Buscar

inicial aboud

Prévia do material em texto

Área Migrações & Refúgio 
São Paulo 
 
Rua Teixeira da Silva, 217, Paraíso, São Paulo/SP, CEP 04002-030 
Tel.: (11) 3627-3400 | www.dpu.gov.br 
EXMO(A). SR(A). DR(A). JUIZ(A) DA ____ª VARA FEDERAL CÍVEL DA 1ª SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA 
DO ESTADO DE SÃO PAULO – SP 
 
 
 
 
PAJ nº 2021/020-08974 
 
 ABOUD KOUDOUSSE AGNIDÉ ISMAÏNOU, beninense, casado, portador de CPF nº 
237.830.298-30, residente na Rua João Geraldo dos Santos, nº 281 B, casa 01, Jardim das Vertentes, 
CEP 05541-230, São Paulo/SP, assistido pela Defensoria Pública da União em juı́zo, vem 
respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento nos arts. 5º, LXXII, “b” e 109, VIII, da 
Constituição Federal, e art. 7º, II, da Lei nº 9.507/97, impetrar ação mandamental de 
 
HABEAS DATA 
 
para retificação de dados de Registro Nacional Migratório mantidos pelo Delegado de 
Polícia Federal de Controle de Imigração (DELEMIG/DREX/SR/DPF/SP), com endereço 
profissional na Rua Hugo D`Antola, 95, Lapa de Baixo, CEP 05038-090, São Paulo/SP, e-mail 
delemig.srsp@dpf.gov.br, vinculado à UNIÃO FEDERAL (Procuradoria da Fazenda Nacional), com 
endereço na Alameda Santos, 647, Cerqueira César, CEP: 01419-001, municı́pio de São Paulo/SP, pelos 
motivos fáticos e jurı́dicos a seguir expendidos. 
 
 
 
I – DOS FATOS 
O impetrante, nacional de Benin, adentrou território brasileiro e obteve sua 
regularização migratória com base em reunião familiar, amparada pelo Art. 37 da Lei 13.445/17. 
Ocorre que a emissão de nova Cédula de Identidade de Estrangeiro, atualmente 
denominada CRNM – Carteira de Registro Nacional Migratório, de número F076120-K, apresenta erro 
material no campo da filiação. No caso concreto, o nome da mãe do impetrante é MARIATOU LAWANI 
 Área Migrações & Refúgio 
São Paulo 
 
Rua Teixeira da Silva, 217, Paraíso, São Paulo/SP, CEP 04002-030 
Tel.: (11) 3627-3400 | www.dpu.gov.br 
e o de seu pai é ACHAMOU SOULÉ ISMAÏNOU conforme Documento Consular expedido pelo 
Consulado Geral da República do Benin em São Paulo anexa, e não SOULE ISMAINOU e MARIATHOU 
LAWANI, nomes que constam na CRNM. 
Ressalta-se que, incialmente, o impetrante compareceu à Polıćia Federal para requerer 
administrativamente a alteração de assentamentos em seus registros migratórios em razão de erro 
material, com reexpedição de CRNM, tendo sido orientado quanto aos documentos necessários. 
Isso porque é sabido que o art. 76 do Decreto nº 9.199/2017 menciona a necessidade 
de ação judicial para as alterações que não estejam contidas no art. 75 do mesmo diploma. Contudo, 
deve-se também ressaltar que o art. 77 impõe a ratificação administrativa de ofı́cio quando há erro 
material. 
Apesar de solicitados os préstimos da Delegacia para a solução da demanda 
apresentada por meio de ofıćio de encaminhamento expedido pela Defensoria Pública da União, o 
órgão não processou o pedido de alteração de assentamentos. Nesta oportunidade, o impetrante foi 
informado pelos atendentes da autoridade policial que deveria buscar advogado para a solução 
judicial de sua demanda para que mediante então fosse procedida a alteração na base de dados do 
Sistema Nacional de Estrangeiros (SINCRE), visto que seu pedido não se enquadraria em nenhum dos 
casos previsto entre os artigos 75 e 77 da Lei 9.199/2018. 
A referida alegação da DELEMIG é ilógica, visto que 
o impetrante possui Documento Consular, documento válido de seu paı́s de origem, Benin, em 
que consta o nome de seu pai ACHAMOU SOULE ISMAINOU e de sua mãe MARIATOU LAWANI. 
Sendo assim, não há que se falar que não há constatação de erro material. 
Assim, por não ter se mostrado possı́vel a emissão de nova Cédula de Identidade de 
Estrangeiro, atualmente denominada CRNM – Carteira de Registro Nacional Migratório – nos exatos 
termos em que já se registrara anteriormente no supracitado sistema SINCRE, requer-se a 
retificação no Registro Nacional Migratório ou, subsidiariamente, a conversão da presente ação 
em ação de jurisdição voluntária para retificação de registro migratório. 
 
