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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS ENGENHARIA DE ENERGIAS MICROBIOLOGIA GERAL 2020.1 PROFESSOR: GILDEMBERG A. LEAL JR. PROVA BIMESTRAL / AB1 RENAN SPADINI TEIXEIRA Maceió – AL 2021 Universidade Federal de Alagoas Centro de Ciências Agrárias Prof. Gildemberg A. Leal Jr Prova AB1 – Microbiologia Geral – 2020.1 – Curso Engenharia de Energia Uma usina apresenta problemas no processo fermentativo para produção de etanol. O relatório técnico aponta reduzido rendimento por problemas que estão acontecendo durante a fermentação. A redução do rendimento pode ser explicado por duas hipóteses. A primeira seria a contaminação da fermentação com bactérias. A segunda seria a limitação da população de leveduras devido à redução na taxa de multiplicação. Considerando os conhecimentos adquiridos em microbiologia geral qual seria a sua abordagem para determinar qual das hipóteses é válida qual seria a sua proposta de solução para cada uma das hipóteses (1-a). Como você diferenciaria as bactérias da leveduras? (1-b) Qual seria a sua abordagem para determinar a contaminação do mosto por bactérias. O proprietário relatou que após consulta em outras usinas, constatou que os antibióticos penicilina ou vancomicina são recomendados para controle da contaminação com bactérias. Relate quais procedimentos laboratoriais você realizaria para confirmação da contaminação da fermentação por bactérias (2). Quais seriam as prática microbiológicas que ajudaria na escolha do antibiótico a ser utilizado em caso de contaminação com bactéria? Relate os procedimentos com detalhes (3). O proprietário relatou que algumas usinas que fermentam no sistema de bateladas acidificam o creme da levedura antes de iniciar a próxima fermentação. No entanto, o produtor não entendeu como o procedimento pode auxiliar na redução da contaminação de bactéria sem afetar as leveduras. Explique porque a acidificação controlaria o crescimento das bactérias mas não afeta o crescimento das leveduras (4). Apesar da possibilidade da contaminação por bactérias, o produtor não considera pertinente o controle do crescimento bacteriano pois ele entende que apenas as leveduras são capazes de utilizar o caldo de cana ou melaço como fonte de alimento para produção de etanol. Explique para o produtor por que ele está enganado (5). Quais procedimentos (práticas e insumos) o proprietário deveria adotar em relação aos equipamentos antes da fermentação para reduzir a contaminação no processo? (6) A segunda hipótese para redução da eficiência do processo fermentativo seria o aumento do tempo de fermentação que está relacionado ao crescimento e adaptação das leveduras ao processo. Quais procedimentos você utilizaria para isolar e quantificar a leveduras no processo fermentativo. O proprietário relatou que a taxa de crescimento das leveduras estaria associado com o rendimento da fermentação. O proprietário verificou que outras usinas costumam determinar a multiplicação das leveduras para saber sobre o crescimento da levedura que determina a vitalidade das células. Relate quais procedimentos laboratoriais você realizaria para obter informações necessárias sobre o tamanho da população de leveduras na fermentação e a taxa de multiplicação das leveduras, vitalidade das leveduras. (7) Outras usinas relataram adicionar nas fermentações ao menos dois nutrientes para favorecer o crescimento das leveduras. No entanto, não informou quais, explique para o produtor quais seriam os nutrientes e o porquê. (8) Centro de Ciências Agrárias - CECA/CAMPUS DELZA GITAI/UFAL - BR 104 Norte km 85. 