada no interior das vesículas. Essa substância recebe o 
nome genérico de neuromediador - há uma certa confusão 
terminológica na literatura entre neuromediador, termo atualmente 
atribuído a qualquer substância que medeia informação sináptica, e 
 
7 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
neurotransmissor, termo usado inicialmente como sinônimo do primeiro, mas atualmente empregado de modo mais específico para 
qualificar um certotipo de neuromediador. As moléculas do neuromediador - uma vez na fenda sináptica, difundem-se até a 
membrana pós-sináptica, onde pode ocorrer: 
• a reconversão da informação química para informação de natureza elétrica, ou então 
• a transferência da informação química para uma cadeia de sinais moleculares no interior da célula. 
No primeiro caso, a ação do neuromediador pode resultar em um potencial pós-sináptico na membrana da segunda célula, que então 
altera a atividade elétrica de seu axônio, produzindo mais ou menos potenciais de ação propagados até uma terceira célula, onde o 
processo se repetirá. 
No segundo caso, a ação do neuromediador aciona diferentes vias de sinalização molecular do neurônio pós-sináptico, sem 
necessariamente interferir na sua sinalização elétrica. 
O primeiro caso descrito anteriormente é o mais frequente e típico no SNC. A dupla conversão de informação, do modo elétrico para 
o modo químico e outra vez para o modo elétrico, permite que haja interferência sobre o seu “conteúdo” na própria sinapse, chamada 
modulação da transmissão. 
Na sinapse neuromuscular, por exemplo, aquela que põe em contato um axônio motor com uma célula muscular esquelética, é 
desejável que não haja falhas de transmissão: a cada comando motor é preciso que a célula muscular se contraia. Nesse caso, em 
condições normais, todo potencial de ação que chega ao terminal pré-sináptico resulta em liberação do neuromediador acetilcolina, 
e este inevitavelmente provoca um potencial pós-sináptico despolarizante na célula muscular, que então se contrai. 
Nas sinapses entre neurônios, entretanto, na maioria das vezes o que se quer é um maior número de opções: aumentar, diminuir ou 
até mesmo bloquear a atividade do neurônio pós-sináptico. Nesse caso, os potenciais de ação que chegam ao terminal pré-sináptico 
nem sempre provocam a liberação de neuromediador em quantidade capaz de provocar exatamente a mesma atividade no neurônio 
pós-sináptico. A informação que emerge de um neurônio quase sempre é diferente da que ele recebe de outro neurônio. 
Esse é justamente o grande passo adaptativo possibilitado pela sinapse química, em relação à sinapse elétrica: a capacidade de 
alterar (modular) a informação transmitida entre as células nervosas, como um verdadeiro microcomputador biológico. 
TIPOS FUNCIONAIS DE S INAPSES 
As sinapses apresentam variantes morfológicas e funcionais, que permitem especializar bastante a sua ação. Quanto à função, por 
exemplo, as sinapses podem ser excitatória!; ou inibitórias. 
No primeiro caso, o resultado da transmissão é um potencial pós-sináptico despolarizante, que tende a aproximar o potencial de 
repouso do nível limiar da zona de disparo, onde se origina o potencial de ação, que logo é propagado ao longo do axônio. Fica, então, 
mais fácil a ocorrência de potenciais de ação no neurônio pós-sináptico, e por isso se diz que ele foi excitado. No caso das sinapses 
inibitórias acontece o oposto: o resultado d transmissão é um potencial pós-sináptico hiperpolarizante, que afasta o potencial de 
repouso do limiar da zona de disparo do neurônio. Fica mais difícil para o neurônio pós-sináptico, neste caso, produzir potenciais de 
ação. Por isso, diz-se que ele foi inibido. 
A eficácia funcional das sinapses, sejam elas inibitórias ou. excitatórias, depende em parte do local do neurônio em que se localizam. 
Por essa razão é importante classificar as sinapses, quanto à natureza de seus elementos, em axodendríticas, axossomáticas, 
axoaxônicas, dendrodendriticas e somatossomáticas. 
Como se pode inferir da terminologia, os três primeiros tipos conectam terminais axônicos respectivamente com um dendrito, o soma 
ou o próprio axônio do neurônio pós-sináptico. Os dois últimos tipos, mais raros, conectam dois dendritos e duas regiões do soma 
diretamente. É claro que as sinapses axossomáticas tendem a ser mais eficazes que as axodendríticas, porque exercem sua ação 
mais perto da zona de disparo do neurônio, situada logo após o cone de implantação do axônio. 
