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Aula 1 português unigran

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1ºAula
Concepções de linguagem e o 
ensino da Língua Portuguesa
Objetivos de aprendizagem
Esperamos que, ao término desta aula, vocês serão capazes de: 
• analisar criticamente os aspectos que envolvem o ensino da língua portuguesa a partir dos diferentes níveis de 
linguagem; 
• compreender os aspectos que envolvem as diferentes variações linguísticas e empregar corretamente a linguagem de 
acordo com o contexto, bem como instruir os futuros alunos sobre este emprego da língua; 
• identificar, analiticamente, as concepções de linguagem que envolvem o ensino da Língua Portuguesa.
Prezados(as) alunos(as), iremos iniciar a disciplina 
“Conteúdo e metodologia do ensino da Língua Portuguesa 
e Literatura nos anos iniciais E.F.” conhecendo e refletindo 
sobre o ensino da língua portuguesa à luz das concepções da 
linguagem construídas ao longo de décadas. 
Nesta aula, terão a oportunidade de saber como o ensino 
da língua portuguesa muda de acordo com a noção que se adota 
sobre a linguagem. 
Bons estudos!
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Conteúdo e Metod. do Ensino da Língua Port. e 
Lit. nos anos Iniciais do Ensino Fundamental 8
Seções de estudo
1 - A caracterização da língua portuguesa 
2 - Concepções de linguagem 
3 - Os tipos de ensino de língua 
4 - A variação linguística e o ensino da Língua Portuguesa
5 - O ensino da Língua Portuguesa e os PCN’s 
(Parâmetros Curriculares Nacionais)
Há alguns anos, muitas pesquisas vem sendo feitas em 
relação ao ensino da Língua Portuguesa em todos os níveis de 
ensino. Isso porque se percebeu que os alunos terminavam o 
Ensino Médio com bastante dificuldade quanto à leitura e à 
escrita. 
Pensando nisso, mudou-se o enfoque dado em relação 
a esta disciplina. Tal modificação se tornou mais visível a 
partir da implantação dos PCN’s (Parâmetros Curriculares 
Nacionais) no ano de 1997; neste contexto, os PCN’s é o um 
documento oficial que tem como objetivo nortear o ensino 
brasileiro, ou seja, ele aponta aspectos importantes sobre as 
várias disciplinas. Além disso, ele apresenta usos e formas da 
língua portuguesa, cujo objetivo é propor possíveis atividades 
a serem realizadas em sala de aula. 
Os PCN’s e outros textos teóricos importantes sugerem 
que o ensino da Língua Portuguesa deve ser contextualizado, 
fugindo, assim, de práticas mecânicas e sem sentido algum. 
Para tanto é apresentado como “pretexto” de ensino o texto, 
pois a partir dele é possível trabalhar a leitura e a produção 
textual (oral ou escrita); afinal de contas, ensinar a língua 
portuguesa por meio de frases isoladas, torna a Língua um 
organismo isolado de sua aplicação prática. 
Vocês, caros(as) alunos(as), devem estar pensando: 
“Então, vamos abolir a gramática?. Nunca mais estudaremos 
ela?.” Nada disso. Continuaremos a estudar a gramática, mas 
em contextos práticos que permitam ao aluno perceber a 
Língua como um organismo vivo em práticas sociais. 
Para tanto, tomaremos como suporte teórico os estudos 
feitos em relação à Linguística Aplicada, haja vista que esses 
dão conta de detectar problemas acerca do ensino da Língua, 
mas, também, apresentam soluções para estes problemas. 
Em relação ao ensino da Língua Portuguesa, alguns 
pontos são fundamentais para que a prática seja eficiente. 
Primeiramente, é preciso refletirmos sobre o que é a 
linguagem. 
Temos que a linguagem nada mais é que a faculdade 
2 - Concepções de linguagem: usos e 
 nalidades 
1 - A caracterização da língua 
portuguesa
(capacidade) de exercitar a comunicação. Nesse sentido, 
podemos conceber a linguagem a partir de três concepções. A 
primeira concepção concebe a linguagem como expressão 
do pensamento. Essa ideia foi sustentada pela tradição 
gramatical grega, depois, pelos latinos, continuando pela Idade 
Média e Idade Moderna, no entanto, ela foi rompida, pelo 
menos em tese, pelos estudos feitos por Saussure (1969) no 
início do século XX. 
