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ISSN 2176-1396 O CONCEITO DE TECNOLOGIA NA PERSPECTIVA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA Camila Tatiane de Souza1 - UFPR Letícia Perez da Costa2 - UFPR Eixo – Educação, Tecnologia e Comunicação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente artigo apresenta uma pesquisa de abordagem qualitativa do tipo exploratória. O trabalho partiu de um levantamento desenvolvido para a disciplina Tecnologias da Educação do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná ao longo do primeiro semestre de 2016. O problema que norteou a investigação foi: qual o conceito de tecnologia para diferentes professores da educação básica? Para responder ao questionamento, professores que cursam o Mestrado Profissional em Educação, foram convidados a responder um questionário através do Formulário Google. Para este trabalho, portanto, tomou-se como objetivo analisar os conceitos de tecnologia apresentados por professores da educação básica que cursam o Mestrado Profissional em Educação. O trabalho apresenta, inicialmente, o referencial teórico, recorrem-se as definições de Kenski (2008, 2015), Bueno (1999) e Sancho (1998, 1999) procurando conhecer como estas autoras apresentam e discutem o conceito de tecnologia. Aborda-se, também, a classificação de tecnologia em três grandes grupos especificados por Sancho (1998), sendo eles: tecnologias artefatual, tecnologias simbólicas e tecnologias organizacionais ou biotecnológicas. Tais conceitos auxiliam na classificação e interpretação das respostas dos professores obtidas através do questionário. O questionário desenvolvido como instrumento de pesquisa era composto por perguntas abertas e fechadas que permitiram realizar a análise dos dados de forma a codificá-los e classificá-las conforme o referencial teórico. Partindo da análise dos conceitos apresentados pode-se perceber que as diversidades das respostas demonstram a amplitude do próprio conceito de tecnologia, que pode ser interpretado de formas diferentes, em diversos níveis a partir da perspectiva pessoal a da prática profissional de cada um, podendo, inclusive, influenciar nesta prática através do uso ou não de diferentes tecnologias como recursos educativos. Palavras chave: Tecnologia. Professores. Mestrado Profissional. Educação. 1 Mestranda em Educação, UFPR. Professora da Rede Estadual do Paraná. E-mail: kmila.t.souza@hotmail.com 2 Mestranda em Educação, UFPR. Professora da Rede Estadual do Paraná. E-mail: letsperez@gmail.com 14989 Introdução O presente estudo apresenta e discutem resultados de uma investigação desenvolvida inicialmente para a disciplina Tecnologias da Educação, do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná, ministrada pela Professora Doutora Glaucia da Silva Brito, ao longo do primeiro semestre de 2016, na qual tinha a intenção de apenas conhecer os conceitos de tecnologias explicitados por diferentes professores. De forma a aprofundar esta pesquisa inicial este trabalho, através de uma proposta de investigação de abordagem qualitativa do tipo pesquisa exploratória, traz como problema o seguinte questionamento: qual o conceito de tecnologia para diferentes professores da educação básica? Para isso, se propôs inquirir professores que cursam o Mestrado Profissional em Educação da Universidade Federal do Paraná. Os mestrandos foram convidados a responder um questionário através do Formulário Google dividido em duas partes: Sobre sua formação e experiência profissional que visa maior conhecimento dos sujeitos de pesquisa e Sobre o conceito que permite o desenvolvimento do objetivo deste trabalho. Para este artigo traçou-se, portanto, o objetivo de analisar os conceitos de tecnologia apresentados por professores da educação básica que cursam o Mestrado Profissional em Educação. Os conceitos explicitados pelos professores pesquisados são analisados visando codificá-los conforme a classificação de tecnologias em três grandes grupos especificadas por Sancho (1998): tecnologias artefatual (física), tecnologias