 
8 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
Outra forma de classificar as sinapses diz respeito à sua morfologia. Sinapses assimétricas são aquelas que apresentam a 
membrana pós-sináptica mais espessa que a membrana pré-sináptica. Sinapses simétricas, obviamente, apresentam as duas 
membranas com igual espessura. 
Ocorre que as sinapses assimétricas geralmente apresentam vesículas sinápticas esféricas, enquanto as sinapses simétricas 
apresentam vesículas achatadas. E mais: verificou-se que as assimétricas, com vesículas esféricas, são funcionalmente excitatórias, 
e que as sinapses simétricas, com vesículas achatadas, são inibitórias. 
Todos esses tipos de sinapses ocorrem no sistema nervoso central e no sistema nervoso periférico. Neste último, entretanto, especial 
menção deve ser feita à sinapse neuromuscular, já mencionada. 
Essa é uma sinapse especializada, com uma morfologia particular cuja utilidade é garantira eficácia do comando motor. A membrana 
pós-sináptica, que pertence à célula muscular, apresenta dobras juncionais que aumentam a área da fenda sináptica e possibilitam 
maior tempo de contato entre o neuromediador e as moléculas que o vão reconhecer. As zonas ativas, no terminal pré-sináptico, são 
alinhadas em fila bem defronte às dobras juncionais, permitindo que a liberação do neuromediador ocorra já na posição mais 
favorável à sua ação. A sinapse neuromuscular, por suas grandes dimensões e fácil acesso, foi utilizada com grande sucesso pelos 
primeiros pesquisadores como modelo experimental para desvendar os mecanismos da transmissão sináptica. 
EFEITOS DO ECSTASY NO SNC E EM OUTROS SISTEMAS 
Êxtase é o nome popular, ou "de rua", dado à substância quimicamente identificada como 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA). 
Muitos dos comprimidos de êxtase contêm uma enorme variedade de componentes, incluindo 3,4-metilenodioxietilanfetamina 
(MDEA), 3,4-metilenodioxianfetamina (MDA), mas o principal constituinte é o 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA), nome 
comumente usados nos estudos científicos para se referir ao êxtase. 
O MDMA é um composto derivado da metanfetamina, que apresenta propriedades estimulantes, derivadas das anfetaminas, e 
alucinógenas, derivadas da mescalina2. O MDMA interfere em vários neurotransmissores causando liberação de serotonina (5-
hidroxitriptamina), dopamina e norepinefrina no sistema nervoso central3, os quais estão envolvidos no controle do humor, 
termorregulação, sono, apetite e no controle do sistema nervoso autônomo. 
Os efeitos psicoestimulantes do MDMA são observados 20 a 60 minutos após a ingestão de doses moderadas do êxtase (75 a 100 mg), 
persistindo por 2 a 4 horas. O pico de concentração plasmática ocorre 2 horas após administração oral, e os níveis residuais (0,005 
mg/L) são encontrados 24 horas após a última dose16. A área sobre a curva do MDMA sugere uma farmacocinética não linear, ou seja, 
o consumo de doses elevadas da substância pode produzir aumento desproporcional nos níveis plasmáticos17. A principal via de 
administração do êxtase é a oral, e as formas farmacêuticas de administração oral mais comuns são comprimidos, tabletes e 
cápsulas. 
Os estudos sobre os efeitos provocados pelo êxtase apresentam resultados semelhantes1. Os efeitos neuropsiquiátricos agudos 
incluem alterações na percepção do tempo ena percepção visual, com autoconfiança, empatia, diminuição da defesa e agressão 
seguida de aumento da interação social25,26. Há relatos de aumento da energia emocional e física, atribuído a características 
psicoestimulantes da droga25. Os efeitos a curto prazo são euforia, insônia, fadiga, humor deprimido e diminuição da ansiedade25. 
Outros efeitos no sistema nervoso central incluem alterações na cognição, comportamento bizarro, psicoses e alucinações. 
Mudanças na percepção e alucinações ocorrem em casos de intoxicação com altas doses (300 mg)27. 
