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2 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA Secretaria de Gestão e Ensino em Segurança Pública Diretoria de Ensino e Pesquisa COORDENAÇÃO GERAL DE ENSINO Coordenação de Ensino a Distância Reformuladora Bernadete Moreira Pessanha Cordeiro Revisão Pedagógica Vânia Cecília de Lima Andrade SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO Programação e Edição Ozandia Castilho Martins Fagner Fernandes Douetts Designer Ozandia Castilho Martins Fagner Fernandes Douetts Designer Instrucional Anne Caroline Bogarin Manzolli 3 Sumário Apresentação .............................................................................................................. 6 Objetivo do curso ........................................................................................................ 7 Estrutura do curso ....................................................................................................... 8 MÓDULO 1 – Educação, ensino e aprendizagem ....................................................... 9 Apresentação do módulo ......................................................................................... 9 Objetivo do módulo ................................................................................................ 10 Estrutura do Módulo .............................................................................................. 11 Aula 1 – Breves notas conceituais sobre educação .............................................. 12 1.1 Compreendendo a educação .................................................................... 12 1.2 Os quatro pilares da Educação para o século XXI .................................... 13 Aula 2 – Aspectos legais e as modalidades educativas ........................................ 16 2.1 Principais aspectos legais ......................................................................... 16 2.2 Aspectos legais da EaD ............................................................................ 17 Aula 3 – Atores do processo educacional e a questão da aprendizagem ............. 19 3.1 A aula como espaço de convivência dos atores da ação educativa ............. 19 3.2 Ação educativa: ensinar e aprender .......................................................... 22 3.3 As competências docentes ....................................................................... 23 3.4 Compreendendo como se processa a aprendizagem .................................. 24 Aula 4 – Aprendizagem no ambiente de trabalho .................................................. 27 4.1 Desenvolvimento de competências organizacional e profissional ................ 27 Finalizando... ......................................................................................................... 30 MÓDULO 2 - Fundamentos para as ações formativas na área de segurança pública .................................................................................................................................. 31 Apresentação do módulo ....................................................................................... 31 Objetivo do módulo ................................................................................................ 31 4 Estrutura do Módulo .............................................................................................. 32 Aula 1 – Matriz Curricular Nacional ....................................................................... 33 1.1 O que é? ................................................................................................... 33 1.2 Compreendendo a MCN .............................................................................. 35 1.4 Malhas Curriculares .................................................................................. 41 1.5 Ementas ....................................................................................................... 42 Aula 2 – Principais pontos dos referenciais teóricos metodológicos da MCN .......... 45 Finalizando... ......................................................................................................... 49 Módulo 3 - Planejamento de Ensino .......................................................................... 50 Apresentação do módulo ....................................................................................... 50 Objetivo do módulo ................................................................................................ 50 Estrutura do Módulo .............................................................................................. 50 Aula 1 – Mapa de competências e a mobilização de saberes ............................... 51 1.1 O mapa como ponto de partida ................................................................. 51 Aula 2 – Planejando o ensino ................................................................................ 58 2.1 Planejamento X Plano .................................................................................. 58 2.2 Princípios e características do planejamento das ações formativas ............ 59 2.3 Planos de Ensino: processo de elaboração .............................................. 60 Finalizando... ......................................................................................................... 70 Módulo 4 - Abordagens, metodologias e técnicas ..................................................... 71 Apresentação do módulo ....................................................................................... 71 Objetivos do Módulo .............................................................................................. 71 Estrutura do módulo .............................................................................................. 71 Aula 1 – Abordagens curriculares .......................................................................... 73 1.1 Contextualização ...................................................................................... 73 1.2 Interdisciplinaridade ..................................................................................... 74 1.3 Transversalidade .......................................................................................... 75 5 Aula 2 – Técnicas e recursos de ensino ................................................................ 81 2.1 Aspectos que devem ser considerados na seleção das técnicas de ensino 81 2.2 Aspectos que podem interferir na escolha das técnicas .............................. 82 2.3 Técnicas de ensino recomendadas pela Matriz Curricular Nacional ............ 82 2.4 Recursos pedagógicos ................................................................................. 86 Aula 3 – Metodologias ativas e tecnologias digitais ............................................... 88 3.1 Metodologias Ativas ..................................................................................... 88 3.2 Outras metodologias .................................................................................... 96 3.3 Tecnologias Digitais ................................................................................... 101 Finalizando... ....................................................................................................... 104 Módulo 5 - Avaliação da aprendizagem .................................................................. 106 Objetivos do módulo ............................................................................................ 108 Estrutura do módulo ............................................................................................ 109 Aula 1 – Medida e Avaliação ............................................................................... 110 1.1 Definindo os termos ................................................................................ 110 1.2 Instrumentos de medidas ...........................................................................111 Aula 2 – Avaliação com foco no desenvolvimento de competências ................... 118 2.1 O que considerar ........................................................................................ 118 2.2 Critérios da avaliação observacional .......................................................... 118 Aula 3 – Promoção de Feedback ......................................................................... 121 Finalizando... ....................................................................................................... 