Essa teoria afirma que as ideias são formadas no interior 
da mente humana, assim a linguagem traduz o pensamento 
humano. Nesse contexto, o indivíduo deve seguir as normas 
gramaticais padrão do bem falar e do bem escrever. Para 
tanto, deve ser seguidas as normas prescritivas da língua, as 
quais propõem o estudo voltado para a concordância, à sintaxe, 
à regência etc. 
Embora, por volta dos anos 60 estudos linguísticos tenham 
sido feitos para discutir esta prática tradicionalista, algumas 
escolas ainda abordam o ensino da Gramática a partir deste 
enfoque, cujos objetivos de aprendizagem se apresentavam 
desvinculadas da prática de leitura e da produção textual, como 
se isso fosse possível. 
Em contrapartida, a segunda concepção de linguagem 
apresenta uma ruptura com a teoria anterior, haja vista que 
Saussure centraliza seus estudos sobre a linguagem a partir 
de dois objetos: a língua (langue) e a fala (parole). Temos, 
então, a concepção da linguagem como instrumento de 
comunicação. 
Segundo Saussure, a língua é um conjunto de signos e é 
falada por um povo, uma nacionalidade, os quais se apropriam 
de regras próprias de sua língua (é a chamada gramática), por 
isso trata-se de um sistema social, homogêneo e abstrato, a qual 
já é internalizada na mente do falante de determinada língua 
desde o seu nascimento. 
Já a fala é uma ação individual, pois o falante de uma 
determinada língua se apropria de regras da sua própria língua 
para construir o seu discurso. Devido a sua caracterização 
individual, a fala pode apresentar variação de um falante para 
outro, portanto não se trata de uma manifestação homogênea. 
A partir da concepção da linguagem como instrumento 
de comunicação, os estudiosos da linguagem tomaram 
emprestadas teorias que envolvem os estudos da área da 
Comunicação e, consequentemente, da Informação, por isso 
a dicotomia langue/parole passou a ser estudada a luz da 
Teoria da Comunicação/ Informação. 
Jakobson (1973), aponta que aumentou os elementos 
da comunicação, cujo modelo proposto por Karl Bühler 
admite três elementos essenciais para a comunicação, são eles: 
emissor, receptor e referente/contexto. 
Além dos três elementos citados acima, Jakobson 
(1973) aponta três outros elementos, os quais julga serem 
imprescindíveis para o processo de comunicação verbal: 
mensagem, código e canal. 
Para cada um dos elementos, Jakobson apresenta as 
Funções da Linguagem (função expressiva, função poética, 
função conativa, função metalinguística, função referencial 
e função fática). Essas funções são relacionadas aos seis 
elementos de acordo com o fator predominante durante o 
processo de comunicação. 
Veja o esquema a seguir proposto por Jakobson: 
182
9
As teorias que têm a linguagem como instrumento de 
comunicação, afirmam ser ela puramente informativa, visto 
que se adotou a ideia de Karl Bühler, o qual entendia que a 
linguagem servia apenas para a comunicação (transmissão da 
informação), prática essa realizada pelo emissor da mensagem 
e que deve ser recebida pelo receptor em uma situação 
(contexto). Portanto, nesse sentido, a função da linguagem que 
predomina é a função referencial (informativa). 
Na prática, essa concepção de linguagem mudou o 
método e a forma de apresentação dos conteúdos em Língua 
Portuguesa. Agora, já não são mais separados os conteúdos 
de gramática e leitura/ produção de texto; porém, observou-se 
que os livros didáticos propuseram exercícios práticos, os quais 
solicitavam aos alunos: siga o modelo, isto é, qualquer resposta 
que fugisse ao modelo pré-estabelecido era tida como errada. 
Por último, temos a concepção da linguagem como forma 
de interação. Essa concepção aponta que a linguagem permite 
a interação humana, haja vista que o receptor não é passivo 
durante o processo de comunicação como aponta o esquema 
de comunicação apresentado por Jakobson. 
Do ponto de vista prático, essa concepção sugere que a 
mensagem enviada pode ser ou não aceita pelo receptor, ou 
seja, pode haver ou não a construção do sentido por parte de 
quem desempenha o papel de receptor. 