Ademais, os usuários do MDMA apresentam elevados riscos de desenvolver distúrbios psicopatológicos, que são classificados como 
agudos (ocorrem nas primeiras 24 horas depois do uso da droga), subagudos (freqüentemente são observados 24 horas a 1 mês 
depois da ingestão do MDMA) e crônicos (ocorrem após meses)19. As mais freqüentes complicações agudas são insônias, flashbacks, 
transtornos de pânico e psicoses, já as complicações subagudas incluem depressão, náuseas, ansiedade e irritabilidade28. Transtorno 
de pânico, psicoses, depressão e distúrbios da memória constituem as principais complicações crônicas29,30. Efeitos neurológicos do 
uso em curto prazo do MDMA também são descritos e incluem hemorragia subaracnóidea, hemorragia intracranial ou infarto 
cerebral. 
 
9 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
Além das alterações comportamentais, outros efeitos adversos ocorrem durante um pequeno período após a ingestão do MDMA, 
sendo descritos elevação da pressão sangüínea e arritmias, náuseas, sudorese, tremores, bruxismo, trismo, hiper-reflexia, 
incontinência, tensão muscular, sensação de frio e calor e nistagmos32. Dificuldades de executar tarefas mentais e físicas (70%), 
diminuição do apetite (65%) e trismo (65%) constituem os efeitos adversos mais freqüentes26. Os efeitos a longo prazo constantemente 
aparecem após 7 a 9 semanas após o uso crônico do MDMA e incluem anemia aplástica e alterações faciais que são secundárias ao 
trismo e bruxismo (síndrome temporomandibular, erosão dental e dor miofascial)33. Um dos efeitos mais marcantes da toxicidade 
aguda induzida pelo uso do MDMA é a hipertermia ou síndrome da hiperpirexia, quadro clínico no qual o usuário pode chegar à 
temperatura corporal maior que 43°C e que constitui uma importante emergência médica. 
O mecanismo de ação do MDMA sobre o sistema nervoso central ainda não está totalmente esclarecido. Há descrição de que o MDMA 
interfere em diferentes neurotransmissores, sendo os neurônios serotonérgicos mais suscetíveis34. Os efeitos do MDMA sobre o humor 
são mediados por dois neurotransmissores, dopamina e serotonina, e os efeitos sobre a termorregulação são mediados pela 
noradrenalina35. Além disso, após a administração do MDMA, há aumento nos níveis sangüíneos de cortisol, prolactina, hormônio 
adrenocorticotrópico (ACTH), deidroepiandrosterona e hormônio antidiurético (ADH)36. 
O MDMA promove liberação maciça de serotonina, seguida por um período de depleção, antes de retornar aos níveis normais1. Estudos 
em ratos demonstraram que o uso recreativo do MDMA promove rápido aumento da concentração de 5-hidroxitriptamina (5-HT), 
mediado por diferentes mecanismos: o MDMA estimula a liberação e inibe a recaptação de 5-HT37, além de bloquear a enzima 
monoaminoxidase A (MAO A), responsável pelo metabolismo da 5-HT. 
Embora a maioria dos estudos sobre os mecanismos dos derivados das anfetaminas focalize as ações sobre os sistemas 
serotonérgico e dopaminérgico, existem evidências do envolvimento do sistema noradrenérgico, particularmente em nível periférico. 
Usuários de MDMA apresentam concentrações plasmáticas elevadas de catecolaminas, que podem acarretar uma hiperatividade 
noradrenérgica, bem como explicar as complicações cardiovasculares44. A retenção urinária envolvida na MDMA deve-se a ações 
mediadas por α-adrenorreceptores32. As complicações psiquiátricas agudas do MDMA, incluindo ataques de pânico32 e mudanças na 
temperatura, podem também envolver mecanismos noradrenérgicos45. 
O MDMA é um agonista dos receptores adrenérgicos α1 e α2 em estudos in vivo e in vitro46,47. As ações do MDMA sobre esses 
receptores contribuem para os efeitos do MDMA sobre a pressão arterial de ratos47, e as ações dessa droga sobre os 
adrenorreceptores alfa-2-adrenérgicos (α2A) são responsáveis pela hipertermia em camundongos45. Além da afinidade do MDMA 
pelo transportador de 5-HT e pelo receptor α2A, o MDMA também tem afinidade pelo receptor colinérgico muscarínico M1 e pelo 
receptor histamínico H142. Outro estudo, utilizando fatias de cérebro de rato, demonstrou que o MDMA promove a liberação de 
acetilcolina no estriado48. Ainda, relata-se que a ativação direta do receptor H1 poderia explicar a liberação de acetilcolina induzida 
pelo MDMA48. 