123 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 124 6 Apresentação (...) Professor, faze de tua cadeira, a cátedra de um mestre. Se souberes elevar teu magistério, ele te elevará à magnificência. Tu és um jovem, sê, com o tempo e competência, um excelente mestre. Meu jovem Professor, quem mais ensina e quem mais aprende? O professor ou o aluno? De quem maior responsabilidade na classe, do professor ou do aluno? Professor, sê um mestre. Há uma diferença sutil entre este e aquele. Este leciona e vai prestes a outros afazeres. Aquele mestreia e ajuda seus discípulos. O professor tem uma tabela a que se apega. O mestre excede a qualquer tabela e é sempre mestre. Feliz é o professor que aprende ensinando. Cora Coralina in “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha” Prezado participante, Um dos desafios da sociedade contemporânea é contribuir para ampliação e a melhoria do processo de aprendizagem, pois nunca foi tão necessário aprender e, principalmente, aprender a aprender. Na área de segurança pública este desafio também se faz presente, pois a complexidade da realidade vem exigindo de seus profissionais novas e criativas dinâmicas de intervenção frente à violência e à criminalidade. Neste novo contexto, de aprendizagem contínua, ao longo da vida, exige-se que “professor” possa deixar de ser um mero transmissor de saberes para ser um articulador de ações que possibilitem a construção do conhecimento nos diversos espaços de convivência, ou seja, real ou virtual. Independente dos meios e do espaço onde ocorram os processos de ensinar e aprender caberá ao professor planejar e organizar a sua ação, criando condições para que ocorra, no ambiente formativo, uma aprendizagem significativa e o 7 desenvolvimento das competências profissionais. Sendo assim, este curso foi elaborado com o objetivo de subsidiar a ação pedagógica dos instrutores e professores que compõem o corpo docente das academias, escolas, institutos e centros de formação na área de segurança pública. Aqui você não encontrará respostas prontas, mas sim a oportunidade de ter acesso a informações que o auxiliarão: a refletir sobre sua atuação como professor, a planejar, a desenvolver e a avaliar a aprendizagem. Seja bem-vindo(a), e bons estudos! Objetivo do curso Este curso criará condições para que você possa: Ampliar conhecimentos para: Definir educação; Diferenciar processo de ensino (ação intencional do professor) do processo de aprendizagem (ação do aluno) sobre o objeto do conhecimento; Conceituar competências cognitivas, operativas e atitudinais; Identificar as dimensões do conhecimento; Relacionar o processo de “mobilização de saberes” com as estratégias, as metodologias e os recursos a serem utilizados no processo de ensino; Reconhecer as contribuições das metodologias ativas e das tecnologias digitais para o processo de aprendizagem; Rever os conceitos de avaliação e medida; Identificar os tipos e instrumentos de medidas no contexto profissional. Exercitar/desenvolver habilidades para: Mapear competências; Elaborar objetivos de aprendizagens; Elaborar planos de ensino; Planejar estratégias e técnicas facilitadoras do processo de aprendizagem. 8 Fortalecer atitudes para: Reconhecer a importância da Matriz Curricular Nacional para o planejamento das ações formativas; Reconhecer a importância do processo de planejamento; Valorizar a ação docente como facilitadora da aprendizagem. Estrutura do curso Este curso contempla os seguintes módulos: Módulo 1 – Educação, ensino e aprendizagem Módulo 2 – Fundamentos para as ações formativas na área de segurança pública Módulo 3 – Planejamento de ensino Módulo 4 – Abordagens, metodologias e técnicas de ensino Módulo 5 – Avaliação da aprendizagem 9 MÓDULO 1 – Educação, ensino e aprendizagem Apresentação do módulo Neste módulo você estudará sobre o que é educação, ensino e aprendizagem. Serão abordados aspectos conceituais e a importância da aprendizagem, principalmente no ambiente de trabalho. Antes de iniciar seus estudos, leia o texto a seguir. Figura 1:Carta enigmática Fonte: CORDEIRO, 2009 (Adaptada); SCD/EaD/Segen. Conseguiu decifrar? 10 Verifique se a frase que encontrou foi esta: Educar é criar condições para o aluno utilizar: cabeça, mão e coração. Reflita sobre a experiência e registre-a conforme as perguntas a seguir. Depois, reserve as respostas, pois estas serão solicitadas ao longo do estudo do módulo. Qual foi a sua reação ao ver o texto? Imagine outras reações possíveis. O que possibilitou iniciar a leitura do texto? Qual foi seu ponto de partida? Houve um momento que os signos conhecidos acabaram, certo? O que fez para continuar lendo o texto? Internamente o que aconteceu com você? A partir dessa experiência, conseguiria resolver outras? Com base na dinâmica, você se arriscaria a escrever outra definição sobre educação? Objetivo do módulo Ao finalizar o estudo desse módulo, você será capaz de: Definir educação, ensino e aprendizagem; Compreender os principais conceitos afetos ao processo educacional; Analisar os principais aspectos da legislação educacional brasileira das modalidades presencial e a distância; Caracterizar os principais atores do processo educacional; Compreender como se processa aprendizagem; 11 Identificar as competências relacionadas a docência; Reconhecer a importância da aprendizagem no ambiente de trabalho. Estrutura do Módulo Este módulo contempla as seguintes aulas: Aula 1 – Breves notas conceituais sobre educação Aula 2 – Aspectos legais e as modalidades educativas Aula 3 – Atores do processo educacional e a questão da aprendizagem Aula 4 – Aprendizagem no ambiente de trabalho 12 Aula 1 – Breves notas conceituais sobre educação 1.1 Compreendendo a educação A palavra educação possui como raiz o vocábulo latino “educare, por sua vez ligado a educere, verbo composto do prefixo ex (fora) + ducere (conduzir, levar) e significa literalmente 'conduzir para fora', ou seja, preparar o indivíduo para o mundo” (www.dicionarioetimologico.com.br). Seja de forma assistemática (fora do sistema formal de ensino) – realizada nas situações do cotidiano que acontecem em diversos grupos sociais, sem o objetivo formal de que a aprendizagem seja avaliada, ou sistematizada – ou realizada em instituições especializadas, a educação tem por objetivo criar condições necessárias para a construção de conhecimentos, para o desenvolvimento de habilidades, para o fortalecimento de valores e para o indivíduo atuar em seu meio. Na prática, o homem cria a educação e esta, por sua vez, produz o homem. Por isso, toda prática educativa é orientada por uma concepção de homem, sociedade e conhecimento, visto que: a) há sempre uma intencionalidade na prática educativa e na ação dos homens que a desenvolvem, considerando o tempo histórico de sua produção; b) em suas dimensões históricas, sociais, políticas, econômica, culturais, etc., essas duas concepções dependem do contexto cotidiano dos indivíduos; c) ao estabeleceremrelações entre si, os homens constroem tais concepções e são afetados por seus próprios comportamentos; d) os grupos humanos sempre imprimem um sentido próprio à educação, bem como ao projeto coletivo de sociedade que desejam realizar (SOUSA, 2008, p. 43). 13 Considerando o que Souza (2008) colocou, pode-se dizer então que as condições a serem criadas estão relacionadas às características, exigências e necessidades de um determinado contexto histórico que, dada a dinamicidade social, está em constante evolução. Como processo de atualização histórico-cultural, a educação envolve dimensões individuais e sociais, devendo visar tanto ao viver bem pessoal quanto à convivência social, no desfrute dos bens culturais enquanto herança histórica que se renova continuamente. A democracia, como meio para a construção da liberdade em sua dimensão histórica, faz parte dessa herança cultural. Entendida como processo vivo que perpassa toda a vida dos indivíduos, laborando na confluência entre o ser humano singular e sua necessária pluralidade social, ela se mostra imprescindível tanto para o desenvolvimento pessoal e formação da personalidade individual, quanto para a convivência entre grupos e pessoas e a solução dos problemas sociais, colocando-se, portanto, como componente incontestável de uma educação de qualidade (PARO, 2000, p. 13). Figura 2: Para refletir Fonte: SCD/EaD/Segen. 1.2 Os quatro pilares da Educação para o século XXI 14 Por não ser um produto acabado, a educação é vista como processo; um processo dialético (pessoal e social) contínuo (ao longo de toda a vida). O Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI (2001), denominado Educação: um tesouro a descobrir, realizou um diagnóstico sobre o mundo e a educação atual e estabeleceu Quatro Pilares da Educação para o Século XXI. Conheça-os a seguir: A educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser. Aprender a conhecer Combinando uma cultura geral, suficiente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida. Aprender a fazer A fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas, também, aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. Aprender a viver juntos Desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências - realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos - no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. Aprender a ser Para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. 15 Figura 3: Para refletir Fonte: SCD/EaD/Segen. Você observou que os quatro pilares da Educação para o século XXI são descritos em forma de aprendizagem? Adiante, você voltará a esta questão, antes, porém, estude as definições da educação contidas na legislação educacional brasileira, pois elas reforçam o caráter dialético e contínuo do processo educacional. 