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NEURODIDÁTICA W B A 03 35 _v 1. 0 2 Tamires Araujo Zanão Mariano Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 NEURODIDÁTICA 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Neide Rodriguez Barea Tavares Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Mariano, Tamires Araujo Zanão M333n Neurodidática/ Tamires Araujo Zanão Mariano, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 64 p. ISBN 978-65-86461-40-4 1. Neurociência.2. Aprendizagem I. Mariano, Tamires Araujo Zanão. Título. CDD 612.8 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753 © 2020por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Neurociência, educação e didática: neurodidática __________________ 05 Estímulos e desenvolvimento cerebral _____________________________ 17 Os recursos tecnológicos promovendo a aprendizagem ____________ 28 Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem ______________________ 40 NEURODIDÁTICA 5 Neurociência, educação e didática: neurodidática Autoria: Tamires Araujo Zanão Mariano Leitura crítica: Neide Rodriguez Barea Tavares Objetivos • Contextualizar os usos e avanços das ciências, focando nos conhecimentos da neurociência. • Destacar as relações entre descobertas neurocientíficas e sua utilização para otimização das práticas pedagógicas e didática. • Apresentar o conceito de neurodidática, usos e compreensão desse termo ao longo do tempo. • Identificar possíveis utilizações, desafios e obstáculos para a neurodidática no futuro. 6 1. Introdução Os avanços das ciências são notáveis: vacinas permitem que o ser humano seja facilmente protegido de doenças que antes eram letais; equipamentos diagnósticos permitem a detecção de doenças em estágios iniciais, e técnicas cirúrgicas computadorizadas realizam procedimentos médicos com exatidão; smartphones possibilitam conversas em tempo real entre pessoas em locais opostos no globo terrestre; a internet permite que o conhecimento seja disseminado sem a necessidade da presença física do professor, por meio do ensino a distância. Esses são apenas alguns exemplos das maravilhas tecnológicas geradas devido ao acúmulo de conhecimentos ao longo de séculos, que não apenas facilitam a vida do homem como também a prolonga. Em parte, tudo isso só é possível porque os cientistas, os engenheiros, os pedagogos e os pesquisadores modernos puderam contar com descobertas prévias, registradas por meio da escrita, e recentemente por vídeos e áudios. Isso garante uma enorme vantagem comparado aos profissionais de antigamente, pois o ponto de partida dos profissionais atuais já conta com acertos e erros de outros indivíduos, fazendo com que as descobertas sejam cada vez mais revolucionárias e avançadas. Nesse sentido, também é importante lembrarmos de que a evolução e o acúmulo do conhecimento ocorrem de modo que diferentes áreas se sobreponham através da interdisciplinaridade. Pense, por exemplo, em uma criança em idade escolar: nos primeiros anos da escola as disciplinas são abrangentes (ciências, matemática, português etc.) e, com o passar dos anos, já no final do ensino fundamental e no ensino médio, as disciplinas passam a ser mais específicas (a matéria ‘ciências’ passa a ser subdividida em: biologia, química, física; ao mesmo tempo, a ‘matemática’ pode ser utilizada para disciplinas: química, física, estatística; por sua vez, a disciplina de ‘português’ será composto por: redação, gramática etc.). Com os avanços tecnológicos e acúmulo de conhecimento, é cada vez mais comum que diferentes áreas se unam ou “emprestem” para outras 7 áreas suas técnicas e experiências, de modo que elas não são apenas a junção das áreas que lhe deram origem, mas são áreas diferentes que embora bebam da mesma fonte, elas cumprem um outro papel. Nesta leitura, você aprenderá sobre a neurodidática, uma área que traz no próprio nome a união óbvia de neurociências com didática. 