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Júlia Figueirêdo – HM VI CAUSAS PARA O OLHO VERMELHO: SÍNDROME DO OLHO VERMELHO: A presença de olhos vermelhos é uma queixa comum em oftalmologia, sendo que a maior parte dos casos pode ser tratada pelo médico generalista. ETIOLOGIAS: As etiologias por trás da síndrome do olho vermelho podem ser diversas, ainda que algumas, como a conjuntivite, sejam mais frequentes que outras. Nesse contexto, as causas mais relevantes para esse quadro são: Olho seco: É um distúrbio multifatorial que afeta a lágrima e a superfície ocular, manifesta por meio de instabilidade do filme lacrimal, que pode levar a desconforto e lesões oculares. Representação esquemática do filme lacrimal instável A inflamação do olho não é incomum, podendo ocorrer evolução para ceratite. O manejo desse quadro normalmente requer somente o uso de lágrimas artificiais, sendo que procedimentos invasivos, como a tarsorrafia (fusão cirúrgica das pálpebras) pode ser indicada em casos graves. Conjuntivite: Esse é um termo guarda-chuva que abrange várias etiologias e apresentações da inflamação da conjuntiva, que pode ser classificada quanto a cronologia dos sintomas, ao agente etiológico, e a lateralidade. Normalmente é uma condição autolimitada e que não gera sequelas, exceto em casos com comprometimento da córnea (pode causar ceratocone). São comuns a presença de secreção (aquosa a purulenta), prurido ocular, queimação, sensação de corpo estranho, e hiperemia/edema na conjuntiva. Nesses pacientes, o incômodo é superior à dor. Características das principais manifestações de conjuntivite No geral, é indicado o uso de compressas frias imersas em soro fisiológico 0,9% ou água mineral, colírios lubrificantes e, somente em caso de conjuntivite bacteriana, colírio com antibiótico. Pterígio: Corresponde ao crescimento de tecido fibrovascular subepitelial em direção à córnea, provocado pela exposição crônica ao sol. Júlia Figueirêdo – HM VI O formato do pterígio é tipicamente triangular Essa alteração da superfície ocular pode alterar a distribuição do filme lacrimal, vem como promover hiperemia local. Com o avanço do quadro, é possível o desenvolvimento de astigmatismo, reversível pela remoção cirúrgica do excesso de tecido. Blefarite: Essa denominação abrange inflamações da margem das pálpebras, sejam elas de origem infecciosa ou não. Quando crônica, pode implicar em alterações na conjuntiva ou na córnea. É marcada por hiperemia palpebral e conjuntival, sensação de corpo estranho, crostas aderidas aos cílios, fotofobia, lacrimejamento (com filme lacrimal esponjoso) e ardência bilateral. Comparativo da aparência entre um olho saudável e outro afetado por blefarite Ceratites: Representam as diversas apresentações da inflamação da córnea, que pode ser secundária a múltiplas patologias, bem como trauma, uso prolongado de lente de contato, queimaduras ou pelo contato com substâncias tóxicas. Os sintomas clássicos são dor, lacrimejamento, hiperemia conjuntival, fotofobia, diminuição da acuidade visual e edema palpebral, podendo ser acompanhados por lesões perfurantes corneanas, favorecendo novas infecções. Ceratite de origem bacteriana, com formação de úlceras na córnea Glaucoma agudo primário: Representa uma das emergências oftalmológicas de maior relevância, marcada pela presença de semimidríase pupilar, hiperemia, dor intensa (normalmente unilateral), lacrimejamento, fotofobia importante e redução da capacidade visual. A análise da córnea revela perda de transparência, ao passo que a pupila se mantém em tamanho fixo. Aparência de um olho acometido por glaucoma primário Júlia Figueirêdo – HM VI Uveíte: É a inflamação do trato uveal (íris, corpos ciliares e membrana coroide), tendo como quadro clínico mais comum a