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APOSTILA DE FILOSOFIA E s c o l a : _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ A l u n o : _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Organização: Prof. Esp. Francisco Vasconcelos Silva Júnior 3 A BUSCA POR UMA EXPLICAÇÃO DO MUNDO! C a p ít u l o 1 De acordo com a tradição histórica a fase inaugural da filosofia é conheci- da como período pré-socrático (isto é anterior a Sócrates). Assim, esse perío- do abrange o conjunto de reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto, no século VII a.C., até o sur- gimento de Sócrates, no século V a.C. Já estudamos no 6º ano que a filo- sofia surge na Grécia Antiga na cidade de Mileto, situada na Jônia, litoral oci- dental da Ásia Menor. Caracterizada por múltiplas i n f l u e n c i a s culturais e um rico comércio, Mileto abrigou aqueles que seriam a ser considerados como os três primeiros filó- sofos. São eles: Tales, Anaximandro e Anaxímenes. D e s t a c a - s e entre os objeti- vos desses primeiros filosofos, a cons- trução de uma cosmologia. Desde o princípio os primeiros filó- sofos buscavam investigar as causas, o princípio e o fundamento para a exis- tência do mundo. A partir da busca pela compreensão da existência do mundo, deu-se então uma investiga- ção e a busca pela a explicação dos fenômenos já existentes e até mesmo daqueles que poderiam existir, que até então ainda são objetos de pesquisa, por aqueles que adentram no campo do conhecimento. Para os f i lósofos pré - socráticos, a arché ou arqué (palavra grega que significa ori- gem), seria um princípio que de- veria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvi- mento e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. Para esses filósofos comumen- te chamados de pré-socráticos todas as coisas são diferencia- ções de uma mesma coisa e são a mesma coisa. Um desses filóso- fos Diógenes de Apolônia explicou o raciocínio que levou os primei- ros filósofos a ideia da Arché: [...] se as coisas que são agora neste mundo - terra, água, ar e fogo e as outras coisas que se manifestam neste mundo -, se alguma destas coisas fosse dife- rente de qualquer outra, diferente em sua natureza própria e se não permanecesse a mesma coisa em suas muitas mudanças e dife- renciações, então não poderiam as coisas, de nenhuma maneira, misturar-se umas as outras, nem fazer bem ou mal umas as outras [...] Assim, é a origem, mas não como algo que ficou no passado e sim como aquilo que, aqui e ago- ra, dá origem a tudo, perene e permanentemente. 4 Os filósofos de Mileto C a p ít u l o 2 A filosofia possui um lugar mítico de origem, Mileto. Trata-se de uma antiga colónia grega situada na Jónia, metade sul da costa ocidental da Ásia Menor. Os filósofos de Mileto eram também chamados de naturalistas, por estarem envolvidos em reflexões relativas à physis (natureza num sentido amplo como realidade primeira e fundamen- tal) na tenta- tiva de en- contrar uma e x p l i c a ç ã o para a ori- gem, ou o p r i n c í p i o (arché) de todas as coi- sas. Foram eles: Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto e Anaxímenes. Destaca-se entre os objetivos desses primeiros filósofos, a construção de uma cosmologia (explicação racional e sistemática do universo). 2.1 Tales de Mileto Segundo a tradição clássica da filo- sofia ocidental, o primeiro teórico a formular um pensamento mais sistemático fundado em bases racionais foi o grego Tales 625 a.C. – 558 a.C.). Sendo o fundador des- sa nova forma de pensar, ele é considerado o primeiro filósofo de que se tem notí- cia, inaugurando a linhagem filosófica dos pré-socráticos (filósofos que vieram antes de Sócrates). Foi considerado o precursor do pen- samento filosófico, por que pen- sou a matéria de maneira diferen- te de como era pensada antes, com inferências divinas e invoca- ções a deuses superiores. Ele acreditava que a coisa material sofria transformações ao longo do tempo. Com isso, o filósofo inau- gurou o método de observação e especulação diferente das expli- cações teológicas e religiosas pa- ra todas as coisas, em vigor na época. Aristóteles o considerava como o primeiro filósofo. Procurando fugir das antigas explicações mitológicas sobre a criação do mundo, Tales queria descobrir um elemento físico que fosse constante e, todas as coi- sas, algo que foi o principio unifi- cador de todos os seres. Segundo Tales, a origem de todas as coi- sas estava no elemento água: quan- do densa, transformar- se-ia em ter- ra; quando a q u e c i d a , viraria vapor que, ao se resfriar, retornaria ao estado líqui- do, garantindo assim a continui- dade do ciclo. Nesse eterno movi- mento, aos poucos novas formas de vida e evolução iriam se de- senvolvendo, originando todas as coisas existentes. O grande mérito de Tales, na verdade, não foi a sua explicação aquática da realidade: foi o fato Localização de Mileto no mapa atual 5 de que, pela primeira vez na história, o homem buscava uma explicação total- mente racional para o seu mundo, dei- xando de lado a interferência dos deu- ses. 2.2. Anaximandro de Mileto Anaximandro de Mileto (610 a.C.- 547 a.C.) foi discípulo de Tales. Assim como seu mestre, procurou compreender o princípio (arkhé) que origina toda a reali- dade. Porém, em suas investigações, não encontrou em nenhum ele- mento físico este princípio, mas no que chamou de ÁPEIRON. Segundo Anaximandro, é a partir da transformação de cada coisa no seu contrário, isto é, da mu- dança entre pares de opostos da realidade, que podemos perce- ber que elas estão imersas em um turbilhão infinito, ilimitado, indeterminado, mas que deter- mina e limita todos os seres. A este turbilhão original denomi- nou ápeiron. Para esse filósofo, pares de con- trários são, por exemplo, quente- frio e seco-úmido. Isto quer dizer que em cada coisa somente um de cada par po- de existir, não podendo, pois, coexisti- rem em um mesmo objeto, o quente e o frio. Por isso percebemos a ordem nesta determinação. Mas se nenhuma predo- mina eterna- mente (pois uma só existe quando a outra não está pre- sente) é porque devem ser de- terminadas por algo extrínseco (fora) a elas, algo ilimitado, mas que as li- mita, o ápeiron (ilimitado, indefinido, in- destrutível, indeterminado). Anaximandro pensava que nosso mundo é somente um entre diversos ou- tros mundos que irão se desenvolver, evoluir e se desintegrar em um processo infinito. 2.3. Anaxímenes de Mileto Anaxímenes de Mileto (585 a.C.- 528 a.C.) também fez parte da Esco- la Jônica. Foi discípulo de Anaximan- dro e como este, também afirmou ser uma só a natureza ou princípio (arkhé) subjacente a todas as coi- sas. No entanto, mesmo que acredi- tasse ser este princípio ilimitado, não o pensou ser indefinido. Tentando uma possível concilia- ção entre as concepções de Tales e as de Anaximan- dro conclui ser o ar o principio de todas coisas. Isso porque o ar repre- senta um elemen- to invisível, quase inobservável e, no entanto, ob- servável: ―o ar é a própria vida a for- ça vital, a divindade que anima o mundo, aquilo que dá testemunho à respi ração‖ . A n a x í me n e s acreditava que a alma feita de ar, observando que o vivente r e s p i r a (refrigera o corpo) en- quanto que o morto não o faz. Anaxímenes encontrou no ar empírico uma série de propriedades que desempenhari- am melhor que os outros elementos as funções de arché. 