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Locomoção e Apreensão 1 Mírian Santos 7° semestre Problema 04 - “NOITES DE SONO INTERROMPIDO” Objetivos: 1. Entender a anatomia acometida pelas patologias (mão, punho e cotovelos) 2. Compreender as tendinites (epicondilite lateral e medial), síndromes compressivas (com foco na síndrome do túnel do carpo). Conceito Epidemiologia Classificação Etiologia Fatores de risco Fisiopatologia Manifestações clínicas Diagnóstico e diferenciais Tratamento Epicondilite Conceito A epicondilite lateral do cotovelo é uma lesão por esforços repetitivos de pronação e supinação do antebraço, exercidos quando o cotovelo está em uma posição de quase extensão total. Esta doença também é conhecida como “cotovelo de tenista” e é atribuída a uma má técnica no desporto ao rebater uma bola de revés (backhand). Entretanto, a condição não é exclusiva de jogadores de tênis. O aspecto anatomopatológico da lesão revela reação inflamatória com invasão de fibroblastos e proliferação vascular na origem do músculo extensor radial curto do carpo. Há também descrição de rupturas microscópicas no tendão de origem desse músculo. Pode haver também envolvimento da origem dos músculos extensor radial longo do carpo e extensor comum dos dedos. Já a epicondilite medial, ou cotovelo do golfista são causadas pelo movimento de forehand (direita) ou saque. O mais importante fator gerador de epicondilite medial é a sobrecarga em valgo do cotovelo que causa tensionamento das estruturas mediais. Anatomia O epicôndilo lateral é a parte óssea mais proeminente no aspecto lateral do cotovelo, sendo um sítio de origem de vários músculos e do ligamento colateral lateral. A origem do extensor radial curto do carpo localiza-se no aspecto anterior do epicôndilo lateral, profundamente à origem do extensor dos dedos e inferior à origem do extensor radial longo do carpo. As origens do ligamento colateral lateral, do extensor radial curto do carpo, do extensor dos dedos e do supinador são confluentes. Locomoção e Apreensão 2 Mírian Santos 7° semestre O extensor dos dedos origina-se em uma ampla aponeurose no epicôndilo lateral e é contíguo com a extensão aponeurótica para a origem oblíqua do supinador. A origem do extensor radial longo do carpo e do braquiorradial estende-se cefalicamente ao epicôndilo e não está envolvida na patologia. O complexo dos ligamentos colateral e anular do rádio é o principal estabilizador lateral do cotovelo. Origina-se no epicôndilo lateral e insere-se na ulna proximal ao longo das fibras coalescentes do ligamento anular, ao redor da cabeça do rádio. Em 55% dos casos, apresenta-se bifurcado, com feixe contendo fibras longitudinais que se inserem no nível da cabeça do rádio e outro feixe oblíquo que se insere mais distalmente ao longo da ulna. A chave para a localização anatômica precisa do epicôndilo lateral é a palpação do ligamento colateral lateral. Essa estrutura divide o cotovelo lateral em porções anterior e posterior. É de extrema importância não desestabilizar o cotovelo por secção inadvertida do ligamento durante o procedimento operatório. Isso tem sido apontado como causa de falha do tratamento cirúrgico. Epidemiologia Epicondilite Lateral: É a doença mais comum do cotovelo; Pessoas de 40 a 50 anos, não necessariamente atleta; Vários autores acreditam haver dois grupos distintos de indivíduos com a patologia: um grupo formado por pacientes jovens, atletas e que praticam intensamente atividades como tênis, squash, paddle e golfe, no qual o sobreuso é o fator preponderante. Esse grupo corresponde a cerca de 5% dos pacientes. Sendo que, destes, entre 10 e 50% apresentam, em algum momento, um quadro de epicondilite. O outro grupo corresponde a 95% dos pacientes e é representado por pessoas entre 35 e 55 anos, nas quais o início dos sintomas é relativamente insidioso. Em geral, são trabalhadores que exercem atividades de repetição ou esforços intensos isolados. Ocorre igualmente entre os sexos, sendo mais frequente em brancos. Epicondilite Medial: A epicondilite medial tem uma incidência 6 a 10 vezes