16 Aula 2 – Aspectos legais e as modalidades educativas 2.1 Principais aspectos legais O caráter social da educação está presente na Constituição Federal de 1988, no Artigo 6º – onde aparece junto aos demais direitos sociais – e na definição desse direito, no Artigo 205, como você poderá ver a seguir: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho”. A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece a Diretrizes e Bases da Educação Nacional, diz em seu Art. 1º que: “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. Observe que a referida Lei considera a importância da educação assistemática e sistemática, reforçando o caráter social da aprendizagem. Ainda de acordo com a Lei nº 9.394/96, o sistema educacional brasileiro está dividido em dois níveis: Educação Básica e Educação Superior. Educação Básica A Educação Básica é estruturada por etapas: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, e por modalidades de ensino: Educação Escolar Indígena; Educação Escolar Quilombola, Educação Especial; Educação de Jovens e Adultos (EJA); Educação do Campo e Educação Profissional e tecnológica e Educação a Distância. Educação Superior 17 A Educação Superior abrange os seguintes cursos e programas: cursos sequenciais, de graduação, de pós-graduação e de extensão. Como você deve ter observado, a Educação a Distância é uma modalidade de ensino, mas como pode ser aplicada a qualquer outra modalidade, é caracterizada, por regulamentação própria, como modalidade educacional. 2.2 Aspectos legais da EaD A EaD é reconhecida legalmente pela a Lei 9.394/96, no seu artigo 80 e seus respectivos parágrafos – podendo ser ofertada em todos os níveis e modalidades de ensino – e regulamentada pelo Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017, que a caracteriza, em seu artigo 1º, como modalidade educacional: na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos. Sendo uma modalidade, a EaD está submetida aos marcos referenciais e legais, bem como aos critérios de qualidade estabelecidos para a educação nacional. Saiba mais... Leia o Decreto nº 9.057/2017, que regulamenta o art. 80 da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Veja também a Portaria Normativa nº 11/ 2017 que estabelece normas para o credenciamento de instituições e a oferta de cursos em conformidade com o Decreto já 18 mencionado. Importante! No âmbito da administração federal, as atividades de desenvolvimento de pessoas, presencial ou a distância, como os cursos da Rede-EaD SEGEN, são orientadas pelo Decreto nº 9.991, de 28 de agosto de 2019, que dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoas da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, e regulamenta dispositivos da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, quanto a licenças e afastamentos para ações de desenvolvimento. 19 Aula 3 – Atores do processo educacional e a questão da aprendizagem 3.1 A aula como espaço de convivência dos atores da ação educativa Ao longo do estudo, você pôde verificar que a educação considerada um processo contínuo, ao longo da vida, possui uma dimensão pessoal e social. Assim, seria correto dizer que todos os indivíduossão atores do processo educacional. Mas, o foco dado aqui será didático, por isso, restrinja os atores ao espaço formal da educação: a escola – instituição educacional, mais especificamente, a sala de aula. Não necessariamente a sala de aula física, considere também os ambientes virtuais de aprendizagem, ou seja, a ideia é considerar todos os locus onde ocorra a construção de novos conhecimentos a partir das relações estabelecidas entre seus atores, seus saberes anteriores e os novos saberes. Esse locus é denominado por Maturana, conforme Magro e Vaz (1990) “espaço de convivência”. Portanto, considere que os principais atores do processo educacional são: os docentes (professores/instrutores/tutores) e; os discentes (estudantes/alunos/participantes). UMA AULA EM AÇÃO... Para que possa se apropriar do termo “espaço de convivência” leia a seguir, o diálogo estabelecido entre Maturana e seus alunos, no texto: O que é ensinar? Quem é um professor? (*) - Alguma outra pergunta? 20 - Sim, Professor: Que é um professor? Ou, quem é um professor? - Hummm (pausa) (Risos) (Escreve ao quadro negro) - Professor, Mestre. E, portanto, está aqui: ensinar. Creio que aqui aparece este conceito. O que é ensinar? Eu lhes ensinei a Biologia do Conhecer? Sim, se alguém abre a porta desta sala... (desloca-se até a porta, simula ouvir alguém que bate à porta, e então se desculpa, e diz a outro alguém) ... “Nesta sala está o Professor Humberto Maturana ensinando Biologia do Conhecer” (desloca-se de volta): Eu lhes ensinei a Biologia do Conhecer? Em um sentido, com relação à responsabilidade perante a Faculdade, eu lhes ensinei a Biologia do Conhecer. (Risos) - Mas o que fizemos nós ao longo deste semestre? - Desencadear mudanças estruturais. - Desencadear mudanças estruturais, desencadear perturbações. E como fizemos isso? Em coordenações de coordenações de ações. Em coordenações de coordenações de ações. Ou seja: vivendo juntos. Claro, uma vez por semana viver juntos uma hora, uma hora e meia, duas horas, ou, alguns estudantes, que permaneceram comigo mais horas ... Isso era viver juntos. Vocês podem dizer: “Sim, mas eu estava sentado escutando”. Isso se estavam verdadeiramente escutando, como espero. (Risos) - Estavam sendo tocados, alegrados, entristecidos, enraivecidos ... Quer dizer, se passaram todas as coisas do viver cotidiano. Mexeram com as ideias, rejeitaram algumas. Saíram daqui conversando isto e mais aquilo ... “Estou fazendo um trabalho ...” Estavam imersos na pergunta: “Como prosseguir? “, de acordo com o que lhes ia passando, vivendo juntos, comigo, em um espaço que se ia criando comigo.” Então, qual foi a minha tarefa? Criar um espaço de convivência.. Isto é ensinar.” Bem, eu ensinei a vocês. E vocês, ensinaram a mim? - Sim - Claro que sim! Ensinamo-nos mutuamente. “Ah, mas acontece que eu tinha a responsabilidade do curso, e ia guiando o que acontecia”. De certa forma, sim, de certa forma, não. De certa forma, sim, porque há certas coisas que eu entendo da responsabilidade e do 21 espaço no qual me movo nesta convivência, e tinha uma certa orientação, um fio condutor, um certo propósito. Mas vocês, com suas perguntas, foram empurrando esta coisa para lá, e para cá, e foram criando algo que foi se configurando como nosso espaço de convivência. E o maravilhoso de tudo isso é que vocês aceitaram que eu me aplicasse em criar um espaço de convivência com vocês. Vocês se dão conta do significado disso? Foi exatamente igual ao que ocorreu quando vocês chegaram, como crianças, ao jardim de infância, e estavam tristes, emburrados, a Mamãe se foi, estão chorando, “Aaaah, eu quero minha mãe”, e chega a professora, e oferece a mão, e vocês a recusam, mas ela insiste, e, então, vocês pegam sua mão. E o que se passa quando a criança pega na mão da professora? Aceita um espaço de convivência. Com vocês se passou a mesma coisa. Em algum momento, aceitaram minha mão. E, no momento em que aceitaram minha mão, passamos a ser co-ensinantes. Passamos a participar juntos neste espaço de convivência. E nos transformamos em congruência... De maneiras diferentes, porque, claro, temos vidas diferentes, temos diferentes espaços de perguntas, temos experiências distintas. Mas nos transformamos juntos, e agora podemos ter conversas que antes não podíamos. E quem é o professor? Alguém que se aceita como guia na criação deste espaço de convivência. No momento em que eu digo a vocês: “Perguntem”, e aceito que me guiem com suas perguntas, eu estou aceitando vocês como professores, no sentido de que vocês me estão mostrando espaços de reflexão onde eu devo ir. Assim, o professor, ou professora, é uma pessoa que deseja esta responsabilidade de criar um espaço de convivência, este domínio de aceitação recíproca que se configura no momento em que surge o professor em relação com seus alunos, e se produz uma dinâmica na qual vão mudando juntos. (*) Tradução do trecho final da aula de encerramento de Humberto Maturana no curso Biologia del Conocer (Facultad de Ciencias, Universidad de Chile), em 27/07/90. Gravado por Cristina Magro, transcrito por Nelson Vaz. 22 Figura 4: Para refletir Fonte: SCD/EaD/Segen. 3.2 Ação educativa: ensinar e aprender Observe que é no espaço de convivência que acontece dois dos processos que caracterizam a ação educativa: o ensino e a aprendizagem. Contudo, como bem colocou Maturana (apud MAGRO; VAZ, 1990, mimeo) em sua aula, é necessário que seus atores se transformem em “co-ensinantes”. Figura 5: Enfoque tradicional X enfoque dialético Fonte: a autora; SCD/EaD/Segen. A figura 5 mostra dois diferentes enfoques dos processos de ensino e de 23 aprendizagem: No enfoque tradicional, a verticalização é o organizador básico da estrutura de conhecimento. O professor tem o domínio do conhecimento válido, legitimado e o repassa ao aluno, elemento passivo que recebe esse conhecimento. Não há estímulo à autonomia, à autogestão do conhecimento, à criatividade e à inovação para apreender, processar e reconstruir conhecimentos com vistas a sua utilização em contextos diversos. (...) A metodologia dialética consiste na construção do conhecimento, criando condições para o aluno a fazer o caminho da síncrese para a síntese. Esse caminho deve ser mediado pela análise. Nesse caminho, a intencionalidade da prática pedagógica do docente deve estar voltada para a formação da autonomia do aluno, considerando-o um produtor de conhecimentos e não apenas um receptor/consumidor, como acontece no enfoque metodológico tradicional. (UCB, 2012, p. 3) Figura 6: Para refletir Fonte: SCD/EaD/Segen 3.3 As competências docentes 24 Perrenoud (2000), em seu livro Dez novas competências para ensinar, sistematiza um conjunto de competências necessárias à ação docente, mas destaca que não se trata de um referencial definitivo. O autor organiza as competências em 10 grandes famílias que abrangem um conjunto de habilidades: 1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. 