2. Neuro o quê? Provavelmente, você já ouviu falar que as crianças possuem mais facilidade para aprender a falar uma segunda língua e memorizam com mais facilidade novos termos do que um adulto. No entanto, talvez você já tenha notado que crianças muito pequenas não são capazes de realizar cálculos complexos ou montar quebra cabeças mais complexos. Além disso, talvez lhe seja familiar a ideia de que, embora possam levar mais tempo, os idosos ainda são capazes de aprender, mas que eles terão uma dificuldade extra se o aprendizado for relacionado a tecnologias que não lhe são familiares (como usar um smartphone ou notebook pela primeira vez, sem nunca ter visto um deles antes). Você, ainda, pode ter percebido que, quando você está com sono a sua retenção de informações é prejudicada, e que a finalização de um trabalho que parecia não ter fim pode ser apressada por um prazo que se aproxima. Mas, o que a neurodidática tem a ver com tudo isso? Você chegará lá! Ao nascer, uma criança possui praticamente todos os neurônios com os quais contará ao longo da sua vida. Logo no início da vida, as experiências e situações vividas facilitam que as sinapses sejam realizadas entre esses neurônios. Por sua vez, as sinapses consistem na comunicação entre os neurônios, ou seja, a passagem de informações de uma célula para a outra. Segundo Zaché (2001), as sinapses são como “estradas” formadas entre essas células, nesse sentido, atividades variadas e diversificadas facilitam que essa transmissão seja realizada em diferentes vias, formando várias estradas, assim, se uma “estrada” estiver 8 interditada, o indivíduo ainda pode contar com uma estrada alternativa para chegar realizar o seu objetivo. Essas sinapses serão fortalecidas sempre que a atividade for realizada novamente ou relembrada, por outro lado, elas serão enfraquecidas e “apagadas” caso a informação não seja mais utilizada. Esse processo é chamado de poda sináptica, se trata de uma perda natural de sinapses durante a infância. Nesse período, o indivíduo necessita de nutrição e estimulações adequadas, visto que serão determinadas quais as conexões se manterão (sinapses em funcionamento) e quais serão “descartadas” (sinapses em baixo funcionamento). Segundo Zaché (2001), os primeiros anos de vida são fundamentais para a formação dessas conexões, logo, problemas no ambiente, falta de estímulos ou proteção podem gerar complicações futuras ao indivíduo. Esses estímulos não precisam ser complexos, muito menos tecnológicos, conversas, estímulos de diferentes categorias (auditivos, olfativos, sensoriais, gustativos e visuais) e o contato humano é tudo que o bebê necessita para se devolver de maneira adequada.Figura 1 – Sinapse entre neurônios Fonte: koto_feja/iStock.com 9 O homem pode aprender por toda a vida, mas o estabelecimento e fortalecimento de conhecimentos e aptidões no início da vida tornarão o aprendizado tardio mais fácil ou mais difícil, dependendo das bases formadas por meio das experiências iniciais do indivíduo. Nesse sentido, esses importantes conhecimentos trazidos pelas neurociências revelam como a infância é uma fase fundamental para a vida adulta e deve ser entendida e tratada como tal, logo, crianças precisam ser devidamente estimuladas e viver em ambientes que propiciem sua potencialidade intelectual de aprender. Embora possa parecer algo negativo, a poda é necessária e benéfica economicamente para o cérebro, pois ele só se ocupará com aquilo que é útil, descartando informações desnecessárias. Mas, como isso ocorre? O cérebro entende o que é útil através da frequência do uso daquelas informações. Via de regra, você não se lembrará com detalhes do que aconteceu com você durante toda a sua infância, adolescência e no dia a dia da vida adulta, mas alguns momentos podem ficar registrados por toda a vida, seja uma situação de grande alegria, uma música cantada por pessoas queridas, um momento intenso de medo ou a morte de uma pessoa importante. Isso ocorre porque esses eventos foram repetidos em vários momentos ou compreendidos como relevantes, por atrelarem emoções agradáveis ou desagradáveis. A neurociência busca compreender como o cérebro e o sistema nervoso funcionam e suas relações com comportamentos correlatos. Essas informações, por sua vez, foram acumuladas por vários estudos e pesquisas realizadas ao longo do tempo. Nesse sentido, ao entendermos como a consolidação das memórias é facilitada ou dificultada em diferentes contextos