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JULIA MINODA | RESUMOS INTERNATO CIRROSE E INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA Conceito: Cirrose é o estágio final do resultado de diversos mecanismos de lesão ao fígado que levam à necroinflamação e à fibrogênese. Fisiopatologia: Frente às lesões prolongadas, histologicamente, o fígado torna-se cheio de nódulos de regeneração rodeados por septos fibrosos densos e sem parênquima hepático; isso leva ao aumento da resistência ao fluxo sanguíneo (hipertensão portal) Etiologias: etilismo de longa data; hepatites virais crônicas; doença hepática gordurosa; doenças hereditárias (doença de wilson, hemocromatose hereditária…), doenças autoimunes (hepatite autoimune, colangite biliar primária…). Apresentação clínica: grande espectro de sintomas, a depender do estadiamento do paciente. > Manifestações inespecíficas: mal estar, dor em quadrante superior direito, febre, náuseas, vômitos, anorexia, diarreia, fadiga, irritabilidade, confusão mental, delirium > Manifestações de hiperestrogenismo e hipoandrogenismo: estão presentes já nas fases iniciais - Eritema palmar - periférico na palma das mãos, com palidez central(o hiperestrogenismo provoca proliferação e dilatação vascular); - Telangiectasias ou aranhas vasculares distribuídas pelo tronco, abdome, MMSS e pescoço (o hiperestrogenismo provoca proliferação e dilatação vascular) - Ginecomastia, atrofia testicular, perda da libido, impotência sexual - Menstruação irregular - Rarefação de pelos - Desnutrição e redução da massa muscular > Manifestações de déficit de síntese (estágios mais avançados) : Coagulopatias, hipoalbuminemia > Manifestações de hipertensão portal - Ascite - Varizes esofágicas - Esplenomegalia (hiperesplenismo, plaquetopenia, pancitopenia) - Circulação colateral (cabeça de medusa) - Hipotensão (vasodilatação arterial esplâncnica diminui o volume arterial efetivo - fluxo sanguíneo para os órgãos está reduzido - hipovolemia relativa) - Síndrome hepatorrenal (IRA) > Manifestações que sugerem etiologia alcoólica: Contratura de Dupuytren, parótidas intumescidas (por ingurgitamento), pancreatite associada, neuropatia, aumento de transaminases com predomínio de AST (TGO) em relação ao ALT (TGP) > Manifestações de doença avançada: Icterícia, encefalopatia hepática, coagulopatia, hipoalbuminemia, anasarca, desnutrição, imunossupressão, síndromes hepatorrenal e hepatopulmonar Obs: cirrose = mudança na estrutura do órgão, alteração mecânica; insuficiência = mudança funcional do órgão, devido a morte de hepatócitos alterações referentes a falhas mecânicas falhas funcionais - telangiectasia, coagulopatia (por falta de síntese de protrombina), deficiências hormonais (rarefação de pelos, eritema palmar…) falhas que tem componente funcional e mecânico - ascite (aumento da pressão porta que leva a menor absorção de líquido peritoneal que leva ao extravasamento de líquido + diminuição proteica também dificulta a mobilização do líquido do peritônio); icterícia (dificuldade de drenagem de bilirrubina OU incapacidade de conjugação nos hepatócitos); encefalopatia hepática (shunt portossistêmico - sangue que não foi metabolizado vai direto pro corpo, ou seja, chega ao cérebro cheio de escórias como a amônia + incapacidade de metabolizar amônia) 1 JULIA MINODA | RESUMOS INTERNATO Classificação de gravidade >Classificação de Child-Pugh >>> melhor correlação com o acompanhamento ambulatorial; baseia-se em dados clínicos laboratoriais Essa classificação avalia 5 critérios e varia de 5 a 15 pontos, sendo que cada critério é pontuado entre 1 e 3, com 3 indicando a condição mais severa. Em geral, child-pugh >7 indica cirrose. Interpretação: 5 a 6 pontos: Child A – 100% de sobrevida em 1 ano 7 a 9 pontos: Child B – 81% de sobrevida em 1 ano 10 a 15 pontos: Child C – 45% de sobrevida em 1 ano > Escore de MELD: utilizado para transplante hepático e tem boa acurácia em definição de prognóstico a curto prazo. Avalia: bilirrubina total, RNI e creatinina. Exames laboratoriais: - Hemograma: anemia pode ocorrer devido sangramento crônico em trato gastrointestinal ou deficiências nutricionais. Plaquetopenia pode ocorrer devido hiperesplenismo - TGO, TGP: as transaminases estão localizadas no citoplasma dos hepatócitos. Quando aumentadas sugerem atividade inflamatória no parênquima hepático. Não avaliam a gravidade da doença. Na cirrose a relação TGP/TGO costuma ser < 1 (TGO eleva-se mais que a TGP) - FA, GGT: são enzimas indicadoras de colestase hepática - Bilirrubinas: hiperbilirrubinemia, principalmente à custa da fração direta - Coagulograma: avalia síntese hepática (fatores de coagulação são produzidos no fígado). A redução significativa da função hepática pode resultar em coagulopatia (tendência hemorrágica). Ocorre alteração inicialmente da via extrínseca da coagulação (o fator VII da coagulação apresenta meia vida mais curta) - Proteínas séricas: hipoalbuminemia - Sorologias: para definir etiologia - Outros exames que devem ser solicitados: glicemia, perfil lipídico, função renal Tratamento: a cirrose hepática é considerada uma condição irreversível. Dessa forma, seu tratamento é baseado no manejo das complicações e medidas suportivas: estabelecer a causa da cirrose e, se possível, intervir (cessar alcoolismo, por exemplo), evitar medicamentos hepatotóxicos, rastrear hepatocarcinoma, nutrição adequada, orientar o paciente sobre necessidade de controle periódico, etc. Exames: - Exame físico: pode haver redução do lobo hepático direito, associada a um lobo esquerdo aumentado, palpável abaixo do rebordo costal, com superfície endurecida e nodular no exame físico - USG abdominal: avalia o aspecto do fígado. O tamanho do fígado depende do seu grau de cirrose. Nos casos mais avançados a tendência é sua redução e atrofia como um todo. O USG com doppler pode ser utilizado para estudo do sistema porta - TC: utilizada para rastreamento de hepatocarcinomas, juntamente com a dosagem sérica de alfafetoproteína - EDA: para avaliar a presença de varizes esofágicas - Biópsia hepática: é o padrão ouro para diagnosticar a cirrose hepática. Apesar disso, na maioria das vezes não é necessária para o diagnóstico, bastando uma análise conjunta do quadro clínico, laboratorial e radiológico. A biópsia é reservada para os casos de dúvida diagnóstica CAUSAS DE CIRROSE/INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA - HEPATITES HIPERTENSÃO PORTAL Ocorre por aumento da resistência intra-hepática ao fluxo venoso devido a alterações estruturais + vasodilatação do leito esplênico. É definida por > 10 mmHg na pressão da veia porta ou > 5 mmHg do gradiente de pressão venosa hepática (GPVH). Esse aumento de pressão leva à Síndrome da Hipertensão Portal, que caracteriza-se pela fuga do sangue venoso da v. porta para seus vasos 2 JULIA MINODA | RESUMOS INTERNATO colaterais, levando ao surgimento de varizes esofágicas, circulação colateral abdominal, varizes retais e esplenomegalia congestiva. Seu tratamento consiste na cessação da causa de base (etilismo, tratamento da esquistossomose…) Obs: circulação colateral ocorre por recanalização da umbilical e também por inversão do fluxo; a drenagem do abdome é centrípeta, e com o aumento da congestão ela fica centrífuga; isso é visto pelo testando no exame físico, apertando duas extremidades do vaso colateral e soltando uma extremidade de cada vez, a fim de descobrir o sentido do fluxo do sangue. O aumento