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Sofrimento Psíquico no Adoecimento

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O processo da doença e o sofrimento 
psíquico
Apresentação
O adoecimento traz importantes mudanças na rotina de um indivíduo, assim como nas pessoas que 
o cercam e acabam afetadas pelas alterações no seu bem-estar, tanto no meio familiar quanto na 
vizinhança ou no trabalho. Essas mudanças trazem à tona sofrimentos psíquicos como insegurança, 
medo, angústia e, algumas vezes, quadros de depressão. Na hora de enfrentar situações de dor e de 
perda, o paciente precisa estar amparado para que esse enfrentamento se torne possível.
Dessa forma, assim como defendem Sebastiani e Maia (2005), é inquestionável a importância de 
uma equipe multiprofissional para o cuidado em saúde, dando destaque ao papel do psicólogo na 
identificação dos aspectos psicológicos presentes no contexto do cuidado e do trabalho nas 
unidades de saúde.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá o conceito de sofrimento psíquico relacionado ao 
adoecer; discutirá, com base em estudos epidemiológicos, os principais aspectos psicológicos 
relacionados ao adoecimento, à dor, à perda e à morte, contextualizados a partir da história de vida 
e de adoecimento dos indivíduos.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Relacionar adoecimento e sofrimento psíquico.•
Explicar os principais aspectos psicológicos mobilizados em relação à dor, à morte e à perda no 
contexto da doença.
•
Descrever a perda e o luto a partir da história de vida e de adoecimento do indivíduo.•
Desafio
Com o início de uma nova década em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, em 
13 de janeiro, uma lista com os principais desafios urgentes e globais da saúde. Reduzir o número 
de casos de HIV, tuberculose, hepatites virais e malária são uma das 13 prioridades para os 
próximos 10 anos.
Por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil é referência internacional no tratamento de 
AIDS, disponibilizando ao cidadão o coquetel de medicamentos, bem como o acesso gratuito à 
testagem de sorologia e a preservativos (camisinha). HIV é a sigla em inglês para vírus da 
imunodeficiência humana. Já a AIDS, ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, é o estágio mais 
avançado da doença causada pelo vírus HIV.
Mais vulnerável, o organismo fica mais sujeito a diversos agravos - as chamadas infecções 
oportunistas - que vão desde um simples resfriado a infecções mais graves, como tuberculose ou 
câncer, e podem levar à morte. Hoje em dia, é possível ser soropositivo e viver com qualidade de 
vida. Basta seguir o tratamento indicado e as recomendações médicas e da equipe de saúde.
Durante a reunião, a enfermeira-chefe solicita que você exponha a sua opinião sobre as seguintes 
questões:
a) Por que você acha que o trabalho com pacientes portadores de HIV pode ser gratificante?
b) Por que você acha que o trabalho de atendimento a pacientes com AIDS é frustrante? 
Infográfico
O adoecimento e a hospitalização trazem para o sujeito situações adversas, diferente de seus 
hábitos e de suas práticas diárias, e movem sentimentos e aspectos psicológicos, os quais podem 
gerar situações graves ou críticas, principalmente na rotina familiar e no trabalho, que podem ser 
traduzidas por medos, inseguranças e até mesmo depressão.
Milanesi et al. (2006) apontam em sua pesquisa que estabelecer uma relação de confiança e 
respeito entre a família e os profissionais significa a possibilidade de transformar o ambiente 
hospitalar em um local de menor sofrimento.
Neste Infográfico, você vai verificar este tema por meio de algumas estratégias no trabalho em 
saúde para lidar com essas emoções.
Aponte a câmera para o 
código e acesse o link do 
conteúdo ou clique no 
código para acessar.
https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/005b5289-4233-450a-a7db-1d4ec92b4d6a/a434f021-1d29-42df-9a48-36b6ba435f31.jpg
Conteúdo do livro
O processo da doença traz consequências para a dinâmica da vida do sujeito enfermo e está 
balizada por sentimentos de dor física e pode desencadear expressões diversas em termos 
de sofrimento psíquico. Autores apontam que é difícil separar dor de sofrimento, pois 
esses sentimentos estão interligados, assim como a mente e o corpo humano.
A diferença básica está no caráter pessoal da dor e no aspecto coletivo do sofrimento, e eles se 
entrelaçam e se encenam no processo do adoecimento. É preciso que o profissional de saúde saiba 
reconhecer e manejar o sofrimento de forma suportável para todos, pensando em saúde e em 
qualidade de vida. 
No capítulo O processo da doença e o sofrimento psíquico, da obra Psicologia aplicada ao cuidado, 
você vai verificar as diferenças entre dor, no adoecer, e sofrimento, além de estudar como os 
profissionais de saúde podem enfrentar as manifestações desses sofrimentos relacionados ao 
adoecer, apresentados pelo paciente e pela família, principalmente, durante a hospitalização.
Boa leitura.
PSICOLOGIA 
APLICADA AO 
CUIDADO
Fernanda Egger Barbosa
O processo da doença e 
o sofrimento psíquico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Relacionar adoecimento e sofrimento psíquico.
 � Explicar os principais aspectos psicológicos mobilizados em relação 
à dor, à morte e à perda no contexto da doença. 
 � Descrever a perda e o luto a partir da história de vida e de adoecimento 
do indivíduo.
Introdução
O adoecimento e o sofrimento psíquico são conceitos científica e etiolo-
gicamente distintos, porém difíceis de separar, visto que mente e corpo 
estão tão interligados que a dor física e o adoecimento influenciam no 
sofrimento psíquico, e vice-versa. A dor está mais balizada nos processos 
fisiológicos, ao passo que o sofrimento psíquico está balizado na represen-
tação de algo que não nos deixa desequilibrados. Talvez o adoecimento 
seja a ponte observável entre os dois aspectos humanos.
Apesar de o adoecimento ter sua história de cuidado mais privativa 
e familiar na Antiguidade, na Modernidade, costuma-se entregar esse 
cuidado às instituições de saúde, principalmente quando a enfermidade 
exige um tratamento mediante intervenção hospitalar. Assim, a questão 
da morte também migra com o doente para os hospitais.
Neste capítulo, você conhecerá algumas diferenças e implicações 
entre o adoecimento e o sofrimento. Além disso, verá algumas pesquisas 
e experiências na atuação de profissionais de saúde sobre os aspectos 
psicológicos que envolvem a dor, a morte e a perda no contexto de tra-
tamento das doenças. Por fim, verá exemplos de histórias que ressaltam 
a vida e o adoecimento para as famílias, os indivíduos e os profissionais 
de saúde.
1 O adoecimento e o sofrimento
De acordo com diversos autores das áreas de ciência e saúde (CRUZ; PEREIRA 
JÚNIOR, 2011; DUARTE, 1998; HELMAN, 2006), a dicotomia filosófica 
mente-corpo, amparada pelo discurso médico tradicional e hegemônico, há 
muito se vê buscando ser superada. Na concepção contemporânea, pode-se 
dizer que o adoecimento e o sofrimento andam sempre de mãos dadas.
Adoecer a partir de uma enfermidade orgânica costuma desestruturar a 
dinâmica afetiva e produtiva do sujeito em todas as instâncias de sua vida, 
promovendo, na maior parte das vezes, sofrimento e pesar. Girardon-Perlini 
e Ângelo (2017) afirmam que o adoecimento com diagnóstico de câncer, por 
exemplo, acaba por trazer à tona alterações ao funcionamento familiar, seja 
pela trajetória da doença, por repercussões físicas, enfrentamento da finitude, 
seja pelas fantasias e mitos que remetem à pessoa doente e ao seu tratamento. 
O contrário também se aplica à dinâmica corpo-mente, quando uma carga 
muito intensa de sofrimento psíquico se converte em fenômenos dolorosos que 
se inscrevem no corpo como uma doença. Estudiosos em psicologia, psicaná-
lise, psiquiatria, psicossomática, psicopatologia e neurociência debruçaram-se 
em suas pesquisas sobre esses fenômenos.