 
II – DO CABIMENTO DO HABEAS DATA 
A presente ordem é impetrada com fundamento no supracitado art. 5º, LXXII, “b” da 
Constituição Federal acrescido do disposto no art. 7º, II, da Lei nº 9.507/97, os quais estipulam a 
utilização do habeas data quando necessária a retificação de dados. 
 
 Área Migrações & Refúgio 
São Paulo 
 
Rua Teixeira da Silva, 217, Paraíso, São Paulo/SP, CEP 04002-030 
Tel.: (11) 3627-3400 | www.dpu.gov.br 
Estabelece o referido art. 7º, II, da Lei nº 9.507/97 que: 
 
Art. 7° Conceder-se-á habeas data: 
(...) 
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo 
sigiloso, judicial ou administrativo; 
 
No caso concreto, foi obstaculizada a emissão de nova via da Cédula de Identidade 
de Estrangeiro ou Registro Nacional de Migratório (CIE/RNM) constando o correto nome do pai e da 
mãe do impetrante, quais sejam ACHAMOU SOULÉ ISMAÏNOU e MARIATOU LAWANI. 
Esta Defensoria Pública da União tentou entrar em contato com os órgãos 
responsáveis, buscando proceder à correção administrativa do nome do pai e da mãe do impetrante 
e dando procedência à emissão de novo documento com as correções requeridas. Não obtendo, 
contudo, quaisquer êxitos. Assim, é aplicável à lide o art. 68, §1º, IV do Decreto nº 9.199/2017, o qual 
prevê a via judicial como meio possı́vel à solicitação da retificação de assentamentos. Segue o texto: 
Art. 68. O registro de dados biográficos do imigrante ocorrerá por meio da 
apresentação do documento de viagem ou de outro documento de identificação 
aceito nos termos estabelecidos em ato do Ministro de Estado da Justiça e 
Segurança Pública. 
§ 1o Na hipótese de a documentação apresentar contradições ou não conter 
dados de filiação, o imigrante deverá apresentar: 
I - certidão de nascimento; 
II - certidão de casamento; 
III - certidão consular do país de nacionalidade; ou 
IV - justificação judicial. 
 
Frente à necessidade de delimitar as situações em que se permitiria a retificação por 
erro material, o próprio Departamento de Polıćia Federal editou a Instrução Normativa nº 142/2018, 
de seguinte teor: 
 
CAPÍTULO IV DA ALTERAÇÃO DE ASSENTAMENTO NO REGISTRO NACIONAL 
MIGRATÓRIO 
 
 Área Migrações & Refúgio 
São Paulo 
 
Rua Teixeira da Silva, 217, Paraíso, São Paulo/SP, CEP 04002-030 
Tel.: (11) 3627-3400 | www.dpu.gov.br 
Art. 13. Caberá alteração do RNM prevista no artigo 75 do Decreto nº 
9.199/2017, por meio de requerimento do interessado, endereçado à unidade 
da PF da circunscrição de seu domicílio, devidamente instruído com as provas 
documentais necessárias, bem como com a solicitação de expedição de nova 
CRNM, para correção de: 
I - nome; 
II - filiação; 
III - data de nascimento; e 
IV - local de nascimento. 
 
Art. 14. Caberá alteração do RNM prevista no artigo 77 do Decreto nº 
9.199/2017, por meio de requerimento do interessado endereçado à unidade 
da PF da circunscrição de seu domicílio, devidamente instruído com as provas 
documentais necessárias, bem como com a solicitação de expedição de nova 
CRNM, para correção de ofício dos erros materiais identificados. 
§ 1º Entende-se por erro material a diferença de grafia entre o documento 
hábil apresentado pelo interessado e a respectiva informação inserida no 
SISMIGRA ou os casos de inserção abreviada ou de inversão na ordem 
sequencial de dados biográficos no SISMIGRA. 
§ 2º O disposto no parágrafo anterior poderá decorrer de erro material em 
documentação apresentada pelo interessado expedida no país ou no exterior, 
neste último caso, respeitadas as regras de legalização e tradução. 
§ 3º O reconhecimento do erro que justifica a alteração solicitada perante a PF 
deverá ser documental e expresso pelo órgão responsável no Brasil ou no 
exterior, de acordo com a documentaçãoapresentada pelo interessado quando 
de seu registro, não sendo cabível o reconhecimento tácito. 
§ 4º O direito à retificação do registro civil para adequação à identidade de 
gênero, quando expressamente reconhecido mediante averbação no registro 
original, será tratado como erro material para efeito de alteração de nome e 
sexo no RNM. 
Art. 15. Ressalvadas as hipóteses previstas nos artigos anteriores, as 
alterações no RNM que comportem modificações de nome serão feitas 
após decisão de órgão do Poder Judiciário. 
 
