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UNIÃO BRASILEIRA DE FACULDADES – UNIBF PSICO-ONCOLOGIA ELAINE CRISTINA MARTINS DE ALMEIDA “A PSICO-ONCOLOGIA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO TRATAMENTO DE MULHERES DIAGNOSTICADAS COM CANCER” São Paulo, novembro 2021 ELAINE CRISTINA MARTINS DE ALMEIDA “A PSICO-ONCOLOGIA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO TRATAMENTO DE MULHERES DIAGNOSTICADAS COM CANCER ” Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado para obtenção de certificado no Curso de Especialização – Latu Sensu em Psico-oncologia da União Brasileira de Faculdades, UNIBF. São Paulo, novembro 2021 RESUMO O presente trabalho corresponde a uma revisão bibliográfica referente a estudos sobre a doença câncer que abordam a relação existente entre os diversos fatores envolvidos na sua etiologia e desenvolvimento, O foco é identificar em mulheres o envolvimento dos fatores psicológicos no desencadeamento da doença, de modo a proporcionar uma melhor compreensão e promover um atendimento integral a paciente e seus familiares no enfrentamento. De acordo com o material utilizado, pude verificar a significativa presença de conflitos emocionais e o alto nível de estresse na história de vida das pacientes com câncer, que participaram de meus estudos, aos quais apresentam os elementos como sendo um dos fatores que interferem no equilíbrio corporal propiciando o adoecimento, evidenciando a relação entre conteúdos emocionais e biológicos, a influência de um sobre o outro. Através de material bibliográfico observo que indivíduos que apresentam poucos recursos internos para lidar com situações de conflitos, geralmente, quando se deparam com as mesmas, apresentam mecanismos mais primitivos ligados a psicossomatização, ou seja o indivíduo passa a manifestar através do corpo, aquilo que está em conflito na mente. A tempos, esta relação entre o psíquico e o biológico já era observada, na contemporaneidade tratada com importância por diferentes áreas do conhecimento para que haja um entendimento universal do indivíduo que adoece. . Palavra-chave: Neoplasia, multifatoriedade, conflitos, medo, insegurança. 3 1. INTRODUÇÃO Há tempos que o homem busca as causas das doenças, pode-se dizer que, desde a Antiguidade. A doença não era apenas limitada ao plano de patologia física, era vista como expressão de relações entre a pessoa e seu modo de vida (AVILA, 2004). Segundo este autor, os gregos tinham uma concepção psicossomática da medicina, o que pode ser observado através de estudos sobre as palavras psique que, representava o espírito que habita o corpo e soma que, significava o cadáver, o corpo inanimado já tomado pela morte. Dessa forma, consideravam a existência da vida, na presença da vida psíquica, não apenas com as funções corporais. Hipócrates considerava a influência da mente sobre o corpo, pois afirmava que o estado de saúde do indivíduo correspondia à harmonia entre suas instâncias internas, bem como destas com seu meio ambiente (CARVALHO, 1997). Já Freud, através de sua obra “Estudos sobre a histeria”, proporcionou o retorno de um olhar mais integrado ao ser humano, mostrando a influência da esfera psíquica sobre o orgânico (CARVALHO, 1997). Observou que a separação entre mente e corpo, presente por muito tempo nos estudos da Medicina, apresentou como consequência que a grande maioria das doenças passou a ser abordada fundamentalmente pelo aspecto biológico, enquanto os aspectos mentais ficaram mais restritos a doenças psiquiátricas e algumas condições médicas gerais, as quais os componentes psicológicos e culturais foram inevitavelmente reconhecidos (AVILA, 2004). Dessa forma, o presente trabalho tem o objetivo de abordar, os fatores que podem ter colaborado no desenvolvimento da doença câncer, dando ênfase aos fatores psicológicos, e como a Psico-oncologia pode contribuir para este enfrentamento do paciente. 