6 A ESCOLA PITAGÓRICA E O CULTO A MATEMÁTICA C a p ít u l o 3 Pitágoras de Samos (570 a.C. – 490 a.C) nasceu na ilhade Samos, na cos- ta jônica. Por volta de 530 a.C sofreu perse- guição politica por causa de suas ideais sendo obrigado a dei- xar sua terra de ori- gem. Em Crotona fun- dou uma sociedade secreta dedicada ao estudo dos números. Julga-se que esta so- ciedade, cujos membros se tornaram conhecidos como pitagóricos, desen- volveu uma parte signifi- cativa de conhecimento matemático e isso em segredo absoluto. Pode considerar-se que os pitagóricos eram uma ordem religiosa e uma escola filosófica. Para os filósofos da escola pita- górica "O número é tu- do", isto é o "número e r a a su b s t â n - cia de todas as coisas". O que pretendiam afir- mar era que não só to- dos os objetos conheci- dos tinham um número, ou podiam ser ordena- dos e contados, mas também que os números eram a base de todos os fenómenos físicos. Por exemplo, uma constelação no céu po- dia ser caracterizada não só pela sua forma geométrica como também pelo número de estrelas que a c o m p u n h a m , bem como ela própria podia ser a represen- tação de um número. Conta- se Pitágoras que chegou a essa ideia ob- servou que os sons produzidos por cordas vi- brantes são harmoniosos quando os comprimentos das cordas po- dem ser expressos como razões de números inteiros. Segundo o pesquisador em filo- sofia Thomas Giles, ―pela primeira vez se introduziria um aspecto mais formal na explicação da rea- lidade, isto é a ordem e a cons- tância‖. Assim a essência dos se- res, teria uma estrutura matemá- tica da qual derivariam problemas como: finito e infinito, par e impar, unidade e multi- plicidade etc. P i t á g o - ras dizia que no fundo de t o d a s coisas a diferen- ça entre os seres consiste, essencialmente, em uma questão de números (limite e ordem das P it á g o ra s ,5 7 1 a 4 9 6 a .C 7 coisas). Os pitagóricos descobriram que a har- monia na música correspondia a razões simples entre núme- ros. De acordo com Aristóteles, os pitagóri- cos pensavam que to- do o céu era composto por escalas musicais e números. A harmonia musical e os desenhos geométricos levaram esses pensadores a acreditar que tudo se resumia a números. Os pitagóricos pensa- vam que as razões nu- méricas básicas da música envolviam apenas os números 1, 2, 3 e 4, cuja so- ma é 10. E 10, por sua vez, é a base do nosso sistema de nu- meração. Representa- vam o número 10 como um triângulo, ao qual chamaram tetraktys. As contribuições da escola pitagórica pode ser encontradas no campo da matemática, da musica e da astro- nomia. A essas contri- buições junta-se uma série de crenças místi- cas relativas à imortalidade da alma, à reencarnação dos pecadores, a prescri- ção de rígidas condutas morais. Os pitagóricos seguiram venerando certos padrões numéricos, especialmen- te o chamado ―número especial dez‖ es- se numero era visto como místico, uma vez que continha os quatros ele- mentos, fogo água, ar e terra: 10=1+2+3+4. Chamado pelos gre- gos de Tetractys. ―O triangulo e o numero 10—o decado—tornaram-se objetos de adoração pelos pitagoreanos. No pensamento pitagórico, o nu- mero 10 é o numero prefeito, por- que ele formado pela soma dos qua- tros primeiros números inteiros, co- mo mostrado no tetraktys. Pitágoras morreu por volta de 500 a.C. e não deixou nenhum re- gistro escrito do seu trabalho. O cen- tro de Crotona foi destruído por um grupo rival político, sendo a maioria dos seus membros morta, e os res- tantes dispersaram-se pelo mundo grego levando a sua filosofia e o misticismo dos nú- meros. Os discípulos mais famosos de pitago- ras foram Filolau de Tarento (século V a.C), um importante matemático e astrô- nomo; desenvolveu a doputrina pitagórica com certo rigor cien- tifico; Hicetas de Si- racusa (século V a.C) destacou-se por afirmar a rotação da Terra sobre seu eixo; Hipocrátes de Quino (470-419 a.C) e Alcméon (século VI a.C) foram importantes matemáticos da escola pitagórica. Representação do Tetraktys. Teorema de Pitágoras: A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. 8 Heráclito de Éfeso C a p ít u l o 4 Heráclito de Éfeso (535-470 a.C), concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, isto é em constante mu- dança. Descendente dos reis de Éfeso, colônia ateniense na costa da Ásia Me- nor, abriu mão do título honorífico em favor de seu irmão. Altivo, ele desprezou a plebe e hostilizou a nascente democracia em Éfeso, se recusando a escre- ver sua constituição. Assim como os pensa- dores de Mileto, Herá- clito observava que a realidade é dinâmica e que a vida está em constante transforma- ção. Mas diferentes dos milésimos, que buscavam na mudança aquilo que per- manece, decidiu concentrar sua refle- xão sobre o que muda. Segundo Heráclito, no universo tudo flui, tudo esta em cons- tante movimento e transformação, dai sua escola filosófica ser chamada de mobilista. Para ele a vida era um fluxo constante, impul- sionado pela lutas de forças contrarias: a or- dem e a desordem, o bem e o mal, o belo e o feio, a construção e a destruição, a justiça e a injustiça, a alegria e a tristeza etc. Assim afirmava que luta é mãe, rainha e principio de todas as coisas. É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui. Atribui-se a esse a filosofo a celebre frase: ―É impossível que alguém se banhe num mesmo rio duas vezes‖; porque ao entrar pe- la segunda vez tanto ela quanto o rio já não são os mesmos. Ao contrário da maioria dos filósofos antigos, Heráclito é ge- ralmente visto como independen- te de escolas e movimentos, pro- vavelmente um autodidata. Seus escritos conjugavam ciência, rela- ções humanas e teologia. Apesar de influenciado por seus prede- cessores, ele foi crítico do pensa- mento vigen- te e chamava os poetas épi- cos de "tolos" e Pitágoras de "impostor". O Obscuro, como era co- nhecido Herá- clito, conce- beu o FOGO como o princí- pio eterno que causa a mudança e c o n c e b e Deus como a harmonia ou síntese entre os contrários. É uma concepção de realidade que per- mite compreender o mundo so- mente no seu devir e na unidade dos opostos. Quer dizer que a do- ença torna valorosa a saúde e Yin Yang é um princípio da filosofia chi- nesa, onde yin e yang são duas energias opostas. Yin significa escuridão sendo representado pelo lado pintado de preto, e yang é a claridade. Para Heráclito a vida era um fluxo constante, impulsiona- do pela lutas de forças contrarias:. De acordo com Heráclito o Fogo era o principio primordial de to- das as coisas, isso porque o fogo representa a dinâmica de trans- formação da natureza que há em todas as coisas. Heráclito de Éfeso - 535 a 475 a.C. 9 que jamais entenderíamos o significado da justiça se não houvesse a ofensa. O sentido, o significado está na harmo- nia, na concili- ação entre os vários pares de contrários. É interessante observar como a filosofia de Heráclito per- manece atual. No que se refere à maté- ria, Essa é mutável e con- cebida pelos cientistas c o m o eterna- mente em transforma- ção (como afirmou o químico Lavoisier no século XVIII, ―na natu- reza nada se cria, na- da se perde, tudo se transforma‖). A atuali- dade de seu pensa- mento também pode ser observada no Princípio da incerteza de Heisenberg, físico que ajudou a desenvol- ver a mecânica quântica no século XX, que diz ser impos- sível afirmar com exatidão a posição de um elétron em um átomo em razão da me- todologia de aferição. Apesar de não ter sido bem visto entre seus contemporâ- neos e estudiosos posterio- res, Heráclito é considerado um dos mais destacadosfiló- sofos pré-socráticos e o primeiro grande representante do pensamen- to dialético. Sua teoria influenciou filósofos como Hegel, Nietsche, Heideger entre outros. Lavosier (1743 - 1794): “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. 10 OS PENSADORES DE ELÉIA C a p ít u l o 5 As diversas explicações para origem do universo que estudamos nos capítu- los anteriores despertaram na época, uma nova indagação: Porque tantas explicações diferentes sobre a origem do universo? Porque tantas opiniões contrarias? Como foi visto Heráclito de Éfeso, acreditava que a luta dos contrários formava a unidade do mundo. Já para os pensadores da cidade Eléia a partir do seu principal representante, Parmê- nides, os contrários jamais poderiam coexistir. Foi a partir dessa discussão sobre os contrários, sobre o ser e o não ser, que se iniciaram a lógica e a ontologia e suas relações reciprocas. 