57100-000 - Rio Largo - AL - Brasil, E-mail: jupara@hotmail.com Tel: (082)3261-3470/2967/3920/2221 Fax: 3261-1351 Renan Spadini Teixeira AB1 Respostas: 1- Para determinar as causas da perda de eficiência no processo fermentativo de produção de etanol em determinada usina é necessário através de testes bioquímicos reconhecer as fontes potenciais de contaminação de modo que medidas apropriadas possam ser tomadas para minimizar as perdas. Necessita-se analisar os dados microbiológicos das amostras. E, através destas análises específicas determinar compostos metabólitos, que são produzidos pelas leveduras ou bactérias. Determinando a quantidade de cada. Pode-se afirmar que a contaminação bacteriana ocorre onde existem nutrientes e temperatura adequados. Após a identificação do agente causador da perda de eficiência (bactéria ou leveduras), tomar as devidas ações para reequilibrar a microbiota e conseguir a melhor eficiência possível na quantidade de etanol. Maximizando os lucros. Quanto mais rápida a coleta de dados, mais rápida a tomada de decisão e ação e menores perdas no processo. Além das técnicas de microscopia e plaqueamento. A determinação de ácido lático através de métodos enzimáticos tem sido proposta por vários pesquisadores, para determinar o nível de contaminação bacteriana, uma vez que o ácido lático é o resultado da degradação dos açucares (glicose) pelas bactérias. Outra maneira indireta de estimar o número de bactérias é medir a atividade metabólica de uma população. “A contaminação bacteriana é a maior causa da diminuição no rendimento de etanol durante a fermentação de matérias primas à base de amido ou açúcar por leveduras S. cerevisiae. O açúcar consumido pelas bactérias é desviado da produção de álcool e é convertido em produtos secundários, os quais são inibitórios para o crescimento e metabolismo da levedura.” (NARENDRANATH, 2003). “Microrganismos contaminantes podem entrar nos reatores de fermentação de várias maneiras, dependendo do método e padrão de cada indústria. Como a limpeza e desinfecção das plantas de álcool combustível não são rigorosas quanto em uma cervejaria, os contaminantes podem se desenvolver nos tanques, linhas de transferência e trocadores de calor” (REED; NAGODAWITHANA, 1991). Thomas et al. (2001), simulando uma fermentação de mosto de milho em batelada contaminada com diferentes bactérias láticas, observaram queda no rendimento em álcool, desvio dos carboidratos para produção de glicerol e ácido lático, perda de viabilidade e queda na taxa de multiplicação da levedura. Segundo Lima et al. (2001), desde que a fermentação industrial não é conduzida em condições de completa assepsia, a contaminação bacteriana, principalmente de Lactobacillus e Bacillus, está sempre presente e compromete o rendimento do processo fermentativo. Oliva-Neto e Yokoya (1994) mostraram os efeitos da contaminação bacteriana sobre a levedura em fermentação alcoólica. Enquanto que a acidez produzida aumentou em 2,7 vezes ao longo de 15 ciclos fermentativos, a viabilidade da levedura S. cerevisiae diminuiu mais de 64%, assim como o rendimento de etanol decresceu de 75% para 49%. Já em outro experimento, constataram que a autólise das células de leveduras, devida ao aumento da acidez, liberou aminoácidos essenciais ao crescimento da bactéria a partir do segundo ciclo, favorecendo o aumento da contaminação. “Entre os contaminantes encontrados na produção de álcool, as bactérias do ácido lático (BAL) são as mais nocivas, devido à sua habilidade de sobreviver sob condições da fermentação etanólica (temperatura ótima entre 30 e 40°C e pH ótimo de 5,5 – 6,0). Nestas condições, as BAL possuem um eficiente metabolismo de carboidratos e o tempo de duplicação da população é bem mais rápido que da levedura.” (NARENDRANATH, 2003). De acordo com Narendranath et al. (2001) o mecanismo de ação dos subprodutos estressantes da fermentação etanólica é bastante conhecido. Portanto, é necessário diminuir o número de microrganismos presentes no mosto de tal modo que o nível dos metabólitos seja muito baixo para afetar as taxas de produção e rendimento de etanol. Segundo Kelsalle Lyons (2003b), a maneira fundamental para controlar a infecção é adequar o ambiente da fermentação etanólica. Os tanques fermentadores devem ser esvaziados e limpos regularmente; os trocadores de calor não devem ser compartilhados; evitar ‘pontos mortos’ nas tubulações de mosto e vinho; maximizar o crescimento da levedura; promover fermentações rápidas com temperatura controlada e utilizar agentes antibacterianos. Lyons (2003a) afirma que uma destilaria dificilmente vai ter uma fermentação estéril e, como a levedura é relativamente um microrganismo de crescimento lento, comparada com a maioria dos microrganismos infecciosos, é crucial que se tenham vários agentes bactericidas, produtos de limpeza e programas efetivos prontos a proteger o ambiente fermentativo. De acordo com Narendranath (2003), os métodos mais utilizados da indústria do etanol para o controle de bactérias contaminantes incluem limpeza e sanitização severas, lavagem ácida das leveduras, ajuste do pH do mosto e o uso de antibióticos durante a fermentação. Mas, mesmo com os procedimentos de limpeza, as bactérias encontram seu caminho dentro do processo nas destilarias, devendo ser removidas o mais rápido possível. 