simbólicas e tecnologia organizacional ou biotecnológica. Apresentando os conceitos Para a proposta deste trabalho se faz necessário iniciar explanando sobre o conceito de tecnologia apresentado por diferentes autores, pois se compreende a amplitude de significados que este tema pode levantar. Neste caso, restringe-se a gama de autores que abordam o tema de forma a melhor aproximar do objeto da pesquisa. Inicialmente recorre-se a Kenski (2008), quando a autora apresenta que 14990 para todas as atividades que realizamos, precisamos de produtos e equipamentos resultantes de estudos, planejamentos e construções específicas, na busca de melhores formas de viver. Ao conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade nós chamamos de "tecnologia" (KENSKI, 2008, p.18). Portanto, tecnologia pode ser compreendida como algo presente no cotidiano de tal forma que muitas das vezes já não nos damos conta da sua existência, “as tecnologias estão tão próximas e presentes que nem percebemos mais que não são coisas naturais” (KENSKI, 2015, p. 24). Neste sentido concorda-se, ainda, com Bueno (1999), para a autora tecnologia é um processo contínuo através do qual a humanidade molda, modifica e gera a sua qualidade de vida. Há uma constante necessidade do ser humano de criar, a sua capacidade de interagir com a natureza, produzindo instrumentos desde os mais primitivos até os mais modernos, utilizando-se de um conhecimento científico para aplicar a técnica e modificar, melhorar, aprimorar os produtos oriundos do processo de interação deste com a natureza e com os demais seres humanos (BUENO, 1999, p.87). Assim, entende-se que “a evolução tecnológica, não se restringe apenas aos novos usos de determinados equipamentos e produtos. Ela altera comportamentos” (KENSKI, 2015, p.21), ou seja, é algo que gera e resulta da transformação social. Para esclarecer esta visão Sancho (1999) corrobora quando fala em entrevista para o Jornal do Brasil defendendo que a tecnologia tem uma relação com nossas vidas e possui uma efetiva utilização social, ou seja não desvincula o conhecimento da sua aplicação, não se despreocupa do processo de tomada de decisões políticas, econômicas e éticas que informa a aplicação de recursos no desenvolvimento de determinados saberes e ferramentas [...] Entende que a tecnologia - seja artefatual, simbólica, organizativa ou biotecnológica - surge em um determinado contexto para tentar resolver um problema. Nesse sentido, qualquer indivíduo é produtor e consumidor de tecnologia, de conhecimento em ação (SANCHO, 1999, s.p.). Por tecnologia artefatual (ou física) a autora classifica as máquinas ou instrumentos criados recentemente. Este entendimento restrito de tecnologia pode levar, muitas vezes, ao entendimento de que tecnologia são apenas computadores, smartphones, tablets e desconsidera que instrumentos como o livro, o quadro de giz, os cadernos que, também, são tecnologias artefatuais (SANCHO, 1998). Entretanto, as tecnologias também podem se apresentar como simbólicas, ou seja, pode ser entendida como os meios que compõem a comunicação entre as pessoas, tais como a 14991 linguagem, as representações icônicas, o próprio conteúdo e no caso da escola o currículo (SANCHO, 1998). Sancho (1998) apresenta ainda a classificação de tecnologias organizativas ou biotecnológicas. Pode-se entender este grupo como a configuração do entendimento do indivíduo pelo mundo, a busca da resolução de problemas. Nenhuma destas classificações de tecnologia remete exclusivamente aos elementos que compõem a escola e muito menos a educação, entretanto, umolhar mais atento pode perceber que todas elas estão em composição com o processo educacional, por isso neste trabalho se propõe conhecer o conceito de tecnologia de diferentes professores e codificar suas respostas dentro destas diferentes classificações. Procedimentos metodológicos Para este artigo tomou-se como objetivo analisar os conceitos de tecnologia apresentados por professores da educação básica que cursam o Mestrado Profissional em Educação. Para realizar