e situações, parece-nos intuitivo que esses conhecimentos sirvam para o propósito da aprendizagem. A neurodidática, conhecida também como neuroeducação, consiste na utilização dos conhecimentos da neurociência para a compreensão e aplicação de condições ideais para facilitar e promover a aprendizagem. Embora haja resistência por parte de pedagogos, a neurodidática não substitui o papel desse profissional, 10 mas busca nas informações neurobiológicas a compreensão de como o aprendizado pode ser otimizado. No próximo tópico, você compreenderá o contexto histórico das neurociências, da pedagogia e da didática e como a junção dessas áreas resultou na neurodidática. 2.1. Neurociências A década de 1990 foi bastante importante para os avanços das neurociências, sendo conhecida como a ‘década do cérebro’. Segundo Ribeiro (2013), esse termo foi utilizado para descrever os grandes investimentos em pesquisas relacionadas ao funcionamento cerebral realizadas pelos Estados Unidos nessa década. Ainda segundo o estudioso, neste período, os investimentos na área atingiram níveis nunca antes alcançados e um grande fascínio foi causado pelas neurociências, salientando que o interesse pela área atingia: [...] cada vez mais pessoas pela possibilidade de compreensão dos mecanismos das emoções, pensamentos e ações, doenças e loucuras, aprendizado e esquecimento, sonhos e imaginação, fenômenos que nos definem e constituem. (RIBEIRO, 2013, p. 7) Ainda segundo o estudioso, diferentes profissionais como: terapeutas, psicólogos, professores e outros profissionais da saúde têm contribuído para o acúmulo de diversas informações na área neurocientífica, que podem não ser claras para os não especialistas, mas que devem ser interpretadas de modo a torna-las úteis. 3. Bases neurobiológicas das memórias e do aprendizado A memória (ou como veremos: as memórias) é a base da aprendizagem, pois ela consiste na retenção das informações. Não tem muita utilidade 11 aprender algo a menos que você possa utilizar esse aprendizado quando precisar, não é mesmo? Imagine passar horas, dias ou meses aprendendo a dirigir e, simplesmente, não se lembrar qual o pé que deve pressionar cada um dos pedais ou como mudar a marcha. Isso seria pouco útil, certo? Nesta seção, você aprenderá brevemente sobre os diferentes tipos de memória e suas associações com estruturas encefálicas. Grosso modo, as memórias podem ser divididas entre declarativas e não declarativas. Dentre as memórias não declarativas, focaremos na memória de procedimento, também chamada de implícita. No exemplo anterior, sobre a capacidade de dirigir, talvez você tenha pensado que não é assim tão consciente a decisão de qual o pé utilizar para pisar no freio ou você nem olhe para as marchas ao muda-las. Isso ocorre porque esse tipo de memória pra habilidades, hábitos e comportamentos, uma vez que é aprendida, ele se torna automática. Na verdade, tentar pensar em cada etapa ao dirigir pode prejudicar o processo, tornando-o mais lento e menos preciso (tente lembrar quando você começou a aprender, ou pergunte para alguém que passou por esse processo recentemente, como no início é preciso “pensar” antes de agir e como com a prática os procedimentos se tornam automáticos). Logo, talvez, você não saiba dizer em palavras como faz para dirigir, apenas sabe como fazer. Outros exemplos de memória de procedimento incluem ações como: tocar instrumentos, andar de bicicleta, chutar a bola em uma partida de futebol e amarrar os sapatos, ou seja, essa é a memória predominante para habilidades e hábitos. A estrutura encefálica mais diretamente relacionada a esse tipo de memória é o estriado, um dos núcleos da base do diencéfalo (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008, p. 726-729). As memórias declarativas, por sua vez, são memórias que podem ser evocadas de modo consciente e proposital. Isso significa que você poderá “se esforçar” para lembrá-las, embora o esforço não será necessariamente frutífero. Nesse tipo de lembrança, geralmente, associamos à ideia de memória. Curiosamente, elas são facilmente 12 formadas, mas também são facilmente esquecidas. Assim, é provável que, se você aprendeu, ainda se lembrará como andar