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Brasília-DF. EnfErmagEm Em DErmatologia Estética Elaboração Chennyfer Dobbins Paes da Rosa Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I A PELE COMO REVESTIMENTO ............................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 EMBRIOLOGIA DA PELE, ANATOMIA E FISIOPATOLOGIA .............................................................. 9 CAPÍTULO 2 ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DO ÓRGÃO E RELAÇÃO COM AS FUNÇÕES .............................. 14 CAPÍTULO 3 NOMENCLATURA UTILIZADA EM DERMATOLOGIA PARA DESCRIÇÃO DE LESÕES ....................... 21 UNIDADE II ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA ................................................................... 28 CAPÍTULO 1 REAÇÕES CUTÂNEAS ............................................................................................................. 28 CAPÍTULO 2 REAÇÕES EXÓGENAS SOBRE A PELE E MUCOSAS ................................................................... 40 CAPÍTULO 3 TERAPÊUTICA DERMATOLÓGICA ............................................................................................. 46 UNIDADE III DOENÇAS DERMATOLÓGICAS ............................................................................................................ 59 CAPÍTULO 1 ALTERAÇÕES CUTÂNEAS DEGENERATIVAS E NEOPLÁSICAS ...................................................... 59 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 80 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 85 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução O agravo dermatológico é um grande problema de saúde pública no Brasil, principalmente pelo volume no qual se apresenta, pode-se citar os altos índices de câncer de pele – não só no nosso país, mas no mundo –, doenças sexualmente transmissíveis e o recrudescimento da hanseníase. A dermatologia é um dos principais motivos de consultas ambulatoriais em serviços públicos ou privados. Nesse aspecto, cabe a formação dos profissionais para atuarem nessa área. Na enfermagem estética, existem duas áreas especificas para o profissional que queira seguir esse ramo profissional, que é a enfermagem dermatológica, na qual a área não se limita apenas à estética corporal, mas avalia os pacientes com lesões cutâneas, podendo atuar em clínicas específicas de dermatologia oncológica, infecciosa, pediátrica, queimaduras, dermatologia estética, cirurgia plástica e o modo de tratamento de feridas e novas tecnologias. A outra área é a enfermagem em cosmetologia e estética em que atua na área estética por meio de recursos por cosméticos manuais e eletrostáticos, atuando nos tratamento e manutenção estética dos pacientes, pode atuar na assistência estética em pré e pós-operatório; tecnologia reparadora, elaboração de projetos em cosméticos e beleza, cosmética reparadora, desenvolvimento de pesquisa em cosmética e estética, atuação multidisciplinar em endocrinologia e terapias alternativas. A enfermagem em dermatologia é um campo que tem crescido no Brasil, por atuar em sincronismo com as políticas públicas. O inicio se deu com a dermatologia sanitária, passando agora para enfermagem em dermatologia, sempre com a atuação do enfermeiro pela visão multiprofissional, interdisciplinar, o que auxilia na integralidade das ações da prática cotidiana de cuidados com a pele bem como no tratamento de doenças dermatológicas como a hanseníase, leishmaniose, pênfigo foliáceo, psoríase, entre outros agravos, em todos os níveis de atenção à saúde. A construção de protocolos clínicos, manuais consolidados nessa área, foi incorporada a partir dos anos 1990, com novas descobertas, recursos e tecnologias para os cuidados com a pele. A profunda mudança nos conhecimentos sobre a pele e seus mecanismos de recuperação gera a cada dia novas abordagens que implicam numa atuação multiprofissional,levando a consequente busca pela especialização por parte dos enfermeiros. Constata-se ainda a crescente necessidade de educação da população para a prevenção, promoção da 8 saúde e recuperação dos agravos dermatológicos, reduzindo-se assim os altos índices de mortalidade, assim como, a cronicidade de processos que poderiam ter maior resolutividade com um trabalho integrado entre médicos, enfermeiros e os demais profissionais da área da saúde. A educação em saúde nesta área é fundamental, com foco desde as crianças até os idosos, doenças sexualmente transmissíveis, a hanseníase, tem como uma de suas causas, a falta de educação da população para a saúde, a prevenção e a busca precoce por tratamento, pois tudo isso é essencial, por isso a necessidade do enfermeiro em dermatologia atuar em creches, escolas, asilos, domicílios, e também nas pós-consultas médicas, nas interconsultas e nas consultas de enfermagem, para reforço das orientações, acompanhamento do tratamento, aumentando a aderência dos pacientes. A enfermagem é uma profissão regulamentada por lei, tem um código de conduta ética que estabelece seus limites de atuação, e todo esse aparato legal se estende para as especialidades. Há limites precisos e bem estabelecidos, o que faz com que haja profundo respeito pelo campo de todos os profissionais que fazem parte da equipe de saúde. A Resolução COFEN no 389/2011, descreve a Enfermagem Dermatológica como o profissional que atua nos cuidados de enfermagem com a pele e com feridas. Portanto, a enfermagem em dermatologia é um campo amplo, que requer um aprendizado constante, propondo sempre novas intervenções, por meio da sistematização da assistência de enfermagem, como estratégia importante para a melhoria do cuidado especializado. Objetivos » Aprender a embriologia da pele, anatomia e fisiopatologia, nomenclatura utilizada em dermatologia para descrição de lesões. » Entender a abordagem do paciente em dermatologia estética. » Conhecer algumas patologias clínicas que influenciam na estética do indivíduo. » Conhecer as atribuições do enfermeiro em dermatologia estética. 9 UNIDADE IA PELE COMO REVESTIMENTO CAPÍTULO 1 Embriologia da pele, anatomia e fisiopatologia A pele é um órgão protetor, resistente e flexível, que reveste os demais das agressões externas, físicas, químicas e biológicas, contribuindo para a sua homeostasia (situação de equilíbrio - do grego homoios = semelhante + stasis = permanência). Ela também propicia a aparência do indivíduo. A pele sintetiza diversas vitaminas e sais minerais, como exemplo a vitamina D, isso ocorre por ter elementos celulares próprios na epiderme (células de Langerhans), efetuando vigilância e reconhecimento imunitário de substâncias que franqueiam a pele e eventualmente penetram no seu interior. Sua embriologia está dividida em: FOLHETOS EMBRIONÁRIOS E SUAS ESTRUTURAS ECTODERMA Epiderme e anexos: » pêlos; » glândulas sudoríparas; » glândulas sebáceas; » unhas. NEUROECTODERMA » Nervos. » Melanócitos. MESODERMA » Fibras colágenas. » Fibras elásticas. » Vasos. » Músculos. » Tecido adiposo. Fonte: Próprio Autor 10 UNIDADE I │A PELE COMO REVESTIMENTO É um orgão dotado de capacidade sensorial discriminativa muito apurada, informa com precisão o indivíduo das características do meio exterior e das suas variações. Anatomia A epiderme é composta por células não dendríticas e dendríticas: » Células não dendríticas – sem prolongamentos › Queratinócito › Célula de Merckel » Células dendríticas – com prolongamento Figura 1. Fonte: <http://images.clipartlogo.com/files/ss/original/804/80453974/vector-illustration-of-human.jpg> » Melanócito: a pele produz amelanina, via células melanócitos, que se trata de um pigmento que auxilia na proteção do organismo, por exemplo, da luz solar. » Coopera nos mecanismos gerais de regulação circulatória (hemorregulação) e contribui para manter constante a temperatura do organismo, como órgão de conservação calórica. › Célula de Langerhans. 11 A PELE COMO REVESTIMENTO│ UNIDADE I Está divida em camadas: » Epiderme: › Camada córnea: constituído de células achatadas eosinófilas sem núcleo (mortas) com grande quantidade de filamentos, principalmente queratinas. › Camada lúcida: células achatadas hialinas eosinófilas devido a grânulos muito numerosos protéicos. Essas células libertam enzimas que as digerem. A maior parte já está morta (sem núcleo). Estão presentes na pele sem folículos pilosos (pele glabra). › Camada granulosa: células achatadas, com grânulos de queratina proeminentes e outros como substância extracelular e outras proteínas (colágenos); › Camada espinhosa: células cúbicas ou achatadas com mais queratina que as basais. Começam a formar junções celulares umas com as outras, com o aspecto de espinhos. › Camada basal: é a mais profunda, em contato com derme, constituída por células cúbicas pouco diferenciadas que se dividem continuamente, dando origem a todas as outras camadas. Contém pouquíssima queratina. Algumas dessas células diferenciam-se e passam para as camadas mais superficiais, enquanto outras permanecem na camada basal e continuam a se dividir). » Derme -papilar e reticular . » Hipoderme. 