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Kamila Quixadá e Bruna Costa Oftalmologia Fevereiro/2020 1 GLAUCOMA a) CONCEITO • “Neuropatia óptica crônica e progressiva, caracterizada por alterações típicas do disco óptico e da camada de fibras nervosas da retina, com repercussões características no campo visual. Cursa na maioria das vezes com aumento da pressão intraocular (PIO).” • O termo glaucoma engloba um conjunto amplo de doenças, com inúmeras causas, porém com características comuns, que formam um quadro clínico semelhante, na maioria dos casos. São elas: 1-‐ aumento da pressão intra-‐ocular; 2-‐ aumento da escavação e atrofia de nervo óptico; 3-‐ perdas campimétricas características. è Esses sinais formam um quadro clínico completo, porém há situações em que um, ou mesmo todos, podem faltar. b) EPIDEMIOLOGIA • Segunda causa de cegueira no mundo (12,3%), atrás da catarata (47,8%); • Principal causa de cegueira irreversível no mundo; • Cerca de 79 milhões de portadores de glaucoma em 2020; • Maiores prevalências são observadas no Caribe (7 a 9%); • Brasil: 3 a 4% entre GPAA(2,4 %) e GPAE (0,7 %). c) CLASSIFICAÇÃO • GPAA (Glaucoma primario de ângulo aberto) – mais prevalente: Em geral, o glaucoma primário de ângulo aberto não apresenta sintomas. O paciente não sente dor e perde lentamente a visão, percebendo a perda quando o nervo óptico já está bastante lesado. Devido à ausência de sintomas, a melhor forma de diagnóstico desse tipo de glaucoma é o exame ocular periódico. • GPAE (Glaucoma primário de ângulo estreito): Condição que apresenta maior risco que evoluir para ângulo fechado (crise aguda). Ângulo fechado à Ocorre quando o sistema de drenagem1 é bloqueado, geralmente, pela íris (a parte colorida do olho) e o líquido não consegue penetrar na rede trabecular para ser drenado. O paciente apresenta dores de forte intensidade na cabeça e no olho, que chegam até a provocar vômitos e redução da visão. A pressão intra-‐ocular torna-‐se muito elevada e pode lesar o nervo óptico de forma rápida e agressiva. Este é o quadro de uma crise de glaucoma agudo, uma emergência oftalmológica que, se não tratada rapidamente, leva à perda visual irreversível, parcial ou mesmo total, em questão de horas. • Glaucoma de Pressão Normal: O GPN é uma neuropatia óptica caracterizada por diminuição da camada de fibras nervosas da retina , aumento da relação escavação/disco e defeito de campo visual similares ao glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA), porém não sendo evidenciado um aumento da pressão intra-‐ocular (PIO) além dos limites estatísticos de normalidade. • Glaucoma Secundário: O aumento da pressão intra-‐ocular ocorre após doenças inflamatórias, catarata avançada, alteração dos pigmentos naturalmente existentes dentro dos olhos, hemorragia, obstrução de vasos intra-‐oculares, medicamentos. Outra importante causa de glaucoma secundário é o uso de colírios de corticóide por tempo prolongado sem indicação e/ou acompanhamento do médico oftalmologista. • Glaucoma Congênito: é caracterizado pela má formação no sistema de drenagem do humor aquoso que ocorre em recém nascidos e crianças. A criança apresenta lacrimejamento, dificuldade em tolerar a claridade, perda do brilho da região da íris – que passa a aparentar uma coloração mais azulada e opaca -‐ e aumento do volume do globo ocular. A drenagem1 é feita através do chamado Ângulo Iridocorneano, onde estão localizados os canais de Schlemm, responsáveis por remover o humor aquoso para os vasos sanguíneos. d) FATORES DE RISCO • Raça negra • Asiáticos • HAS • DM • Alta miopia • Hipermetropia • Idade maior que 45 anos • História familiar de glaucoma • PIO elevada • Paqui central diminuída e) ETIOLOGIA Na maioria das vezes, o dano glaucomatoso está relacionado com o nível da pressão intra-‐ocular que pode atuar diretamente, ou agravar uma situação pré-‐existente, constituindo-‐se, assim, em um fator de risco para o olho. De modo geral, pode-‐se