2. Administrar a progressão das aprendizagens. 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação. 4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho. 5. Trabalhar em equipe. 6. Participar da administração da escola. 7. Informar e envolver os pais. 8. Utilizar novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. 10. Administrar sua própria formação contínua. Observe que as quatro primeiras competências apontam diretamente para o que deve ser, segundo os autores mais contemporâneos, a preocupação do professor, independente da modalidade que atue: a APRENDIZAGEM. Como se processa a aprendizagem? Durante muito tempo os educadores se perguntavam: como ensinar melhor? E istofez com que pensadores e educadores gastassem muito tempo na busca de metodologias que tornassem o ensino mais eficaz. A partir da década de 1990, estudos baseados nas ciências cognitivas e nas neurociências investigaram o cérebro humano e inverteram esta questão perguntando: como se processa a aprendizagem? 3.4 Compreendendo como se processa a aprendizagem 25 Para compreender melhor o processo de aprendizagem, pegue suas repostas sobre a dinâmica inicial, pois elas serão nosso ponto de partida. Quando iniciou a dinâmica você tinha de ser capaz de decifrar o texto. Esta era a competência exigida. Lembra-se da sua reação? Para algumas pessoas o texto representou um desafio, outras, talvez, tiveram outras reações. As reações iniciais geram motivos para querer ou não aprender algo. Diante do texto que trazia diversos signos novos – mesmo que alguns não fossem novos, da maneira como estavam dispostos não faziam sentido –, você identificou um conjunto conhecido. Esta foi a chave de entrada pelo texto. Os estímulos recebidos pelos sentidos precisam gerar significado. Os saberes prévios são a chaves para novas aprendizagens. Note que o ambiente contribui para a geração do que é significativo, tornando a aprendizagem um processo pessoal. Assim, como um único tamanho de sapato não serve para todos, uma determinada abordagem para a aprendizagem pode ser satisfatória para alguns, mas não para outros. Por isto uma das metas da aprendizagem hoje é que ela seja ‘sob medida’ o mais adequada possível a cada aprendiz. As novas tecnologias de comunicação oferecem excelentes condições de manuseio de palavras, imagens e sons que permitem a preparação de ambientes de aprendizagem para pessoas com diferentes estilos, ou perfis para adquirir informação e conhecimento. (LITTO, 2010, p. 19) Mas observe! Quando os signos conhecidos acabaram, como você fez para ler o texto? O que aconteceu dentro da sua cabeça? Se você respondeu dedução, está correto, mas vamos ampliar a sua reposta, pois entraram em cena uma série de processos mentais (dedução, comparação etc.) que possibilitaram ler o texto e, melhor, ampliaram suas estruturas mentais, deixando você pronto para novos desafios. Saiba mais... 26 Para que possa aprofundar seus conhecimentos sobre a contribuição das ciências cognitivas e das neurociências, leia nos materiais complementares o texto “Emergência da Neuroeducação: a hora e a vez da neurociência para agregar valor à pesquisa educacional”. Observe principalmente os quatorze princípios que formam o fio condutor da neuroeducação. <http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v15_1/m276_10.pdf> 27 Aula 4 – Aprendizagem no ambiente de trabalho 4.1 Desenvolvimento de competências organizacional e profissional Dentre as dez competências críticas apontadas por Band (1997, p. 226) para revolucionar as instituições, está a capacidade de aprender, ou seja, a capacidade de gerar o futuro, não como ideia pronta, acabada, mas como uma ideia em construção, possibilitando intervenções e antecipando exigências, necessidades e desafios atuais e futuros. A capacidade de aprender, colocada por Band (1997), exige, no âmbito organizacional, o desenvolvimento de outras três grandes capacidades de valor estratégico: Figura 7: Capacidades de valor estratégico Fonte: SCD/EaD/Segen As possibilidades advindas do desenvolvimento dessas capacidades é que sustentará a ideia de futuro e as possibilidades de intervenção. Sêneca, pensador Grego, já dizia que “todos os ventos são favoráveis, se não sabemos aonde queremos ir”. Sendo assim, as capacidades – diagnosticar, planejar e responder – exigirão um processo de tomada de decisão sobre ‘qual futuro será construído’, bem como sobre as intervenções que deverão ser feitas para construí- 28 lo. É esta decisão que norteará tanto os objetivos, quanto as ações da organização. Da tomada de decisão ao futuro idealizado forma-se, imaginariamente, uma linha contínua que liga o lugar de origem ao ponto de chegada. Esta linha representa o espaço de aprendizagem que a organização terá de percorrer para chegar aonde deseja. Esse espaço de aprendizagem necessita estar alinhado a dois focos – interdependentes – de desenvolvimento: organizacional e profissional. O foco organizacional gera capital estratégico (dados, informações e conhecimentos que possibilitam as tomadas de decisão) e o profissional gera o capital intelectual (aprendizado das pessoas que formam a organização). Quanto mais investimento for feito no capital intelectual maior será o desenvolvimento estratégico. Pensar nesses dois focos possibilitará um programa de educação continuada mais coerente, pois as aprendizagens relacionadas visam a atender, intencionalmente, as metas estabelecidas e os desejos de cada um dos profissionais envolvidos. O foco organizacional gera capital estratégico (dados, informações e conhecimentos que possibilitam as tomadas de decisão) e o profissional gera o capital intelectual (aprendizado das pessoas que formam a organização). Quanto mais investimento for feito no capital intelectual maior será o desenvolvimento estratégico. Pensar nesses dois focos possibilitará um programa de educação continuada mais coerente, pois as aprendizagens relacionadas visam a atender, intencionalmente, as metas estabelecidas e os desejos de cada um dos profissionais envolvidos. Cabe ainda destacar, no contexto da aprendizagem no ambiente de trabalho, a contribuição das tecnologias digitais de informação e da comunicação (TDICs), não apenas para acelerar mudanças, mas para favorecer a ampliação da capacidade de comunicação das pessoas e as possibilidades de aprendizagem. 29 Figura 8: Para refletir Fonte: SCD/EaD/Segen 30 Finalizando... Nesta unidade, você estudou que: Por não ser um produto acabado, a educação é vista como processo. Um processo dialético (pessoal e social) e contínuo (ao longo de toda a vida). “A educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser.” (MEC/UNESCO, 2001). Sendo uma modalidade, a EaD está submetida aos marcos referenciais e legais, bem como aos critérios de qualidade estabelecidos para a educação nacional. A preocupação do professor, independente da modalidade que atue, é a APRENDIZAGEM. A partir da década de 1990, estudos baseados nas ciências cognitivas e nas neurociências investigaram o cérebro humano e levantaram a seguinte questão: como se processa a aprendizagem? O foco organizacional gera capital estratégico (dados, informações e conhecimentos que possibilitam as tomadas de decisão) e o profissional gera o capital intelectual (aprendizado das pessoas que formam a organização). 31 MÓDULO 2 - Fundamentos para as ações formativas na área de segurança pública Apresentação do módulo Olá, vamos iniciar este módulo falando de um importante termo, a “matriz”, que suscita a possibilidade de um arranjo não-linear de elementos que podem representar a combinação de diferentes variáveis, o que significa que a Matriz Curricular Nacional expressa um conjunto de componentes a serem “combinados” na elaboração dos currículos específicos, ao mesmo tempo em que oportuniza o respeito às diversidades regionais, sociais, econômicas, culturais e políticas existentes no país, possibilitando a utilização de referências nacionais que possam traduzir “pontos comuns” que caracterizem a formação em Segurança Pública (MCN, 2014). Neste módulo, você estudará os fundamentos teórico-metodológicos que estão presentes na Matriz Curricular Nacional (MCN) e que servem de suporte para orientar as ações formativas da formação do profissional da área de segurançapública. Objetivo do módulo Ao finalizar o estudo desse módulo, você será capaz de: Reconhecer a importância da Matriz Curricular Nacional para as ações formativas de Segurança Pública realizadas pela Segen e pelas Unidades Federativas; Compreender a dinâmica, os aspectos teórico-metodológicos e os conceitos contidos na Matriz Curricular Nacional. 