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Religiões no Mundo Mediterraneo e as Origens do Cristianismo

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Prévia do material em texto

Religiões do mundo 
mediterrâneo 
e as origens do 
cristianismo
Sarita dos Santos Carvalho
Marco Aurélio de Brito
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou 
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo 
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de 
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Imagens
Adaptadas de Shutterstock.
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imagens reproduzidas neste livro; qualquer eventual omissão será corrigida em futuras edições. 
Conteúdo em websites
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pelos seus mantenedores. Sendo assim, a Editora não se responsabiliza pelo conteúdo de terceiros.
Presidência 
Rodrigo Galindo
Vice-Presidência de Produto, Gestão 
e Expansão
Julia Gonçalves
Vice-Presidência Acadêmica
Marcos Lemos
Diretoria de Produção e 
Responsabilidade Social
Camilla Veiga
Gerência Editorial
Fernanda Migliorança
Editoração Gráfica e Eletrônica
Renata Galdino
Luana Mercurio
Supervisão da Disciplina
Ana Paula Moraes da Silva 
Maccafani
Revisão Técnica
Ana Paula Moraes da Silva 
Maccafani
Iara Gumbrevicius
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Brito, Marco Aurélio.
B862r Religiões no mundo mediterrâneo e as origens do cristianismo / 
 Marco Aurélio de Brito, Sarita dos Santos Carvalho. – Londrina: 
 Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020.
 183 p.
 
 ISBN versão digital 978-65-5903-019-4
 
 1. Cristianismo primitivo. 2. Povo hebreu. 3. Igreja Católica e 
 Romana. I. Carvalho, Sarita dos Santos. II. Título. 
CDD 200 
Raquel Torres CRB-6/2786
Sumário
Unidade 1
Religião, sociedade e suas fronteiras ........................................................... 7
Seção 1
Matriz judaica ..................................................................................... 9
Seção 2
Formação do povo de Israel ............................................................20
Seção 3
Estruturas políticas: povo de Israel ................................................35
Unidade 2
Cristianismo .................................................................................................56
Seção 1
Origem e expansão ...........................................................................57
Seção 2
Igreja: A era apostólica .....................................................................70
Seção 3
O cenário religioso medieval ..........................................................84
Unidade 3
História, cultura e religião .......................................................................100
Seção 1
Período helenístico ........................................................................101
Seção 2
Contexto sociocultural no Mediterrâneo ...................................113
Seção 3
A ética e o advento do cristianismo ............................................126
Unidade 4
Literatura, religião e sociedade ...............................................................143
Seção 1
Os gêneros literários do antigo e novo testamento ...................144
Seção 2
Tipos de narrativas bíblicas ..........................................................156
Seção 3
Literatura neotestamentária .........................................................166
Palavras do autor
Caro aluno!Esta disciplina foi elaborada pensando nos conteúdos necessários e indispensáveis à sua formação como teólogo. Para isso, é importante 
o entendimento sobre as diversas religiões, suas crenças e seus costumes, e 
considerando a influência do judaísmo em relação ao cristianismo, este 
material é fundamental para seu entendimento sobre a doutrina cristã.
Trabalharemos de forma que você consiga compreender as práticas 
religiosas das religiões mesopotâmicas, bem como do cristianismo. Sobre 
esta última, será primordial entender as práticas dos grupos e das comuni-
dades cristãs no seu período de formação e fixação. Pelo nascimento do 
judaísmo e o evento do cristianismo, muitas instituições se estabeleceram, e 
a igreja cristã como conhecemos hoje é o resultado desse passado histórico 
de acontecimentos felizes ou desastrosos, resultado de escolhas dos homens, 
cada uma em seu tempo.
Ao longo da disciplina, veremos a origem do judaísmo, bem como a 
importância e o conteúdo da Torá, a era patriarcal, os personagens que foram 
formadores do povo e de seus costumes básicos, bem como a escolha pela 
monarquia, suas consequências entre vitórias e perdas; estudaremos, também, 
sobre os clãs patriarcais, a organização social a política, a divisão dos reinos 
e os movimentos que buscavam a restruturação da nação. Posteriormente, 
conheceremos a expansão do domínio romano sobre a Palestina e a pessoa 
de Jesus na formação e expansão do cristianismo. 
Entraremos, então, na história do cristianismo, desde a Igreja Primitiva, 
com Paulo, seguindo para a formação da Igreja Medieval, a Igreja Católica, 
a Reforma Protestante e a Contrarreforma, seguida do período Helenístico, 
quando a cultura, em suas reviravoltas, influenciou também a religião. 
Retomaremos o contexto sociocultural do Mediterrâneo, agora em diferente 
cenário cultural e religioso.
Ainda, aprenderemos sobre o cristianismo como difusor de princípios 
éticos e filosóficos, propagadores da ordem moral e da justiça social, assuntos 
de suma importância para estabelecer uma teologia contextualizada atual-
mente. Estudaremos os gêneros literários do Antigo e do Novo Testamentos 
e os tipos de narrativas, fontes ricas e criativas na forma de textos históricos, 
épicos, tragédia e romance. Sobre os livros neotestamentários, veremos o 
criticismo sobre os textos, a formação do cânon, as literaturas apócrifas e a 
interpretação dos textos.
Sugerimos que você tenha a disposição de acompanhar textos bíblicos, 
sempre que possível, aprimorando sua leitura deste livro, o qual, além de 
ser considerado sagrado por religiões, é um instrumento histórico muito 
importante. 
A sua dedicação e curiosidade serão de grande importância para 
aprimorar sua vocação profissional. O teólogo, além de conhecedor das 
religiões, é aquele que deverá ter respostas para orientar pessoas e suprir suas 
indagações a respeito das religiões. Estamos aqui para ajudá-lo! 
Unidade 1
Sarita dos Santos Carvalho
Religião, sociedade e suas fronteiras
Convite ao estudo
Caro aluno, nesta unidade, você aprenderá sobre o judaísmo, desde o seu 
surgimento até os tempos que precederam o nascimento de Jesus. Mais que 
um conhecimento histórico, você entenderá porque uma religião tão antiga 
ainda tem seus adeptos espalhados pelo mundo e a influência que eles têm 
sobre as sociedades.
Em disciplinas anteriores, você já conheceu a importância da Bíblia e sua 
formação. Agora, você compreenderá como os livros históricos permeiam 
a vida de uma nação que valoriza mais a sua religiosidade do que qualquer 
outra coisa, já que entende ter sido separada como mensageira e propagadora 
da Palavra de Deus.
Além disso, verificará a complexidade das crenças judaicas e uma série 
de instruções comportamentais que regem o judaísmo, mas que podem ser 
seguidas por outras sociedades, de forma a promover o consenso e a igual-
dade social.
Abra a mente, libere a sua curiosidade e aproveite os estudos!
9
Seção 1
Matriz judaica
Diálogo aberto
Aluno, seja bem-vindo a esta disciplina!
Nesta seção, dentro da unidade Religião, sociedade e suas fronteiras,aprofundaremos as questões sobre a matriz judaica – características, origem, 
crenças e livro sagrado. O judaísmo tem total relação com o cristianismo, 
pois sem os princípios registrados da história judaica não teríamos os princí-
pios da argumentação da salvação pela graça. Outro ponto interessante é a 
contribuição que as leis judaicas ofereceram para a composição dos direitos 
jurídicos de diversos povos, como preceito de justiça e credibilidade.
Para tornar a religião judaica mais conhecida, adentraremos à situação-
-problema que propomos a você. O município de Campinas deseja a parti-
cipação de um estudioso da teologia para participar de uma feira ecumê-
nica, na qual várias atividades serão apresentadas sobre diversas religiões. 
Trata-se de uma exposição, a qual acontecerá em um ginásio escolar, com 
trabalhos dos mais variados – palestras, obras de arte, arte interativa, música, 
jogos, entre outros. Serão expostos painéis, utensílios característicos de cada 
religião, roupas, etc., na intenção de torná-las conhecidas e promover proxi-
midade com os diversos públicos. Deve-se considerar que, estando no Brasil, 
há uma maioria de pessoas que conhece o cristianismo, portanto, para as 
apresentações das religiões menos conhecidas, deve-se dispender um esforço 
maior para que sejam vistas e compreendidas.
Você, como estudante de teologia, foi chamado para auxiliar na montagem 
da apresentação da religião judaica na feira. Você deverá expor o que é o 
judaísmo, suas origens, suas crenças e tradições, bem como seus princí-
pios especiais.
Bons estudos!
Não pode faltar
O que é judaísmo?
Quando falamos em religião, qual a primeira palavra que lhe vem à 
mente? As religiões de origem cristã?
10
É comum a nós, brasileiros, com tradição histórica cristã – porque, afinal, 
nossos colonizadores europeus trouxeram o catolicismo como religião para 
este lugar e o impuseram por muito tempo como a religião oficial do país – 
pensar que outras religiões sejam seitas, ou movimentos menos importantes, 
ou simplesmente culturas de determinado grupo.
O judaísmo é uma religião que também é a cultura e o movimento de 
uma nação, ou seja, o fato de o povo de Israel ter começado com uma família, 
ter crescido e se multiplicado, com a visão de povo escolhido por Deus, é tão 
forte que, mesmo Israel tendo ficado tempos sem um território, o conceito 
de nação não se desfez. Você compreende a diferença entre país e nação? A 
nação judaica é um ótimo exemplo para compreender a diferença. Ela perma-
nece nas pessoas que dela fazem parte, considerando-se um grupo com a 
mesma descendência, que conserva, obrigatoriamente, costumes e crenças, 
independentemente do país em que estejam habitando. O judeu, dentro ou 
fora da Palestina, continua praticando o shabat, a circuncisão, a abstinência 
a determinados alimentos, a prática da leitura da Torá, entre tantos outros 
rituais que fazem parte da sua essência.
O judaísmo, portanto, é uma religião primordialmente (a primeira) 
monoteísta, sendo a mais antiga do mundo, tendo se originado por volta do 
século XVIII a.C. Presume-se que tenha, hoje, de 12 a 15 milhões de adeptos.
Atualmente, uma pessoa pode se converter ao judaísmo sem que seja 
descendente de judeus, mas deve seguir todos os rituais religiosos. O severo 
cumprimento das leis da Torá, contudo, é exigido apenas ao povo judeu 
por descendência. Mas, os mandamentos devem ser seguidos por todos os 
homens, indistintamente de sua origem ou nação, pois o judaísmo acredita 
que a Palavra de Deus foi enviada não apenas a Israel, são regras mais que 
religiosas, são para a sociedade.