menor do que a lateral. Em alguns casos, ambas podem estar combinadas. A epicondilite medial também ocorre, preferencialmente, na 4° e na 5° décadas de vida e, em 60% dos casos, ela acomete o membro dominante. Em 30% dos casos, são lesões agudas (traumatismo direto ou indireto), enquanto nos 70% restantes tem início insidioso. Ela está associada diretamente a atividades ocupacionais e esportivas. Locomoção e Apreensão 3 Mírian Santos 7° semestre Classificação Fisiopatologia Epicondilite Lateral: Várias teorias quanto à fisiopatologia da epicondilite lateral do cotovelo foram propostas, entre elas a inflamação da bolsa radio-umeral, a sinovite do cotovelo e a inflamação do ligamento anular decorrente de trauma. A teoria aceita atualmente foi descrita por Nirschl e Pettrone, em 1979, a qual propõe que a condição patológica envolve a origem do extensor radial curto do carpo e, em menor grau, a porção anteromedial do extensor dos dedos. A lesão é resultado da aplicação de tração contínua por repetição, resultando em microrrupturas da origem do extensor radial curto do carpo, seguidas de fibrose e formação de tecido de granulação. Macroscopicamente, o tecido apresenta-se com aspecto friável, brilhante e edematoso. A análise microscópica mostrou interrupção do tendão normal por invasão de fibroblastos e tecido vascular anormal em desenvolvimento, fundamentando o termo “hiperplasia angiofibroblástica”. Os autores notaram que a anormalidade no tendão era degenerativa e não inflamatória. Recomendaram, então, o termo “tendinose” em substituição a “tendinite” ou “epicondilite ”. Essa terminologia é descritiva e reflete a preponderância de vascularização precária (infarto tecidual) e de fibroblastos em tendão em degeneração por sobreuso. Em sua estada no Brasil, em 2000, Nirsch definiu essa entidade como sendo “o infarto do cotovelo”, afirmando que a base fisiopatológica da hipovascularização tecidual é semelhante no miocárdio e no extensor radial curto do carpo. Epicondilite Medial: Vários estudos apontam que os esforços repetitivos ou a sobrecarga da musculatura flexopronadora junto ao epicôndilo medial são a etiologia primária da epicondilite medial. As mesmas alterações degenerativas da epicondilite lateral – tendinose angiofibroblástica – ocorrem como resultado da ação de forças excêntricas e concêntricas causando microrrupturas na estrutura desses tendões, levando a uma resposta reparativa incompleta. Frequentemente, essas alterações ocorrem no flexor radial do carpo e no pronador redondo, mas podem ocorrer, em alguns casos, no palmar longo, no flexor superficial dos dedos e no flexor ulnar do carpo. Eventualmente, um evento traumático único pode ser o fator desencadeante, como um trauma direto ou uma Locomoção e Apreensão 4 Mírian Santos 7° semestre contração excêntrica súbita dos músculos flexores. Manifestações clínicas Os pacientes com epicondilite lateral queixam- se de dor na região lateral do cotovelo, que se irradia para a região distal do antebraço, ao longo dos músculos extensores. Podem relatar também fraqueza para agarrare carregar objetos com a mão do membro envolvido. Geralmente, a dor tem início gradual e insidioso e raramente há um evento inicial traumático que inicia o quadro álgico. Porém, em alguns casos ela pode ter inicio repentino e de rápida evolução. Agrava-se por pequenos movimentos do cotovelo e pode impedir a realização de atividades diárias comuns, como abrir a porta, escovar os dentes, escrever ou fazer a barba. A principal queixa do paciente com epicondilite medial é dor sobre a região medial do cotovelo, de caráter insidioso. Diagnóstico e diferenciais A anamnese detalhada é a base para o correto diagnóstico da patologia. Exame físico O paciente apresenta dor localizada à palpação na origem dos extensores, muitas vezes indicando com precisão o ponto máximo de dor anterior e distal ao epicôndilo. O teste de Cozen reproduz a dor experimentada pelo paciente, que, ao realizar a extensão do punho contra a resistência e com o cotovelo em 90° de flexão e o antebraço em pronação, refere dor no epicôndilo lateral. O