2- Para confirmar se a fermentação está contaminada por bactérias, necessitamos realizar exames microbiológicos específicos nas amostras. Como por exemplo a determinação da quantidade de ácido lático através de métodos enzimáticos, que tem sido proposta por vários pesquisadores, para conseguir determinar o nível da contaminação bacteriana. Uma vez que o ácido lático é o resultado da degradação dos açucares (glicose) pelas bactérias. 3- Através de exames laboratoriais microbiológicos e testes bioquímicos das amostras afim de determinar quais são os compostos metabólitos indesejados encontrados após a fermentação. Especificando exatamente qual é a bactéria que está contaminando a fermentação. Podendo-se assim usar o antibiótico específico em seu tratamento. Na tabela abaixo alguns dos métodos utilizados para identificar metabólitos. “Análises empregando tecnologia enzimática vêm sendo introduzidas na indústria sucroalcooleira para determinação de compostos indesejáveis. Por exemplo, a dextrana, produzida por L. mesenteroides e o glicerol, um metabólito secundário de S. cerevisiae, são detectados por essas técnicas.” (COPERSUCAR, 2001). “As vantagens das enzimas em análises são sua sensibilidade e especificidade. Ou seja, elas são hábeis para detectar quantidades muito pequenas de materiais e reagem com uma molécula específica, sem afetar outras próximas. Além do mais, as técnicas enzimáticas são precisas, rápidas e não dependem de condições extremas. Os métodos mais modernos empregam instrumentos eletrônicos que simplificam os procedimentos e diminuem a possibilidade de erro humano.” (HASSELBERGER, 1978). 4- Como já dito, o controle da contaminação bacteriana na fermentação impacta na eficiência industrial de uma usina produtora de etanol. Ceballos-Schiavone (2009) relata que a contaminação bacteriana na fermentação impacta, diretamente, na produtividade e no rendimento final, devido à degradação da sacarose para geração de ácidos, ao invés de etanol, e à intoxicação das leveduras, causadas por esses ácidos. Sabe-se que o crescimento de bactérias láticas é reduzido significantemente em meios de pH inferiores a 5,0. Desse modo, a maioria das destilarias de etanol tenta controlar a contaminação bacteriana diminuindo o pH da fermentação como uso de ácido sulfúrico (NARENDRANATH;BREY, 2009). “No processo fermentativo Melle-Boinotas leveduras em suspensão são sistematicamente submetidas ao tratamento com ácido sulfúrico após cada fermentação até pH 2,5 (+/-0,5) por 1 a 3 horas,antes de retornar aos reatores para iniciar um novo ciclo fermentativo.” (GOLDEMBERG; MACEDO, 1994). “Embora o tratamento com ácido sulfúrico seja amplamente empregado nas destilarias brasileiras, as leveduras são prejudicadas pelo ácido, que provoca extração de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, e ocasiona desgaste em sua parede celular prejudicando a produção de etanol.” (VIÉGAS, 2011; DORTA, 2006) 5- O produtor está enganado pois a contaminação bacteriana na fermentação impacta, diretamente, na produtividade e no rendimento final, por causa da degradação da sacarose para geração de ácidos, ao invés de etanol, e levando consequentemente à intoxicação das leveduras, causadas por esses ácidos. 6- A maneira de controlar a infecção bacteriana é adequar o ambiente da fermentação etanólica. Os tanques fermentadores devem ser esvaziados e limpos regularmente; os trocadores de calor não devem ser compartilhados; evitar ‘pontos mortos’ nas tubulações de mosto e vinho; maximizar o crescimento da levedura; promover fermentações rápidas com temperatura controlada e utilizar agentes antibacterianos. 