A origem do judaísmo
Você já parou para pensar que um determinado povo começou a sua 
história há mais de quatro mil anos e que, apesar das mais terríveis ameaças 
a ele, manteve-se vivo e com suas tradições até hoje? 
Esse povo é o judeu, que se iniciou com o chamado de Abrão para emigrar 
da cidade de Ur, dos Caldeus, para tomar posse de Canaã. Abrão tornou-se 
figura histórica, aquele que se deslocou com seus rebanhos, tendas, esposa 
(Sarai) e concubinas, de norte a sul da Palestina. O texto bíblico clássico sobre 
o chamado dele está em Gênesis, capítulo 12, versículos de 1 a 3:
11
Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua 
parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te 
mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei 
e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E 
abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te 
amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da 
terra. (BÍBLIA, 2005, p. 12)
Mas, por que Abrão foi chamado?
A região da Caldeia era constituída por povos de cultura politeísta. Abrão 
era homem que já se dedicava a um único Deus, assim como seu antepas-
sado, Sem, filho de Noé. Portanto, ele não havia se corrompido com a cultura 
dos caldeus, mesmo tendo algumas relações com aquela sociedade, isto é, 
Abrão tinha alguns contatos comerciais entre os caldeus e estes lhe garantiam 
proteção no caso de perigo com a invasão de dominadores. 
Segundo a história bíblica, Deus, desde a criação do homem, desejava 
que os povos da Terra se mantivessem íntegros e justos, para que com eles 
pudesse se relacionar. Assim, Deus escolhe Abrão para ser o precursor desse 
povo e, ainda hoje, judeus se consideram “filhos de Abrão”.
O fato é que, nos tempos de Abrão, o império egípcio vinha com tentativas 
de dominar todas as terras da região da Mesopotâmia; concomitantemente, 
poderes assírios enfrentavam os egípcios e subjugavam pequenos outros 
povos. Todos desejavam essa terra privilegiada de Canaã, contida entre as 
praias do Mar Mediterrâneo e as areias da Península Arábica, regada pelo Rio 
Jordão, em uma mistura de vegetação exuberante, desertos, planícies e vales. 
Uma visão exuberante! Mediante a esses fatos, Roth (1962, p. 5) afirma: “Foi 
por causa da visão de algo de algo mais elevado e da esperança de alcançar 
uma satisfação mais completa, que Abrão parece ter abandonado seu país”. 
Assim, além de uma visão romântica ou sobrenatural a respeito do 
chamado de Abrão, pode-se considerar que ele foi também impulsionado 
pelos benefícios que aquela nova região oferecia, sem desmerecer o fato de 
que Deus também desejava o bem e a prosperidade de seu povo.
A descendência de Abrão torna-se o povo escolhido para transmitir a 
mensagem de Deus. Você verá, no decorrer desta unidade, como a sua história 
foi construída com base na obediência e desobediência aos mandamentos de 
Deus, o que, de certa forma, permeia as principais crenças deste povo. Vamos 
conhecê-las?
12
As principais crenças judaicas
Há religiões que estão repletas de objetos místicos, dos quais se acredita 
que emane poder. Outras creem que há determinados rituais que promovem 
concessão de poder sobrenatural, ou que despertam a atenção de Deus sobre 
os homens. São crenças movidas pela fé, nem sempre explicáveis. No caso do 
judaísmo, há determinadas tradições e crenças que perpassaram gerações. 
Você tem ideia da quantidade de regras presentes na lei judaica para o povo? 
O livro de Deuteronômio está repleto delas. Além disso, os intérpretes da lei 
produziam a lei oral, que era uma interpretação para casos específicos, já que 
aquilo que estava escrito nem sempre abrangia especificidades.
As principais crenças judaicas estão firmadas no entendimento de 
que Deus é único e o criador da Terra e dos Céus, do universo inteiro. É 
onisciente, onipresente e onipotente. Ele não tem gênero, mas é chamado de 
forma masculina por convenção. Por meio das Escrituras, Deus comunicou 
ao povo judeu as suas instruções de comportamento em relação a Ele e ao 
próximo. Elas são imutáveis, e se encontram no Tanakh (similar ao Antigo 
Testamento que conhecemos). O povo de Israel foi escolhido para receber 
a Palavra de Deus, perpetuá-la, protegê-la e divulgá-la ao resto do mundo. 
Além dos dez mandamentos, há outros 613 nas escrituras que devem ser 
considerados e seguidos. Todo judeu deve receber instruçãopara a leitura 
e o aprendizado da Torá, nesse sentido, o judaísmo não aceita os escritos do 
Novo Testamento como Palavra de Deus. 
Ainda segundo os judeus, Deus julga os homens por seus atos, indepen-
dentemente de raça, etnia ou gênero, considerando que ao homem foi dado 
livre-arbítrio para agir para o bem ou para o mal. Assim também é responsa-
bilidade de cada um a expiação pelos próprios pecados, sendo que a correção 
dos erros vem por meio da oração, da meditação, do Yom Kippur (dia do 
perdão) e pelo arrependimento, desejando não cometer os mesmos erros 
novamente. 
O judaísmo crê na vinda de um messias, mas não como alguém que 
tomará os pecados do mundo, como Jesus. O messias judaico é aquele que 
reunirá todo o povo judeu na Terra de Israel, um rei judeu, e isso ocorrerá no 
tempo da paz universal. Jerusalém é o coração do judaísmo; os judeus ainda 
creem que aquela terra é especial para Deus, e têm uma relação interessante 
e física com ela. 
Todo menino nascido judeu deve ser circuncidado ao oitavo dia de vida. 
Portanto, o homem judeu tem uma marca física e íntima que o identifica 
como separado para esta religião.
13
Exemplificando
Atualmente, na maioria dos países ocidentais, é garantido um dia de 
folga do trabalho no fim de semana. Você já parou para pensar que essa 
norma tem fundamento nas leis judaicas? Deus determinou ao povo 
um dia de descanso, o shabat, que seria o sábado, quando o homem 
não deveria produzir nada, mas se dedicar aos serviços de prece, refei-
ções festivas com família e amigos e descanso. Esse dia de descanso 
tem referência ao fato de que Deus criara o mundo em seis dias e teria 
também descansado no sétimo. Veja que a lei foi feita para o bem do 
homem, para preservá-lo da exploração, dando o direito ao descanso a 
todo e qualquer trabalhador.
Figura 1.1 | Menino lendo a Torá – Bar Mitzvah
Fonte: ShutterStock. 
Reflita
Em tempos antigos, todos os meninos eram iniciados na leitura 
e compreensão das Escrituras, seguidos por um rabi (mestre). 
Aqueles que se destacavam no aprendizado eram tomados como 
discípulos do mestre para estudarem cada vez mais, até que 
também se tornassem rabis na idade adulta. Aqueles de pouco 
ou nenhum destaque eram excluídos do ensino e voltavam 
para serem instruídos na profissão de seus pais. Portanto, ser 
chamado para acompanhar um rabi (ou rabino) era motivo de 
grande orgulho e, para muitos, a única oportunidade de seguir 
uma vida social diferente daquela da família.
14
Há, ainda, muitos outros elementos que fazem parte das crenças judaicas: 
amuletos, artefatos, festas e objetos sagrados que fazem parte desse universo 
religioso. Esteja atento e disposto a pesquisar mais a respeito e conhecer seu 
mundo de tradições. 
Dentre as tradições, a leitura e memorização da Torá é uma tarefa 
complexa. Verificaremos algumas características desse importante livro 
dos judeus!
Torá: o livro sagrado do judaísmo
Manusear um objeto antigo é algo fascinante, você não acha? Há um certo 
poder místico que envolve as antiguidades, que traz à mente a possibilidade 
de imaginar a vida de pessoas que já se foram e que carregaram ou produ-
ziram tais objetos. Como seria entrar em uma casa de mais de dois mil anos e 
poder provar e sentir seus utensílios preservados, suas paredes, seus móveis?
Observar a Torá é adentrar em uma história de quatro mil anos. Ela é 
produto de registros realizados há muito tempo, mas que persistem até 
os nossos dias, sendo cada vez mais difundidos. Já parou para pensar em 
quantas pessoas já tiveram contato com este livro, leram e repetiram seus 
muitos textos?
A Torá, a Lei de Moisés ou Pentateuco (em hebraico, Chumash, Chumishá 
Chimishê Torá) é o conjunto dos livros “de Moisés”: Gênesis (Bereshit), Êxodo 
(Shemót), Levítico (Vayikrá) e Deuteronômio (Devarim). Os nomes dos 
livros (em português) derivam do grego e estão relacionados ao conteúdo; já 
os nomes em hebraico fazem referência à primeira ou principal palavra do 
início de cada livro.
A autoria é referida a Moisés, e os últimos versículos a Josué, substituto 
de Moisés após a sua morte. Mas, a autoria é uma questão polêmica entre 
teólogos ocidentais, pois, considerando que Moisés morrera no deserto, preci-
saria ter realizado um trabalho complexo, a fim de redigir diversos rolos nas 
condições em que ele e o povo se encontravam, e carregá-los por regiões tão 
áridas ao longo de tanto tempo. Alguns estudiosos defendem que as leis eram 
conservadas oralmente, desde Moisés, e que, em algum momento da história, 
fiéis sacerdotes passaram a registrá-las em rolos, e assim sucessivamente.
“O Pentateuco contém a história da criação do homem, a origem do povo 
hebreu e toda sua legislação civil e religiosa, finalizando com a morte de 
Moisés.” (TORÁ, 2001, p. XIII).
15
Assimile
Na Bíblia cristã, o Pentateuco contém os livros da Torá. Eles são funda-
mentais para a religião cristã, pois contêm elementos que fazem a 
ligação entre a criação do homem, sua queda e redenção, que será, 
na literatura, concretizada no Novo Testamento, por meio do sacrifício 
de Jesus. Na Torá está descrito o ritual do sacrifício para perdão dos 
pecados, cumprido por Jesus, o cordeiro perfeito oferecido pelas trans-
gressões da humanidade.
A Torá contém 5.845 versículos, compilados nos cinco livros. A tradição 
judaica considera a Torá sagrada e considera motivo de grande alegria ela 
ter sido revelada por Deus, por meio de seu mensageiro Moisés. Para ela, de 
acordo com a história da peregrinação no deserto, Moisés sobe ao monte Sinai 
e passa muitos dias na presença do Senhor. Ao descer do monte, Moisés traz 
a Lei e, somente por esse ato, o povo comemorou, mesmo antes de conhecer 
seu conteúdo. Esse dia é lembrado com a festa da Simchat Torá, quando todos 
dançam e cantam com alegria, agradecendo a Deus a dádiva da sua Palavra.