Bakhtin (1986, p.123),faz uma importante observação 
sobre essa concepção de linguagem: 
A verdadeira substância da linguagem não é 
constituída por um sistema abstrato de formas 
lingüísticas, nem pela enunciação monológica 
isolada, nem pelo ato psico siológico de 
sua produção, mas pelo fenômeno social da 
interação verbal, realizada pela enunciação ou 
pelas enunciações. A interação verbal constitui, 
assim, a realidade fundamental da linguagem.
O linguista Bakhtin contraria a noção de que a língua 
seja abstrata, noção essa defendida na concepção estudada 
anteriormente a esta. Para ele, a interação verbal é necessária e 
fundamental para a produção de sentidos. 
Retomando as concepções de linguagem, temos que: 
• 1ª concepção – a linguagem como expressão do 
pensamento: a expressão é construída no interior da 
3 - Os tipos de ensino de língua 
Fonte: <http://acd.ufrj.br/~pead/tema01/lingfuncoes.html>.
E, então? Vocês se lembraram desse esquema? Ele foi apresentado na 
disciplina de Leitura e produção de textos. 
mente, por isso o falante exterioriza um pensamento. 
• 2ª concepção – a linguagem como instrumento 
de comunicação: a língua é vista como um conjunto 
de signos, cujas normas devem ser dominadas pelo 
falante; portanto, a língua é traduzida, isto é, é 
decodificada pelo receptor da mensagem. 
• 3ª concepção – a linguagem como processo de 
interação: a linguagem permite a interação entre 
interlocutores, ou seja, o indivíduo realiza ações, 
atuando de forma interativa com o seu interlocutor. 
Por isso, a linguagem é caracterizada pelo diálogo, 
essa concepção deu origem ao termo dialogismo.
Segundo Travaglia (2003 apud Halliday, McIntosh e 
Stevens (1974, p. 257-289), o ensino da língua é classificado 
em três tipos, os quais servem para dar um norte para as aulas 
de língua materna. 
É evidente, pois, que a escolha por cada um destes tipos 
depende do posicionamento do docente frente à concepção 
de língua/ linguagem e da escolha de determinado enfoque 
teórico, ou seja, alguns professores poderão se mostrar mais 
“tradicionais” e recusar qualquer uso da linguagem que fuja 
da norma culta, enquanto outros poderão apresentar uma 
postura menos “radical” e mostrar para o aluno a existência 
dos diferentes níveis de linguagem, cujo uso é feito em 
contextos específicos de comunicação. 
Para o referido autor, o ensino da língua pode ser de três 
tipos: prescritivo, descritivo e produtivo. 
O tipo prescritivo é aquele, como o próprio nome sugere 
que tem como finalidade a normatização, isto é, apontar o 
correto. Nessa concepção, não há aceitação do desvio da 
norma culta, ao contrário disso, é ensinada a linguagem que 
deve ser seguida. 
Esse tipo interfere nas habilidades linguísticas já 
existentes, aquele conhecimento prévio de linguagem que 
o aluno traz de casa, pois apresenta a correção formal da 
linguagem, considerando, no contexto de sala de aula, apenas 
a norma padrão da língua. 
Outro tipo de ensino é o descritivo, cuja finalidade 
é mostrar a linguagem em uso e como determinada língua 
funciona em contextos mais complexos, ou seja, em situações 
particulares. 
Assim, esse tipo aborda sobre as habilidades linguísticas 
já adquiridas sem alterá-las, mas indicando o seu contexto de 
uso. Diferentemente do tipo descritivo, cujo professor ensina 
a linguagem a partir da norma culta, mostrando-a como lei a 
ser seguida, portanto, o que foge disso é erro. 
Já o tipo produtivo não altera padrões linguísticos 
já adquiridos pelos alunos, mas ensina outras habilidades 
linguísticas. Nesse sentido, objetiva desenvolver a competência 
comunicativa, visto que a partir desta concepção, o aluno 
adquire novas habilidades de uso. 
Por isso, pode-se afirmar que esse tipo de ensino engloba 
o ensino da língua padrão e o das variantes linguísticas; é como 
se fosse uma mediação dos dois primeiros tipos de ensino da 
língua.
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Conteúdo e Metod. do Ensino da Língua Port. e 
Lit. nos anos Iniciais do Ensino Fundamental 10
4 - A variação linguística e o ensino 
da Língua Portuguesa
Ao falarmos sobre o ensino da Língua Portuguesa é 
necessário enfatizar que a escola deve se abrir para novos 
discursos. Um deles diz respeito à variação linguística, visto 
que no nosso país existe um grande número de variantes 
linguísticas, ou seja, trata-se de outras variantes da língua. 