fotofobia, dor, hiperemia, lacrimejamento e diminuição da acuidade visual. Essa manifestação se assemelha ao glaucoma, porém não implica em ausência de reatividade pupilar. Apresentação clínica da uveíte Episclerite: Tipo mais comum de inflamação autolimitada na esclera, com apresentação circunscrita e segmentar, seja em um ou ambos os olhos. Na maior parte das vezes esse é um quadro idiopático, podendo estar relacionado a doenças sistêmicas como sífilis, dermatomiosite ou atrite reumatoide. Ocorre dilatação radial de veias episclerais (não respondendo a colírios de fenilefrina) da região acometida, implicando em hiperemia conjuntival focal. Dilatação venosa focal em paciente com episclerite ABORDAGEM INICIAL E SINAIS DE URGÊNCIA: Na avaliação inicial de um paciente com olho, o exame físico (avaliação da acuidade visual e análise com lanterna), bem como a anamnese, são cruciais para determinar a melhor conduta. Assim, alguns “pontos-chave” do histórico individual devem ser abordados, como: Alterações na visão: a presença de nova dificuldade para enxergar com o olho afetado pode sugerir necessidade de encaminhamento ao especialista; Sensação de corpo estranho: a dificuldade de manter os olhos abertos é um grande indicativo de agressões ativas da córnea, que necessitam de atenção especializada; Fotofobia: leva obrigatoriamente à realização do exame físico, que revela sinais objetivos em afecções da córnea (acompanhados pela percepção de corpo estranho) e na irite (não apresenta esse sinal); História de trauma facial ou ocular; Uso de lentes de contato: o desgaste desses acessórios, somado ao olho vermelho, sugere ceratite; Atenção: o relato subjetivo de ardor ou “ter areia nos olhos” normalmente é associado a quadros não urgentes (ex.: alergia ou conjuntivite viral). O encaminhamento para o oftalmologista deve ser feito de forma imediata, de forma a garantir o tratamento necessário sem que haja comprometimento isquêmico significativo Júlia Figueirêdo – HM VI Presença de secreções contínuas não lacrimais: vários quadros autolimitados (olhos secos, conjuntivite alérgica e viral) cursam com crosta matinal e secreção aquosa, ao passo que a conjuntivite e ceratite bacterianas se manifestam com eliminação de conteúdo opaco; Estado geral durante a avaliação. Além desses tópicos, que devem ser avaliados em toda consulta pediátrica necessitam de análise. Destacam-se ainda, como indicativos de urgência, os seguintes preditores de complicações: Dor severa ocular; Perda súbita da visão; Exposição química; Trauma ocular; Presença de corpo estranho; Anormalidades nas córnea ou pupilas; Cirurgia recente; Olho vermelho de forma crônica. GLAUCOMA: O glaucoma pode ser definido como um processo de neuropatia axonal potencialmente progressiva decorrente da compressão do nervo óptico, culminando em diminuição do campo visual. Ainda que não seja um “critério” para configurar essa condição, a pressão intraocular (PiO) elevada é um importante fator de risco. Os valores de referência gerais para a aferição desse dado são de 11 a 21 mmHg, porém ressalta-se que a presença de alterações nem sempre gera lesões. Essa doença apresenta duas manifestações distintas, o glaucoma de ângulo fechado (GAF, mais frequente e agudo), e o glaucoma primário de ângulo aberto (GAAP), de evolução crônica. No que se refere à epidemiologia, nota-se que o GAF apresenta maior prevalência em asiáticos e hipermetropes, ao passo que a forma de GAAP acomete principalmente negros e míopes. A idade > 40 anos é um fator de risco geral. GLAUCOMA DE ÂNGULO FECHADO: O GAF representa a oclusão da malha trabecular pela margem da íris, resultando assim na obstrução da drenagem do humor aquoso. Esse quadro pode ser primário (predisposição anatômica)ou secundário a outras