Provavelmente o aspecto mais importante do uso do êxtase a longo prazo é o risco de efeitos neuropsiquiátricos irreversíveis 19. O 
MDMA é tóxico para neurônios serotonérgicos em diferentes espécies animais, sendo o metabólito MDA mais neurotóxico que o 
MDMA49. Apesar das evidências de neurotoxicidade do MDMA em espécies animais, existem controvérsias quanto a possíveis danos 
ao cérebro humano causados pelo uso recreativo do êxtase49. De fato, alguns autores apresentaram evidências de que o êxtase possa 
ser neurotóxico para humanos50-52. Kish52 mostrou grave depleção da serotonina e do principal metabólito da serotonina (ácido 5-
hidroxiindolacético) no cérebro de homens com 26 anos de idade que fizeram uso regular do MDMA durante 9 anos. 
Apesar das evidências de neurotoxicidade observadas em usuários do MDMA, o mecanismo envolvido não está totalmente 
esclarecido. Há indícios que sugerem o papel do estresse oxidativo neste processo53,54. O MDMA aumenta a formação de radicais 
hidroxilas53, aumenta a peroxidação lipídica55 e diminui a concentração de antioxidantes endógenos, como vitamina E e ácido 
ascórbico56. Outros estudos indicam o papel de espécies reativas de nitrogênio na neurotoxicidade produzida por análogos das 
anfetaminas57,58. O óxido nítrico é relacionado como mediador da neurotoxicidade59 e está envolvido na fisiopatologia da morte de 
neurônios. Alguns estudos também comprovaram que os inibidores da enzima óxido nítrico sintase promovem proteção contra a 
neurotoxicidade dopaminérgica e serotonérgica induzida por MDMA, em roedores. 
O MDMA tem elevado potencial tóxico e pode deixar seqüelas pelo seu efeito cumulativo. Os efeitos simpatomiméticos da droga 
podem acarretar disritmia, mesmo em indivíduos saudáveis60. Miocardiopatia, hipertensão, miocardite viral e prolongamento da onda 
 
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QT também estão relacionados com a toxicidade do MDMA61. Durante a intoxicação aguda podem ocorrer diaforese, midríase, 
perturbação psicomotora, além das alterações no aparelho cardiovascular descritas anteriormente. Todos esses efeitos são 
decorrentes da estimulação simpática. 
A morte pela overdose do MDMA normalmente é provocada por arritmias ou hipertensão e pode estar associada com broncoespasmos 
agudos, reações alérgicas, hipertermia maligna, convulsões, coagulação intravascular disseminada, rabdomiólise e insuficiência 
renal aguda ou hepatotoxicidade63. O intervalo entre o uso da droga e a ocorrência de morte pode variar de 2 a 60 horas64. 
Um dos sintomas mais importantes da toxicidade aguda induzida pelo uso do MDMA é a hipertermia ou síndrome da hiperpirexia. A 
síndrome da hiperpirexia freqüentemente contribui para o aparecimento de outros efeitos sistêmicos graves, como rabdomiólise, 
coagulação intravascular disseminada e falência múltipla de órgãos19,65. Na maioria dos casos, a hipertermia está associada a 
exercícios excessivos e reposição de líquido inadequada. Muitos desses efeitos são explicados pelas ações euforizantes da droga, 
somados aos ambientes com música repetitiva e grande quantidadede pessoas. Além disso, os neurotransmissores 5-HT e a DA 
liberados pelo MDMA estão envolvidos no controle central da termorregulação, conservando e gerando calor66. 
Diante do perigo da hipertermia, muitos usuários de MDMA ingerem grande quantidade de líquidos para prevenir os efeitos da 
desidratação. Entretanto, a ingestão de grande quantidade de líquidos associada aos níveis elevados do hormônio antidiurético (ADH), 
comum aos usuários do MDMA, contribui para o aparecimento de outra complicação orgânica, uma alteração eletrolítica conhecida 
como hiponatremia61. Os pacientes com hiponatremia geralmente apresentam confusão, convulsão, delírios, que podem rapidamente 
progredir para coma e morte61. Uma intervenção adequada para a diluição hiponatrêmica é a restrição de líquidos, que normalmente 
é adequada para a hiponatremia associada ao MDMA. Em alguns casos, quando a hiponatremia vier acompanhada de outras 
complicações, como instabilidade cardiovascular, é mais apropriado o uso de solução salina isotônica67. 