Assim, podemos encontrar vários modos de falar uma 
mesma língua. Por exemplo: o Brasil é um país, como todos 
sabem, miscigenado. Essa mistura de raças e as diferenças 
de origem do brasileiro trouxeram de forma involuntária 
influências para a Língua Portuguesa. 
Portanto, é possível perceber que o Brasil possui diferentes 
modos de falar, não somente em relação ao sotaque, mas em 
relação ao vocabulário e a fonética de algumas palavras, a esse 
fenômeno damos o nome de variação linguística. 
Travaglia (2003, p. 42), afirma que existem dois tipos de 
variedades linguísticas, a saber: dialetos e registro. 
A variação dialetal está associada à dimensão territorial 
e/ou geográfica, assim, esse fenômeno ocorre devido à 
variação que as pessoas de diferentes regiões apresentam em 
relação a sua Língua. Este tipo de variação, segundo o mesmo 
autor, se divide em seis dimensões, são elas: territorial, social, 
de idade, de sexo, de geração e de função. 
Fonte: http://macacobabaca.blogspot.com.br/2010_08_01_archive.html Acesso 
em: 27 de janeiro de 2013.
A variação dialetal territorial é também chamada de 
geográfica ou regional e diz respeito à variação que ocorre por 
influência de regionalismos, ou seja, os indivíduos falam uma 
mesma língua, mas por questões de influência que cada região 
sofreu ao longo de sua história, o falante pode apresentar 
um falar diferente a partir de uma mesma língua. Observe o 
diálogo abaixo, ele é um exemplo de regionalismo:
Os interlocutores do diálogo acima falam a Língua 
Portuguesa, mas por uma questão de 
regionalismo, ou seja, influência que a língua 
sofreu em razão da sua localização territorial, 
os falantes apresentaram outra variante 
linguística que não a variante padrão. 
A variação dialetal social diz respeito à variação 
linguística que ocorre quando falantes de uma mesma língua 
pertencem a classes sociais diferentes. Nesse caso, podemos 
citar indivíduos que exercem práticas sociais diferentes, as quais 
possuem uma linguagem mais específica, com termos e jargões 
mais costumeiramente falados no seu meio social, como, por 
exemplo, os médicos, os advogados, os artistas etc. Mas, veja: 
citamos grupos de pessoas que ocupam papel de destaque na 
sociedade, no entanto, além desses, temos também indivíduos 
que fazem parte de uma classe social baixa e que, por isso, são 
pessoas marginalizadas socialmente (marginais, moradores de 
favelas). 
Diálogo Nordestino
Estrebuchado Zé fala:
-Ó Rosa! Que catinga é essa nessa casa?
(Rosa) - Zé as criança zerum um funaré. É um monte de burundanga 
por todo canto, vou alimpar e rebolar no mato.
(Zé) -Se avexe logo com isso muié, parece que tá môca.
(Rosa) Por que não arriba daí e vem me ajudar homi?
(Zé) - Ocê sabe que isso num é serviço pra cabra macho.
(Rosa) - Fico o dia inteirim matutando como dá um jeito nessas cria e 
elas faz é mangar de mim. Pra completar ocê chega agora com esse 
mastigado.
Valha minha virgi Maria!
Aí, Galera
 
Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, 
você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, 
no entanto, por que não?
— Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
—Minha saudação aos a cionados do clube e aos demais esportistas, 
aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
— Como é?
— Aí, galera.
— Quais são as instruções do técnico?
— Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção 
coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam 
as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um 
contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, 
valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto,E bem que a culpa é toda sua Zé que acoita,
Assim não voga!
Estrebuchado - Aborrecer-se
Catinga - Mal cheiro
Funaré - Bagunça
Rebolar no mato - Jogar fora
Burundanga - Doces, balas
Se avexe - Apresse-se
Môca- Surda
Arribar - Levantar
Matutar - Pensar
Mangar - Rir
Mastigar - Conversação
Acoitar - Proteger
Não voga - Não vale
Rafaela Elane
Fonte: <http://recantodasletras.uol.com.br/humor/1006190>.
Pessoas que 
participam do 
processo de 
interação.