patologias oftalmológicas. Sua progressão é acelerada, com maior incidência de morbidade visual, quando comparado ao glaucoma primário de ângulo aberto. O ângulo, junção da íris com a córnea na periferia da câmara anterior, tende a se estreitar com o envelhecimento facilitando a alteração da drenagem humoral durante a dilatação da pupila, consolidando o bloqueio pupilar. Com a produção constante de humor aquoso, o corpo ciliar “empurra” a íris para a frente, criando um abaulamento (íris bojuda ou em platô) que também favorece o fechamento angular. A PiO é definida como o “saldo” entre a taxa de produção e de drenagem do humor aquoso, modificado em decorrência do aumento de resistência nos corpos ciliares ou ao aumento da pressão venosa episcleral Júlia Figueirêdo – HM VI Comparação entre ângulos aberto (A) e fechado (B) no processo de circulação do humor aquoso As principais manifestações clínicas do GAF são: Dor ocular intensa; Diminuição da acuidade visual; Hiperemia conjuntival; Visão com halos coloridos; Cefaleia; Náuseas e vômitos. A triagem e investigação do glaucoma depende de um exame oftalmológico bem estruturado, que deve contar minimamente com: Tonometria: promove a aferição da PiO a partir de diversos equipamentos, sendo os mais comuns de aplanação, que identificam a pressão necessária para “nivelar” a porção central da córnea. Tonoscopia por aplainação Quando esses equipamentos estão indisponíveis, é possível estimar a PiO por meio da palpação ocular bilateral, avaliando a “maleabilidade” dos olhos (idealmente parecidos com uvas). Gonioscopia: nesse exame, um conjunto de lentes cônicas espelhadas e uma lâmpada de fenda é usado para observar a câmara anterior do olho e o ângulo entre íris e córnea. De acordo com a pluralidade de estruturas visíveis, é possível classificar o ângulo entre 4 (amplo) e 0 (fechado). Anatomia ocular na gonioscopia Classificação do ângulo entre íris e córnea ( se as linhas do perfil anterior não se tocam, ainda há espaço real entre as estruturas) No momento de crise, a pressão intraocular normalmente gira entre 40 a 80 mHg, a visualização do nervo óptico é dificultada, em decorrência do edema de córnea, e o campo visual não consegue ser avaliado por conta do desconforto. Por vezes, o exame do olho contralateral ajuda a consolidar o diagnóstico. O tratamento do glaucoma busca diminuir a pressão intraocular, utilizando para isso betabloqueadores, inibidores da anidrase carbônica, agonistas adrenérgicos, agentes colinérgicos e análogos de prostaglandinas, em sua maioria administrados como colírios. Esses medicamentos devem ser administrados prontamente, pois a Júlia Figueirêdo – HM VI perda visual pode ser rápida e irreversível. Como escolhas iniciais, destacam-se: Timolol 0,5% (uma gota a cada 30 minutos); Piolocarpina 2 a 4% (uma gota a cada 15 minutos); Esse agente miótico pode não ser eficaz em PiO > 40-50 mmHg. Acetazolamida (500 mg por via oral, seguida por 250 mg a cada 6 horas); Manitol (1 a 1,5 mg/kg por via intravenosa) ou glicerol oral (1 mL/kg diluído na mesma proporção de água fria). São agentes osmóticos, empregados com a finalidade de reduzir o volume de humor aquoso acumulado. A iridotomia periférica a laser representa o tratamento definitivo para o GAF, uma vez que abre uma nova passagem entre as câmaras oculares, quebrando assim o bloqueio pupilar. Sua realização é indicada tão logo a córnea retome sua transparência e os sinais de inflamação regridam. Como o olho contralateral apresenta grandes chances de desenvolver glaucoma agudo, esse procedimento é realizado em ambos os olhos. Processo de realização da iridotomia A verificação da eficácia do tratamento pode ser avaliada pela medida da pressão intraocular
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