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Boletim SBEM SP_agosto2021-3

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Publicação Quadrimestral - n.04
ISBN 978-65-992794-4-7
A g o s t o / 2 0 2 1
Boletim
SBEM-SP
Regional São Paulo
S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e
E d u c a ç ã o M a t e m á t i c a
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N O S S O S C A N A I S D E C O M U N I C A Ç Ã O
Veja como entrar em contato com a SBEM-SP.
2 E D I T O R I A LLuciane de Fat ima Bert ini e Rogério Marques Ribeiro
8 E D U C A Ç Ã O M A T E M Á T I C A E M S PEm destaque o grupo GEPEm e o Acervo Pessoal Ubiratan D'Ambrósio.
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A N O T E E M S U A A G E N D A
Confira a relação de importantes eventos.
16
P A R A N O S S O S A S S O C I A D O S 
Fique por dentro das ações que estão sendo desenvolvidas, e part ic ipe.
23
R E M A T
Conheça as novidades da revista e os últ imos art igos publ icados.
24
Confira as novidades para a pr imeira Feira de Matemática do estado de São
Paulo.
Boletim
SBEM-SP
26
E N T R E V I S T A S
O professor Dr. Antonio Vicente Marafiot i Garnica, da UNESP-Bauru,
fala sobre o momento da pandemia e a Educação Matemática.
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28 D I R E T O R I A R E G I O N A L D A S B E M - S P ( 2 0 2 0 - 2 0 2 3 )Conheça as ações da diretor ia no últ imo quadrimestre.
M A T E M Á T I C A S 
Luciana Barbosa e Marcus Maltempi propõem discussões sobre
Matemática e pensamento computacional .
V E M A Í . . . 
21 C O M P A R T I L H A N D O E X P E R I Ê N C I A SO associado Luiz Carlos Leal Junior compart i lha conosco a experiência de
uma ação em um curso técnico.
Mais uma vez, iniciamos nosso editorial destacando a complexa situação
enfrentada pelo nosso país diante dos desafios sanitários, sociais,
econômicos, políticos e educacionais. Às imensas tristezas geradas por
essa situação, soma-se uma que afetou a área da Educação Matemática
em geral: a morte do Prof. Ubiratan D'Ambrosio. A diretoria da SBEM-SP se
solidariza com a família e amigos deste grande educador matemático,
reconhece sua importância na constituição da área Educação Matemática
no Brasil, e sua fundamental contribuição para essa área.
A partir desse reconhecimento, nesta edição, dedicamos a seção "Educação
Matemática em SP" à memória do Prof. Ubiratan D'Ambrosio, apresentando dois
espaços que certamente permitirão que suas contribuições permaneçam vivas: o
Grupo de Estudos e Pesquisa em Etnomatemática (GEPEm-FEUSP), aqui representado
pela Profa. Dra. Cristiane Coppe, e o Acervo Ubiratan D'Ambrósio (APUA), organizado
pelo Grupo Associado de Estudos e Pesquisas em História da Educação Matemática -
GHEMAT, representado pelo Prof. Dr. Wagner Rodrigues Valente.
Destacamos, também, que a temática da Pandemia e das políticas públicas segue
como tema da entrevista, e o entrevistado desta edição. o Prof. Dr. Antonio Vicente
Marafiori Garnica, nos brinda com um excelente bate papo no qual ele estabelece um
diálogo com o entrevistado da terceira edição, o Prof. Dr. Roger Miarka, e apresenta
novos elementos em discussão, em relação aos desafios do cenário que se apresenta. 
Na seção "Compartilhando experiências" é apresentada uma ação realizada em um
curso técnico envolvendo a temática da resolução de problemas, a qual foi
desenvolvida no âmbito do Grupo de Pesquisa em Educação, Matemática e
Subjetividades – GPEMS- do Instituto Federal de São Paulo - IFSP.
Anunciamos, ainda, uma novidade que passará a fazer parte do nosso Boletim: a seção
"MatemáticaS". Essa seção se apresenta como um espaço para discussões de temas
relacionados à Matemática sob diferentes perspectivas, sejam elas conceituais ou
procedimentais, além de suas relações internas ou com outras áreas do conhecimento.
Além do mais, neste Boletim, destacamos algumas das novidades que a SBEM-SP tem
preparado para você, como o lançamento de uma ediçao especial da REMat e as ações
para a realização da Feira de Matemática no estado de São Paulo. Essas, e outras
novidades estão disponíveis nas diferentes seções do nosso Boletim. Confira! 
Seguimos na expectativa de que juntos construiremos uma regional ainda mais forte,
mais participativa e representativa da área da Educação Matemática. 
EDITORIAL
AGOSTO DE 2021
BOLETIM SBEM-SP
Luciane de Fat ima Bert in i 
Rogér io Marques Ribeiro
BOLETIM SBEM-SP
 
Editores: 
Luciane de Fatima Bertini 
Rogério Marques Ribeiro
 
 
Revisão da Língua
Portuguesa:
 
Rafael Sicol i Pacheco
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publ icação (CIP)
 
Suel i Costa - Bib l iotecár ia - CRB-8/5213
(SC Assessor ia Editor ia l , SP, Bras i l ) 
 
Índices para catálogo s istemático:
 1 . Educação : Ensino : Matemática 372.7
 
Sociedade Brasi le ira de Educação Matemática
 Bolet im da Sociedade Brasi le ira de Educação Matemática –
Regional São Paulo [ l ivro e letrônico] / Sociedade Brasi le ira 
de Educação Matemática; organização Luciana de Fatima
Bert ini , Rogério Marques Ribeiro. – 3.ed. - São Paulo : Sociedade
Brasi le ira de Educação Matemática – Regional São Paulo, 2021. 
 23600 Kb ; 27 p. 
 
 Formato: PDF
 ISBN: 978-65-992794-4-7 
 
1. Formação de professores 2. Ensino de matemática 
I . Sociedade Brasi le ira de Educação Matemática I I . Bert ini ,
Luciana de Fatima I I I . Ribeiro, Rogério Marques IV. Título 
 
