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ENSAIO ACADEMICO - Dificuldades com baixa complexidade que influenciam no aprendizado e interesse do estudante

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA
Dificuldades com baixa complexidade que influenciam no aprendizado e interesse do estudante
Gustavo da Silva Costa
Salvador – BA
2021
Dificuldades com baixa complexidade que influenciam no aprendizado e interesse do estudante
Ensaio acadêmico apresentado como atividade avaliativa da matéria EDCA01 – FUNDAMENTOS PSICOLOGICOS DA EDUCAÇÃO sob orientação da professora Dr. Angelina Pandita Pereira
Salvador – BA
2021
Durante toda minha vida como estudante sempre busquei ouvir o que meus professores tinham a dizer pensando que este era o caminho mais fácil, prático e curto para o aprendizado. Pensava dessa forma pois como muitos de nós (quiçá todos nós) fomos moldados num sistema de avaliação escolar onde este classificava quem estava apto a evoluir para ter contato com novos conhecimentos e aquele que segundo este método não estivesse apto, teria de rever todos os assuntos novamente para então prestar outra prova para, como o próprio nome diz, provar que de fato houve um aprendizado. Se baseando em como os alunos são avaliados, como se fossem todos iguais, como se todos tivessem as mesmas condições para se voltar aos estudos, ouvir o que nossos professores diziam era sim o caminho mais fácil, prático e curto para alcançar esse medíocre objetivo. Pois se todo o sistema prioriza as notas mais que o conhecimento propriamente dito, não teria por quê eu me desgastar estudando se eu poderia “aprender” apenas ouvindo as falas dos professores. Depois de muito tempo pude entender que esse método de avaliação é falho porque não nos trata, e eu falo “nos” me referindo a todos os estudantes, como indivíduos particulares e sim como maquinas onde todas são programadas para tirar uma nota máxima diante da mesma avaliação, sendo que a forma com que eu passo ou apresento o conhecimento que possuo não necessariamente é a forma com que um colega passe. Pode ser que ele somente consiga explicar o mesmo assunto que eu de uma forma absolutamente diferente, com uma abordagem e uma didática diferente, e essa diferença para o padrão não pode ser considerada errada assim como a pessoa não pode ser considerada inapta a algo simplesmente por não se encaixar ao padrão. Quando somos crianças esse tipo de construção não é tão evidente ou diretamente impactante pois estamos sendo moldados para chegar a um padrão e assim, quando chegamos em determinado momento, temos que nos ater a esse padrão de forma que apoiamos nossas vidas nele e que na nossa sociedade capitalista onde há um tipo de fantasma no ar onde assombra os estudantes com a ideia de que se atrasarmos nossa vida acadêmica seremos fracassados, não conseguiremos ter uma carreira de sucesso podendo causar assim problemas muito sérios, como casos de ansiedade e depressão, por simplesmente não atingirmos um valor ou uma nota a qual muitas vezes tomamos para nós como um rótulo.
Dada a contextualização, nos voltamos para onde o ouvir pode afetar nosso julgamento, nosso senso crítico e nosso interesse pela verdade. Ora, se eu como estudante ouço meu professor falar, sem nenhuma referência ou evidência, que a Terra é plana e assim não busco confirmar essa informação, isso pode acabar desencarrilhando uma onda de falta de interesse em fazer questionamentos. Aceitar qualquer informação sem checar sua veracidade pode ser um indicio de “pós-verdade” (MESSENDER, 2021) que é o fenômeno em que deixamos de lado as evidencias e priorizamos acreditar naquilo que pende para nosso emocional, como nossa religião ou uma figura de autoridade para nós (como um professor, por exemplo). Dito isso, pensando no período pandêmico de 2020 que perdura até 2021, surgiram outras dessas não-verdades como por exemplo checar a temperatura corporal pelo pulso e não pela testa. Foi uma informação errônea que se distribuiu por toda a sociedade que, por falta de meios para confirmar algo onde até mesmo quem era instruído no assunto não sabia exatamente com o que estava lidando, acabou por se tornar uma verdade tão bem disseminada e enraizada que quando surgiu a confirmação de que a forma correta de se aferir temperatura corporal é pela testa, aqueles que solicitavam a forma correta são tomados como “estranhos” ou até mesmo ignorantes, como se não tivéssemos nos informados de que o certo é a forma com que todos se comportam, aceitam e agem. O que nos faz voltar para o meio da sala de aula e questionar se os alunos são incentivados a fazer questionamentos ou condicionados a aceitar toda informação porquê eu mesmo sempre procurei ouvir e absorver aquilo que meus professores falavam mas não tinha iniciativa para verificar a veracidade da informação, pois acreditava que aquilo que o professor dissesse, era verdade absoluta.