esta pesquisa escolheu-se a abordagem qualitativa. Optou-se por esta abordagem, pois se entende que não é mera classificação de opinião dos informantes, é muito mais. É a descoberta de seus códigos sociais e a partir das falas, símbolos e observações. A busca da compreensão e da interpretação à luz da teoria aporta uma contribuição singular e contextualizada do pesquisador (MINAYO, 2009, p. 27). Para compor este processo de compreensão e interpretação proposta pela abordagem qualitativa, para este trabalho definiu-se o tipo de pesquisa exploratória, pois permite “levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições manifestantes desse objeto” (SEVERINO, 2007, p. 123). Este levantamento que compõe a pesquisa exploratória pode levar a percepção de novos problemas e propostas de pesquisas. Como instrumento de pesquisa se desenvolveu a construção do questionário através do Formulário Google que foi enviado aos participantes por email. De um total de 22 questionários enviados o retorno foi de 15 respondidos. O questionário foi escolhido, pois se trata de uma técnica de investigação que permite o conhecimento de “o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc” (GIL, 1999, p.128). 14992 Segundo Rauen (2002), os questionários devem ser planejados para se definir o que realmente quer saber e assim fazer apenas as perguntas pertinentes, desta forma os questionários para este trabalho foram desenvolvidos com sete questões dispostas entre questões fechadas e abertas. Dividiu-se o questionário em: Sobre sua formação e experiência profissional que visa maior conhecimento dos sujeitos de pesquisa e Sobre o conceito que permite o desenvolvimento do objetivo deste trabalho. Tomando a primeira parte do questionário, na sequência apresenta-se o perfil dos sujeitos da pesquisa, por se entender que a formação e experiência de cada pesquisado influem no desenvolvimento e análise da questão norteadora do trabalho. Os sujeitos pesquisados Os professores participantes da pesquisa são integrantes do Programa de Mestrado Profissional, que iniciaram o curso no ano de 2015. Os Mestrados Profissionais em Educação são uma modalidade de pós-graduação stricto sensu, que de acordo com o texto da Portaria normativa nº 17, publicada no Diário Oficial da União do dia 28 de dezembro de 2009, tem como objetivo, segundo a mesma Portaria, “capacitar profissionais qualificados para o exercício da prática profissional avançada e transformadora de procedimentos, visando atender demandas sociais, organizacionais ou profissionais e do mercado de trabalho” (BRASIL, 2009, p. 20). Para participar do processo seletivo do Programa de Mestrado Profissional em Educação na UFPR, os candidatos devem comprovar vínculo com escolas da educação básica, pois a formação está focada em professores e pedagogos. Portanto, todos os participantes são profissionais atuantes na educação básica de escolas públicas e privadas. Após o levantamento das respostas enviadas por meio dos questionários, percebeu-se que diversas são as áreas de formação dos professores mestrandos, a maior parte é formada em Pedagogia e alguns apresentam mais de uma graduação (Tabela 1). Tabela 1 – Formação dos sujeitos da pesquisa Graduação Quantidade de formados Pedagogia 11 Letras 4 Teologia 1 Estudos Sociais 1 Biologia 1 Psicologia 1 14993 Fonte: As autoras. A maioria dos pesquisados atuam no Ensino Fundamental Anos Iniciais, que compõem o ensino de 1º. a 5º. ano. Estes professores compõem o quadro próprio de educadores, ou seja, são concursados da Prefeitura Municipal de Curitiba, São José dos Pinhais e Campo Largo. Os demais profissionais estão divididos entre profissionais da rede particular e da rede estadual de ensino (Tabela 2). Tabela 2 – Ciclo de atuação Ciclo Quantidade Educação Infantil 1 Ensino Fundamental Anos Iniciais 12 Ensino Fundamental Anos Finais 2 Ensino Médio 1 Fonte: As autoras. Os profissionais pesquisados contam tempo de atuação na educação básica concentrados principalmente entre 6 e 20 anos de trabalho (Tabela 3). Tabela 3 – Tempo de atuação