Ao passo que Moisés apresentava as leis ao povo, puderam perceber que 
elas forneciam a chave não para alcançar a riqueza, mas para dar significado 
à sua existência, proporcionando a felicidade em viver conforme a Torá.
Vale dizer que muitos preceitos da lei judaica se tornaram base legislativa 
de muitos povos ocidentais, e mais ainda depois da invenção da imprensa, 
por Gutemberg, em 1430. O primeiro livro a ser produzido na imprensa de 
Gutemberg foi a Bíblia, o que promoveu sua divulgação mais rápida às pessoas 
mais distantes, e mais ainda com a posterior tradução para diversas línguas.
Importante, ainda, ressaltar que há três redações diferentes dos livros da 
Lei: a versão judaica, a samaritana e a grega (a Versão dos Setenta – Septuaginta 
– e a versão latina – Vulgata). A redação judaica foi transcrita por rabinos 
massoraítas (escritos massoréticos), no século VII d.C.; as versões gregas 
(Septuaginta e Vulgata) são bem semelhantes à massorética, no entanto, a 
samaritana é a que mais difere.
A você, aluno, aconselhamos que, se tiver uma oportunidade, manipule 
um exemplar da Torá, seja em um museu, uma biblioteca, ou uma livraria 
em sua cidade. Observar seu conteúdo lhe despertará a sensibilidade para 
perceber quão precioso é este livro – se não for segundo as suas crenças, ao 
menos como uma verdadeira joia literária.
Nesta seção, você recebeu informações essenciais para a compreensão 
de uma das religiões mais antigas do mundo. Além disso, aprendeu sobre os 
princípios e motivos de seu surgimento, suas crenças e um de seus objetos 
16
sagrados. Sobre o judaísmo, há, ainda, muito o que aprender, pois é uma 
religião milenar e com diversas nuances curiosas. Ler a Bíblia em sua totali-
dade é uma das formas de conhecer ainda melhor essa religião e suas tradi-
ções. Veremos, nas próximas seções, mais sobre o povo judeu, o desenrolar de 
sua história e como suas escolhas influenciaram seu futuro.
Sem medo de errar
Conforme vimos na situação-problema desta seção, para a feira ecumê-
nica, será montado um estande sobre a origem das diversas religiões, portanto, 
você deve elaborar um painel com as principaisinformações a respeito do 
judaísmo, elencando as crenças e sua fonte de inspiração. 
No caso do judaísmo, há determinadas tradições e crenças que perpas-
saram gerações. Você tem ideia da quantidade de regras presentes na lei 
judaica para o povo? O livro de Deuteronômio está repleto delas. Além 
disso, os intérpretes dela produziam a lei oral, que era uma interpre-
tação para casos específicos, já que aquilo que estava escrito nem sempre 
abrangia especificidades.
As principais crenças judaicas sobre Deus são: 
• Deus é único e o criador da Terra e dos Céus, do universo inteiro. 
• Onisciente, onipresente e onipotente.
• Não tem gênero.
Quanto ao povo:
• Foi escolhido para receber a Palavra de Deus, que é imutável. Israel 
deveria perpetuá-la, protegê-la e divulgá-la ao resto do mundo. 
• Todo menino nascido judeu deve ser circuncidado ao oitavo dia de 
vida. 
Quanto às Escrituras: 
• Além dos dez mandamentos, há outros 613 que devem ser conside-
rados e seguidos. 
• Todo judeu deve receber instrução para a leitura e o aprendizado da 
Torá. O judaísmo não aceita os escritos do Novo Testamento como 
Palavra de Deus. 
Aos homens, em geral:
• Ao homem foi dado livre-arbítrio para agir para o bem ou para o mal. 
17
• É responsabilidade de cada um a expiação pelos próprios pecados, 
por meio da oração, da meditação, arrependimento, desejando não 
cometer os mesmos erros novamente. 
O messias judaico é aquele que reunirá todo o povo judeu na Terra de 
Israel, um rei judeu, e isso ocorrerá no tempo da paz universal. Jerusalém é o 
coração do judaísmo. 
O estande pode ser decorado com exemplares ou cópias de artigos 
religiosos judaicos, similares aos presentes nos templos e nas sinagogas: o 
candelabro, as tábuas da Lei de Moisés, o cajado de Moisés, a Arca da Aliança, 
entre outros. 
Uma das melhores formas de apresentar a lei judaica é você dispor de 
um ou mais exemplares da Torá, deixando-os disponíveis ao manuseio do 
público. Outras ações podem ser apresentadas, usando a sua criatividade.
Faça valer a pena
1. 
Quanto à caracterização do povo de Israel enquanto 
povo eleito por Deus, é necessário que se compreenda 
tal expressão como referente, unicamente, ao fato de 
que Deus escolheu os judeus para que recebessem sua 
Lei, cumprissem os mandamentos contidos na mesma e a 
estudassem, a fim de poderem segui-la de forma consciente. 
Deste modo, esta escolha não deve, em hipótese alguma, 
ser interpretada por um prisma etnocêntrico, ou seja, 
significando a superioridade de um povo em detrimento 
de quaisquer outros, quer esta superioridade seja defen-
dida por critérios religiosos, étnicos, sociais, econômicos, 
políticos ou morais. Segundo Lillenthal (1997), a eleição 
deve ser compreendida como marcada pela condição de 
obediência, dever e serviço a Deus. Tal condição revela que 
o povo de Israel foi escolhido apenas como instrumento 
para garantir o cumprimento de um propósito divino maior 
- a defesa do monoteísmo. (EPELBOIM, 2004, [s.p.])
Com base no texto a respeito das crenças do judaísmo, assinale a alternativa 
correta:
18
a. O povo judeu foi escolhido por Deus devido à sua notória e superior 
capacidade evolutiva sobre os demais povos. 
b. O povo judeu acredita que foi separado para não se contaminar com 
outros povos, pois sua impureza significa ceder ao Diabo.
c. Faz parte das crenças judaicas o fato de que os judeus foram escolhidos, 
como um privilégio, para receber as leis do Senhor e permanecerem 
como seu guardião e propagador.
d. Moisés foi escolhido para ser o portador da mensagem de Deus, sua 
Lei, porque foi chamado para sair da terra de Ur, da Caldeia, para uma 
terra totalmente desconhecida e, mesmo assim, obedeceu.
e. O fato de os judeus terem recebido a Lei de Deus não foi por se 
tratar de uma etnia mais desenvolvida que outras, pois eles sempre 
estiveram atrás no desenvolvimento social e tecnológico. Em toda a 
história, não têm um nome de relevância na ciência. 
2. Em português, Torá vem da palavra hebraica  tohráh,  que pode 
ser traduzida como “instrução”, “ensinamentos” ou “lei”. O livro 
de Provérbios contém as seguintes passagens: “Filho meu, não te 
esqueças da minha lei, e o teu coração guarde os meus mandamentos. 
Porque eles aumentarão os teus dias e te acrescentarão anos 
de vida e paz” (3:1); “O que guarda a lei é filho sábio, mas o 
companheiro dos desregrados envergonha a seu pai” (28:4); 
“Atentai para a minha repreensão; pois eis que vos derramarei abundante-
mente do meu espírito e vos farei saber as minhas palavras” (1:23).
A Torá contém a lei judaica, e é também conhecida como Pentateuco, que 
faz parte do Antigo Testamento da Bíblia cristã. Assinale a alternativa que 
contém os livros que compõem a Torá:
a. Provérbios, Eclesiastes, Salmos, Cânticos de Salomão e Levítico. 
b. Provérbios, Eclesiastes, Levítico, Números e Deuteronômio.
c. Eclesiastes, Livro da Sabedoria, Levítico, Números e Deuteronômio.
d. Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
e. Levítico, Números, Deuteronômio, Josué e Samuel.
19
3. As leis do Shabat para o judeu ortodoxo são bastante complexas. A 
princípio, parecem uma série de estranhas restrições, mas os praticantes 
acreditam que, se alguém de fora presenciar a prática da tradição, pode 
passar a se sentir à vontade com as leis do Shabat, desde que perceba que se 
tornar shomer Shabat (observante do Shabat) é um processo gradual, e não 
uma transformação da noite para o dia.Texto.
Sobre as crenças e os rituais do judaísmo, o que é o shabat?
a. A lei judaica que se refere à circuncisão dos meninos ao oitavo dia do 
nascimento. 
b. A lei judaica a respeito do descanso semanal.
c. A lei judaica sobre a abstinência de determinados alimentos, como as 
carnes impuras.
d. A lei judaica sobre o jejum.
e. A lei judaica sobre a abstinência sexual para dedicação à meditação. 
20
Seção 2
Formação do povo de Israel
Diálogo aberto
Caro aluno, bem-vindo a mais uma seção de estudos sobre o povo de 
Israel. Estudaremos a estruturação do Estado de Israel a partir de um desen-
rolar de acontecimentos, iniciando com a história de seus patriarcas, os 
personagens importantes para a história de todo judeu, o período monár-
quico e o exílio – período crítico de domínio e escravização por outros povos. 
Você consegue relacionar, por exemplo, a importância dos portugueses 
colonizadores na constituição dos nossos costumes, na formação das nossas 
cidades e na arte brasileira? Isto sem falar na língua, que é um dos nossos 
maiores patrimônios culturais. Da mesma forma, temos a influência africana, 
trazida pelos povos, de maioria bantu, como escravos e que é claramente 
presente na nossa cultura, no nosso vocabulário e, talvez, ainda, na forma de 
ser do povo brasileiro: alegre, festivo, que preza por relacionamentos.
Com essa figura em mente, faça um paralelo sobre a cultura judaica, 
influenciada por seus “fundadores”, os patriarcas, em uma cultura acentuada-
mente patriarcal; depois, vivendo nos exílios, sendo influenciada por outras 
culturas, um eterno conflito entre conservar-se ou mestiçar-se.