O MDMA também está relacionado com o aparecimento da síndrome da serotonina, caracterizada por confusão, diaforese, diarréia e 
instabilidade cardiovascular, bem como aumento do tônus e rigidez muscular, tremores e mioclonia68. A excessiva contração 
muscular pode acarretar hipertermia, com uma taxa de mortalidade de 10% a 15%69 . 
As insuficiências hepáticas e renais são descritas como parte da falência múltipla de órgãos atribuída a hiperpirexia. A análise 
histológica do fígado geralmente se caracteriza por necrose centrolobular e esteatose microvascular. Os pacientes comumente 
apresentam icterícia, dor abdominal, elevação das transaminases séricas, hipoglicemia e elevação do tempo de protrombina70. Nos 
rins, observa-se acúmulo de proteínas nos capilares glomerulares e interstício renal, provocando glomerulonefrite e necrose 
tubular34. 
O sistema nervoso central é o principal alvo do MDMA, com conseqüentes efeitos desejáveis e tóxicos. Muitos usuários desenvolvem 
reações de pânico e ansiedade, que podem persistir durante meses29. Estudos realizados em ratos sugerem que a depleção da 5-HT 
em nível central, induzida pelo MDMA, está associada com ansiedade e depressão e que esses efeitos podem ser atenuados com a 
administração de fármacos que inibem a recaptação da serotonina, como a fluoxetina1. 
 
 
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CÉLULAS QUE ATUAM NA NEUROTRANSMISSÃO 
As células do sistema nervoso são a base construtora para as complexas funções que ele desempenha. Mais de 100 milhões de 
neurônios preenchem o sistema nervoso humano. Cada neurônio tem contato com mais de mil outros neurônios. Os contatos 
neuronais são organizados em circuitos ou redes que se comunicam para o processamento de todas as informações conscientes e 
inconscientes do encéfalo e da medula espinal. 
A segunda população de células, as chamadas células gliais, tem a função de apoiar e proteger os neurônios. As células gliais, ou 
glia, têm processos mais curtos e são mais numerosas que os neurônios, em uma proporção de 10:1. A função da glia vai além de um 
simples papel de apoio. As células gliais também participam da atividade neuronal, formam um reservatório de células-tronco no 
interior do sistema nervoso e propiciam a resposta imunológica a inflamações e lesões. 
 
 
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NEURÔNIOS 
Os neurônios são as células excitáveis do sistema nervoso. Os sinais são propagados por meio de potenciais de ação, ou impulsos 
elétricos, ao longo da superfície neuronal. Os neurônios comunicam-se uns com os outros por sinapses, formando redes funcionais 
para o processamento e armazenamento das informações. Uma sinapse tem três componentes: o terminal axonal de uma célula, o 
dendrito da célula receptora e um processo de célula glial. A fenda sináptica é o espaço entre esses componentes. 
Todos os neurônios têm um corpo celular, ou soma (também chamado de pericário), que contém o núcleo da célula, onde são 
produzidos todos os hormônios, as proteínas e os neurotransmissores. Um halo de retículo endoplasmático (RE) pode ser encontrado 
ao redor do núcleo, atestando a alta taxa metabólica dos neurônios. 
O transporte do pericário ao longo do axônio até a sinapse é denominado transporte anterógrado, pelo qual são transportados os 
neurotransmissores necessários à sinapse. O transporte ao longo dos microtúbulos também pode se dar do terminal sináptico ao 
pericário, o que se chama de transporte retrógrado. 
Além disso, cada neurônio tem um axônio, cujas terminações fazem contatos sinápticos com outros neurônios. Esses processos 
cilíndricos surgem de uma área especializada chamada cone axonal ou segmento inicial e podem estar envoltos por uma camada 
protetora chamada mielina. O cone axonal de um axônio é o local onde se somam todos os inputs de um neurônio, tanto excitatórios 
quanto inibitórios, e onde se toma a decisão de propagar um potencial de ação para a próxima sinapse. 
 TIPOS DE NEURÔNIOS 
1) Neurônios multipolares 
Tipo mais abundante no sistema nervoso central; são 
encontrados no encéfalo e na medula espinal. Os dendritos 
ramificam-se diretamente do corpo celular, e um axônio 
único surge a partir do cone axonal. 