Apesar de a doença acompanhar a espécie humana desde os primórdiosda 
humanidade, a maioria dos indivíduos em sociedade não deseja adoecer ou 
sentir dor (SCLIAR, 2007). Segundo Alves Neto (2009), no mundo primitivo, 
a dor e o inimigo eram vistos com o mesmo temor, pois vinham de fora e 
atacavam a pessoa como uma força mágica. De acordo com Helman (2006), 
a dor é inseparável da vida diária e um dos sintomas mais comuns da prática 
clínica da medicina, sendo considerada mais do que um efeito neurofisiológico, 
estando relacionada a aspectos psicológicos e sociais.
Para Brant e Minayo (2004), do ponto de vista conceitual, sofrimento e dor 
não se confundem, mas também não se distinguem com facilidade. Fruto de 
uma visão dicotômica (mente-corpo), a palavra sofrimento tem sido associada 
ao psíquico, ao mental ou à alma, ao passo que a palavra dor geralmente é 
associada a algo localizado no corpo, sintoma de uma doença. A dor parece 
estar marcada por um solipsismo (i.e., é solitária e individual), algo que não 
pode ser reproduzido e expresso tal como um sujeito o sente, não pode ser 
compartilhado. Portanto, a dor não implicaria a dimensão da alteridade, re-
flexividade e linguagem, como ocorre no sofrimento.
O processo da doença e o sofrimento psíquico2
Já para Helman (2006), o próprio corpo ganha representação, sendo mais 
do que um organismo físico que oscila entre a saúde e a doença, e a imagem 
corporal tem sido utilizada para descrever todas as formas pelas quais um 
sujeito conceitualiza e experimenta o próprio corpo e a dor. Não há como 
negar que a dor e o adoecimento físico alteram a dinâmica afetiva dos sujeitos 
e podem influenciar os aspectos psicológicos, como atenção, pensamento, 
humor e sentimentos. Assim, de acordo com Brant e Minayo (2004), existem 
diversas maneiras de se experimentar e manifestar o sofrimento, como por 
meio de fala, sonhos, corpo, atos e trabalho. Desde que expresso, o sofrimento 
recebe diferentes significações e destinos no presente e ao longo da história, 
sempre exigindo do homem uma explicação lógica, principalmente quanto 
maior for a estranheza que provoca na comunidade.
Para Freud (1920 apud BRANT; MINAYO, 2004), o sofrimento é o estado 
de expectativa diante do perigo, ainda que desconhecido, e da preparação para 
enfrentá-lo, gerando angústia. Ele pode ser medo, quando é conhecido, ou susto, 
quando o sujeito topa com um perigo sem estar preparado para enfrentá-lo. 
Portanto, o sofrimento se configura como uma reação, uma manifestação da 
insistência em viver em um ambiente que, na maioria das vezes, não lhe é 
favorável. 
Brant e Minayo (2004) salientam a importância de reconhecer que o so-
frimento não tem uma manifestação única para todos os indivíduos. O que é 
sofrimento para um, pode não ser para o outro, ou pode ser sofrimento para 
um e prazer para outro, ou, ainda, uma mesclagem de prazer e dor de forma 
simultânea, mesmo quando os sujeitos foram submetidos às mesmas condições 
ambientais adversas. Assim, reforçando o conceito, o sofrimento depende da 
significação que assume no tempo e no espaço, bem como no corpo que ele 
toca, produzindo algo que foge, que escapa ao “além do princípio do prazer” 
da concepção freudiana. 
Segundo Dunker (2004), o sofrimento psíquico tem sido estudado sob 
diversas formas pela psicanálise, como: sintomas, inibições, angústias, dis-
túrbios de caráter, compulsões à repetição, entre outras. O sofrimento possui 
características de investigação no setting analítico que não podem ser total-
mente reproduzidas em diversas instituições de saúde, mas existem formas 
de enfrentá-lo na prática profissional nos espaços destinados à saúde.
3O processo da doença e o sofrimento psíquico
O adoecimento como desencadeador de transtornos mentais também é uma 
preocupação para a Organização Mundial de Saúde (OMS). Viapiana, Gomes 
e Albuquerque (2018) afirmam que, segundo dados da OMS, os transtornos 
mentais são agravos de saúde altamente prevalentes na sociedade atual, e 
transtornos como depressão, abuso de álcool, transtorno bipolar e esquizofrenia 
se encontram entre as 20 principais causas de incapacidade para o trabalho 
e a qualidade de vida. Atualmente, estima-se que a depressão afeta cerca de 
350 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a principal causa de inca-
pacitação dos indivíduos quando se considera o total de anos perdidos (8,3% 
dos anos para homens e 13,4% para mulheres).
Apesar das estatísticas apontadas por Viapiana, Gomes e Albuquerque 
(2018), cuja principal reivindicação é maior disponibilidade de serviços de 
assistência aos sujeitos em sofrimento, a gravidade desse quadro tem tido 
pouco destaque, fazendo a relação entre sofrimento e adoecimento psíquico e 
as condições de vida, em especial para o trabalho, ter pouca visibilidade. Isso 
se deve, principalmente ao predomínio da racionalidade biomédica, a partir 
de meados do século XX, como principal guia orientador dos conhecimentos 
e práticas relacionados ao sofrimento psíquico.
Para os autores, para que haja a compreensão do sofrimento psíquico, 
é fundamental que se entenda a produção social ou os processos pelos quais 
as relações sociais, históricas e culturais incluem e subordinam o sofrimento 
biológico. Desde a criação da psicanálise, mais e mais estudos se orientam 
para entender e tratar esse tipo de fenômeno (VIAPIANA; GOMES; ALBU-
QUERQUE, 2018). 
Para Cruz e Pereira Júnior (2011, p. 50), Freud (1835–1930) debruçou-se 
por muitos anos nos estudos sobre o fenômeno da histeria, declarando, logo no 
início de seus trabalhos, que “[...] a histeria se comporta como se a anatomia 
não existisse, ou como se não tivesse conhecimento desta [...]”, referindo-se 
ao fato de não encontrar lesões orgânicas nos sintomas histéricos. Segundo 
os autores, apesar de Freud não ter se aprofundado nas questões que mais 
tarde serão classificadas como psicossomáticas, ele percebeu a relevância 
dos aspectos psíquicos em manifestações somáticas, fornecendo bases para 
se pensar os fenômenos em interação psico–soma. 
De acordo com o conceito defendido por Marty (1998 apud CRUZ; 
PEREIRA JÚNIOR, 2011), a somatização surgiria em decorrência de estru-
turas psíquicas deficitárias na capacidade de elaboração simbólica. Assim, 
o sintoma ocorreria pela ausência de sentido, em virtude da incapacidade do 
psiquismo de lidar com o distúrbio. Em oposição a Marty, Dejour (1998 apud 
CRUZ; PEREIRA JÚNIOR, 2011) atribui ao sintoma somático um caráter 
O processo da doença e o sofrimento psíquico4
de intencionalidade expressiva, em que o sintoma ocorreria porque a captura 
libidinal não pôde ser feita e transformada em um “agir expressivo” dirigido 
ao outro. Cruz e Pereira Júnior (2011) contrapõem essa vertente psicossomática 
dos estudos do sofrimento humano com ideias oriundas da neurofisiologia e 
estudos sobre a influência da emoção e da cognição humanas nos processos 
somáticos.
Sobre os conceitos de emoção e cognição como influenciadores do sofrimento psi-
cossomático para a corrente neurocientífica, destacamos um trecho do texto de Cruz 
e Pereira Júnior (2011, p. 60–61):
Damásio (1996) compreende a emoção como a combinação de um processo 
mental de avaliação, simples ou complexo, com respostas dispositivas a esse 
processo, em sua maioria dirigidas ao corpo propriamente dito, resultando 
num estado emocional do corpo, mas também dirigidas ao próprio cérebro 
(núcleos neurotransmissores no tronco cerebral), resultando em alterações 
mentais adicionais. Em outras palavras, a emoção é simplesmente um conjunto 
de mudanças no estado corporal associado a imagens mentais específicas 
(pensamentos) que ativaram sistemas específicos no cérebro. Ele distingue 
emoções primárias e secundárias, sendo as primárias consideradas inatas, 
pré-organizadas e não específicas, ou seja, que podem ser causadas por um 
grande número de seres, objetos e circunstâncias (ex: medo, raiva, amor). As 
emoções secundárias provêm de representações dispositivas adquiridas e não 
inatas, que incorporam a experiência única doindivíduo ao longo da vida. 