de bicicleta (memória não declarativa), mas dificilmente terá memórias detalhadas da primeira vez que andou de bike (memória declarativa) (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008, p. 726-729). A memória declarativa pode ser dividida em duas memórias: de fatos e de eventos. As memórias de fatos são conhecimentos adquiridos, muitas vezes, pelo estudo, inclusive na escola, por exemplo, como você sabe que a capital da França é Paris, do Brasil é Brasília e da Itália é Roma. Essas memórias devem ser as mesmas independente do indivíduo (todas as pessoas que tiverem esses conhecimentos adquiridos darão as mesmas respostas ao serem questionadas sobre quais as capitais da França, Brasil e Itália). Por sua vez, as memórias de eventos são autobiográficas e únicas. Portanto, embora você saiba que a capital da França é Paris, suas memórias de uma viagem a essa cidade serão totalmente únicas e particulares, e, ainda que visite a cidade com outras pessoas, as memórias não serão exatamente as mesmas (talvez, você tenha focado mais na música que estava tocando enquanto seus parceiros apreciavam cheiros, comidas e bebidas, gerando diferentes lembranças para cada um deles). As memórias declarativas envolvem estruturas do lobo temporal, com destaque para o hipocampo, importante estrutura para consolidação de memórias. 4. Neurociências e pedagogia O uso de computadores e da internet potencializaram ainda mais o acúmulo e a difusão de conhecimentos. No entanto, infelizmente, o acesso as informações e sua utilização não são iguais para todos. Nesse sentido, países latino americanos, como o Brasil, situam- se muito abaixo de outros no quesito qualidade educacional, com destaque para os Estados Unidos e diversos países europeus e 13 asiáticos. O Brasil ainda permanece atrás de outros países latinos no ranking da educação da Unesco, ficando para trás do Uruguai, da Argentina e do Chile. Assim, Ribeiro (2013) frisa a importância da compreensão dasbases psicológicas, biológicas e pedagógicas do aprendizado escolar como ferramenta para revertermos a situação de inferioridade na qualidade do ensino. O autor cita exemplos de descobertas neurocientíficas que comprovadamente afetam a capacidade de aprendizado, como a má nutrição. O cérebro é um dos órgãos que mais necessitam de glicose para o seu funcionamento adequado, e, portanto, é de se esperar que jovens apresentem déficits ou prejuízos importantes de aprendizado quando alimentados em quantidade ou qualidade inadequadas. Pesquisas nesse sentido apontam para a relação direta entre o consumo de glicose e o fortalecimento das memórias. Mas cuidado! Isso não significa que basta dar açúcar aos estudantes para que eles estejam preparados para aprender. Pelo contrário, pesquisas realizadas em camundongos sugerem o oposto: o consumo excessivo de gordura prejudica a capacidade de aprendizado. E isso tem base neurobiológica, pois pesquisadores demonstraram que esse efeito ocorre devido a gordura/ açúcar prejudicarem os receptores envolvidos no aprendizado de longo prazo (VALLADOLID-ACEBES et al., 2011; RIBEIRO, 2013). Segundo Ribeiro (2013), esses dados são importantes porque demonstram que aspectos neurobiológicos estão a priori de qualquer método pedagógico que possa vir a ser empregado, independentemente do material, tecnologias ou capacitação do profissional, nada disso adianta se o estudante não tem uma alimentação balanceada. Antes de tudo isso, é preciso garantir que as crianças e jovens estejam devidamente alimentados, com reservas energéticas para utilizarem na aprendizagem. Isso não significa que o método pedagógico empregado não importa, apenas que pode ser pouco efetivo se as necessidades básicas não forem previamente atingidas. Ainda que, o método pedagógico deva 14 levar em conta o interesse dos alunos, tornando o aprendizado algo agradável e útil sempre que possível. Lembre-se que, o cérebro tende a ‘guardar’ aquilo que lhe parece útil. 4.1 História da neurodidática: usos e compreensões sobre o termo O termo neurodidática foi cunhado por Gehard Preiss em 1988 e, segundo esse estudioso, trata-se da pedagogia se apoiando nos conhecimentos da neurologia para formar um novo saber. O