dizer que o nível da pressão intra-‐ ocular está determinado pelo equilíbrio entre produção e escoamento do humor aquoso. O humor aquoso é produzido, nos processos ciliares, por mecanismos complexos que parecem envolver difusão, ultrafiltração e secreção, a partir do plasma sanguíneo. A maior parte do Ângulo Fechado Kamila Quixadá e Bruna Costa Oftalmologia Fevereiro/2020 2 aquoso entra na câmara posterior do olho, atravessa as malhas trabeculares e deixa o olho pelo canal de Schlemm, canais coletores e veias episclerais e da conjuntiva. Fatores que influenciam a pressão intra-‐ocular e, portanto, poderiam atuar como causas de glaucoma: 1-‐ Glaucomas por aumento do fluxo de aquoso; 2-‐ Glaucomas por aumento da pressão venosa episcleral; 3-‐ Glaucomas por diminuição da facilidade de escoamento do humor aquoso. f) QUADRO CLÍNICO O paciente com glaucoma não costuma apresentar sintomas, sendo fundamental a consulta com um médico oftalmologista para a detecção desta doença. Na consulta, o médico oftalmologista visualiza o nervo óptico (exame de fundoscopia) e mede a pressão ocular (exame de tonometria). Como a pressão ocular pode variar bastante ao longo do dia, várias medidas devem ser feitas para melhor avaliar os picos pressóricos. Normalmente a PIO mais elevada é pela manhã, devido a liberação de cortisol durante a noite. DIAGNÓSTICO A. Pressao intraocular • Não é utilizada isoladamente para diagnostico, apesar de ser um fator causal. • Tonometria de aplanação; • Média da pressão ocular fisiológica: a média da população geral é de 16mmHg e um intervalo entre 11 e 21 mmHg tem sido convencionalmente aceito como normal. No entanto, alguns pacientes desenvolvem lesões glaucomatosas com PIOs menores que 21mmHg. (Referência: Kanski, pag 307) • Pressão normal é aquela que não lesa o n. Optico. • Existe ainda pessoas com pio normal e dano glaucomatoso = glaucoma de pressão normal. B. Nervo óptico • Atrofia progressiva do n.optico = perda irreversível da visão, causada pelo glaucoma. • Papila ou disco óptico = região avaliada pelo oftalmoscopio. • Teorias para desenvolvimento de lesão glaucomatosa: ü Teoria mecância à aumento da PIO levando a morte axonal por compressão direta da região da lâmina cribiforme. ü Teoria vascularà atrofia óptica relacionada à anormalidade vasculares. • Fundoscopia à avaliar disco optico. • Retinografias estereoscopicas coloridas àavaliar tridimensionalmente papila optica. C.Função visual • Realização periódica de campimetria computadorizada, já que o glaucoma gera alterações típicas no campo visual (correspondem a lesão do feixe de fibras nervosas). Exames na propedêutica do glaucoma • Exame oftalmológico básico; • Tonometria; • Fundoscopia; • Campimetria visual; • Paquimetria corneana; • Retinografia colorida; • Curva diária de pressão; • OCT papila. (A Tomografia de Coerência Óptica (3D-‐OCT) de Papila é o único exame capaz de ver detalhadamente em três dimensões, especificamente a região do nervo óptico e camada de fibras nervosas da retina (RNFL). • Gonioscopia – após diagnóstico confirmado, solicita esse exame para avaliar o ângulo. O campo visual computadorizado é um exame que avalia a sensibilidade do olho em perceber estímulos luminosos, testados em diferentes posições do campo visual e com diferentes intensidades. Assim, este teste costuma estar alterado nos casos de glaucoma com perda significativa das fibras nervosas que compõem o nervo óptico. Já o teste de sobrecarga hídrica2 (a prof não comentou) avalia a variação da pressão ocular em resposta à ingestão de uma certa quantia de água em um determinado momento. Este teste tem a capacidade de gerar informação praticamente equiparável ao teste da curva diária de pressão ocular, o qual, por sua vez, avalia a variação da pressão ocular nos diferentes horários do dia e da noite. Além do campo visual e dos testes acima mencionados, outro exame relevante nos casos suspeitos de glaucoma é a chamada paquimetria corneana. Este exame serve para medir a espessura da córnea e sua importância reside no fato de que a pressão ocular medida pelos métodos usuais (tonômetros de Perkins e de Goldman) sofre influência da espessura corneana. Assim, córneas mais espessas poderão gerar resultados de pressão ocular falsamente aumentados, enquanto córneas muito finas levarão a resultados falsamente baixos. 