7- A levedura como entidade viva independente, realiza a fermentação do açúcar com o objetivo de conseguir a energia química necessária à sua sobrevivência, sendo o etano! apenas e tão somente um subproduto desse processo. Para descobrir a taxa de crescimento e a taxa fermentativa (eficiência) das leveduras. Cria-se um ambiente favorável ao seu crescimento para que se analise a sua curva de crescimento da massa celular e consequente taxa de consumo de substrato, de maneira que a concentrações de açúcares totais permaneçam constantes. 8- Nutrientes específicos favorecem o crescimento das leveduras. Como compostos nitrogenados. Por exemplo, uma ótima receita para melhorar o crescimento 1L de melaço aditivado com 6% de um substrato suplementado de KH2PO4 (0.87 g/L), (Nltt)2SO4 (0.66 g/L), uréia (0.66 g/L), MgSO4.H2O (0.49 g/L), ZnSO4.7H2O (0.03 g/L), MnSO4.H2O (0.02 g/L) e ácido linolêico (0.03 g/L), prosseguindo o crescimento a temperatura ambiente (23 ± 3°C) por 70 horas. Referências Bibliográficas NARENDRANATH, N. V. Bacterial contamination and control in ethanol production. In: JACQUES, K. A.; LYONS, T. P.; KELSALL, D. R. (Ed.). The alcohol textbook. 4th ed. Nottingham: Nottingham University Press, 2003. Chapter 20. REED, G.; NAGODAWITHANA, T. W. Yeast Technology. 2nd ed. New York: Van Nostrand Reihold, 1991. THOMAS, K. C.; HYNES, S. H.; INGLEDEW, W. M. Effect of lactobacilli on yeast growth, viability and batch and semi-continuous alcoholic fermentation of corn mash. Journal of Applied Microbiology, Oxford, v. 90, 2001. OLIVA-NETO, P.; YOKOYA, F. Evaluation of bacterial contamination in a fed-batch alcoholic fermentation process. World Journal of Microbiology & Biotechnology, Oxford. V.10. GOLDEMBERG, J.; LUCON, O. Energia e meio ambiente no Brasil. Estudos avançados, São Paulovol.21no.59São PauloJan./Apr.2007. GOLDEMBERG, J.; MOREIRA, J. R. Política energética no Brasil. Estudos avançados, São Paulovol.19no.55São PauloSept./Dec.2005. COPERSUCAR. Manual de métodos analíticos – controle químico da fermentação. Piracicaba: Centro de Tecnologia Copersucar, 2001. DORTA, C.; OLIVA-NETO, P; ABREU-NETO, M. S.; NICOLAU-JUNIOR, N.; NAGASHIMA, A. I. Synergism among lactic acid, sulfite, pH and ethanol in alcoholic fermentation of Saccharomyces cerevisiae. World Journal of Microbiology & Biotechnology, Oxford, v. 22. CEBALLOS SCHIAVONE, C. A. D. M. Tratamento térmico do caldo de cana-de-açúcar visando a redução de contaminantes bacterianos –Lactobacillus –na produção de etanol e eficiência de tratamento do fermento por etanol.2009. 177 p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) –Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, 2009 Fernando Andrade de Oliveira1Darlan Marques da Silva2 CONTAMINAÇÃO BACTERIANA NA FERMENTAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NA EFICIÊNCIA INDUSTRIAL DE UMA USINADE CANA-DE-AÇÚCAR acessado em 02/04/2021, pelo endereço eletrônico: https://unirv.edu.br/conteudos/fckfiles/files/CONTAMINA%C3%87%C3%83O%20BACTERIANA%20N A%20FERMENTA%C3%87%C3%83O%20E%20SUA%20INFLU%C3%8ANCIA%20NA%20EFICI%C3%8ANC IA%20INDUSTRIAL%20DE%20UMA%20USINA%20DE%20CANA-DE-A%C3%87%C3%9ACAR.pdf 547.29 Ventura, Ricardo V468q Quantificação do ácido lático na fermentação etanólica como parâmetro de monitoramento do processo / Ricardo Ventura . - Rio Claro: [s.n.], 2007 92 f. : il., figs., tabs., gráfs., fots. https://unirv.edu.br/conteudos/fckfiles/files/CONTAMINA%C3%87%C3%83O%20BACTERIANA%20NA%20FERMENTA%C3%87%C3%83O%20E%20SUA%20INFLU%C3%8ANCIA%20NA%20EFICI%C3%8ANCIA%20INDUSTRIAL%20DE%20UMA%20USINA%20DE%20CANA-DE-A%C3%87%C3%9ACAR.pdf https://unirv.edu.br/conteudos/fckfiles/files/CONTAMINA%C3%87%C3%83O%20BACTERIANA%20NA%20FERMENTA%C3%87%C3%83O%20E%20SUA%20INFLU%C3%8ANCIA%20NA%20EFICI%C3%8ANCIA%20INDUSTRIAL%20DE%20UMA%20USINA%20DE%20CANA-DE-A%C3%87%C3%9ACAR.pdf https://unirv.edu.br/conteudos/fckfiles/files/CONTAMINA%C3%87%C3%83O%20BACTERIANA%20NA%20FERMENTA%C3%87%C3%83O%20E%20SUA%20INFLU%C3%8ANCIA%20NA%20EFICI%C3%8ANCIA%20INDUSTRIAL%20DE%20UMA%20USINA%20DE%20CANA-DE-A%C3%87%C3%9ACAR.pdf
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