das veias superficiais e a inversão do fluxo caracterizam a circulação colateral - Varizes esofageanas >>> ↑↑↑ risco de HDA!! ⤷ Varizes que nunca sangraram: profilaxia primária > beta-bloqueador OU ligadura elástica + acompanhamento endoscópico ⤷ Varizes que já sangraram: profilaxia secundária > betabloqueador + ligadura elástica ⤷ Varizes sangrando: sangramento é volumoso e não autolimitado! > Estabilização hemodinâmica: Reposição volêmica com cristaloides. Avaliar transfusão (Hb <7, plaquetas <50.000 ou RNI > 1,7) > Omeprazol: úlcera péptica é a principal causa de sangramento, inclusive no paciente cirrótico > Octreotide : ⬇ pressão no sistema porta e ⬇ sangramento> Tratamento: EDA visualiza o local do sangramento e permite a ligadura elástica; se refratário: balão de Sengstaken-Blakemore (comprime varizes e reduz sangramento) > shunt portossistêmico intra-hepática transjugular (TIPS) > shunts não seletivos > Necessária profilaxia para Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE): HDA é fator de risco para PBE em cirróticos com ascite, pois acentua o fenômeno de translocação bacteriana intestinal. É feita com norfloxacino VO por 7 dias - ASCITE: acúmulo de líquido na cavidade abdominal decorrente da vasodilatação esplânica por hipertensão portal, alterando a permeabilidade e pressão capilar, com retenção de fluidos. Além disso, a hipoalbuminemia crônica diminui a pressão oncótica e contribui para a formação da ascite Diagnóstico clínico. Deve-se realizar a paracentese diagnóstica para avaliar os componentes do líquido (aspecto macroscópico, citometria, dosagem de proteína, glicose, LDH, triglicérides, gram e cultura) e definir etiologia. Além disso, deve-se calcular o gradiente albumina soro-ascite (GASA), que compara a concentração de albumina no sangue e no líquido ascítico > GASA ≥ 1,1: causada por hipertensão portal e ascite cardiogênica (transudato) > é a causa mais comum! > GASA < 1,1: causada por doença peritoneal (exsudato). Ex: neoplasia peritoneal (principal causa), pancreatite, síndrome nefrótica, tuberculose peritoneal (terceira causa mais comum) Exames complementares: US (método de escolha para detectar pequenas coleções líquidas abdominais) e TC Complicação: peritonite bacteriana espontânea (quando os níveis de proteínas no líquido ascítico são muito baixos, os pacientes correm maior risco de desenvolver PBE) Tratamento: > Restrição de sódio (até 2g/dia) > Diuréticos VO: iniciar com espironolactona (iniciar: 100mg, máximo: 400 mg). Para pacientes não responsivos, deve-se associar furosemida (iniciar: 40mg, máximo: 160mg). Deve-se manter a proporção 100:40. Deve-se iniciar o tratamento com doses baixas de diurético, pois o paciente apresenta volume arterial efetivo reduzido. Alvo do tratamento diurético: perda de 0,5 kg/dia > Paracentese de alívio: indicado para ascite sintomática, refratárias ou muito volumosas 3 JULIA MINODA | RESUMOS INTERNATO PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA (PBE) Conceito: infecção espontânea do líquido ascítico sem fonte de infecção intra-abdominal. Mortalidade de até 50% na primeira infecção! Fisiopatologia: a infecção do líquido ascítico ocorre por translocação de bactérias intestinais, principalmente devido ao supercrescimento bacteriano associado à alteração da permeabilidade intestinal. A infecção é facilitada pela deficiência de opsoninas (proteínas) no líquido ascítico de pacientes cirróticos Etiologia: geralmente gram negativa e monobacteriana, sendo as mais comuns E. coli ou Klebsiella Fatores de risco: tto com ATB recente, paracentese de repetição, cateteres. Manifestações clínicas: geralmente inespecíficas; limiar de suspeição deve ser muito baixo: se paciente tem ASCITE + DETERIORAÇÃO