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11
- Ê cara, tô azarando uma mina que é o maior barato. 
- Estou interessado em uma mulher muito bonita, elegante e inteligente. 
(Travaglia, 2003, p. 46)
Perceberam como alguns grupos sociais são “taxados” por sua 
linguagem??? No exemplo acima, Veríssimo apresentou uma entrevista 
com um jogador de futebol que apresentou um nível de linguagem 
inesperado, ou seja, o jogador usou uma linguagem mais formal, a qual 
não é muito usada por jogadores de futebol. 
surpreendido pela reversão inesperada do uxo da ação.
— Ahn?
— É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.
— Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
— Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, 
talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por 
razões, inclusive, genéticas?
— Pode.
— Uma saudação para a minha progenitora.
— Como é?
— Alô, mamãe!
— Estou vendo que você é um, um...
— Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à 
expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com di culdade de 
expressão e assim sabota a estereotipação?
— Estereoquê?
— Um chato?
— Isso.”
Luís Fernando Veríssimo. 
Além dos exemplos citados acima, podemos citar, 
também, a gíria como uma variante do dialeto social. Esse tipo 
de linguagem é mais falado por adolescentes e jovens. Travaglia 
(2003, p.45), aponta um aspecto importante sobre esse tipo de 
dialeto: “Os dialetos sociais exercem na sociedade um papel 
de identificação grupal, isto é, o grupo ganha identidade 
pela linguagem”. Assim, esses dialetos servem, em alguns 
momentos, de “instrumento de dominação”, mas quando o 
objetivo é apresentar um discurso de cunho reivindicativo ou 
mesmo dialogar com o grupo sem que haja intervenção de 
outras classes sociais, a linguagem serve como um “escudo”.
A variação dialetal de idade representa os diferentes 
modos de falar uma mesma língua por influência da idade dos 
falantes. Observe o exemplo abaixo, o qual demonstra o dialeto 
por idade:
O primeiro exemplo é uma Cantiga de escárnio escrita por 
Trovadores portugueses nos séculos XII a XIV. Já o segundo 
texto é uma poesia de Carlos Drummond de Andrade escrita 
no século XX. Sendo assim, é inevitável que a Língua tenha 
sofrido alterações ao logo deste período, afinal, trata-se de um 
organismo vivo. 
 Por último, temos a variação dialetal por função, 
esse tipo de dialeto não é muito comum na Língua Portuguesa, 
no entanto, sua correção nessa língua é verificada a partir da 
função que o falante desempenha no momento da interação 
comunicativa. Segundo Travaglia (2003, p. 51):
(...) Um exemplo dessa variação seria o chamado 
plural majestático, em que governantes ou 
altas autoridades expressam seus desejos ou 
intenções com o pronome “nós”, sinalizando 
sua posição de representantes do povo. 
Esse tipo de variação é comumente verificado em 
discursos políticos, cujo propósito é apresentar promessas e 
anseios se colocando como “voz” de muitos. 
A variação de dialetos da geração (histórica) 
representa a evolução da linguagem ao longo dos anos, visto 
que a nossa Língua não é morta, ao contrário, ela é viva e 
suscetível de mudanças, por isso dissemos que ela evolui. A 
Língua Portuguesa falada por Camões não é a mesma Língua 
que falamos nos dias de hoje, essa mudança ocorreu por 
motivos históricos. 
A seguir, temos exemplos de dois textos, os quais foram 
escritos em épocas diferentes e, por isso, possui um dialeto 
diferente: 
Ai, dona feia, foste-vos queixar
que nunca vos louvo em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvares de qualquer modo;
e vede como quero vos louvar
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trovar, embora tenha trovado 
muito;
mas agora já farei um bom cantar;
em que vos louvarei de qualquer modo;
e vos direi como vos louvarei:
dona feia, velha e maluca!
(Tradução de uma cantiga de escárnio 
de Garcia Guilhade)
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
(...) 
Carlos Drummond de 
Andrade
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Conteúdo e Metod. do Ensino da Língua Port. e 
Lit. nos anos Iniciais do Ensino Fundamental 12
Depois de estudarmos sobre as variações de dialetos, estudaremos, 
agora, as variações de registro. Prontos???
Já a variação de registro indica instâncias em que pode 
ocorrer esse fenômeno. Por isso, podemos classificar três 
tipos de registros, são eles: grau de formalismo, modo e 
sintonia. 