4 2. O CANCER E AS FASES QUE VIVE O PACIENTE A partir do momento em que compreendemos o significado da palavra “câncer” como um conjunto de condições, nas quais o paciente oncológico vive, se fará entender a importância da Psico-oncologia como contribuição ao tratamento. Existem mais de cem (100) formas diferentes de doenças neoplásicas que circunferência a palavra câncer, cada um com características clínicas e biológicas diversa, é um crescimento desordenado de células malignas que invadem os tecidos e órgãos podendo espalhar-se para outras regiões do corpo. Schávelzon (1992) nos induz aos conceitos de ego e não ego para explicar o desenvolvimento da doença câncer. Entende como ego o “conjunto de elementos orgânicos e psicológicos que um indivíduo reconhece como integrantes de sua estrutura” Para entendermos melhor, de acordo Sigmund Freud, a personalidade é composta por três elementos da personalidade que, trabalham juntos para criar o comportamento do ser humano complexo: ID: É o único componente da personalidade que está presente desde o nascimento, consiste nos desejos, vontades e pulsões primitivas, formado principalmente pelos instintos e desejos orgânicos pelo prazer. EGO: É o componente da personalidade que é responsável por lidar com a realidade, se desenvolve a partir do id e garante que os impulsos do id possam ser expressos de uma forma aceitável no mundo real, as funções do ego agem tanto no consciente, no pré-consciente e inconsciente. SUPEREGO: É o último componente da personalidade a se desenvolver, é aspecto da personalidade que mantém todos os nossos padrões morais internalizados e ideais que adquirimos dos pais e da sociedade – é nosso senso de O câncer é um termo popular utilizado para definir um conjunto de neoplasias malignas, isto é, doenças caracterizadas por um crescimento desordenado das células jovens, sem controle de mecanismo celular. (Mayol, 1985:15). http://psicoativo.com/2016/07/sigmund-freud-vida-obra-pensamento-teorias.html http://psicoativo.com/2016/05/consciente-pre-consciente-e-inconsciente-video-simples-e-rapido.html 5 certo e errado e nos fornece diretrizes para fazer julgamentos, de acordo com Pai da Psicanálise (Freud), o superego começa a surgir por volta dos cinco anos. De acordo com Sigmund Freud, a chave para uma personalidade saudável é um equilíbrio entre o id, o ego, e do superego. . Conforme Schávelzon (1992) o câncer são células anormais presentes no organismo desde seu nascimento, mas que sempre foram reconhecidas como não ego e desse modo, eliminadas pelo indivíduo. Porém, em determinado momento, há uma modificação na leitura feita destas células, as quais passam a ser vistas como integrantes do ego e assim, não são mais destruídas pelo organismo. Neste contexto, autor nos coloca que o câncer não pode ser visto como um elemento externo, invasor ao indivíduo, uma vez que para se comportar como um tumor maligno, ele precisa ser aceito pelo organismo, passando a ser parte de sua estrutura psicorgânica (Schávelzon, 1992). Já Veit e Carvalho (2010), afirmam que não existe câncer benigno, o que se observa são diferentes grausde malignidade e agressividade. Para avaliar a gravidade e o prognóstico de cada caso, baseia-se no órgão primário ou inicial, onde é possível verificar a transformação, o tamanho e a natureza do tumor, assim como, o grau de invasão deste para outros órgãos. De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), há uma grande variedade de causas para a doença câncer, as quais podem ser divididas entre causas internas e externas, que estão inter-relacionadas. Os fatores de risco podem ser encontrados no ambiente físico, herdados ou resultado de hábitos ou costumes próprios de um determinado ambiente social e cultural. Alguns dos fatores de riscos e seus percentuais: (Má alimentação – 35%, Tabaco - 30%, Infecções – 10%, Comportamento sexual e reprodutivo - 10%, outras causas – 7% (genética), Exposição ocupacional - 4%, Álcool – 3%, Radiação - 1%. “Em um dado momento, este processo de reconhecimento como não ego se altera, modifica-se, e o indivíduo aceita ou reconhece como integrante do ego esta célula tumoral ou diferente. Essa célula não é alguma coisa nova [...]