5.1 Parmênides de Eléia Nascido em Eleia, atual Vélia (Itália), Parmênides é considerado o fundador da escola eleática. Ele foi admirado por seus contemporâneos por ter levado uma vida regrada e exemplar. Parmênides foi o mais influente dos filósofos que precederam Platão. Em sua doutrina se desta- cam o monismo e o imo- bilismo. Ele propôs que tudo o que existe é eter- no, imutável, indestrutí- vel, indivisível e, portanto, imóvel. Para esse filosofo, a transformação das coisas, o fato de se moverem, de se deteriorarem, envelhecerem e morrerem era algo incom- patível com a ideia de ser. Para Parmênides, o ser só pode ser pensado como algo que não muda, que permanece sempre do que jeito que é. Parmênides considera que o pensamento humano pode atingir o conhecimento genuíno e a com- preensão. Essa percepção do do- mínio do "ser" corresponde às coi- sas que são percebidas pela men- te. O que é perce- bido pe- las sen- sa ç õ e s , por outro lado, é, segundo ele, en- ganoso e falso, e pertence ao domínio do não-ser. Trata-se de uma oposição direta ao mobilismo defendido por Herá- clito de Éfeso, para quem "tudo passa, nada permanece". Seu pensamento influenciou a chama- da "teoria das formas", de Platão. Apenas para tornar mais clara a sua doutrina, podemos dividi-la em: Unidade e a imobilidade do Ser O mundo sensível é uma ilusão O Ser é Uno, Eterno, Não-Gerado e Imutável Não se confia no que vê Ele acreditava que frio era falta de calor e que escuro era falta de luz. O argumento que em- Parmênides de Eléia - 530 a 460 a.C. 11 basava toda a sua lógica era que não pode haver um pensamento que corres- ponde a um nome que não é um nome de uma coisa que realmente existe. Quando você pensa, você pensa em al- guma coisa, quando você usa um nome, este deve corresponder a alguma coisa. A grande importância de Parmênides na história da filosofia, está na forma que ele formulou esse argumen- to, muitos di- zem que ele in- ventou a lógica, mas o que ele realmente in- ventou foi a metafísica baseada na lógi- ca. 5.2 Zenão de Eléia Zenão de Eleia nasceu por volta do ano de 489 a.C. Era discípulo de Parmêni- des e defensor árduo de seu pensamento. Segundo Aristóteles, Ze- não foi o fundador da Dia- lética como arte de provar ou refutar a verdade de um argumento, partindo de princípios admitidos por seu interlocutor. Zenão foi discípulo de Par- mênides e coloca a serviço de seu mestre seus conhe- cimentos lógicos inventan- do vários argumentos com o objetivo de desacreditar os críticos da visão de mundo exposta por Parmêni- des, com quem visitou Atenas e conhe- ceu Sócrates. Ele é conhecido sobretudo pelos para- doxos formulados basicamente sobre a tese da impossibilidade do movimento que hoje são conhecidos como parado- xos de Zenão. Seguindo as pegadas de seu mestre Parmênides, através da dia- lética, ele tenta afirmar a teoria da imu- tabilidade do ser reduzindo ao absurdo o seu contrário. A tese contestada por Ze- não é a tese dos Pitagóricos que acreditam na multiplicidade do ser em relação ao seu número. Contes- ta também a tese de Anaxágoras, seu contemporâneo. Um dos famosos paradoxos que Zenão utilizava para contestar a teo- ria do mobilismo é o da flecha. Nes- te, um arqueiro mira um alvo e lan- ça a flecha de seu arco. Mas, pen- sou Zenão, em cada instante de tempo determinado, a flecha ocupa um espaço determinado (pensem numa imagem fotográfica desse mo- vimento sucessivo de instantes) o que significa que em cada tempo finito a flecha está em repouso. Ora, como entender que ela está simulta- neamente em repouso e movimen- to? O movimento gera o repouso? Não, isso é uma contradição, aos olhos dos antigos. Com esse tipo de argumento, Ze- não mostrava a insustentabilidade das teses dos defensores do mobi- lismo e defendia a posição do seu mestre de que pensamento, ser e linguagem guardam uma relação íntima de tal modo que o nosso co- nhecimento só pode ser concebido se seguidas as leis lógicas da razão. Zenão de Éleia - 490 a 430 a.C 12 OS SOFISTAS C a p ít u l o 6 Na Grécia Antiga, o período pré- socrático foi dominado, em grande par- te, pela investigação da natureza. Essa investigação consistia na busca de ex- plicações racionais para o universo manifestando-se na procura de um principio primordial de todas as coisas existentes, seguiu-se a esse período uma nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no próprio homem e nas relações politicas do homem com a sociedade. Essa nova fase foi marcada no inicio, pelos sofistas. Os sofistas eram professores viajan- tes que, por determi- nado preço vendiam ensinamentos práti- cos de filosofia. Ensi- navam conhecimen- tos úteis para o su- cesso nos negócios públicos e privados. Cada sofista tinha o domínio de um con- junto de conhecimen- tos que ensinava pa- ra seus alunos. Mas em geral, pratica- mente todos os sofis- tas ensinavam a ha- bilidade de falar bem. Nesse período em Atenas, expressar-se bem em público era muito importante, porque as princi- pais decisões para a cidade e para os cidadãos atenienses eram tomadas em assembleias, por meio de votação. Podemos considerar a retórica como a arte da persuasão, a qual, por meio de argumentos bem construídos, leva os outros a concordarem como a opini- ão de quem a exerce. Entretanto, na retórica o que se coloca em foco não é necessariamente a verdade acerca dos fatos, mas os aspec- tos que podem melhor convencer e persuadir. Por isso, muitos filó- sofos acusavam os sofistas de não terem compromisso com a verdade. Etimologicamente o termo sofis- ta significa ―sábio‖. Entretanto, com o decorrer do tempo ganhou sentido de ―impostor‖, devido, sobretudo às criticas de Platão. Desde então se considerou a sofistica, apenas uma atitude vici- osa do espirito, uma arte de mani- pular raciocínios, de produzir o falso, de iludir os ouvintes, sem qualquer amor pela verdade. 5.1 Protágoras de Abdera Nascido na cidade Abdera, pro- vavelmente em 480 a.C., é considerado o primeiro e um dos mais im- portantes so- fistas. Ensinou por muito tem- po em Atenas, tendo como principio bási- co de sua dou- trina a ideia de que o homem é a medida de tudo o que existe. O enunciado que resumo sua doutrina revela que ele, de forma critica e perspi- caz, percebeu o valor da relativo Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço vendiam ensinamentos práti- cos de filosofia. As lições sofistas tinham como principal objetivo o desenvolvimento da argumen- tação, da habilidade da retórica, do conhecimento de doutrina divergentes. “O homem é a medida de todas as coisas; daquelas que são, enquanto são; e daquelasque não são”. Protágoras de Abdera 480 a 410 a.C. 13 da verdade que havia nas teorias dos filósofos do período cosmoló- gico. Conforme a concepção de Protágoras, todas as coisas são relativas às disposições do homem, isto é o mundo é o que homem constrói e destrói. Por isso não haveria verdades absolutas. A verdade seria relativa a determinada pes- soa, grupo social ou cultura. Parecia claro para Protágoras que não existe verdade em sentido absoluto, porque ela depende de convenci- mento, podendo, por- tanto, assumir valor relativo ou subjetivo, isto é que é verdade para um pode não ser verdade para outro. O homem é a medida de todas as da verda- de. Se assim é, o co- nhecimento pode as- sumir um caráter prá- tico, uma vez que tudo depende de convencimento, daí a impor- tância da boa argumentação. 5.2 Górgias de Leontini Górgias de Leontini, consi- derado um dos grandes ora- dores da Grécia, aprofun- dou o subjetivismo relativis- ta de Protágoras a ponto de defender o ceticismo abso- luto, negando de forma ra- dical a possibilidade do co- nhecimento. É dele a ex- pressão máxima do ceticis- mo formulada em três teses básicas; I. nada existe; II. Se existisse, não poderia ser conhecido; III.Mesmo se fosse conheci- do, não poderia ser comunicado a ninguém. Para Górgias, os filósofos produziram teses tão contraditórias em relação a existência do ser que acabaram afirmando o contrario, ou seja, a existência do não-ser, isto é, do na- da. Sendo que o nada não pode ser pensado, não sendo pois, conhecido ou comunicado. De fato Górgias pôs de cabeça pa- ra baixo o pensamento de Parmêni- des ao afirmar que o ser não existe e que o não-ser existe. Partindo dessas argumentações, Górgias conclui que não existe um conhecimento certo das coisas, ele procurou mostrar tão somente o po- der das p a l a - v r a s , não co- mo ex- pressão da ver- d a d e , mas co- mo for- ça de persua- são. Daí o poder da reto- rica enquanto arte de persuadir e produzir crenças. As obras de retórica de Górgias ainda em existência (Encômio de Helena, Defesa de Palamedes, So- bre a Não-Existência e Epitáfio) fo- ram preservados através de uma obra chamada Technai, um manual de instrução retórica, que consistia de modelos a serem memorizados, e demonstrava diversos princípios da prática retórica.10 Embora al- guns estudiosos tenham alegado que cada uma dessas obra apresen- ta afirmações contrastantes, os qua- tro textos podem ser lidos como contribuições interrelacionadas à arte (technê) e à teoria (então pro- missora) da retórica. O homem é a medida de todas coisas. A frase de Protágoras tem sido reinterpre- tada durante os séculos, a partir dessa frase afirma-se que o conhecimento do mundo é uma criação humana; portanto se constitui mediante o uso de nossa capacidade de perceber e entender as coisas, que varia de pessoa para pessoa, e de formar consensos¹. “Bom orador é capaz de conven- cer qualquer pessoa sobre qual- quer coisa”. Górgias de Leontini 487 - 380 a.C. Oratória é a arte de falar em público de forma estruturada e deliberada, com a intenção de informar, influenciar, ou entreter os ouvintes. 