 CDD-372.7
 
Nesta edição, o nosso convidado, professor Dr. Antonio Vicente Garnica,
dialoga conosco sobre Pandemia e Educação Matemática, considerando um
diálogo com a entrevista do professor Dr. Roger Miarka, divulgada na edição
n. 3 do nosso Boletim, sobre a complexidade da situação que vivenciamos em
nosso país, agravada pela Pandemia.
A voz de um
pesquisador
Entrevistado: Antonio Vicente 
Marafioti Garnica
Docente na Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)
- Bauru
SBEM-SP: Como você avalia, de forma
geral, as políticas públicas brasileiras
para Educação Básica e Superior no
enfrentamento da Pandemia de Covid-
19?
Vicente: Eu concordo plenamente com
a resposta que o professor Roger
Miarka deu a essa mesma pergunta, na
entrevista publicada no Boletim SBEM-
SP de Abril: as coisas andam muito mal.
Roger fala de uma “realidade sem
diretrizes governamentais claras de
defesa e organização da educação”. Eu
me atrevo a ir um pouco mais além: não
se trata de haver políticas públicas
pouco claras e eficientes: trata-se de
não haver a menor sombra de políticas
públicas, PONTO. A atual diretriz
emanada dos poderes públicos é
transformar o ódio às oposições, o
revanchismo, a violência, o moralismo
barato e os ressentimentos em políticas
de Estado, o que é implementado com
vulgaridade e com destemperança,
sempre promovendo exclusões. Não se
trata, porém, de um estado de coisas
que se mostre apenas na Educação. 
A total ausência de políticas públicas
passa pelas questões relativas ao meio
ambiente, ao bem-estar social, à
produção e ao financiamento de
pesquisas em Ciência, às práticas
relacionadas às famílias, à Saúde, aos
Direitos Humanos, à Cultura. É um
verdadeiro escárnio. Das propostas de
governo defendidas à época de uma
eleição que fez muitas pessoas –
inclusive colegas nossos, acadêmicos,
esclarecidos, defensores da liberdade
de expressão, de imprensa, de
pensamento, progressistas de fachada –
votarem no atual presidente, só restou
intacta a defesa pelo armamento
irrestrito da população, já que todo
resto caiu por terra. 
Políticas Públicas são, como hoje
entendo, um conjunto de ações que o
Estado cria, aplica e controla, visando ao
bem-estar social. Deve-se ter,
entretanto, um norte para guiar o
Estado, de modo que suas políticas
públicas sejam coordenadas, coesas,
mais do que meras ações voltadas a
solucionar local e temporariamente as
necessidades da sociedade. 
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 Pandemia e Educação Matemática 
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Estamos órfãos de políticas públicas,
posto que, quando muito, o poder
executivo reduz-se à execução de ecos
do que, em outros tempos, até podem
ter sido políticas públicas consistentes,
mas que, hoje, são simplificadas e
destroçadas para que delas possam dar
conta, tanto um presidente com uma
notável deficiência moral e cognitiva
quanto sua equipe – um quadro por
vezes apenas incompetente, por vezes
apenas mal intencionado, mas,
certamente, composto de indivíduos
voltados a atender os mandos e
desmandos do que o presidente,
saudoso dos idos da Ditadura, sua
sagrada família, os militares e boa parte
do Congresso Nacional julgam ser um
nacionalismo necessário, mas perdido
devido à ingerência nefasta dos
partidos de esquerda, ou “sociopatas”,
como os núcleos de oposição,
indiscriminadamente, têm sido
chamados pelas hordas que apoiam o
atual presidente.
O cancelamento do censo realizado
pelo IBGE é um exemplo cabal de por
onde andam as intenções do Governo.
Desse censo – e não das redes sociais
que alimentam as ações presidenciais –
vêm informações essenciais para a
elaboração de Políticas Públicas.
Veio também do IBGE – é conveniente
lembrarmos – o mais significativo
elemento de defesa em favor da
pesquisa qualitativa que, hoje,
fundamenta a quase totalidade dos
estudos em Educação. 
Sem que saibamos mais
detalhadamente sobre a formação das
famílias, da divisão de renda, dos
modos de estudar, habitar, vestir-se,
alimentar-se, das ocupações do
brasileiro, seus trabalhos, seus lazeres,
das sensíveis diferenças culturais de
cada região, da distribuição de escolas,
postos de saúde, comércio, hospitais
etc, como arquitetar ações que
atendam, adequada e minimamente, a
população? 
A ausência de políticas públicas pode
ser sentida em todas as áreas. Nossa
política pública de segurança, por
exemplo, transformou-se na ideia fixa
de que cada brasileiro cuidaria
convenientemente da própria proteção
se tivesse acesso a seis armas de fogo,
desconsiderando de forma radical não
só o Estatuto do Desarmamento,
aprovado em 2003, como todos os
atentados que têm ocorrido em
escolas, creches e outros espaços
públicos, no Brasil e no mundo, e que,
segundo especialistas, talvez pudessem
ser evitados com um maior controle
sobre o porte e a compra de armas.
Somos vítimas de um Estado que
convive com os maiores índices de
violência policial do mundo, chegando
ao cúmulo do extermínio ocorrido no
início de maio, na favela do Jacarezinho,
no Rio de Janeiro, que os órgãos de
Segurança Pública avaliaram como
“necessário”. No campo das políticas
relativas à família, cuja
responsabilidade central é de um
Ministério administrado por uma
pastora evangélica que se arvora em
ser interlocutora direta de Jesus, as 
 poucas ações implementadas são
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voltadas às famílias cristãs e
classicamente nucleadas, com pai
provedor, do sexo masculino, mãe “do
lar”, do sexo feminino, e filhos que
vestem azul ou rosa, a depender do
sexo de cada um. Do ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos surgem políticas pautadas
pela exclusão, visando a atender uma
sociedade que só existe nos devaneios
do Governo que ele representa. Cunha-
se, hoje, a expressão “ideologia de
gênero”, que se impõe nas mais
diversas “políticas", desde aquelas
voltadas ao livro didático até as que
cuidam de promover a diversidade e a
equidade, resultado de “vozes
medievais que emergem das
catacumbas”, como a elas se referiu
Drauzio Varella. Algumas dessas vozes
chegam ao cúmulo de negar a
esfericidade da Terra. Aliás, é
importante notar, além da
(in)competência própria de cada
representante do Governo, a
diversidade de diretrizes que emana de
cada um: convivem terraplanistas com
um ministro-astronauta, um ex-
presidente da CAPES, que defende o
Criacionismo, um presidente da
Fundação Palmares que apoia o fim do
movimento negro e um Ministro da
Educação – pastor presbiteriano – para
o qual os estudantes de hoje “não
sabem ler, mas sabem usar camisinha”.
Um time perfeito – que, além dos já
citados, inclui um ex-Secretário da
Cultura com tendências nazistas,
membros do Movimento de
Supremacia Branca e a Ministra
Damares Silva, que já desaprovou 
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publicamente Elsa, a princesa do filme
de animação Frozen, que, segundo ela, 
 é homossexual, e criticou os pais
holandeses por masturbarem seus
bebês. Esse núcleo insano reza e
defende a cartilha de um presidente que
declara publicamente seu apreço pela
ditadura, tendo o Coronel Ustra, notório
torturador, como um de seus modelos
de referência, seu herói particular.
No campo da saúde, as evidências falam
por si. Nenhuma política pública decente
seria mesmo possível quando ministros
são trocados por não representarem
fielmente as expectativas do presidente
da República, que, de fato, exerce a
função de Ministro da Saúde com a
prerrogativa de implementar políticas de
tratamento precoce contra a COVID-19,
apostando numa imunização de
rebanho e negando a importância das
ações que efetivamente poderiam
diminuir o contágio. De todos,
entretanto, o mais notável foi, sem
dúvida, Eduardo Pazuello, general da
ativa do Exército Brasileiro sem
formação alguma na área de saúde.
Pazuello, inacreditavelmente, é o
especialista em logística que não
conseguiu prever que para a aplicação
de vacinas seriam necessárias agulhas e
seringas, não conseguiu planejar nem a
compra de vacinas em tempo hábil para
diminuir os efeitos perversos de uma
pandemia, declarada em março de 2020,
nem a necessidade de produtos
médicos e outros insumos necessários
para hospitais, que certamente, sem que
fosse necessária nenhuma previsão
miraculosa, entrariam em colapso.
Faltou vacina, faltou oxigênio, faltaram
remédios, faltaram máscaras, faltaram
agulhas e seringas. 
Visite nosso site e acompanhe as
novidades da SBEM-SP
https://sbempaulista.org.br/
que se comenta nas redes sociais, com a
profundidade e a argumentação
fundamentada que são próprias às redes
sociais.
SBEM-SP: Que desafios o atual cenário de
crise sanitária, econômica e social,
potencializado pela pandemia, impõe à
Educação Matemática?
Vicente: Mais uma vez, eu vou concordar
com o que o professor Roger disse na
entrevista da edição de abril: o cenário é
incerto. E mais uma vez preciso reafirmar
que, segundo meu ponto de vista, é
contraproducente descolar a Educação
Matemática de um cenário mais geral, que
é sensivelmente caótico e sem
perspectivas de alterações significativas
em curto tempo. Como falar da Educação
Matemática – seja da pesquisa em
Educação Matemática, seja das práticas de
ensino e aprendizagem nas salas de aula
de Matemática – sem considerar esse
cenário mais amplo?
No campo da ciência, de modo geral, o
negacionismo exacerbado se une à falta
de financiamentos e à interrupção de
políticas de formação e fomento à
pesquisa. Os pesquisadores projetam
perspectivas bastante sombrias, pela falta
de financiamento, para todas as frentes de
investigação científica em curso no país. A
área de Humanidades, alvejada de modo
sistemático desde a campanha
presidencial e açoitada continuamente
desde os primeiros momentos do
Governo atual, padece ainda mais
visivelmente. À falta de investimentos no
Campo de Ciência, da Tecnologia e das
Inovações devem-se juntar a frequência
dos ataques a pesquisadores e instituições
de pesquisa que não seguem a cartilha
bolsonarista e a perseguição sistemática a
pesquisadores que não atendem às
perspectivas do atual Governo. 
Um editorial da Revista Science, de março
de 2021, chama a atenção já em seu título:
Um ambiente hostil – cientistas brasileiros
enfrentam crescentes ataques do regime
de Bolsonaro. 
 