 
2) Neurônios pseudounipolares 
Os neurônios pseudounipolares são encontrados sobretudo nos gânglios espinais. Apresentam 
um ramo periférico do axônio que recebe a informação sensorial da periferia e a envia para a 
medula espinal, sem passar pelo corpo celular. Os neurônios pseudounipolares retransmitem 
a informação sensorial de um receptor periférico ao SNC sem modificar o sinal. Contudo, os 
neurônios bipolares na retina e no epitélio olfatório integram múltiplos inputs e, em seguida, 
passam essa informação modificada para o neurônio seguinte na cadeia. 
 
 
 
 
15 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
3) Neurônios bipolares 
Os neurônios bipolares são encontrados principalmente na retina e no epitélio olfatório. 
Apresentam um único dendrito principal, o qual recebe o input sináptico, que, por sua vez, é 
transportado para o corpo da célula e daí para a camada de células seguinte, via axônio. A 
diferença entre um neurônio pseudounipolar e um bipolar é a quantidade de processamento 
que ocorre em cada um deles. 
 
 
CÉLULAS DA GLIA 
As células da glia superam os neurônios em número, e a proporção das primeiras em relação aos segundos é maior em vertebrados 
do que em invertebrados. Os seres humanos e os golfinhos têm uma proporção particularmente elevada de células gliais em relação 
aos neurônios (10:1 ou mais). 
Longe de ser apenas a “cola de neurônios”, sabemos agora que as células gliais são um componente essencial da função do SNC. As 
oligodendroglias e as células de Schwann ajudam a dispor a bainha de mielina em torno dos axônios no SNC e SNP, respectivamente. 
Os astrócitos estão envolvidos na homeostase de íons e nas funções nutritivas. A glia também tem funções únicas de sinalização e 
modificação de sinal. As células NG2 (polidendrócitos) são outro tipo de célula glial que constitui a reserva de células tronco do SNC, 
com a capacidade de gerar tanto células gliais quanto neurônios novos. Por fim, as microglias são as células imunológicas do 
encéfalo, porque a barreira hematoencefálica separa o encéfalo das células imunes do sangue. 
1) Astrocitos: 
Os astrócitos podem ser subdivididos em fibrosos e protoplasmáticos (encontrados 
nas substâncias branca e cinzenta, respectivamente) e células de Müller 
(encontradas na retina). Sua função principal é apoiar e estimular os neurônios. Eles 
ocupam e reciclamo excesso de neurotransmissores da sinapse e mantêm a 
homeostase de íons ao redor dos neurônios. 
Por exemplo, nas sinapses excitatórias, os astrócitos captam o glutamato e o 
convertem em glutamina, que é devolvida aos neurônios como um precursor do 
glutamato. Tudo isso permite a transdução de sinal eficiente na sinapse. Os pés-
terminais astrocitários revestem os vasos sanguíneos encefálicos e fazem parte da 
barreira hematencefálica, que separa o sangue do tecido nervoso. Desempenham um 
papel importante na manutenção da homeostase, movendo o excesso de íons para a 
corrente sanguínea. Além dessa função de apoio, os astrócitos também têm um papel 
de sinalização e modificação do sinal. 
Hoje em dia, sabe-se que os astrócitos são o terceiro parceiro na sinapse. Para 
valorizar sua importância na sinapse, introduziu-se o termo sinapse tripartite 
(neurônio pré-sináptico, neurônio pós-sináptico e astrócitos). Os astrócitos podem 
liberar neurotransmissores na fenda sináptica e reforçar o sinal daquela sinapse. 
Além disso, eles também têm receptores de neurotransmissores e podem se comunicar entre si por ondas de cálcio intracelular 
propagadas de um astrócito a outro ao longo das junções comunicantes. Durante o desenvolvimento, a célula glial radial, uma 
subpopulação de astrócitos, fornece a direção e o apoio à migração e à segmentação do axônio. 
 
16 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
2) Oligodendroglia: 
As oligodendroglias são as células mielinizantes do SNC. Podem envolver os processos celulares ao redor dos axônios para fornecer 
uma camada isolante e protetora. Um oligodendrócito pode mielinizar múltiplos axônios. A bainha de mielina tem interações 
importantes com os axônios que a rodeiam: fornece suporte trófico (promove a sobrevivência da célula) e proteção e organiza a 
distribuição de canais de íons ao longo do axônio. A espessura da bainha de mielina está intimamente relacionada com o diâmetro 
do axônio. Lacunas na bainha de mielina ocorrem em intervalos regulares para permitir a passagem de íons; essas lacunas são 
chamadas de nós neurofibrosos. 