14 SÓCRATES DE ATENAS: ―SÓ SEI QUE NADA SEI‖ C a p ít u l o 7 Sócrates nasceu em Atenas, prova- velmente no ano de 470 aC, e tornou- se um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Podemos afirmar que Sócrates fundou o que conhecemos hoje por filosofia ocidental. Era filho de um escultor e de uma parteira. Em Ate- nas, recebeu uma educação clássica, que incluía ginásti- ca, música e gra- mática. Pouco se sabe a respeito de sua juventude. Sócrates vivia de maneira humilde, percorrendo des- calço as ruas de Atenas. Tornou-se o filósofo por exce- lência, "amigo do saber". Passou a en- sinar em praça pública, sem cobrar pelos seus ensinamentos, ao contrário do que faziam os sofistas. O pensamento de Sócra- tes marca uma reviravolta na história humana. Até en- tão, a filosofia procurava explicar o mundo baseada na observação das forças da natureza. Com Sócrates, o ser humano voltou-se pa- ra si mesmo. Como diria mais tarde o pensador ro- mano Cícero, coube ao gre- go "trazer a filosofia do céu para a terra" e concentrá-la no homem e em sua alma (em grego, a psique). A pre- ocupação de Sócrates era levar as pessoas, por meio do autoconhecimento, à sabedoria e à prática do bem. Seu método con- sistia em fazer perguntas que conduziam o discípulo à desco- berta da verdade. Sócrates concebia o homem como um composto de dois princí- pios, alma (ou espírito) e corpo. De seu pensamento surgiram du- as vertentes da filosofia que, em linhas gerais, podem ser conside- radas como as grandes tendên- cias do pensamento ocidental. Uma é a idealista, que partiu de Platão (427-347 a.C.), seguidor de Sócrates. Ao distinguir o mun- do concreto do mundo das idéias, deu a estas status de realidade; e a outra é a realista, partindo de Aristóteles (384-322 a.C.), discí- pulo de Platão que submeteu as ideias, às quais se chega pelo es- pírito, ao mundo real. Nas palavras atribuídas a Só- crates por Platão na obra Apologia de Só- crates, o filósofo ate- niense considerava sua missão "andar por aí (nas ruas, pra- ças e ginásios, que eram as escolas ate- nienses de atletis- mo), persuadindo jo- vens e velhos a não se preocuparem tan- to, nem em primeiro lugar, com o corpo ou com a fortuna, mas antes com a perfei- ção da alma". Por is- so, o autoconheci- mento era um dos pontos básicos Sócrates de Atenas - 469 a 399 a.C ―Só sei que nada sei‖ Foi a re- posta de Sócrates a pergunta feita pelo oráculo de Delfos ao lhe indagar sobre o que ele sa- bia. 15 da filosofia socrática. ―Conhece-te a ti mesmo‖, frase inscrita no Oraculo de Delfos, era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos. Defensor do diálogo como método de educação, Sócrates considerava muito importante o contato direto com os inter- locutores - o que é uma das possíveis razões para o fato de não ter deixado nenhum texto escrito. Suas ideias foram recolhidas principalmente por Platão, que as sistematizou, e por outros filóso- fos que conviveram com ele. Em meio ao desmoronamento do im- pério ateniense e à guerra civil interna, quando já era septuagenário, Sócrates foi acusado de desres- peitar os deuses do Estado e de c o r r o m p e r os jovens. Julgado e condenado à morte por e n v e n e n a - mento, ele se recusou a fugir ou a renegar su- as convicções para salvar a vida. Ingeriu cicuta e morreu rodeado por seus ami- gos, em 399 a.C 6.1. O método Socrático O método socrático consiste em uma téc- nica de investigação filosófica feita em diálogo que consiste em o professor con- duzir o aluno a um processo de reflexão e descoberta dos próprios valores. Pa- ra isso ele faz uso de perguntas simples e quase ingênuas que têm por objetivo, em primeiro lugar, revelar as contradições presentes na atual forma de pensar do aluno, normalmente baseadas em valo- res e preconceitos da sociedade, e auxiliá-lo assim a redefinir tais valo- res, aprendendo a pensar por si mesmo. É dividido em dois momentos fun- damentais: A ironia que denuncia as verda- des feitas e o falso saber daqueles que pretendiam reduzir o verdadeiro ao verosímil A maiêutica, técnica através da qual se consegue observar como é que uma ciência desconhecida se transforma progressivamente numa ciência conhecida. Segundo Platão, Sócrates fora buscar a sua arte da maiêutica a sua mãe que era partei- ra. Sócrates considera- va a sua arte como a arte de par- turejar; só que agora são ho- mens que dão à luz e é do partodas suas almas que se trata. Sócrates revelava aos ou- tros aquilo que eles próprios sabiam sem de tal terem consciência. Ele pretendia que o seu questionamen- to sistemático levasse os outros a um ponto crucial de consciência crí- tica, procurando a verdade no seu interior, dando assim lugar ao "parto intelectual". A maiêutica é, assim, a fase positiva, construtiva, do méto- do socrático que permite o acordo através das certezas universais obti- das pela definição após a discus- são. "A Morte de Sócrates", por Jacques-Louis David(1787) 16 O CONHECIMENTO C a p ít u l o 8 Quando estudamos o nascimento da filosofia na Grécia, vimos que os primeiros filósofos dedica- vam-se a um conjunto de indagações principais: ―porque e como as coisas existem?‖, ―O que é mun- do?‖. Essas indagações co- locavam no centro a per- gunta: ―o que são as coi- sas?‖. De fato desde seus primórdios, a Filosofia se ocupou do problema do co- nhecimento. Os primeiros filósofos na Grécia que questionaram sobre o mun- do (cosmos), sobre o ho- mem, a natureza e etc., ten- taram encontrar a verdade em um prin- cípio único (arché) que a b a r c a s s e toda a reali- dade, isto é, sobre o Ser. Conhecimen- to é o ato ou efeito de co- nhecer, é ter ideia ou a noção de alguma coi- sa. É o saber, a instrução e a informa- ção. Conhecer é incorporar um conceito novo, ou original, sobre um fato ou fe- nômeno qualquer. O conhecimento não nasce do vazio e sim das experiên- cias que acumulamos em nossa vida. O Conhecimento faz do ser humano um ser diverso dos demais, na medida em que lhe possibilita fugir da submissão à natureza. A ação dos animais na natureza é biologicamente determi- nada, por mais sofistica- das que possam ser, por exemplo, a casa do joão-de-barro ou a orga- nização de uma col- meia, isso leva em con- ta apenas a sobrevivên- cia da espécie. Confiantes de que so- mos seres capazes de conhecer o universo e sua estrutura, os gregos se perguntavam como era possível o erro, a falsidade e a ilusão, já que não era possível falar sobre o Não Ser e sim somente sobre o Ser. Foi preciso, pois, estabelecer a dife- renciação entre o mero opinar e o conhecer verdadeiro, entre o que percebemos pelos sentidos e aquilo que compreendemos pelo pensamento, raciocínio ou refle- xão, estabelecendo, assim, graus de conhecimento e até mesmo uma hierarquia entre eles. Isso porque o conhecimento não era entendido como a mera apreen- Arvore do conhecimento, o motivo que levou o ho- mem a ser expulso do paraíso. Os gregos se perguntavam como era possível o erro, a falsidade e a ilusão, já que não era possível falar sobre o Não Ser e sim somente sobre o Ser. 17 são particular de objetos (pois isso seria conhecimento de algo), mas pretendido como o modo universal de apreensão (não o conhecimento de várias coisas, mas o que é realmente o conhecer). O conhecimento leva o homem a apropriar-se da realidade e, ao mesmo tempo a penetrar nela, essa posse con- fere-nos a gran- de