12 UNIDADE I │A PELE COMO REVESTIMENTO Figura 2. Fonte: <http://media.escola.britannica.com.br/eb-media/97/6997-073-F3C431FD.jpg> A epiderme é uma camada com profundidade diferente conforme a região do corpo. Zonas sujeitas a maior atrito como palmas das mãos e pés têm uma camada mais grossa (conhecida como pele glabra por não possuírem pelos), e chegam a até 2 mm de espessura. A epiderme é constituída por um epitélio estratificado pavimentoso queratinizado (células escamosas em várias camadas). A célula principal é o queratinócito (ou ceratinócito), que produz a queratina. A queratina é uma proteína resistente e impermeável responsável pela proteção. Existem também ninhos de melanócitos (produtores de melanina, um pigmento castanho que absorve os raios UV); e células imunitárias, principalmente células de Langerhans, gigantes e com prolongamentos membranares. A epiderme não possui vasos sanguíneos, porque se nela houvesse vasos ficaria mais sujeita a ser “penetrada” por microorganismos. Os nutrientes e oxigênio chegam à epiderme por difusão a partir de vasos sanguíneos da derme. A epiderme apresenta várias camadas. A origem da multiplicação celular é a camada basal. Todas as outras são constituídas de células cada vez mais diferenciadas que, com o crescimento basal, vão ficando cada vez mais periféricas, acabando por descamar e cair (uma origem importante do pó que se acumula nos locais onde vivem pessoas ou outros seres vivos). A junção entre a epiderme e a derme tem forma de papilas, que dão maior superfície de contato com a derme e maior resistência ao atrito da pele. Fonte: <http://clinicahealthy.com.br/anatomia-da-pele/> 13 A PELE COMO REVESTIMENTO│ UNIDADE I ESTRUTURA/CÉLULA FUNÇÕES Camada córnea » Proteção contra agentes químicos.. » Preservação da homeostase interna (perda de água e eletrólitos). » Lubrificação. Queratinócitos » Manutenção da integridade dérmica (união celular pelos desmossomas). » Síntese de vitamina D. Melanócitos Radiação ultravioleta Camada Córnea, células de Langerhans, Linfócitos, Macrófagos, Mastócitos Proteção contra microorganismo e antígenos Derme e Subcutâneo Absorção de choques e traumas Tecido Subcutâneo » Reserva calórica. » Conversão hormonal. Fonte: próprio autor Existe uma preocupação signigicativa em manter uma pele saudável, não apenas para fins estéticos, pois é notória que a pele de um bebê e mais jovem e bonita que a de um idoso, mas, principalmente, dos pacientes com problemas dermatológicos. Sabe-se que o indivíduo pode somatizar sua patologia, estresse, ansiedade, dentre outros sintomas psíquicos na pele. Em certas afecções psiquiátricas, a pele constitui órgão-alvo privilegiado,como na delusão de parasitose (em que o indivíduo “sente”, “vê”, “colhe” e “identifica” na pele micróbios ou outros agentes hipotéticos de doença), na dismorfofobia (sintomas e sinais dermatológicos inexistentes) e outras fobias (venereofobia, cancerofobia etc.). Outro tipo de situação de índole psicopatológica, consiste na provocação de alterações cutâneas, seja para obter quaisquer tipo de benefícios (afectivos, profissionais, indemnizações), seja por perturbação primariamente psicogénica, cuja interpretação e atitude são por vezes difíceis, necessitando quase sempre de uma cooperação interdisciplinar, onde o papel do enfermeiro pode ser decisivo. Saiba mais sobre somatização em: <https://www.youtube.com/watch?v=sfKq909A054> <http://www.verea.com.br/clippingDetalhado.php?id=86> <https://www.youtube.com/watch?v=53iykrzfaqM> 14 CAPÍTULO 2 Organização estrutural do órgão e relação com as funções A pele é o maior órgão do corpo, com superfície total que ultrapassa 1,5 m2, embora seja pouco espessa (entre 0,5 mm nas pálpebras e cerca de 4 a 5 mm nas palmas e plantas). O seu peso global, incluindo a hipoderme, orça 16 a 18% do peso corporal, um indivíduo adulto com 70kg, o peso da pele ultrapassa os 7kg. Possui uma vascularização extremamente rica: em cada cm2 de superfície cutânea existem mais de 0,5mm de vasos. A pele também é caracterizada pela sua capacidade de eliminar suor mediante estímulo térmico elevado, sabe-se que em período curto, a perda é entre 2 a 3mg/cm2/minuto; e nas situações extremas, a eliminação total de suor pode atingir 10l/dia. A quantidade de água existente na derme é muito elevada, preenchendo, juntamente com a denominada substância fundamental, todos interstícios dérmicos. Na derme encontram-se integrados os vasos (arteríolas, vénulas, capilares, linfáticos) e os nervos, que se ramificam gradualmente da profundidade para a superfície. Igualmente se encontram numerosas células na derme: umas são “residentes” - fibroblastos, histiócitos, macrófagos, mastócitos; outras são migratórias e provêm do interior dos vasos - linfócitos, granulócitos neutrófilos e eosinófilos. A pele é ainda dotada de unidades pilossebáceas (pêlo e glândula sebácea anexa) e de glândulas sudoríparas (écrinas e apócrinas). Denominam-se genericamente como “anexos” da epiderme, porque são constituídas por invaginações deste componente cutâneo. Células epidérmicas (ceratinócitos) e ceratinização Os ceratinócitos multiplicam-se na camada basal da epiderme e diferenciam-se progressivamente da profundidade para a superfície, onde se transformam em finas lamelas achatadas (células córneas) completamente preenchidas por proteínas genericamente denominadas ceratinas. 15 A PELE COMO REVESTIMENTO│ UNIDADE I A este fenômeno denomina-se ceratinização. As células córneas encontram-se recobertas com a gordura e outros produtos segregados pelas glândulas sebáceas e sudoríparas. O sebo que faz com que a pele seja mais ou menos oleosa. A seborreia é frequente nos jovens, na puberdade e adolescência. A ceratinização representa o principal meio que a epiderme possui para evitar a penetração de substâncias sólidas ou líquidas do exterior para o interior. Esta função designa-se tradicionalmente como função-barreira e reside na camada córnea. Leia mais sobre Ceratinização em: <http://www.pro-celula.com.br/home/atlascitologico/atlas/texto/cito-cerv- uterino.htm> Células pigmentares (melanócitos) e melanogênese Os melanócitos situam-se entre as células basais da epiderme. A produção do pigmento melanina denomina-se melanogênese. A melanina é produzida segundo um ritmo próprio em cada indivíduo, o qual determina a cor da pele individual, fenômeno correntemente designado como melanização. Figura 3. Fonte: <http://www.fatosdesconhecidos.com.br/wp-content/uploads/2014/07/pele_2.gif> A referida cor resulta assim da intensidade da síntese de melanina, por programação genética das células e não do número de melanócitos existentes. A melanina, depois de sintetizada pelos melanócitos, é transferida para os ceratinócitos vizinhos. 16 UNIDADE I │A PELE COMO REVESTIMENTO Os melanócitos sintetizam mais melanina se forem estimulados pela radiação ultravioleta - efeito de “bronzeamento”. Quanto maior a melanização, maior a proteção contra a ação da radiação sobre a pele. Figura 4. Fonte: <http://perolasdaestetica.com.br/site/wp-content/uploads/2015/05/melanina.jpg> Fototipos cutâneos A pigmentação da pele constitui o principal fator de defesa contra a ação nociva da radiação solar. Os indivíduos de tez muito branca, que sintetizam menos melanina perante a exposição à radiação ultravioleta da luz solar, sofrem queimaduras com grande facilidade, mesmo com exposições curtas e a horas de baixa intensidade luminosa. Também nestes indivíduos, os efeitos prejudiciais tardios de exposições contínuas e/ou repetidas ao sol (envelhecimento, cancerização) são muito mais pronunciados que naqueles que se bronzeiam mais facilmente. Nos indivíduos de raça negra os melanócitos produzem grande quantidade de melanina, o que lhes confere a cor negra e grande eficácia de proteção antiluminosa, por isso nunca sofrem queimadura solar, mesmo com exposições luminosas intensas, entretanto, em relação as e ações deletérias tem quase o mesmo risco que os demais indivíduos. Dentre os fototipos da pele humana temos: » fototipo 1 - indivíduos albinos, ou de raça branca com tez extremamente clara: perante uma determinada exposição, a pele sofre sempre queimadura e nunca bronzeia; » fototipos 2, 3, 4 - indivíduos também de raça branca, com cor de pele progressivamente mais “morena”; 17 A PELE COMO REVESTIMENTO│ UNIDADE I » fototipo 5 - indivíduos intensamente morenos ou mestiços; » fototipo 6 - raça negra: perante a mesma exposição a pele nunca se queima e o seu grau de pigmentação melânica é sempre máximo. Vascularização Os vasos e os nervos da pele ramificam-se progressivamente da profundidade para a superfície da derme até chegarem à junção dermo-epidérmica. Figura 5. Fonte: <http://www.geocities.ws/CollegePark/Lab/9707/image23.gif> Os vasos sanguíneos da profundidade são artérias e arteríolas, ramificam-se até se transformarem em capilares (ansas capilares nas papilas dérmicas) e drenam depois o sangue em sentido inverso em vénulas e veias de diâmetro progressivamente mais largo. 18 UNIDADE I │A PELE COMO REVESTIMENTO Figura 6. Fonte: <http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia/imagens/Estrutura-da-pele-2.gif> Entre o sistema arterial e o venoso pode haver, na profundidade, comunicações artério-venosas que constituem trajetos de circulação preferencial quando estão abertos; estas comunicações são inervadas pelo sistema nervoso autônomo. A manutenção temperatura corporal resulta do equilíbrio entre a produção e a dissipação de calor. Por isso a integridade do sistema circulatório cutâneo é fundamental para a manutenção da constância da temperatura corporal. Se o indivíduo sofrer de inflamação difusa da pele (eritrodermia, psoríase, eczema extenso, por exemplo) poderá ocasionar grande depleção calórica se a temperatura exterior for inferior à do seu corpo. Se, pelo contrário, a temperatura exterior for superior à do seu organismo, tende a suceder o inverso, podendo ficar com temperatura elevada, sem que esse fato corresponda a qualquer situação patológica. 