teste de Mill é realizado com a mão do paciente fechada, o punho em dorsiflexão e o cotovelo em extensão. O examinador força o punho em flexão, e o paciente é orientado a resistir ao movimento, o que produz dor no epicôndilo lateral. Coonrad e Hooper afirmam que dor no epicôndilo lateral ao levantar uma xícara de café cheia (coffee cup test) é patognomônico de epicondilite lateral. Gardner descreveu o “teste da cadeira” (chair test), no qual o paciente é instruído a erguer uma cadeira com uma mão, com o antebraço em pronação e o punho em flexão palmar. A presença de forte dor no epicôndilo lateral indica epicondilite. Dor à extensão do dedo médio contra resistência também pode ser positivo (Maudsley’s test). Teste de Cozen Teste de Mill Locomoção e Apreensão 5 Mírian Santos 7° semestre Teste de Maudsley Exames complementares As radiografias de rotina do cotovelo são de pouco auxílio no diagnóstico da epicondilite. Cerca de 22% dos indivíduos podem apresentar calcificações na região correspondente à inserção dos extensores no epicôndilo lateral. Contudo, esses achados não afetam o prognóstico e podem desaparecer após o tratamento. A ultrassonografia pode demonstrar a presença de fluido hipoecogênico subjacente ao tendão do extensor comum dos dedos, laceração e microrrupturas do tendão e diminuição de ecogenicidade. Imagens de RM em TII evidenciam com maior clareza essas alterações. Em um estudo comparativo entre os dois métodos, Miller e colaboradores mostraram que ambos possuem especificidade semelhante, entre 80 e 100%. Porém, a RM tem maior sensibilidade (entre 90 e 100%). Sugerem que a ultrassonografia pode ser adequada para a avaliação inicial, reservando a RM para os casos assintomáticos sem alterações ao ultrasom. A eletroneuromiografia (ENMG) dinâmica avalia a possibilidade de compressão do nervo interósseo posterior, que apresenta sintomatologia na região do terço proximal do antebraço e pode, ainda, ocorrer em associação com a epicondilite lateral. Epicondilite Medial: No exame físico, nota-se dor à palpação da origem da massa flexopronadora do antebraço, localizada 10 mm anterior e distalmente ao epicôndilo medial. Edema e calor local também podem ser encontrados, assim como dor mediante manobras clínicas provocativas, como realização de movimentos de flexão do punho ou pronação do antebraço contrarresistência. Uma lesão do complexo medial do cotovelo pode ser avaliada com manobra de “estresse em valgo”, mantendo 30° de flexão do cotovelo. Diagnóstico diferencial A síndrome do músculo supinador é o principal diagnóstico diferencial, e o local de dor é entre o epicôndilo e a arcada de Frohse, aproximadamente. Muitas vezes, a ENMG dinâmica é necessária para o esclarecimento diagnóstico. Sabe-se, no entanto, que esse exame, estando normal, não exclui o diagnóstico de compressão do nervo interósseo posterior. Locomoção e Apreensão 6 Mírian Santos 7° semestre Outros diagnósticos incluem sinovite do cotovelo, bursite do olécrano, gota, osteocrondrite dissecante, radiculopatia cervical e síndrome da abertura torácica com irritação da corda posterior do plexo braquial. Tratamento O tratamento da epicondilite lateral permanece controverso, com variedade de modalidades terapêuticas descritas, tanto conservadoras quanto cirúrgicas. Alguns autores defendem que há pouca evidência científica de que qualquer forma de tratamento conservador altere a história natural da doença, que tem resolução espontânea em cerca de 70 a 80% dos casos em um ano. Tratamento conservador O tratamento conservador inicial baseia-se no alívio da dor e em repouso, com restrição das atividades repetitivas, seja no trabalho, seja no esporte. No caso de tenistas, modificações no equipamento e no modo de jogar têm sido propostas por alguns autores, porém, melhores estudos são necessários para comprovar a eficácia. Para o alívio da dor, podem ser utilizados analgésicos potentes. Vários tipos de imobilizações têm sido utilizados para diminuir a força de tração na origem dos extensores. As imobilizações do antebraço e no punho, que impedem a extensão, mostraram-se