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AGENTES ANESTÉSICOS DE AÇÃO LOCAL E GERAL ANESTÉSICOS LOCAIS Vias aferentes da dor Mecanismo de ação ANESTÉSICOS GERAIS Bases neurofisiológicas Particularidades cinéticas Agentes parenterais Agentes inalatórios NOCICEPÇÃO E VIAS AFERENTES DA DOR Mecanismos nociceptivo multimodais (calor, pressão) Despolarização ( Na+) de aferentes primários até ME O estímulo inicial serve de gatilho para gerar o potencial de ação – abertura consecutiva de canais de sódio dependentes de voltagem – transmissão da dor ANESTÉSICOS LOCAIS Efeito local Ação na periferia (aferentes) Anestésicos locais: impedir que a informação dolorosa parta da periferia (despolarização) e chegue ao SN RACIONAL DOS ANESTÉSICOS LOCAIS Impedir ou diminuir a propagação do PA pelo aferente primário Propagação de estímulos nociceptivo ao SNC Criar um bloqueio elétrico que impeça a propagação do PA MECANISMO DE AÇÃO Bloqueio reversível dos canais de Na+v *Afinidade seletiva por conformações do canal Canais ficam naturalmente fechados e são dependentes de voltagem Perturbação no potencial de repouso → canal se abre (alteração de conformação) → permite entrada de sódio Canal possui mecanismos de autocontrole → depois de muito tempo aberto, mesmo com a abertura externa, fica inativado → altera conformação e se fecha → comporta abre novamente → canal pode voltar a ser ativo = mecanismo refratário *Dependência de uso ( afinidade pelo canal “inativado”) Anestésicos locais possuem seletividade para canal aberto ou inativado → só bloqueiam canais de sódio que foram abertos recentemente (seletividade de ação dos anestésicos locais) Quanto frequência de uso de um canal de sódio, chance dele ser inativado pelos anestésicos locais -Ex: fibras dolorosas durante uma cirurgia * adaptação de nociceptores ( acomodação de disparos) *Via hidrofóbica pouco relevante para o efeito O local de atuação do anestésico local é o interior da membrana -Anestésico pouco lipofílico (muito polar) → nada acontece (não atravessa membrana) -Anestésico muito lipofílico (pouco polar - prefere ficar na membrana) → pouco efeito (via hidrofóbica) Consegue algum efeito atuando na face membranar dos canais de sódio – baixo efeito anestésico *Via hidrofílica (polar intracelular) responsável pelo efeito -Anestésico moderadamente hidrofílico (+/- polar) → muito efeito (via hidrofílica) Maior porção do efeito anestésico Polaridade dos fármacos não é imutável (influência do pH) *Vias hidrofóbica (apolar) e hidrofílica (polar intracelular) *Anestésicos locais são bases fracas → forma hidrofílica predomina em meio ácido pKa é o número que corresponde ao pH da solução em que metade do fármaco vai estar na forma apolar e a outra metade, polar *Modulação do efeito por variação no pH (farmacocinética) Quanto mais polar for a fórmula, menos o anestésico entra no neurônio e dá o efeito Quanto mais alcalino for o meio, mais o anestésico estará apolar Bom trabalhar com pH próximo ao pKa do fármaco Inflamação → reduz pH do meio → anestésicos locais não funcionam tão bem (aumenta formas polarizadas e reduz a chance do fármaco exercer a via hidrofobia) *Efetividade de acordo com o calibre da fibra aferente Mielinização é determinante Fibra A: motor → muito calibrosas e altamente mielinizadas Fibra A: sensorial → intermediária; transmite dor aguda Fibra C: sensorial e pós-ganglionar → “isolamento elétrico” → sem mielina e baixíssimo calibre; transmite a dor secundária (pico tardio) Exemplo: administrou anestésico local em 1 pequena porção do nervo do braço, em quantidade pequena -Fibra C: bloqueia completamente a transmissão do sinal (não conseguiria transmitir tudo) -Fibra A: pode ter certo efeito, pois, mesmo que o potencial é saltatório, bloqueando vários nódulos, perde a continuidade do efeito -Fibra A: para bloquear uma fibra motora com anestésico local, é necessária uma grande quantidade de anestésico para perder essa continuidade de potencial saltatório Administração de anestésico local: bloqueio total de fibra C e significativo de fibra A PRINCIPAIS ANESTÉSICOS LOCAIS Diferença quanto a duração de efeitos e potência Todos possuem grupo éster ou amida hidrolisado no plasma Esses grupos químicos não duram muito tempo no plasma (presença de enzimas que os degradam) Exemplos: Tetracaína Lidocaína Bupivacaína (longa duração) Benzocaína ( lipofílica) Prilocaína (atravessa a pele íntegra) Cocaína ASPECTOS GERAIS Perfil de segurança e usos Associados a vasoconstritores ( efeito local e sangramento) Procedimentos locais e periféricos Uso em anestesias regionais (epidural, peridural) “Bloqueio” de nervos Problemas: efeitos sistêmicos são tóxicos (CV/SNC); bloqueio irreversível de canais de sódio dependente de voltagem é letal ANESTÉSICOS GERAIS Efeito sistêmico (circulação) Ação no SNC O ANESTÉSICO GERAL “IDEAL” Controle total de indução, manutenção e recuperação Duração que permite manutenção e evita “ressaca” Potência em múltiplos efeitos desejados Reações ao estímulo doloroso Nocicepção → analgesia Reflexos motores → relaxamento muscular Dor e sofrimento → perda da consciência e amnésia Reflexos autônomos → estabilização autonômica A ANESTESIA ALÉM DOS ANESTÉSICOS Princípios da anestesia balanceada (poli-anestésico) Adjuvantes “potencializam” o procedimento (sinergismo) Segurança em procedimentos anestésicos ( doses) Esquema mono-anestésico (doses crescentes) 1. Sensibilidade e analgesia 2. Perda da consciência 3. Relaxamento muscular 4. Parada de centros vitais 5. Morte Anestesia balanceada PRINCIPAIS ADJUVANTES ANESTÉSICOS Não são anestésicos, mas possuem efeitos que facilitam a anestesia 1. Sedativos e hipnóticos (barbitúricos e benzodiazepínicos) 2. Agentes antimuscarínicos ( secreções) – facilita intubação 3. Bloqueadores (N) e relaxantes musculares 4. Analgésicos de ação central (opioides) RACIONAL DOS ANESTÉSICOS GERAIS Redução da excitabilidade em sítios relacionados ao efeito anestésico Redução de excitabilidade em qualquer lugar do SN que tenha relação com sensação de dor Hipocampo e sistema límbico (amnésia; ansiedade) Mesencéfalo, tálamo e córtex: analgesia Formação reticular e tálamo: consciência Medula espinal e tronco: relaxamento muscular e alteração autônoma (batimento cardíaco, controle da PA) MECANISMO GERAL DE AÇÃO Efeito depressor geral sobre o SNC inibição tônica ( GABA, abertura K+v) ou excitação (antagonizando receptores de glutamato) Problema: depressão cardiorrespiratória ( contração, pA) 1. Potencialização GABAA (2, 2, 1) Hiperpolarização ( influxo Cl-) e inibição tônica Afinidade 4, 6 e (extrassinápticos) Subunidades : anestésicos voláteis Subunidades : voláteis e parenterais 2. Abertura de canais K+ Hiperpolarização ( efluxo K+) e inibição tônica Especialmente comum nos agentes voláteis 3. “Bloqueio” glutamatérgico (NMDA, AMPA) Redução na transmissão excitatória mediada por glutamato Supressão da excitação ( influxo Na+/Ca+2) a. Obstrução do canal (ketamina) – antagonista que tampa o canal de ligação do glutamato b. Antagonismo de sítios alostéricos de glicina (Xe) – impede a ligação c. Mudança conformacional (N2O) PARTICULARIDADES CINÉTICAS Lipofilicidade define acúmulo no SNC lipofílico ~ potência Acúmulo em tecidos gordurosos (“sequestro”/ redistribuição – gordura vai liberando anestésico aos poucos) Problemas: reduz eficácia anestésica; piora na recuperação (dura mais tempo) Meia-vida contexto-dependente: parte do pressuposto que você não dá uma dose única, mas sim vai sendo administrado constantemente-Saturação de mecanismos de eliminação -Tempo maior para passar efeito -Diazepam e Thiopental não são administrados por infusão contínua (meia-vida altíssima) ANESTÉSICOS GERAIS PARENTERAIS Sempre como anestesia balanceada Preferidos na indução ( velocidade de ação) Comodidade na administração (i.v./i.m.) Problemas: reversibilidade ( seguro); ação prolongada ( eliminação / recuperação) Administração endovenosa Principais agentes com perfil heterogêneo de ação 1. Etomidato Ação majoritária GABAA (alfa/beta) Supressão adrenal ( cortisol) – reduz impacto metabólico e autonômico que o cortisol pode causar (ex. variação da glicemia) Problema: dor local (emulsão) Alto metabolismo ( recuperação) Depressão cardiorrespiratória A opção mais segura atual ( índice terapêutico) 2. Propofol Ação majoritária GABAA () Metabolismo muito rápido ( duração/ recuperação) Problemas: metabólitos tóxicos (corpos cetônicos); dor local e hiperlipidemia (fospropofol) Manutenção anestésica (infusão contínua) - único Relativamente seguro 3. Quetamina Antagonista de canais NMDA (bloqueio do canal) fluxo simpático ( FC, pA, pC) Associado com simpatolítico (xilazina, agonista 2) – fármaco que reduza o fluxo