As emoções primárias dependem da rede de circuitos do sistema límbico, 
especialmente da amígdala e do cíngulo, enquanto as secundárias envolvem 
processamentos nos córtices frontais, embora os estímulos possam ainda 
atuar diretamente no sistema límbico. Na experiência da emoção, o corpo 
passa por mudanças significativas e é levado a um novo estado. O processo 
inicia-se com uma avaliação cognitiva do acontecimento, que invoca imagens 
cerebrais verbais e não verbais. Num nível não consciente, redes no córtex 
pré-frontal reagem automática e involuntariamente aos sinais resultantes do 
processamento de tais imagens. Essa resposta pré-frontal provém de repre-
sentações dispositivas que incorporam informações relativas à forma como 
determinados tipos de situações têm sido habitualmente combinados com 
certas respostas emocionais na experiência do indivíduo. Ainda de forma não 
consciente, automática e involuntária, a resposta das disposições pré-frontais 
é assinalada à amígdala e ao cíngulo anterior. As disposições nessas últimas 
regiões respondem: a) ativando os núcleos do sistema nervoso autônomo 
e enviando os sinais ao corpo por meio dos nervos periféricos; b) enviando 
5O processo da doença e o sofrimento psíquico
sinais ao sistema motor, de modo que a musculatura esquelética complete 
o quadro externo de uma emoção por meio de expressões faciais e posturas 
corporais; c) ativando os sistemas endócrino e peptídico, cujas ações químicas 
resultam em mudanças no estado do corpo e do cérebro; e d) ativando, com 
padrões especiais, os núcleos neurotransmissores não específicos no tronco 
cerebral e prosencéfalo basal, os quais liberam então as mensagens químicas 
em diversas regiões do telencéfalo (ex: gânglios basais e córtex cerebral). 
Então, segundo a psicanálise, o sofrimento psíquico, a psicossomática e 
a psicopatologia ganham expressão por meio do adoecimento, expresso no 
corpo físico, quando a expressão pela palavra não pode ser por algum motivo 
realizada. Essa característica não é genérica, pois difere de um indivíduo para 
outro. O atendimento e o cuidado em saúde devem levar em consideração 
que, para transformar essa expressão que atua no corpo em uma expressão de 
forma diferente, de preferência pela palavra, é preciso ser feito um trabalho 
que envolva o conhecimento da dinâmica psíquica.
Mas quando os processos somáticos influenciam o psiquismo humano? 
Sempre, poderíamos afirmar. Assim como a mente é capaz de transformar 
o corpo doente, a doença é capaz de transformar o psiquismo, produzindo 
reações, aspectos e comportamentos psicofísicos que remetem a uma doença 
psíquica ou mental. Na atualidade, isso ocorre com mais frequência nos espaços 
públicos de cuidado em saúde, uma vez que as pessoas deixaram de adoecer 
e ser cuidadas dentro de casa para serem tratadas de sua enfermidade nas 
instituições de saúde, principalmente em casos que exigem uma intervenção 
mais especializada nos hospitais. 
Barreira (1999) afirma que a clínica em hospital geral está constituída 
em um espaço em que se privilegia a dor e o corpo biológico. O psicólogo 
do hospital, ao considerar que algo de ordem circunstancial pode interferir 
no corpo biológico ou que um corpo debilitado pode acarretar uma série de 
pensamentos sobre a memória do que foi e sobre o que é a vida do sujeito, passa 
a fazer parte de um novo campo de atuação para a prática psicológica. Então, 
passa-se a verificar no contexto hospitalar as representações das dinâmicas 
afetivas e os aspectos cognitivos das pessoas que atuam sobre o adoecer, sendo 
elas pacientes, familiares, médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, 
amigos, vizinhos ou pessoal da nutrição e limpeza, e como elas lidam com 
as dores, as perdas e a morte no contexto do adoecimento.
O processo da doença e o sofrimento psíquico6
2 Dores, perdas e morte no contexto da doença
Em decorrência de fatores histórico-sociais, pode-se afirmar que falar sobre 
as dinâmicas afetivas e os aspectos cognitivos das pessoas que atuam sobre o 
adoecer, considerando aqui o doente, a família e os profissionais do cuidado, e 
como elas lidam com as dores, as perdas e a morte é falar em hospitalização.
De acordo com Brant e Minayo (2004), a partir da introjeção da ordem 
médica no controle social, as práticas curativas familiares foram sendo des-
qualificadas, e cada vez mais a família se viu obrigada a solicitar atenção 
médica por se perceber impotente diante das manifestações do sofrimento, 
que foram, imediatamente, representadas como sinais de doença.
Sartor (2017) afirma que os cuidados para com a saúde e o corpo já existiam 
nos primórdios da existência humana, quando a assistência era oferecida no 
contexto familiar, mas não se tinha o médico como referência nem como de-
tentor do poder e saber. Na modernidade, o hospital tornou-se o lugar de busca 
pela cura do paciente, porém, no espaço do discurso médico por excelência, 
sua preocupação sempre esteve centrada na doença, e não no próprio sujeito 
portador da enfermidade. Hoje, ele é palco constante de representações da dor, 
das expressões de sentimentos e emoções diante da perda e da proximidade da 
morte e elaboração de reflexão de valores, crenças, hábitos, posicionamentos 
frente ao viver, envolvendo seus diversos atores ou agentes: os pacientes, os 
familiares e toda a equipe de saúde.
Sartor (2017) defende que a hospitalização traz questões significantes 
quanto à produção dos sentidos sobre o sofrer, o desamparo e o mal-estar que 
é causado no sujeito pelo processo de adoecimento. O autor ainda defende que, 
no hospital, o sujeito sofre um processo de despersonalização, em que surge 
a impressão de que ele é estranho a si mesmo, podendo apresentar-se passivo 
até mesmo frente aos novos fatos e perspectivas existenciais, além de poder 
reformular seus valores e conceitos em relação interpessoal, pois, por meio 
do discurso médico, deixa de ter significado próprio para significar a partir 
de diagnósticos realizados sobre sua patologia.
Para Costa, Mombelli e Marcon (2009), o surgimento da doença e a hos-
pitalização constituem quase sempre fatores desestruturantes para a família. 
O adoecimento pode ser considerado uma ameaça não só à criança, mas 
também à família, assumindo proporções equivalentes à gravidade da doença. 
A família, então, defronta-se com duas tarefas: cuidar da criança doente e lidar 
com as emoções, na maioria das vezes inconscientes, que passam a transformar 
as relações entre seus membros. A doença interrompe a forma habitual de 
vida, configurando um estado de crise, agravado por algumas características 
7O processo da doença e o sofrimento psíquico
específicas determinadas pela hospitalização, com suas intricadas relações 
e com as reações dos agentes envolvidos. Portanto, faz-se necessária uma 
intervenção a partir do reconhecimento precoce e do manejo eficiente desse 
sofrimento.
As pesquisas de Milanesi et al. (2006) e Viapiana, Gomes e Albuquerque 
(2018) apontam algumas características psicológicas que se manifestam no 
contexto do adoecimento e da hospitalização. Milanesi et al. (2006) defendem, 
em sua pesquisa com mães acompanhantes de filhos hospitalizados, que o 
hospital é um ambiente onde se estabelecem relações com características 
peculiares, podendo gerar sentimentos, atitudes e comportamentos específicos, 
dependendo da maneira como cada pessoa e família enfrenta as situações 
do cotidiano. Os autores afirmam que, ao adentrar no ambiente hospitalar, 
a família apresenta problemas emocionais decorrentes do próprio ambiente e 
sua dinâmica de trabalho, aliado ao fato de ter de conviver com a doença do 
filho. Dessa forma, eles perceberam que a forma de organização do trabalho 
no hospital pode desencadear sofrimento psíquico nos familiares das crianças 
hospitalizadas. Quando o hospital não possibilita à família vias de descarga 
desse sofrimento, ela acaba por desenvolver alguns mecanismos de defesa 
para amenizaresse sofrimento.