Para colocar em prática mais esta seção de aprendizagem, relembraremos 
a situação-problema da seção anterior. O município de Campinas promoverá 
uma feira ecumênica, na qual diversas atividades serão apresentadas sobre 
várias religiões. Você, como estudante de Teologia, foi convidado a apresentar 
o judaísmo e, agora, foi solicitado que monte uma tabela com os principais 
acontecimentos da história judaica, desde o surgimento de Israel até a liber-
tação do exílio. O grande desafio refere-se à grande extensão de tempo que 
envolve a formação do Estado de Israel, desde o período da revelação, a escra-
vidão, o período de peregrinação, a chegada à terra prometida e toda a longa 
trajetória. Também é desafiante devido às influências sofridas pelo povo 
judeu por meio dos diversos contatos com povos e culturas diversos. Você 
já sabe que, para descrever a história judaica, terá que tangenciaras histórias 
desses vários povos, assim como que os tempos de ascensão e queda do povo 
de Israel contêm diversas histórias e personagens – os patriarcas, os reis, os 
líderes importantes. Você deve estar muito motivado a fazer a relação desses 
acontecimentos, personagens e datas aproximadas dos acontecimentos. 
21
Não pode faltar
A era dos patriarcas
Você já aprendeu a explicação sobre a origem do judaísmo, cuja figura de 
Abraão é fundamental na história de Israel. Ele, seu filho Isaque e seu neto 
Jacó são os patriarcas de Israel, por serem os herdeiros diretos da promessa 
do Senhor. De sua descendência foi gerada toda uma nação, e por meio de 
sua dedicação a Deus foram mantidas tradições até os dias de hoje.
Abrão era chefe de uma família nômade, natural de Ur, da Caldeia. 
Estudos mostram que a região de Ur já era, nos tempos dele, um local de 
cultura refinada, mas de religião politeísta, com belos templos dirigidos por 
sacerdotes (ROTH, 1962). A região de Canaã era fértil, com colinas e vales, 
bela vegetação e desertos, planícies e vales, regados pelo Rio Jordão. Ela era 
desejada por muitos naqueles tempos. Não diferente, Abrão a desejava e 
entendia como um chamado do Senhor partir de sua cidade para este lugar, 
com um certo altruísmo e com a esperança de alcançar uma espiritualidade 
mais elevada, distanciando-se do politeísmo daquelas culturas. Ao sentir-se 
chamado por Deus, segundo a Bíblia, ele recebeu a promessa de que seria 
pai de uma numerosa nação. Porém, era casado com Sarai, mulher estéril, 
mas acreditava em algum milagre que o Senhor pudesse lhe conceder. Partiu, 
então, com seus rebanhos, servos e servas.
Abrão passa a ser chamado de Abraão, e Sarai, de Sara. Em determinado 
momento, eles receberam novamente a palavra de Deus de que seriam pais de 
uma grande nação. Duvidosos da promessa, por estarem em idade avançada 
para terem filhos, resolveram que Abraão deveria ter um filho com a serva 
Hagar. Nasceu, então, Ismael (este que, segundo a tradição, é o herdeiro de 
Abraão e precursor do povo islâmico). Deus, entretanto, confirmou que o 
herdeiro e precursor da grande nação seria filho de Sara. Esta, então, aos 90 
anos, teve seu primogênito, Isaque. 
Com a morte de Abraão, Isaque assumiu sua herança e deveria perpetuar 
a promessa que Deus havia feito ao seu pai de constituir uma numerosa nação 
fiel a Deus. Ele se casou com Rebeca, uma parente da região da Mesopotâmia, 
e se manteve fiel ao Senhor, que lhe deu filhos e multiplicou seus bens sobre 
a terra. Em devido tempo, sua esposa deu à luz filhos gêmeos – Esaú e Jacó. 
Aquele foi o primeiro a nascer, portanto, tinha, por tradição, o direito à primo-
genitura, e este recebeu esse nome justamente porque, segundo a tradição, 
saiu segurando o calcanhar de seu irmão.
22
Esaú era um homem ligado à caça, enquanto Jacó era um filho mais 
presente e próximo de sua mãe. Quando Isaque já era velho e cego, Rebeca 
armou um plano para que seu marido desse a bênção da primogenitura para 
Jacó, história registrada em Gênesis 27:5-30. Depois desse episódio, Esaú, 
irado com a traição de Jacó, passou a perseguir seu irmão, o qual fugiu para 
outras terras por muitos anos. 
Jacó, em uma noite, travou uma luta com um anjo do Senhor, o qual lhe 
feriu a coxa, mas Jacó segurou o anjo até que o abençoasse, o que represen-
taria o perdão do Senhor por seus atos cometidos contra seu irmão e seu pai 
e significava a confirmação de que ele teria a promessa de descendência de 
um povo do Senhor, como seu pai, Isaque, e seu avô, Abraão. 
O nome de Jacó, então, foi mudado para Israel (aquele que luta com Deus). 
Seu nome é sinônimo de uma nação que permanece até hoje. A promessa de 
uma grande descendência, dada a Abraão por Deus, firmou-se com Israel, 
que teve doze filhos e para os quais a terra de Canaã foi dividida e onde se 
espalharam muitas pessoas, filhos de seus filhos.
Todos esses acontecimentos que envolvem a vida dos patriarcas ocorreram 
no século XVII a.C.
Para a tradição judaica, os nomes de Abraão, Isaque e Jacó são respeitados 
e honrados como seus patriarcas, aqueles que enfrentaram muitas dificul-
dades, mas que obedeceram à voz do Senhor e que receberam, em primeira 
mão, a promessa de serem líderes de uma grande nação monoteísta, entre 
tantas outras com seus deuses. Segundo Roth (1962), longe de uma visão 
romântica de tranquilidade e homogeneidade de pensamentos, o monote-
ísmo do povo de Israel foi uma evolução lenta e contínua, uma descoberta 
gradual do homem sobre Deus.
A monarquia
Após Israel e seus filhos terem subido ao Egito por causa de um grande 
período de fome que assolou a região, passaram-se muitos anos e outra 
dinastia egípcia tomou o trono e começou a dominar outros povos. Vivendo 
sob pesadas condições, o povo de Israel desejou sair do Egito e voltar às 
suas terras, além do Jordão. Para isso, levantou-se Moisés, um novo líder 
que ajudou a libertar o povo da opressão egípcia até que fossem novamente 
doutrinados nos costumes monoteístas e chegassem de volta a Canaã (séc. 
XIII a.C.). Após a morte de Moisés, Josué assumiu a liderança e, com o povo, 
tomou posse das terras em batalhas históricas.
23
As terras foram divididas entre as tribos, as quais eram, basicamente, 
representantes das famílias dos filhos de Jacó e de José (seu filho). Eram elas: 
Rúben, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali, Gade, Aser, Issacar, Zebulom, 
José e Benjamim, Manassés e Efraim (estes eram filhos de José). Muitos 
anos se passaram, houve contendas e lutas para a manutenção das terras 
frente aos conquistadores. Dentre estes, os filisteus, um povo forte e muito 
organizado militarmente, que sempre foi o maior problema para Israel. A 
organização tribal era fraca, cada tribo tinha sua própria organização, e uma 
ajudava a outra em tempos de combate. A justiça e o governo eram exercidos 
por anciãos, líderes nomeados como juízes, que orientavam e aconselhavam 
sobre todas as coisas, de forma a manter a ordem, mas sob a condução divina. 
Assimile
Dentro da história dos juízes de Israel, encontramos no livro de Juízes 
4:4-5 a figura de Débora, uma mulher sábia e profetisa, que exerceu 
a função de juíza e liderou a batalha contra o rei do povo canaanita, 
Hazor, e o general Sisera. Nos tempos dela, houve quase uma coalizão 
entre todas as tribos de Israel contra os canaanitas.
Israel, apesar de conservar uma tradição patriarcal, tem relatos de 
mulheres importantes que se sobressaíram em suas funções, e isso é 
muito importante para compreender o papel da mulher nesta socie-
dade. A história de Débora é prova de que Deus não excluiu as mulheres 
do seu serviço, mas lhes deu oportunidades iguais.
Os inimigos grandes de Israel fixaram-se na faixa costeira da Palestina 
e caminharam para seu interior. Frente a muitos conflitos, o próprio povo 
pediu a Samuel (sacerdote, profeta, juiz e administrador) que ungisse um 
rei em Israel, para que o representasse nas batalhas e unificasse as tribos. 
A monarquia, porém, era contrária à tradição antiga de que somente Deus 
era o rei em Israel; apesar disso, Samuel, mesmo alertando o povo sobre as 
consequências do estabelecimento de um rei, unge a Saul como o primeiro 
rei de Israel (1020 a.C.).
Com o passar do tempo, ficou claro que Saul não fora uma boa escolha 
como monarca. Ele era bom militar, mas não era sábio para comandar uma 
nação. Surgiu, então, Davi, filho de Jessé, que, em princípio, fazia parte das 
tropas de Saul e se mostrava grande guerreiro contra os filisteus. Com sua 
fama, o próprio Saul se viu ameaçado e tentou matá-lo. Davi se refugiou entre 
os próprios filisteus e, em tempo oportuno, Saul e seus filhos foram mortos 
24
em batalha. Davi lamentou a morte de seu rei, mas não perdeu a oportu-
nidade de assumir o reinado do sul, Judá, estabelecendo Jerusalém como o 
centro do reino (1000 a.C.).
Davi, porém, depois de muitos feitos, bons e maus, em seu leito de morte 
desejou que seu filho mais novo, Salomão, fosse ungido rei sobre Israel.Salomão, o rei conhecido por todos como aquele de mais nobre sabedoria, 
consolidou sua posição no sul e fez aliados importantes no Egito, na Índia e 
na Fenícia, ativando o comércio com outros povos e fazendo de seu reinado o 
mais rico da história. Foi ele quem construiu o primeiro templo em Jerusalém 
(960 a.C.), uma obra de magníficas proporções (1Rs; 6).
Em 928 a.C., depois de terminada a construção do templo, pesados 
impostos eram cobrados do povo. Roboão, filho de Salomão, assumiu o trono 
após a morte do pai e não conseguiu manter a unidade do reino, iniciando-se 
uma guerra civil, a qual culminou na divisão em Reino do Norte e Reino do 
Sul, enfraquecendo novamente a ambos diante dos inimigos.
O Reino do Norte, composto por 10 tribos, continuou a ser chamado de 
Israel. O Reino do Sul, apenas com as tribos de Benjamim e Judá, passou a ser 
chamado de Judá. Seguiram-se 200 anos de disputas e uma sucessão de reis.
Foram estes os reis de Israel, em ordem de sucessão: Jeroboão, Nadabe, 
Baasa, Elá, Zinri, Onri, Acabe, Acazias, Jorão, Jeú, Jeoacaz, Jeoás, Jeroboão II, 
Zacarias, Salum, Menaem, Pecaías, Peca e Oséias.