. O novo ou diferente é seu reconhecimento ou “leitura” como ego (Schávelzon, 1992, p. 218). ” 6 O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, nos coloca que, os hábitos e estilo de vida de uma pessoa, podem provocar diferentes tipos de cancer, de acordo com as mudanças provocadas no meio ambiente aos quais podem ser tratados e curados através de Cirurgia, Quimioterapia e radioterapia. O câncer já é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), uma epidemia Global, é uma das doenças que mais cresce e uma das maiores causa a morte, prevê que em 2030, 22 milhões de pessoas entre homens, mulheres e crianças serão diagnosticados por ano de câncer e 17 milhões morrerão da doença, nos alerta que a maioria das mortes por câncer que ocorre hoje, e tende a aumentar ainda mais, se dá em países de baixa e média renda, devido à dificuldade de acesso da maioria da população à informação e a tratamentos. Entende-se que, o câncer é uma doença multifatorial, tornando-se imprescindível o trabalho em equipe interdisciplinar, de modo que diferentes áreas contribuam com seus diferentes olhares, permitindo que todos os aspectos presentes no adoecer possam ser abordados, o que proporcionará um cuidado mais integral ao indivíduo doente (VEIT; CARVALHO, 2010). Todo paciente acometido pelo cancer necessita de pessoas que possam lhe dar afeto e apoio neste momento tão complicado e vulnerável de sua existência, a família é um ponto primórdio para sua segurança interior, porém é importante que fiquem atentos, pois o paciente tem a percepção de tudo que está acontecendo com ele e com todos que estão a sua volta, o carinho e afeto das pessoas são as palavras de maior intensidade na vivencia atual do paciente, sendo deprimente a ele a existência de pessoas que se comuniquem por dever, obrigação, interesse ou falsas esperanças. "O paciente com câncer adoece como uma unidade vital somato-psicológico, apresentando muito mais do que uma doença orgânica com sua sintomatologia, pois junto a ela estão a consciência e os sentimentos frente à enfermidade, com as repercussões próprias e pessoais na maneira de viver, de adaptar-se aos stress vital e delinear seu próprio destino". (Angermani, 1992: 7 7). 7 2.1. Paciente, Conflito Medo E Morte A paciente ao tomar conhecimento que é portadora de câncer, inicia uma nova etapa em sua vida, correlacionando a mesma ao medo e insegurança do que lhe pode acontecer, afinal todos esperam ter uma vivencia até a velhice, e quando são acometidos por uma doença que provavelmente resultara em morte precoce, reagem em sua grande maioria com um choque psicológico seguido de raiva e porquês. Sente-se fraudada no que desrespeito o seu direito a vida. É rara a aceitação de estar doente de cancer, pois este estado lhe traz a ruptura da forma habitual de se viver, a incerteza e insegurança de futuro, um tratamento prolongado e doloroso, e porque não dizer a possibilidade de morte, colocando o paciente em um estado de crise; fragilidade, ansiedade e impotência frente à doença. Quando falamos Neoplasia maligna, a palavra morte torna-se presente desde o diagnóstico, permeando todo o tratamento e em grande parte se estendendo aos pós tratamento, o paciente com câncer traz a ideia do fim da vida e de todas as suas possibilidades, o medo se faz presente, seja pela sua própria morte ou a de uma companheira de tratamento, tornando-se inevitavelmente um sofrimento. Pensar na morte nos faz pensar na própria vida e em como estamos vivendo, coloca em xeque sua própria existência e tenta encontrar um motivo para sua doença. Cada pessoa vê a morte de formas diferentes, dependendo da etapa em que se encontre no processo de desenvolvimento vital, tudo depende de sua história de vida, de suas vivências e aprendizagens, de sua condição física, psicológica, social e cultural. O paciente oncológico tem uma visão especifica sobre a morte, pois acredita que seu contato com ela é constante. Estágios do processo de morrer, formulados por E. Kübler-Ross Os cinco estágios são denominados como: 1) negação; 2) raiva 3) barganha; 4) depressão; 5) aceitação. E fato que nem todos passam pelos estágios nesta ordem e nem todos completam o processo. 1) Negação: Tomada de consciência do fato de sua doença fatal. Alguns enfermos costumam procurar uma segunda opinião, outros manifestam a negação de maneira implícita, 8 agindo com otimismo e planos para o futuro. As pessoas devem compreender esta reação, que mostra a falta de preparação emocional para enfrentar esse momento. Não devem forçá-los a aceitar, mas dar-lhes tempo e deixar que falem de sua angústia. 2) Raiva: À medida que a negação vai se atenuando, a pessoa começa a experimentar muita raiva, que normalmente é dirigida ao médico, ao enfermeiro, aos visitantes, aos familiares, a Deus, etc. As pessoas não devem se chocar com esta reação; é importante entender, pois o enfermo sofre com o fato de que os outros permanecerão vivos. 