32 Estrutura do Módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 – Matriz Curricular Nacional Aula 2 – Principais pontos dos referenciais teóricos metodológicos da MCN 33 Aula 1 – Matriz Curricular Nacional 1.1 O que é? A Matriz Curricular Nacional (MCN) caracteriza-se por ser um referencial teórico-metodológico para orientar as ações formativas para os profissionais da área de segurança pública. A primeira versão da MCN foi lançada em 2003. A versão atual foi lançada em 2014. Veja a seguir o que a versão atual da MCN contempla: as competências profissionais extraídas do Perfil Profissiográfico; os princípios éticos, educacional e didático pedagógico; os objetivos; a dinâmica curricular: eixos articuladores e as áreas temáticas; as orientações teórico-metodológicas; as diretrizes pedagógicas da Segen; a malha curricular (núcleo comum) para as ações formativas das polícias militares e civis; a malha curricular (parte geral) para as ações formativas de bombeiros militares; as ementas das disciplinas. A figura abaixo apresenta a MCN de forma resumida. 34 35 Figura 9: Matriz Curricular Nacional Fonte: Matriz Curricular Nacional (2014, p.74) Saiba mais... Acesse o texto completo do documento Matriz Curricular Nacional – 2014, para ações formativas dos profissionais da área de Segurança Pública. <https://www.justica.gov.br/central-de-conteudo/seguranca- publica/livros/matriz-curricular-nacional_versao-final_2014.pdf> Veja a seguir os fundamentos dos processos de ensino e de aprendizagem contidos na MCN. 1.2 Compreendendo a MCN No âmbito da MCN, competência é entendida como: A capacidade de mobilizar saberes para agir nas diferentes situações da prática profissional, em que as reflexões antes, durante e após a ação estimulem a “autonomia intelectual” (MCN, 2014, p.18). Para Altet (1992), autonomia intelectual é a capacidade de: 36 “agir em situações diferentes, de gerir incertezas e poder enfrentar as mudanças no exercício de sua profissão”. A MCN trabalha com três conjuntos de competências: Competências Cognitivas São competências que requerem o desenvolvimento do pensamento por meio da investigação e da organização do conhecimento. Elas habilitam o indivíduo a pensar de forma crítica e criativa, posicionar-se, comunicar-se e estar consciente de suas ações. Competências Operativas São as competências que preveem a aplicação do conhecimento teórico em prática responsável, refletida e consciente. Competências Atitudinais São competências que visam estimular a percepção da realidade, por meio do conhecimento e do desenvolvimento das potencialidades individuais: conscientização de sua pessoa e da interação com o grupo; capacidade de conviver em diferentes ambientes: familiar, profissional e social. Figura 10: Mobilização das Competências Fonte: MCN (2014, p.37). 37 Importante! É importante ressaltar que essas competências possuem uma relação estreita com os eixos ético, legal e técnico que, de acordo com Balestreri (1998), estão presentes na formação do profissional da Área de Segurança Pública; com os Quatro Pilares da Educação propostos pela Unesco: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver; e com as dimensões do conhecimento: saber, saber fazer e saber ser (MCN, 2014, p. 20). Saiba mais... As competências utilizadas na MCN (2014) foram extraídas dos relatórios dos documentos Estudo Profissiográfico e Mapeamento de Competências: perfil dos cargos das instituições estaduais de Segurança Pública, elaborados pela SENASP. <https://www.mpma.mp.br/arquivos/CAOPCEAP/Profissiografia.pdf> 1.2.1 Princípios e objetivos Os princípios são preceitos que fundamentam a concepção das ações formativas para os profissionais da área de segurança pública, dos quais podem-se destacar os Direitos Humanos e Cidadania, referenciais éticos normativos-legais e práticos. 38 Veja a seguir o que a Matriz Curricular Nacional indica como objetivos gerais essenciais à formação: a compreensão do exercício da atividade de Segurança Pública como prática da cidadania; o posicionamento crítico, responsável e construtivo nas diferentes situações sociais; a percepção dos agentes transformadores da realidade social e histórica do país; o conhecimento e valorização da diversidade que caracteriza a sociedade brasileira; o conhecimento e domínio das diversas técnicas ao uso legal da força e da arma de fogo; o desenvolvimento do autoconhecimento dos profissionais da segurança pública; a utilização de diferentes linguagens, fontes de informação e recursos tecnológicos que norteiam a atuação dos profissionais da área de segurança pública. 1.2.2 Dinâmica Curricular A dinâmica e a flexibilidade da Matriz Curricular Nacional encontram-se nos Eixos Articuladores e nas Áreas Temáticas, onde a interação dos seus conteúdos produzirá a resposta à demanda complexa das ações formativas para área de segurança pública. Os Eixos Articuladores estruturam o conjunto dos conteúdos formativos, em que foram definidos por sua pertinência na discussão da Segurança Pública e por envolverem problemáticas sociais atuais e urgentes, enfrentadas pelos profissionais, considerados de abrangência nacional. Os quatro eixos articuladores, relacionados a seguir são: 39 Figura 11: Eixos Articuladores Fonte: MCN (2014, p.42). As áreas temáticas contemplam os conteúdos indispensáveis à formação do profissional da segurança pública, isto é, devem convergir para capacitá-los no exercício de sua função. Foram elencadas 8 (oito) áreas temáticas destinadas a acolher um conjunto de conhecimentos a serem tratados nos currículos das ações formativas. 40 Figura 12: 8 Áreas temáticas Fonte: SCD/EaD/Segen. 41 Figura 13: Área temáticas Fonte: MNC (2014, p.45). O movimento entre os eixos articuladores e as áreas temáticas é constante. É válido ressaltar que todo este movimento possui como concretização final de todo o processo de formação à área temática funções, técnicas e procedimentos em segurança pública, que instrumentalizará o profissional de segurança pública no desempenho de sua função. 1.4 Malhas Curriculares Malha curricular é o termo utilizado para substituir a expressão “grade curricular”. Na palavra malha está contida a representação das disciplinas dispostas sobre algo flexível e maleável que possibilita diversas articulações entre elas. As Malhas Curriculares que compõe a nova Matriz foram elaboradas por um grupo de trabalho multidisciplinar e institucional, a partir das competências dos 42 profissionais de Segurança Pública, já apresentadas nesse documento. As Malhas Curriculares para as Ações Formativas dos Profissionais de Segurança Pública constituem um núcleo comum de disciplinas, agrupadas por áreas temáticas, que congregam conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, com o objetivo de garantir a unidade de pensamento e ação dos profissionais da área de Segurança Pública. Malha curricular para as ações formativas das polícias militares e civis (Núcleo Comum); Malha curricular para as ações formativas dos bombeiros militares (Parte Geral). Grupos de trabalho - Os gruposde trabalhos que participaram das atividades descritas foram constituídos por policiais militares, policiais civis e bombeiros militares que atuam em áreas contempladas pelas disciplinas que compõem as Malhas Curriculares da MCN. 1.5 Ementas As ementas das disciplinas do núcleo comum/parte geral foram elaboradas por profissionais da área de Segurança Pública. As ementas das disciplinas que compõem o núcleo comum das Malhas Curriculares têm por objetivo subsidiar a prática pedagógica dos docentes envolvidos diretamente nas Ações Formativas dos Profissionais da Área de Segurança Pública, favorecendo a unidade de pensamento e ação desses profissionais. Todos os componentes das ementas das disciplinas estão focados no público de interesse do SUSP (Sistema Único de Segurança Pública). 43 Veja quem são os integrante do SUSP. CAPÍTULO III DO SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA PÚBLICA Seção I Da Composição do Sistema Art. 9º É instituído o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), que tem como órgão central o Ministério Extraordinário da Segurança Pública e é integrado pelos órgãos de que trata o art. 144 da Constituição Federal , pelos agentes penitenciários, pelas guardas municipais e pelos demais integrantes estratégicos e operacionais, que atuarão nos limites de suas competências, de forma cooperativa, sistêmica e harmônica. § 1º São integrantes estratégicos do Susp: I - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por intermédio dos respectivos Poderes Executivos; II - os Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social dos três entes federados. § 2º São integrantes operacionais do Susp: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III – (VETADO); IV - polícias civis; V - polícias militares; VI - corpos de bombeiros militares; VII - guardas municipais; VIII - órgãos do sistema penitenciário; IX - (VETADO); X - institutos oficiais de criminalística, medicina legal e identificação; XI - Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp); XII - secretarias estaduais de segurança pública ou congêneres; XIII - Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec); XIV - Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas (Senad); XV - agentes de trânsito; XVI - guarda portuária. § 3º (VETADO). § 4º Os sistemas estaduais, distrital e municipais serão responsáveis pela implementação dos respectivos programas, ações e