Ou seja, há previsão regulamentar explı́cita, emanada pela autoridade impetrada, 
 Área Migrações & Refúgio 
São Paulo 
 
Rua Teixeira da Silva, 217, Paraíso, São Paulo/SP, CEP 04002-030 
Tel.: (11) 3627-3400 | www.dpu.gov.br 
segundo a qual a alteração em comento seria impossı́vel pela via administrativa, sendo portanto 
exigida decisão judicial. Logo, torna-se dispensável qualquer tentativa, eis que houve negativa 
administrativa em caráter genérico. 
Por outro lado, é inconteste que o Registro Nacional Migratório não é registro civil para 
fins legais, sendo este promovido por tabelionatos nos termos da Lei de Registros Públicos, e aquele 
mantido pelo Departamento de Polı́cia Federal nos termos da Lei nº 13.445/2017. O Registro Nacional 
Migratório é, em verdade, um banco de dados público, ao qual o interessado pode acessar para a 
retificação de informações1. 
Por fim, nos ditames do art. 109, VIII da Magna Carta, compete a apreciação deste 
remédio à Justiça Federal vez que objetiva a obtenção de informações e retificação de assentamento 
presente em banco de dados federal. 
Por tais fundamentos e outros que adiante apresenta, serve-se este órgão impetrante 
da via do habeas data, sem que haja óbice algum a seu conhecimento por esse juı́zo. 
 
 
III – DO DIREITO 
O impetrante pretende, por meio da presente ação, retificar sua filiação materna e 
paterna, fazendo constar o nome correto de seus pais, MARIATOU LAWANI e ACHAMOU SOULÉ 
ISMAÏNOU, na Carteira de Registro Nacional Migratório (CRNM), conforme Cartão Consular expedido 
pelo Consulado Geral da República do Benin em São Paulo. 
Assim, necessária a retificação, pois o erro material anteriormente mencionado pode 
ocasionar diversos riscos ao impetrante. 
 No caso em tela, o impetrante corre risco de ter o exercıćio de seus direitos civis 
prejudicados, pois a Carteira de Registro Nacional Migratório (CRNM) está intimamente relacionada 
 
1 “4. O caráter público de todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser 
transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das 
informações é inequı́voco (art. 1º, Lei nº 9.507/97). 5. O registro de dados deve ser entendido em seu sentido 
mais amplo, abrangendo tudo que diga respeito ao interessado, seja de modo direto ou indireto. (…) Registro de 
dados deve ser entendido em seu sentido mais amplo, abrangendo tudo que diga respeito ao interessado, seja 
de modo direto ou indireto, causando-lhe dano ao seu direito de privacidade.” (José Joaquim Gomes Canotilho, 
Gilmar Ferreira Mendes, Ingo Wolfgang Sarlet e Lenio Luiz Streck. Comentários à Constituição. Editora Saraiva, 
1ª Edição, 2013, p.487). (STF, Recurso Extraordinário nº 673707, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, 
julgado em 17/06/2015, ACORDAO ELETRONICO REPERCUSSAO GERAL - MERITO DJe-195 DIVULG 29-09-
2015 PUBLIC 30-09-2015) 
 