vantagem de nos tornar mais aptos para a ação consciente. A ignorân- cia dificulta as possibilidades de avanço para melhor, mantém-nos prisioneiros das circunstâncias. O co- nhecimento tem o poder de transformar a opacida- de da realidade em cami- nho iluminada, de tal for- ma que nos permite agir com certeza, segurança e precisão, com menos ris- cos e menos perigos. O conhecimento humano tem dois elementos básicos: um sujeito e um objeto. O sujeito é o homem, o ser racional que quer conhecer (sujeito cognoscente). O objeto é a realidade (as coisas, os fatos, os fenômenos, os processos) com que coexistimos. o homem só se torna sujeito do conhecimento quando está diante do objeto a ser conheci- do. A realidade só se torna objeto do conhecimento perante um sujeito que queira conhecê-la. Portanto só haverá conhecimento se o sujeito conseguir apreender o objeto, isto é, conseguir representá-lo mentalmen- te. LEITURA COMPLEMENTAR O QUE É O CONHECIMENTO FILOSÓFICO? O conhecimento filosófico é um conhecimento que tem a interrogação como base. Esse conhecimento usa o questionamento e o pensamento como base, ele é um conhecimento do dia a dia, mas ao contrário do conhe- cimento vulgar ou empírico, o conhecimento filosófico se preocupa em questionar o relacionamento do indiví- duo com o meio em que está inserido. Esse conhecimento é racional e não se baseia em expe- rimentações, que é o caso do conhecimento científico. O conhecimento filosófico não se preocupa em verificar se as conclusões tiradas são válidas cientificamente. Esse conhecimento está em busca de conclusões sobre a vi- da, o universo ultrapassando o limite imposto pela ciên- cia. O objeto de análise do conhecimento filosófico são as ideias, elas são raciocinadas e dessa maneira os filóso- fos buscam a verdade. A proposta do conhecimento filo- sófico é fornecer ideias e conteúdos que transformem a realidade. Esse conhecimento questiona o homem e as coisas da vida. É um conhecimento racional, sistemático, geral e crítico. O conhecimento filosófico é um conhecimento que tem a interrogação como base. 18 CIÊNCIA E FILOSOFIA C a p ít u l o 9 Ciência do latim scientia, etimologi- camente quer dizer: co- nhecimento, saber. Aris- tóteles definia ciência como sendo o conheci- mento das coisas por suas causas. E reconhe- cia quatro causas: mate- rial, formal, eficiente e final. Para Descartes to- da ciência é um conheci- mento certo e evidente. C a u s a m a t e r i a l (aquilo de que uma coisa é feita), Causa formal (aquilo que faz com que uma coisa seja o que é), Causa eficiente (a que transforma a matéria) Causa final (o objetivo com que a coisa é feita). Podemos afirmar que a ciência é uma forma particular de conhecimento fruto do raciocínio e da observação aperfeiçoada, da razão e da expe- riência. Desse modo, para co- nhecer basta ob- servar; para sa- ber, faz-se neces- sário a compara- ção e a generali- zação. Historicamente, já na Grécia Anti- ga se pensava sobre a ciência. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), por exemplo, es- creveu sobre a origem da vida, afir- mando a possibilida- de de existir vida a partir de algo inani- mado. A teoria da a b i o g ê n e s e (geração espontâ- nea) que ele defen- dia perdurou por diversos séculos. Além da origem da vida, Aristóteles também se preocu- pou em elaborar um meio de estudar as espécies, sen- do ele o primeiro a propor uma divisão do reino animal em cate- gorias. No decorrer da história, a figu- ra mais importante para a filoso- fia da ciência é Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês res- p o n s á v e l pela base da ciência moderna, o método indutivo. A i n d u ç ã o , método de a partir de fatos parti- c u l a r e s chegar a conclusões universais, já existia, mas é Ba- con o res- p o n sá v e l por seu aprimoramento e divulga- ção. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), escreveu sobre a origem da vida, afirmando a pos- sibilidade de existir vida a partir de algo inanimado. Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês responsável pela base da ciên- cia moderna 19 Após Bacon, muito se pensou e escre- veu sobre a ciência, especialmente devi- do aos avanços e descobertas dos sécu- los seguintes. René Descartes desenvol- veu seu método, houve as contribuições e discussões de Galileu Galilei, Isaac Newton, Gottfried Leibniz e outros. Deste aumento considerável de pensadores que detiveram tempo acerca do campo da filosofia da ciência pode- se escolher alguns para comentar su- as importan- tes ideias. En- tre eles, David Hume e Karl Popper. O grande mérito da ci- ênciaé fazer com que nós nos aproxime- mos cada vez mais das coisas, de tal forma que possamos compreende-las em suas entranhas, o que nos dá um conhecimento mais profundo da estrutu- ra do mundo e o que torna o nosso sa- ber cada vez mais especializado. Tudo leva a crer que no campo do conhecimento o homem alcançou um tempo de maturidade. Ao contra- rio do que possa ter parecido a al- guns a hegemonia do saber cientifi- co em nossa época não descartou e nem poderia a importância do saber filosófico e isso precisamente por- que é através da filosofia que pode- mos res- gatar a visão de totalida- de das relações. O papel da filoso- fia é es- tabelecer uma dis- c u s s ã o critica acerca das questões que in- teressam a todos indistintamente. A principal caraterística do saber filo- sófico é que ele é, necessariamente, um saber critico. Cumpre notar tam- bém a necessidade de uma análise critica dos rumos da própria ciência, 20 FORMAS DE CONHECIMENTO C a p ít u l o 1 0 A necessidade de explicar as coisas levou o ser humano a trilhar diferentes caminhos, o que significa que ele des- cobriu ao longo da historia diferentes formas ou diferentes graus de conheci- mento. Esses podem ser classificados em cinco formas diferentes: conheci- mento vulgar ou senso comum, conhe- cimento mítico, conhecimento religio- so. Conhecimento cientifico e conheci- mento filosófico. 8.1. conhecimento vulgar O conhecimento vulgar corresponde ao senso comum e abrange aquelas coisas que quase toda a gente sabe. Reporta-se àquilo que vamos apren- dendo des- de muito cedo e, por vezes, até de uma for- ma quase inconscien- te. As crenças e opiniões que parti- lhamos, as tradições e jogos, as c e l e b r a - ções e ofí- cios, as tarefas e lendas dizem respei- to ao senso comum. Adquire-se atra- vés da repetição de experiências, do testemunho e do exemplo dos outros (família, amigos, vizinhos, etc.), com a prática e também com os erros. É um conhecimento superficial e mais direcionado para um domínio prá- tico, porque não procura as causas e os porquês dos fenómenos e porque tem em vista o funcionamento das coisas e a realização de tare- fas. É um saber que não se baseia em métodos ou conclusões cientí- ficas, e sim no modo comum e espontâneo de assimilar informa- ções e conhecimentos úteis no cotidiano. O senso comum é uma heran- ça cultural que tem a função de orientar a sobrevivência humana nos mais variados aspectos. Atra- vés do senso comum uma criança aprende o que é o perigo e a se- gurança, o que pode e o que não pode comer, o que é justo e o que é injusto, o bem e o mal, e outras normas de vida que vão direcio- nar o seu modo de agir e pensar, as suas atitudes e decisões. 8.2. Conhecimento mítico O conhecimento mítico trata-se de uma modalidade de conheci- mento ba- seado na intuição e que deriva do entendi- mento de que exis- tem mode- los naturais e sobrena- turais dos quais brota o sentido de tudo o que existe. É um tipo de conheci- mento que Na charge o acima o cartunista, apresenta um dita- do popular muito conhecido. Filho de peixe, peixi- nho é. Os gregos utilizavam os mitos para explicar a origem do mundo, e tam- bém para mostrar a importância da obediência as regras. Na imagem acima vemos o titã Atlas que foi punido por Zeus a segurar o céu. 21 ajuda o ser humano a "explicar" o mundo por meio de representações que não são logicamente raciocinadas, nem resultan- tes de experimentações científicas. 8.3. Conhecimento Religioso É um conhecimento sistemático do mundo como obra de um criador divino; suas evidências não são verificadas: es- tá sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as "verdades" tratadas são infalíveis e indis- cutíveis, por con- s i s t i r e m e m "revelações" da d i v i n d a d e (sobrenatural). 