Quando pensamos dessa forma, onde pessoas em formação podem crescer sem incentivo ao questionamento, aceitando tudo que lhes é imposto, eu não consigo deixar de imaginar como alguém numa situação onde não há incentivo ao próprio estudo em si lida com o ato de estudar. Se pessoas privilegiadas que se preocupam somente com os estudos muitas vezes deixam de lado o questionamento, será que algum estudante do interior do estado não faz o mesmo? Muitas vezes até por desinteresse, por pensar que estudo é perda de tempo, aceita tudo que lhe é dito como verdade e assim se condiciona a aprender somente por ouvir de outras bocas. Usando como exemplo a personagem do romance de Itamar Vieira Junior “Torto Arado”, que deixa claro seu descontentamento com os estudos argumentando que seu pai conhecia o mundo e a vida sem precisar de contato com a escola em contraponto que sua professora não ensinava e nem sequer conhecia de fato a realidade pois as histórias que contava eram de “soldado, professor, médico e juiz.” (VIEIRA, 2019). Então, como esperar que os alunos se sintam interessados em buscar mais conhecimento quando não há conexão entre o aluno e o ensinamento? Como esperar que o aluno vá se aprofundar mais em algo sem que ele veja motivo ou vantagem em se esforçar tanto? Isso porque estou ignorando outros fatores que influenciam na forma com que o aluno se porta diante das suas atividades como por exemplo ansiedade, que faz com que a pessoa se sobrecarregue tanto, que não consegue ter foco na sua atividade ainda que haja a vontade. Pois a urgência que a sociedade impõe é tanta que acabamos por ficar estagnados, presos por nós mesmos ou até por terceiros (por exemplo nossos pais), que muitas vezes inconsequentemente aumentam a pressão sobre nós. Quem nunca ouviu “você tem que estudar porque se repetir o ano vai atrasar sua vida e você não vai conseguir chegar a lugar nenhum”? Causando assim uma onda de sentimentos negativos como medo, por exemplo.
Muito dessa pressão que é imposta pela sociedade na própria sociedade provém da ridícula ideia do padrão ideal de ser humano, que deturpa até a mais ínfima camada da humanidade de alguém chegando ao ponto de alguém negar sua própria identidade e personalidade para se encaixar e ser aceito. Esse padrão, muito bem definido pela Comissão Organizadora do V Seminário Internacional A Educação Medicalizada no seu manifesto: “o homem, branco, cisgênero, heterossexual, esbelto, cristão, bem escolarizado e economicamente “estável” [...]”. Pensando na população somente da cidade de Salvador, quantas pessoas se encaixam nesse padrão? Mas o fato desse padrão estar tão enraizado faz com que aconteça exatamente como descrito pelo manifesto: “[...] tudo o que negar esse padrão será posto no lugar de inferior, e quanto mais uma existência diferir dele, tanto mais ela será alvo de violência.”
Como educadores ou futuro educadores (como é o meu caso), não podemos continuar deixando essa ideia de padrão se disseminar para as próximas gerações. Devemos buscar formas para que o ensino em geral não acabe perpetuando práticas tão individuais e características (como religião ou sexualidade) como tabus onde não há espaço para diferenças. Ainda em processo de formaçãouniversitária, penso em como vou me dedicar ao ensino, como iria abordar temas diversos que nas minhas divagações acabam aparecendo e a resposta, ainda que vaga, é sempre tratar qualquer assunto com naturalidade e interesse, questionando do início ao fim toda resposta dada por mim ou pelos meus futuros alunos para que dessa forma eu consiga trazer o apego ao questionamento e a naturalidade. Durante o semestre letivo de 2021.2, nada nesta disciplina de Fundamentos psicológicos da educação me marcou tanto como o questionamento das informações pois era algo tão comum para mim que eu não achava que essa prática não era comum para a maioria das pessoas então a minha forma de pensar numa docência se modificou bastante ao longo desses meses pois sempre me era apresentada uma indagação que ia de encontro com meus próprios hábitos. Num ideal onde a educação, segundo Pereira, Magalhães e Pasqualini (2020) “[...] pode e deve balizar suas ações pelos conteúdos e práticas necessárias para garantir iguais condições de vida, o que, em última instância, e ao contrário do que o senso comum afirma, garante que diferentes personalidades possam se expressar em suas máximas potencialidades.” Devemos prezar para que esse pensamento se dissemine e se perpetue no meio acadêmico, para que assim os tabus possam ser quebrados pelas próximas gerações desde a sua formação.
Referências:
MESSEDER NETO, Helio S. “Professora, a vacina vai me transformar em jacaré?”: pós-verdade, divulgação científica e ​fake news ​na sala de aula. 2020
Vieira Júnior, Itamar. Torto arado. Bahia. 2019
Da Comissão Organizadora V Seminário Internacional, A Educação Medicalizada: “existirmos, a que será que se destina?”. Salvador. 2019
PEREIRA, Angelina Pandita. MAGALHÃES, Giselle Modé. PASQUALINI, Juliana Campregher. O estudo concreto do desenvolvimento da infância e da adolescência e suas contribuições para a educação. 2020

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