O grau de formalismo orienta o nível de linguagem 
que o falante deve usar para se comunicar. Para tanto, ele deve 
tomar como parâmetro os recursos que a língua dispõe em 
relação à fonética, a morfologia, a sintaxe, o léxico, a estilística 
etc. Assim, o discurso representará uma escala de formalidade 
se aproximando mais da língua padrão. 
Para entendermos o grau de modo (modalidade de 
uso) é preciso considerar que a linguagem verbal é dividida 
em duas modalidades: falada e escrita, as quais possuem 
distinção quanto ao seu estilo, isto é, a linguagem falada difere 
da linguagem escrita devido às circunstâncias de produção. 
Segundo Koch (2011), as modalidades “fala e escrita” 
apresentam características bem definidas, que permitem 
entendermos como ocorre a produção textual, haja vista que 
os fatores que a envolvem descrevem suas características. 
FALA ESCRITA 
contextualizada descontextualizada 
implícita explícita 
redundante condensada 
não planejada planejada 
predominância do “modus 
pragmático”
predominância do “modus 
sintático”
fragmentada não fragmentada 
incompleta completa 
pouco elaborada elaborada 
pouca densidade informacional densidade informacional 
predominância de frases curtas, 
simples ou coordenadas 
predominância de frases 
complexas com subordinação 
abundante 
pequena frequência de passivas emprego frequente de passivas 
poucas nominalizações abundancia de nominalizações 
menor densidade lexical maior densidade lexical 
Tabela extraída de Koch (2011)
Caros(as) alunos(as), perceberam a diferença entre 
as duas modalidades? 
De acordo com Koch, a fala não é planejada, pois o seu 
planejamento ocorre no momento de interação face a face. 
Pode ser que o produtor do texto elabore um roteiro para 
ser seguido durante seu pronunciamento, mas à medida que 
for interagindo com os seus interlocutores, o texto vai sendo 
reformulado, isso porque a fala é construída em um contexto 
específico. Por isso, a autora afirma que é há predominância do 
modus pragmático, visto que o mais importante é o planejamento 
do texto de acordo com os elementos da comunicação - 
emissor, receptor e contexto. 
Por isso mesmo pode-se dizer que se trata de um 
texto incompleto, com ideias fragmentadas e com poucas 
informações, visto que o tempo de produção do texto é 
menor, o que impossibilita recorrer a um maior número de 
informações. 
Ao contrário, a escrita permite que o texto seja bem 
elaborado, planejado e refeito, pois há tempo disponível para 
o refazimento do texto.Caso erre, o produtor do texto poderá 
refazê-lo quantas vezes achar necessário. Enquanto no texto 
falado há maior preocupação com os fatores pragmáticos (o 
planejamento do texto), no texto escrito a preocupação recai 
no uso dos fatores linguísticos, como a colocação das palavras 
na frase de modo que haja concordância entre elas. 
A sintonia diz respeito à adequação da linguagem ao 
contexto em que ela será empregada. Para tanto, o falante fará 
adequação de sua linguagem de acordo com o seu público, a 
partir de informações que ele tem sobre o seu interlocutor. 
Portanto, o discurso que o falante usa para falar com o seu 
chefe, é diferente do discurso que usa ao se comunicar com o 
seu filho ou com os amigos. 
Embora os brasileiros de várias regiões falem de modo 
diferente uns dos outros, podemos afirmar que todos são 
falantes da Língua Portuguesa, pois suas falas são estruturadas 
a partir do mesmo sistema linguístico (a língua). 
Em razão disso, nós, professores, não podemos dizer 
ao aluno que fala de modo diferente da língua padrão que 
o mesmo fala de forma errada; ao contrário, a postura do 
professor deve ser a de orientador no sentido de que possa 
mostrar ao aluno que sua fala deve ser adequada em cada 
situação de uso. Para isso, deve-se tomar como parâmetro a 
Língua Portuguesa padrão, pois é por meio dessa que todos 
nós, brasileiros, conseguiremos nos comunicar eficientemente. 
Depois de observar o quadro comparativo com as características que 
de nem fala e escrita, é necessário continuar estudando sobre mais 
um tipo de variação de registro. Agora falaremos um pouco sobre a 
sintonia. 