próprio termo (neurociência + didática) combina os conceitos de pesquisas em neurociências com as ciências da educação, assim, trabalhando em ´estreita relação´. Segundo Duque (2013), os processos de aprendizagem geram alterações neuronais, o que pode ser observado em diferentes exemplos, como o aprendizado de uma música: nas primeiras vezes a letra poderá não ser clara para você, mas quanto mais ouvi-la e cantá-la mais fácil e automático essa ação se tornará, até que ouvir apenas a introdução da música será capaz de lhe trazer as palavras da letra à sua boca. Isso ocorre porque seu cérebro não é o mesmo quando você ouviu a música pela primeira vez em relação à quando você já tinha ouvido muitas vezes; houve plasticidade neuronal, de modo que as sinapses inicialmente formadas no início do aprendizado da letra da música foram ‘fortalecidas’ e estabelecidas, facilitando o seu acesso posteriormente. Assim, a neurodidática baseia-se em conceito de neuropsicologia e das neurociências, acreditando que esses podem ser importantes recursos para os professores e demais profissionais que trabalham com educação. Ainda segundo estúdio, os docentes que conhecem os aspectos neuropsicológicos e neurobiológicos dos processos cognitivos e sociais de crianças e adolescentes podem otimizar as suas práticas, buscando as melhores maneiras de transmitir e promover o conhecimento. 15 Nesse sentido, G. Friedrich e G. Preiss (2003) são importantes teóricos da neurodidática, eles propõem que o desenvolvimento das habilidades cognitivas e do cérebro são ligados entre si, assim como a didática e a neurologia. Os autores acreditam que a colaboração entre as duas disciplinas pode desenvolver novas estratégias de aprendizado e que, assim, os educadores e professores podem potencializar as qualidades e talentos dos seus alunos. Em resumo, após essa leitura, você deve compreender que os seres humanos possuem um aparato biológico fundamental para a aprendizagem, o sistema nervoso. O cérebro é plástico e passa por transformações ao longo de toda a vida, mas para o seu adequado funcionamento é necessário que, logo no início da vida, a criança receba a devida estimulação e contato com os homens. Nesse trecho, não nos referimos a brinquedos caros ou altos investimentos tecnológicos, pelo contrário, o bebê precisa apenas de interação com outros humanos para desenvolver adequadamente seus sentidos e fazer muitas sinapses, facilitando a formação de várias “estradas” que o ajude na formação dos conhecimentos e das capacidades. Lembre-se que, a memória é fundamental para a aprendizagem, sem ela os conhecimentos adquiridos não poderiam ser acessados e de nada adiantariam. Além disso, destaca-se a divisão clássica entre memória declarativa e não declarativa, bem como a ideia de que o encéfalo é utilizado de maneira abrangente e diferente nessas categorias. Por fim, a didática empregada para promover a aprendizagem tem muito a ganhar quando utiliza de conhecimentos neurocientíficos. Logo, compreender a necessidade de estímulos no início da vida da criança, a ideia de que o ‘cérebro interessado’ aprende melhor, bem como a importância de uma alimentação saudável, pode beneficiar grandemente a vida do indivíduo. 16 Referências Bibliográficas: BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. Porto Alegre: Artmed, 2008. DUQUE, M. E. A. La neurociencia en las ciencias socio-humanas: una mirada transdisciplinar. Ciencias Sociales y Educación, v. 2, n. 3, p. 153-166, jan./jun. 2013. Disponível em: https://revistas.udem.edu.co/index.php/Ciencias_Sociales/article/ view/808/748. Acesso em: 2 jan. 2020. GERHARD, F.; GERHARD, P. Neurodidáctica. Mente y Cerebro, n. 4, p. 39-45, 2003. RIBEIRO, S. Tempo de cérebro. Estudos Avançados, São Paulo, v. 27, n. 77, p. 7-22, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 40142013000100002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 2 jan. 2020 VALLADOLID-ACEBES, I.; STUCCHI, P.; CANO, V.; FERNÁNDEZ-ALFONSO, M. S.; MERINO, B.; GIL-ORTEGA, M.; FOLE, A.; MORALES, L.; RUIZ-GAYO, M.; DEL OLMO, N. High-fat diets impair spatial learning in the radial-arm maze in mice. Neurobiol Learn Mem, v. 95, p. 80-5, 2011. ZACHÉ, J. Cérebro sarado. Istoé – Medicina e Bem-estar, 14 mar. 2001. Disponível em: https://istoe.com.br/39613_CEREBRO+SARADO/. Acesso em: 3 jan. 2020. https://revistas.udem.edu.co/index.php/Ciencias_Sociales/article/view/808/748 https://revistas.udem.edu.co/index.php/Ciencias_Sociales/article/view/808/748 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000100002&lng=en&nrm=iso. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000100002&lng=en&nrm=iso. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Stucchi%20P%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=21093599 https://istoe.com.br/39613_CEREBRO+SARADO/ 17 Estímulos e desenvolvimento cerebral Autoria: Tamires Araujo Zanão Mariano Leitura crítica: Neide Rodriguez Barea Tavares Objetivos • Identificar a importância dos órgãos responsáveis pelos sentidos para a captação dos estímulos e comunicação com o meio externo. • Definir o que é estímulo e estímulo cerebral, compreender a importância do período crítico e relacionar as principais funções cognitivas com seus respectivos lobos cerebrais. • Identificar outros fatores, além dos estímulos sensoriais, que podem interferir na capacidade de aprendizagem (motivação, atenção, meio). 18 1. Introdução Os sentidos humanos são capazes de feitos maravilhosos! No dia a dia, talvez, você não dê a devida atenção à eles, mas nesta aula, com certeza, você se tornará consciente da importância deles para a sua relação com omeio externo. Para começar, vamos pensar em algo simples e corriqueiro, por exemplo, uma chuva fraca, como nossos sentidos percebem essa experiência? Muitas pessoas relatam gostar de ouvir o barulho da chuva antes de dormir, mas há aqueles que também acham relaxante apenas observar a chuva pela janela (com um livro, bolinhos e uma xícara de chá ou café). Além disso, é bastante comum o relato de como o cheiro da terra molhada pode ser agradável! E, por que não sentir o frescor das gotas de chuva fresca em uma tarde de calor? Nessa situação, você pode aproveitar para abrir a boca e experimentar o gosto da chuva. Com esses exemplos, podemos observar que existem diferentes formas de “vivenciar” a mesma experiência, como uma simples chuva, e todas elas graças aos nossos sentidos e a capacidade de interpretá-los. Assim, além do estímulo da “chuva” estar presente, ela não poderia ser enxergada, ouvida, cheirada, experimentada e sentida se o nosso corpo não estivesse equipado com olhos, ouvidos, nariz, língua e pele. Mas, só isso é suficiente? Você pode estar pensando que apenas esses aparatos não são suficientes, já que existem pessoas que embora tenham os órgãos, como olhos e ouvidos, possuem alguma deficiência visual e auditiva. Você tem razão! Isso ocorre porque esses estímulos são “recebidos” por esses órgãos, mas precisam ser processados para de fato usá-los. Logo, é preciso haver uma comunicação entre os estímulos presentes no meio, os nossos órgãos dos sentidos e o processamento cerebral que levará a interpretação, assim, usando a visão, audição, tato, olfato e gustação. Nesse sentido, a aprendizagem requer a manipulação dessas informações e estímulos presentes no meio ambiente, ela se trata da comunicação e processamento desses estímulos que nos permite utilizar as informações que estão 19 presentes no meio externo. Por sua vez, os estímulos e sentidos estão relacionados com a nossa capacidade de aprendizado. Está aula focará na captação e processamento de estímulos e como diferentes fatores, além dos biológicos, podem interferir na capacidade de aprender, como: motivação, atenção, interesse, entre outros. Em resumo, com esse estudo você aprenderá de modo resumido como o cérebro aprende, quais as divisões do córtex cerebral e suas relações com diferentes funções cognitivas e como é possível facilitar, ou dificultar, o aprendizado. Essas informações podem, e devem, ser usadas para promover e facilitar o ensino. 