mais eficientes. A fisioterapia para a epicondilite lateral é bastante discutida e contraditória. Não há evidência suficiente de melhora da epicondilite pela maioria dos métodos fisioterapêuticos, como laser, eletroterapia, reforço muscular e técnicas de alongamento. Hay e colaboradores, em 1999, indicaram que as injeções de corticoide podem trazer benefício em curto prazo, porém, não alteram a história natural da doença. O uso de infiltrações com corticoide, muito popular no passado, traz alívio temporário apenas, causando, em longo prazo, piora do quadro por degeneração do colágeno e destruição tecidual, devendo ser instituído somente em situações muito especiais. Outra modalidade terapêutica para a epicondilite lateral é o uso da toxina botulínica. O autor considerou a infiltração com toxina botulínica um método não invasivo e com resultados semelhantes à abordagem cirúrgica, constituindo mais uma alternativa no tratamento da epicondilite, antes de optar pela intervenção cirúrgica. Existe pouca evidencia de eficácia com a terapia por ondas de choque. Tratamento cirúrgico As indicações para o tratamento cirúrgico da epicondilite lateral incluem dor persistente e sem resposta aos métodos conservadores após seis a 12 meses. Também devem ser excluídas outras patologias que possam ser a causa da dor, como osteocondrites e compressão do nervo interósseo posterior. Os procedimentos extra-articulares baseiam- se na liberação dos extensores, com ou sem osteotomia do epicôndilo; em fasciotomias múltiplas; no alongamento da origem dos Locomoção e Apreensão 7 Mírian Santos 7° semestre extensores e em excisão do tecido angiofibroblástico. Atualmente, a técnica mais utilizada e aceita como o método clássico de tratamento é a descrita por Nirschl e Petrone, em 1979, com algumas modificações feitas pelos próprios autores (FIG. 4.66). Uma pequena incisão é realizada passando imediatamente anterior ao epicôndilo lateral. O intervalo entre o extensor radial longo do carpo e a aponeurose do extensor comum é identificado e incisado. O extensor radial curto do carpo é, então, identificado, e todo o tecido angiofibroblástico é ressecado.A decorticação do epicôndilo lateral é realizada, e o extensor radial longo do carpo é suturado na aponeurose. Com esse método, os autores apresentaram 97% de resultados satisfatórios. As causas de insucesso do tratamento operatório incluem erro no diagnóstico e má técnica, com manutenção de tecido angiofibroblástico e lesões ligamentares que geram instabilidade e dor. Conduta atual Tratamento conservador baseado em 4 pontos: Repouso relativo, fisioterapia, exercícios em casa e medicamento. O paciente é orientado a evitar atividades repetitivas ou qualquer esforço estático. Se necessário, a ergonomia do local de trabalho deve ser alterada. Tala de velcro no punho, usada durante o dia, é útil para evitar tração na origem dos extensores. A fisioterapia deve ser realizada por um profissional experiente. As modalidades analgésicas são instituídas, e, em seguida, são iniciados os exercícios de estiramento passivo da musculatura extensora. Exercícios ativos do punho são estabelecidos após a total eliminação da dor, primeiro sem peso e, depois, com pesos de 0,5 a 1 kg. A medicação utilizada é essencialmente analgésica. Não são usados anti-inflamatórios, visto que não existe processo inflamatório envolvido na patologia. A cirurgia é indicada após seis a oito meses de tratamento conservador sem melhora ou nos casos de recidiva. A ENMG dinâmica é solicitada de forma rotineira para afastar a possibilidade de compressão do nervo interósseo posterior. A opção cirúrgica atual é pela técnica de Nirschl, com ressecção do tecido angiofibrolástico e pequena epicondilectomia. O tratamento adequado para a epicondilite lateral permanece ainda controverso. Síndromes compressivas no punho Os nervos periféricos dos membros superiores podem sofrer compressões em seu trajeto desde a coluna cervical até a sua terminação. Em geral, essas compressões ocorrem em acidentes anatômicos, tipo túneis osteofibrosos, e as causas são várias. Os