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As quase 550 mil mortes, contadas até o
momento em que essa nossa conversa
para o BOLETIM da SBEM-SP acontece,
são a prova cabal da ineficiência do
Governo e da inexistência de
investimentos em uma política pública
que apostasse tanto na rede de hospitais
do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto
na experiência brasileira, altamente
positiva, do Programa Nacional de
Imunização (PNI). A situação de extrema
pobreza e fome, que voltou a assolar o
país, são tratadas ora com o auxílio da
população que se organiza em
campanhas de doação, que, embora
necessárias e úteis, acabam desobrigando
o Estado, ora com um auxílio emergencial
irrisório, demorado, implementado de
modo ineficaz e confuso.
Nesse ambiente de caos, em que vigora
um fascismo tão claro quanto a
ineficiência e a incapacidade dos poderes
públicos, nada de positivo parece vicejar
além de um clima generalizado de
desesperança, radicalização, ineficiência,
violência, desamparo, autoritarismo,
atraso, falso moralismo, preconceito e
exclusão. O Estado laico esfacelou-se e
agora seguimos à mercê de evangélicos
preconceituosos, muitos deles,
aparentemente, corruptos. Nesse cenário,
a Educação padece tanto quanto
padecem os demais campos nos quais a
presença do Estado, com diretrizes claras
e seguras (a serem seguidas ou
combatidas), é vital para nossa qualidade
de vida. 
O que vemos é o país carente de ações
sistemáticas, coesas e fundamentadas
nos mais diferentes domínios. As ações
do governo – que não são, efetivamente,
políticas públicas – são pautadas ou pelo
desejo da reeleição, pela intenção
descarada de proteger, das malhas da lei,
a família do Presidente, ou na ideia fixa
de atender apenas um eleitorado que,
via-de-regra, questiona e pretende abalar
preceitos constitucionais. 
Tais ações são implementadas em
resposta ao que mostram as pesquisas de
popularidade e, mais frequentemente, o
Em uma visada panorâmica, ainda que
rápida, é suficiente para termos certeza da
ausência de políticas públicas também
para a formação de mestres e doutores.
Não temos tempo, aqui, para
detalhamentos, mas convém apontar que
a atual presidente da CAPES, Claudia
Queda de Toledo, não escapa desse
histórico de constrangimento ao qual essa
agência foi submetida. Queda de Toledo
não tem as prerrogativas mínimas para o
cargo. Ela assumiu a presidência da CAPES
no momento em que os coordenadores de
pós-graduação ultimavam o
preenchimento das planilhas para a
avaliação quadrienal. Pressionados pelo
tempo e pelo complicado sistema de
prestação de contas, alguns
coordenadores de Programas de Pós-
graduação, informalmente, firmaram um
pacto de conivência com a recém-
presidente, que prorrogou a entrega dos
relatórios por 40 dias, sendo esse o
primeiro ponto da carta de intenções
divulgado por ela no momento de sua
nomeação. Entre os dez itens dessa carta
de intenções conta ainda a garantia de
manutenção do sistema de avaliação
quadrienal. Negligenciando a necessidade
de comprometerem-se pública e
politicamente com o sistema de pós-
graduação, esse grupo significativo de
coordenadores de Programas optou pela
comodidade de aceitar um acordo
pautado apenas pelo pragmatismo. O
sistema de avaliação da CAPES, a única
política pública – implantada ainda no
Governo Geisel – relativa à formação de
pesquisadores em programas de
mestrado e doutorado no Brasil, tem
servido atualmente, como se vê, nem mais
como resíduo do que foi efetivamente – e
não sem críticas ou questionamentos –
uma política pública, mas como moeda de
troca que visa a emplacar, de forma dócil,
os desmandos e a inépcia de gestão do
atual Governo.
Desse modo, a esperança de alterar o
quadro caótico em que vivemos fica cada
vez mais distante, e muito tempo levará
até que possam ser revertidas,
minimamente, as ações já tomadas e as
perspectivas atualmente defendidas pelo
Estado.
 
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A Lei de Segurança Nacional – estratégia
legal criada no período da Ditadura – e
congêneres foram acionadas pela
Presidência não só para impedir a
divulgação de informações científicas
contrárias às posições que se desejava
serem “as oficiais”, mas também contra
líderes indígenas, que em várias ocasiões
queixaram-se do descaso do Governo
Federal quanto à falta de apoio em relação
à COVID nas aldeias, o desmantelamento
de órgãos como a Funai e o Ibama, e o
apoio – direto e indireto – dado a invasores
de reservas indígenas. A ciência brasileira,
portanto, vive um processo de
desaceleração, tanto por falta de
investimentos quanto pelo atual ambiente
hostil em que as práticas científicas são
vistas como de pouca ou nenhuma
relevância.
No caso da Educação, a situação não é
outra: foram três, até o momento, os
ministros da Educação. A gestão Bolsonaro
se inicia com Ricardo Vélez Rodriguez,
passando por Abraham Weintraub,
chegando a Milton Ribeiro. Em comum,
todos guardam a inexpressividade quanto
aos vínculos com a Educação, a baixíssima
– quando existente – produção na área, e a
fidelidade extrema aos princípios fascistas
e preconceituosos que regem a atual
gestão da República. Weintraub, o mais
pernicioso e falastrão, não cansou de,
durante todo o seu mandato, tentar
desautorizar toda e qualquer ação
educativa consistente no país, movendo-se
por notícias falsas impostas para
descredenciar, principalmente, as
Universidades Federais. Todo o sistema
nacional de avaliação em larga escala foi
altamente comprometido durante esse
período, que ocorre desde a posse do
presidente. O SAEB sofreu recuos
constantes, e desde a “administração”
Vélez Rodriguez, a avaliação relacionada à
alfabetização vem sendo um denso campo
de conflitos. O Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM) é outro caso emblemático
no histórico das confusões e
incompetência do Ministério da Educação. 
A CAPES mereceria um parágrafo especial
nessa coreografia de absurdos em que se
transformou a Educação Brasileira na era
Bolsonaro.
Somos o florescer da Grumixama que
está com suas raízes firmadas no solo
da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo em
memória à ancestralidade da
professora Maria do Carmo Domite
(Figura 1), respeitando um ritual
indígena que, quando morre uma
pessoa na aldeia, planta-se uma árvore
a árvore nos inspirou para o
lançamento do livro O florescer da
Grumixama: raízes, sementes e frutos
das pesquisas em Etnomatemática em
20 anos de GEPEm/FEUSP (Figura 2). 
O GEPEm: Quem somos?
Constituído no final de 1998, o Grupo
de Estudo e Pesquisa em
Etnomatemática-GEPEm vem-se
organizando em torno do interesse
comum de seus participantes – pós-
graduandos, graduandos da FEUSP,
professores da educação básica e
outros núcleos de pesquisadores de
diversas instituições do país – ao longo
de mais de 20 anos de existência –
estudando, pesquisando e discutindo
acerca do Programa Etnomatemática.
 
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GEPEm/FEUSP e 
o legado de Ubiratan D'Ambrosio
Grupo de Estudos e Pesquisa em Etnomatemática
Por Cristiane Coppe
Figura 1 – Grumixama e celebração à distância do lançamento do livro.
SOBRE A SEÇÃO
Nesta edição, esta seção é dedicada à memória do Prof. Ubiratan D'Ambrosio, e apresenta dois espaços que
certamente permitirão que suas contribuições permaneçam vivas: o Grupo de Estudos e Pesquisa em
Etnomatemática (GEPEm-FEUSP) e o Acervo Ubiratan D'Ambrósio (APUA), organizado pelo Grupo Associado de
Estudos e Pesquisas em História da Educação Matemática - GHEMAT. 
Figura 3 – Evento 20 anos do GEPEmna FEUSP.
Somos, ainda, o legado do professor
Ubiratan D`Ambrosio em diversas
dimensões do Programa
Etnomatemática e movimentos em prol
da Educação Matemática (Figura 3).
“Um grupo que recusa a endogenia, as
gaiolas epistemológicas e a prática
sectária, inspirando-nos nas
teorizações de D´Ambrosio e Freire”
(COPPE, CONRADO & VALLE, 2020, p. 6)
 
Figura 2 - Lançamento do livro no canal Matemática humanista -
Da esquerda para a direita: Adriana Mendonça (filha de Maria
do Carmo Domite), Andreia Conrado (organizadora). Ubiratan
D`Ambrosio (vice-líder do grupo – In Memorian), Carlos Mathias
(Canal Matemática Humanista). Júlio Valle (Organizador) e
Cristiane Coppe (Organizadora).
Atualmente, o GEPEm está
colaborando em um programa de
mestrado em Angola, com as
pesquisadoras Eliane da Costa Santos
e Cristiane Coppe de Oliveira na
formação de 10 mestrandos em
Educação na área de Educação
Matemática (Figura 5). Outro
movimento interessante que surgiu a
partir do primeiro contato com os
mestrandos em Angola foi a
necessidade que uma estudante
apontou de manusear livros com
temas atuais, pois a princípio eles
tinham acesso apenas a formatos em
pdf disponíveis em sites. Essa fala
motivou as pesquisadoras do GEPEm
articularem com a editora Autêntica a
possibilidade de criarem, juntamente
com a diretoria da instituição, um
pequeno acervo de Educação
Matemática (Figura 6). A chegada dos
livros na biblioteca na Escola
Pedagógica da Lunda Norte contou
com várias mãos brasileiras e
angolanas, destacando-se a
disponibilidade de mais uma colega de
grupo, a pesquisadora Marília Prado.
Os mestrandos concluirão suas
pesquisas até o final do ano de 2021.
Ações na Educação Matemática
nacional e Internacional 
Ao longo do seus 20 anos de
existência, o GEPEm se movimenta
para além de suas pesquisas,
encontros e publicações. Como
apontamos na apresentação do livro,
temos a preocupação com os
desenhos curriculares, sendo que:
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 Figura 4 - Flyer do evento, pesquisadores do GEPEm (Cristiane Coppe, Paulo Duarte e Valdirene Rosa) em Angola. Abaix0:
professor Jorge Veloso, organizador do evento e o mestre Sona, juntamente com Cristiane Coppe de Valdirene Rosa.
o grupo resiste junto à escola
pública, seja acolhendo professoras
e professores em formação ou
construindo projetos significativos
de intervenção nas políticas, dentre
as quais destacamos a ávida
discussão sobre os Cadernos do
Campo do Pnaic e também a
construção de um currículo de
matemático inspirado pela
Etnomatemática, como ocorreu ao
fim da gestão do prefeito Fernando
Haddad em São Paulo (2013-2016).
(COPPE, CONRADO & VALLE, 2020,
p. 6).
 