 
 Área Migrações & Refúgio 
São Paulo 
 
Rua Teixeira da Silva, 217, Paraíso, São Paulo/SP, CEP 04002-030 
Tel.: (11) 3627-3400 | www.dpu.gov.br 
ao reconhecimento da nacionalidade, que é o vı́nculo de direito público interno entre um Estado e 
uma pessoa e, pressupõe que a esta tenha determinados direitos e obrigações frente ao Estado de que 
é nacional, como por exemplo, o direito ao exercı́cio da cidadania, o direito de não ser expulso ou 
extraditado e o direito à proteção do Estado, como se verifica nos casos em que a pessoa se encontre 
no estrangeiro e, mesmo assim, possua assistência da Embaixada e do Consulado de seu paı́s de 
origem. 
 Não restam dúvidas em relação ao verdadeiro nome dos pais do impetrante, pois estes 
são comprovados com os documentos originais expedidos pelo Benin, e no caso em tela, pelo Cartão 
Consular, anexo, expedida pelo Consulado Geral da República do Benin em São Paulo. Dessa feita, 
reitera-se que os dados de filiação do impetrante são MARIATOU LAWANI e o de seu pai é ACHAMOU 
SOULÉ ISMAÏNOU, e não MARIATHOU LAWANI e SOULE ISMAINOU, nomes que constam no CRNM. 
 Com a publicação do Decreto nº 9.199/2018, os limites dados à Administração 
Pública para promover alteração e retificação na Carteira de Registro Nacional Migratório estão 
respectiva e expressamente previstos nos artigos 75 e 77, sendo que este último diz expressamente 
que o caso em tela é passı́vel de alteração na seara administrativa, nos termos a seguir transcritos: 
 
Art. 77. Os erros materiais identificados no processamento do registro e na 
emissão da Carteira de Registro Nacional Migratório serão retificados, de ofício, 
pela Polícia Federal. (grifo nosso) 
 
Sendo assim, conforme consta no artigo transcrito acima e, com base no que fora 
anteriormente exposto, o entendimento mais certo e razoável é pugnar pela retificação do 
assentamento do autor. 
Esta Defensoria Pública da União encaminhou ofı́cios ao Delegado de Polı́cia de 
Imigração, esclarecendo a peculiar situação da interessada, solicitando informações e questionando a 
possibilidade de retificação de sua CRNM, com a correção do nome de sua mãe e de seu pai para 
MARIATOU LAWANI e ACHAMOU SOULÉ ISMAÏNOU, respectivamente. 
Ressalta-se que já é sabido que esta alegação é muito comum pela parte da Policia 
Federal, que tem, incessantemente, se negado a retificar o assentamento dos solicitantes na via 
administrativa. 
Assim, requer o impetrante que seja retificada a informação referente ao nome 
apresentado no campo de filiação materna e paterna da sua Carteira de Registro Nacional Migratório 
(CRNM), alterando-se os nomes MARIATHOU LAWANI e SOULE ISMAINOU para MARIATOU LAWANI 
 Área Migrações & Refúgio 
São Paulo 
 
Rua Teixeira da Silva, 217, Paraíso, São Paulo/SP, CEP 04002-030 
Tel.: (11) 3627-3400 | www.dpu.gov.br 
e ACHAMOU SOULÉ ISMAÏNOU. 
 
IV – DOS PEDIDOS 
 
Ante o exposto, a parte impetrante requer: 
a) seja a autoridade impetrada, o(a) Sr(a). Delegado (a) de Polı́cia Federal de Controle 
de Imigração (DELEMIG/DREX/SR/DPF/SP), notificada nos termos do art. 9º da 
Lei nº 9.507/97, para que preste as informações que entender necessárias no 
prazo de dez dias; 
b) seja ouvido o representante do Ministério Público Federal, no prazo de cinco dias, 
conforme estabelece o art. 12 da Lei nº 9.507/97; 
c) seja concedida a ordem e julgado totalmente procedente o pedido de retificação na 
Carteira de Registro Nacional Migratório (CRNM) do impetrante ABOUD 
KOUDOUSSE AGNIDÉ ISMAÏNOU, passando a constar em seu assento de CRNM 
que o nome de sua mãe é MARIATOU LAWANI e de seu pai ACHAMOU SOULÉ 
ISMAÏNOU, expedindo-se mandado ao setor responsável, a fim de efetuar referida 
retificação e emissão da segunda via de CRNM pelas autoridades competentes; e 
d) em caráter subsidiário e eventual, a conversão da presente ação em procedimento 
de jurisdição voluntária para retificação de registro migratório, oportunizando 
igualmente a colheita de informações junto à autoridade coatora e manifestação 
do MPF. 
 
Processualmente, requer a intimação pessoal da Defensoria Pública da União e contagem 
em dobro de todos os prazos, nos termos do art. 44, I, da Lei Complementar nº 80/94. 
 
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) para fins processuais. 
 
São Paulo, 10 de outubro de 2021. 
 
JOÃO FREITAS DECASTRO CHAVES 
Defensor Público Federal

Continue navegando

Outros materiais