Tempo de atuação Quantidade Menos de 5 anos 2 Entre 6 e 10 anos 6 Entre 11 e 20 anos 5 Mais de 21 anos 2 Fonte: As autoras. Para esta pesquisa optou-se por, também, conhecer os objetos de pesquisa da dissertação dos pesquisados, compreendendo que sendo todos professores mestrandos as temáticas também podem nortear a respostas dadas ao questionário recebido. Para a apresentação desta resposta optou-se por criar uma identificação para o participante, visando manter os nomes em sigilo conforme critérios éticos de pesquisa (Tabela 4). Sendo assim, fica determinado R para resposta e o número para identificar as respostas conforme ordem de recebimento da devolutiva do questionário, portanto a numeração não se apresenta de forma hierárquica ou predileção. Tabela 4 – Temas de pesquisa Identificação do Questionário Tema de pesquisa R01 A Educação ambiental nas práticas pedagógicas nos anos iniciais do ensino fundamental R02 Educação ambiental R03 Radioweb R04 Tecnologias e mídias digitais nas aulas de língua inglesa 14994 R05 Leitura R06 Letramento literário R07 Alfabetização R08 A escrita como procedimento de autoria na EJA no contexto prisional R09 Formação de Professores R10 Quais os saberes dos professores em suas práticas em Ciências Naturais R11 Práticas Pedagógicas R12 Espaços de educação infantil R13 A criação de um jogo educativo interdisciplinar e as contribuições dele para estudantes do ciclo de alfabetização R14 O uso das tecnologias pelos professores co-regentes de Curitiba R15 Processo de Formação de leitores literários no ensino fundamental I Fonte: As autoras. Conhecendo a proposta de pesquisa dos sujeitos é possível perceber a variedade de temas, que incluem dissertação que destacam a especificidade em trabalhar as tecnologias, é interessante atentar para a compreensão destes para o conceito de tecnologia. Delineando o perfil dos professores pesquisados, a seguir, apresentamos os dados levantados que compôs a segunda parte do questionário Sobre o conceito, ou seja, a parte que questiona os conceitos de tecnologias para professores cursistas do Mestrado Profissional em Educação. Apresentação e discussão dos dados coletados O processo de análise de dados é parte fundamental de uma pesquisa, segundo Ludke e André (2015) a tarefa de análise implica, num primeiro momento, a organização de todo o material, dividindo-se em partes, relacionando essas partes e procurando identificar nele tendências e padrões relevantes. Num segundo momento essas tendências e padrões são reavaliados, buscando-se relações e inferências num nível de abstração mais elevado (LUDKE E ANDRÉ, 2015, p. 53). O primeiro momento de análise dos dados desta pesquisa se apresentou anteriormente ao utilizar das informações da primeira etapa do questionário para melhor conhecimento dos sujeitos. Neste momento da análise, realizada após a leitura de cada questionário respondido, procura-se identificar o foco principal de cada resposta para a pergunta presente no questionário: O que é tecnologia? A partir da resposta de cada entrevistado realiza-se a codificação, “isto é, uma classificação dos dadosde acordo com as categorias teóricas iniciais” (LUDKE E ANDRÉ, 14995 2015, p. 57), para isso, consideram-se os exemplos de conceitos de tecnologia apresentado por Sancho (1998): tecnologias artefatual, tecnologias simbólicas e tecnologias organizacionais ou biotecnológica. Inicialmente se faz a codificação das repostas que apresentam tecnologia como artefatual (Tabela 5). Tabela 5 – Codificação do conceito: Tecnologia Artefatual (ou física) Identificação do Questionário Conceitos dos sujeitos R01 “Uma ferramenta que auxilia no desenvolvimento do meu trabalho”. R07 “É o estudo de técnicas e conhecimentos pra criação de novos instrumentos”. R04 “A grosso modo é o produto do conhecimento científico acumulado pelo homem. Objetos que utilizamos em nosso dia a dia, como lápis, caneta, eletrodomésticos, etc., são exemplos de tecnologias”. R05 “São recursos e instrumentos utilizados para facilitar as relações e ações do cotidiano”. R08 “O conjunto