19 A PELE COMO REVESTIMENTO│ UNIDADE I Figura 7. Fonte: <http://blog.suri-emu.co.jp/wp-content/uploads/2011/08/hipertermia-blog-suriemu-cuidados-no-verao-prevencao- saude-insolacao-.17.jpg> É indispensável vigiar a temperatura dos doentes, que são “friorentos”, mas é também necessário cuidado com o aquecimento excessivo, o qual pode originar hipertermia por vezes acentuada e súbita. Inervação É feita por meio de nervos sensitivos e nervos do sistema nervoso autônomo. » o corpúsculo de ruffinique desencadeia a sensibilidade ao calor; » o corpúsculo dekraser desencadeia a sensibilidade ao frio; » o corpúsculo de meisner (mãos e pés) = sensibilidade tátil; » o corpúsculo vater pacini = sensibilidade à pressão. A distribuição segmentar dos nervos sensitivos na pele é muito característica. Cada área revestida por um nervo sensitivo, de um e outro lado do tegumento, denomina-se dermátomo. Anexos cutâneos São assim designados correntemente os folículos pilossebáceos (pelos e glândulas sebáceas anexas), as glândulas sudoríparas écrinas e apócrinas e as unhas. A sua formação constitui-se a partir das células epidérmicas, que se diferenciam para organizar as estruturas referidas. A distribuição dos anexos e respectivas funções são muito complexas e variadas. 20 UNIDADE I │A PELE COMO REVESTIMENTO Anexos Pêlos Distribuição: Todo corpo, exceto palmas das mãos e plantas dos pés Funções principais: Proteção da pele Glândulas sebáceas Distribuição: Todo corpo, exceto palmas das mãos e plantas dos pés Funções principais: Secreção de gordura para lubrificação da superfície da pele Glândulas sudoríparas écrinas Distribuição: Todo corpo Funções principais: Produção de suor, para ajudar à dissipação calórica no controle da regulação térmica do indivíduo Glândulas sudoríparas apócrinas Distribuição: Axilas, virilhas, região genital Funções principais: Secreção apócrina, responsável pelo odor corporal. É possível que esta contribua para mecanismos complexos de estimulação sexual, por meio de hormonios voláteis (feromônios). Unhas Distribuição: Dedos Funções principais: Proteção e cooperação na atividade manual (preensão). 21 CAPÍTULO 3 Nomenclatura utilizada em dermatologia para descrição de lesões Existem técnicas adequadas para observar a pele e suas alterações, por isso, o enfermeiro deve ter atenção nesse aspecto. O órgão de fronteira, assim chamado, está situado entre o meio interior e o meio exterior, com estímulos internos e externos, por isso, deve-se testar a sensibilidade da pele, analisando a reação do individuo. A reação da pele traduz-se por modificações fisiológicas ou patológicas como prurido, ardor, dor, entre outros. Os sintomas dermatológicos são referidos e sistematizam-se como lesões cutâneas elementares. Deve-se: » classificar e utilizar a terminologia correta; » interpretar as alterações da pele que conduziram às lesões; » estabeler o diagnóstico. É fundamental a observação e o registro objetivo, cuidadoso e minucioso dos sinais e sintomas, detalhando a pele, mucosas, aspecto dos cabelos, pelos e unhas do indivíduo. Lembre... A fotografia constitui método complementar indispensável, mas não substitui o registro descritivo escrito. A fotografia é um processo de produção de imagens permanentes, donde o seu papel de excelência como registro documental em Dermatologia. O órgão pele constitui, pela sua posição e significado, um dos motivos mais acessíveis em fotografia. A fotografia utiliza-se para captar “o que se vê” no doente, em determinado momento. Constitui registro exato, rápido. A execução de fotografias em tempos sucessivos permite efetuar a sua comparação e analisar a evolução das situações clínicas assim registradas. 22 UNIDADE I │A PELE COMO REVESTIMENTO A observação deve ser sistemática, com luz natural, abrangendo sempre a totalidade do órgão afetado. A utilização de lupa é importante assim como o recurso à irradiação artificial denominada “uz de Wood” para apoio diagnóstico. Figura 8. Fonte: <http://www.bleymed.com.br/loja/images/temp/750_176.jpg> Deve-se incluir como material para observação dermatológica: luvas de procedimento, algodão hidrófilo, compressas esterilizadas, caixa com alfinetes, espátulas de madeira, álcool a 70%, parafina líquida, termômetro, lupa, lâminas de vidro, lanterna. Figura 9. Fonte: <http://protetoresdapele.org.br/wp-content/themes/Broadcast/Broadcast/thumb.php?src=http://protetoresdapele.org.br/ wp-content/uploads/2012/02/banner_blog_andrebraz_2.jpg&w=581&h=252&zc=1&q=100> As lesões cutâneas elementares são classificadas em: » Primárias › Mancha: alteração circunscrita da cor da pele. › Pápula: caracteriza-se por relevo na superfície da pele e conteúdo sólido, diâmetro inferior a 1 cm. 23 A PELE COMO REVESTIMENTO│ UNIDADE I › Nódulo: conteúdo sólido, maior que a pápula. › Tumor: conteúdo sólido, maior que o nódulo. › Vesícula: lesão com relevo na superfície da pele, pequena, conteúdo líquido. › Bolha: conteúdo líquido, maior que a vesícula. › Pústula: lesão com relevo na superfície da pele, conteúdo purulento. » Secundárias Escama: superficial; › Crosta: alteração cutânea endurecida. › Erosão: solução de continuidade da pele, superficial e pequena. › Ulceração: solução de continuidade maior e mais profunda que a erosão. › Fenda ou fissura: ulceração linear profunda. › Cicatriz: alteração cutânea resultante da reparação dos tecidos. › Quelóide: tipo especial de cicatriz hipertrófica, que surge em indivíduos predispostos; inicia-se com inflamação, gradualmente ultrapassa os limites da área lesada onde se estabeleceu e adquire por vezes grandes dimensões. › Atrofia: redução dos elementos constituintes da pele. Outros termos usados para caracterizar alterações cutâneas: » Generalização: compromisso geral da pele, sem qualquer área poupada. » Eritema: mancha rosada ou vermelha que desaparece à vitropressão. » Petéquia: idem, mas que não desaparece à vitropressão. » Púrpura: conjunto de petéquias. » Exantema: erupção cutânea de pequenas manchas. » Enantema: idem, nas mucosas. 24 UNIDADE I │A PELE COMO REVESTIMENTO » Roséola: exantema de pequenas manchas rosadas resolutivas. » Telangiectasia: dilatações vasculares visíveis na pele. » Eritrodermia: eritema generalizado, com descamação, aumento de espessura da pele e prurido. » Discromia: alteração da cor; aumento - hipercromia; redução – hipocromia. » Liquenificação: espessamento da pele, com acentuação do desenho da sua superfície. Exames complementares em dermatologia Biopsia da pele A biopsia cutânea para exame histopatológico com fim de diagnóstico constitui ato muito frequente na prática dermatológica. Na maior parte dos casos, executa-se com punção cortante, pela comodidade, rapidez e simplicidade do procedimento. A técnica do punção é para exérese de pequenas lesões cutâneas. Encontram-se comercializados punções descartáveis de biopsia, circulares, de diversos diâmetros: usam-se mais frequentemente os de 3, 4, 5 e 6mm. Figura 10. Fonte: <http://www.dahwmt.org.br/adm/uploads/albumfotos/09082703302007622c64d.jpg> 25 A PELE COMO REVESTIMENTO│ UNIDADE I Existem também punções de forma elíptica, com interesse em lesões alongadas ou quando se pretende efetuar sutura. Quando se deseja obter fragmento de maiores dimensões do que o proporcionado pelo punção, utiliza-se bisturi. Em lesões exofíticas, nas quais se pretende realizar exame histológico, realiza-se por vezes exérese tangencial com bisturi, designada correntemente como “shaving”. A curetagem constitui procedimento muito frequente em Dermatologia, para exérese de pequenas lesões, eventualmente com objectivo de exame histológico. Existem comercializadas curetas descartáveis de diâmetros diversos. Utilizam-se mais frequentemente as de 4 e 7mm de diâmetro. A execução da biopsia cutânea não necessita preparação prévia. Citologia esfoliativa (citologia de Tzanck) A utilização do epónimo Tzanck deriva da utilização por este autor do exame citológico para confirmação do diagnóstico do pênfigo. Consiste na realização de um esfregaço em lâmina de vidro e sua coloração por técnica adequada, normalmente com corante de Giemsa. Este produto, constituído por azul de metileno/eosina, é muito utilizado em citologia geral e hematologia. O exame citológico é efetuado, a maior parte das vezes, em ulcerações cutâneas, no aspirado de bolhas ou ainda no pavimento destas, por raspagem, após ter sido cortadas. Executa-seo esfregaço na lâmina de vidro e, após secagem ao ar, é coberta com outra lâmina. O conjunto é embrulhado em papel no qual se escreve o nome do paciente e a designação “Tzanck”. 26 UNIDADE I │A PELE COMO REVESTIMENTO Figura 11. Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/-8kN5A3VF7mE/TZ5038C-54I/AAAAAAAAATc/50Yey4bzn9I/s1600/citologia+coleta.jpg> Figura 12. Fonte: <http://www.laboratoriolab.com.br/documents/10461/11976/raspado.jpg?t=1382119844560> Exame micológico para pesquisa de dermatófitos A pesquisa de fungos dermatófitos executa-se normalmente no couro cabeludo, em escamas raspadas da superfície cutânea e em fragmentos de unhas. 