locais mais frequentes de compressão nervosa nos membros superiores são o punho Locomoção e Apreensão 8 Mírian Santos 7° semestre (síndrome do túnel do carpo) e o cotovelo (síndrome do túnel cubital). A compressão do segmento de nervo resulta em comprometimento da circulação microvascular intraneural e, por conseguinte, bloqueio da condução metabólica. Assim, a condução axonal fica alterada. Há vários aspectos na patogenia das síndromes compressivas. São eles: Anatomia. Anomalias ósseas, acromegalia, posturas viciosas. Aumento do conteúdo do túnel. Luxações ou fraturas, variações anatômicas (músculos aberrantes, artéria mediana), tumores (lipoma, neuroma, cistos), hipertrofia sinovial, hematoma. Fisiologia. Neuropatias (diabetes, alcoolismo), inflamações (artrite reumatoide, gota, infecção), alterações do metabolismo hidroeletrolítico (gravidez, menopausa, eclâmpsia, hipotireoidismo, insuficiência renal, obesidade, lúpus, esclerodermia, doença de Paget). Outros: Vibração, pressão direta. Síndrome do túnel do carpo Conceito A síndrome do túnel do carpo é um conjunto de sinais e sintomas ocasionados pela compressão do nervo mediano no punho. É a neuropatia compressiva mais frequente no organismo e foi descrita, em 1854, por Sir James Paget. Do ponto de vista anatomopatológico é causada pelas alterações que ocorrem no nervo mediano submetido à compressão na região do canal do carpo (zona IV de Verdan). Anatomia O túnel do carpo é um espaço anatômico na face anterior do punho, constituído no seu assoalho côncavo pelos ossos do carpo, como uma canaleta, e fechado acima pelo forte e inextensível “ligamento carpal transverso”. Ele é limitado radialmente pelo tubérculo do escafoide e pela crista do trapézio e ulnarmente pelos pisiforme e hámulo do hamato. Pelo interior do túnel, passam nove tendões e suas bainhas sinoviais (quatro flexores superficiais, quatro flexores profundos dos dedos e o flexor longo do polegar) e o nervo mediano. A pressão no interior do túnel aumenta com a flexão ou com a extensão do punho. Epidemiologia Afeta com mais frequência as mulheres entre 40 e 60 anos. É bilateral em mais da metade dos pacientes. Classificação A síndrome do túnel do carpo pode ser classificada, segundo Dellon e Mackinnon, (1988) em: Locomoção e Apreensão 9 Mírian Santos 7° semestre Leve: sinais objetivos + sintomas transitórios. Moderada: sintomas constantes, paresia e hipoestesia. Grave: hipotrofia e alteração grave da sensibilidade. Etiologia São considerados fatores predisponentes ou relacionados com a patologia: alterações hormonais (ovário policístico,menopausa, hipotireoidismo, diabetes), insuficiência renal, insuficiência hepática, artrite reumatoide, amiloidose, sequelas de trauma na região do punho (fraturas ou fraturas-luxações), tumores na região etc. Ainda que possam existir diversas causas para a síndrome do túnel do carpo, a maioria é de natureza idiopática. Fisiopatologia O túnel do carpo é um espaço inelástico delimitado pelos ossos do carpo dorsalmente e pelo ligamento anular ventralmente. Os tendões flexores dos dedos e do polegar, juntamente com o nervo mediano, passam através desse túnel osteofibroso. O nervo mediano é responsável pela sensibilidade do polegar e dos dedos indicador, médio e anular (metade radial) e, na mão, inerva ainda os músculos da região tenar e primeiro e segundo lumbricais. Os tendões flexores nessa região são envolvidos por uma abundante quantidade de tecido sinovial que em determinadas circunstâncias, pode ser sede de reações inflamatórias, caracterizando as sinovites. Esse processo inflamatório leva a um aumento da pressão no canal cárpico que, ao comprimir o nervo mediano, dá origem aos sintomas característicos dessa patologia. Outra fisiopatologia: Do ponto de vista fisiopatológico ocorre uma diminuição na dimensão do canal do carpo (diminuição do continente) ou aumento do conteúdo (aumento de volume das estruturas que passam pelo canal; do carpo). A diminuição do continente (estenose) pode ser causada por alterações nas paredes do canal: edema, sinovite, acúmulo de substância