8.4. Conhecimento científico O conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrên- cias ou fatos, isto é, com toda "forma de existência que se manifesta de algum modo" Constitui um co- nhecimento contingente, pois suas pre- posições ou hipóteses têm a sua veraci- dade ou falsidade conhecida através da experimentação e não apenas pela ra- zão, como ocorre no conhecimento filo- sófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamen- te, formando um sis- tema de ideias (teoria) e não conhe- cimentos dispersos e desconexos. Possui a característi- ca da verificabilida- de, a tal ponto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser compro- vadas não pertencem ao âmbito da ciên- cia. Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absolu- to ou final e, por este motivo, é apro- ximadamente exato: novas proposi- ções e o desenvolvimento de técni- cas podem reformular o acervo de teoria existente. Com este tipo de conhecimento o homem começou a entender o por- quê de vários fenômenos naturais e com isso vir a intervir cada vez mais nos acontecimento ao nosso redor. Este conhecimento se bem usado é muito útil para humanidade, porém se usado incorretamente pode vir a gerar enormes catástrofes para o ser humano e tudo mais ao seu re- dor. 8.5. Conhecimento Filosófico O conhecimento filosófico é um conhecimento que tem a interroga- ção como base. Esse conhecimento usa o questionamento e o pensa- mento como base, ele é um conhe- cimento do dia a dia, mas ao contrá- rio do conheci- mento vulgar ou empírico, o co- nhecimento filo- sófico se preo- cupa em questi- onar o relacio- namento do in- divíduo com o meio em que está inserido. Esse conheci- mento é racio- nal e não se baseia em ex- perimentações, que é o caso do conhecimento científico. O co- nhecimento filosófico não se preo- cupa em verificar se as conclusões tiradas são válidas cientificamente. Esse conhecimento está em busca de conclusões sobre a vida, o uni- verso ultrapassando o limite impos- to pela ciência. O Pensador: é uma das mais famosas esculturas do escultor francês Auguste Rodin. Retrata um homem em medi- tação soberba, lutando com uma poderosa força interna. 22 O CONHECIMENTO NA ANTIGUIDADE C a p ít u l o 1 1 Já sabemos que o conhecimento é a relação que se estabelece entre sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer. Na Grécia Antiga temos vá- rias visões e métodos de conhecimen- to: Sócrates - Estabelecendo seus mé- todos: ironia e maiêutica. Platão - Doxa - A ciência é baseada na Opinião Aristóteles - Episteme - A ciência é baseada Observação (Experiência) 11.1 Sócrates Sócrates (c 470-399 a.C.) colocou a reflexão filosófica, iniciada pelos pré- socráticos, na via da verdade que ha- via sido abandonada por al- guns sofistas deslumbrados pela retórica, o bem falar ou o bem expor suas opiniões. Se- gundo Aristóteles, ele contri- buiu para a teoria do conheci- mento com a definição de universal e com o uso do raci- ocínio indutivo. Sócrates, en- tretanto, não define o próprio ser humano. Por quê? Por- que, ao contrário da natureza, o ser humano não pode ser definido em termos de propri- edades objetivas, só em ter- mos da sua consciência. E para alcançarmos uma visão clara do seu caráter, para compreendê-lo, precisamos examiná-lo, frente a frente, através do diálogo. O método socrático, que é um méto- do indutivo, envolve duas fases. A pri- meira, chamada ironia, consiste em fazer perguntas ao interlocutor que o obriguem a justificar, sem- pre com maior profundidade, seu ponto de vista, até que ele perce- ba que tipo de falha ou equívoco pode estar contido emseus argu- mentos. Esta é a fase destrutiva, pois leva as pessoas a admitirem a própria ignorância à respeito de um assunto. São destruídas as opiniões do senso comum e do conhecimento espontâneo, mui- tas vezes baseados em estereóti- pos e preconceitos. A segunda parte, chamada maiêutica (parto), é a construção de novos concei- tos baseados em argumentação racional. Assim, Sócrates, com suas perguntas, aniquila o saber constituído para, depois, ainda através de perguntas e da contra- posição de ideias, reconstruí-lo a partir de uma base mais sólida e de um raciocínio coerente e rigo- roso. 11.2 Platão Na época que Platão viveu (séc. IV a. C.), era muito co- mum a c o n c e p - ção de que o ho- mem co- nhece a partir dos seus sen- tidos. No enta nto , para mui- tos sábios Sócrates contribuiu para a teoria do conhecimento com a defini- ção de universal e com o uso do raciocínio indutivo. O processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das aparên- cias para o mundo das ideias. 23 da época, o conhecimento não só come- çava como também não poderia ir além da sensibilidade. É notável neste período a máxima protagoriana: “o homem é a medida de todas as coisas”. Isso equiva- le dizer que cada ser está tão somente encerrado em suas representações sub- jetivas que ou era impossível uma verda- de absoluta (mas uma particular, de ca- da um) ou que era impossível q u a lq u e r c o n h e c i - mento. Um dos aspec tos mais im- portantes da filosofia de Platão é a sua teoria das ideias, com a qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimen- to se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das ideias e essências. Para Platão o conhecimento para ser autentico, deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o plano da opini- ão, e penetrar na esfera racional da sa- bedoria, o mundo das ideias. Para atingir esse mundo homem não pode ter ape- nas ―amor as opiniões; precisa possuir amor ao saber‖. A opinião nasce, portanto da percep- ção da aparência e da diversidade das coisas. O conhecimento, por sua vez, é elaborado quando se alcança a ideia, que rom- pe com as aparências e a diversidade ilusória. 11.3 Aristóteles Aristóteles foi um dos mais expressivos filósofos gregos da antiguidade, ele critica a teoria das ideias de Platão, principalmente a divisão en- tre um mundo sensível e um mundo inteligível, pois ao abordar a realidade, reconhecia a multiplicida- de dos seres pe r c e b i d o s pelos senti- dos. Assim tudo que ve- mos, pega- mos ouvimos e sentimos é aceito como elemento da r e a l i d a d e sensível. Para Aris- tóteles, a ob- servação da realidade leva-nos à constatação da existência de inúme- ros seres individuais, concretos, mu- táveis, que são captados por nossos sentidos. Ao retomar a problemática do co- nhecimento, distingue três tipos de saber: I. A experiência ou conhecimento sensível, dado pelo contato direto com a própria coisa, é um conheci- mento que se forma por familiarida- de com cada coisa, é imediato e concreto e só nos permite chegar ao conhecimento do individual. Não é transmissível. Portanto, o conheci- mento sensível é o conhecimento do particular. II. A técnica ou o saber fazer é o conhecimento dos meios a serem usados para se chegar aos fins de- sejados. Uma vez que encerra uma ideia, pode ser ensinada. A técnica dá o quê e o porquê das coisas. III. A sabedoria (sofia) é o único tipo de conhecimento a determinar as causas e princípios primeiros; a única a poder dizer o quê as coisas são, por que são e demonstrá-las. O conhecimento, para Aristóteles, é uma somatória de todos esses modos de conhecer, sem haver rup- tura ou descontinuidade entre eles. Na verdade, um não invalida o ou- tro. Ao contrário, enriquece-o e, nes- te ponto, contradiz Platão. Representação do mito da caverna. Utilizado por Platão para exem- plificar como podemos nos libertar da condição de escuridão (ignorância) que nos aprisiona através da luz da verdade (conhecimento), Aristóteles (384-322 a.C.) 24 O CONHECIMENTO NA IDADE MÉDIA C a p ít u l o 1 2 O período conhecido como idade média compreende o século V até o XV, ambiente que prevalece a crença religiosa cristã e um grande apelo ao sobrenatural. Nesse período, o conhe- cimento humano estava muito atrelado ao modo de concepção da vida que a religiosidade propagava A Idade Média é tida como a Idade das trevas, pois considerava-se que o conhecimento tivesse parado ou mes- mo recuado, voltando a se desenvolver somente após o Renascimento. Entre- tanto, é durante a Idade Média que se desenvolveu algumas filosofias como a escolástica e a patrística vinculadas a Igreja Católica que tentavam vincular razão e fé. O poder da Igreja Católica na Idade Média se confundia com o próprio conhecimento produzido neste período, uma vez que as escolas e uni- versidades eram da Igreja. 