Outro fator relevante é o contato
constante do GEPEm com diversos
pesquisadores internacionais, por
intermédio da professora Maria do
Carmo e do professor Ubiratan, que
sempre mantiveram as pesquisas do
grupo em evidência, quer seja nos
eventos internacionais de
Etnomatemática ou de Educação
Matemática, ou mesmo em outros
projetos, principalmente com os
Estados Unidos e Portugal. 
No ano de 2019, ocorreu a I
Conferência Internacional sobre
Educação Matemática na Lunda Norte
em Angola, cujo tema foi “Por um
ensino de matemática inclusivo e de
qualidade, resgatemos a
Etnomatemática dos povos de Angola”.
O evento ocorreu na Universidade
Lueji A`Nkonde na cidade de Dundo,
Lunda Norte, em Angola (Figura 4).
O GEPEm foi representado pelos
pesquisadores Cristiane Coppe de
Oliveira, Paulo Duarte e Valdirene
Rosa, que apresentaram trabalhos e
participaram de discussões acerca da
Etnomatemática.
 
Figura 5 - Turma de mestrandos no Seminário Acadêmico para
apresentação dos projetos de pesquisa em 2020.
Figura 6 - Cristiane Coppe e Eliane Santos na biblioteca da Escola
Pedagógica na sessão coletiva de orientação dos mestrando em
Educação Matemática.
Escreva para:
boletim@sbempaulista.com.br
Livros publicados pelo GEPEm:
RIBEIRO, J.P.M; DOMITE, M.C; FERREIRA, R. Etnomatemática: papel, valor e significado. Porto Alegre: ZOUK, 2006.
VALLE, J.C; CONRADO, A.L; COPPE, C. O florescer da Grumixama: raízes, sementes e frutos das pesquisas em
Etnomatemática em 20 anos de GEPEm/FEUSP. Jundiaí: Paco, 2020.
Artigos publicados a partir de pesquisas defendidas até o momento em Educação Matemática no Programa de
Educação em Lunda Norte/Angola:
EQUA-AÇÃO OU UMA AÇÃO-INEQUA? REVISITANDO O ENSINO DE EQUACAO DO 2º GRAU EM ANGOLA
Autores: Africano Florindo Francisco Samo e Eliane Costa Santos
Link de acesso: https://abpnrevista.org.br/index.php/site/article/view/819. 
O CONTEXTO CULTURAL E O CONTEXTO ESCOLAR EM ANGOLA: conhecendo Nzongo – unidade de medida do povo Chokwe
na comuna de Camaxilo 
Autores: Carlos Mucuta Santos e Cristiane Coppe De Oliveira
Link de acesso: http://histemat.com.br/index.php/HISTEMAT/article/view/278
JOGOS ANGOLANOS COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA: um estudo na perspectiva do
Programa Etnomatemática
Autores: Cristiane Coppe de Oliveira eDomingos Mateus Mandavela Monteiro
Link de acesso: http://www.seer.ufu.br/index.php/BEJOM/article/view/58089
Nossos encontros...
As reuniões do GEPEm, desde sua
criação ocorrem às quintas-feiras das
14h30 às 16h30 nas dependências da
Faculdade de Educação da USP (Figura
7). Com a pandemia da COVID-19, as
reuniões passaram a ocorrer de modo
on-line (Figura 8).
Esperamos ansiosos para o nosso
próximo encontro presencial, em que
as celebrações do grupo terão um
misto de alegria, sentimentos da
ausência física de nosso 
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E D U C A Ç Ã O M A T E M Á T I C A E M S P
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querido professor Ubiratan, mas
fortalecidos, pois sabemos que o
GEPEm ainda tem muito a contribuir
com a Educação Matemática paulista,
nacional e internacional, com o
Programa Etnomatemática e tantas
interfaces que podem-se estabelecer
no florescer da Grumixama, no legado
deixado por Ubiratan D`Ambrosio e
Maria do Carmo Domite. Por ora,
seguimos na resistência contra o
desmonte atual na Educação,
compartilhando nossas lutas e
conquistas. 
Para saber mais, acesse o site
do grupo:
 http://paje.fe.usp.br/~etnomat/
 
 
 
Envie uma descrição do grupo de
pesquisa ou do programa
detalhando as ações relacionadas à
área da educação matemática.
A proposta deverá conter no máximo
5000 caracteres, com espaço.
Também podem ser enviadas fotos
para serem publicadas. 
Escreva para:
boletim@sbempaulista.com.br
COMO PARTICIPAR
DESTA SEÇÃO? Figura 7 - Reunião presencial no Laboratório de Matemática em 2018.
Figura 8 - Encontro on-line do GEPEm em Agosto de 2021.
Em 2008, criou um Centro de
Documentação para abrigar um
conjunto grande de documentos
desses docentes. Um apoio importante
para essa iniciativa veio do Professor
Ubiratan D’Ambrosio. Ele mesmo
decidiu doar para o Grupo parte de sua
documentação de modo a dar início à
construção do Centro.
Em realidade, sua documentação teria
muito boa acolhida em outras
instituições, pois afinal de contas,
D’Ambrosio constituiu-se em figura de
expressão internacional. 
Arquivos pessoais de antigos
professores, normalmente, não
despertam interesse de instituições.
Salvo exceções, o que se tem são
arquivos pessoais de cientistas, em seu
trabalho de produção de conhecimento
nos diferentes campos disciplinares.
Por certo, isso vale também para
professores de matemática. 
Há mais de vinte anos, o GHEMAT Brasil
– Grupo Associado de Estudos e
Pesquisas em História da Educação
Matemática (www.ghemat-
brasil.com.br) vem reunindo materiais 
 de professores de matemática.
De outra parte, tal inciativa atraiu
familiares de outros professores a
doarem documentos importantes para
a preservação da memória da docência
em matemática. Assim, junto dessa
documentação inicial do Prof. Ubiratan,
somaram-seacervos de Osvaldo
Sangiorgi, Scipione Di Pierro Neto,
Lucília Bechara Sanchez, Euclides Roxo
dentre vários outros. Tais acervos
poderão ser inicialmente consultados
via internet
(https://www.ghemat.com.br/centro-
de-documentacao).
 
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s b e m p a u l i s t a . o r g . b r 
APUA
Arquivo Pessoal Ubiratan D'Ambrosio
Por Wagner Rodrigues Valente
 Foto 1 - Cerimônia de inauguração do Centro de Documentação do GHEMAT.
Matemática, História das Ciências, dentre
vários outros campos estão registrados
em documentos que atestam a trajetória
de um verdadeiro polímata.
Em texto recente
(https://doi.org/10.1590/2175-
6236112052), tivemos oportunidade de
reiterar a importância dos acervos
pessoais de professores. Dentre um sem
número de temáticas que podem ser
abordadas a partir desse tipo de
documentação, fixamo-nos no saber
profissional da docência em matemática,
uma especificidade de projeto coletivo
que está em andamento no GHEMAT. É
preciso reiterar, porém, que as pesquisas
que vierem a utilizar o APUA poderão
abordar uma gama de assuntos e
temáticas, dada a multifacetada
personalidade do Prof. Ubiratan.
Com o falecimento do Prof. Ubiratan, sua
esposa, Dona Maria José, em gesto
generoso, resolveu doar o acervo
existente em sua residência, com uma
infinidade de documentos ainda não
integrantes do APUA – Arquivo Pessoal
Ubiratan D’Ambrosio. Essa
documentação está em processo de
catalogação para ser disponibilizada ao
público. Assim, ajuntando-se à grande
quantidade de documentos já
catalogados, doados em vida pelo Prof.
Ubiratan
(https://repositorio.ufsc.br/handle/12345
6789/173452), soma-se essa nova e
imensa leva de materiais riquíssimos
para a pesquisa.
A pesquisa com o APUA é, por certo,
múltipla, multidisciplinar, como era
D’Ambrosio. Cultura, Educação,
Etnomatemática, Educação Matemática, 
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E D U C A Ç Ã O M A T E M Á T I C A E M S P
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Para consultar os acervosdo Centro deDocumentação doGHEMAT clique aqui
 Fotos 2 e 3 - Doação de documentos ao GHEMAT por Dona Maria José.
Introdução
Muitas inquietações têm surgido na
comunidade escolar e acadêmica de
Educação Matemática após a
publicação da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018) e da
BNC-Formação (BRASIL, 2019). Aos
sistemas de ensino, cabem a
construção de currículos baseados nos
pressupostos da Base. Professores e
gestores das escolas precisam
compreendê-la, refletir sobre seus
pressupostos pedagógicos, e
contemplá-la (através do currículo) em
uma prática reflexiva, investigativa e
crítica de ensino. Cursos de formação
inicial de professores precisam ser
reestruturados seguindo as novas
diretrizes. E na Educação Matemática,
questões de pesquisa são levantadas
buscando compreender suas
implicações na Educação Básica e
Formação inicial de professores
(BARBOSA; MALTEMPI, 2020; PINTO,
2017).
Ao fundamentar-se no conceito de
competências e habilidades, a BNCC
definiu um conjunto de competências
gerais e habilidades e competências
específicas para cada área do
conhecimento.
Matemática e Pensamento
Computacional: possibilidades
através da construção de
algoritmos
 