amiloide, tumor, alteração morfológica dos ossos do carpo etc. O aumento de volume das estruturas que passam pelo canal pode ser causado por acúmulo ou inflamação da sinóvia que reveste os tendões (tenossinovite), tumor ou acúmulo de substância amiloide nestas estruturas. Manifestações clínicas Locomoção e Apreensão 10 Mírian Santos 7° semestre A queixa principal é dormência/hipoestesia seguida de dor e fraqueza na mão. A dormência tem característica de ser noturna e, em geral, é o sintoma inicial da patologia. É comum o paciente acordar do sono muitas vezes à noite com parestesia. A dormência é localizada no território do nervo mediano, isto é, na face palmar dos dedos polegar, indicador, médio e metade radial do anular. Com a progressão da compressão, a dormência passa a ocorrer também durante o dia, em atividades que requeiram segurar objetos a certa altura, como volante de automóvel, revistas, telefone e secador de cabelo. É frequente a queixa de coceira na palma da mão. Em etapas mais tardias, podem ocorrer alterações motoras, como fraqueza de oponência do polegar e hipotrofia tenar por comprometimento do ramo motor do mediano para o músculo abdutor curto do polegar. Diagnóstico e diferenciais A históriaclínica mais característica inclui a hipoestesia no território do nervo mediano (noturna), diminuição progressiva da força muscular da mão, dor, queda de objetos da mão e piora dos sintomas com a atividade física. No exame físico, dois testes são típicos para o diagnóstico clínico da síndrome do túnel do carpo: a percussão do nervo mediano na face volar do punho (teste de Tinel), cuja resposta é a sensação de choque elétrico irradiada até os dedos. E o teste de Phalen que consiste em manter flexão forçada do punho por 1 a 2 minutos. Caso o paciente refira dormência nos dedos, sobretudo no dedo médio, é provável que ele apresente a síndrome. O teste pode ser realizado também com extensão do punho (Phalen invertido). Nas duas posições, a pressão no interior do túnel aumenta e reproduzem-se os sintomas. Um exame importante nesse diagnóstico diferencial é o da sensibilidade na região tenar. O ramo nervoso sensitivo para essa área emerge do mediano proximalmente ao túnel do carpo. Portanto, na síndrome do túnel do carpo, a sensibilidade na região tenar está normal, ao Locomoção e Apreensão 11 Mírian Santos 7° semestre passo que, nas compressões mais altas, ela está alterada. A eletroneuromiografia é um excelente exame para ajudar a confirmar a compressão nervosa. Nos casos típicos e de longa duração, não há necessidade desse exame complementar para estabelecer o diagnóstico. Ele é útil quando se deseja conhecer a intensidade da compressão e na presença de comprometimento motor, assim como para auxiliar na previsão do tratamento cirúrgico. Apesar de ser um exame de alta sensitividade e especificidade, existe porcentagem de positividade em pacientes assintomáticos (falso- positivo) ou de negatividade (falso-negativo) em indivíduos sintomáticos. Tratamento Tanto o tratamento conservador quanto o cirúrgico têm indicações precisas. O conservador deve ser empregado em situações em que o fator causal da compressão for transitório, como na gravidez, ou quando os sintomas forem leves e recentes (até seis meses) ou, ainda, na presença de comprometimento sensitivo evidenciado pela eletroneuromiografia. O tratamento consiste, principalmente, no uso de órtese (tala gessada ou de Orthoplast), à noite, que deve ser feita para manter o punho em posição neutra (0°) para não aumentar a pressão dentro do túnel. Não havendo contraindicação (gravidez, gastrite), recomenda-se anti-inflamatório não hormonal. Em caso de gravidez, deve-se consultar sempre o obstetra. A combinação de infiltração de corticoide no túnel (apenas uma), imobilização com tala gessada por duas semanas e anti-inflamatório não hormonal tem apresentado resultados satisfatórios. Além dessas medidas, o paciente é orientado a observar a postura dos punhos, evitando movimentos ou trabalhos em posições de muita flexão ou posições que mantenham o punho e os dedos flexionados por período