Percebeu como a nossa língua possui vários tipos de variações? Caso 
tenham alguma dúvida, não prossigam com a leitura. Parem, e leiam 
novamente com bastante atenção. 
186
13
Sobre isso, Messias (2008, p. 63), afirma que alguns 
professores têm uma postura preconceituosa quanto ao tipo 
de linguagem que os alunos fazem uso, ou seja, o professor, 
nestes casos, demonstra ter “preconceito linguístico”; que nada 
mais é do que exercer uma postura preconceituosa em relação 
ao modo de falar do aluno. 
Para a autora: 
(...) Esta postura comprova o quanto a falta 
de embasamento acerca da variação lingüística 
pode di cultar o entendimento da língua como 
atividade em situações concretas de enunciação, 
que varia de acordo com o grau de formalidade 
exigido pela situação. 
Nesse sentido, observa-se que os equívocos quanto 
ao ensino da língua portuguesa decorreram da falta de 
conhecimento sobre os tipos de ensino da língua portuguesa e 
os níveis de linguagem presentes na sociedade como um todo. 
Entretanto, não significa que o professor deve ser passivo 
diante do falar inadequado do aluno, mas, ao contrário, ele (o 
professor) deve mostrar ao aluno que existe a língua padrão e 
que é por meio dela que devemos nos comunicar em contextos 
que exijam uma linguagem formal. 
Depois de estudarmos alguns conceitos que envolvem 
a linguagem, é preciso discutir sobre o ensino da Língua 
Portuguesa à luz dos PCN’s, ou seja, veremos os pontos que 
devem ser estudados conforme os Parâmetros, os quais serão 
norteadores no processo de aprendizagem de metodologias e 
conteúdos para o ensino da língua portuguesa nos anos iniciais. 
É necessário salientar que o ensino da língua materna nos 
anos iniciais está pautado na leitura e na produção de textos, 
sejam eles verbais (escrito ou falado) ou não verbais. 
Nesse sentido, podemos afirmar que o texto é considerado 
unidade de ensino, afinal, ele é o instrumento que será 
usado para a prática de leitura e produção textual. Por isso, 
estudaremos, também, em outro momento 
sobre os tipos e os gêneros textuais, a fim 
de que compreendam a importância do 
aluno ter contato com variadas espécies de 
textos desde os anos iniciais. 
Segundo os PCN’s (1997, p. 28), o 
ensino da língua portuguesa, por muito 
tempo, esteve marcado por uma sequência 
5 - Concepções de linguagem: usos e 
 nalidades 
de conteúdos que pode ser denominada de aditiva. Isso 
porque os docentes ensinam a língua a partir de letras, as quais 
juntas formavam frases, que por sua vez, formavam textos. 
De acordo com os Parâmetros, o uso deste tipo de 
metodologia permitia que o “texto” servisse apenas para a 
leitura. Além disso, a produção destes textos ficava limitada ao 
ambiente de sala de aula, visto que eles não exerciam qualquer 
função no meio social. 
Em razão disso, percebeu-se a necessidade de se trabalhar 
com os gêneros textuais, tanto na prática da leitura quanto na 
produção textual, visto que o contexto é considerado, assim 
como os demais fatores que envolvem o planejamento e/ou 
a produção textual. 
O contexto (situação) de produção e de comunicação 
deve ser considerado para que seja capaz de identificar os 
aspectos que envolvem o texto, pois isso irá direcioná-lo em 
relação à leitura, ao uso da linguagem e a produção textual. 
É importante destacar que os PCN’s, em vários momentos, 
propõem o rompimento com concepções tradicionais, que, 
neste contexto, impossibilitam um repensar quanto ao ensino 
da língua portuguesa. Afinal de contas é preciso romper com 
velhos paradigmas, bem como com concepções errôneas do 
passado. 
Uma dessas concepções errôneas diz respeito à leitura, 
cuja definição se restringia a mera decodificação da palavra, ou 
seja, até pouco tempo tinha-se o conceito de que saber ler era 
converter letras em som. Assim, houve a formação de leitores 
capazes de identificar letras, palavras e orações no interior do 
texto, mas que não sabiam compreender de fato aquilo que se 
leu. Será isso leitura?