DO ESTADO GERAL ou SINTOMAS DE INFECÇÃO >>> PENSAR EM PBE!!! Diagnóstico: é feito através da paracentese, que evidencia contagem de neutrófilos ou polimorfonuclear > 250/mm³ no líquido ascítico . Exames de imagem podem ser usados para excluir demais causas de peritonite Tratamento: Cefotaxima (cefalosporina de 3ª geração) 2g EV 8/8h por 5 dias (ou ceftriaxona 1g EV de 12/12h) Profilaxia para síndrome hepatorrenal: expansão plasmática com albumina IV 1,5g/kg nas primeiras 6hs + 1g/kg no terceiro dia; suspensão de diuréticos e demais drogas nefrotóxicas. Profilaxia para PBE: norfloxacino 400mg VO 12/12h > Profilaxia primária: indicada para pacientes com cirrose, com HDA ou síndrome hepatorrenal. Manter profilaxia por 7 dias > Profilaxia secundária: indicada para pacientes que já apresentaram episódio de PBE. Manter a profilaxia até regressão total da ascite ENCEFALOPATIA HEPÁTICA (EH) Síndrome neuropsiquiátrica potencialmente reversível que ocorre devido à não metabolização de substâncias tóxicas pelo fígado, como a amônia, a qual penetra a barreira hematoencefálica. Ocorre em pessoas com doença hepática GRAVE, seja aguda ou crônica. Agentes precipitantes: Em pacientes com doença hepática crônica, episódios agudos de encefalopatia geralmente são desencadeados por eventos reversíveis. Os principais são HDA, infecções (principalmente por PBE), constipação (↑produção de amônia intestinal), alcalose metabólica, dieta hiperproteica e iatrogenia (ex.:TIPS). Manifestações clínicas: as principais são inversão do padrão sono/vigília (manifestação mais precoce), sonolência, flapping, desorientação, hiperatividade ou hipoatividade. 4 JULIA MINODA | RESUMOS INTERNATO Diagnóstico: clínico + exames complementares para auxiliar no raciocínio (identificar uma infecção, por exemplo). Tratamento: - Corrigir fatores desencadeantes - Lactulona: auxilia na eliminação dos metabólitos (acidifica o intestino), convertendo amônia em amônio, que não é absorvido pela mucosa intestinal. Meta: 2 a 3 evacuações amolecidas por dia - ATB: podem ser usados em episódios recorrentes e refratários; neomicina, rifaximina e metronidazol. SÍNDROME HEPATORRENAL É o estágio final de uma sequência de reduções na perfusão renal induzida por lesão hepática grave. Pode ser insidiosa ou precipitada por algum evento agudo. Fisiopatologia: a hipertensão portal leva ao aumento de produção ou da ação de substâncias vasodilatadoras, como o óxido nítrico, que levam à vasodilatação arterial esplênica. Isso leva à redução do volume circulante efetivo, diminuindo a pressão de perfusão renal e culminando na ativação do sistema renina angiotensina aldosterona, que provoca vasoconstrição renal, diminui a taxa de filtração glomerular e faz retenção de sódio e água Diagnóstico: é um diagnóstico de exclusão. É preciso ter: > LESÃO RENAL AGUDA ( Creatinina ≥ 1,5 mg/dL ou aumento ≥ 0,3 mg/dL em 48h ou ≥50% do valor basal em até 7 dias) sem outra causa aparente, como choque, medicações nefrotóxicas, nefropatia crônica, etc. Classificação - Tipo 1: MAIS GRAVE; precisa do aumento em pelo menos 2x da creatinina basal para níveis de pelo menos 2,5 mg/dL em menos de 2 semanas. - Tipo 2: menos severa, tem como protótipo o paciente com cirrose avançada com ascite refratária a diuréticos. Tratamento - Vasoconstritor esplênico + albumina 1g/kg no 1º dia, seguido por 20-40 g/kg/dia >Vasoconstritores: Terlipressina; se ausente, octreotide ou midodrina. Em pacientes graves optar por noradrenalina. Meta: aumentar a pressão arterial média em 10-15 mmHg e p/ acima de 82 mmHg. > Tratamento tem duração recomendada de 14 dias e deve ser mantido até Cr<1,5 - Transplante hepático: o único considerado efetivo no aumento da sobrevida - Controle