12.1 A Patrística: Argumentos platô- nicos em favor da fé No processo de desenvolvimento do cristianismo, tornou-se necessário ex- plicar seus precei- tos às autoridades romanas e ao povo em geral. A Igreja Católica sabia que esses preceitos não podiam sim- plesmente ser im- postos pela força. Tinham de ser apresentados de maneira convincen- te, mediante um trabalho de pregação e conquista espi- ritual. Foi assim que os primeiros padres da igreja se empenharam na ela- boração de diversos textos sobre fé e as revelações cristãs. O con- junto desses textos ficou conheci- do como patrística. É a Patrística, basicamente, a filosofia responsá- vel pela elucidação progressiva dos dogmas cristãos e pelo que se chama hoje de Tradição Católi- ca. O principal expoente dessa corrente do pensamento cristão é Santo Agostinho. 12.1.1 Santo Agostinho Santo Agostinho (354 - 430 d.C) foi um filósofo, escritor, bispo e teólogo cristão res- p o n s á v e l pela elabora- ção do pen- s a m e n t o cristão medi- eval e da filosofia pa- trística. Foi também o maior filoso- fo dos 15 séculos que s e p a r a m Ar is tóte les de Tomás de Aquino. Para Agostinho, o caminho pa- ra a verdade estava na fé, mas a razão era o melhor meio para provar a validade das verda- des. Famosa é a sua frase: ―Compreender para crer, crer pa- ra compreender‖. Agostinho de Hipona: foi um dos m a i s i m p o r t a n - tes teólogos e filósofos dos pri- meiros anos do cristianismo 25 Foi influenciado pelo pensamento de Platão, cuja essência, era a de que a al- ma era aprisionada pelo mundo sensí- vel. A partir desse pensamento, elaborou a doutrina da iluminação divina, na qual, a percepção do verdadeiro tem por cau- sa a luz que provém de Deus. Santo Agostinho dizia que o homem é por natureza um ser inquieto e essa in- quietação vem do fato dele ser imperfei- to, de ele esta sempre procurando des- cobrir a verdade, mas ele só pode en- contra-la com a interferência de Deus. Agostinho assimilou a concepção de que a verdade, como conhecimento eter- no, deveria ser buscada intelectualmen- te no mundo das ideias. Assim somente o intimo de nossa alma iluminada por Deus, poderia atingir a verdade das coi- sas. Da mesma forma que os olhos do corpo necessitam da luz do sol para en- xergar os objetos do mundo sensível, os olhos da alma necessitam da luz divina para visualizar as verdades eternas da sabedoria. 12.2 Escolástica A partir do século IX varias escolas, organizadas pelo imperador Carlos Mag- no que cultivavam o saber teológico e filosófico surgiram, nesse período de produção filosófico-teológica que surgiua escolástica (palavra derivada de esco- la). Foi na escolástica que a relação entre fé e razão ganharam contornos bem de- finidos, tinha o mesmo pro- pósito da patrística ou seja , demonstrar que podemos conhecer a verdade, desde que a razão não entre em choque com a fé. Nesse contexto podemos dividir a escolástica em três fases. Primeira fase (do século IX ao fim do século XIII) carac- terizada pela confiança na perfeita harmonia entre fé a razão Segunda fase (do século XIII ao principio do século XIV) caracterizada pela elabora- ção de grandes sistemas filosóficos merecendo des- taque as obras de Tomas de Aquino. Terceira fase (do século XIV até o século XVI) decadência da escolásti- ca, marcada por disputas que real- çam as diferenças entre fé e razão. O principal representante desse pensamento foi Tomás de Aquino, a partir dele que o aristotelismo aden- trou o pensamento cristão da épo- ca. 12.2.1 Tomás de Aquino Tomás de Aquino (225 – 1274) Filósofo e teólogo italiano. A sua obra marca uma etapa fun- damental na e s c o l á s t i c a . Procurou siste- matizar a dou- trina cristã da Igreja, inspiran- do-se nos ensi- namentos de A r i s t ó t e l e s , com isso de- senvolveu uma série de argu- mentos que tinham como proposito de- fender as idei- as cristãs, pro- vando a existência de Deus e reafir- mando sua autoridade máxima. Para ele Filosofia e Teologia são dois caminhos diferentes mas que podem levar ao mesmo ponto. Afirmava que havia uma relação intima entre Filosofia e Teologia que poderia ser sintetizada nos seguin- tes princípios: Fé e razão são modos distintos de conhecer; Só a uma verdade porque Deus é o seu único autor; Só podemos conhecer os misté- rios de Deus através da fé; Através da razão podemos de- monstrar as verdades reveladas e negar argumentos contrários a elas. De acordo com Tomás de Aqui- no, para o conhecimento de qualquer verdade, o homem precisa da ajuda divina. 26 O conhecimento na idade moderna C a p ít u l o 1 3 Se na Idade Antiga e Média se têm d i f e r e n t e s e x p l i c a ç õ e s p a r a o conhecimento, não se tem como problema, como dúvida, a capacidade humana em conhecer. As transforma- ções trazidas no Renascimento, leva- rão pensadores do século XVI a questionar a própria capacidade hu- mana de conhecer. As principais correntes, que na Ida- de Moderna buscam explicar o pro- cesso de conhecimento na relação suj eito e objeto, são a do racionalismo e a do empirismo. Os racionalistas, que têm seu grande re- presentante em Des- cartes, de um mo- do geral priorizam a razão no processo de conhecimento e aceitam a existên- cia de ideias inatas, independentes da experiência. Já os empiristas, entre e l e s B a c o n , L o c k e , H u - me, enfatizam o importante papel da experiência sensível para aquisi- ção do conhecimento. Não aceitam a tese das ideias inatas ou de um co- nhecimento independente ou anteri- or à experiência. Entre as transformações que ocorre- ram na sociedade Europeias e que se relacionaram com a construção de uma nova mentalidade, podemos des- tacar: A passagem do feudalismo para o capitalismo A formação dos estados nacio- nais O movimento da reforma O desenvolvimento da ciên- cia natural A invenção da imprensa 13.1 Racionalismo O racionalismo a teoria filosófi- ca que dá a prioridade à razão, como faculdade de conhecimento relativamente aos sentidos. Nas- ce com Descartes, e atinge o seu auge em B. Espinoza, G. W. Leib- niz e Ch. Wolff. Os racionalistas consideram que só é verdadeiro conhecimen- to aquele que for logicamente ne- cessário e universalmente válido, isto é, o conhecimento matemáti- co é o p r ó p r i o m o d e l o do conhe- cimento. A s s i m sendo, o rac iona - lismo tem que admi- tir que há determi- n a d o s tipos de conhecimento, em espe- cial as noções matemáticas, que têm origem na razão. Não quer isso dizer que neguem a existên- cia do conhecimento empírico. Admitem-no. Consideram-no po- rém como simples opinião, des- provido de qualquer valor científi- co. O conhecimento, assim enten- dido, supõe a existência de ideias ou essências anteriores e inde- pendentes de toda a experiência. René Descartes - 1596 a 1650: consi- derado o pai do racionalismo. 27 Os princípios da razão que tornam possível o conhecimento e o juízo moral são inatos e convergem na capacidade do conhecimento humano A defesa da razão e a preponderância desta corrente filosófica se transformou na ideologia do iluminismo francês e, no contexto religioso, criou uma atitude crí- tica em relação à revelação, que culmi- nou na defesa de uma religião natural. 