3) Barganha: Constata-se o desejo do paciente em realizar acordos por um pouco mais de tempo, fazendo pactos consigo mesmo e/ou com Deus; fazem promessas materiais, negociam com a própria morte. 4) Depressão: Ao final do tempo da barganha, o paciente passa à depressão. Ele já não prevê mais possibilidades, a vida acabou. Entra num período de silêncio interior, fechado. Este estágio costuma provocar culpa e outros sentimentos de aflição. Neste período é importante que os familiares sejam estimulados a manifestar seus sentimentos. 5) Aceitação: Não significa que o paciente tome uma atitude cômoda e espere passivamente a morte. Ocorre quando o paciente se mostra capaz de entender sua situação com todas as suas consequências. Nesta situação geralmente está cansado, mas em paz. Volta-se para dentro de si, revelando a necessidade de reviver suas experiências passadas como forma de resumir o valor de sua vida e procura o seu sentido mais profundo. A aceitação não exclui a esperança, mas, nesse momento, a pessoa já não tem mais medo ou angústia. 9 O paciente diagnosticado com câncer, começa a perceber o quanto a vida lhe é valiosa e curta, este sentimento também se reproduz na família presente, as mais coesas se renovam de fé e esperança e se unem ainda mais para atender as necessidades imediatas. As mais vulneráveis costumam se dissipar, trazendo a estas pacientes mais um sentimento acerbado, o de abandono. A paciente precisa ser ouvida e se sentir acolhida em seu sofrimento, para auxiliar no enfrentamento do medo do que pode ser sua morte deflagrada pela doença e/ou terminalidade. O processo psicoterápico de pacientesabre um espaço para estas falarem daquilo que for de sua necessidade. A ênfase é na qualidade de vida e em sua ressignificação. Trabalhar a autoestima de mulheres portadora de câncer é de extrema importância para que a mesma se sinta menos violada diante do tratamento agressivo da quimioterapia. Para as pessoas do sexo feminino o tratamento quimioterápico inicialmente é visto como o grande vilão, pois destrói totalmente sua vaidade com a perda dos cabelos, sobrancelhas, cílios, unhas, ressecamento da pele, enfraquecimento dos dentes e algumas vezes até a perda. É através do respeito, valor e amor que se resgata a dignidade de um paciente, pequenos gestos fazem toda a diferença, tanto da família como do profissional a qual é responsável pelos cuidados com a paciente, é importante citar que entre tais gestos se enquadra a escuta da vontade da pessoa acometida pela doença e a compreensão da mesma. 2.2. A Psico-Oncologia A Psico-oncologia é a área que insere Psicologia e Oncologia, visando estudar as variáveis do comportamento e psicológica relacionadas ao processo de adoecimento e cura, surgiu na década de 1970, com a psiquiatra Jimmie Holland, no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center em Nova Iorque. "O paciente deve ser incluído em todas as decisões a respeito da sua doença. Mesmo, quando se quer dar más notícias ao paciente, deve-se refletir cuidadosamente. A família só se torna uma equipe, quando todos os membros participam das decisões a serem tomadas. O paciente, em especial, precisa sentir que detém o seu próprio controle. Antes de mais nada, trata-se da sua vida; com certeza, a doença afeta a todos, mas o paciente é quem deve tomar as decisões importantes a respeito de sua vida ou morte". MATTHEWS - SIMONTON (1991: 52): 10 A importância da Psico-oncologia é para que os pacientes que recebem a notícia de estar com câncer não desistam do tratamento em nenhuma de suas fases, sua tarefa e de acompanhar e acolher o mesmo na busca de sua verdade, visto que receber o diagnóstico de câncer pode ser visto pelo paciente como uma tragédia, frente à proximidade da verdade de morte. Uma avalanche de sentimentos que se desperta pelas mudanças em sua rotina de vida, que o deixa fragilizado, angustiado e vulnerável. Psico-Oncologia buscar uma intervenção ou condução do processo de enfrentamento com o objetivo de minimizando o sofrimento devido a agressividade dos protocolos de tratamento e seus efeitos colaterais, colaborar com o paciente na relação com o seu corpo e suas marcas agora existentes, respeitando sempre sua história. 