27 A PELE COMO REVESTIMENTO│ UNIDADE I Figura 13. Fonte: <http://shinsei.com.br/wp-content/uploads/2010/01/Artigo-1.F1.png> A eventual limpeza prévia das lesões deve ser feita com éter, não se utilizando qualquer outro antisséptico. O material recolhido é colocado entre duas lâminas de vidro e estas embrulhadas em papel. No exterior, escreve-se o nome do doente, idade, proveniência, tipo de material colhido (cotos de cabelos, escamas de pele, unha), local da colheita (nas unhas, não esquecer se são do pé ou da mão, e qual o dedo) e data da colheita. Exame micológico para pesquisa de leveduras Analisa-se os exsudados ou pus. Se o material é abundante, pode ser aspirado com seringa e esta enviada ao laboratório. Se é escasso, colher com zaragatoa estéril, introduzir em tubo próprio e enviar ao laboratório sem demora, dado o risco de secagem que inviabiliza a pesquisa. PS: Não esquecer identificação do material entregue. 28 UNIDADE II ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA CAPÍTULO 1 Reações cutâneas As causas das dermatoses são muitas vezes consideradas como endógenas (causa interna) e exógenas (causa externa). Cabe ao profissional de enfermagem identificar e classificar a causa. As reações cutâneas na maioria das vezes são de causa endógenas. A palavra alergia significa “alteração na capacidade de reagir”. O organismo reage perante uma substância denominada alergeno, por isso o fenômeno é chamado de alérgico. Há muitos tipos de reação alérgica, a mais comum é por contato, denominada de “retardada” ou de “hipersensibilidade retardada”, quando surge tardiamente cerca de 12 a 24 horas depois do contato com o material a qual o individuo é alérgico/sensibilizado. Existem casos em que pode ocorrer sensibilidade “imediata” (reação originada pela substância em causa surge imediatamente após o contato cutâneo), um exemplo de alergia de contato imediato verifica-se na sensibilização ao látex (nas luvas de procedimento) usadas diariamente por profissionais de saúde. Nesse caso, o indivíduo sensibilizado a essa substância, quando utiliza, por exemplo, luvas de proteção em látex, verifica imediatamente o aparecimento de pápulas urticariformes com prurido nas mãos (urticária alérgica de contato). 29 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II Figura 14. Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-6vzUxqmQUkM/U9Ae0a2crZI/AAAAAAAARlA/6MPpIhuwmVI/s1600/alergia-produtos-de- l%C3%A1tex.jpg> Quando existe hipersensibilidade imediata de grau muito intenso, pode estabelecer o risco de manifestações clínicas gerais (crise asmatiforme, hipotensão arterial), as quais em casos extremos e muito raros podem culminar em quadro de choque (choque anafilático). Entre os padrões de reação cutânea, os mais comuns são: eczema, psoríase, eritrodermia, dermatoses bolhosas, conetivite. Eczema É uma inflamação da pele caracterizada com prurido, eritema, pápulas e vesículas. Figura 15. Fonte: <http://www.healthline.com/hlcmsresource/images/slideshow/Psoriasis-vs-Eczema-Pictures/285x285_Psoriasis_vs_Eczema_ Slide_14.jpg> 30 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA Usa-se muitas vezes a palavra dermite (ou dermatite) como sinônimo de eczema. Na realidade, dermite significa exclusivamente inflamação da pele, enquanto eczema corresponde a um tipo especial de dermite. O eczema é sempre pruriginoso e surge, ou de modo agudo, podendo desaparecer, ou de modo crônico com evolução em crises. Figura 16. Fonte: <http://www.dermis.net/bilder/CD005/550px/img0012.jpg> O eczema agudo é por via de regra exsudativo, corresponde ao que na linguagem popular é designado como “eczema úmido”. A cronicidade do eczema decorre com secura da superfície (corresponde ao “eczema seco”, também em expressão popular) e a pele sofre progressivo espessamento, sempre com prurido, observando-se aumento do desenho reticulado da sua superfície (liquenificação). O eczema crônico pode eventualmente sofrer crises de agudização, sua causa é variada. Figura 17. Fonte: <https://contourderm.com/wp-content/uploads/2014/07/eczema.jpg> 31 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II Existe o eczema de contato, ele é originado pelo contato de substâncias sobre a pele. O de contato alérgico se dá pela substância responsável que desencadeia uma reação alérgica quando contata com a pele. No traumático ou “irritativo”, a substância responsável origina uma resposta inflamatória apenas pelas suas propriedades “irritantes”. O eczema atópico surge originado por um mecanismo alérgico particular, denominado “atopia”. O eczema de estase é típico das pernas, é causado pela estase circulatória. O eczema desidrótico é predominante nas mãos e nos pés, surge em indivíduos predispostos, sobretudo no tempo quente. Em alguns casos o eczema é designado pelo local onde se estabelece. Trata-se de localizações especialmente frequentes, por exemplo, eczema das mãos, eczema dos pés, eczema das pernas. É importante acentuar que, sob estas designações, o eczema pode ser originado por causas diferentes. Assim, se a causa de um determinado eczema das mãos for de contato alérgico, designa-se como “eczema de contato alérgico das mãos”. Na maior parte dos casos, combinam-se diversos fatores na origem do eczema, embora um deles possa ser o predominante. Os eczemas de causa alérgica são muito importantes, pela frequência e pelos problemas que originam. Psoríase Doença comum presente em cerca de 2 a 3% da população. A causa da doença ainda se encontra mal esclarecida, mas as manifestações cutâneas resultam essencialmente da proliferação acentuada das células epidérmicas (ceratinócitos) que, por essa razão, se acumulam e descamam na superfície cutânea, com aspecto classicamente comparável a fragmentos de cera. 32 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA Figura 18. Fonte: <http://msalx.veja.abril.com.br/2014/08/09/0336/pe6Cx/psoriase-lesao-20120329-original.jpeg?1402459893> Entre os tipos clínicos e características mais importantes pode-se destacar a vulgar, eritrodérmica, pustulosa e artropática. » Psoríase vulgar: é a forma mais comum, as lesões elementares são manchas eritemato-descamativas. A cor do eritema varia entre o rosado e o vermelho vivo e a intensidade da descamação é também variável. As escamas por via de regra soltam-se com facilidade. É corrente o compromisso das unhas, por vezes reduzido a discreto “picotado”, outras vezes muito pronunciado e atingindo todas unhas. » Psoríase eritrodérmica: resulta da generalização da psoríase, abrange toda a pele, não existindo qualquer área poupada. » Psoríase artropática: associa formas de expressão cutânea, frequentemente grave e rebelde, à terapêutica, com quadros de reumatismo intenso, progressivo, deformante e incapacitante, conduzindo com o tempo frequentemente à invalidez. » Psoríase pustulosa: ocorre o parecimento de pústulas, muitas vezes sobre lesões preexistentes de psoríase. Há casos muito graves deste quadro clínico, comprometendo todo o corpo. Pode apresentar manifestações associadas como febre, prostração, compromisso ocasional de órgãos internos. Eritrodermia É uma situação clínica de descamação, prurido e infiltração cutânea. Entre as doenças da pele que podem originar eritrodermia pode-se citaro eczema, a psoríase, a dermite seborreica, certos tipos de linfoma e de toxidermias. 33 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II Os métodos de diagnóstico procuram estabelecer qual a doença principal que causa a eritrodermia. Os tratamentos visam ao controle da doença e ao alívio do sofrimento, que é sempre pronunciado, não só pelo incomodo da dermatose, como pela profunda modificação do aspecto individual que ela condiciona. Por meio dos cuidados de enfermagem é indispensável proporcionar conforto ao doente. Nessa perspectiva, é importante manter a temperatura ambiente agradável, evitando o sobre-aquecimento. A insuficiência circulatória cutânea em que os doentes se encontram, perturba totalmente o seu controle térmico, adquirindo ou dissipando facilmente o calor conforme a temperatura ambiente muito alta ou muito baixa. A aplicação de cremes emolientes, normalmente prescritos, ajuda a aliviar o incomodo causado pela habitual esfoliação cutânea. Dermatoses bolhosas Englobam-se sob esta designação grupos de dermatoses com diversa etiologia, mas em que realça em termos clínicos, como fenômeno comum, a formação de bolhas. Revestem-se de diferente gravidade, condicionada por fatores múltiplos, com destaque para a presença de compromisso das mucosas e para a intensidade das lesões e consequentes áreas secundárias de “desnudamento” cutâneo. Figura 19. Fonte: <http://static.tuasaude.com/img/posts/2014/01/d6016ed4f6bf06fe55efe8932ead216f.jpeg> 34 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA Sob o ponto de vista patológico, as afecções em causa resultam de perda da coesão entre células da epiderme (ceratinócitos), ou de alterações no complexo estrutural que compõe e mantém a união entre a epiderme e a derme, denominado de zona de junção dermo-epidérmica. O conhecimento da organização estrutural, composição química e antigênica da zona de junção dermo-epidérmica da pele normal, é imprescindível para a compreensão da patogenia destas afecções. Figura 20. Fonte: <http://files.laderm-ba.webnode.com.br/200000006-ebcbbecc5c/barriga.png> As alterações destas estruturas, com desencadeamento de dermatose bolhosa, resultam de causas muito diversas, de natureza endógena o que pode acarretar malformações congênitas ou doenças autoimunes, como a síndrome de Stevens-Johnson. As epidermólises (epiderme + lise, do grego lisis = separação) bolhosas congênitas são as mais raras, mas se constituem – devido à sua cronicidade e caráter deformante – de algumas variedades clínicas, problema de caráter social e familiar. 