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Rafaela Gontijo Lima - @rafaela_gontijo Artrite reumatoide Artrite reumatoide é uma doença inflamatória, tendo como base um processo inflamatório crônico que acomete as articulações. É uma doença imunomediada. O diagnóstico é clínico, através de sinais e sintomas. É uma doença sistêmica inflamatória crônica e progressiva, sendo erosiva, acometendo a membrana sinovial de várias articulações e gerando a destruição óssea e cartilaginosa. A origem dessa doença é desconhecida, mas multifatorial. Associada principalmente com fatores genéticos, hormonais, ambientais e imunológicos. Acomete mais as mulheres e sua incidência aumenta com a idade. Hormônios sexuais femininos possuem um papel protetor; anticoncepcionais e gestação diminuem o risco. Existe uma predisposição genética, com prevalência de até 70% dos genótipos HLA-DR4, responsável pelo reconhecimento do antígeno que inicia a doença. Os fatores imunológicos ocorrem por mimetismo molecular pelo organismo de fatores de estresse que ativa a resposta imune. Assim, um estímulo desconhecido ativa as células TCD4, ampliando e perpetuando a inflamação. Isso estimula as células B policlonais, alterando a funcionalidade dos fibroblastos sinoviais (induzindo características destrutivas), isso gerando uma sinovite proliferativa e invasiva, gerando a erosão. Um dos anticorpos positivos em grande parte dos pacientes com artrite reumatoide é o fator reumatoide. Assim, a erosão da cartilagem e do osso é mediada por macrófagos, fibroblastos, células T e células B na membrana sinovial. Essas células são estimuladas por citocinas dos linfócitos T ativados e por imunocomplexos. O fator reumatoide é um auto anticorpo, na maioria das vezes IgG. Ele possui especificidade para moléculas de IgG. Quando esse IgG se liga no outro IgG, gera o imunocomplexo. Evidências do envolvimento da IL-1 e do TNF-alfa como mediadores da lesão do tecido articular na artrite reumatoide foram encontradas. Altos níveis destas citocinas ou de seu RNAm na sinóvia reumatoide foram encontrados em locais de ativa destruição tecidual. Quadro clínico na artrite reumatoide Dor, edema, calor e vermelhidão em qualquer articulação do corpo, principalmente em mãos e punhos. Febre, astenia, fadiga, mialgia e perda ponderal podem preceder ou acompanhar o início das manifestações articulares. As articulações inflamadas provocam rigidez matinal, com duração de aproximadamente uma hora. Com a progressão da doença, há destruição da cartilagem articular e os pacientes podem desenvolver deformidades e incapacidade para realização de suas atividades, tanto de vida diária como profissional. Pode-se ter a presença de nódulos subcutâneos por penetração das células do sistema imune. O comprometimento da coluna lombar e dorsal é raro, mas a coluna cervical é frequentemente envolvida. O dano articular é irreversível. As deformidades mais comuns ocorrem em articulações periféricas como os dedos. Critérios diagnósticos Rigidez articular matinal, com mínimo de uma hora; Artrite de três ou mais articulações; Artrite das articulações das mãos, interfalangeanas e/ou punho, metacarpo falangeanas; Artrite simétrica, com envolvimento bilateral; Presença de nódulos subcutâneos; Níveis anormais de fator reumatoide sérico; Alterações radiológicas. Devem ter ocorrência por mais de seis semanas de um a quatro dos critérios. Diagnóstico É estabelecido considerando-se achados clínicos e exames complementares. Nenhum teste isolado, seja laboratorial, de imagem ou histopatológico, confirma o diagnóstico. A dosagem da proteína C reativa (PCR) é importante, por ser um marcador inflamatório, tanto para exame complementar tanto para acompanhamento, para observar se a inflamação está regredindo. O diagnóstico laboratorial inclui o fator reumatoide, com sensibilidade de 75% e especificidade de 85%. Pode ser detectado por teste de aglutinação, nefelometria ou turbidimetria. Outro anticorpo que pode ser medido é o anti-CCP (antiproteínas citrulinados). É presente em 2/3 dos pacientes com artrite reumatoide, tendo elevada especificidade (98%), mas baixa sensibilidade (50%). Outros marcadores seriam anticorpo anti-MVC (vimentina