É evidente que ler vai muito mais além do processo citado 
acima. Pode-se dizer que a decodificação é o primeiro nível de 
leitura para se construir sentidos sobre o lido. Nesse sentido, 
propõe-se, por meio dos PCN’s, que se trabalhe a leitura para 
a formação de cidadãos críticos e reflexivos. Para tanto, essa 
prática deve ser concebida como prática social, visto que fora 
da escola o aluno terá contato com uma infinidade de espécies 
de textos, os quais orientam estas práticas na sociedade. 
Por isso, não há motivos para ensinar a ler apenas no nível 
superficial, cuja compreensão torna-se limitada e sem sentido 
para o leitor. 
Sobre a produção textual, propõe-se que a escola forme 
cidadãos, que sejam capazes de produzir textos de forma 
coesa, coerente e eficaz. Nesse sentido, há que se considerar, 
novamente, o contexto (a situação) de produção, uma vez que 
o produtor do texto deverá fazer uso do gênero textual de 
acordo com a prática social na qual o discurso se realizará. 
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Conteúdo e Metod. do Ensino da Língua Port. e 
Lit. nos anos Iniciais do Ensino Fundamental 14
Assim, é inconcebível que o aluno produza um texto 
inadequado ao contexto de comunicação. Por exemplo: ao 
escrever um documento direcionado a Câmara de Vereadores 
- uma solicitação, por exemplo- não poderá o fazer por 
meio de uma carta pessoal. Isso faz com a comunicação 
seja incoerente do ponto de vista pragmático, pois não há 
coerência entre os elementos (emissor-receptor e situação). 
Depois de falarmos sobre a produção textual escrita, é 
preciso discorrer sobre a produção oral e a escuta em sala 
de aula, habilidades muitas vezes esquecidas ou quando 
lembradas são desenvolvidas de forma inadequada. 
Sobre esse tema, os PCN’s (1997), destacam que o ensino 
da produção oral muitas vezes é feito erroneamente, visto que 
muitos professores acreditam que este conteúdo refere-se à 
correção da fala do aluno quando este se pronuncia oralmente. 
Ainda sobre essa confusão, Messias (2008), aponta que alguns 
professores entendem a produção oral como sendo a leitura 
em voz alta feita pelo aluno, quando, na verdade, não é. 
Segundo os PCN’s, expressar-se oralmente requer 
confiança em si mesmo, para tanto alguns fatores são 
importantes, como ambientes favoráveis para que haja a 
manifestação do pensamento. Além disso, é importante e 
fundamental quea escola ensine aos alunos sobre os diferentes 
níveis de linguagem, permitindo-os perceber que para cada 
situação de comunicação, exige-se o uso de determinado 
nível de linguagem, em alguns momentos são mais formais, 
e em outros momentos são informais. Portanto, o aluno 
deverá transitar em um caminho que exige uma linguagem 
mais coloquial, mas também adquirir habilidades de uso da 
linguagem mais formal, aquela que é a de prestígio social. 
Neste contexto, os gêneros textuais orais são ferramentas 
indispensáveis para o ensino da produção oral, uma vez que 
atividades como entrevista, apresentação de programa de 
rádio, desenvolvem nos alunos a habilidade de se expressar 
na oralidade. 
Em contrapartida, a escuta de textos exige do aluno 
que este seja capaz de ouvir. Para tanto, faz-se necessário 
que o professor ensine-o a escutar em momentos em que o 
outro estiver falando, seja o professor ou o colega de sala. É 
importante que isso se torne um hábito em suas vidas e que 
esta prática não seja feita porque o professor solicitou que 
ouvisse, mas está relacionado à conscientização do aluno em 
respeitar a vez do outro falar. 
Parece algo simples, mas não é, às vezes, até mesmo no 
ensino superior é difícil incutir na mente dos alunos que é 
preciso preservar o momento de escuta do texto oral. Por 
isso, é importante que desde cedo, os alunos sejam ensinados 
sobre esta prática. 
Na próxima Aula, continuaremos a nossa “conversa” sobre a produção 
textual, mas, desta vez, veremos quais são os fatores que determinam 
um texto como realmente um texto. 
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemu na 
escola e agora? São Paulo: Parábola, 2005. 
BUENO, Elza Sabino da Silva. Nós, a gente e o bóia-fria: 
uma abordagem sociolingüística. São Paulo: Arte & Ciência, 
2003. 
BRASIL, Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto 
ciclos: apresentação dos temas transversais. Secretaria de 
Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
<http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/
linguagem/0501/8%20art%206.pdf>.
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