3) Células de Schwann: 
São as células mielinizadoras do SNP. Sua função é semelhante à desempenhada por oligodendroglias e astrócitos no SNC. 
Entretanto, ao contrário das oligodendroglias, uma célula de Schwann pode mielinizar apenas um único axônio. Também pode 
envolver vários axônios não mielinizados como uma camada protetora. Na junção neuromuscular – contato entre um nervo motor e 
uma fibra muscular –, a célula de Schwann irá captar o excesso de neurotransmissores e manter a homeostase de íons a fim de 
facilitar a transdução eficiente do sinal 
4) Microglia: 
Essas células gliais são derivadas da linhagem monócitos-macrófagos e migram para o SNC durante o desenvolvimento. As 
microglias são as células imunes do SNC. São pequenas, apresentam numerosos processos e estão distribuídas por todo o SNC. A 
microglia é ativada pela liberação de moléculas inflamatórias, como as citocinas, de modo semelhante às vias de ativação dos 
macrófagos transportados pelo sangue. Quando ativadas, as microglias são recrutadas para as áreas de lesão neuronal, onde 
fagocitam os detritos celulares e estão envolvidas na apresentação do antígeno, novamente de modo semelhante aos macrófagos 
de sangue. 
5) Células NG2: 
Essa população de células gliais foi descoberta muito recentemente. Uma de suas funções principais é atuar como as células-tronco 
dentro do encéfalo; podendo gerar tanto glias quanto neurônios. São de particular interesse nas doenças desmielinizantes, pois seu 
recrutamento e sua ativação como células precursoras de oligodendroglias são o primeiro passo na remielinização. 
As células NG2 também podem receber inputs sinápticos diretos dos neurônios, o que as faz ser uma ligação direta entre a rede de 
sinalização neuronal e a rede glial. A descoberta de que as células gliais recebem inputs sinápticos diretos revolucionou nossa 
compreensão de como as redes são organizadas no SNC. Parece que há comunicações cruzadas importantes entre as redes neuronais 
e as redes gliais paralelas. As implicações funcionais disso permanecem sendo especulações. 
6) Células ependimárias 
Essas células do epitélio revestem os ventrículos e separam o líquido cerebrospinal (LCS) do tecido nervoso, ou neurópilo. Na sua 
superfície apical, têm numerosos cílios. Algumas células ependimárias têm uma função especializada dentro dos ventrículos como 
parte do plexo coroide. O plexo coroide produz LCS. 
FATORES QUE INTERFEREM NA NEURO TRANSMISSÃO 
FADIGA DA TRANSMISSÃO S INÁPTICA 
Quando as sinapses excitatórias são repetidamente estimuladas com alta frequência, o número de descargas do neurônio pós-
sináptico é inicialmente muito alto mas a frequência de disparo começa a diminuir progressivamente nos próximos milissegundos 
ou segundos. Esse fenômeno é chamado fadigada transmissão sináptica. 
 
17 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
A fadiga é característica extremamente importante da função sináptica, porque quando certas áreas do sistema nervoso são 
superexcitadas, a fadiga faz com que percam tal excesso de excitabilidade após algum tempo. Por exemplo, a fadiga é provavelmente 
o meio mais importante pelo qual o excesso de excitabilidade do cérebro, durante convulsão epiléptica, é por fim superado e então 
o ataque cessa. Assim, o desenvolvimento da fadiga é mecanismo protetor contra a atividade neuronal excessiva. Esse ponto é 
discutido na descrição dos circuitos neuronais reverberantes, no Capítulo 46. 
O mecanismo de fadiga consiste principalmente na exaustão total ou parcial dos estoques de substância transmissora nos terminais 
pré-sinápticos. Os terminais excitatórios em muitos neurônios podem armazenar neurotransmissores excitatórios suficientes para 
provocar apenas cerca de 10.000 potenciais de ação, e o neurotransmissor pode ser esgotado por estimulação de apenas poucos 
segundos ou minutos. Parte do processo de fadiga provavelmente resulta de outros dois fatores como: (1) a inativação progressiva 
de muitos dos receptores de membrana pós-sinápticos e (2) o lento desenvolvimento de concentrações anormais de íons na célula 
neuronal pós-sináptica. 