do fator precipitante (infecção, hemorragia, etc.). - Suspender uso de diuréticos: diminuem perfusão renal 5 JULIA MINODA | RESUMOS INTERNATO QUESTÕES Questão 1 A cirrose e insuficiência hepática são doenças graves e progressivas que ocasionam distúrbios em vários órgãos e sistemas do organismo humano. Em relação a fisiopatologia da cirrose/insuficiência hepática, marque a alternativa correta. Escolha uma opção: a. A redução da atividade da protrombina pode ser secundária à incapacidade de síntese hepática e/ou deficiência alimentar. b. A ascite ocorre devido ao aumento de pressão hidrostática na porção venosa dos capilares e ao shunt porto-sistêmico. c. A causa mais comum de confusão mental em pacientes descompensados é secundária à incapacidade hepática de metabolizar proteínas absorvidas pelo trato gastrintestinal. d. A circulação colateral e o flapping ocorrem devido à circulação colateral secundária à hipertensão porta. Questão 2 Paciente, 65 anos, sexo masculino, admitido no serviço de urgência com quadro de icterícia discreta e ascite. Nega hematêmese e melena. Relata ingestão de ½ de cachaça por dia há mais de 20 anos. É a primeira vez que interna por causa disso. PA 100 x 60mmHg FC=Pulso=110ppm FR=16 irpm Corado, hidratadono limiar, acianótico e levemente ictérico. Bem orientado no tempo e espaço. Presença de eritema palmar e ginecomastia. Tórax simétrico, com expansibilidade um pouco diminuída. MVF sem RA. Pulsos periféricos finos e simétricos (radial, poplíteo, tibial posterior e pedioso). Edema de MMII (+/4+). BNF taquicárdicas, sem sopros. Abdome distendido, com circulação colateral e aranhas vasculares. Presença de ascite discreta (macicez móvel positiva e piparote negativo). Baço palpável (Boyd III). Fígado não palpável. Considerando o quadro clínico descrito, marque a alternativa que indica corretamente a melhor abordagem inicial desse paciente. a. Realizar paracentese terapêutica. b. Incluir paciente na lista de transplante hepático. c. Iniciar tratamento com furosemida e espironolactona. d. Iniciar tratamento com corticóide injetável. Questão 3 Paciente masculino com diagnóstico recente de cirrose, em propedêutica da causa da cirrose. Marque a alternativa que indica corretamente os marcadores de hepatite viral crônica que devem ser solicitados inicialmente a. HBsAg, anti-HBc total e anti-HCV. b. Anti-HBc total (ou IgG), anti-HBs, anti-HAV IgG e anti-HCV. c. HBsAg, anti-HBc IgM, anti-HAV IgM e anti-HCV d. HBsAg, anti-HBc total, anti-HCV e carga viral para HCV Questão 4 Considerando a fisiopatologia da encefalopatia hepática, marque a alternativa correta. a. Ocorre por excesso de exposição do SNC a ureia devido ao shunt porto-sistêmico. b. Ocorre por excesso de exposição do SNC a amônia devido à insuficiência renal. c. Ocorre pela redução da depuração de proteínas pelo fígado devido à fibrose. d. Ocorre por hipoxemia cerebral devido à hipovolemia relativa. Questão 5 Pacientes com cirrose e insuficiência hepática descompensadas apresentam risco aumentado de insuficiência renal. Marque a alternativa que indica a explicação correta dessa situação. a. A ascite de grande volume pressiona a pelve renal, dificultando o fluxo urinário e provocando IRA pós-renal. b. Paciente apresenta hipervolemia que aumenta a pré-carga, levando a redução do débito cardíaco e hipoperfusão renal. c. A tentativa de mobilizar o líquido ascítico com diuréticos aumenta o risco de lesão renal aguda. d. Paciente apresenta maior sensibilização imune com grande circulação de imunocomplexos que podem causar IRA renal. Questão 6 Considerando as alterações fisiopatológicas secundárias a cirrose e insuficiência hepática, marque a alternativa que apresenta um sinal secundário à cirrose