Foram estes os reis de Judá, em ordem de sucessão: Roboão, Abias, Asa, 
Josafé, Jeorão, Acazias, Atalia, Joás, Amazias, Azarias (Uzias), Jotão, Acaz, 
Ezequias, Manassés, Amom, Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias.
De acordo com Roth (1962), o reino de Judá foi o que perpetuou a tradição 
hebraica, sendo transmitida até os nossos dias, mas o Reino do Norte vivia 
em conflito. Muitos de seus reis governaram apenas por alguns meses, e a 
metade deles sofreu morte violenta por seus sucessores, sendo que poucos 
foram sucedidos pelos herdeiros naturais. 
Reflita
Foram muitos os reis de Israel e Judá. Uma sucessão de erros e acertos. 
Na Bíblia, nos livros de 1 e 2 Reis, você pode verificar que alguns deles 
seguiram conforme a tradição de obediência a Deus e foram generosos 
com o povo. Outros foram cruéis, enganosos e distantes da vontade de 
Deus. 
Há um texto importante em 1Sm 8.10-22, com as palavras que Samuel 
deu ao povo como resposta de Deus.
25
Reflita sobre o conselho que Samuel deu ao povo antes de ungir a Saul, 
rei de Israel, e as consequências de sua escolha.
O exílio dos israelitas
Nos tempos do rei Jeoaquim, o Império Babilônico dominava a região. 
Sendo o rei ainda muito jovem (18 anos), percebendo que não podia mais 
lutar contra o domínio, entregou-se à misericórdia do inimigo. Em troca 
da sua vida e de sua mãe, bem como de toda a família real, aceitou que 
Nabucodonosor tomasse as terras e os tesouros do palácio e do Templo (586 
a.C.). Nabucodonosor não impediu que Israel mantivesse seu governo sobre 
seu povo, mas continuaria a ele subordinada, de forma semi-independente. 
Ele tomou a classe nobre de Judá para auxiliá-lo no seu governo. Foi nesse 
período que Daniel e seus amigos foram levados para a Babilônia e, exemplar-
mente, segundo o livro de Daniel, serviram ao rei, mas sem abandonar suas 
crenças. A história de Daniel coloca a fidelidade dele e de seus jovens amigos 
como a causa de livramentos e como o motivo de sua sabedoria acima da 
média entre os demais jovens. 
Quanto ao rei de Judá, Jeoaquim, foi substituído por Zedequias, que 
tentou um acordo com os egípcios para derrotar os babilônios. Sem sucesso, 
foi morto e, antes, viu a execução de toda a sua família. Em 586 a.C., o general 
babilônico Nebuzaradan saqueou Jerusalém, destruiu os edifícios e as forti-
ficações da cidade e levou como cativos aqueles que não foram mortos nas 
batalhas. Grupos de judeus permaneceram nos arredores de Judá, outros 
fugiram para o Egito, mas a maior parte ficou cativa na Babilônia.
O cativeiro babilônico oferecia certa liberdade para seus dominados, 
permitindo que trabalhassem como artesãos, arquitetos e comerciantes. 
Nessa época, os judeus adotaram o aramaico como língua oficial e adquiriram 
diversos costumes e cultura do povo (SZPILMAN, 2012). É devido a essa 
mistura cultural e, inevitavelmente, religiosa que surgiram os profetas (Isaías, 
Jeremias, Elias, Eliseu, Oséias, Joel, Naum, Habacuque e todos os outros) 
entre os judeus, exortando o povo sobre seus atos. O povo já não se lembrava 
mais das promessas do Senhor e da sua Palavra, já não se cumpriam os rituais 
e os cultos de adoração, mesmo sendo permitidos pelos dominadores.
Em 538 a.C., Ciro, rei da Pérsia (atual Irã), derrotou os babilônios. Como 
novo dominador dos territórios babilônios, os persas transformaram a área 
do antigo reino de Judá em província persa – denominada Judeia. Ciro deu 
mais liberdade aos judeus, permitindo que retornassem e reconstruíssem seu 
Templo em Jerusalém, comandados por Esdras, o escriba, e restaurassem os 
muros e a cidade, comandados por Neemias (515 a.C.).
26
Neemias servia como copeiro do rei Dario (filho de Ciro), função de 
grande confiança, pois, naquela época, o copeiro deveria experimentar 
todo alimento que era servido ao rei para evitar qualquer contaminação ou 
envenenamento. Ele expôs ao rei sua angústia por saber que Jerusalém estava 
desolada, e o rei lhe ofereceu todas as facilidades para que conseguisse ir à 
cidade fazer os reparos necessários, inclusive, oferecendo materiais para a 
reconstrução. Em 516 a.C., foi reerguido o segundo Templo de Jerusalém. 
Em 512 a.C., Esdras promoveu uma cerimônia pública, na qual fez a 
renovação da aliança entre Deus e seu povo, que lhe prometeu fidelidade e 
obediência à Torá. Mesmo sob domínio persa, o povo tinha boas influências 
na corte e acreditava que isso seria motivo de proteção. No reinado de Xerxes 
aconteceu o seu casamento com Ester, uma judia. Xerxes, por desavenças 
políticas, nomeiou Hamã como seu primeiro-ministro, um homem que tinha 
ódio dos judeus e tentou destruí-los. Ester, no entanto, intercedeu junto ao rei, 
e o povo reagiu diante da possibilidade de morte (473 a.C.). Hamã sorteou 
(pur) a data em que os judeus seriam mortos. Mas, devido ao livramento que 
eles creram ser a providência de Deus, passaram a celebrar a Festa de Purim. 
Após retornar às terras de Canaã, o povo de Israel ainda passou pela 
conquista de Alexandre, o Grande (em 332 a.C.) e pela revolta dos Macabeus 
(166 a.C.) contra a prática do judaísmo e a profanação do Templo.
Dos anos 142 a 66 a.C., Israel passou por um período de independência e 
autonomia, sob a monarquia dos asmoneus. Contudo, em 63 a.C., Jerusalém 
foi invadida pelo Império Romano. 
Nos livros históricos e proféticos do Antigo Testamento podemos encon-
trar todos os relatos do exílio, escritos sob a ótica dos dominados, colocando 
sempre a tragédia exílica como o castigo pelo afastamento e pela desobe-
diência do povo do seu Deus, aquele que prometera protegê-lo enquanto 
permanecessem fiéis. Nos tempos de Josué, ao adentrarem à terra de Canaã, 
prometeram, cada um com sua família, que serviriam ao Senhor (Josué 
24:15):
Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, 
escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram 
vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos 
amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa 
serviremos ao Senhor. (BÍBLIA, 2015, p. 213)
Os profetas, no entanto, exortavam a todos devido ao pecado permanente. 
Se eram um povo escolhido por Deus para receber sua bênção, também seria 
27
para receber a disciplina. E seu maior pecado era a falta de compaixão com 
o próximo. Mesmo escravo, ou exilado, o povo não atentava para a palavra 
de Deus, a qual era somente para que fossem justos, tivessem misericórdia 
e caminhassem com Deus. Roth (1962, p. 57) lembra que “o profeta hebreu 
nunca deixa de voltar ao ponto fundamental de justiça social”. 
O Estado de Israel
Por séculos, o povo judeu viveu espalhado por diversos países, entre eles, 
Alemanha, França e Polônia. Vivendo, principalmente, em países europeus, 
foi fácil para o regime antissemita nazista, dominando essas regiões, 
“capturar” os judeus e tentar exterminá-los.
O fato é que, com o fim da SegundaGuerra Mundial, muitos judeus que 
sofreram os horrores dos campos de concentração embarcaram no navio 
Exodus (1947), na intenção de começar uma nova vida na Palestina. O navio 
contava com 4.515 judeus europeus mais os tripulantes. O governo britânico, 
dominador do espaço palestino, interveio, interceptando a viagem e deslo-
cando os passageiros de volta à Europa. Numa tentativa de desembarcar os 
judeus na França, britânicos foram impedidos, pois os franceses não permi-
tiram tal feito. De outro lado, judeus se recusaram a desembarcar, o que fez 
o governo britânico deixá-los sem água e comida por um longo tempo. Os 
judeus afirmavam que só desembarcariam na Palestina. Depois de muitas 
negociações, todos acabaram fugindo para a França ou Itália e, em 1948, já 
estavam todos na Palestina. 
A união dos países em redor das Nações Unidas retirou o mandato 
britânico sobre a Palestina e definiu a partilha desta em dois estados: árabe 
e judeu. Contudo, os árabes não aceitaram com facilidade a decisão, pois 
teriam de ceder seu território. Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia 
Geral da ONU aprovou um Plano de Partilha da Palestina, ficando Jerusalém 
sob uma administração internacional, a fim de controlar possíveis conflitos 
(SZPILMAN, 2012).
O espaço foi dividido: 50% da área com 650 mil judeus-palestinos, e os 
outros 50% com 1.200 mil árabes-palestinos. Nesta partilha, estavam em jogo 
as negociações com ambos os Estados sobre seu potencial de petróleo. 
Ben Gurion, líder em Israel, em 14 de maio de 1948, divulgou um 
documento declarando a independência do Estado de Israel, apoiado pelos 
norte-americanos. Segundo Szpilman (2012, p. 265), “imediatamente, Ben 
Gurion formou um governo provisório e criou a Força de Defesa de Israel. O 
povo de Israel (e de Moisés) voltou oficialmente à sua antiga pátria, Canaã, na 
Judeia, 1.800 anos após ter sido expulso de lá”.
28
Importante colocar que Israel foi formado como Estado laico, sendo o 
judaísmo a religião do povo, e não uma religião oficial do Estado. Portanto, 
o Estado judeu se refere ao povo judeu, não à sua religião. Como língua 
oficial foi instituído o hebraico e, pouco depois, o estado já contava com 
806.000 habitantes.
Como fez o rei Davi, Ben Gurion, em 1949, estabeleceu Jerusalém como 
a capital de Israel, mas a ONU não a reconhece como tal. Segundo a partilha 
estabelecida, “a Planície Costeira, a Galileia e todo o Neguev ficaram sob 
a soberania israelense, a Judeia e a Samaria (Cisjordânia) ficaram sob o 
domínio da Jordânia, a Faixa de Gaza ficou sob a administração egípcia, e a 
cidade de Jerusalém ficou dividida, com a Jordânia controlando a parte leste, 
incluindo a Cidade Velha, e Israel, o setor ocidental” (CONSULADO GERAL 
DE ISRAEL EM SÃO PAULO, [s.d.], [s.p.]).