Viapiana, Gomes e Albuquerque (2018) afirmam que as condições de 
saúde-doença dos indivíduos se desenvolvem a partir de “processos críticos”, 
que podem produzir comportamentos benéficos e saudáveis ou destrutivos e 
insalubres em relação à saúde, considerando a vida, o trabalho, o consumo, o 
cotidiano político e ideológico e as relações com o ambiente. Ou seja, esses 
aspectos psicológicos de defesa podem tornar-se protetores ou destrutivos 
de acordo com as condições históricas em que ocorrem. A hospitalização 
geralmente propicia o aparecimento desses “processos críticos”.
Pode-se pensar nessa dualidade dos aspectos protetores ou destrutivos da 
psique humana também em relação à representação que o profissional de saúde 
adquire para o enfermo. Segundo Sebastiani e Maia (2005), há uma ambigui-
dade na forma como os pacientes veem os médicos, calcada em uma concepção 
tradicional, como um “descendente dos feiticeiros e curandeiros”. Assim, o 
paciente acredita que o médico irá se encarregar da doença e vencê-la, porém 
esse lado mágico leva o paciente a enxergar o médico com reserva, prudência e 
desconfiança. O temor e o respeito perante o médico estão, consequentemente, 
associados ao homem mau e ao salvador, não raro determinante de muitas 
relações entre cirurgião-paciente. Para o enfermo, esse profissional tem acesso 
aos segredos da vida, da morte, do corpo e até do sexo. Assim, nas pesquisas 
realizadas pelos autores entre 2002 e 2003, ficou evidente a diferença entre 
O processo da doença e o sofrimento psíquico8
a forma de interpretar o processo cirúrgico e a relação cirurgião-paciente 
para cada um desses atores. Enquanto os médicos apresentaram respostas 
mais racionais/técnicas, os pacientes apresentaram respostas classificadas em 
um eixo emocional/afetivo. Todavia, embora constatado o envolvimento de 
um com o outro no processo do tratamento/cirurgia, eles não eram capazes 
efetivamente de se comunicarem.
Helman (2006) já havia apontado para essa diferença entre os saberes 
do médico e do paciente, ressaltando que o processo do adoecer envolve 
experiências subjetivas e que, para o tratamento, deve haver um consenso 
entre todos os envolvidos. Sebastiani e Maia (2005) defendem a presença de 
outros profissionais de saúde para o trabalho de forma integrada no cuidado, 
principalmente o papel do psicólogo na identificação de aspectos psicológicos, 
como medos, dúvidas, expectativas do paciente, facilitando, assim, a comu-
nicação deste e da família com toda a equipe, além de estabelecer estratégias 
de cuidado com aqueles que cuidam, identificando situações potencialmente 
patogênicas. Assim, para os autores, o psicólogo da saúde trabalha:
[...] criando programas e estratégias preventivas e terapêuticas que auxiliem 
no resgate da qualidade de vida, procurando assim contribuir na otimização 
dos recursos humanos em saúde, mas não descuidando do “humano” destes 
recursos, partindo de um pressuposto simples, mas importante que defende a 
ideia de que “não pode dar-se o que não se tem” [...] (SEBASTIANI; MAIA, 
2005, p. 53).
Neste caminho do apoio dos profissionais de saúde com os aspectos psico-
lógicos dos pacientes e familiares para lidar com o sofrimento desencadeado 
pelas dinâmicas de internação, Milanesi et al., (2006) apontam, em sua pes-
quisa, que estabelecer uma relação de confiança e respeito entre a família e os 
profissionais representa a possibilidade de transformar o ambiente hospitalar 
em um local de menos sofrimento tanto para a criança quanto para a família 
e para os próprios trabalhadores. Valorizar a confiança significa que a equipe 
deve saber identificar os sentimentos de insegurança, medo, cansaço, irritação, 
enfim, os sentimentos decorrentes do sofrimento e os comportamentos que 
os caracterizam.
Segundo Helman (2006), nem todos os grupos sociais respondem à dor 
da mesma maneira. A forma de expressão de uma dor individual pode ser 
influenciada pelo grupo social ou cultural do qual o sujeito faz parte, e a 
comunicação dessa dor aos profissionais de saúde, por exemplo, também é 
influenciada por esses fatores socioculturais.
9O processo da doença e o sofrimento psíquico
Apesar de a dor ser uma reação biológica universal a um tipo específico 
de estímulo, ela pode ser representada por duas formas de reação: uma reação 
involuntária (instintiva), produzindo o afastamento do objeto que a provoca; ou 
uma reação voluntária, de forma autônoma ou por solicitação da ajuda de outra 
pessoa (HELMAN, 2006). Assim, o sujeito que se vê diante de um estímulo 
que provoque dor pode se afastar, tomar um remédio para que a dor melhore 
ou, ainda, pedir ajuda a uma pessoa próxima para fazer com que a dor cesse. 
Os pacientes em um leito hospitalar encontram-se diante da dor e do 
adoecimento. Os procedimentos médicos, diagnósticos e o tratamento são 
encaminhados, mas a forma como o paciente e a família os recebem difere 
de acordo com seus contextos de estruturação psíquica, históricos e culturais.
Existem várias formas de se pensar a dor. No Ocidente e no Oriente, por exemplo, a dor 
é encarada de formas bem diferentes. Para saber mais sobre a dor e a cultura, procure 
pelo capítulo 7 — “Dor e cultura” — do livro Cultura, saúde e doença, de Helman (2006).
Para Barreira (1999), o objetivo da prática em psicologia hospitalar junto 
ao adoecimento do sujeito é reconhecer que o sofrimento do corpo é atra-
vessado por outra dimensão, esta bastante singular para aquele que sofre. 
Por isso, sustenta-se que o corpo enfermo precisa ser ouvido, mantendo-se, 
simultaneamente, as especificidades institucionais. 
Sartor (2017) afirma que o adoecer é um exemplo real da descontinuação 
de vida supostamente perfeita e autônoma, à qual o indivíduo, geralmente de 
maneira involuntária, é submetido, e sua confrontação ocorre de forma dura. 
O autor apresenta, ainda, uma forma genérica de enxergar essa situação. 
Quando o indivíduo se percebe diante do adoecimento, quando esse corpo 
primoroso e ideal se depara com a realidade do corpo doente, ele costuma 
manifestar elementos de resistência e renúncia. Além disso, Sartor (2017) lem-
bra que o ambiente hospitalar é um contexto no qual se confrontam, de forma 
ambivalente e paradoxal, sentimentos como vida e morte, cura e sofrimento, 
qualidade de vida plena e limitada, alegrias e tristezas. O autor aponta, ainda, 
que os sentimentos dolorosos muitas vezes provêm da forma como as pessoas 
são tratadas no ambiente hospitalar, que pode ocasionar descontentamento e 
gerar depressão e estresse, piorando o quadro patológico.
O processo da doença e o sofrimento psíquico10
Para Sebastiani e Maia (2005), apesar do avanço tecnológico das cirurgias 
e anestesias, o paciente cirúrgico nunca se sente totalmente seguro, pois esse 
procedimento costuma gerar intenso desconforto emocional. O indivíduo 
se vê diante de um futuro incerto, manifestando sentimento de impotência, 
isolamento, medo da morte, da dor, da mutilação, de ficar incapacitado na 
sua imagem corporal. Assim, diante da necessidade de realizar uma cirurgia, 
o paciente sente ameaçada a sua integridade física e psicológica, e, quanto 
maior o estresse e a tensão vividos pela pessoa, maiores as dificuldades de 
enfrentar, superar ou administrar os limites que a cirurgia lhe impõe.
Assim, além do aspecto da dor e do tratamento do adoecimento, outras 
questões podem aparecer no contexto hospitalar, como a perspectiva da perda 
das condições de vida para o trabalho, ou da perda para o familiar com relação 
aos vínculos e hábitos presentes antes da hospitalização, ou mesmo da perda 
diante da possibilidade da morte.