e um secundário à insuficiência, respectivamente. a. Aranha vascular e eritema palmar. b. Shunt porto-sistêmico e circulação colateral. c. Cabeça de medusa e ginecomastia. d. Rarefação de pelos e varizes de esôfago. Questão 7 Paciente com diagnóstico prévio de cirrose hepática (CHILD B) devido à hepatite C crônica está em acompanhamento ambulatorial. Em consulta de rotina relata estar passando bem, exceto por episódios de diarreia 6 JULIA MINODA | RESUMOS INTERNATO associados à fezes em borra de café de início ha cerca de 2 meses, que cessaram nos últimos 15 dias. Ao exame físico, apresenta circulação colateral na parede do abdome, baço Boyd II, eritema palmar e aranhas vasculares. Considerando a história recente do paciente, marque a alternativa que apresenta uma afirmativa correta. a. Nesse caso, a profilaxia só deve ser iniciada se o paciente apresentar varizes de antro gástrico. b. Não há necessidade de realizar endoscopia digestiva alta, pois não há sangramento em atividade no momento. c. Nesse caso, a profilaxia deve ser iniciada se o paciente apresentar varizes de esôfago de pequeno calibre. d. Deve-se iniciar profilaxia em caso de gastropatia secundária a hipertensão porta. Questão 8 Paciente feminina, admitida no serviço de urgência com quadro de icterícia e confusão mental, foi encontrada desmaiada. Sabidamente etilista importante de longa data. Hipertensa, faz uso irregular da medicação. PA 110 x 70mmHg FC=Pulso=110ppm FR=20 irpm Hipocorada, desidratada (+++/4+), acianótica e ictérica (+++/4+). Agitada, verborréica e agressiva. Apresenta-se confusa, desorientada no tempo e espaço. Tórax simétrico, com expansibilidade normal. MVF sem RA. Pulsos periféricos finos e simétricos (radial, poplíteo, tibial posterior e pedioso). BNF taquicárdicas, sem sopros. Abdome levemente distendido e hipertimpânico. Parede abdominal sem alterações. Sinal de piparote e macicez móvel negativos. Fígado palpável a 5 cm do RCD, doloroso, amolecido, superfície lisa e borda romba. Baço não palpável. Na propedêutica inicial apresentou os seguintes resultados de exames: - bilirrubina total 6,2; BD 5,0 e BI 1,2 - TGO 470 e TGP 150 Marque a alternativa que indica o diagnóstico mais provável dessa paciente. a. Hepatite viral aguda. b. Hepatite medicamentosa. c. Cirrose hepática compensada. d. Hepatite alcóolica. RESPOSTAS 1. A ascite é causada pelo aumento de pressão hidrostática na porção venosa dos capilares e a redução da pressão oncótica pela baixa síntese de proteínas. O shunt porto-sistêmica também é causado pela hipertensão porta e não é uma causa da ascite. A circulação colateral é causada pela hipertensão porta, mas o flapping é uma manifestação de encefalopatia hepática e não de hipertensão porta. A encefalopatia é a causa mais comum de confusão mental em pacientes cirróticos descompensados. A fisiopatologia da encefalopatia hepática envolve o shunt porto-sistêmico secundário à hipertensão porta e a redução da capacidade hepática de metabolizar proteínas e amônia. Apesar da atividade protrombina ser o exame mais fidedigno para avaliação da função hepática, ele pode ser alterado pela deficiência de vitamina K, cuja única fonte é a dieta. A resposta correta é: A redução da atividade da protrombina pode ser secundária à incapacidade de síntese hepática e/ou deficiência alimentar. 2. Como o paciente tem uma ascite leve, não está indicada a paracentese de alívio (terapêutica) e nem propedêutica (devido ao pequeno volume há risco de lesão de órgãos intra-abdominais. Paciente não apresenta evidências de hepatite alcóolica, mas antes de iniciar o tratamento da hepatite, é necessário calcular o índice de Maddrey, para verificar se há indicação de tratamento. A necessidade de transplante hepático deve ser avaliada em um segundo momento, após a confirmação do diagnóstico e o estadiamento da doença. Estando o paciente estável, pode iniciar-se a mobilização da ascite por meio do uso de diuréticos (espironolactona e furosemida). A resposta correta é: Iniciar tratamento com furosemida e espironolactona. 