2Teste de sobrecarga hídrica: • Chegando ao consultório, o paciente é submetido à primeira aferição da pressão intraocular. • Depois, ele deve beber 1 litro de água mineral no intervalo de 5 minutos. • Feito isso, o médico medirá novamente a pressão intraocular nos intervalos de 15, 30 e 45 minutos. RETINOGRAFIA: Kamila Quixadá e Bruna Costa Oftalmologia Fevereiro/2020 3 A rima neurorretiniana é frequentemente mais espessa na porção inferior do disco, seguida pelas porções superior, nasal e finalmente temporal (regra ISNT). Se essa regra é “quebrada”, as suspeitas aumentam a favor do dx de glaucoma. TRATAMENTO • Clínico: É o tipo de tratamento inicial mais frequente, com o uso de colírios. O objetivo é reduzir a pressão intra-‐ocular, seja pela diminuição da produção do humor aquoso, ou pelo aumento da saída desse líquido do olho. Dessa forma, haverá proteção do nervo óptico e, em consequência, a manutenção da visão do paciente. COLÍRIOS ANTI-‐GLAUCOMATOSOS è Beta-‐bloqueadores: ↓produção HÁ (ex: timolol) è Inibidores da anidrase carbônica: ↓a produção HA (dorzolamida 2 % e brinzolamida 1% ) è Análogos da prostaglandina: ↑ fluxo da drenagem úveo-‐escleral (ex: latanoprost, travoprost, bimatoprost); è Agonista Alfa2: estimulação desses receptores oculares, ↓a produção do HA e ↑a drenagem úveo-‐escleral (ex: tartarato de brimonidina) è Mióticos (são agonistas colinérgicos): utilizado predominantemente no tto de ângulo fechado. A contração induzida pelos mióticos do esfíncter da pupila puxa a íris periférica para longe do trabéculo, abrindo o ângulo. Além disso, estimulam a contração do músculo ciliar, o que aumenta a facilidade do fluxo do humor aquoso através da malha trabecular. (ex: pilocarpina, carbacol). è Associações fixas. OBS1: beta-‐bloqueadores não podem ser usados em pacientes com DPOC (risco de broncoespasmo) e cardiopatas. OBS2: Inicia com monoterapia e avalia a resposta. Caso não seja boa, faz associações entre os colírios. • Cirúrgico è Trabeculectomia: Após a cirurgia, quando a pressão intra-‐ocular aumenta, o humor aquoso desloca-‐se para um novo compartimento – parecido com uma bolha, evitando que o nervo óptico seja lesado. è Ciclofotocoagulação endoscópica com laser, em que é utilizado um equipamento que contém, numa mesma sonda, uma fibra óptica para visibilização das estruturas intra-‐oculares, uma fonte de iluminação e um laser. Através desses recursos, são feitas queimaduras na região produtora do humor aquoso, o epitélio ciliar secretor, visando diminuir a produção desse líquido. è A trabeculoplastia com laser (TPL), aumenta a drenagem do humor aquoso, reduzindo a pressão intra-‐ocular, a exemplo do efeito de alguns colíros. Nesse procedimento, o oftalmologista utiliza o laser para realizar pequenas queimaduras na rede trabecular e estimular o funcionamento do sistema de drenagem. O efeito do laser não é imediato. O médico precisará de pelo menos quatro a seis semanas para obter a redução da pressão intra-‐ocular. Caso o oftalmologista identifique no paciente o glaucoma pigmentário, com risco ou antecedente de crise aguda de glaucoma, é indicado optar por outro procedimento: è A iridotomia com laser: Neste procedimento, cria-‐se um pequeno orifício na parte mais periférica da íris, que a retifica e permite a livre circulação do humor aquoso da região posterior para a anterior dessa estrutura. O objetivo é evitar novas crises agudas e a dispersão dos pigmentos da íris. Hipertensão Ocular • PIO elevada • Sem repercussão nos exames • 20% podem evoluir para glaucoma
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