Luciana Leal da Silva Barbosa
Marcus Vinicius Maltempi
Unesp, Rio Claro
 
 M a t e m á t i c a S
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No entanto, para além desses
pressupostos, traz o Pensamento
Computacional (PC) como uma
competência e/ou habilidade a ser
desenvolvida, no Ensino Fundamental
associado à Matemática, e no Ensino
Médio como uma das dimensões
relacionadas às Tecnologias Digitais.
Mas como contemplar o PC no
currículo da Educação Básica? Como
desenvolver o PC e as aprendizagens
matemáticas de forma concomitante?
Como esta “nova” habilidade será
trabalhada pelos cursos de formação
inicial?
Nesse contexto, este texto objetiva
abordar a articulação entre PC e
aprendizagem matemática por meio da
construção de algoritmos. Partimos da
sugestão da BNCC, que associa PC e
algoritmos afirmando que estes
“podem ser objetos de estudo nas
aulas de Matemática” (BRASIL, 2018, p.
273), e que o PC pode ser desenvolvido
durante o processo de formulação e
resolução de problemas “por meio do
desenvolvimento de algoritmos” (p.
476), para buscar compreensões de
como o professor de matemática pode
desenvolver o PC e a aprendizagem 
SOBRE A SEÇÃO
A seção MatemáticaS é a mais nova seção do Boletim, e sua proposta é a de
promover a discussão sobre diferentes perspectivas que poderão ser
abordadas para tratar de temas relacionados à Matemática envolvendo
conceitos, procedimentos, ou mesmo promovendo a articulação entre
diferentes áreas da Matemática ou as relações entre Matemática e outras
áreas do conhecimento.
COMO PARTICIPAR
DESTA SEÇÃO?
Envie uma proposta
de discussão.
O texto deverá conter
entre 5000 e 10000
caracteres com
espaço. Também
podem ser enviadas
fotos para serem
publicadas. 
 
Escreva para:
 
boletim@sbempaulista.com.br
dourado para a “melhor” compreensão
do algoritmo da adição, relacionando a
abstração dessas ideias à necessidade
de manipular materiais concretos ou à
ludicidade (SOUZA; SETTI;
TAMBURASSI, 2019; SANTOS; PEREIRA,
2016). 
No entanto, essas abordagens ainda
fazem uso do método tradicional de
ensino da matemática, que enfatiza a
transmissão do conhecimento, a
memorização e reprodução de regras,
uma vez que o material dourado é
utilizado para “explicar” ou
“aprofundar” as compreensões do
algoritmo da adição. Como
poderíamos repensar essa estratégia
de ensino para oportunizar um
processo de aprendizagem
matemática construcionista e que
mobilize habilidades do PC? 
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Figura 1 - Material dourado para composição decimal de números naturais em unidades, dezenas e centenas.
Estas questões têm a função de
estimular e organizar o raciocínio das
crianças durante a resolução, uma vez
que é normal, no início, elas trocarem
a ordem das ações. Por exemplo,
podem registrar a ação “troque 10
unidades por 1 dezena” antes da ação
“junte e conte a quantidade de
unidades dos dois números”, ou
mesmo omitir alguma delas. Ao final,
uma possível solução poderia ser
como o algoritmo representado no
Quadro 1.
Nossa proposta também faz uso do
material dourado com o objetivo de
proporcionar descobertas e
construções matemáticas pelos alunos
e, ao mesmo tempo, desenvolver o PC
através da construção de algoritmos
que modelam o processo da adição. A
atividade começa com a seguinte
pergunta: Como encontrar o resultado
das seguintes adições usando o
material dourado? Na sequência,
operações de adição podem ser assim
apresentadas: 15 + 18; 19 + 13; 24 + 16,
etc. Neste momento, as ideias de
juntar e acrescentar, a construção de
fatos básicos da adição e a composição
de números naturais precisam estar
consolidadas, bem como o significado
de cada peça do material dourado e
sua quantidade correspondente já
devem ser conhecidos, como ilustrado
pela Figura 1.
 
matemática em sua prática docente As
possibilidades serão discutidas no
contexto de uma atividade
desplugada.
Pensamento Computacional e
Matemática na prática
A BNCC enfatiza o papel heurístico das
experimentações na aprendizagem
matemática para que alunos
relacionem observações empíricas do
mundo real a suas representações, e
estas a uma atividade matemática
fazendo induções e conjecturas
(BRASIL, 2018). Isso significa
reconhecer o valor de atividades
investigativas que permitam a
formulação e a validação de hipóteses.
A fim de iniciar nossas discussões,
vamos partir de métodos de ensino e
recursos jáconhecidos e praticados
pela comunidade escolar para avançar
rumo a uma abordagem
construcionista de aprendizagem
(PAPERT, 1986), que possibilita a
articulação entre PC e matemática
enquanto o educando constrói um
produto do seu próprio
conhecimento.
Há tempos as ideias iniciais da adição
são desenvolvidas com o uso dos
dedos e da manipulação de materiais
concretos, sendo um dos mais
conhecidos o material dourado. O
cálculo mental também é estimulado
para a resolução de problemas
envolvendo números de baixa ordem.
Mas, e quando os números começam
a ficar maiores? Com as ideias de
“juntar” e “acrescentar” já
desenvolvidas, assim como a
composição posicional do sistema
decimal, parte-se para a apresentação
do conhecido algoritmo da adição
“arme e efetue” para resolver
problemas ou operações com
números da ordem de dezenas,
centenas ou maiores.
Quem nunca ouviu do seu professor:
“unidade em baixo de unidade”,
“dezena em baixo de dezena”, ou o
famoso “vai um”? Será que o contexto
em que estas frases são ditas possui
algum significado para os educandos
que vai além da memorização e
repetição de uma sequência de
passos? Pesquisas e sugestões de
atividades propõem o uso do material 
Durante o desenvolvimento da
atividade, o professor deverá orientar
os alunos a registrarem cada ação
executada enquanto manipulam o
material para resolver as adições. As
seguintes perguntas podem estimular
o processo de construção dos
algoritmos: Qual a primeira coisa que
vocês fazem? O que devemos fazer
com as peças que têm o mesmo
formato? O que devemos fazer
quando a quantidade de unidades é
maior ou igual a 10? 
 M a t e m á t i c a S
Deseja-se que cada criança represente
seu modo de pensar, de resolver esta
operação, por meio de um algoritmo,
para que compreenda o processo e
registre o pensamento desenvolvido. Tal
estratégia difere da abordagem
tradicional, que se limita a apresentar um
algoritmo pronto, um produto construído
por outro. Desta forma, a atividade
proposta deve anteceder a apresentação
do algoritmo “arme e efetue”, de modo
que cada aluno terá a oportunidade de
construir seu próprio algoritmo, que,
posteriormente, poderá ser generalizado
e sistematizado. 
Considerações Finais
 Ao chegar aqui, o leitor pode questionar-
se: mas o que há de novo nesta
proposta? É importante notar alguns
fatos que podem ter passado
desapercebidos: mesmo que os alunos já
saibam manipular o material dourado
para encontrar o resultado de uma
adição, agora precisam registrar seu
raciocínio enquanto executam cada ação.
Este registro não pode dar-se de
qualquer maneira, ao contrário, precisa
seguir uma sequência lógica para que o
resultado encontrado esteja correto, o
que implica ter consciência e explicitar
seus pensamentos, e organizá-los de
acordo com essa sequência. 
Para tanto, é necessário mobilizar seu
raciocínio lógico para garantir a corretude
da solução. Além disso, para facilitar a
organização do seu pensamento, é 
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natural que o problema seja pensado por
partes, ou seja, que seja dividido em
partes menores, as quais podem ser
resolvidas e depois organizadas para a
construção da solução final. Dessa forma,
serão mobilizados pilares do PC, como
raciocínio lógico, corretude e
decomposição, além da abstração,
necessária durante todo o processo de
resolução do problema.
Como um produto de seu aprendizado,
cada aluno possui uma representação do
seu raciocínio, um passo a passo de
como ele pensou para resolver cada
problema, ou seja, um algoritmo que
resolve a adição entre dois números.
Esse registro pode ser utilizado pelo
próprio aluno para refletir sobre o
processo da adição, encontrar seus
próprios erros e corrigi-los, mobilizando
mais um pilar do PC, a depuração. Da
mesma forma, o professor pode
identificar os erros conceituais ou de
raciocínio, e assim fazer as intervenções
necessárias.
O professor poderá, ainda, caminhar
rumo à construção de um algoritmo que
generaliza a operação de adição de dois
números, procurando identificar padrões
que se repetem durante a resolução de
diferentes problemas, com o objetivo de
construir o famoso algoritmo “arme e
efetue”. Neste sentido, mais dois pilares
do PC são trabalhados, que também são
muito caros à matemática, generalização
e reconhecimento de padrões. Por fim, 
Referências 
BARBOSA, L. L. S.; MALTEMPI, M. V. Matemática,
Pensamento Computacional e BNCC: desafios e
potencialidades dos projetos de ensino e das tecnologias
na formação inicial de professores. RBECM, Passo Fundo,
v. 3, p. 748-776, ed. espc. 2020.
BRASIL (2018). Base Nacional Comum Curricular:
Educação é a Base. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.
mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.p
df> Acesso em: 1 junho 2021.
BRASIL (2019). Resolução CNE/CP n.2, de 20 de dezembro
de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica
e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial
de Professores da Educação Básica (BNC-Formação),
2019b. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?
option=com_docman&view=download&alias=135951-
rcp002-19&category_slug=dezembro-2019-
pdf&Itemid=30192. Acesso em: 02 junho 2020.
PINTO, A. H. A Base Nacional Comum Curricular e o
Ensino de Matemática: flexibilização ou engessamento do
currículo escolar. Bolema, Rio Claro (SP), v. 31, n. 59, p.
1045-1060, dez. 2017. 
SANTOS, L. S; PEREIRA, P. E. D. O uso do material dourado
como recurso no ensino de matemática: adição e
subtração em foco. Anais do IX Encontro Paraibano de
Educação Matemática, Campina Grande, 2016.
SOUZA, S. L. F. V; SETTI, E. J. K; TAMBARUSSI, C. M. Material
dourado: potencialidades no ensino das operações de
adição e subtração para alunos de um 3º ano do ensino
fundamental. ETR, Londrina, v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun.
2019.
VALENTE, J.A. A espiral da aprendizagem e as tecnologias
da informação e comunicação: repensando conceitos. Em
M.C. Joly (ed.) Tecnologia no Ensino: implicações para a
aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo Editora, p.
15-37, 2002.
Quadro 1 - Algoritmo que resolve a adição 19+35 usando o material dourado.
o algoritmo construído pode ir além
de sua primeira versão, pois esta
pode ser corrigida, repensada,
aprimorada, num processo de pensar
sobre o pensar, que pode ser
compreendido como a espiral de
aprendizagem definida por Valente
(2002).
Do exposto, percebe-se que
atividades consideradas simples,
quando repensadas dentro do
contexto das diretrizes atuais, podem
não apenas viabilizar novas
abordagens de aprendizagem
matemática, mas também mobilizar
diferentes habilidades do PC. Desta
forma, esperamos evidenciar que
recursos e práticas já conhecidas e
consolidadas pela comunidade
escolar podem ser repensadas com o
objetivo de alcançar o disposto pela
BNCC sobre a matemática e suas
relações com o PC, contribuindo
também para reflexões sobre como
contemplar o PC na formação inicial e
continuada de professores.
 M a t e m á t i c a S
s b e m p a u l i s t a . o r g . b r 
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Lançamento da Edição especial!
 