3. Deve-se pesquisar hepatite B e C crônicas. Uma vez que a hepatite A não cronifica, o anti-HAV total só indicará contato prévio com HAV, não contribuindo em nada com a investigação etiológica. Deve-se solicitar HBsAg, anti-HBc total e anti-HCV. A carga viral para HCV só deve ser solicitada se o anti-HCV for positivo. Marcadores de hepatites virais agudas: - hepatite A: anti-HAV IgM - hepatite B: HBsAg e anti-HBc IgM - hepatite C: anti-HCV (triagem). Se o exame for positivo, solicitar carga viral. O diagnóstico de hepatite C aguda é infrequente e seria necessário ter todos os marcadores das outras hepatites negativos e a evidência PCR negativo anterior e, preferencialmente, histórico de exposição potencial recente (< 6 meses), para ter certeza que é hepatite C aguda. Marcadores de hepatites virais crônicas: - hepatite A: não tem forma crônica; - hepatite B: HBsAg e anti-HBc total (ou IgG). O objetivo do anti-HBc total é confirmar que a exposição ao vírus é antiga; - hepatite C: anti-HCV (triagem). Se o exame for positivo, solicitar carga viral. Não existe exame que possa comprovar com 100% de certeza que é aguda ou crônica. Se o paciente tem doença hepática fibrosante e não tem 7 JULIA MINODA | RESUMOS INTERNATO hepatite B e/ou é etilista, assume-se que é hepatite C crônica. A biopsia é o único exame capaz de esclarecer a etiologia com certeza de 100%, mas não é realizado na maioria das vezes para esse fim. Outros marcadores: - anti-HAV total (ou IgG): indicacontrato prévio com o HAV e imunidade; - anti-HBs: marcador de imunidade contra HBV. Se positivo isoladamente indica imunidade vacinal. Se positivo em associação com anti-HBc total (ou IgG) indica imunidade natural (infecção prévia curada); - HBeAg: marcador de replicação do HBV. Está positivo na doença aguda e na crônica, por isso não tem valor diagnóstico. utilizado para avaliar tratamento em casos confirmados de hepatite B crônica; - anti-HBe: indica ausência de replicação viral. Utilizado em casos confirmados de hepatite B crônica para avaliar indicação de tratamento ou para avaliar a resposta ao tratamento. A resposta correta é: HBsAg, anti-HBc total e anti-HCV. 4. A encefalopatia hepática ocorre pela exposição do SNC ao excesso de amônia, que se origina da proteína absorvida pelo SNC. Essa exposição exagerada à amônia tem dois mecanismos: a redução da capacidade de metabolização hepática devido à insuficiência hepática secundária à fibrose e ao shunt porto-sistêmico secundário a hipertensão porta, que faz com que parte do sangue circulante não passe pelo fígado, atingindo diretamente o ventrículo direito e depois o SNC. A resposta correta é: Ocorre pela redução da depuração de proteínas pelo fígado devido à fibrose. 5. Pacientes com insuficiência hepática descompensada apresentam hipovolemia relativa devido ao sequestro de líquido para o terceiro espaço (ascite), por isso estão mais propensos a lesões renais agudas pré-renais, principalmente quando fazem uso de diuréticos de alça no tratamento da descompensação aguda da doença. A resposta correta é: A tentativa de mobilizar o líquido ascítico com diuréticos aumenta o risco de lesão renal aguda. 