35 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II Figura 21. Fonte: <http://www.scielo.br/img/revistas/abd/v88n6s1//0365-0596-abd-88-06-s1-0067-gf01.jpg> As regras gerais de atitude, sob o ponto de vista dermatológico prático, procuram reduzir os traumatismos cutâneos e manter as lesões de modo a facilitar a cicatrização. Eritema exsudativo multiforme (eritema polimorfo) Trata-se de um padrão de reação cutâneo-mucosa, que integra lesões multiformes com aparência de máculas, pápulas, vesículas e bolhas dispersas em áreas eletivas do tegumento, com frequente compromisso das mucosas com caráter pluro orificial. Figura 22. Fonte: <http://www.dermis.net/bilder/CD192/550px/img0044.jpg> 36 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA Alguns casos associam-se a infecções (herpes simples, mononucleose infecciosa, estreptococias). Outros, resultam de reação secundária à administração de medicamentos (variedade de toxidermia). Figura 23. Fonte: <http://www.huidziekten.nl/afbeeldingen/erythema-exsudativum-multiforme-7.jpg> A expressão toxidermia designa todas as formas de reação da pele surgidas em consequência da administração de fármacos por via geral. A palavra sugere etiologia “tóxica” que, em muitos casos, não se encontra presente. O mecanismo de hipersensibilidade alérgica é muito comum. Quase todos os medicamentos podem originar toxidermias e os quadros clínicos respectivos são muito variados, a erupção de tipo exantemático, pruriginosa, é a mais frequente. Síndrome de Lyell Chamada denecrólise epidérmica tóxica, corresponde à dermatose bolhosa generalizada, com acentuada repercussão no estado geral, evolução grave, chegando ao óbito em quase 100% dos casos. A a mortalidade é elevada devido ao quadro de septicemia, embolia pulmonar e hemorragia digestiva. 37 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II Figura 24. Fonte: <http://www.dermis.net/bilder/CD088/550px/img0032.jpg> Doença causada por reação alérgica grave, devido a medicamentos, infecções virais e neoplasias severas. A maioria dos casos é de etiologia inespecífica. Dos medicamentos mais comuns que podem evoluir com a doença estão a penicilina, sulfamidas, anti-inflamatórios, hidantoína, carbamazepina, barbitúricos, anticonvulsivanes, analgésicos, anti-inflamatórios não esteróides, alopurinol, nevirapina, delavirdina. Em alguns casos, ocorre juntamente com outra doença grave, complicando o diagnóstico. O início da doença é súbito, com eritema generalizado e formação de bolhas flácidas na pele e mucosas, observa-se extrema fragilidade cutânea, cuja epiderme descola ao mínimo traumatismo. O compromisso geral é constante, com destaque para as alterações do equilíbrio hidroeletrolítico. Esses doentes necessitam de atitude clínica e de cuidados idênticos aos dos grandes queimados, com realce para a manutenção das funções vitais e para a prevenção e pesquisa contínua das infecções, complicação sempre grave nessa situação clínica. 38 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA Figura 25. Fonte: <http://dermatoweb2.udl.es/images/fotos/grans/sdme_lyell18.jpg> Os doentes se beneficiam de ser mantidos em ambiente quente e seco, sendo necessária a internação hospitalar na fase mais aguda onde possam ser tratados com metodologia semelhante aos grandes queimados. Figura 26. Fonte: <http://web.udl.es/usuaris/dermatol/Atlasweb/sdme_lyell/600/sdme_lyell05.JPG> Aprofunde seu conhecimento sobre a Síndrome de Lyell no material complementar disponível na biblioteca e em: < h t t p : / / w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t t e x t & p i d =S0004-27492004000600019> <http://www.dermis.net/dermisroot/pt/29169/diagnose.htm> <http://www.avimedi.net/pt/sindrome-stevens-johnson-lyell-testemunhos. html> 39 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II Cuidados de Enfermagem as dermatoses bolhosas Conforme descrito, os cuidados são semelhantes aos dos pacientes queimados. O isolamento, cumprimento das normas de prevenção da infecção nosocomial, detecção de sinais de infecção: febre, sintomas vários (alterações respiratórias, urinárias, do trânsito intestinal etc.), vigilância dos cuidados intensivos como controledos sinais vitais, balanço hídrico, controle de glicêmia capilar, pesquisa de glicosúria devem ser estabelecidos. A mobilização do doente, prevenção de úlceras por pressão, bem como monitorar o risco de embolia pulmonar devem ser constantes. 40 CAPÍTULO 2 Reações exógenas sobre a pele e mucosas As reações exógenas sobre a pele e as mucosas são muito mais comuns do que se imagina. As pessoas desencadeiam e refletem na pele suas condições emocionais, hábitos alimentares, hábitos de vida, basta lembrarmos os dias em que consumimos excessivamente cafeína ou chocolate (cacau), a grande maioria das pessoas acaba desenvolvendo acne. Outra questão a ser considerada, é que a pele está na “linha de frente” do nosso organismo, ela que reveste e protege os órgãos e nosso esqueleto, portanto, está mais suscetível a agressões externas, seja de natureza biológica e/ou físico química. Lembre-se de que: » Infecção - entrada de agentes patogênicos no corpo humano e/ou animal, nesse caso agentes microscópicos. » Infestação - entrada de agentes patogênicos macroscópicos no organismo. Simbiose,infecção e infestação não constituem categorias estanques de tipos de associação, um determinado simbionte pode, em circunstâncias particulares (condições do meio, virulência), transformar-se em agente de infecção ou de infestação. Na pele humana, encontram-se correntemente os três tipos de situações referidas, portanto, existe sempre uma população de microrganismos habitantes normais da superfície da pele e das mucosas (flora cutânea superficial). Figura 27. Fonte: <http://www.jj.com.br/galerias/int_estilo/1000/codigo_0000707/2015-09-30_15-21-49_1.jpg> 41 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II Há doença cutânea ou mucosa quando há desequilíbrio desta flora de superfície, ocasionando, por exemplo, a dermatose. Compõem a flora cutânea superficial germens variados (bactérias, fungos, vírus, parasitas), mas a importância das bactérias sobreleva a dos outros agentes pela sua importância na gênese das infecções cutâneas e gerais. A pele humana é estéril no momento do nascimento, observando-se, no entanto, aparecimento da população microbiana residente em poucos dias, enquanto o pH desce de 7.0 para 5.5. A pele normal é particularmente resistente à colonização por germens patogênicos, devido ao próprio Ph (baixo pH da superfície), o que a torna desfavorável à multiplicação da maioria dos germens patogênicos; a própria ação química bacteriostática/ bactericida do filme lipídico superficial também contribui para a sua proteção; a presença de imunoglobulinas no suor, com propriedades antibacterianas; a descamação persistente da camada córnea, a qual reduz a probabilidade de colonização significativa; o baixo conteúdo hídrico das células córneas, que dificulta a sobrevivência bacteriana; a flora comensal da superfície (interferência bacteriana), são outras questões de proteção a serem consideradas. Existem três tipos de flora bacteriana cutânea superficial: residente, transitória e patogênica. A flora residente é constituída por germens não patogênicos. Está sempre presente, composta principalmente por bactérias dos gêneros como o Propionibacterium, Staphylococcus e Corynebacterium e exerce aparente efeito de proteção quanto ao aparecimento de germens patogênicos, por provável mecanismo de interferência bacteriana. 42 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA Figura 28. Fonte: <http://blog.casapia.com/wp-content/uploads/2014/05/Sanit01.jpg> Ocasionalmente, alguns germens da flora residente podem adquirir propriedades de patogenicidade e originar doença, sobretudo em doentes imunodeprimidos. A flora residente varia consideravelmente conforme as áreas da pele consideradas e encontra-se não só na superfície cutânea como igualmente na profundidade dos folículos pilossebáceos. A flora residente não é completamente eliminável, mesmo durante a lavagem de mãos e aplicação de antissépticos. A sua reconstituição é muito rápida, surgindo de novo cerca de 4 a 6 horas após a remoção. Este fato é particularmente notório nas mãos, sobretudo quando se usam luvas de material oclusivo. A flora transitória possui potencialidade patogênica e resulta da presença ocasional de germens não presentes habitualmente na superfície cutânea, por isso pode ocorrer ocasionalmente a contaminação acidental, a partir do tubo digestivo ou do ambiente. É importante considerar que a flora transitória dos doentes em internação hospitalar reflete frequentemente o ecossistema microbiano ambiental, com germens resistentes aos antibióticos. Nessa perspectiva, desempenha papel importante na transmissão interindividual de germens, por isso a importância de lavagem das mãos constante (a cada procedimento e a cada assistência prestada ao indivíduo). 