 Etnomatemática: perspectiva decolonial e 
movimentos de resistência
A edição especial da REMat apresenta o dossiê “Etnomatemática:
perspectiva decolonial e movimentos de resistência”.
Organizado pelos professores Maria Ceci l ia Fantinato (UFF) e Adriano
Vargas Freitas (UFF) , apresenta produções de pesquisadores brasi leiros e
estrangeiros, de diferentes perspectivas, contextos e lugares de fala, que
levantam questões atuais que al imentam as ref lexões e debates a
respeito das relações entre a etnomatemática e a decolonial idade.
As abordagens teóricas associadas à decolonial idade têm em comum as
crít icas à permanência de formas de ser e saber entre grupos em
situação de subalternidade, que perpetua ahegemonia do pensamento
eurocêntrico ocidental . Em que medida as pesquisas em etnomatemática
têm se aproximado destas discussões?
O dossiê é também uma justa homenagem ao querido Professor Ubiratan
D´Ambrosio, que inclusive part ic ipa da produção, ao conceder uma de
suas últ imas entrevistas, onde aborda as aproximações entre a
etnomatemática e a decolonial idade. Defende que, em sua dimensão
polít ica, seria um movimento de resistência à perspectiva decolonial ,
promovendo o reconhecimento das raízes culturais dos indivíduos. Assim,
nos apresenta a defesa de uma concepção histórica e dialét ica onde a
vida, as culturas, o ser humano e suas relações sociais e com a natureza
devem ocupar um lugar central . 
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1 7 | A g o s t o / 2 0 2 1 | b o l e t i m S B E M - S P | n . 0 4
Não deixe de conferir!
 
Acesse e conheça os artigos publicados 
em nossa edição especial! 
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1 8 | A g o s t o / 2 0 2 1 | b o l e t i m S B E M - S P | n . 0 4
Clique nos títulos a seguir e confira também os textos dos
artigos publicados no último quadrimestre em nossas 
seções permanentes
Seção Artigos Científicos
A modelagem (matemática) implícita nos processos criativos de uma arquiteta
Zulma Elizabete de Freitas Madruga
Número Racional com o Significado de Fração: aspecto relacional, ordenação,
equivalência e representações
Raquel Gomes de Oliveira
Um estudo sobre o uso da estimativa na resolução de tarefas matemáticas por alunos do
quinto ano do Ensino Fundamental
Wagner Monger, Giovana Pereira Sander, Evandro Tortora
Narrativas de professoras dos anos iniciais sobre a matemática na sua trajetória
formativa e profissional
Letícia Freitas Fernandes, Sandra Alves de Oliveira
Sobre a noção de Situação Didática Olímpica aplicada ao contexto das Olimpíadas
Internacionais de Matemática
Paulo Vitor da Silva Santiago, Francisco Régis Vieira Alves, Beatriz Maria Pereira Maia
Seção Práticas e Histórias de Aulas de Matemática
Formulação de Problemas de Função Afim
Mylena Simões Campos, Renan Oliveira Altoé, Lais Scorziello Feitosa da Silva
Para acessar a REMat clique aqui.
Para conhecer as normas para submissão clique aqui.
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1 9 | A g o s t o / 2 0 2 1 | b o l e t i m S B E M - S P | n . 0 4
Mais notícias sobre nossa revista!
Recentemente, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científ ico e
Tecnológico - CNPq tornou públicas duas Chamadas para concessão de
bolsas: uma para a modalidade Produtividade em Pesquisa (PQ) e outra
para a modalidade Produtividade em Pesquisa sênior (PQ-Sr) . Para a
aval iação das propostas, a produção dos pesquisadores em Periódicos foi
segmentada em 4 categorias de pontuação: 10, 8, 6 e 4.
Temos a alegria em comunicar que a Revista de Educação Matemática
(REMat) , da Sociedade Brasi leira de Educação Matemática (SBEM) - Regional
São Paulo (SBEM-SP) foi aval iada com nota 8. Tal fato demonstra a
qual idade do trabalho editorial e a consol idação da REMat na área.
Seguimos na expectativa de que essa aval iação do CNPq seja uma
sinal ização de que a REMat também alcance uma ótima classif icação no
QUALIS-Capes.
Continuamos trabalhando em prol da SBEM, e contamos com a sua
partic ipação na leitura de nossa revista, na consideração dos art igos
publicados para citação em seus trabalhos, assim como no envio de seus
manuscritos para a REMat.
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2 0 | A g o s t o / 2 0 2 1 | b o l e t i m S B E M - S P | n . 0 4
Chamada para Edição Especial!
 