6. A hipertensão porta geralmente resulta de circulação colateral, com parte do sangue circulante atingindo o átrio direito pelo sistema ázigos. A circulação colateral caracteriza-se pelo aumento da pressão venosa e pela inversão do fluxo sanguíneo em determinados territórios de drenagem venosa, com o abdome. São lesões relacionadas à hipertensão porta: cabeça de medusa (recanalização da veia umbilical), varizes de esôfago e de estômago e o shunt porto-sistêmico. Já as manifestações da insuficiência hepática estão relacionadas a incapacidade de síntese de substâncias, como os hormônios. Suas manifestações mais frequentes são: ginecomastia, aranhas vasculares, eritema palmar e rarefação de pelos. A resposta correta é: Cabeça de medusa e ginecomastia. 7. Este paciente tem indicação de realizar endoscopia digestiva alta como rotina de acompanhamento da cirrose para avaliação de varizes do trato digestório superior e avaliação da necessidade de profilaxia de hemorragia digestiva alta. Como o paciente apresenta evidências clínicas de hipertensão porta e tem história prévia de hemorragia digestiva, a profilaxia está indicada se observa-se na endoscopia digestiva alta a presença de varizes de esôfago de qualquer calibre ou varizes de fundo gástrico. A gastropatia secundária a hipertensão porta não é indicação de profilaxia para hemorragia digestiva alta. A resposta correta é: Nesse caso, a profilaxia deve ser iniciada se o paciente apresentar varizes de esôfago de pequeno calibre. 8. Paciente etilista de longa data com quadro agudo de hepatite (icterícia intensa, associada a hepatomegalia com fígado amolecido, doloroso e edemaciado) sem esplenomegalia, sendo a etiologia mais provável o álcool, uma vez que apresenta transaminases pouco elevadas e inversão de TGO e TGP, com TGO 3x > TGP. Nas hepatites alcoólicas pode ser indicado o tratamento com corticóides, mas é preciso calcular o índice de Maddrey (≥ 32) para iniciar o tratamento. Como o paciente não tem dosagem de TP, será necessário realizar o exame antes de iniciar o tratamento. Índice de Maddrey = [4,6 x (TP paciente - TP controle)] + bilirrubinas Paciente não apresenta ascite ou sinais de cirrose/insuficiência hepática, logo também é necessário o TP para confirmar os descartar esses diagnósticos. A confusão mental pode ser explicada pela abstinência. Como o paciente não tem ascite, nem sinais de de cirrose/insuficiência hepática dificilmente teria encefalopatia hepática. A resposta correta é: Hepatite alcoólica. 8 JULIA MINODA | RESUMOS INTERNATO hipertensao portal -> circulação colateral - ocorre por recanalização da umbilical e tambem por inversao do fluxo; a drenagem do abdome é centripeda, e com o aumento da congestao ela fica centrifuga; isso é visto pelo teste da veia, apertando duas estremidades da veia e soltando um de cada vez, a fim de descobrir o sentido do flusxo. O aumento das veias superficiais e a inversao do fluxo caracterizam a circulação colateral sistema venoso paravertebral sistema azigos shunt portosistemico - sangue sai do sist porta e cai pro sistema corporeo sem passar pelo figado alterações referentes a falhas mecanicas falhas funcionais - telangiectasia, coagulopatia (por falta de sintese de protrombina), hormonais (rarefação de pelos, eritema palmar…) que tem compotente funcional e mecanico - ascite (aumento da pressao porta que leva a menor absorcao de liq peritoneal que vai extravasar; por diminuição proteica tbm dificulta mobilizaçao do liquido do peritoneo); ictericia (dificuldade de drenagem de bilirrubina OU incapacidade de reconjugação nos hepatocitos); encefalopatia hepatica (shunt portossistemico - sangue que nao foi metabolizado vai direto pro corpo, ou seja, vai pro cerebro, cheio de escorias como a amonia; e incapacidade de metabolizar amonia) diagnostico BASE: alcoolismo abstinencia de alcool - até 72h insuf hepatica complicada dá sind hepatorrenal, mas nunca 9
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