projetos de segurança pública, com liberdade de organização e funcionamento, respeitado o disposto nesta Lei. 44 Atenção! Alguns cursos podem ter público-alvo restrito, de acordo com o conteúdo e com os objetivos da capacitação. Saiba mais... Consulte as ementas das disciplinas que compõem as malhas curriculares no documento da Matriz Curricular Nacional. <https://www.justica.gov.br/central-de-conteudo/seguranca- publica/livros/matriz-curricular-nacional_versao-final_2014.pdf> 45 Aula 2 – Principais pontos dos referenciais teóricos metodológicos da MCN Os referenciais teórico-metodológicos apresentados a seguir ampliam o quadro conceitual descrito na Matriz Curricular Educacional, visando à fundamentação dos currículos a partir de teorias e metodologias que sejam suporte para o desenvolvimento das competências necessárias à formação do profissional da área de segurança pública. Um modelo curricular organizado em competências requer: Compreensão ampla dos conhecimentos necessários à ação policial e da metodologia a ser usada; Prática docente que não se restrinja à aprendizagem de conceitos, mas que promova aplicação destes em várias situações; Compreensão de que a competência a ser demonstrada vai além da mera execução de uma tarefa, fazendo da prática docente uma prática voltada para a autonomia do policial em formação, para que possa utilizar os conhecimentos e melhorar cada vez mais o seu desempenho; Novo tratamento dos conteúdos para que sejam entendidos como recursos a serem mobilizados pelo policial em situações concretas, privilegiando os que podem ser utilizados como instrumentos teórico- práticos, orientando a tomada de decisão na ação profissional; Comprometimento do docente com o crescimento do policial em formação e com o desenvolvimento de competências; Utilização de práticas que estimulem a criatividade, fortaleçam a ação educativa e a visão global do conhecimento, em estreita relação com os contextos em que será aplicado. As ações formativas na área de segurança pública exigem práticas pedagógicas diferenciadas e significativas que criem condições para que ocorra a transferência de conhecimentos. De acordo com Perrenoud (2000), a transferência é: 46 Um processo que ocorre permanentemente e pode ser expressa como a capacidade de aplicar conhecimentos prévios em novos contextos, com o objetivo de identificar similitudes e diferenças para agir em novas situações. Essa questão remete à importância de uma metodologia que tenha como ponto de partida situações problematizadoras inerentes à ação dos profissionais da área de segurança pública. A simulação de situações reais no contexto de aprendizagem é importante porque a prática dos profissionais da área de segurança pública requer destrezas operacionais que permitam a execução de procedimentos com segurança, técnica e atitudes relacionadas com o sentimento de humanidade, respeito aos direitos humanos e compromisso social, fundamentos que asseguram o exercício profissional ético. Os programas de educação profissional, com currículos dirigidos para competências requeridas pelo contexto de uma área profissional, caracterizam-se por um conjunto significativo de problemas e projetos, reais ou simulados, propostos aos participantes e que desencadeiam ações resolutivas, incluídas as de pesquisa e estudo de conteúdo (MEC, 2000, p. 31). A partir da crítica à formação profissional sempre relacionada somente com o campo teórico e organizada de forma cartesiana, SCHÖN (2000), em Educando o Profissional Reflexivo, propõe um novo desenho para o ensino e a aprendizagem, em que a teoria e a prática possam estar em constante interação. A chave para que essa interação seja constante está nas condições criadas para que os “estudantes” exercitem-se diante de um problema, além dos processos de refletir antes e após a ação, a reflexão – na – ação. A reflexão – na – ação tem uma função crítica... Pensamos criticamente sobre o pensamento que nos levou a essa situação difícil ou essa oportunidade e podemos, nesse processo, reestruturar as estratégias de ação, as compreensões dos fenômenos ou as formas de conceber os problemas (SHÖN, 2000, p. 33). 47 A compreensão da importância dos profissionais da área de segurança pública exercitarem o processo de refletir – na – ação auxilia no desenvolvimento de uma atitude contínua de aprender a aprender e de ampliar as habilidades para buscar novas informações que gerem novos conhecimentos. Além de novos ambientes de aprendizagem, o modelo curricular por competência exige a substituição do professor que transmite informações pelo professor que contribui para a construção e apropriação do conhecimento. De mero transmissor de saberes [o professor] deverá converter-se em formulador de problemas, provocador de interrogações, coordenador de equipes de trabalho, sistematizador de experiências e memória viva de uma educação que, em lugar de se aferrar ao passado [transmissão], valoriza e possibilita o diálogo entre culturas e gerações (SILVA, 2002, p. 70). Cabe ao professor assumir um papel ativo e crítico, viabilizando experiências, abrindo espaços para que os profissionais da área de segurança pública possam ampliar, aprofundar, transferir conhecimentos e refletir sobre a prática e as relações desta com o conhecimento e com o mundo.Figura 14: Para refletir Fonte: SCD/EaD/Segen. 48 A opção consciente por uma metodologia gera inúmeras questões, das quais se elegeram algumas como desafio para direcionar a reflexão sobre a ação pedagógica nas ações formativas, visando favorecer o desenvolvimento de competências: Quais são os saberes significativos que precisam ser mobilizados durante as ações formativas, sendo transferíveis à prática profissional? Quais situações de aprendizagem precisam ser organizadas para superar a prática de mera transmissão de conteúdos? Como organizá-las? Quais implicações o modelo de competências traz para a ação do professor? As respostas e as soluções a essas questões devem ser construídas coletivamente, pautadas na observação do desempenho dos profissionais da área de segurança pública e nas reais necessidades do contexto social, com vistas a levantar pontos que contribuam para o melhor desenho do planejamento das intervenções pedagógicas durante o processo de aprendizagem. A metodologia é o elemento central na execução do currículo, pois possibilita o desenvolvimento do processo pedagógico. O planejamento encadeado das atividades para uma aprendizagem coerente com as competências e os objetivos selecionados favorece a reflexão e o levantamento de conhecimentos que possibilitem formas diferenciadas de ação com a utilização variada de materiais e estratégias de aprendizagem individual e em grupo. Nos módulos 3 e 4 você conhecerá alguns instrumentos que o ajudarão a colocar em prática os pontos abordados neste módulo. 49 Finalizando... Neste módulo, você estudou que: A Matriz Curricular Nacional (MCN) caracteriza-se por ser um referencial teórico-metodológico para orientar as ações formativas para os profissionais da área de segurança pública. A versão atual da MCN contempla: as competências profissionais extraídas do Perfil Profissiográfico; os princípios éticos, educacional e didático pedagógico; os objetivos; a dinâmica curricular: eixos articuladores e as áreas temáticas; as orientações teórico-metodológicas; as diretrizes pedagógicas da Segen; a malha curricular (núcleo comum) para as ações formativas das polícias militares e civis; a malha curricular (parte geral) para as ações formativas de bombeiros militares; as ementas das disciplinas. As ações formativas na área de segurança pública exigem práticas pedagógicas diferenciadas e significativas que criem condições para que ocorra a transferência de conhecimentos. A simulação de situações reais no contexto de aprendizagem é importante porque a prática dos profissionais da área de segurança pública requer destrezas operacionais que permitam a execução de procedimentos com segurança, técnica e atitudes relacionadas com o sentimento de humanidade, respeito aos direitos humanos e compromisso social, fundamentos que asseguram o exercício profissional ético. Cabe ao professor assumir um papel ativo e crítico, viabilizando experiências, abrindo espaços para que os profissionais da área de segurança pública possam ampliar, aprofundar, transferir conhecimentos e refletir sobre a prática e as relações desta com o conhecimento e com o mundo. A metodologia é o elemento central na execução do currículo, pois possibilita o desenvolvimento do processo pedagógico. 