Cognição, Linguagem e Aprendizagem em
Matemática
Editores Convidados:
 
Dr. Luiz Carlos Leal Junior – IFSP – Campus Sertãozinho
Dr. Antonio dos Santos Andrade – USP – Campus Ribeirão Preto
Dr. José Milton Lopes Pinheiro – UEMASUL 
Dra. Cecíl ia Pereira Andrade – IFSP – Campus Campinas 
Dr. Egídio Rodrigues Martins – IFNMG – Campus Januária
A Educação Matemática, por ser um campo de ensino e de pesquisa amplo e complexo, tem
sido solo de investigações diversif icadas, cujas fundamentações teóricas também se
diversif icam. Compreendemos que, no entanto, especialmente na últ ima década, tais
estudos se real izam com maior ênfase em práticas didático-pedagógicas, muitas delas
subsidiadas por tecnologias digitais. Compreendemos a relevância desses estudos. 
 Entendemos, todavia, que no âmbito das pesquisas possíveis em Educação Matemática, tal
ênfase tem-se sobressaído aos movimentos do pensar como, sobre e para além dessas
práticas, movimento este real izado com profundidade no âmbito da Fi losofia da Educação
Matemática e da Psicologia da Educação Matemática, que, embora sejam relevantes para
estudar e entender os modos de ser e de estar em sala de aula, questionando como se
real izam, encontram dif iculdades para inst ituírem-se como fundamentação ao pensar e às
práticas de professores, no “chão” da sala de aula.
Este é um dos desafios que se apresenta aos pesquisadores que produzem nessas áreas. É
preciso que suas compreensões, que se constituem a part ir de discussões profundas no
contexto de Grupos de Trabalho específ icos, sejam levadas à comunidade acadêmica e à sala
de aula. Para tanto, uma edição temática se mostra como uma oportunidade. Dada a
característ ica dessa modalidade de edição, de ser dir igida a determinado tema, aqui propõe-
se direcionar o olhar a apenas uma das áreas citadas, à Psicologia da Educação Matemática.
Mais especif icamente, estamos propondo o número temático da Revista REMAT: Cognição,
Linguagem e Aprendizagem em Matemática, v isando reunir trabalhos que versem sobre
processos cognit ivos e l inguagem, quando tematizados e praticados em contextos de ensino
e de aprendizagem de Matemática, enfatizando questões como: pensamento matemático,
percepção, produção de signif icados, sentidos e sensações, objetividade e subjetividade,
memória, lembrança, ressignif icação, motivação, modos de expressão, e outros temas
relacionados.
Os manuscritos devem ser redigidos conforme as normas da REMat, disponíveis no 
 https://www.revistasbemsp.com.br/index.php/REMat-SP/normas
O prazo para submissão dos art igos se encerra em 20 de outubro de 2021, e a publicação
deste número temático está prevista para abri l de 2022.
Segundo estudos do Grupo de Pesquisa em
Educação, Matemática e Subjetividades –
GPEMS- do Instituto Federal de São Paulo -
IFSP, a Educação Básica tem vários desafios
quando se fala da base de conhecimentos e
saberes que os alunos têm acerca da
Matemática. Professores e pesquisadores
do IFSP - Campus Sertãozinho têm buscado
investigar a formação do pensamento
matemático por meio de práticas de
Resolução de Problemas, como forma de
desenvolver o pensamento e, portanto, dar
sentido aos conceitos técnicos que são
ensinados no Curso Técnico Integrado em
Química. Tal problemática surge ao se
evidenciar uma grande dificuldade por parte
dos alunos na mudança da Matemática do
ensino fundamental para a Matemática do
ensino médio.
O cenário que se tem estudado é composto
por alunos que ingressam no Ensino Técnico
trazendo dificuldades de compreender
conceitos básicos como soma de frações,
operações com números na forma decimal,
proporcionalidade e outros conceitos
matemáticos. Estes conceitos são essenciais
para estudar Química, quando os alunos
precisam saber utilizar a Matemática para
compreender os experimentos e vários
conceitos relacionados. Vista essa
conjuntura, buscou-se, com o projeto, que
recebeu o nome do título deste relato, um 
Psicopedagogia e Resolução de
Problemas: Ensino e Aprendizagem de
Matemática no Ensino Profissional e
Tecnológico 
Luiz Carlos Leal Junior
ensino por meio de práticas de Resolução
de Problemas aplicadas à Química, em que
o aluno fora posto na linha defrente dos
processos de Ensino e de Aprendizagem,
tornando-se, assim, coautor da sua
formação e consciente da importância de
desenvolver seu pensamento matemático e
sua formação química. 
Este projeto teve a Psicopedagogia como
pano de fundo e visou a analisar esses
processos que se constituíram foco da
pesquisa, que se efetiva junto dos alunos do
primeiro ano do nível Técnico Integrado ao
Ensino Médio em Química. Para isso, foram
propostas intervenções matemáticas por
meio de situações problema dirigidas pela
Química. Foram realizadas avaliações
diagnósticas sobre os conhecimentos
prévios desses estudantes logo em seu
ingresso na instituição e, por dois anos,
estivemos analisando seus desempenhos
por meio do mesmo instrumento. Assim, a
pesquisa-ação contou com um pesquisador
em contato direto e frequente com o grupo
observado, mostrou que as dificuldades
trazidas em Matemática não possibilitam a
produção de sentido, pelos estudantes, para
os conceitos químicos, que essas
dificuldades não são sanadas no ensino
fundamental e vêm agravar-se no Ensino
Médio.
 C O M P A R T I L H A N D O E X P E R I Ê N C I A S
SOBRE A SEÇÃO
s b e m p a u l i s t a . o r g . b r 
COMO PARTICIPAR
DESTA SEÇÃO?
Envie o relato de uma
experiência
vivenciada.
A proposta deverá
conter entre 5000 e
10000 caracteres com
espaço. Também
podem ser enviadas
fotos para serem
publicadas. 
 
Escreva para:
 
boletim@sbempaulista.com.br
2 1 | A g o s t o / 2 0 2 1 | b o l e t i m S B E M - S P | n . 0 4 
Imagem 1 – Alunos participantes do projeto.
Este é um espaço de
compartilhamento de
experiências vivenciadas
pelos associados com o
ensino e a aprendizagem
de matemática.
Experiências individuais ou
coletivas em diferentes
níveis de ensino e em
diferentes espaços.
 
 
Nesta edição, Luiz Carlos
Leal Junior Santos
Guimarães compartilha
conosco uma experiência
realizada em um Curso
Técnico.
 
Preocupados com essa problemática,
a instituição e pesquisadores
envolvidos têm discutido formas de
pensar como trabalhar e atuar sobre
tal problema. Algumas ideias têm e
tiveram sido lançadas para discussão,
e as que fogem ao ensino tradicional,
mecânico e enciclopédico têm
mostrado avanços significativos no
desempenho dos estudantes. A título
de relato, após uma primeira
avaliação, trabalhou-se com os alunos,
em encontros posteriores às aulas
regulares, resolução de problemas
envolvendo operações básicas de
números decimais. 
Discutiram-se as dúvidas que
surgiram durante a aula, como a falta
da noção de operacionalização desses
números prejudicaria a compreensão
da Química, tornando tal processo um
movimento de tomada de consciência
do que se sabe e do que precisa ser
aprendido. 
 
 C O M P A R T I L H A N D O E X P E R I Ê N C I A S
Além disso, os alunos não conseguiram
dar sentido nem analisar os resultados
dos problemas propostos.
Reconhecem alguns conceitos
químicos por detrás dos problemas,
mas não conseguem avançar na
resolução de problemas aplicados
quando, para isso, há a necessidade de
se pensar com a Matemática. 
Mais informações sobre o trabalho
podem ser obtidas em Leal Junior
(2020).
Referência:
LEAL JUNIOR, L. C. Psicopedagogia e
Educação Matemática: Uma
arqueogenealogia das pesquisas
relacionadas na última década. Trabalho de
Conclusão de Curso (Especialização) em
Psicopedagogia Institucional Escolar. Centro
Universitário Barão de Mauá. 2020. 50p.
s b e m p a u l i s t a . o r g . b r 
2 2 | A g o s t o / 2 0 2 1 | b o l e t i m S B E M - S P | n . 0 4 
Imagem 2 – Alunos participantes do projeto.
Posteriormente, aplicou-se uma nova
avaliação para ver o progresso, e o
que se percebeu fora que, mesmo
ocorrendo uma melhora em
habilidades voltadas à
operacionalização de números
racionais, ainda havia dificuldades em
trabalhar com fórmulas e equações,
não possibilitando uma
ressignificação da Matemática no
trabalho com conceitos de Química. 
Neste projeto, fora possível visualizar
resoluções de operações básicas
provenientes de um processo
mecânico e de respostas fornecidas
de maneira arbitrária e isenta de
senso crítico, o que não consideramos
algo benéfico para a formação de um
estudante crítico e autônomo. Isso é
um forte indício de que o sistema
tradicional de ensino com vistas à
matemática tem falhado numa
formação omnilateral dos estudantes. 
2 3 | A g o s t o / 2 0 2 1 | b o l e t i m S B E M - S P | n . 0 4
A SBEM-SP, dando prosseguimento à caminhada para a realização da primeira Feira de Matemática
no estado de São Paulo, promoverá uma discussão em seu canal no YouTube, dentro da 
 programação Educação Matemática em Diálogo!, com a finalidade de apresentar os objetivos e a 
 importância da realização desse evento no estado de São Paulo. 
Em outros estados do Brasil, como Santa Catarina e Bahia, as Feiras de Matemática já são uma
realidade, ocorrendo há muitos anos, e propiciando aos alunos o desenvolvimento de um processo
investigativo para a realização de trabalhos envolvendo Matemática, culminando na exposição em
Mostras. Nas Feiras, o aluno produtor/expositor torna-se sujeito de sua aprendizagem, mostrando
ao público sua pesquisa.
Para esse bate papo contaremos com a presença da vice-presidente da SBEM, profa. Dra. Fatima
Peres Zago de Oliveira, e da profa. Rosane Hackbarth, que foi participante de uma Feira de
Matemática, e atua como orientadora do Laboratório de Matemática de uma escola de Educação
Básica .
 