citrulinada mutada); fator antiperinuclear (APF); fator antiqueratina (AKA); anticorpo anti- RA33; anticorpo anti-produtos finais de glicação avançada; anticorpos anti-As; anticorpos anti-Bip. O diagnóstico da artrite reumatoide deve ser feito considerando-se achados clínicos e exames complementares. Dentre estes, devemos considerar o tempo de evolução da artrite, a presença de auto anticorpos (quando disponível), a elevação de provas inflamatórias e as alterações compatíveis em exames de imagem. Nenhum teste isolado confirma o diagnóstico. Tratamento O período inicial da doença, sendo os doze primeiros meses de sintomas da doença, são uma janela de oportunidade terapêutica, período de tempo no qual a instituição de terapia adequada para a doença determinaria melhora clínica. Febre reumática A antiestreptolisina O é um anticorpo relacionado com a febre reumática. Febre reumática é uma complicação tardia de uma infecção por estreptococos, sendo a mais comum a amigdalite estreptocócica. É uma complicação inflamatória, sistêmica, não supurativa, frequentemente recidivante, decorrente de resposta imune tardia a uma infecção precedente de estreptococos beta hemolíticos do grupo A em populações geneticamente pré dispostas. Estão frequentemente associadas à pobreza e às más condições de vida. Afeta principalmente crianças e adultos jovens. A associação entre a febre reumática com os antígenos de classe II e que cada população tem seu próprio marcador (HLA-DR) para suscetibilidade à febre reumatoide. O alelo encontrado com mais frequência, independentemente da origem étnica, é o HLA-DR7. Manifestações clínicas O estreptococo é a causa de aproximadamente 20% das faringites infantis. Somente 1 a 3% dos casos de infecção por estreptococos desenvolvem febre reumática. Lesiona o tecido conjuntivo, mais frequentemente coração, articulações, SNC e pele. Pode-se ter febre reumática aguda (FRA); cardiopatia reumática crônica (CRC) e glomerulonefrite difusa e aguda (GNDA). Coreia é o acometimento do SNC. Eritema marginado é a lesão de pele dos pacientes acometidos por febre reumática. A cardite reumática é uma resposta imune de anticorpos antiestreptococos reativos ao tecido cardíaco (miosina), por reação cruzada com antígenos do estreptococo. Esses anticorpos se fixam à parede do endotélio valvar e aumentam a expressão da molécula de adesão VCAM I. Esses anticorpos atraem determinadas quimiocinas e favorecem a infiltração celular por neutrófilos, macrófagos e, principalmente, linfócitos T, gerando inflamação local, destruição tecidual e necrose. Assim, cardite reumática é uma reação autoimune com inflamação não supurativa do tecido conjuntivo. A cada nova infecção estreptocócica, pode- se ter outra exacerbação da reação imunológica. A cardite reumática pode comprometer os 3 folhetos cardíacos, endocárdio, miocárdio e pericárdio. A duração é de até 2 meses de atividade inflamatória aguda. No endocárdio, pode gerar sopro cardíaco no foco mitral e regurgitação mitral aguda. A miocardite reumática apresenta nódulos de Aschoff, um patognomônico (diagnóstico D). A insuficiência cardíaca fulminante com choque cardiogênico e alta intensidade gera incapacidade do coração em manter o fluxo sanguíneo adequado aos tecidos, resultando em deficiência metabólica, mesmo em repouso, com consequente hipóxia tissular na presença de adequado volume intravascular. São fatores de risco de cardite reumática: história prévia de febre reumática, principalmente cardite reumática (até 50%). Magnitude da resposta imunológica(risco até 5x maior com altos títulos de AEO). A recidiva ocorre em torno de 20% dos casos, nos primeiros 2 a 5 anos após o primeiro episódio. A penicilina G benzatina reduz a recidiva de 20% para 2% dos casos. 