3. METODOLOGIA Este trabalho corresponde a uma revisão bibliográfica referente à temática. Para elaboração, foi realizado pesquisas de trabalhos desenvolvidos sobre o assunto, publicados em forma de livros, revistas, artigos, publicações avulsas e documentos eletrônicos, assim como a escuta das pacientes do Centro de Apoio ao Paciente Oncológico – Eliane Martins. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Minha grande motivação para elaboração do presente trabalho, surgiu de uma das atividades praticadas no Centro de Apoio ao Paciente Oncológico – Eliane Martins (nome fantasia Projeto Divas) na cidade de São Paulo. Em contato com a prática, despertou a atenção pelo alto número de pacientes acometidos pela doença câncer. Nos atendimentos realizados com algumas destas pacientes, observei um estado de sofrimento psíquico tanto relacionado ao enfrentamento da doença quanto a conflitos emocionais e familiares anteriormente vivenciados. O que despertou o interesse em analisar a doença e inúmeros aspectos emocionais causadores de sofrimento psíquico presentes em suas histórias de vida. 11 Realizei uma revisão bibliográfica a respeito de estudos referentes aos aspectos psíquicos relacionados à doença câncer e compreendi o envolvimento dos aspectos psicológicos no desencadeamento da doença câncer, considerando a multifatoriedade desta. Tentei me aprofundar para realmente entender o que é o câncer e suas consequências, que de forma inesperada são introduzidas no cotidiano da pessoa acometida pela doença e também de seus familiares. Entendi que Todos são arrebatados por um choque inevitável, onde o medo, insegurança e a busca por respostas são palavras chaves neste ponto de suas existências. A família mesmo necessitando de cuidados para o enfrentamento é protagonista no apoio, fortalecimento interior e aceitação do paciente. E possível perceber que o câncer possui uma representação de morte aos pacientes, ou seja, quando acometidos pela neoplasia sentem-se inseguros quanto a possibilidade de cura e vivenciam a sensação iminente de risco à vida, bem como se deparam com os preconceitos e estereótipos enraizados de modo parcial na sociedade frente à sua nova condição decorrente do adoecimento. O surgimento dessa nova situação implica numa reorganização familiar, sendo que esta pode se dar de forma positiva ou negativa, aprofundando, ampliando ou rompendo os laços, ocasionado muitas vezes pela falta de informações. Percebi através de um relato a importância do apoio familiar para o enfrentamento da enfermidade, visto que seus membros são um dos principais colaboradores do sustento afetivo e de outras necessidades advindas dessa nova condição. "2013 fui diagnostica com um tipo agressivo de câncer de mama, eu pensei que ia morrer. Tive muito medo do sofrimento que causa a doença, comecei a planejar minha morte e o futuro de minha família... é realmente achei que ia morrer! No meu egoísmo, achei que meus filhos não sobreviveriam sem mim, perdi minha identidade. Por que isto foi acontecer? Quando perdi meus cabelos, foi como se o câncer houvesse vencido a batalha pela minha vida. Mais não desisti, porque minha família e amigos estavam apostando em mim. Nunca imaginei que fosse tão amada” (EMPS/2015) ”. (Está paciente, infelizmente depois de travar uma batalha de quatro anos contra um câncer de mama, veio a óbito.) 12 “Doença maldita me tirou tudo! Hoje estou preza dentro do meu corpo, não consigo fazer nada, sentimento? A única coisa que hoje sinto é dor, dor no corpo, dor no coração, estou aqui abandonada pelos que diziam serem meus amigos e pelos que pari, chamam estas criaturas de filho, se Deus existe porque fez isto comigo, porque não me leva logo”(ACM-2015) (A paciente permanece em tratamento a 5 anos, estando hoje em paliativo terminal). Observei uma interferência nas relações conjugais ou afetivo-sexuais na rotina das mulheres que participaram dessa pesquisa devido à mutilação sofrida pelo tratamento, implicando em receios e sentimentos de inferioridade, assim como também a questão econômica. “O diagnóstico de Câncer me levou o chão, quando estava em tratamento, levou minha identidade junto com a vaidade, saia às ruas me olhavam como se eu fosse