50 Módulo 3 - Planejamento de Ensino Apresentação do módulo Para agir pedagogicamente é necessário que, além do referencial teórico metodológico da MCN, você domine os instrumentos técnico-metodológicos que possibilitarão planejar e desenvolver as ações pedagógicas. Neste módulo você estudará os princípios e as características do planejamento de ensino, seu processo de elaboração e seus elementos básicos, a partir do mapa de competências. Objetivo do módulo Ao finalizar o estudo desse módulo, você será capaz de: Elaborar o mapa de competências; Diferenciar os tipos de conteúdos; Selecionar conteúdos alinhados às competências; Elaborar objetivos com foco na aprendizagem; Elaborar planos de ensino. Estrutura do Módulo Este módulo contempla as seguintes aulas: Aula 1 – Mapa de competências e a mobilização de saberes Aula 2 – Planejando o ensino 51 Aula 1 – Mapa de competências e a mobilização de saberes 1.1 O mapa como ponto de partida As ações pedagógicas deverão ter como ponto de partida a elaboração do mapa de competências (Figura 15), um instrumento que auxilia os profissionais envolvidos no processo formativo a pensar de forma estratégica e intencional sobre o conjunto de competências profissionais que serão desenvolvidas durante o processo de aprendizagem, mediante as condições de ensino que serão criadas. Figura 15: Mapa de Competências Fonte: Cordeiro; Gonçalves, 2003. No módulo 2 você estudou a definição de competências que fundamenta o referencial teórico utilizado na MCN, lembra? Que tal escrevê-la com suas palavras antes de prosseguir? Dada as transformações ocorridas na sociedade e, notadamente, no mundo do trabalho, o conceito de competência tem sido tema de debates e discussões entre os teóricos. Por isso, faz-se necessário explicitar o conceito que está sendo utilizado. Assim, temos competência como: A capacidade de mobilizar saberes para agir nas diferentes situações da prática profissional, em que as reflexões antes, durante e após a ação estimulem a “autonomia intelectual” (MCN, 2014, p. 18). 52 O termo mobilização de saberes deverá ser bem observado pelos profissionais envolvidos nas ações formativas, pois possibilita, dentre outras, a compreensão de três pistas que evidenciam pontos importantes relacionados aos processos pedagógicos. São elas: Figura 16: Pistas do Processo pedagógico Fonte: SCD/EaD/Segen. A primeira pista nos encaminha para a compreensão de que os saberes a serem mobilizados dizem respeito à capacidade de “saber”, “saber fazer” e “saber ser” (DELORS, 2000), e para isto a pessoa necessitará mobilizar conhecimentos (saber), habilidades (saber fazer) e atitudes (saber ser). Podemos aprender conhecimentos sistematizados (fatos, conceitos, princípios, métodos de conhecimento etc.); habilidades e hábitos intelectuais e sensor-motores (observar um fato e extrair conclusões; destacar propriedades e relações das coisas; dominar procedimentos para resolver exercícios; escrever e ler; usar adequadamente os sentidos, manipular objetos e instrumentos etc.); atitudes e valores (por exemplo, perseverança e responsabilidade no estudo, modo científico de resolver problemas humanos, senso crítico frente aos objetos de estudos e à realidade, espírito de camaradagem e solidariedade, convicções, valores humanos e sociais, interesse pelo conhecimento, modos de convivência social etc.) (LIBÂNEO, 2004, p. 83). Assim, para elaborar o mapa de competências, a primeira ação é fazer uma 53 lista dos conhecimentos, habilidades e atitudes que serão desenvolvidos, considerando a temática do curso ou disciplina a ser planejada. De acordo com Cordeiro (2008), chega-se a esta lista por meio das respostas que completam as seguintes sentenças: Este curso/esta disciplina criará condições para que os participantes possam: ampliar conhecimentos para: ... desenvolver habilidades para: ... fortalecer atitudes para: ... Observe, na figura 17, que as respostas que completam essas sentenças deverão ser escritas no mapa de competências em forma de objetivos de aprendizagem, apresentando por meio dos verbos no infinitivo as ações e operações mentais a serem realizadas pelo estudante de acordo com o tipo de saber mobilizado. Veja, na figura 17, o exemplo de um mapa preenchido. Atenção: Os conhecimentos, as habilidades e as atitudes descritas no mapa foram utilizadosa título de exemplo, não tendo sido exploradas todas as possibilidades para o seu preenchimento. 54 Figura 17: Exemplo de Mapa de Competências Fonte: Cordeiro; Gonçalves, 2003. Adaptado. Com o mapa elaborado, passa-se então para a segunda pista apontada pelo termo mobilização de saberes: a organização curricular do curso e da ementa da disciplina. De acordo com Ramalho, Nuñez e Gauthier (2003), organizar um currículo por competência exige que o participante das ações a serem desenvolvidas seja preparado para utilizar a reflexão crítica em relação às tarefas da sua prática, às metodologias e técnicas utilizadas na sua profissão e ao ambiente em que desempenha as tarefas. A análise dos saberes a serem mobilizados e das possibilidades de abordagens sobre eles possibilita a seleção dos conteúdos que compõe a malha curricular do curso/da ementa da disciplina, categorizando-os como conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Sendo: 55 Conteúdos Conceituais Aqueles relacionados aos conceitos, leis, teorias, princípios e doutrinas que o profissional da área de segurança pública deve saber em relação ao campo disciplinar. Conteúdos Procedimentais Aqueles que indicam os conteúdos relacionados aos métodos, técnicas e procedimentos que o profissional de segurança pública precisa demonstrar em relação ao campo disciplinar. Conteúdos Atitudinais Aqueles que expressam conteúdos relacionados a valores, crenças e atitudes e que deverão ser fortalecidos pelas situações vivenciadas dentro de um determinado campo disciplinar. A figura 18 mostra a seleção do mapa de conteúdos a partir do mapa de competências. Atenção: Os saberes e conteúdos descritos no mapa foram utilizados a título de exemplo, não tendo sido exploradas todas as possibilidades para o seu preenchimento. 56 Figura 18: Exemplo da Seleção de Conteúdo a partir do Mapa de Competências Fonte: Cordeiro; Gonçalves, 2003. Adaptado. Uma vez listados os conteúdos, é possível agrupá-los, por afinidade, em campos de conhecimentos, módulos e unidades. 57 Importante! A Matriz Curricular Nacional apresenta para cada disciplina da sua malha curricular uma ementa. Consulte-a, pois é excelente subsídio para consulta Compreendeu a utilização do mapa? Mas calma, pois ele ainda não entrará em ação. A terceira pista advinda do termo mobilização de saberes você estudará no módulo 4. Estude, a seguir, outros aspectos importantes do planejamento de ensino. 58 Aula 2 – Planejando o ensino Qual a diferença entre planejamento e plano? 2.1 Planejamento X Plano Planejamento - Ato de refletir sobre as possibilidades de escolhas e, consequentemente, de ações a serem tomadas. É uma relação dialética, pois possibilita o diálogo constante entre reflexão – ação. Exemplo: Análise sobre os saberes do mapa para a seleção de conteúdos é uma ação de planejamento. Plano - Produto final do planejamento. Um registro escrito, sistematizado e com justificativa sobre: O que será feito? Para quem será feito? Por que será feito? Como será feito? Quando será feito? Quem participará da ação? Os planos de ensino são ferramentas indispensáveis para a prática educacional. Os registros possibilitam a pesquisa e a reflexão sobre a prática pedagógica - antes e após a ação - e ao mesmo tempo reforça a necessidade e a importância do registro da ação. 59 2.2 Princípios e características do planejamento das ações formativas O planejamento apresenta os seguintes PRINCÍPIOS: Princípio da hierarquização dos objetivos O planejamento das ações formativas precisa ter uma finalidade, um propósito relacionado com os objetivos máximos da instituição e das diretrizes da secretaria estadual e da Segen. Princípio da precedência do planejamento O planejamento possui uma importância dentre as outras funções realizadas. Qualquer que seja a ação formativa a ser realizada, seja em âmbito estadual, seja no interior do centro de formação ou na sala de aula deverá ser intencional, portanto, envolverá planejamento. Princípio da abrangência, ou princípio da participação O planejamento é um instrumento de realização de mudanças. Mudanças mobilizam pessoas e exigem o compartilhamento de ideias, divisão de responsabilidades e seleção de meios. Exige também habilidades de negociação e consenso na compatibilização dos interesses do grupo. Princípio da abordagem sistêmica As ações planejadas irão desencadear novas ações. Quanto maior e melhor for a relação entre essas ações e os objetivos do planejamento, maior será a sinergia existente e, consequentemente, os impactos para o sistema de segurança pública. 60 CARACTERÍSTICAS: Coerência e Unidade O planejamento deve possuir uma estreita relação entre objetivos, os meios e as ações propostas. Continuidade e sequência As atividades e ações previstas precisam estar integradas do começo ao fim. Flexibilidade Todo planejamento deve considerar a possibilidade de mudanças durante a sua execução. Contextualização O planejamento precisa estar adequado às demandas e desafios do contexto social no qual está inserido. Precisão e clareza O planejamento deverá possuir uma linguagem simples e clara, com indicações precisas para não possibilitar dupla interpretação. 2.3 Planos de Ensino: processo de elaboração Qualquer que seja o tipo de plano de ensino é importante que seja coerente com fundamentos conceituais e metodológicos descritos na Matriz Curricular Nacional. 61 2.3.1 Elementos do plano de ensino Um bom plano de ensino apresenta, geralmente, os seguintes elementos: Figura 19: Elementos do plano de ensino Fonte: SCD/EaD/Segen. Antes de prosseguir, leia estude um pouco mais sobre objetivos de aprendizagem. 