prolongado. A abordagem cirúrgica é indicada para os casos de fracasso do tratamento conservador ou para aqueles de longa duração, nos quais já exista, além das alterações sensitivas, comprometimento motor. Este, muitas vezes, só é detectado pela eletroneuromiografia, mas, em alguns casos, nota-se acentuada atrofia da região tenar. A liberação endoscópica do túnel do carpo tem sido preconizada por muitos autores, e diversos endoscópios e equipamentos estão sendo descritos. É um tratamento promissor, mas ainda há obstáculos para tornar-se um procedimento de rotina. Outras síndromes compressivas do punho... Síndrome do canal de Guyon É ocasionada pela compressão do nervo ulnar no punho. Esse nervo entra na palma da mão e passa por um estreito túnel osteofibroso, o qual é formado medialmente pelo pisiforme, lateralmente pelo hâmulo do hamato e Locomoção e Apreensão 12 Mírian Santos 7° semestre superiormente fechado pelo ligamento piso- hamato. A síndrome do canal de Guyon é muito menos frequente do que a síndrome do túnel do carpo e pode estar relacionada a traumatismos (fraturas do hamato, do piramidal ou da base do quarto e do quinto metacarpais; traumatismo da artéria ulnar, com consequente trombose, chamada “ síndrome do mar telo hipotenar”), tumores (lipofibroma, cisto sinovial) ou variações anatômicas (músculos anormais). O quadro clínico pode variar conforme a localização da compressão, a qual pode ser apenas motora (na maioria dos casos), sensitivo- motora (um terço dos casos) ou só sensitiva. Em geral, os sintomas caracterizam-se por dor moderada e persistente na região hipotenar, acompanhada por leve parestesia irradiada para o bordo ulnar da mão, para os dois lados do dedo mínimo e para lado radial do anular. Conforme o quadro avança, pode haver paresia dos músculos inervados pelo nervo cubital e hipotrofia da mão, com exceção da região tenar. É muito útil realizar o teste de Allen para examinar a potência da artéria ulnar e afastar o diagnóstico de trombose dessa artéria. É importante o diagnóstico diferencial com a síndrome do túnel cubital no cotovelo. Isso é feito testando a sensibilidade na região dorso ulnar da mão. Essa região é inervada pelo ramo dorsal sensitivo do ulnar, que emerge proximal ao canal de Guyon. Portanto, tal região apresenta alteração sensitiva somente quando ocorre compressão em um nível mais proximal, como no túnel cubital do cotovelo. Contratura de Dupuytren Apesar de descrita há mais de 170 anos por Dupuytren, essa patologia, que leva o seu no me, ainda tem, até hoje, etiologia e patologia controversas. A contratura de Dupuytren é uma doença da aponeurose palmar, incluindo a retinácula palmar e digital. Ela costuma iniciar com um nódulo na banda pré- tendínea na palma e evolui comprometendo toda a banda, produzindo retração dos dedos. Mesmo a etiologia sendo ainda desconhecida, a contratura de Dupuytren é mais frequente no sexo masculino, e muitos fatores predispõem à doença, como alcoolismo, tabagismo, imunodeficiência, diabetes e epilepsia. O diagnóstico, em geral, é fácil. O sinal mais precoce da doença é a presença de nódulo palmar, sobre banda pré-tendínea, próximo da prega palmar. O dedo anular é o mais afetado, seguido pelo dedo mínimo, polegar, dedo médio e indicador. Quando os cordões fibrosos “amadurecem” , eles retraem, produzindo contratura em flexão dos dedos, em geral nas articulações metacarpofalangianas. Cordões fibrosos e nódulos podem surgir nos dedos e gerar contratura em flexão nas articulações IFPs. REFERÊNCIAS 1. Ortopedia e traumatologia: princípios e prática [recurso eletrônico] / [Organizadores] Sizínio K. Hebert ... [et al.]. – 5. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2017. Locomoção e Apreensão 13 Mírian Santos 7° semestre 2. Barros Filho, Tarcísio Eloy Pessoa de Ortopedia e traumatologia para graduação / Tarcísio Eloy Pessoa de Barros Filho, Olavo Pires de Camargo. - Rio de Janeiro : Revinter, 2010. 3. Tratado de Ortopedia – SBOT; 4. Ortopedia 2019 – MEDCURSO; 5. Clínica Médica de Ortopedia – USP;
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