Brant e Minayo (2004) consideram que o homem, ao perceber a sua fini-
tude, sofre não só psiquicamente, mas também existencialmente. A memória 
(enquanto aspecto psicológico) do sofrimento é o elemento capaz de mover o 
ser na preservação da sua vida, implicando-o com o seu sofrimento e podendo 
despertar o interesse de preservar o seu futuro,o que o difere do animal. Esse 
processo é balizado pela capacidade de linguagem. Os autores defendem que 
só a linguagem pode nos fazer acreditar em algo do outro como familiar, 
natural ou, pelo contrário, repudiá-lo como estranho, antinatural e ameaçador.
Segundo Sartor (2017), quando o sujeito se depara com a doença, ele abre 
margem para a reflexão sobre como conduzia sua vida, podendo ocorrer, então, 
um processo de ressignificação. Sob certos aspectos, a doença vem como um 
sinal de alerta para a reflexão do seu modo de ser e viver, que pode não estar 
sendo compatível com suas possibilidades.
Para Barreira (1999), o hospital não é apenas considerado o lugar de do-
enças e tratamento, mas também um lugar em que a morte se faz presente. 
Uma doença, mesmo que não seja grave, pode colocar o sujeito diante de sua 
própria finitude. Existe um impacto causado pela confrontação com a própria 
transitoriedade, que pode vir a resultar na antecipação de um quadro orgânico 
ainda não consumado, o qual pode ser visto nas desistências prematuras do 
tratamento.
11O processo da doença e o sofrimento psíquico
Iniciativas acadêmicas voltadas para graduação e pós-graduação nas universidades 
propõem estratégias diversificadas e criativas para que os profissionais das áreas de 
psicologia, enfermagem, serviço social, medicina e hospitalar possam refletir sobre os 
dilemas relacionados ao corpo, à morte e ao adoecimento psíquico, além de outros 
assuntos pertinentes à área da saúde, por meio de oficinas, palestras, apresentação 
e discussão de filmes. A Universidade Federal Fluminense, por exemplo, apresenta a 
proposta do Laboratório Confins, em parceria com o programa de extensão permanente 
Serviço de Psicologia da Área Cirúrgica do Hospital Universitário Antônio Pedro, aberto 
a profissionais de psicologia e áreas afins. Para mais informações sobre essa proposta 
de formação em caráter de extensão universitária, procure pelo artigo “Os confins da 
psicanálise em tela: a mulher, o corpo, o amor e a morte” (SILVA, 2016).
Spíndola e Macedo (1994) explicam que, de modo geral, as sociedades 
desenvolveram costumes ou rituais de como conviver com a morte. Segundo 
Morin (1970), a crença na imortalidade e na reencarnação, por exemplo, é uma 
forma de enfrentamento da finitude. No entanto, segundo a transformação da 
matéria viva descrita por Barreira (1999), a morte não possui representante 
psíquico, pois essa ideia vai transitar dentro de um conjunto de símbolos, 
vivenciado segundo a história de vida de cada um.
Nessa vertente, o papel do psicólogo é encontrar uma forma possível de 
viver junto ao paciente, à família e aos demais profissionais de saúde sem que 
a morte seja antecipada. Para Barreira (1999), enquanto o sujeito puder falar, 
é preciso escutá-lo, pois, assim, a vida persiste.
3 Luto: histórias de vida, adoecimento e morte
A seguir, são expostas algumas histórias de pacientes e equipes de saúde que, 
na sua prática, se deparam, no processo de adoecimento, com questões que 
perpassam a vida e o enfrentamento da morte.
Segundo Spíndola e Macedo (1994), em um passado recente, o homem 
enfrentava a morte quase sempre em casa, junto aos seus familiares e amigos, 
recebendo carinho, atenção e tendo seus últimos desejos atendidos. Na atua-
O processo da doença e o sofrimento psíquico12
lidade, o homem morre no hospital cercado de estranhos, de pessoas com as 
quais supostamente não tem afinidade. A relação dos médicos com a morte, 
na maioria das vezes, é impessoal, fria e objetiva, em função de sua caracte-
rística profissional. O enfermeiro e os demais profissionais de enfermagem 
desempenham um importante papel junto aos pacientes hospitalizados e, em 
virtude de conviverem um período maior com eles, geralmente iniciam os 
cuidados aos pacientes com fortes sentimentos, mantendo as emoções durante 
o decurso da doença. No entanto, com o chegar da morte, veem-se impelidos 
a conter-se, demonstrando fortaleza de ânimo. 
Não há como evitar esse mecanismo de defesa característico de cada 
profissão que atua frente à expectativa da morte. Afastar-se faz os profissio-
nais não serem influenciados pelo luto ou pela angústia em suas práticas de 
trabalho. Milani et al., (2012) realizaram uma pesquisa com mulheres que 
sofrem de fibromialgia, as quais apresentaram trajetórias de dor e sofrimento 
psíquico e receberam apoio no enfrentamento dessa doença que pode ser mal 
compreendida desde o seu início. 
Costa, Mambelli e Marcon (2009) e Milanesi et al., (2006) focam suas 
pesquisas no sofrimento da mãe e da família no tratamento dos filhos hospi-
talizados e em como os profissionais lidam com esse sofrimento no cotidiano 
do trabalho. Já Monteiro (2012) trata do sofrimento psíquico da equipe diante 
do trabalho com pacientes terminais.
Dor e sofrimento psíquico acompanham 
o paciente fibromiálgico
Segundo Milani et al., (2012), a fibromialgia é uma doença crônica não in-
flamatória, caracterizada por dores musculoesqueléticas difusas, com pre-
sença de tender points (pontos dolorosos em determinadas regiões do corpo). 
Os autores realizaram um trabalho com um grupo de mulheres que sofrem 
dessa síndrome, descrevendo sintomas, características da dor psíquica e a 
aceitação da doença. No estudo qualitativo, participaram 10 mulheres na faixa 
de 21 a 65 anos com fibromialgia, as quais responderam a um questionário 
semiestruturado (Quadro 1). Verificou-se que as pacientes necessitavam, além 
do tratamento com remédio, de apoio psicológico para desenvolver recursos 
adaptativos para uma vida saudável.
13O processo da doença e o sofrimento psíquico
Fonte: Adaptado de Milani et al., (2018).
Entrevistadas Idade Estado civil Tempo até o diagnóstico
E1 21 Solteira 13 anos
E2 42 Casada 3 anos
E3 45 Viúva 10 anos
E4 65 Viúva 5 anos
E5 51 Casada 17 anos
E6 49 Casada 3 anos
E7 47 Casada 7 anos
E8 43 Casada 8 anos
E9 54 Divorciada 2 anos
E10 50 Casada 16 anos
Quadro 1. Caracterização das mulheres entrevistadas, especificando idade, estado civil e 
tempo desde os primeiros sintomas até o diagnóstico
Vale lembrar que a dor “[...] é uma parte integrante da vida e tem a função 
de proteger a integridade física da pessoa. É um sintoma complexo, individual 
e subjetivo. Envolve aspectos sensitivos, emocionais e culturais que só podem 
ser compartilhados a partir do relato de quem a sente [...]” (MILANI et al., 
2012, p. 57).
Um dos resultados encontrados nesse trabalho, dividido em quatro catego-
rias de análise, tem relação com as limitações da qualidade de vida impostas 
pela síndrome da fibromialgia. Foram relatados como limitadores: dor e rigidez 
dos músculos e das articulações, fadiga, irritabilidade, enxaqueca, distúrbios 
intestinais, pernas inquietas, distúrbios do sono, ansiedade, boca seca, de-
pressão, disfunção na articulação temporomandibular, vertigens, inchaços, 
distúrbios cognitivos, dormência e formigamentos nos membros, impondo às 
pacientes limitações funcionais. Nos depoimentos, são encontradas falas que 
indicam que a pessoa com fibromialgia evita andar de moto e frequentar lugares 
cheios, como parques, festas, academias, praticar esportes, como hipismo e 
rapel, bem como viajar e fazer crochê, coisas que a pessoa gostava e sentia 
prazer em fazer, mas prejudicam até o trabalho (perda de força e desânimo).