Israel considera Jerusalém como sua capital desde sempre, uma questão 
que mescla política e religião, mas que sempre gerou muitas disputas e 
conflitos até hoje. 
Exemplificando
A pessoa de Jesus comparada a um rei nos céus é comum entre os 
cristãos. Há cânticos que O exaltam como rei, há passagens bíblicas 
que assim se referem a Ele. Mas, a figura do monarca é pouco habitual 
na cultura ocidental. Pensar em um Jesus nos moldes governamentais 
dos países latino-americanos, por exemplo, é imaginá-lo presidente, ou 
líder legislativo, alguém que o povo aguarde com extrema ansiedade, 
como um “salvador da pátria”.
Você compreende esse significado? Imagine, então, que o povo de Israel 
continua aguardando pelo seu messias, aquele que virá e restaurará a 
soberania de Israel. É difícil crer? Para eles, não.
Visualizando tudo o que pudemos aprender nesta seção, a história de 
Israel é muito complexa. Encontrar nela um período pacífico e tranquilo é 
tarefa difícil! Religiosos e o próprio povo judeu podem compreender sua 
trajetória como o caminho que o próprio Deus tem traçado para que a 
nação volte a ser fiel, uma luta contínua e milenar desse povo. Como você 
pode perceber, a história de Israel é primordial para entender as relações do 
homem com a religião e com o cristianismo. Veremos mais pontos impor-
tantes na próxima seção. Até lá!
29
Sem medo de errar
Depois de conhecer todo o conteúdo desta seção, você é capaz de resolver 
a proposta da situação-problema? 
Lembre-se de que Abraão foi o primeiro chamado por Deus para habitar 
uma nova terra e recebeu a promessa de que seria pai de uma grande nação. 
Seu filho, Isaque, deu continuidade à sua descendência, tendo seus filhos 
Esaú e Jacó. Este teve seu nome mudado para Israel, e constituiu uma grande 
família. Em tempos de fome sobre a Palestina, toda a família de Israel foi para 
o Egito, onde se multiplicou e acabou como escrava naquele lugar. Moisés, 
então, foi chamado para libertar o povo e trazê-lo de volta às suas terras.
Com o passar do tempo, devido às batalhas contra povos dominadores, 
o povo pediu um rei sobre Israel. Seu primeiro rei, então, foi Saul. Apesar de 
um grande militar, ele não conseguiu harmonia em seu reino. Davi o substi-
tuiu, depois de sua morte, e tornou-se o grande rei de Israel, estabelecendo 
Jerusalém como capital. Salomão, seu filho, fez o reinado mais suntuoso da 
história, construindo o Templo do Senhor, aprimorando a cultura, as relações 
comerciais e as riquezas no seu reinado. 
Uma série de conflitos surgiram após o reinado de Salomão, os quais 
levaram à separação de Israel em dois reinos. Uma sucessão de dinastias, aos 
poucos, enfraqueceu a nação, que acabou nas mãos de dominadores babilô-
nicos e persas. Ainda durante o domínio persa, Neemias e Esdras foram 
autorizados a retornar a Jerusalém para reconstruir a cidade e o templo. 
Com essas informações em mãos, recordaremos a situação-problema: 
participando da feira ecumênica, você, como estudante de Teologia, foi convi-
dado a apresentar o judaísmo e, agora, foi solicitado para montar uma tabela 
com os principais acontecimentos da história judaica, do surgimento de 
Israel até a libertação do exílio. Sabendo que os tempos de ascensão e queda 
do povo de Israel contêm diversas histórias e personagens – os patriarcas, 
os reis, os líderes importantes –, faça a relação deles e as datas aproximadas 
dos acontecimentos.
Assim, sendo elaboramos a tabela que segue. Outros personagens, fatos 
ou datas, relacionados aos fatos que envolvem o povo de Israel, ou que sejam 
também relevantes historicamente, podem ser acrescentados.
30
Quadro 1.1 – Personagens, acontecimentos e data aproximada da história de Israel
PERSONAGEM ACONTECIMENTO DATA APROXIMADA
Abraão, Isaque e Jacó. Estabelecem-se na terra de Canaã. Séc. XVII a.C.
Moisés. Sai do Egito com o povo. Séc. XIII a.C.
Saul. É ungido rei. 1020 a.C.
Davi. Faz de Jerusalém o centro do reino. 1000 a.C.
Salomão. Constrói o Templo. 960 a. C.
Povo cativo. Exílio babilônico. 586 a.C.
Povo cativo. Exílio persa. 538 a. C.
Neemias. Reconstrução dos muros. 515 a. C.
Esdras. Reconstrução do II Templo. 500 a. C.
Fonte: elaborado pela autora.
Esses eventos são importantes para o entendimento do complexo histó-
rico judaico, ligando eventos mundiais, locais e sobrenaturais (aqueles 
descritos como obra e intervenção divina). Outras datas e eventos podem 
ser listados.
Para a Teologia, não nos esqueçamos que ela é um estudo da religião, 
sem desconsiderar a história, a economia e a cultura, as quais que a influen-
ciam constantemente.
Avançando na prática
Por que a Palestina é tão importante para Israel? 
Você tem um amigo, professor de História, que atua no Ensino Médio de 
uma escola que está ensinando sobre os conflitos no Oriente Médio. Ele foi 
questionado por um aluno sobre a oposição entre israelenses e palestinos, a 
fim de compreender porque aqueles não poderiam habitar outra região para 
formar seu país, ao invés de tentar expulsar os palestinos já ali alocados.
Seu amigo, então, pede que você participe de uma aula, para explicar aos 
alunos as posições cultural e religiosa que fazem com que israelenses lutem 
por esta causa.
31
Resoluçãoda situação-problema
Para explicar a posição de Israel quanto à sua luta pela consolidação de 
seu Estado, é necessário explicar o processo cultural e religioso em relação 
àquela terra.
A área da Palestina já foi, no passado, ocupada por Israel. Sua tradição 
histórica e religiosa diz que, em seu antepassado, havia patriarcas e deus 
ancestrais, os quais receberam a promessa de Deus que seriam os precursores 
de uma grande nação e que habitariam aquelas terras, porque Ele havia dado 
a eles.
Depois de muitos conflitos, israelenses foram tomados como escravos por 
outros impérios e nunca mais conseguiram autonomia sobre seu território, 
dispersando-se por outros países, inclusive. 
Ao final do século XIX, um grupo de israelitas (ou judeus) pensou que 
deveria novamente se concentrar como nação em suas antigas terras, então, 
começou um movimento de retorno ao território. Desde então, a Palestina 
tem sido cada vez mais ocupada por judeus, enfrentando conflitos internos 
para se estabelecerem, em detrimento dos palestinos que ali residem também.
Para Israel, a “Terra Prometida” foi-lhes dada pelo próprio Deus, e não é 
direito de outra organização determinar que as terras não sejam a ele resta-
belecidas. É importante compreender que, na história de Israel, o religioso 
sempre perpassou o político, havendo, por vezes, uma alternância de poder 
entre Deus e reis, mesmo que, para eles, estes representassem a mão de Deus 
sobre eles.
Além disso, Israel ainda espera pelo messias político, que há de ser aquele 
que trará paz a Israel e que consolidará seu Estado de poder, restituindo tudo 
aquilo que lhe fora prometido. O messias, portanto, não é um libertador 
espiritual, mas um libertador que trará autonomia ao povo. 
Faça valer a pena
1. No Antigo Testamento, há três figuras principais que estão envolvidas 
repetidas vezes. Essas figuras são conhecidas como os “patriarcas” do 
judaísmo, as primeiras a seguir obedientemente a vontade de Deus.
O primeiro deles é ____________, cuja fé em Deus é exaltada por toda Bíblia. 
Seu nome foi mudado para ____________ depois da promessa de que seria 
pai de uma grande nação. O segundo é ____________, que foi usado para 
32
prova de fidelidade de seu pai. O terceiro é ____________, que se tornaria 
pai de 12 tribos, formando a nação de ____________.
Assinale a alternativa que contém as palavras que completam corretamente 
as lacunas:
a. Abraão; Abrão; Ismael; Jacó; Israel. 
b. Abraão; Abrão; Israel; Jacó; Judá.
c. Abrão; Abraão; Isaque; Jacó; Israel.
d. Abrão; Absalão; Ismael; Israel; Judá.
e. Arão; Abraão; Israel; Esaú; Jacó. 
2. 
Em boa medida, a versão da história das monarquias de 
Israel que nos transmite a Bíblia (seja, inicialmente do 
reino único, logo dividido em dois - os reinos de Judá, e 
o reino de Israel) é bastante crítica em relação à conduta 
dos monarcas. Elas estão repletas de lutas sangrentas, de 
luta pelo poder, seja no interior das monarquias ou entre 
elas, de introdução de cultos pagãos e de maus-tratos ao 
povo. Embora na narrativa bíblica possam ser identificadas 
duas grandes correntes - uma associada à realeza e outra à 
profética -, esta última tende a prevalecer, sem se eliminar 
a primeira. Assim, a monarquia é vista na Bíblia a partir da 
visão crítica dos profetas. Estes confrontam e denunciam 
os desvios dos monarcas e dos poderosos e profetizam o 
castigo divino às casas reais e ao povo. (SORJ, 2014, p. 60)
Assinale a alternativa que contém os nomes dos cinco primeiros reis de Israel:
a. Josué; Samuel; Davi; Salomão; Abias.
b. Moisés; Arão; Samuel; Davi; Salomão. 
c. Samuel; Saul; Davi; Salomão; Roboão. 
d. Saul; Davi; Salomão; Roboão; Abias. 
e. Jessé; Saul; Salomão; Davi; Israel. 
33
3. 
Samuel transmitiu todas as palavras do Senhor ao povo, 
que estava lhe pedindo um rei dizendo: ‘O rei que reinará 
sobre vocês reivindicará como seu direito o seguinte: ele 
tomará os filhos de vocês para servi-lo em seus carros de 
guerra e em sua cavalaria, e para correr à frente dos seus 
carros de guerra. Colocará alguns como comandantes de mil 
e outros como comandantes de cinquenta. Ele os fará arar 
as terras dele, fazer a colheita, e fabricar armas de guerra 
e equipamentos para os seus carros de guerra. Tomará 
as filhas de vocês para serem perfumistas, cozinheiras e 
padeiras. Tomará de vocês o melhor das plantações, das 
vinhas e dos olivais, e o dará aos criados dele. Tomará um 
décimo dos cereais e da colheita das uvas e o dará a seus 
oficiais e a seus criados. Também tomará de vocês para seu 
uso particular os servos e as servas, e o melhor do gado[a] e 
dos jumentos. E tomará de vocês um décimo dos rebanhos, 
e vocês mesmos se tornarão escravos dele. Naquele 
dia, vocês clamarão por causa do rei que vocês mesmos 
escolheram, e o Senhor não os ouvirá’.
