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VULVOVAGINITES MILENA BAVARESCO INTRODUÇÃO o As vulvovaginites são causas comuns de corrimento vaginal patológico e se caracterizam por afecções do epitélio estratificado da vulva e vagina – importante não fazer confusão com as cervicites, que acometem a mucosa glandular. o O meio vaginal é composto pelo resíduo vaginal, restos celulares e microorganismos – tanto aeróbios quanto anaeróbios. o Dentre os microorganismos presentes, incluem-se patógenos oportunistas que, na mulher saudável, não ocasionam doenças. o Os lactobacilos mantêm o pH normal fisiológico, através do metabolismo da glicose realizado utilizando-se do glicogênio no epitélio vaginal. o A glicose é convertida em ácido lático, tornando o pH vaginal normal entre 3,5 e 4,5. o Essa acidez também é parte dos mecanismos de defesa contra infecções. o Alguns fatores podem acabar desequilibrando esse ecossistema: muco cervical, sêmen, antibióticos, duchas vaginais, doenças sexualmente transmissíveis, sangue menstrual, doenças sistêmicas (diabetes mellitus, por exemplo), gravidez e menopausa. o Antes de partirmos para o estudo das principais formas de vulvovaginites, vamos primeiro pincelar alguns exames úteis na prática ginecológica, feitos no consultório mesmo, que irá elucidar o diagnóstico diferencial de algumas dessas formas. DETERMINAÇÃO DO PH VAGINAL o Baseia-se na mudança de cor do papel colorimétrico, indicando diferentes valores de pH. o Coloca-se uma fita em contato com a parede vaginal lateral, evitando o conteúdo do fundo de saco vaginal ou colo uterino. o A cor que o papel adquire irá variar de acordo com o pH do conteúdo da vagina. TESTE DAS AMINAS o Colocam-se 1 a 2 gotas de KOH a 10% na superfície (espátula ou adesivo) com conteúdo vaginal, e sente-se o odor das aminas quando há alterações que aumentem a flora vaginal anaeróbia. (vaginose bacteriana, tricomoníase, vaginite aeróbica por microtraumatismos ou ulcerações). o Isso ocorre porque, ao entrar em contato com substância básica, há reação com liberação de aminas voláteis, que possuem esse odor característico. VULVOVAGINITES VULVOVAGINITES VULVOVAGINITES MILENA BAVARESCO EXAME BACTERIOSCÓPICO o Coleta-se conteúdo da parede vaginal usando espátula de madeira ou cotonete. O material então é disposto em três lâminas de vidro, em esfregão. o Uma seleção é usada para a coloração de Gram; outra, coloca-se uma gota de soro fisiológico a 0,9% e, na outra, uma gota de KOH a 10%. o Observa-se: • Na lâmina do SF: Trichomonas móveis, clue cells, celularidade e se a flora é bacilar ou cocácea (cocos); • Na lâmina do KOH: hifas e blastóporos; • Na lâmina do gram: células de defesa, tipo de flora, Trichomonas fixados, clue cells, hifas e blastóporos. CANDIDÍASE VULVOVAGINAL o A candidíase vulvo-vaginal (CVV) é uma das formas mais comuns de vulvovaginite e atinge boa parte das mulheres ao menos uma vez durante a vida. o A Candida albicans faz parte da flora oral, retal e vaginal de forma comensal e, durante a vida reprodutiva, 10% a 20% das mulheres são colonizadas de forma assintomática. o Em 80% a 90% dos casos, o agente causador da CVV é a Candida albicans. o O restante é causado por outras espécies específicas de Candida: Candida glabarata, tropicalis, krusei, etc. o A maioria das candidíases vulvovaginais são classificadas como não- -complicadas. o As formas não-complicadas incluem aquelas com todos os seguintes critérios: esporádica ou infrequente; leve a moderada; cujo provável agente é a Candida albicans e em pacientes não-imunocomprometidas. o A candidíase complicada inclui qualquer uma das seguintes características: infecção recorrente por cândida (4 ou mais surtos em um ano); infecção grave; candidíase não-albicans; diabetes não controlado; imunossupressão; debilidade ou gravidez. O QUADRO CL ÍNICO DA CANDIDÍASE INCL UI: o Prurido. o Ardência. o Corrimento geralmente grumoso, inodoro, com aspecto de queijo “cottage” e aderente à parede vaginal. o Dispareunia de introito vaginal. o Disúria externa o Os sinais característicos são: eritema e fissura vulvares, corrimento grumoso com placas aderidas à parede vaginal, de cor branca, edema vulvar, escoriações e lesões satélites. o À citologia a fresco, o pH vaginal é normal (ácido) solução salina ou KOH a 10%, mostra a levedura ou hifas. o Essa citologia deve ser realizada antes de prescrever o tratamento empírico. Caso venha negativa, colhe-se a cultura. o De maneira geral, iremos colher a cultura de pacientes com sintomas clínicos cuja citologia a fresco veio negativa; em caso de falha do tratamento e em casos de episódios recorrentes. o O tratamento da candidíase não complicada pode ser feito através de vários esquemas, levando em consideração particularidades e preferências da paciente. o Para as formas não- -complicadas, os azóis costumam ser muito eficazes. VULVOVAGINITES