13.2. O empirismo O empirismo considera como fonte de todas as nossas re- presentações os da- dos fornecidos pelos sentidos. Assim, to- do o conhecimento é «a posteriori», isto é, provém da experiên- cia e à experiência se reduz. Foi defini- do pela primeira vez pelo filósofo inglês John Locke no sécu- lo XVII. Locke argu- mentou que a mente seria, um "quadro em branco" sobre o qual é gravado o co- nhecimento, cuja base é a sensação, ou seja, todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido pela experi- ência, pela tentativa e erro. Segundo os empiristas, inclusivamen- te as noções matemáticas seriam cópias mentais estilizadas das figuras e objetos que se apresentam à percepção. ―Os pontos, as linhas, os círculos que cada um tem no espírito são sim- ples cópias dos pontos, linhas e cír- culos que conheceu na experiência" Assim, "a linha reta seria uma simples cópia do fio de prumo, co- mo o plano, simples cópia da super- fície do lago, o círculo da lua ou do sol, o cilindro do tronco de árvore e a noção de número deriva da per- cepção empírica de coleções de ob- jetos‖. Sendo uma teoria que se opõe ao racionalismo, o empirismo critica a metafísica e conceitos como os de causa e substância. Segundo o em- pirismo, a mente humana é uma "folha em branco" ou uma "tábula rasa", onde são gravadas impres- sões externas. Por isso, não reco- nhece a existência de ideias natas nem do conhecimento universal. Stuart Mill Ribeiro e Silva, 1973, p. 390) John Locke ((1632 — 1704) foi u m f i l ó s o f o i n g l ê s e ideólogo do liberalismo, sendo considerado o principal represen- tante do empirismo O empirismo é caracterizado pelo conhecimento científico, quando a sabedoria é adquirida por percepções; pela origem das ideias por onde se percebe as coisas, independente de seus objeti- vos e significados. 28 O que é Lógica? C a p ít u l o 1 4 “É lógico que eu vou!”, “É lógico que ela disse isso!‖. Quando dizemos frases como essas, a expressão ―é lógi- co que‖ indica, para nós e para a pessoa com quem estamos falando, que se trata de alguma coisa evi- dente. A expressão aparece como se fos- se a conclusão de um raciocínio implíci- to, compartilhado pelos interlocutores do discurso. Ao dizer ―É lógico que eu vou!‖, es- tou supondo que quem me ouve sabe, sem que isso seja dito explicitamente, que também estou afirman- do: ―Você me conhece, sa- be o que penso, gosto ou quero, sabe o que vai acon- tecer no lugar x e na hora y e, portanto, não há dúvida de que irei até lá‖. Quando estamos falando com alguém, usamos argu- mentos que se relacionam entre si, por meio deles, chegamos a uma conclu- são. Usamos argumen- tos quando queremos defender nossos pon- tos de vista a expor aquilo que acreditamos ser justo ou verdadeiro. Ao dizer ―É lógico que ela disse isso!‖, a situação é semelhante. A expressão seria a conclusão de algo que eu e a outra pessoa sabemos,como se eu estivesse dizendo: ―Sabendo quem ela é, o que pensa, gosta, quer, o que costu- ma dizer e fazer, e vendo o que está acontecendo ago- ra, concluo que é evidente que ela disse isso, pois era de se esperar que ela o dissesse‖. Lógica é uma par- te da filosofia que estuda o funda- mento, a estrutura e as expres- sões humanas do conhecimento. Em outras palavras, lógica é arte que nos faz proceder, com ordem, facilmente e sem erro, no ato pró- prio da razão. 14.1 O nascimento da lógica? Embora os sofistas e também Platão tenham se ocupado com questões lógicas, nenhum deles o fez com a amplitude e o rigor al- cançados por Aristóteles. O pró- prio filósofo, porem não denomi- nou seu estudo de lógica. Palavra que só apareceu mais tarde. A obra de Aristó- teles dedicada a lógica chama- se analíticos e como o próprio nome diz, trata da análise do p e n s a m e n t o nas suas partes integrantes. Es- sa e outras obras foram Aristóteles com a lógica, queria mostrar que o pensamento é algo sério rigoroso, que obe- dece a certas regras, a certos princípios. 29 reunidas como o titulo Organon, que sig- nifica ―instrumento‖ e, no caso, instru- mento para se proceder corretamente o pensar. Como instrumento do pensar lógica significa: Estudos dos métodos e princípios da argumentação; A investigação das condições em que a conclusão de um argumento se segue necessariamente de enunciados iniciais chamados de premissas; O estudo que estabelece as regras da forma correta das operações do pensamento e identifica as argu- mentações não válidas. Um dos objetivos da lógica é determi- nar se a argumentação utilizada por al- guém para se chegar a uma certa con- clusão é válida ou não. A lógica tem sido utilizada em todas as áreas da ciência: exatas, biológicas e humanas. É de uso comum por parte do matemático, do ci- entista da computação, do engenheiro, do advogado, do biólogo, do historiador, etc. Aristóteles com a lógica, queria mos- trar que o pensamento não é uma malu- quice, ele não é algo que exprima de qualquer modo, pelo contrario o pensa- mento é algo sério rigoroso, que obede- ce a certas regras, a certos princí- pios, com isso Aristóteles dizia que a lógica poderia desmascarar os dis- cursos falaciosos. A Lógica ao mesmo tempo em que define as leis ideais do pensa- mento, estabelece as regras do pen- samento correto, cujo conjunto constitui uma arte de pensar. E co- mo o raciocínio é a operação intelec- tual que im- plica todas as outras o pe r aç õ e s do espírito, d e f i n e - s e muitas ve- zes a lógica como a ciên- cia do racio- cínio cor- reto. A Lógi- ca é então necessária para tornar o espírito mais pene- trante e para ajudá-lo a justificar suas operações recorrendo aos prin- cípios que fundam a sua legitimida- de. Embora os sofistas e também Platão tenham se ocupado com questões lógicas, nenhum deles o fez com a amplitude e o rigor alcançados por Aristóteles. LEITURA COMPLEMENTAR Piada Lógica! Um professor de Matemática quis pregar uma peça em seus alunos e lhes dis- se: - Meninos, aqui vai um problema: Um avião saiu de Amsterdã com uma veloci- dade de 800 km/h, à pressão de 1.004,5 milibares; a umidade relativa era de 66% e a temperatura 20,4 graus C. A tripulação era composta por 5 pessoas, a capacidade era de 45 assentos para passageiros, o banheiro estava ocupado e havia 5 aeromoças (mas uma estava de folga). A pergunta é… Quantos anos eu tenho? Os alunos ficam assombrados. O silêncio é total. Então o Joãozinho, de lá do fundo da sala, manda a sua resposta: - 44 anos, fessor! O professor, muito surpreso, o olha e diz: - Caramba, está certo. Eu tenho 44 anos. Mas como adivinhaste? E Joãozinho: - Bem,… Eu deduzi porque eu tenho um primo que é meio babaca e ele tem 22 anos!!!! 30 Elementos da Lógica C a p ít u l o 1 5 Quando tratamos do conhecimento não podemos deixar de recorrer à lógi- ca, palavra grega originada do termo logos e significa juízo, discurso, razão, pensamento, conceito. Desse modo essa parte da filosofia pode ser defini- da como a ciência das leis ideais do pensamento e arte de aplica-la correta- mente na procura e na demonstração da verdade. 15.1 Inferências, Argumentos e raci- ocínio: Muitas vezes nos deparamos com algumas situações na vida e somos levados a uma conclusão. Isso recebe o nome de inferência. Inferir quer dizer levar, pôr diante um raciocínio, chegar a uma conclusão. Essa forma de raciocínio nos ajuda a criar nossas próprias descobertas. Quando nos referimos ao argumen- to na lógica, estamos falando do racio- cínio de um fato que permite declarar a validade, provando ou refutando uma proposição. A proposição é a representação lógi- ca do juízo. O juízo consiste num julga- mento sobre as ideias e pode ser falso ou verdadeiro, o juízo será verdadeiro se afirmar que ―o que é, é‖ – será falso quando afirmar que ―o que é não, não é‖. A argumentação é pois, a represen- tação lógica do raciocínio. Do ponto de vista da lógica, existem dois tipos de raciocínio: os dedutivos e os indutivos Raciocínio Indutivo: é aquele que parte de casos particulares para con- cluir uma verdade geral. Ex.: Ferro conduz eletricidade O ferro é metal O ouro conduz eletricidade O ouro é metal O cobre conduz eletricidade O cobre é metal Logo, os metais conduzem ele- tricidade. Raciocínio dedutivo: é aquele que parte de uma lei geral para um caso particular. Nesse tipo de raciocínio o que é verdade para um todo é igualmente verdade para as partes que compõem es- se todo. Ex.; Todo vertebrado possui vértebras. Todos os cães são ver- tebrados. Logo, Todos os cães têm vértebras. 15.2 Silogismo Silogismo é um argumento de- dutivo composto de três proposi- ções, ligadas entre si, sendo que das duas primeiras, chamadas de premissas, tira-se uma terceira, chamada de conclusão. Todo silo- gismo é sempre dedutivo, ele vai do geral ao particular. O silogismo é formado por três termos e três preposições. Ex.: Todo cachorro é mamífero. Todo mamífero é vertebrado. Logo todo cachorro é vertebrado.
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