50% dos pacientes com cardiopatia reumática negam ter sofrido ataques anteriores, pois é uma cardite silenciosa. É a única que pode causar a morte durante o ataque agudo ou produzir anormalidades estruturais que podem levar a uma incapacidade residual e finalmente a morte. A inflamação do endocárdio com acometimento das valvas é responsável pela cardiopatia adquirida mais frequente em nosso meio. A resposta imune ocorre pela proteína M, responsável pela virulência do estreptococo. O pico de anticorpos se dá por volta da 2ª ou 3ª semana após a infecção aguda. Permanece num patamar por volta de 3 a 6 meses. As lesões da FRA são estéreis. Não há liberação de toxinas. É um mecanismo autoimune baseado em reações cruzadas entre antígenos cardíacos e anticorpos induzidos por um dos vários antígenos estreptocócicos, pela proteína M. A histopatologia do tecido cardíaco infiltrado é predominantemente linfomonocitário, formado principalmente por linfócitos CD4+, gerando atividade imunológica celular. As lesões inflamatórias exsudativas e proliferativas nos tecidos conjuntivos, principalmente coração, articulações e tecidos cutâneos, inicia com edema, fragmentação de fibras colágenas e infiltração celular e degeneração fibrinoide. No coração tem-se degeneração difusa e até necrose das células musculares. Mais tardiamente, tem-se lesões inflamatórias perivalvulares focais, os nódulos de Aschoff, patognomônicos de febre reumática. O aumento da relação CD4+/CD8+ gera aparente redução da população de linfócitos supressores (CD8), com aumento de CD4. Tem-se aumento das populações de linfócitos CD16+, que são células NK, e CD25+, que são linfócitos B ativados. Pacientes apresentam uma resposta celular exacerbada em comparação à de controles. Persiste por aproximadamente 2 anos após o ataque inicial. Não é observado em pacientes com glomerulonefrites. Os linfócitos T encontrados em lesões cardíacas e no sangue periférico de pacientes reconhecem antígenos da proteína M; proteínas de tecidos cardíacos de forma cruzada; e expansão celular do tipo oligoclonal. Vai-se ter síntese de citocinas pela febre reumática, responsáveis por intensificar o processo de inflamação. As células TH se dividem em TH1, TH2, TH17 e T Regs. Dependendo do tipo das características do antígeno, as células TCD4 serão ativadas e irão se dividir em subpopulações, que terão predomínios de acordo com o estímulo de citocinas. Pacientes que manifestam artrite, coreia e cardite leve possuem mais a subpopulação TH2 e a principal citocina é a IL-4. Pacientes que manifestam cardite grave e sequelas valvar possuem mais a subpopulação TH1, com auto nível de IL-1, IL-2 e TNF-alfa e INF-gama. Assim, a contagem de TH pode indicar o prognóstico do paciente. Diagnóstico A cultura do swab de orofaringe em ágar sangue é positiva em apenas 10-20% dos pacientes que se apresentam com febre reumática. É influenciada pelo uso de antibióticos. Assim, o diagnóstico de febre reumática é a clínica, mas testes sorológicos podem ser complementares. A sorologia pode fazer a determinação da anti estreptolisina O (AEO). A reação é com látex e faz-se detecção de AEO por nefelometria. Não indica definitivamente febre reumática, mas a infecção por estreptococos. Pode-se solicitar, também, detecção de estreptozima; anti-DNAse B; anti- hialuronidase por turbidimetria ou nefelometria; reação imunoenzimática (ELISA). Anti estreptolisina O (AEO) tem 80% de positividade. A evidência de inflamação se dá por PCR, VHS e mucoproteínas. O envolvimento cardíaco se apresenta em ECO, ECG e raio X de tórax. A AEO está presente em 80% dos pacientes com febre reumática, com títulos acima de 300. Persistem num patamar de meses. A primeira dosagem pode ser negativa, devendo repetir a dosagem após 30 dias (sorologia pareada). A elevação em pelo menos dois títulos indica infecção prévia. Dosagem pareada/paralela gera elevação da sensibilidade para 95%. Profilaxia A profilaxia primária é tratamento de qualquer faringoamigdalite estreptocócica, antes do primeiro episódio de febre reumática e pela cultura de swab de orofaringe dos contatos próximos. A profilaxia secundária se dá após erradicação do patógeno, iniciando um esquema de antibioticoterapia. A duração da profilaxia secundária é de no mínimo 5 anos após o primeiro episódio de febre reumática, podendo até mesmo perdurar pela vida toda. Tratamento Deve ter controle da atividade inflamatória e erradicação do patógeno com penicilina e eritromicina. Deve-se tratar poliartrite, febre e sintomas gerais. O tratamento da cardite reumática é com corticosteroides. O tratamento da coreia é com aloperidol e ácido valpróico.