MILENA BAVARESCO o Quando a candidíase é complicada, não se trata com doses e esquemas curtos como os da candidíase não- - complicada. o No mínimo, usa-se um esquema vaginal de 7 dias ou múltiplas doses de fluconazol (150mg a cada 72h, em 3 doses). o Nas CVV recorrentes – que são, em sua maioria, causadas pela C. albicans – após controle dos fatores subjacentes – diabetes, doenças auto-imunes, antibióticos, etc – faz-se indução de terapia azólica por 14 dias – tópica ou oral – seguida de regime supressivo de 6 meses – 150mg de fluconazol semanal, durante seis meses. o Em casos de Candida glabarata, vale aplicar ácido bórico tópico em cápsulas gelatinosas, 600mg diariamente por 14 dias. o Em CVV causadas por outras espécies de cândida, a nistatina é a primeira escolha. Podem-se usar também óvulos de anfotericina via vaginal. VAGINOSE BACTERIANA o A vaginose bacteriana (VB) é a desordem mais frequente do trato genital inferior em mulheres de idade reprodutiva e a causa mais comum de odor fétido no corrimento, responsável por 45% a 50% dos casos de corrimento vaginal patológico. o Sua patogênese está relacionada ao desequilíbrio na flora vaginal, com perda de lactobacilos e aumento de bactérias com a Gardenerella vaginalis, patógeno frequentemente associado à VB. o Outras bactérias podem também estar em supercrescimento, como a Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum e Mobiluncus spp. o Sem lactobacilos, o pH normalmente ácido aumenta e a Gardnerella vaginalis produz aminoácidos, que são quebrados em aminas voláteis (putrescina, cadaverina e trimetilamina), aumentando mais o pH e causando o odor desagradável muito referido pelas pacientes. VULVOVAGINITES MILENA BAVARESCO o Apesar de muitos fatores de risco estarem relacionados à atividade sexual, a vaginose bacteriana não é considerada uma doença sexualmente transmissível, e não está indicado o tratamento do parceiro. o Seu quadro clínico é caracterizado por corrimento de odor fétido – o odor piora após coito e na menstruação, bolhoso e branco a acinzentado. o Além disso, não há irritação nem inflamação vulvar ou vaginal. Em 1983, foram criados os critérios de Amsel e colaboradores, dos quais devem estar presentes três. o Os achados de clue cells e whiff teste positivo são patognomônicos da doença, mesmo em pacientes assintomáticas. o Existem ainda os critérios de Nugent, um sistema de escore que quantifica os elementos microbiológicos. Fundamenta-se na presença ou não de lactobacilos, Gardnerella ou Molibuncus: o Vários desfechos ginecológicos adversos podem ocorrer em decorrência da VB: vaginite,endometrite, doença inflamatória pélvica não associada à Neisseria ou Chlamydia e infecções pélvicas agudas pós-cirurgias pélvicas. o Alguns esquemas de tratamento foram propostos para a VB em mulheres não-grávidas, conforme a seguir: TRICOMONÍASE o A tricomoníase é considerada a doença sexualmente transmissível não-viral mais comum no mundo. Constitui importante fonte de morbidade reprodutiva e facilitadora da infecção pelo HIV. o É mais comumente diagnosticada em mulheres, pois a maioria das infecções em homem é assintomática, e a coinfecção com Neisseria gonorrhoeae é comum – bem como com outros patógenos. Isso torna fundamental a busca de outras infecções sexualmente transmissíveis nas pacientes diagnosticadas. o Além disso, a transmissão vertical durante o parto é possível. Sua manifestação clínica é constituída por corrimento, por vezes abundante, de fluido a espesso, amarelado ou esverdeado e com odor fétido. o A vagina, uretra, ectocérvice e bexiga podem ser afetadas. Disúria, dispareunia, prurido vulvar e dor podem também estar presentes. o Ao exame ginecológico, há vulvite discreta, hiperemia difusa da vagina, secreção amarelada ou esverdeada abundante e colo com aspecto de framboesa ou morango. o Pode haver, além da leucorreia, hemorragias subepiteliais ou “manchas vermelhas” na vagina e no colo uterino. Ao teste de Schiller, o colo adquire aspecto de “pele de tigre”. VULVOVAGINITES MILENA BAVARESCO o Ao exame citológico a fresco, o pH vaginal é geralmente superior a 5 e o teste de KOH costuma ser positivo. o O diagnóstico pode ser obtido pelo próprio exame citológico a fresco, com visualização de protozoários em exame microscópico do conteúdo vaginal. No entanto, a sensibilidade é baixa. o A cultura tem sensibilidade muito maior, mas se torna impraticável devido à necessidade de um meio especial (meio Diamante). o O teste rápido para tricomonas, disponível para uso em consultório e com resultado rápido, é uma opção, tendo sensibilidade e especificidade de 88% e 99%, respectivamente. o Pode ainda ser observado no Papanicolau, mas com sensibilidade de apenas 60%. Se houver sua detecção no Papanicolau, sugere-se exame microscópico antes de iniciar o tratamento.
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