43 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II Figura 29. Fonte:<http://www.portalesmedicos.com/imagenes/publicaciones_11/1101_lavado_manos_seguridad/eliminacion_flora_ transitoria.jpg> Ao contrario da flora residente, a flora transitória reflete o padrão de flora existente no ambiente, tem importância fundamental na transmissão de infecções; é praticamente eliminada com os cuidados de lavagem e de antissepsia. A flora patogênica não está presente de modo estável na pele humana íntegra, por isso causa doenças/ infecções cutâneas. A flora patogênica reveste-se de grande importância, não só como causa de doença dermatológica, mas pela sua potencialidade de transmissão e/ou invasão de outros órgãos, eventualmente sepsis, com a gravidade que essas situações condicionam. Figura 30. Fonte: <http://biosan.ind.br/wp-content/uploads/2013/10/saude-ed51-l-01.jpg> 44 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA A eliminação de germens existentes na superfície da pele e em objetos de uso hospitalar constitui preocupação constante, como método básico elementar de prevenir infecções. Essa eliminação promove-se por três métodos: lavagem, desinfecção e esterilização. Contudo, importa acentuar que a designação e conceito de esterilização não se aplicam à pele, mas apenas a objetos. No que diz respeito ao material para uso médico, em termos gerais e em todas as circunstâncias, hospitalares ou extra-hospitalares, o risco que subsiste quando utilizado em qualquer doente, pode ser classificado como: » Material crítico ou de alto risco - material que penetra no organismo por rotura da pele/mucosas, ou quando é introduzido em cavidades estéreis. Impõe-se sempre à esterilização. » Material semicrítico ou de médio risco - material que entra em contato com pele lesada ou mucosa. Impõe-se à desinfecção. » Material não crítico ou de baixo risco- material em contato com a pele íntegra. Impõe-se à lavagem. A limpeza por lavagem efetua-se com sabão ou detergentes. A ação mecânica simultânea com escova é muito importante. A desinfecção consiste na eliminação, por ação direta, da maior parte dos microrganismos existentes sobre qualquer suporte. A desinfecção pode ser física (temperatura elevada) ou química (desinfectantes - álcool etílico, compostos halogenados, glutaraldeido; antissépticos - álcool etílico, álcool propílico, clorohexidina, iodóforos). A noção de antissepsia subentende a desinfecção que pode ser executada na pele e nas mucosas. A antissepsia ganhou base científica em meados do século passado, com Lister e, durante largos decênios, constituiu a principal base de lutas contra as infecções. Com o advento dos antibióticos, o uso das substâncias antissépticas foi reduzido, o que acarretou no aumento das infecções hospitalares, por isso nas últimas décadas foram retomadas essas questões. 45 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II A antissepsia pode efetuar-se com substâncias químicas variadas. Com finalidade prática consideram-se duas situações comuns a antissepsia geral da pele e das mucosas e a antissepsia utilizada na preparação do campo operatório e das mãos dos cirurgiões. É importante recordar que os produtos antissépticos são medicamentos e que devem ser utilizados como tal, com as suas regras de uso, indicações, contraindicações e efeitos colaterais. Em relação ao diagnóstico para identificar o conteúdo da flora patogênica, o mais indicável é o exame bacteriológico por meio de cultura (swabs). Esse exame é para pesquisa de germens em afeções cutâneas e pode ser realizado em lesões abertas ou fechadas. Nas primeiras bolhas, abcessos, se o conteúdo é líquido (seroso, hemático, purulento), efetua-se punção com agulha de espessura adequada ao material a recolher; se as lesões são sólidas (por exemplo erisipela ou celulite) efetua-se injeção intralesional de cerca de 1 a 2 ml de soro fisiológico, o qual se aspira em seguida, com o objetivo de procurar recolher, por arrastamento, germens existentes na área da injeção. Em qualquer dos casos referidos, impõe-se grande cuidado de assepsia, para evitar contaminação acidental durante o ato da colheita. O material é enviado ao laboratóriona própria seringa da colheita introduzida em tubo estéril. Em lesões abertas (ulcerações), o material é recolhido com zaragatoa, introduzido em tubo próprio e enviado ao laboratório. A execução de hemocultura aumenta a probabilidade de isolamento do agente causa da infecção . 46 CAPÍTULO 3 Terapêutica dermatológica É considerável o número de subespecialidades e de técnicas específicas de diagnóstico e de terapêutica, ligadas à dermatologia. Encontram-se individualizadas, em muitos Serviços de Dermatologia, consultas especiais dirigidas a determinados grupos etários (Dermatologia Pediátrica e Dermatologia Geriátrica), correspondentes a certas patologias (Doenças Transmitidas Sexualmente, Oncologia Cutânea, Conectivites, Dermatoses Bolhosas, Úlcera de Perna), ou ligadas a procedimentos especiais de diagnóstico e terapêutica (Dermatologia de Contato, Cirurgia Cutânea, Fototerapia). O papel da Enfermagem é fundamental na terapêutica diagnóstica de qualquer uma dessas especialidades, visto que, na maioria das vezes, o enfermeiro que inicia o primeiro contato com o paciente por meio da visita de enfermagem. Nesse momento, é necessário que o enfermeiro descreva não só o exame físico, mas o exame psicossocial, investigando possíveis causas que desencadearam as infecções dermatológicas, veiculando à equipe multiprofissional essas informações clínicas que podem ser cruciais ao bom diagnóstico/tratamento. Perante o médico, muitas vezes, ignora ou omite elementos da anamnese, convicto de que são irrelevantes. Além disso, porque considera que o diagnóstico é formulado pela simples observação, espera garantia de evolução favorável da doença quando recebe as indicações terapêuticas. Com certa frequência, na sequência do referido, resiste a outros exames para além da observação das lesões e revela impaciência quando pressionado para a sua execução. Assim, no atendimento inicial, e também nos subsequentes, o papel do enfermeiro é crucial, incutindo confiança e tranquilidade, explicando o modo como decorrerá o atendimento e a observação médica. A serenidade nessa circunstância é essencial. A maioria das afecções dermatológicas podem ser tratadas em ambiente domiciliar, entretanto, existem algumas doenças que requerem uma observação clínica mais constante e o que justifica a internação hospitalar. Entre os principais motivos que determinam a necessidade de internação hospitalar, pode-se destacar: 47 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II » realização de procedimentos auxiliares, necessários para confirmação de um diagnóstico e/ou para esclarecimento de interpretação patogénica; » investigação clínica perante possibilidade da dermatose constituir manifestação cutânea de doença geral (conectivites, síndromas para-neoplásicas etc.); » tratamento de doenças que afetam áreas extensas do tegumento (psoríase ou eczema extensos) ou de prognóstico reservado (pênfigos, linfomas, toxidermias); » tratamento médico específico impraticável no domicílio, intervenção cirúrgica ou situações que impõem vigilância clínica permanente (corticoterapia elevada e prolongada, quimioterapia citostática); » tratamentos que não podem ser efectuados no domicílio por razões de dificuldades sociais, pela idade, via de administração de fármacos ou cumprimento rigoroso do terapêutico. Existem vários tipos de terapêutica dermatológica, isso irá depender do grau e tipo de doença desencadeada. Para fins didáticos, o conteúdo a seguir contempla alguns exemplos. Aquecimento Pacientes com inflamação generalizada da pele, por exemplo, no caso da eritrodermia, apresentam muito frio, por isso a indicação de aquecimento, entretanto, o controle dessa ação deve ser rigorosa visto que não podem ser aquecidos excessivamente. Utiliza-se, para esse aquecimento, radiadores, mantas térmicas dirigidas diretamente no paciente. Figura 31. Fonte: <http://dermacentro.com.br/2011/arquivos/radiofrequencia_nao_ablativa/01.jpg> 48 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA Absorção de medicamentos pela pele No tratamento tópico das dermatoses, é necessário cuidado com aplicações de determinados medicamentos, em face ao risco da absorção percutânea, sobretudo nas circunstâncias seguintes: » quando os produtos podem originar toxicidade ou efeitos gerais indesejáveis áreas “desnudadas”; » sem epiderme crianças (massa corpórea pequena em relação à superfície da pele); » doenças cutâneas muito extensas (maior superfície de absorção); » tratamentos prolongados (acumulação do fármaco absorvido). Envelhecimento e foto-envelhecimento da pele O envelhecimento cutâneo constitui fenômeno irreversível que se começa a observar normalmente pela quarta década de vida. A pele é mais fina, perde elasticidade, enruga-se, a superfície amarelece, é mais seca e, por vezes, descamativa. Essas alterações, mais ou menos intensas observa-se na pele não exposta e correspondem ao denominado envelhecimento inato. A fragilidade da pele resulta da sua atrofia, a que