simpático Amnésia intensa (glutamato é relacionado com formação de memórias) Problemas: anestésico dissociativo (alucinação/ consciência); uso abusivo Também é usado como antidepressivo (rápido) 4. Tiopental (e outros barbitúricos com enxofre) Exemplos: tiamilal, metoexital Potencializa a ação de canais GABAA Efeito rápido (indução) e baixa duração (10’) Problemas: alto acúmulo em gordura; baixa recuperação (“ressaca”); metabolismo saturável (quanto maior a dose, menor é a metabolização – compete com ele mesmo pelo metabolismo); parada cardiorrespiratória (sobredose); pode ter efeito paradoxal (hiperalgesia); necrose de extremidades (caso administre i.a.); não é anestésico isoladamente Doses pequenas de fármacos que atuam em GABAA têm efeito inibitório, mas não é homogêneo → inicialmente inibe córtex pré-frontal (controle de comportamento, atenção, impulsividade) -Dose pequena → inibe córtex pré-frontal → hiperativa o resto do SN 5. Midazolam (e outros benzodiazepínicos de curta duração) Potencializa a ação de canais GABAA Efeito rápido e de curta duração Efeito amnésico, sedativo e relaxante muscular Mais seguro que barbitúricos (reversibilidade) Pré-anestésico mais usado (v.o/i.v.) Indução ou manutenção de coma em UTI Problema: não é anestésico isoladamente Pensar nos 2 últimos mais com adjuvantes ANESTÉSICOS GERAIS GASOSOS Importância histórica (álcool, éter, clorofórmio) Mais lipofílicos que parenterais Mais seguros e com efeito fugaz Limiar de consciência/inconsciência Pouco metabolismo (eliminação pulmonar) Preferidos na manutenção ( recuperação) Problemas: indução lenta e “aversiva” (irritação); muito acúmulo na gordura; depende da ventilação (coma, asma, DPOC, bronquite...); sinergismo com outros depressores respiratórios (opioides); alta instrumentação e capacitação; alto custo CINÉTICA DE GASES ANESTÉSICOS Perfil cinético mais complicado Participação sangue: gás, óleo/gás, cérebro/sangue etc Razão de “afinidade” entre “meios distintos” (ar, água, óleo) Coeficiente de partição: qual a tendência de um fármaco preferir um meio em relação ao outro Administra gás no compartimento alveolar (ar): atravessar membrana alveolar (lipídica) → sangue (líquido hidrofílico) → barreira hematoencefálica → cérebro (alvo) Coef. óleo/gás: fármaco prefere ficar no alvéolo ou no componente oleoso da membrana Coef. sangue/gás: chance do fármaco, a partir da membrana, preferir ir para o componente sanguíneo ou voltar para o alveolar Coef. cérebro/sangue (óleo/água): chance do fármaco preferir o cérebro do que o sangue OBS - o coeficiente não é 100% determinante → se o coef. óleo/ar for baixo, a tendência é dele se acumular no alvéolo e, dependendo da quantidade de fármaco, aumenta a pressão e algumas moléculas passam para a membrana Concentração alveolar mínima (CAM) ( CAM, potência anestésica) CAM, saturação alveolar, pressão parcial alveolar Halotano tem um coeficiente óleo/ar alto → quando começa a chegar no alvéolo, já é absorvido Óxido nitroso precisa de saturação alveolar para exercer uma pressão parcial e o fármaco ser absorvido As maiores diferenças são famacocinéticas Perfil de duração de efeito e anestesia é multifatorial Coeficientes de partição e CAM “interagem entre si” ANESTÉSICOS GERAIS GASOSOS 1. Óxido nitroso (“gás do riso”, “gás hilariante”) indução, recuperação Bloqueio glutamatérgico NMDA Efeito euforizante (+ “contrações involuntárias faciais”) Problemas: potência anestésica ( CAM); embolia gasosa e pneumotórax ( saturação); anemia e leucopenia (> 6hs) Uso odontológico ( complexidade) Uso obstétrico ( risco ao bebê) 2. Halotano (Fluotano) Um dos primeiros inalatórios “modernos” Alta potência anestésica ( CAM) Problemas: relaxamento uterino (dificulta parto - não usado em gestantes); hipertermia maligna (raro - dantroleno contrapõe); metabólitos hepatotóxicos (trifluoroacetato); caindo em desuso 3. “Fluranos” Isoflurano: vasodilatação coronária → risco de isquemia Desflurano: lipossolúvel, recuperação, irritação respiratória (não usa como indutor) Sevoflurano (ação rápida, odor agradável, indutor) Mais seguros e tolerados Problema: enflurano pró-convulsivante (desuso) 4. Xenônio Gás nobre (inerte) Problemas: baixa potência anestésica ( CAM); alto custo Seguro (sem metabolismo) e pouco tóxico Deve ganhar destaque no futuro
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