s b e m p a u l i s t a . o r g . b r 
Feira de Matemática no estado de São Paulo!
V E M A Í . . .
Votação do novo Estatuto da SBEM! 
V O T A Ç Ã O A B E R T A !
A Diretoria Nacional Executiva (DNE) da SBEM, dando prosseguimento aos
procedimentos para aprovação do novo Estatuto da SBEM, disponibilizou aos
associados a página para votação, que poderá ser realizada até o dia 17/09/2021.
Participe desse importante momento da SBEM!
link para votação:
 
http://www.sbembrasil.org.br/bd/votacaoEstatuto.html
 
 
Confira a nota emitida pelo GT13 da SBEM (Diferença, Inclusão
e Educação Matemática Sociedade Brasileira de Educação
Matemática), a partir das declarações do Ministro da Educação
Milton Ribeiro.
N O T A D E R E P Ú D I O !
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P A R A N O S S O S A S S O C I A D O S
Leia a nota na íntegra por meio do l ink:
http://www.sbembrasil .org.br/files/nota_gt13.pdf
s b e m p a u l i s t a . o r g . b r 
P A R A N O S S O S A S S O C I A D O S
Vem aí o II Congresso Internacional On-line dos
Esportes da Mente 
Como divulgamos em nosso Boletim n.3, A SBEM-SP assumiu uma parceria com a
Confederação Brasileira de Xadrez Escolar, e por meio dessa parceria serão
desenvolvidas diferentes atividades contemplando a articulação entre os Esportes
da Mente e a Educação Matemática.
 
Uma dessas atividades que está sendo desenvolvida é a construção do II Congresso
Internacional On-line dos Esportes da Mente: conexões dos esportes da mente
nas diferentes esferas culturais . A programação do evento está disponível, e você
poderá conferir as novidades voltadas tanto para os professores que ensinam
Matemática quanto para os estudantes de graduação.
O evento está organizado em seis etapas, com apresentação de diferentes atividades,
como: Conferências; Webinários; Mesas-redondas; Oficinas; Festivais Internacionais
e Nacionais (campeonatos de diversas modalidades); Olimpíadas Científicas, Cursos
On-line; e Apresentação de Trabalhos Acadêmicos.
 Considerando as diferentes etapas, esse evento será realizado no período de
16/09/2021 a 18/12/2021, e acessando o l ink abaixo você terá mais informações sobre
o evento e poderá fazer sua inscrição.
Participe! Os associados da SBEM terão direito a um combo exclusivo para participardas atividades.
Link: https:/ /www.even3.com.br/esportedamentecbxe/
 
A SBEM-SP estará ao lado da Confederação Brasileira de Xadrez Escolar no mais 
 importante congresso envolvendo os Esportes da Mente.
2 5 | A g o s t o / 2 0 2 1 | b o l e t i m S B E M - S P | n . 0 4
Anote em sua agenda!
s b e m p a u l i s t a . o r g . b r 
 
Espaço para divulgação de eventos e ações relacionadas à Educação Matemática,
 organizados tanto pela SBEM quanto por seus associados.
 
SOBRE A SEÇÃO
Se você participa da organização de algum evento e deseja divulgá-lo
em nosso boletim, nos escreva enviando as informações principais do
evento, como: título do evento, data de realização, local e link para
informações.
Escreva para:
boletim@sbempaulista.com.br
COMO PARTICIPAR
DESTA SEÇÃO?
VIII SIPEM
Acesse informações de outros eventos
regionais, nacionais e internacionais da
área de Educação Matemática na página da
SBEM.
 
Clique aqui!
2 6 | A g o s t o / 2 0 2 1 | b o l e t i m S B E M - S P | n . 0 4 
Atenção para o novo período de realização
do VII Fórum Nacional de Formação Inicial
de Professores que Ensinam Matemática
(VII FPMat). O evento será realizado de
modo inteiramente virtual, sob
coordenação da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), no período de 08 a 12
de novembro de 2021.
 
E m b r e v e s e r á d i v u l g a d a a p á g i n a d o e v e n t o .
A g u a r d e !
 
 
VII FPMat
VIII Seminário Internacional de Pesquisa
em Educação Matemática - SIPEM
22 a 27 de novembro de 2021
Tema:
"Educação Matemática, pandemia, pós-
pandemia e a atualidade: implicações na
pesquisa e nas práticas de ensinar e
aprender."
 
 
 Para mais informações: 
Clique aqui
 
Fique por Dentro!
VIII SIPEM
IX CIBEM - 2022
O IX Congresso Iberoamericano de
Educação Matemática acontecerá no
período de 05 a 09 de dezembro de 2022 na
Faculdade de Ciências Exatas e
Tecnologias da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), e conta
com a organização da Sociedade Brasileira
de Educação Matemática (SBEM) e da
Federación Iberoamericana de Sociedades
de Educación Matemática (FISEM).
 Para mais informações: 
Clique aqui
BOLETIM PERIÓDICO
Você gostaria de publicar uma notícia em
nosso boletim? Gostaria de fazer uma
sugestão para nosso próximo número?
Participe deste canal que a SBEM-SP traz para
você. 
Entre com contato conosco pelo e-mail:
boletim@sbempaulista.org.br
Nosso financeiro
Se sua dúvida for sobre a anuidade da SBEM
ou sobre pagamentos de eventuais cursos
ou eventos, entre em contato com o nosso
setor financeiro.
Entre com contato conosco pelo e-mail:
financeiro@sbempaulista.org.br
NOSSOS CANAIS DE COMUNICAÇÃO
sbempaul ista .org.br
Espaço do professor
Você gostaria de divulgar ações ou materiais
relacionados ao ensino de matemática?
Aproveite nosso espaço para compartilhar
suas experiências com os demais associados.
Entre com contato conosco pelo e-mail:
professor@sbempaulista.org.br
Núcleos Regionais
Os Núcleos são formados por quaisquer
agrupamentos de associados da SBEM,
organizados por região, cidade, bairro,
instituição de estudo ou de trabalho. Que tal
criar um Núcleo em sua região?
Entre com contato conosco pelo e-mail:
nucleos@sbempaulista.org.br
Feiras de matemática
Vamos conversar sobre as Feiras de
Matemática? Se você tem interesse em
receber uma edição da Feira ou interesse em
enviar um projeto para participar, fale
conosco.
Entre em contato conosco pelo e-mail:
feiras@sbempaulista.org.br
Dúvidas sobre a SBEM-SP?
Se você não souber para qual canal de
comunicação enviar a sua dúvida ou
comentário, não se preocupe! Nós temos um
canal destinado para questões gerais.
Entre com contato conosco pelo e-mail:
sbem@sbempaulista.org.br
s b e m p a u l i s t a . o r g . b r 
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Publicação do Boletim n. 4.
A UNICSUL, em parceria com a SBEM-SP, está realizando o Curso de Extensão "Práticas
Pedagógicas em Educação Estatística para anos iniciais do Ensino Fundamental". O curso 
 é gratuito aos associados da SBEM, e será finalizado em novembro/2021.
Lançamento da edição especial "Etnomatemática: perspectiva decolonial e movimentos
de resistência”, da REMat.
Produção do E-book com as sínteses dos Grupos de Discussões do VII Fórum Paulista de
Professores que Ensinam Matemática, com previsão de lançamento para outubro/2021.
Parceria com os Grupos de Pesquisas: GPEMS - IFSP (Grupo de Pesquisa em Educação,
Matemática e Subjetividades), GTERP - UNESP (Grupo de Trabalho e Pesquisa em
Resolução de Problemas), e o GPES - USP (Grupo de Pesquisa de Educação e
Subjetividades), para o lançamento de uma edição especial da REMat, cuja temática é
Cognição, Linguagem e Aprendizagem em Matemática. 
Educação Matemática em Diálogo! Promoção da Live Feira de Matemática: Porquê? Para
quê? 
.
 
Em breve, teremos ainda mais novidades. 
Contamos com você na tarefa da construção de uma educação matemática
no movimento da justiça social!
SEJA 
 SÓCIO!
D I R E T O R I A R E G I O N A L D A S B E M - S P
2 0 2 0 - 2 0 2 3  
E D U C A Ç Ã O M A T E M Á T I C A N O M O V I M E N T O D A 
J U S T I Ç A S O C I A L
2 8 | A g o s t o / 2 0 2 1 | b o l e t i m S B E M - S P | n . 0 4
s b e m p a u l i s t a . o r g . b r 
Confira aqui as ações realizadas ou iniciadas
 durante este quadrimestre.
 
SEJA UM ASSOCIADO 
DA SBEM!
 
Conheça os benefícios para 
quem se associa à SBEM! 
 
 
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