se associa frequentemente “secura” significativa (xerose), não por desidratação, mas sobretudo pela falta de oleosidade superficial. Em idosos, isso é muito comum, a esse fenômeno denomina-se de eczema senil. Figura 32. Fonte: <http://portalamigodoidoso.com.br/wp-content/uploads/2013/04/envelhecimento-da-pele-620x336.jpg> 49 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II O eczema nos idosos representa assim o resultado de um conjunto de fatores, elos de uma cadeia complexa geradora do processo inflamatório crônico que necessita de tratamento adequado. A esse fenômeno de senescência “natural” do tegumento somam-se as alterações induzidas por ação da luz solar, evidentes nas áreas expostas. É o denominado foto-envelhecimento, o qual se traduz por pigmentação difusa dessas áreas, com atrofia intensa e pela hiperpigmentação de tipo lenticular designada como “lentigo senil”. Em situações avançadas, a fragilidade das estruturas cutâneas é extrema e pequenos traumatismo originam erosões fáceis ou sufusões hemorrágicas por rotura dos vasos da derme. A lavagem geral deve ser pouco frequente, com periodicidade de harmonia com as necessidades individuais e o tipo de pele. São de preferir as lavagens diárias parcelares. No banho geral, o chuveiro com baixa pressão constitui o método mais adequado. São de banir as lavagens prolongadas e os banhos de imersão em água muito quente. Devem ser evitadas as espumas de banho e os sabonetes com propriedades detergentes pronunciadas. Privilegiar os produtos de lavagem genericamente classificados como syndets (do inglês synthetic detergents), de que existem comercializadas diversas fórmulas, com pH baixo e cuja agressividade cutânea é muito menor que os sabões tradicionais. A fricção da pele com esponja, com luva ou com escova é interdita. A espuma deve ser passada suavemente na pele sem esfregar. A secagem deve ser efetuada por contato do roupão ou toalha turca, sem fricção. As fricções da pele com álcool ou outros produtos antissépticos ou irritantes são de banir totalmente. É necessário cuidado com as massagens. A vulnerabilidade da pele tolera mal esse tipo de ações físicas e, frequentemente, verifica-se intolerância a óleos ou outros produtos correntemente utilizados. A aplicação de rubefacientes ou de anti-inflamatórios não esteróides é particularmente mal tolerada. A aplicação diária de leite corporal do tipo emulsão de óleo em água (O/A) é recomendável. Os pós de talco devem ser evitados, salvo se houver perspiração intensa. De modo geral, contribuem para a secura da pele. 50 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA Hábitos de higiene da pele é algo que o enfermeiro precisa orientar e estimular em seus pacientes, pelas razões já expostas, os hábitos referidos devem ser mantidos e mesmo encorajados, adaptados apenas à tolerância ou susceptibilidade peculiar da pele. Medicamentos A terapêuticamédica dermatológica efetua-se por administração de medicamentos seja por via oral, endovenosa, intramuscular e o mais comum por aplicação tópica. A terapêutica tópica só deve ser usada com conhecimento preciso das propriedades farmacológicas dos medicamentos utilizados, suas indicações, contraindicações e efeitos acessórios. Além disso, é imprescindível o conhecimento do diagnóstico, evolução natural e mecanismos causais das doenças tratadas. É importante recordar que variados fármacos podem penetrar por meio da pele, sobretudo se ela se encontrar lesada, e atuar por via geral. Além disso, quando os medicamentos tópicos são usados de modo inadequado ou incorreto, existe risco de agravamento da afecção que se pretende tratar. Alguns podem ainda condicionar intolerância local e sensibilização (alergia) de contato. Assim, é preciso ter presente que a absorção transcutânea de produtos aplicados sobre a pele pode originar ações sistêmicas, eventualmente tóxicas, por isso a necessidade de monitoramento constante e prescrição médica. Existem diversos princípios ativos, desde corticóides a antibióticos, cabendo ao médico a avaliação da melhor indicação. Utilizar fármacos tópicos empiricamente pode ocasionar piora do quadro dermatológico. Figura 33. Fonte: <http://atualizacaofarmaceutica.com/wp-content/uploads/2012/10/corticoides-topicos.png> 51 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II Corticosteróides tópicos Entre os “princípios ativos” mais usados em dermatologia destacam-se o uso dos corticosteróides, pois têm ação anti-inflamatória. Os corticosteróides têm potência anti-inflamatória variada, agrupando-se correntemente em quatro graus: » muito elevada; » elevada; » média; » baixa potência. Assim, não é indiferente a utilização de um, ou de outro, derivado corticosteróide. Usam-se em cremes, pomadas, loções e, ainda, em injecção intralesional. A potência dos corticosteróides tópicos pode ser otimizada pela sua incorporação em determinados veículos e ainda extraordinariamente reforçada pela utilização de “oclusão”. Esta pode obter-se cobrindo a área onde se aplica o corticosteróide com polietileno. Regras gerais para corticoterapia sob oclusão: » lavar a área a ser tratada; » om a pele úmida aplicar o corticóide, friccionando ligeiramente » cobrir a área com folha de polietileno (ou luvas nas mãos, sacos de plástico justos nos pés, touca de banho na cabeça); » se possível fechar o contorno do plástico com adesivo, ou ligar; » deixar pelos menos 6 horas, se possível durante toda a noite; » vigiar diariamente o aparecimento de quaisquer alterações, nomeadamente de pústulas na área tratada. Utilizam-se derivados corticosteróides de alta/média potência quando se pretende alcançar um efeito rápido e enérgico genericamente em áreas de pele espessa em dermatoses liquenificadas e hiperceratósicas. 52 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA Entre as contraindicações destacam-se as infecções de qualquer etiologia, sejam bacterianas (por exemplo piodermites), fúngicas (por exemplo dermatofitias ou candidíase) ou virais (por exemplo herpes). Figura 34. Fonte: <http://static.tuasaude.com/img/posts/2013/01/95998bb12ab0883bfc867a2a91ee5ddb.jpeg> Entre os efeitos colaterais do uso de corticóides, salienta-se especialmente a propriedade de originarem atrofia da pele, a qual pode ser grave, intensa e irreversível. Nas pregas (virilhas, por exemplo), ocasiona atrofia linear do tipo das estrias gravídicas. Outros efeitos colaterais são a hipopigmentação, hipertricose, erupção acneica, perioral e rosaciforme da face. Figura 35. Fonte: <http://clinicaamabile.com.br/wp-content/uploads/2015/07/telangiectasias.jpg> Se utilizados em largas áreas e durante muito tempo podem ser absorvidos e originar ações sistêmicas. 53 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II Em algumas afecções, a interrupção súbita da corticoterapia tópica induz efeito de reativação, por vezes, com grande intensidade inflamatória. Quanto mais potente o corticosteróide utilizado, mais intensos os efeitos colaterais observados. Citostáticos tópicos A mostarda nitrogenada, em solução aquosa para aplicação tópica, constitui método simples e muitas vezes eficaz no tratamento de lesões cutâneas de linfomas malignos, especialmente da micose fungoide. Figura 36. Fonte: <http://www.nsdefatima.com.br/imgsite/institucional/000004/amp-DSC_0043.JPG> Os citostáticos tópicos são de uso hospitalar, devido ao grau de controle tanto na preparação quanto na aplicação. O fármaco origina com facilidade hipersensibilidade de contato, por isso deve ser usadas luvas de proteção. Usado também para o tratamento tópico da micose fungoide, a carmustina (bicloro-nitrosureia) é utilizada na diluição 25 a 50 mg do fármaco em 100 a 200 ml de álcool, com aplicações por via de regra em dias alternados, de modo a atingir dose total de 400 mg. 54 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA Cirúrgica dermatológica São as operações realizadas com finalidades de diagnóstico ou de tratamento de doenças da pele, via de regra utiliza-se anestesia local ou loco-regional, frequentemente em regime ambulatório ou realiza-se internação hospitalar de curta duração. Na maioria dos casos, não precisa de bloco operatório e/ou preparação pré-operatória específica como nas cirurgias de médio e grande porte. O processo de enfermagem com relação ao centro cirúrgico também é o mesmo das demais cirurgias, seja ambulatorial ou hospitalar, portanto cabe a checagem dos equipamentos, limpeza da sala, condições de funcionamento, esterilização e conservação de materiais, se todos os materiais e itens que serão utilizados no ato cirúrgico estão adequados. Figura 37. Fonte: <https://aprender.buzzero.com/buzzers/soenfermagem/39431/HotSiteImage.jpg> O papel do enfermeiro é a orientação pré e pós operatória, alinhando-asjunto à equipe multiprofissional. O enfermeiro não deve esquecer de coletar dados na anmnese pré-operadora, investigando antecedentes: » cardiopatias, epilepsia; » existência de infecções crônicas como hepatite, HIV; » alergias medicamentosas » uso de próteses, incluindo dentária; 55 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II » se fuma, faz uso de drogas (álcool, maconha etc.), lembrando que deve se abster um dia antes e um depois da cirurgia; » se faz uso de anticoagulantes (incluindo aspirina), anti-inflamatórios não esteróides, beta-bloqueantes, antidepressivos. Cabe