O processo da doença e o sofrimento psíquico14
Outro eixo encontrado nos resultados deflagrou uma situação de peregrina-
ção na busca de diagnóstico, pois os pacientes perambulam de um especialista 
a outro fazendo exames inconclusivos. Os especialistas consultados vão desde 
ortopedistas, neurologistas até oncologistas. Dúvidas de diagnóstico, incerteza 
e gastos excessivos são falas comuns encontradas nessa peregrinação. A 
incerteza do diagnóstico gera medo relacionado a perdas de capacidade e ao 
enfrentamento do risco de morte eminente. O sofrimento pode ser destacado na 
fala a seguir: “A peregrinação de médico em médico era um sofrimento, pois 
no próximoespecialista que eu me consultava, eu imaginava que ali estaria 
a solução para tanta dor [...]” (MILANI et al., 2012, p. 61).
Também foram encontrados resultados no diz respeito ao sofrimento psí-
quico e à incompreensão das pessoas à volta dessas pacientes. Como a dor é 
subjetiva e não pode ser medida, mas tem efeitos devastadores para a pessoa, 
os quais não são compreendidos, somam-se na experiência das entrevistadas 
vergonha, medo de desmaiar de dor, ser motivo de pena, de dependência dos 
outros, de responder infinitamente aos interrogatórios: “Fico de cama e a 
família tem que me ajudar até a tomar banho, [...] ninguém tem sossego [...], 
a gente pensa até em acabar com a vida; já me chamaram de Condor, Maria 
das Dor, a gente começa a ser motivo de piada da família [...]” (MILANI et 
al., 2012, p. 61).
 Outra característica encontrada na pesquisa se refere ao processo de 
enlutamento na perda da saúde, que gera apego a crenças e sentimentos de 
irritação, revolta, agressividade, choros frequentes, angústia, ansiedade e 
depressão: “Choro e vou para cama, fico quietinha no meu canto, menos 
conversa é melhor para mim [...]” (MILANI et al., 2012, p. 62).
Assim, Milani et al., (2012) concluem que, na trajetória de vida dessas 
pacientes com fibromialgia, surgem questões existenciais — parecidas com o 
que apontaram Brant e Minayo (2004) sobre o ser humano diante da morte —, 
pois a perda da saúde e a incógnita relacionada à precisão diagnóstica dessa 
síndrome leva a um sentimento de impotência, gerando, além da dor crônica, 
sofrimento psíquico. Os autores defendem que entender e aceitar a condição 
de doente crônico faz o paciente aceitar pelo menos a ajuda dos profissionais 
de saúde que estejam comprometidos com o bem-estar do ser humano, pois, 
apesar da aparência saudável, o sofrimento é real e abala a estrutura emo-
cional. Por isso, além do tratamento com medicamentos, o acompanhamento 
psicológico é essencial.
15O processo da doença e o sofrimento psíquico
Histórias familiares de sofrimento dos filhos
Apreender os sentimentos vividos pela mãe que acompanha um filho internado 
e identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas por ela para lidar 
com essa realidade é tema de estudos para Costa, Monbelli e Marcon (2009), 
assim como para Milanesi et al. (2006). Os primeiros defendem que o mundo 
hospitalar é bem diferente do familiar, visto que, além de ter de conviver com 
a doença, a criança e a família precisam se adaptar a esse ambiente cheio de 
pessoas e processos de trabalho e organização peculiares. O enfrentamento 
dessa mudança pode abrir espaço para uma crise e a vivência de uma de-
sorganização da dinâmica familiar no decorrer do processo de internação e 
tratamento. Partindo desse mesmo pressuposto, o estudo de Milanesi et al., 
(2006) afirma que, para identificar os aspectos que desencadeiam o sofrimento 
psíquico decorrente da situação da internação, deve-se ter em mente a assis-
tência ampliada e a integralidade das ações. 
Na pesquisa de Milanesi et al., (2006), participaram oito familiares de 
crianças hospitalizadas (um pai e demais mães), com crianças que tiveram 
de 1 a 3 internações e permaneceram na última de 5 a 23 dias no hospital. 
Identificou-se quatro eixos temáticos a partir das entrevistas com os familiares: 
sentimentos da entrevistada sobre a hospitalização; aspectos desencadeadores 
de sofrimento psíquico; aspectos relacionados à família; e estratégias defensivas 
para enfrentar o sofrimento.
A história de vida dessas pessoas internadas com os filhos doentes perpassa 
sentimentos de prisão, desespero, angústia e sensação de estar no limite, pois 
ficam em alerta o tempo todo às reações do filho e têm medo de não aguentar 
a perda, o medo de a criança morrer. Sobre isso, destaca-se destacar o seguinte 
depoimento: 
Ah, eu fico assim preocupada, dá uma coisa ruim aqui dentro, uma angústia 
de não saber o que pode acontecer com ela aqui dentro, se ela sente dor a 
gente não sabe nem o que fazer [...] a gente fica assim desesperada porque 
ela começa sentir dor no peito e falta de ar, [...] e eu tenho muito medo de que 
possa acontecer alguma coisa pior com ela, na verdade eu não aceito porque 
meus outros filhos não têm nada, todos têm saúde e ela também não tinha 
nada, era uma menina alegre, falava um monte e agora tá assim [...] (MILA-
NESI et al., 2006, p. 770).
O processo da doença e o sofrimento psíquico16
Com relação ao desencadeamento do sofrimento psíquico, foi identificada, 
em relação à hospitalização, a dinâmica de organização dos processos de 
trabalho hospitalar e a postura dos profissionais. Percebeu-se, pela pesquisa, o 
quanto é revoltante para a mãe sentir-se pouco importante para os profissionais 
de saúde que manifestam descaso quando se solicita assistência e ignoram 
orientações e cuidados, o que passa uma imagem de desconsideração, impos-
sibilitando o estabelecimento de uma relação de confiança com a família e de 
tê-la como aliada no tratamento e na recuperação do paciente.
Os aspectos associados à família reafirmam a característica ainda muito 
patriarcal de nossa sociedade, revelando que, em raras exceções, a responsabili-
dade de cuidar dos filhos fica a cargo da mulher e, quando por qualquer motivo 
precisa se afastar, ela não tem como quem contar, ampliando seu sofrimento:
Eu tô sofrendo muito sabe, porque a gente mora em outra cidade, é longe, não 
tem carro, tem que vir de ônibus aí, não é só ela, eu tenho mais três em casa 
com o pai, eles reclamam sabe, eles já se viram, mas desde que ela começou 
com este problema eu não posso dar atenção pra eles, tenho que ficar o tempo 
todo com ela (MILANESI et al., 2006, p. 772).
A estratégia defensiva nesse trabalho foi identificada com relação à organi-
zação do trabalho hospitalar. A ideologia defensiva funcional tem por objetivo 
mascarar, conter e ocultar uma ansiedade; a família camufla o sofrimento, e, 
para se ter acesso a ele, é preciso abrir um espaço de fala para os pacientes.
Na pesquisa de Costa, Mombelli e Marcon (2009), foi utilizada uma estra-
tégia lúdica, representada por desenhos, para se ter acesso à fala dos familiares 
que acompanhavam os filhos na internação. O desenho, aqui, funciona como 
instrumento projetivo, técnica de apercepção temática, em que os familiares 
desenhavam contando uma história, funcionando como mecanismos facili-
tadores de acesso aos conteúdos inconscientes.
Os resultados dessa pesquisa também demostraram que o sofrimento 
psíquico das mães está relacionado ao próprio processo de hospitalização. 
Participaram da pesquisa 17 mães que acompanhavam seus filhos internados. 
Os resultados retrataram a vivência da mãe ao acompanhar um filho internado 
e adoecido, relatando seus sentimentos e as dificuldades de permanecer no 
hospital, que também foi representado como uma prisão, expressando senti-
mentos de culpa, temor, ansiedade, desespero, impotência, saudade, solidão, 
preocupação, insegurança, medo e tristeza, diretamente associados à situação 
de hospitalização, como resposta emocional às solicitações de adaptação.
17O processo da doença e o sofrimento psíquico
Para a psicologia, a proposta de análise dos desenhos é uma técnica projetiva para 
avaliação diagnóstica de uma situação. O trecho destacado a seguir serve de exemplo 
técnico da eficácia dessa prática nesse estudo.