Todavia, o povo recusou-se a ouvir Samuel, e disse: ‘Não! 
Queremos ter um rei. Seremos como todas as outras 
nações; um rei nos governará, e sairá à nossa frente para 
combater em nossas batalhas’. (BÍBLIA, 2015, p. 268)
Neste texto de 1 Samuel 8:11-21, o profeta exorta o povo que o rei que eles 
pediam traria mais trabalho do que benefícios ao povo, o que realmente veio 
a acontecer ao longo da história.
Por que não era dos planos de Deus que Israel tivesse reis?
a. Todo e qualquer rei, devido ao poder quase ilimitado que possui, 
acaba tomando decisões incorretas frente aos desafios que encontra, 
porque todos são homens, com suas imperfeições. Na história de 
Israel, todos acabaram se perdendo e se distanciando dos desígnios 
de Deus. 
b. As nações que tinham reis eram dominadoras e usavam de seu 
poderio armamentista para subjugar outros povos. Deus não queria 
que Israel se tornasse dominador, pois sabia de seu coração puro e 
dedicado somente a coisas boas.
https://www.biblegateway.com/passage/?search=1+Samuel+8&version=NVI-PT#fpt-NVI-PT-7386a
34
c. Era dos planos de Deus que Israel tivesse líderes escolhidos democra-
ticamente pelo voto do povo, mas um sistema monárquico, no qual 
o trono é passado de pai para filho ou para o herdeiro mais próximo.
d. Israel, como um povo monoteísta e teocrático, poderia escolher um 
rei, desde que não fosse do seu próprio povo, pois um rei da descen-
dência de Israel seria como uma pessoa que se colocasse acima do 
governo do Senhor.
e. Israel foi um povo escolhido para ser monoteísta e liderado direta-
mente pelo seu Deus. Nenhuma figura humana, mesmo que desig-
nada por Deus, poderia ser melhor governador e rei do que o próprio 
Senhor. 
35
Seção 3
Estruturas políticas: povo de Israel
Diálogo aberto
Caro aluno!
Iniciaremos mais uma seção de estudos sobre o judaísmo, mais direta-
mente sobre seu sistema socioeconômico e governamental. Você já parou 
para pensar que há países com formas de governo muito diferenciadas? No 
continente americano, temos, predominantemente, o sistema presidencialista 
e, quanto à economia, a maioria vive sob o sistema capitalista. Na América 
do Sul, há um departamento francês, a Guiana Francesa, cujo sistema é 
completamente diferente, pois é sujeito à França e regido localmente por uma 
Assembleia com um presidente. Brasileiros e argentinos, por exemplo, votam 
diretamente na escolha de seus presidentes, enquanto os norte-americanos 
escolhem por voto indireto, de forma representativa. No Reino Unido e em 
pequenos países da África, por exemplo, o sistema monárquico está presente 
– alguns parlamentaristas, outros não. Pelo que se conhece sobre a monar-
quia inglesa, por exemplo, o trono precisa ser transferido à descendência do 
rei ou da rainha. A família real, portanto, tem prestígio reconhecido inter-
nacionalmente. Como uma pessoa comum, sem descendência proeminente, 
poderia ascender a um trono? E as terras desse reino, a quem pertence? Aos 
súditos, à coroa, à família real?
Adentraremos ao conteúdo deste estudo verificando a formação dos clãs 
em Israel, seus sistemas econômicos e de governo; na sequência, veremos 
mais sobre a ruptura dogoverno monárquico; finalmente, aprenderemos de 
que se constitui o movimento sionista.
Você se recorda da proposta de trabalho desta unidade? O município 
de Campinas convidou um aluno de Teologia para participar de uma feira 
ecumênica, na qual diversas atividades serão apresentadas sobre várias 
religiões. Trata-se de uma exposição, que acontecerá em um ginásio escolar, 
com trabalhos dos mais variados – palestras, obras de arte, arte interativa, 
música, jogos, etc. Serão expostos painéis e utensílios característicos de cada 
religião, na intenção de torná-las conhecidas e promover proximidade com 
os diversos públicos. 
Você, aluno convidado, foi chamado para auxiliar na montagem da 
apresentação da religião judaica. Agora, sabendo que o judaísmo teve sua 
origem no Oriente Médio, mas passou por divisões de governo e exílios e 
que se espalhou por todo o mundo, você deverá elaborar mapas expositivos. 
36
Como você disporia no mapa a divisão das tribos de Israel? E sobre a divisão 
entre o Reino do Norte e o Reino do Sul? Qual seria o território de unificação 
desejado por Israel? Ao elaborar os mapas, reflita: por que, para Israel, é tão 
importante a terra física?
Não pode faltar
Já sabemos que o povo de Israel começou com a família de Abraão e seus 
descendentes. Depois do êxodo do Egito e da entrada na terra de Canaã, cada 
tribo recebeu sua parte em terras, onde deveria se estabelecer e povoar, e 
ganhou o nome de um dos filhos de Israel (Jacó), porque o povo foi separado 
de acordo com sua ascendência. 
Clãs patriarcais
Ao estudar a Bíblia, em geral, não nos atemos a genealogias, mas nos 
apegamos mais a histórias que possam ser contextualizadas e colocadas 
em prática. Contudo, ao estudar Teologia, importa também conhecer a 
relevância das formações familiares na antiga Israel. Pense que, no Brasil, 
o território é dividido em estados. Na antiga Israel, o território inicial foi 
dividido por tribos, formadas cada uma por um tronco genealógico, e 
receberam uma porção de terra. Meyaer (1896 apud KIPPENBERG, 1988, 
p. 22), sobre o sistema judaico de parentesco, afirma que “as gerações são 
as unidades superiores das famílias. Em todos os documentos do tempo 
pós-exílico encontramo-las como principal subdivisão do povo”. No livro de 
Esdras, capítulo 2, pode-se encontrar uma relação de pós-exílicos que retor-
naram a Israel e que só foram considerados por pertencerem à geração das 
tribos. Já nos versículos 59, 61 e 62 aparecem alguns que não conseguiram 
comprovar que sua família era israelita (BÍBLIA, 2015).
Por que a importância desse registro em Esdras? Em Israel, o princípio 
de parentesco não é somente uma questão de relação pessoal, familiar, mas 
de aspecto jurídico. Ser descendente de Israel é ter o direito de moradia e de 
posse de terra, bem como a ideia de pertencimento a uma tribo específica. 
Se comparado aos nossos dias, encontrar sua descendência era ter direito 
à cidadania.
Em Israel, o termo para esse grupo entre pais e filhos que transmite a 
relação genealógica era mispahã, grupo de descendência patrilinear. Uma 
mispahã é referência para a partilha de terras – sendo que o grupo habita o 
mesmo espaço –, para as relações de casamento e para a convocação para o 
exército. Para Murdock (1949), a mispahã pode ser, então, denominada clã. Os 
direitos de posse são transmitidos por herança, pertencem ao clã, o que torna 
37
um parente próximo herdeiro, no caso da falta de filhos diretos. O clã, então, 
era um conjunto de famílias (cada qual com um pai, que tinha direitos sobre 
sua esposa e filhos), mas todas com uma relação consanguínea. Ele necessi-
tava ser mantido com suas características de consanguinidade, havendo uma 
relação de responsabilidade de seus membros. Por exemplo, se um homem do 
clã morre e deixa uma esposa sem filhos, seu irmão mais próximo deveria se 
casar com ela, para que tivesse filhos descendentes da mesma família. A essa 
prática chamou-se levirato. No caso de não haver irmãos, um parente mais 
próximo tinha esse direito e dever. Este fato é próprio da história de Rute, a 
qual, viúva, volta com a sogra israelita Noemi (também viúva e sem seus dois 
filhos) para seu clã e é “resgatada” por um parente de seu marido, com quem 
se casa e tem um filho, que é dedicado a Noemi, como seu herdeiro. 
Reflita
No livro de Juízes, capítulo 14, Sansão declara aos seus pais que deseja 
se casar com uma filisteia. Seus pais lhe dizem: “Não há, porventura, 
mulher entre as filhas de teus irmãos, nem entre todo o meu povo, 
para que tu vás tomar mulher dos filisteus, daqueles incircuncisos?” 
(BÍBLIA, 2015, p. 247). A lei judaica estabelecia que o povo de Israel 
deveria casar-se entre si. Mais ainda, entre pessoas de um mesmo clã, 
da mesma família – primos ou tios, principalmente. Sansão desejava 
casar-se com uma mulher de um povo inimigo.
Esta questão da proibição dos casamentos “mistos” seria por causa 
do perigo em ter de compartilhar a herança da terra com outros 
povos? Seria pelo temor em ver uma descendência sendo extinta por 
casamentos com estrangeiros? Seria por causa da cultura politeísta de 
outros povos, que poderia contaminar a cultura de Israel? Você tem 
conhecimento de grupos religiosos atuais que são desfavoráveis ao 
casamento “misto” religioso?
Nos clãs, o sistema patrilinear era muito importante, razão pela qual havia 
regras para nortear as relações de casamento. Um filho deveria se casar com 
uma prima, de preferência filha de um tio paterno, promovendo a dupla 
descendência de uma mesma família ao filho nascido do casamento. Por esse 
fato, entendemos por que havia uma predileção pelo nascimento de meninos, 
pois as filhas de um clã eram apenas cooperadoras na transmissão do paren-
tesco. Assim, quanto mais próxima a relação (pai, filho, neto, primo), melhor 
se mantém a estrutura do clã, mais se fortalece e melhor se garante a posse 
das terras.
Veja o box explicativo:
38
Sistema matrilinear 
O tipo de organização familiar no qual somente a linhagem ou 
descendência da mãe é considerada. O poder é exercido pela 
mulher e, especialmente, pelas mães de uma comunidade, em uma 
família que tem como base a mulher, mãe, filha. Por ocasião do 
casamento, é o homem que deixa sua casa, abandona seus laços 
familiares e vai morar com a família da esposa.