ao enfermeiro também checar exames prévios, se foram realizados, e os resultados como hemograma com contagem de plaquetas; glicemia; provas de função hepática; creatininemia; ionograma e eletrocardiograma. Imediatamente antes da intervenção é necessário avaliar o estado de espírito do doente, sobretudo quanto a ansiedade e grau de confiança pessoal. Deve-se conversar com serenidade, sem displicência e sem minimizar o ato cirúrgico. Aos pacientes sensíveis e inseguros, cabe demonstrar afeto. Em alguns casos, o médico pode achar conveniente a administração de um ansiolítico ou de um analgésico de ação central. É frequente a administração de antibiótico por via parentérica. A remoção do vestuário não necessita, na maioria das intervenções, de ser completa. Permitir que o paciente permaneça vestido parcialmente é, para ele, mais confortável e gera confiança. O vestuário não pode, contudo, interferir nas necessidades de assepsia deque deve decorrer o ato cirúrgico. Nessa perspectiva, as regras de desinfecção, bem como a utilização de luvas, máscara e bata esterilizadas, devem ser escrupulosamente cumpridas por todo o pessoal interveniente. É fundamental uma boa preparação do campo operatório. Interessa sobretudo a remoção cuidadosa de pêlos e cosméticos. Verificar em seguida se o doente foi fotografado e se a máquina fotográfica se encontra em situação de ser utilizada e, de modo geral se todomaterial se encontra devidamente posicionado. Não esquecer de colocar a “placa de terra” do aparelho de eletrocirurgia, se este vai ser utilizado. A anestesia local pode ser efetuada por aplicação tópica ou por injeção intradérmica, subcutânea e troncular de produtos anestésicos. A pomada anestésica de lidocaína e prilocaína a 2,5% (EMLA®) tem ação satisfatória, embora o seu efeito não atinja grande profundidade cutânea, limitando se à derme 56 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA superficial, é muito utilizada. Para uma ação mais eficaz, aplica-se previamente em torno de 45 minutos a 2 horas antes da intervenção, em oclusão sob plástico de polietileno, para que se obtenha um efeito satisfatório. A picada da anestesia deixa o paciente ansioso e muitas vezes com medo, portanto,o uso prévio de EMLA® ou spray de cloreto de etilo reduz a dor da picada e diminui a ansiedade relacionada com a expectativa desta última. A anestesia superficial das mucosas com anestésicos tópicos é muito mais eficaz do que a que se obtém na pele. Realiza-se com lidocaína ou benzocaína (creme, pomada, gel, spray etc.) ou com cocaína (soluto aquoso a 4%). A sua ação estabelece-se em poucos minutos. A anestesia por infiltração local, por via de regra sub-lesional, é a que se executa mais frequentemente, com lidocaína (1 ou 2 %) ou com bupivacaína (0.25%, 0.5% ou 0.75%) com ou sem adrenalina associada. Outro tipo de anestésico local, outrora muito utilizado, é a procaína. Em dermatologia, usa-se igualmente com certa frequência anestesia troncular, pela introdução do anestésico na periferia de troncos nervosos sensitivos que enervam determinados territórios cutâneos. Este tipo de anestesia possui algumas vantagens sobre a infiltração sublesional: usa menor quantidade de anestésico evita a distorção dos tecidos a intervencionar, ainda é rápida e eficaz. Oferece alguns riscos, sobretudo pela lesão acidental do tronco nervoso. Denomina-se anestesia tumescente aquela que visaà anestesia de extensas áreas da pele, atuando particularmente no tecido celular subcutâneo. Trata-se de anestesia útil sobretudo para executar liposucção. Consiste na preparação e uso de um soluto anestésico muito diluído, de baixa concentração, mas grande volume, com o qual se infiltra difusamente o tecido celular subcutâneo. Na intervenção cirúrgica para remoção de lesão cutânea, o procedimento compreende em geral dois tempos consecutivos. No primeiro, efetua-se a incisão da pele e tecido celular subcutâneo com bisturi, no segundo, procede-se ao descolamento e remoção da lesão. O descolamento segue em geral o plano de clivagem entre o tecido adiposo e a fascia subjacente. A remoção de qualquer fragmento de pele origina superfície sangrante. A hemorragia oriunda de vasos de calibre médio é controlada pela laqueação com fio de sutura. A que provem de pequenas arteríolas é resolvida por eletrocoagulação com canivete elétrico bipolar. Na hemorragia em toalha a compressão da ferida operatória durante alguns minutos é suficiente. 57 ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA│UNIDADE II A resolução da hemorragia deve ser perfeita porque, caso contrário, gera-se hematoma que causa tensão, com prejuízo do resultado estético e pode mesmo originar deiscência da sutura. O encerramento da ferida cirúrgica assenta nas possibilidades seguintes: cicatrização por segunda intenção; sutura direta; retalho e enxerto. A cicatrização por segunda intenção consiste no fenômeno de reparação espontânea, quando se deixa que o ferimento cicatrize sem que se aproximem os seus bordos. No fundo do ferimento, após o coágulo de sangue, que por via de regra aí se constitui, prolifera tecido que preenche a cavidade, denominado tecido de granulação. Gradualmente observa-se retração, aproximação dos bordos do ferimento e crescimento da epiderme até encerrar completamente a área lesada. O procedimento que consiste em deixar o ferimento cirúrgico cicatrizar por segunda intenção é adoptado em algumas áreas da pele, como em superfícies côncavas (concha auricular, canto interno do olho). A sutura direta é a técnica mais utilizada. Consiste na reparação dos tecidos para facilitar a aproximação dos bordos do ferimento cirúrgico, sendo realizada em dois planos: o plano subcutâneo, encerrado por pontos de sutura com material reabsorvível (Catgur, Dexyon, Vynil) e posteriormente, no segundo plano, a pele é unida com fio de material inerte, como o nylon, sendo indispensável, para o bom resultado final que a aproximação dos bordos se faça sem tensão e sem deformidade das estruturas anatómicas adjacentes. Os retalhos são denominados, conforme as suas características, de avanço, de rotação e de transposição; eles permitem transportar tecido de zonas adjacentes ao defeito cirúrgico para permitir encerrar a ferida sem tensão. Revestem-se de grande interesse na reparação de defeitos extensos da face propiciando resultados funcionais e cosméticos muito favoráveis. Os enxertos consistem na remoção de pele de zonas mais ou menos distantes, a qual é aplicada sobre a ferida que se pretende encerrar. A posterior revascularização e reinervação dessa pele assim enxertada permite a sua implantação e integração na área onde foi aplicada. Denominam-se os enxertos de pele “total” (epiderme e totalidade da derme) e de pele “parcial” (epiderme e parte da derme). Os enxertos constituem solução prática na reparação de defeitos extensos, mas raramente proporcionam resultados estéticos favoráveis. 58 UNIDADE II │ABORDAGEM DO PACIENTE EM DERMATOLOGIA ESTÉTICA O penso que se executa no final da intervenção cirúrgica representa estrutura de proteção da área lesada. Favorece a reconstituição dos tecidos, proporciona barreira indispensável contra a penetração de germes e fornece certo grau de humidade indispensável ao processo de cicatrização. Frequentemente aplica-se sobre a ferida operatória pomada de fármaco antibiótico, cuja finalidade consiste na ação antibacteriana, além de não permitir que haja secagem e consequente aderência do penso ao ferimento. O tipo de penso mais frequentemente utilizado consiste na aplicação de uma primeira camada de tecido sintético não aderente, sobre o qual assenta gaze de algodão, sendo o conjunto mantido solidamente em posição por adesivo ou ligadura.Os pensos hidrocolóides são atualmente bastante utilizados. São semipermeáveis, dispensam o uso de antibiótico, mantêm ambiente úmido permanente. 59 UNIDADE IIIDOENÇAS DERMATOLÓGICAS CAPÍTULO 1 Alterações cutâneas degenerativas e neoplásicas A dermatologia também presta assistência as alterações cutâneas derivadas de cânceres, sejam benignos ou malignos. Existem diversas afecções de pele ocasionadas por neoplasias, a mais comum e sabida popularmente é o câncer de pele. O câncer de pele causa lesões que podem ser imensas a depender da fase da doença. Dentre os sintomas mais comuns destacam-se o prurido, sangramentos e dor, mas normalmente são visíveis e podem ser sentidas muito antes de chegar a este ponto. Câncer de pele basocelular O carcinoma basocelular geralmente se desenvolve em áreas expostas ao sol, especialmente da cabeça e do pescoço, mas pode ocorrer em qualquer parte do corpo. Os principais sinais e sintomas dos carcinomas basocelulares são a protuberância de cor rósea brilhante, avermelhada, branco perolado ou transparente; área avermelhada, em relevo ou irritada, que pode descascar ou coçar; lesão rósea com borda elevada e parte central encrostada e a cicatriz com área branca, amarela ou cerosa, e bordas mal definidas. A ferida aberta com sangramento, que permanece aberta durante várias semanas. 60 UNIDADE III │DOENÇAS DERMATOLÓGICAS Figura 38. Fonte: <http://www.cuidebemdasuapele.com.br/wp-content/uploads/2013/02/DSCN3307-scc7.jpg> Câncer de pele espinocelular O carcinoma espinocelular tende a ocorrer em áreas do corpo expostas ao sol, como
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