de recursos materiais utilizado com objetivo específico”. Fonte: As autoras. Mesmo que alguns dos sujeitos tenham apresentado a tecnologia como estudo, produto do conhecimento, conjunto de recursos o foco destas repostas foi na materialidade, na instrumentalização da tecnologia, ou seja, uma ferramenta física. Esta generalização que muitas vezes ocorre sobre tecnologia somente como máquinas, e, principalmente as máquinas criadas recentemente, contribui para a ideia de que a tecnologia desumaniza e que para combater este processo desumanizador a melhor alternativa é não usar (SANCHO, 1998). Pode-se entender que, talvez seja esta a compreensão daqueles que rejeitam qualquer inserção das chamadas novas tecnologias digitais (smartphones, tablets, computadores) no cotidiano escolar, com o receito de que a interferências deste tipo de tecnologia seja negativa. Mas, as tecnologias também podem ser vistas como simbólicas, ou seja, as formas de linguagem, os ícones utilizados na representação (Tabela 6). Tabela 6 – Codificação do conceito: Tecnologia Simbólica Identificação do Questionário Conceitos dos sujeitos R15 “É um conjunto de técnicas, métodos e processos para facilitar a relação entre o homem é o mundo é entre homem e homem. Exemplo: escrita”. R09 “Tecnologia é o estudo da técnica, ou dos instrumentos que o ser humano cria para facilitar o seu trabalho. Deste modo, tecnologia é a extensão da ação humana, facilitando e ampliando a sua ação além do seu corpo. A tecnologia é dialógica, no aspecto de não haver tecnologia que dispense a interação. Dado a sua importância dialógica, ela é social e 14996 pronuncia o desenvolvimento da sociedade, também por influir na economia”. R10 “Tudo em nosso meio está ligado à tecnologia, não podemos dizer que é apenas uma coisa”. Fonte: As autoras. Nestas compreensões destaca-se o papel do homem no desenvolvimento tecnológico, dentro desta perspectiva, segundo Sancho (1998, p.26) “podemos dizer que a tecnologia é uma produção basicamente humana, entendendo aqui que este termo no sentido de ‘pertencente à espécie humana, próprio da mesma’”. Esta visão de tecnologia como resultado da ação humana aparece em destaque, também, nos conceitos codificados como tecnologia organizacionais ou biotecnológicas (Tabela 7). Tabela 7 – Codificação do conceito: Tecnologia Organizativas ou Biotecnológicas Identificação do Questionário Conceitos dos sujeitos R03 “Tecnologia é tudo que foi criado pelo ser humano para satisfazer as suas necessidades”. R06 “Conjunto de ações criações desenvolvidas para melhorar ou aperfeiçoar as necessidades humanas. Pode ser chamada de arte ou cultura criada”. R11 “É tudo o que usamos para melhorar nossa vida”. R02 “Tecnologia é um produto da ciência e da engenharia que envolve um conjunto de instrumentos, métodos e técnicas que visam a resolução de problemas. É uma aplicação prática do conhecimento científico em diversas áreas de pesquisa”. R14 “Considero que tecnologia é um processo de evolução humana, em que o homem, com o objetivo de melhorar sua qualidade de vida, desenvolveu técnicas e ferramentas. Desde a pedra polida, a invenção da roda; do lápis ao computador, tudo é tecnologia. A ciência, os símbolos do nosso alfabeto, o sistema de escrita e comunicação, as maneiras de organização. Enfim, todo o conhecimento humano em prol de melhorar sua vida, é uma tecnologia. Temos também a tecnologia social, que visa atender as classes menos favorecidas, de maneira a diminuir as desigualdades sociais”. R13 “Entendo tecnologia como a criação e uso de instrumentos para auxiliar nas atividades humanas. A tecnologia avança com a ciência e cada vez mais está em nosso cotidiano, não só auxiliando as atividades básicas como também criando novas atividades, novas possibilidades e novas necessidades”. R12 “São técnicas, métodos complexos inventados pelo homem, para auxiliar no seu dia a dia”. Fonte: As autoras. Portanto, a maior parte dos sujeitos pesquisados apresenta seu conceito de tecnologia atrelado à ideia de meio para atender as necessidades humanas, melhorar a vida, obter resolução de problemas, ou seja, a tecnologias compõem a evolução da sociedade. 