Sistema patrilinear
Organização familiar na qual somente a linhagem masculina é 
considerada. A descendência é contada apenas pela linha paterna, 
e geralmente envolve herança de propriedades, nome ou título de 
nobreza.
Organização social e política dos hebreus
Ainda pensando no formato social firmado em clãs, havia diferenças 
entre famílias: algumas tinham certos privilégios em relação a outras do 
mesmo clã, podiam ser mais ou menos autônomas e alguns chefes de família 
tinham mais relevância devido à sua atividade econômica.
A família, portanto, era a unidade econômica fundamental, um tipo de 
economia doméstica fechada, ou seja, tudo o que produzia era para consumo 
interno. Abrindo um parêntese, há estudiosos que discordam um pouco que 
esse tenha sido um tipo econômico exclusivo, supondo que antigas socie-
dades já haviam desenvolvido um sistema de troca (KIPPENBERG, 1988). 
Outros, porém, como Sahlins e Godolier (apud KIPPENBERG, 1988), 
etnólogos, defenderam que as sociedades judaicas tinham potencial para 
produzir excedentes, mas não o faziam, a não ser a partir da instalação da 
monarquia, quando as famílias passaram a pagar tributos para a coroa e a 
manutenção do exército.
Quanto à produção agrícola, as terras que se encontravam ao longo do 
Rio Jordão eram mais produtivas, pois um sistema de irrigação era possível. 
Já nas regiões montanhosas, a produção era menor e dependia das chuvas. 
Em terras irrigadas, plantavam-se cereais, e nas demais desenvolvia-se o 
cultivo das oliveiras, parreiras e figueiras, plantas de raízes mais profundas. 
Os hebreus também eram bons produtores de animais (cabras, ovelhas, bois 
e jumentos), dos quais se utilizavamlã e peles, bem como a carne e o leite.
Quanto à organização política, antes da monarquia, havia um sentimento 
nacional, expresso, principalmente, pelo culto religioso comum, ou seja, pelo 
monoteísmo, mas não havia um controle sobre todos os clãs ou famílias. Os 
grupos ou tribos prestavam ajuda uns aos outros em épocas de perigo de 
ameaça de invasores.
Observe, na Figura 1.2, a divisão das tribos.
39
Figura 1.2 | Mapa da divisão das tribos de Israel antigo
Fonte: Wikimedia Commons.
A Figura 1.2 mostra o mapa antigo de Israel, dividido em tribos. O terri-
tório atual do Estado de Israel é menor, equivalendo à perda dos territórios 
que pertenciam às tribos de Manassés, Gade e Ruben, ao leste.
Se considerarmos que havia um poder político, podemos dizer que estava 
nas mãos dos anciãos, os pais das famílias. Cada cidade ou vila era uma 
unidade independente. Uma vez ou outra, uma figura tornava-se notável, em 
virtude de algum feito militar, o que lhe dava o direito de julgar seu povo 
por um tempo. Assim foram os juízes, que aconselhavam o povo, julgando 
40
casos necessários e organizando os homens para as batalhas. Havia, porém, 
em determinadas épocas, conflitos entre as tribos. A fim de controlar esses 
conflitos, Abimeleque, filho de Gideão, o juiz, tentou estabelecer um governo 
central em Sechem, mas o centro sentimental de Israel estava no lugar onde 
ficava a Arca da Aliança, em Silo. Por cerca de três séculos, assim viveu e 
conviveu o povo de Israel, até que se instaurou a monarquia e, depois do 
reinado de Salomão, começaram as campanhas de separação do reino. 
Os reinos de Israel e Judá: o cisma político-religioso
Salomão, filho de Davi, teve um reinado suntuoso. O maior de seus 
feitos foi construir, no Monte Zion (em Jerusalém), um grande santuário 
para abrigar a Arca da Aliança que Davi havia trazido de Silo. A partir daí as 
grandes festas judaicas passaram a ser comemoradas em Jerusalém, tornan-
do-se esta a capital religiosa e política de Israel. Para aumentar ainda mais a 
importância da cidade, começaram a ser proibidos os sacrifícios de animais 
em outros lugares, forçando os hebreus a peregrinarem até Jerusalém para 
ofertarem. Todo esse movimento levou a Judá muitos impostos, recolhidos 
dos povos de outras tribos, tornando-a próspera economicamente, além de 
ser a detentora da dinastia real. 
Esses fatos descontentavam as tribos do Norte, as quais se viam obrigadas 
a um reinado que não se ocupava de todo o território nacional, mas que 
mantinha seus interesses na região ao sul, onde se encontrava.
Quando Salomão morre e seu filho inexperiente, Reoboão, assume o 
trono, as tribos solicitaram uma revisão na cobrança dos impostos, que foi 
rejeitada. Isto levou a uma rebelião geral, e as tribos do Norte aclamaram 
Jeroboão como rei, que era líder de uma antiga rebelião contra Salomão.
Assim, aqueles da tribo de Judá, de Benjamim e alguns remanescentes de 
Simeão compuseram o Reino do Sul. Os demais, já também enfraquecidos 
devido a diversas batalhas, compuseram o Reino do Norte. 
Por dois séculos, a história de Israel ficou assim dividida: um só povo, sob 
a guarda de um único Deus, o mesmo patriarca, mas dois poderes cercados de 
insatisfações e disputas. Conheceremos um pouco mais sobre cada um deles.
1. O Reino de Israel (Reino de Samaria).
Quando da separação dos reinos, Judá já se encontrava em certa estabili-
dade, pois, de certa forma, já se acostumara com o reinado de Davi e Salomão 
naquela região. Diferentemente, o Reino de Israel passava por turbulências. 
As tribos não se entendiam, vivendo em constantes disputas pelo trono 
41
– qualquer chefe militar mais proeminente que surgisse era motivo de 
ameaça ao trono. Ao todo, passaram pelo trono de Israel, em 200 anos, 19 
reis – alguns tiveram reinados curtos, de alguns meses, e outros, de alguns 
anos. A metade deles sofreu morte violenta, provocada por seus suces-
sores. Somente duas dinastias duraram mais que duas gerações sem serem 
usurpadas (ROTH, 1962).
O primeiro rei, Jeroboão, percebendo a tática de Judá em forçar o povo 
a cumprir seus atos religiosos em Jerusalém, construiu, em Dan e em Betel, 
santuários que passaram a desviar os peregrinos. Outra estratégia do rei foi 
criar um calendário religioso paralelo, com datas diferentes de Jerusalém para 
as mesmas festas judaicas. Porém, ele erigiu estátuas de ouro para compor os 
templos, o que mudou a visão monoteísta de parte da população.
No reinado de Omri, a capital foi deslocada para Samaria. Omri estabe-
leceu aliança com os fenícios, promovendo o casamento de seu filho Acabe 
com a princesa Jezabel. Esta trouxe ideias absolutistas para o governo e 
incluiu ofertas de sacrifícios humanos ao deus Baal. Depois de muito horror 
e injustiça, a dinastia de Omri caiu aos pés de Jeú, que promoveu uma verda-
deira revolução política e religiosa. 
Ao longo dos reinados, os assírios conseguiram penetrar no território do 
Norte diversas vezes. Por fim, Samaria foi tomada e toda a nobreza foi levada 
para lugares distantes. Com a contínua invasão de Samaria, outros colonos 
de terras distantes vieram e ocuparam a região, casando-se com aqueles que 
permaneceram nas terras e absorvendo parcialmente suas tradições. A esse 
povo deu-se o nome de samaritanos – aqueles que, em relação aos da Judeia, 
eram próximos no parentesco de sangue, mas com interesses políticos e etnia 
diferentes. Assim, as “Dez Tribos Perdidas” eram aquelas que se fundiram às 
pessoas que ocuparam os territórios, restando apenas o Reino de Judá com as 
características originais da nacionalidade judaica (ROTH, 1962).
42
Figura 1.3 | Os dois reinos: Israel e Judá
Fonte: Shutterstock .
2. O Reino de Judá
Judá não sofreu conflitos internos, tal como o Reino de Israel. Devido ao 
reinado de Davi ter sido marcante para o povo, sempre houve respeito à sua 
dinastia, como aquela ungida pelo Senhor.
Contudo, territorialmente e em número de habitantes Judá era muito 
menor que Israel (cerca de um quinto), o que o colocava em desvantagem, 
principalmente militar. Mas foi em Judá que se firmou a tradição judaica, o 
conhecimento por meio das literaturas da época, elementos que a colocaram 
como herança da humanidade. 
43
De início, Judá se opôs ao reino separatista do Norte, mas não obteve 
êxito. Por vezes, precisou oferecer as joias do Templo e do palácio para aqueles 
que tentavam tomar suas cidades. Em uma das batalhas, Jeorão, descendente 
de Davi, foi morto, e a rainha-mãe subiu ao trono, porém com os mesmos 
modelos de Jezabel no Norte. Depois de uma revolta contra a rainha e sua 
morte, Joás, com apenas 7 anos, foi colocado no trono. Ele, então, com um 
longo reinado, restaurou a religiosidade em Judá e recuperou os tesouros 
perdidos do Templo. Infelizmente, Judá, quando necessitava de proteção, 
contava com o reino de Samaria, mas os conflitos foram ficando cada vez 
mais intensos, até que, depois do fim da dinastia de Jeú, Judá não mais aceitou 
a união de acordos entre Samaria com os Assírios. Acaz tomou a cidade de 
Jerusalém e colocou no Templo imagens de outros deuses pagãos, contami-
nando o espaço que era tão sagrado para os judeus.
Com o fim do Reino do Norte, Judá também se viu sozinha entre a Assíria e 
o Egito. Influenciada por outros povos, sofreu uma mistura cultural e religiosa 
pagã. Novamente, subiu ao trono Josias, que procurou restaurar o patriotismo 
judaico, limpando o Templo de tudo aquilo que não lhe pertencia. Em uma 
dessas limpezas, os rolos do código mosaico foram encontrados e lidos ao 
rei, que fez com que todo o povo também ouvisse de forma solene. A tradição 
estava esquecida há tempos, as gerações passaram, e somente a atitude de 
Josias fez com que muitos se voltassem às suas tradições monoteístas. 
Depois de Josias, seu filho Jeoacaz subiu ao trono, mas foi derrubado e 
levado cativo ao Egito. Seu irmão, Jeoaquim, corrompeu-se a outros povos 
dominadores, sendo tomado, posteriormente, pelo Império Babilônico.
Grande

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