um alienígena, então preferia ficar em casa, não ver ninguém e me isolar do mundo, meu rosto estava cheio de manchas, minhas unhas fracas, cabelos e cílios ou qualquer outro pelo no corpo não existe mais, estava pálida e inchada desde que iniciou as quimioterapias, me escondia de meu companheiro, não me permitia nem pensar que ele poderia me tocar, eu via nas redes sociais mulheres em tratamento como eu, porém, lindas bem arrumadas e sempre sorrindo, me perguntava como elas conseguiam, se eu estivesse trabalhando acho que ficaria linda também, mais não estava e não tinha condições de comprar se quer um batom. “ (APR- 2017) (Esta paciente hoje, 2021 iniciou novamente tratamento quimioterápico devido à recidiva do câncer. ” Através dos depoimentos das pacientes do Centro de Apoio ao paciente Oncológico Eliane Martins, pude compreender as necessidades de paciente nas etapas de seu tratamento. Evidenciei em algumas falas a importânciada informação e aconselhamento da equipe de saúde que, em algumas situações falhou na comunicação proporcionando grande ansiedade e angústia nos pacientes que sente a grande necessidade de ser acolhida e principalmente ser ouvido, pois, o tratamento 13 influenciou na insatisfação com o próprio corpo produzindo sofrimento, alterações na autoestima e autoimagem, sentimentos de inferioridade, medo da morte e rejeição. Sabemos que o eu, é formado a partir da imagem do outro, tornando os pacientes socialmente incompletos conforme expressaram suas falas. O desafio proposto de construir este trabalho se deu para mostrar a magnitude e importância da atuação da Psico-oncologia, em consultórios, clinicas, Centros de Apoio, hospitais e equipes interdisciplinares que atendem oncologia. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARQUES, S. T. Quando a prótese não é a muleta: um estudo psicanalítico sobre a experiência de amputação e reconstrução do corpo. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. MELLO NETO, G. A. R. Neurose traumática, neurose de transferência: um relato autobiográfico do holocausto. Psicologia em estudo, 2012. v. 17, n. 2, p. 413-423. Barbosa, A. C. A. (2008). A angústia como incidência clínica do irrepresentável da pulsão: desamparo, trauma e repetição. Reverso, 30 (56), 41-60. Benghozi, P. (2010). Malhagem, filiação e afiliação – Psicanálise dos vínculos: casal, família, grupo, instituição e campo social. São Paulo: Vetor. Cardoso, M. R, & Maldonado, G. (2009). O trauma psíquico e o parodoxo das narrativas impossíveis, mas necessárias. Psicanálise Clínica, 21(1), 45-57. Coelho, D. M., & Santos, M. V. O. (2012). Apontamentos sobre o método na pesquisa psicanalítica. Analytica, 1(1), 90-105. Creighton, J., Simonton, C., & Simonton, S. (1987). Com a vida de novo. São Paulo: Summus. Deifenthaeler, E. C. (2003). Violência e trauma psíquico como situação de risco em psicanálise. Revista Brasileira de Psicanálise, 37(2/3). 14 Durski, L. M., & Pinheiro, N. N. B. (2010). Como suportar o insuportável de nossos pacientes? Uma reflexão sobre o manejo clínico do além do princípio do prazer. Estudos de Psicanálise, 34, 53-62. Ferrari, C., & Herzberg, V. (1997). Tenho câncer, e agora? Enfrentando o câncer sem medos e fantasias. São Paulo: FAZ. Fleury, A. (2008). A pulsão de morte como criadora: clínica psicanalítica de pacientes com câncer. Trieb, 7(1/2), 153-144. Freud, S. (1996f). Para além do princípio do prazer. In J. Salomão (org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 17-78). Rio de Janeiro: Imago. CARVALHO, M.M. Psico-oncologia: história, características e desafios. Psicol. 2002, vol.13, n.1,p.151-166. LeSHAN, L. O câncer como mutação: um manual para pessoas com câncer, seus familiares e profissionais de saúde. São Paulo, Summus, 1992. ISBN 85-323-0393-5. Instituto Nacional do Câncer (2011). Estimativas 2012: incidência de câncer no http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/8850 http://www.brasilescola.com/sociologia/ortotanasia.htm ENDEREÇO PARA ENVIO DO CERTIFICADO, O PREENCHIMENTO É OBRIGATÓRIO. Rua: Jornalista Otavio Ribeiro Pena Branca Número:13 Bloco 03 apto 84 Bairro: Jardim Bela Vista Cidade: São Paulo Estado: São Paulo Cep:02617140 http://www.brasilescola.com/sociologia/ortotanasia.htm
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