14997 Recorrendo a Sancho (1998) pode-se entender esta concepção de melhorar a vida como resultado da ação humana de domínio do meio, que acumula estrutura de poder, controle social, portanto “a tecnologia não permite somente agir sobre a natureza, mas é, principalmente, uma forma de pensar sobre ela” (SANCHO, 1998, p. 27). Ao perceber a tecnologia como um “saber fazer” entende-se com potencialidade de interferência nas relações sociais e abre-se caminho para a reflexão do uso e entendimento das diferentes formas de tecnologias como pertencentes ao processo educativo. Esta possibilidade de reflexão sobre a tecnologia para atender as necessidades humanas focando a educação não se amplia neste trabalho, mas deixa em aberto a possibilidade de aprofundamento sobre o tema. Considerações Finais A partir do questionamento: qual o conceito de tecnologia para diferentes professores da educação básica? Desenvolveu-se, neste trabalho, a análise de um questionário aplicado para professores que cursam o Mestrado Profissional em Educação, pela Universidade Federal do Paraná. Os dados obtidos foram categorizados e analisados permitindo perceber que os sujeitos pesquisados, sendo professores em processo de aperfeiçoamento profissional, apresentam concepções de tecnologias que em muito englobam os diferentes grupos definidos por Sancho, a maior parte percebem a tecnologia como um saber resultado da própria humanidade. Portanto, entende-se que o conceito de tecnologia não é desconectado da constante capacidade de reflexão humana e muito menos fragmentado em apenas uma modalidade. Resultado de inúmeras interações no mundo sejam elas físicas, simbólicas ou sociais, as tecnologias são provenientes do saber fazer, que, por sua vez, pode contribuir para um novo caminho de intervenção em qualquer área do conhecimento. É neste contexto que se concorda com Brito e Purificação (2015), pois vivemos cercados de tecnologias e por isso a educação não pode ignorá-las, portanto 14998 defendemos, na formação inicial e continuada do professor, o uso dos recursos tecnológicos que possam apoiá-lo em sua atuação na sala de aula e na dinâmica de investigação de suas próprias práticas. Assim, o docente poderá buscar caminhos de valorização de suas vivencias e experiências possibilitando-lhe, em parceria com outros professores, efetivar uma metodologia interdisciplinar, discutindo a relação entre os saberes profissionais, a experiência, a criatividade e a reflexão crítico científica a respeito da evolução humana e dos artefatos tecnológicos (BRITO E PURIFICAÇÃO, 2015, p. 18). Percebe-se, também, que a análise de categorização aquidesenvolvida ainda permite levantar novos questionamentos a partir de diferentes perspectivas, portanto, concorde-se com Ludke e André (2015, p. 58) quando discorrem sobre a pesquisa exploratória, “por si mesma, não esgota a análise. É preciso que o pesquisador vá além, ultrapasse a mera descrição, buscando realmente acrescentar algo à discussão já existente sobre o assunto focalizado”. Portanto, considerando os dados coletados nesse estudo, é possível levantar diferentes reflexões e principalmente hipóteses, pois como se trata de uma pesquisa exploratória, os resultados não findam aqui, eles permitem perceber a relevância do tema para a continuidade, até mesmo para a validação do instrumento aplicado. REFERÊNCIAS BRASIL. Portaria normativa nº 17, 28 de dezembro de 2009. Diário Oficial da União. Disponível em: <https://www.capes.gov.br/images/stories/download/legislacao/PortariaNormativa_17MP.pdf >. Acesso em: 01 fev. 2017. BUENO, Natalia de Lima. O desafio da formação do educador para o ensino fundamental no contexto da educação tecnológica. 1999. Dissertação (Mestrado) - CEFET-PR, Curitiba, 1999. BRITO, Glaucia. S.; PURIFICAÇÃO, Ivonélia da. Educação e novas tecnologias: um repensar. Curitiba: IBPEX, 2015. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. 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