62 Objetivos de aprendizagem Os objetivos de aprendizagem devem descrever aquilo que se espera do desempenho dos estudantes, a partir de uma sequência de ensino-aprendizagem, podendo ser de dois níveis: gerais e específicos. Objetivos gerais “(...) podem ser finais ou intermediários, de acordo com sua função: dirigir o processo de ensino-aprendizagem para um resultado final, ou garantir a progressão das aprendizagens rumo à consecução dos objetivos finais” (COLL, 2001, p. 69). Objetivos específicos Que decorrem dos objetivos gerais, orientando o professor para: descrever as competências (saberes que serão mobilizados: conhecimentos, habilidades e atitudes) a serem desenvolvidas pelo aluno, em seu processo de aprendizagem; selecionar as estratégias de ensino-aprendizagem; auxiliar o processo de mediação pedagógica; delimitar os conteúdos a serem explorados e as atividades; criar mecanismos de avaliação; e refletir sobre a sua ação. Para auxiliar na definição de objetivos de aprendizagem e na elaboração de atividades, é importante que você conheça a Taxonomia de Bloom, desenvolvida originalmente na década de 50, e revisada por Lorin Anderson e David Krathwohl, em 2001. Bloom e sua equipe desenvolveram um sistema de classificação que compreende três domínios: o cognitivo, o afetivo e o psicomotor. Veja a seguir a descrição e os níveis de cada domínio. 63 Domínio Cognitivo Abrange a classificação, o conhecimento e as habilidades intelectuais relacionadas, que envolvem conhecimento, compreensão e o pensamento sobre um problema, fato ou situação. Figura 20: Níveis do domínio cognitivo Fonte: do conteudista. Domínio Afetivo 64 Trata da classificação das reações de ordem afetiva (emoções, sentimentos, valores, crenças, entusiasmo, motivação), de empatia e atitudinais. Figura 21: Níveis dodomínio afetivo Fonte: do conteudista. Domínio Psicomotor Abrange a classificação das habilidades relacionadas com manipular ferramentas ou objetos. 65 Figura 22: Níveis do domínio psicomotor Fonte: do conteudista. Por meio desses domínios, o professor pode descrever o comportamento do aluno, observando-o em relação à aprendizagem. Exemplo Numa aula da disciplina abordagem o aluno deverá ser capaz de: Executar os procedimentos específicos para cada tipo de abordagem. A ação de “executar” (execução) é o comportamento que deverá ser executado pelo aluno e observado pelo professor. Além do comportamento observável (desempenho), Bloom destacava a necessidade de incluir no planejamento as condições e os critérios. 66 Exemplo: Após demonstrações e simulações envolvendo procedimentos de abordagem, o aluno deverá ser capaz de executar, corretamente, o tipo de abordagem solicitado. Então, veja! De acordo com o exemplo acima, temos: Condição - após demonstrações e simulações. Desempenho - o aluno deverá ser capaz de executar o tipo de abordagem solicitado. Critério - corretamente. Na releitura da Taxonomina de Bloom, realizada em 2001, por Lorin Anderson e David Krathwohl, além do comportamento observável eles agregaram duas dimensões: conteúdo e processo. Sendo: Conteúdo Tipo de conteúdo a ser aprendido (conceitual, procedimental, atitudinal). Processo Processos que serão utilizados pelos alunos para aprenderem. Assim temos a seguinte estrutura: Comportamento observável + Conteúdo + processo Essa estrutura possibilita que o professor possa definir com clareza os objetivos, alinhar os procedimentos – para criar as condições favoráveis a aprendizagem – e selecionar os conteúdos e os instrumentos de avaliação da aprendizagem. Exemplo: 67 Executar os procedimentos específicos para cada tipo de abordagem nas demonstrações e simulações vivenciadas. Anderson e Krathwohl (2001) dedicaram-se a revisão do domínio cognitivo, apresentando uma classificação, conforme a figura a seguir: Figura 23: Revisão do domínio cognitivo por Anderson e Krathwohl (2001) Fonte: http://missglauedu.weebly.com/taxonomia-de-bloom-e-tecnologia.html Agora, que compreendeu como são redigidos os objetivos, prossiga! 2.3.2. Tipos de plano de ensino A prática educativa irá necessitar de diferentes tipos de planos. A elaboração dos planos de ensino irá depender da sua finalidade, da abrangência das ações do planejamento, do número de pessoas envolvidas e de 68 como será o acompanhamento das ações. Plano de Curso Instrumento dividido por unidades sequenciais, no qual aparecem os principais elementos do planejamento (a identificação da disciplina, objetivos geral e específicos, conteúdos, metodologia e avaliação). Nos modelos com foco no desenvolvimento de competências, estas também devem estar descritas. O plano de curso pode servir para registrar tudo sobre uma disciplina ou para descrever um determinado curso. Plano de Unidade É o registro detalhado de cada unidade contida no plano de curso. O plano de unidade possui a descrição dos objetivos, número de aulas e os conteúdos que serão vistos em cada unidade. Plano de Aula Registro indispensável para a ação do professor. Um bom plano de aula contém objetivos específicos, descrição do conteúdo, técnicas de ensino a serem utilizadas na aula, atividades, detalhamento dos recursos e formas de avaliação de aprendizagem. 2.3.3 Organização das atividades Segundo Cordeiro e Silva (2005), o professor que atua nas ações formativas dos profissionais da área de segurança pública precisará estar atento para que as atividades selecionadas possam ajudar aos estudantes a serem profissionais reflexivos, ou seja, profissionais que utilizam a autonomia intelectual. Em outras palavras, que sejam capazes de “transferir conhecimentos”, se adaptando às diversas situações profissionais e a novas situações. As atividades propostas aos alunos deverão ser organizadas considerando os seguintes pontos: 69 No planejamento das aulas Elabore um mapa de competências da disciplina com base na ementa; Procure conhecer as características dos alunos: quem são? De onde vem? Já são profissionais de segurança pública? Crie outros ambientes de aprendizagem que estejam além da sala de aula; Estabeleça a relação os conteúdos (conceitual, procedimental e atitudinal) que serão trabalhados por meio de técnicas de ensino; Selecione/crie situações problemas para propor atividades. Durante as aulas Esclareça para o grupo as competências e habilidades que terão que desenvolver; Seja claro nas propostas de atividades; Intervenha quando necessário, dentro da necessidade do grupo; Encoraje a ação; Estimule a reflexão sobre o que eles estão fazendo, questionando sempre o “por quê?” Evite dar respostas prontas; Dê e peça feedback; Possibilite que os alunos possam sistematizar e socializar o que aprenderam. Após as aulas Reflita sobre sua atuação; Avalie os resultados; Replaneje as ações. 70 Finalizando... Neste módulo, você estudou que: As ações pedagógicas deverão ter como ponto de partida a elaboração do mapa de competências, um instrumento que auxilia os profissionais envolvidos no processo formativo a pensar de forma estratégica e intencional sobre o conjunto de competências profissionais que serão desenvolvidas durante o processo de aprendizagem, mediante as condições de ensino que serão criadas. O termo mobilização de saberes deverá ser bem observado pelos profissionais envolvidos nas ações formativas, pois possibilita, dentre outras, a compreensão de três pistas que evidenciam pontos importantes relacionados aos processos pedagógicos. A análise dos saberes a serem mobilizados e das possibilidades de abordagens sobre eles possibilita a seleção dos conteúdos que compõe a malha curricular do curso/da ementa da disciplina, categorizando- os como conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Os planos de ensino são ferramentas indispensáveis para a prática educacional. Os registros possibilitam a pesquisa e a reflexão sobre a prática pedagógica - antes e após a ação - e ao mesmo tempo reforça a necessidade e a importância do registro da ação. Qualquer que seja o tipo de plano de ensino, é importante que seja coerente com fundamentos conceituais e metodológicos descritos na Matriz Curricular Nacional. A prática educativa irá necessitar de diferentes tipos de planos. A elaboração dos planos de ensino irá depender da sua finalidade, da abrangência das ações do planejamento, do número de pessoas envolvidas e de como será o acompanhamento das ações. Segundo Cordeiro e Silva (2005), o professor que atua nas ações formativas dos profissionais da área de segurança pública precisará estar atento para que as atividades selecionadas possam ajudar os estudantes a serem profissionais reflexivos, ou seja, profissionais que utilizam a autonomia intelectual, sendo capazes de “transferir conhecimentos” se adaptando às diversas situações profissionais e à novas situações. 71 Módulo 4 - Abordagens, metodologias e técnicas Apresentação do módulo Neste módulo você estudará os mecanismos metodológicos do processo de ensino que auxiliam a criação de sentidos para aprendizagem. São eles: as abordagens curriculares, as técnicas de ensino - incluindo as metodologias ativas -, os recursos pedagógicos, e as tecnologias digitais. Esses mecanismos estão relacionados à terceira pista referente à mobilização de saberes: o processo de ensino. Objetivos do Módulo Ao finalizar o estudo desse módulo, você será capaz de: Reconhecer as contribuições
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