Na análise comparativa entre o desenho livre e o temático identificaram-se 
algumas diferenças significativas. A maioria dos desenhos livres foi realizada 
com riqueza de detalhes, uso de cores mais vibrantes, apresentando uma 
qualidade gráfica melhor. Já no desenho temático foi observado um de-
créscimo na qualidade gráfica e nos recursos utilizados para enriquecê-lo. 
[...] o que pode estar associado às vivências difíceis, tais como a internação, o 
tratamento e o isolamento familiar. A cor é a expressão da afetividade e a não 
utilização sugere que a vivência de internação pode produzir um embota-
mento afetivo, [...] sugerindo repressãodo afeto. [...] O tamanho do desenho 
temático, em sua maioria, foi menor quando comparado ao desenho livre, o 
que exprime a relação da mãe com o ambiente, sugerindo certa dificuldade 
em lidar com a situação de hospitalização do filho. [...] Quanto ao conteúdo 
dos desenhos livres, os temas apresentados com mais frequência foram o 
desenho da árvore, da figura humana, da casa, do sol, além da presença de 
outros desenhos menos frequentes, como flores, frutas, nuvens, montanhas, 
etc. Optou-se, neste estudo, por analisar os desenhos que apareceram com 
maior frequência, a exemplo do desenho da casa e da figura humana. O 
significado atribuído ao desenho da casa foi a representação das relações 
familiares, expressando a percepção da situação do lar, seja ela presente 
ou desejada. A frequência do desenho da casa pode também representar 
a busca de afeto, de seus pares, o local onde se busca segurança, onde são 
satisfeitas as necessidades básicas, elementos necessários para a manutenção 
da saúde mental. Além disso, o desenho da casa pode expressar o desejo da 
mãe de retornar ao lar e viver a vida como ela era antes do internamento. Já o 
desenho da figura humana representou, na maioria das produções, a vivência 
de internação da criança em companhia de sua mãe. Em alguns desenhos os 
sujeitos representaram a figura humana dentro do contexto hospitalar e, em 
outros, a figura humana estava acompanhada de outros membros da família, 
simbolizando situações vividas dentro do contexto familiar. Observou-se 
que as mães utilizaram um tempo maior para realizar o desenho livre; em 
sua grande maioria foi apresentado de forma colorida, expressando o prazer 
em fazê-lo. Já o desenho temático foi concluído em tempo menor, e algumas 
mães tiveram dificuldade de iniciá-lo. [...] foi analisado em relação à dificuldade 
da mãe de entrar em contato com sentimentos mobilizadores de ansiedade. 
Falar (desenhar) sobre a experiência de acompanhar um filho internado traz 
para a mãe a percepção desta vivência, gerando angústia e resistência para 
externalizar esses sentimentos. O relato das histórias contadas a partir do 
desenho temático trouxe à tona ideias, sentimentos e preocupações em 
torno de questões relacionadas à distância de casa, à saudade dos demais, 
O processo da doença e o sofrimento psíquico18
às interações com os profissionais do hospital, bem como sentimentos de 
culpa, tristeza e incapacidade frente à situação. Enquanto desenhavam, as 
mães apresentavam uma atitude de autoquestionamento a respeito da 
situação, ou seja, expressavam o desejo de obter informações precisas sobre 
a internação. Os símbolos projetados pelos sujeitos da pesquisa no desenho 
livre [...] refletiram a dinâmica de sua personalidade. Já no desenho temático, as 
participantes projetaram em símbolos característicos do ambiente hospitalar 
sentimentos particulares referente à sua vivência de internação junto de seu 
filho (COSTA; MOMBELLI; MARCON, 2009, p. 323).
Costa, Mombelli e Marcon (2009) concluíram que os desenhos apresentados e 
o conteúdo das histórias relatadas pelos sujeitos do estudo retratam os sentimentos 
vividos durante o acompanhamento de um filho internado, expressos a partir 
de sentimentos de medo, preocupação, tristeza, solidão e desconfiança. A mãe 
emprega recursos de enfrentamento segundo sua estrutura de personalidade, ou 
seja, tomada por um determinado sofrimento, uma mãe pode reagir de forma 
agressiva para descarregar a tensão, já outra pode usar de outro mecanismo 
para lidar com a mesma vivência. O sofrimento vivido pelas mães assumiu 
diferentes contornos, dependendo do significado que atribuem à doença, às 
situações envolvidas nesse processo e ao que a doença provoca em seu dia a dia.
Relatos de profissionais no enfrentamento 
da morte no trabalho
Segundo Spíndola e Macedo (1994), o tema da morte vem sendo discutido ao 
longo dos anos, e, ultimamente, observa-se um aumento crescente de estudos 
relativos a essa temática. Apesar de compor o ciclo normal, biológico, dos seres 
vivos (nascer, crescer e morrer), o homem tem procurado manter-se afastado 
de sua evidência, em razão das mudanças de costumes que se processaram 
com o correr dos tempos.
Em uma pesquisa realizada por Monteiro (2012), foi estudada a organi-
zação do trabalho enquanto determinante no processo de saúde-doença dos 
trabalhadores. Realizado em uma unidade de terapia intensiva, esse estudo 
buscou identificar aspectos da organização de trabalho que podem contribuir 
para o sofrimento psíquico dos trabalhadores da saúde que nela atuam. Foram 
entrevistados oito profissionais que apresentaram adoecimento mental. 
19O processo da doença e o sofrimento psíquico
Amparado por outros estudos que também abordam esse assunto, Monteiro 
(2012) afirma que são fatores relacionados ao sofrimento psíquico: o rígido 
controle do tempo (trabalho corrido sem muitas pausas, que exige estado de 
alerta constante); a forma como o setor é organizado (com muitos equipamentos 
e pouco espaço); a falta de materiais adequados e de pessoal; o excesso de 
ruídos na unidade; os conflitos no relacionamento entre os membros da equipe; 
o estado crítico de saúde do paciente; o sofrimento moral dos trabalhadores, 
principalmente quando o atendimento envolve pacientes em estado terminal; 
o trabalho nos fins de semana e feriados; a utilização inadequada dos EPIs; 
e a presença de atritos com as famílias dos pacientes. 
Em sua pesquisa, Monteiro (2012) destaca que seis participantes já esti-
veram afastados do trabalho, sendo que um deles, após a coleta dos dados da 
pesquisa, optou pelo abandono da profissão de enfermagem, não recebendo 
nenhum apoio da instituição. Os resultados da pesquisa apontaram para os 
seguintes fatores da organização do trabalho relacionados ao sofrimento psí-
quico: pouco reconhecimento; intensificação do trabalho, gerando sobrecarga; 
rigidez institucional; crises éticas quanto a valores e questões profissionais; e 
dificuldade de lidar com a morte de pacientes. 
Os relatos apresentados exemplificam esses sentimentos: “Me senti des-
valorizada, como se eu fosse nada [...] Para vir trabalhar parece que tem que 
puxar com guindaste [...]”; “Ninguém aqui no hospital sabe como se trabalha 
dentro da UTI, ninguém nos olha [...]”; “Estou estressada com a instituição, 
não tem um retorno pelo trabalho que faço, tanto financeiro quanto de reco-
nhecimento [...]” (MONTEIRO, 2012, p. 248).
A iminência ou a ocorrência da morte mobiliza muitos sentimentos negati-
vos, como dor, tristeza, impotência e comoção, conforme os relatos: “Conviver 
com a morte diariamente é pesado [...]”; “Conviver com a morte não é mais 
possível para mim, me dói muito [...]”; “Sinto impotência diante da morte de 
pacientes [...]” (MONTEIRO, 2012, p. 249).
Pitta (1994 apud Monteiro, 2012) destaca que conviver cotidianamente 
com dor, sofrimento e morte evoca sensações dolorosas e desagradáveis nos 
trabalhadores, que, muitas vezes, tendem a ser desconsideradas ou silenciadas 
por eles. Sobre isso, destaca-se um importante relato:
O processo da doença e o sofrimento psíquico20
É, ou faço meu trabalho técnico e fecho meus olhos no investimento de vida 
ou escuto minha sensibilidade, minha percepção. É muito relativo, é preciso 
frieza. Às vezes, até consigo por algum tempo, mas depois preciso muito es-
forço. Vivo uma angústia não expressa. Realmente, na escola de enfermagem 
proíbem a gente de chorar, somos forçados a ser frios. É necessário criar um 
escudo, mas até que ponto posso ser humano e ter a frieza necessária? Estou 
pensando seriamente em sair desta profissão. Não consigo ser alheio em 
relação ao paciente (MONTEIRO, 2012, p. 249).