EFEITO DA ACIDOSE E DA ALCALOSE 
A maioria dos neurônios responde com alta intensidade às mudanças do pH do líquido intersticial que os circunda. De modo geral, a 
alcalose aumenta acentuadamente a excitabilidade neuronal. Por exemplo, aumento do pH do sangue arterial do normal de 7,4 para 
7,8 a 8,0 provoca em geral convulsões epilépticas, devido ao aumento da excitabilidade de alguns ou de todos os neurônios cerebrais. 
Esse fato pode ser demonstrado muito bem ao se solicitar a pessoa predisposta a convulsões epilépticas que faça hiperventi lação. 
A hiperventilação provoca a queda dos níveis de dióxido de carbono e, portanto, eleva o pH do sangue momentaneamente, porém, 
mesmo a elevação do pH por esse curto tempo pode muitas vezes precipitar ataque epiléptico. 
Por sua vez, a acidose deprime a atividade neuronal de modo drástico; a queda do pH de 7,4 para níveis inferiores a 7,0, geralmente 
provoca estado comatoso. Por exemplo, nos casos de diabete muito grave ou acidose urêmica, o estado de coma quase sempre se 
desenvolve. 
EFEITO DA HIPÓXIA 
A excitabilidade neuronal é também muito dependente do suprimento adequado de oxigênio. A cessação da disponibilidade de 
oxigênio, por apenas alguns segundos, pode provocar completa ausência de excitabilidade de alguns neurônios. Esse fenômeno é 
observado quando o fluxo sanguíneo cerebral é temporariamente interrompido, porque em questão de 3 a 7 segundos a pessoa já 
fica inconsciente. 
EFEITO DOS FÁRMACOS 
Diversos fármacos aumentam a excitabilidade dos neurônios, e outros a diminuem. Por exemplo, cafeína, teofüina teobromina, 
encontradas no café, no chá e no cacau respectivamenteaumentam todas a excitabilidade neuronal, provavelmente por reduzirem 
o limiar de excitação dos neurônios. 
A estricnina também é um dos mais bem conhecidos de todos os agentes que aumentam a excitabilidade dos neurônios. No entanto, 
ela não reduz o limiar de excitação do neurônio mas inibe a ação de algumas substâncias transmissoras inibitórias ,especialmente 
o efeito inibitório da glicina na medula espinhal. Assim, os efeitos dos neurotransmissores excitatórios passam a ser preponderantes 
e os neurônios ficam tão excitados que produzem rápidas descargas repetitivas, resultando em espasmos musculares tônicos graves. 
A maioria dos anestésicos aumenta o limiar para excitação da membrana neuronal, e assim reduz a transmissão sináptica em muitos 
pontos do sistema nervoso. Devido ao fato de que grande parte dos anestésicos é especialmente lipossolúvel, tem sido afirmado que 
algumas dessas substâncias podem mudar as características físicas das membranas neuronais, respondendo menos aos agentes 
excitatórios. 
 
 
18 PERCEPÇÃO, CONSCIENCIA E EMOÇÃO | TUTORIA | MEDICINA | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS 
RETARDO S INÁPTICO 
Durante a transmissão do sinal neuronal do neurônio pré-sináptico para o neurônio pós-sináptico, certa quantidade de tempo é 
consumida no processo da (1) descarga da substância transmissora pelo terminal pré-sináptico, (2) difusão do neurotransmissor 
para a membrana neuronal pós-sináptica, (3) ação do neurotransmissor no receptor de membrana, (4) ação do receptor promovendo 
o aumento da permeabilidade da membrana e (5) difusão do sódio para o neurônio, aumentando o potencial pós-sináptico excitatório 
até nível alto o suficiente para provocar o potencial de ação. 
O período mínimo requerido para que todos esses eventos ocorram, mesmo quando grande número de sinapses excitatórias é 
estimulado simultaneamente, é em torno de 0,5 milissegundo. Esse atraso é chamado retardo sináptico. Os neurofisiologistas podem 
medir o tempo de mínimo retardo entre uma salva de impulsos aferentes em conjunto de neurônios e os consequentes disparos 
eferentes. Da medida do tempo de retardo, pode ser estimado o número de neurônios em série presentes num circuito.

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