Monteiro (2012) conclui que esses trabalhadores, em situação de sofrimento, 
não se sentem apoiados pela instituição em que trabalham. Eles alegam não 
possuir um espaço para falar sobre seus sentimentos, deixando evidente a 
necessidade de uma escuta profissional qualificada. Segundo Mendes e Araújo 
(2011apud MONTEIRO, 2012), o debate sobre a possibilidade da reorganização 
do trabalho com a participação mais ativa do coletivo pode ser um diferencial 
na busca da promoção da saúde mental no trabalho.
Portanto, como os profissionais de saúde lidam diariamente com a morte 
dos pacientes, precisam criar uma perspectiva da morte na vida, ou seja, ter 
em mente que a morte é um processo natural que faz parte da vida, com o qual 
temos de aprender a conviver (SPÍNDOLA; MACEDO, 1994). Essa reflexão 
sobre a morte deve se fazer presente no cotidiano dos profissionais de saúde 
em auxílio ao cuidado dos pacientes, permitindo o seu enfrentamento.
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O processo da doença e o sofrimento psíquico22
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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
VIAPIANA, V. N.; GOMES, R. M.; ALBUQUERQUE, G. S. C. Adoecimento psíquico na socie-
dade contemporânea: notas conceituais da teoria da determinação social do processo 
saúde-doença. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 42, n. esp. 4, p. 175–186, 2018. Disponível 
em: http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v42nspe4/0103-1104-sdeb-42-spe04-0175.pdf. 
Acesso em: 31 mar. 2020.
Leitura recomendada
KUPERMANN, D. Trauma, sofrimento psíquico e cuidado na psicologia hospitalar. Revista 
da SBPH, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 6–20, 2016.
23O processo da doença e o sofrimento psíquico
Dica do professor
O conhecimento a respeito da dor e do sofrimento psíquico é extremamente importante para a 
atuação do profissional de saúde, principalmente no cotidiano hospitalar. 
A manifestação da dor, por meio do sofrimento psíquico, pode ser observada e trabalhada a partir 
da intervenção de um profissional de saúde.
Nesta Dica do Professor, você vai compreender as relações e as diferenças entre dor e sofrimento 
e de que forma é possível contribuir com o cuidar e na saúde no dia a dia dos pacientes.
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Exercícios
1) Para Brant e Minayo (2004), do ponto de vista conceitual, sofrimento e dor não se 
confundem, mas também não se distinguem com facilidade.
É possível afirmar que a principal forma de diferenciar a dor e o sofrimento é:
A) a dor é representada de forma intensa e o sofrimento é sentido como se fosse superficial.
B) o sofrimento está relacionado ao sistema nervoso central e a dor ao sistema nervoso 
periférico.
C) a dor está intimamente relacionada com o fisiológico e o sofrimento com a representação 
simbólica.
D) a dor tem representação simbólica e o sofrimento pode ser representado por ideias ou 
palavras.
E) o sofrimento tem representação subjetiva e a dor só pode ser representada com a dor do 
outro.
2) Segundo Helman (2006), a dor é algo que acompanha o ser humano ao longo de sua vida. Do 
ponto de vista fisiológico, a dor é um sinalizador orgânico que aponta para uma lesão ou 
para o mau funcionamento corporal. Surge quando um nervo ou uma terminação nervosa 
sofre um estímulo doloroso de dentro do próprio corpo ou vindo de fora.
Sua existência cria um instinto de proteção, podendo gerar uma reação involuntária ou 
voluntária, que corresponde respectivamente a ações:
A) automática e autômata.
B) antomática e aprendida.
C) inata e reflexiva.
D) autômata e arco-reflexa.
E) automática e inconsciente.
3) 
Segundo Sartor (2017), no hospital, o sujeito sofre um processo de despersonalização, em 
que surge a impressão de que ele é estranho a si mesmo, podendo apresentar-se passivo até 
mesmo frente a novos fatos e perspectivas existenciais, pois, por meio do discurso médico,deixa de ter um significado próprio para significar a partir de diagnósticos realizados sobre 
sua patologia.
A característica apresentada por Sartor pode gerar no paciente um quadro de sofrimento 
psicológico que poderia ser classificado como:
A) depressão.
B) vínculo.
C) negação.
D) idiopatia.
E) conflito.
4) Segundo Spíndola e Macedo (1994), em um passado recente, o homem enfrentava a morte 
quase sempre em casa, junto de seus familiares e amigos, recebendo carinho, atenção e 
tendo seus últimos desejos atendidos. Na atualidade, no hospital, o homem morre cercado 
de estranhos, de pessoas com as quais supostamente não tem afinidade. A relação dos 
médicos com a morte, na maioria das vezes, é impessoal, fria e objetiva, em função de sua 
característica profissional.
E como esses autores veem o papel do cuidador de enfermagem?
A) Trabalham desde o início da mesma forma fria e distante, assim como os médicos para 
mostrar superioridade intelectual.
B) Distantes e autoritários, porque as pessoas não valorizam e não reconhecem o árduo trabalho 
da equipe de enfermagem.
C) É assitencialista e não apresenta nenhum problema com relação ao enfrentamento das duras 
condições de trabalho.
D) É sempre leve e descontraído, pois a equipe de enfermagem não pode ser atingida pela 
questão da perda e da morte em sua prática.
E) No início, envolve-se emocionalmente, mas no decorrer do processo de internação eles 
acabam se distanciando também.
5) Percebe-se o sofrimento psíquico da família, principalmente nas pesquisas descritas a partir 
de depoimentos de mães que acompanham as crianças internadas para tratamento de 
doenças, como nas pesquisas de Milanesi et al. (2006) e Costa, Mombelli e Marcon (2009). 
As duas pesquisas apontam sofrimento psíquico das mães mediante o próprio processo de 
hospitalização.
Ambas as pesquisas relacionam a internação do filho e o sofrimento psíquico dos pais 
principalmente com:
A) presença massiva do pai no adoecimento.
B) acolhimento receptivo da equipe de saúde.
C) poucos recursos tecnológicos do hospital.
D) desestruturação da dinâmica familiar.
E) crises baseadas em fantasias irreais de morte.
Na prática
O tema da morte vem sendo discutido ao longo dos anos. Ultimamente, observa-se um aumento 
crescente de estudos relativos a essa temática, principalmente no seu impacto no trabalho dos 
profissionais de saúde.
Foi realizada uma pesquisa para constatar a aparente insensibilidade dos profissionais de 
saúde diante da morte dos pacientes, a qual revelou que, na verdade, os profissionais 
empregavam um mecanismo de defesa para suportarem o seu cotidiano, mitigando seus 
sofrimentos.
Neste Na Prática, você vai ver um caso relatado por profissionais de enfermagem em uma pesquisa 
realizada em um hospital público do Rio de Janeiro, a partir do confronto com a morte no trabalho 
em um CTI.
Aponte a câmera para o 
código e acesse o link do 
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https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/c019d8f8-42d9-4b3e-8a00-8d59415246a8/8153b609-4bc1-4e2c-97b5-faf1b301ac08.jpg
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Dor e disfunção miofacial
Neste link, complemente seus estudos com um novo olhar a respeito da dor musculoesquelética, 
por meio do conceito de pontos-gatilho miofaciais.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Trauma, sofrimento psíquico e cuidado na psicologia hospitalar
Nesta pesquisa, a partir de um enfoque psicanalítico, o autor interpõe sujeitos em estado de 
adoecimento para lidar com o seu sofrimento. Partindo de uma ilustração encontrada no romance 
O cisne negro, de Thomas Mann, o autor indica os tempos da hospitalidade, da empatia e da saúde 
do cuidador.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Palestra sobre saúde mental
Neste vídeo, veja algumas informações complementares sobre atendimento e acolhimento do 
sofrimento psíquico na atenção básica e sobre o vínculo com a unidade de saúde.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582016000100002
https://www.youtube.com/embed/rT52Pn1eS3Y

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