2. O que é estímulo e ocorre o seu processamento Segundo o dicionário on-line Priberam (2020), a palavra estímulo significa: “1 – aquilo que estimula (…) 3 – incentivo (…) 4 [Fisiologia] – agente externo ou interno capaz de provocar uma reação num órgão ou num sistema”. Nesta leitura, utilizaremos o termo estímulo em sua definição fisiológica, mas também como algo que estimula, favorece a ocorrência de algo. Portanto, se atente para as diferenças entre estímulos sensoriais e estimulação no sentido de favorecer/incentivar. Assim, brincaremos com o sentido dessa palavra para mostrar como tanto os sentidos como a motivação possuem um papel relevante na aprendizagem. 2.1 Processamento das informações Sabemos que os órgãos dos sentidos nos ajudam a perceber o mundo ao nosso redor. Para que essas informações sejam utilizadas por nós, é necessário que elas sejam transformadas pelo processamento cognitivo. Assim, primeiramente, os órgãos dos sentidos recebem esses dados e por meio da atenção eles podem ser “percebidos”. Isso ocorre devido a necessidade da atenção para a percepção do estímulo. Dessa maneira, 20 é fácil observar esse fenômeno ao pensarmos em vários exemplos cotidianos, como dirigir. Ao dirigir, se você presta atenção no carro que está a sua frente e nos sinais de trânsito (ação esperada de quem está dirigindo), é provável que não “perceba” com detalhes pequenas pichações nos muros, pássaros sentados no fio de comunicação ou qual a cor do vestido de uma criança que está caminhando na calçada. Embora seus sentidos sejam capazes de processar todas essas informações, a sua atenção selecionou aquilo que era mais relevante para executar a atividade de dirigir. Nesse sentido, a pessoa que está no banco de carona, sem se preocupar com a tarefa de dirigir, talvez, tenha percebido todos esses estímulos – ou não, se sua atenção estiver direcionada para outros elementos. Logo, a percepção “transforma” as informações selecionadas pela atenção. A percepção consiste, portanto, na capacidade de atribuir sentido para aquilo que se está recebendo como informação. Após serem percebidas, as informações dos estímulos poderão ser retidas pela aprendizagem e armazenada na memória. Uma vez armazenada, ela poderá ser utilizada novamente, por meio da recuperação da memória. Segundo Groome el al. (2008), a evocação dessa memória poderá ser articulada com outras informações armazenadas previamente e transformada por pensamentos e reflexões. Dessa forma, somos capazes de utilizar lembranças para resolver problemas atuais ou assumir atitudes diferentes diante de situações semelhantes. Por exemplo, ao nos recordarmos de uma situação em que ficamos expostos ao sol por horas, que resultou em uma queimadura grave e dias de sofrimento, pode ser que o indivíduo utilize filtro solar ou fique na sombra neste verão. Nesse caso, a lembrança gerou um aprendizado por meio da reflexão e da mudança de comportamento. De acordo com Groome el al. (2008), uma vez que a cognição consiste em um fluxo ininterrupto, contínuo desde a sua “entrada” através dos órgãos dos sentidos até a sua saída (comportamento), passando por diferentes processamentos ao longo de todo esse caminho, o exemplo apresentado é 21 apenas um modelo que traz uma explicação simplificada. Ou seja, existem muitos outros modelos mais complexos de como a informação (estímulo) é processada. 3. Cérebro, suas divisões e funções O córtex cerebral pode ser dividido e classificado de muitas formas, mas uma das formas mais comuns é por meio de lobos. Nesse sentido, o cérebro apresenta o lobo frontal, parietal, temporal e occipital e a ínsula. Embora comportamentos complexos exijam a articulação de diferentes regiões cerebrais, algumas funções são específicas de determinadas partes desse órgão. Assim, o aprendizado de diferentes funções será processado por diferentes regiões cerebrais, conforme descrevemos a seguir. Lobo frontal (indicado em azul na Figura 1): trata-se da porção mais ‘nova’ do nosso cérebro, evolutivamente falando. Essa porção fica localizada na ‘frente’ da cabeça. Compreende as funções cognitivas mais superiores e típicas do ser humano, como funções executivas, planejamento de ações futuras, escrita, fala e linguagem. Outros primatas também possuem lobo frontal, mas o ser com maior desenvolvimento é encontrado apenas no homem. A área da linguagem é de extrema importância e localiza- se, principalmente, no hemisfério esquerdo para a grande maioria das pessoas, podendo estar, no entanto, no hemisfério direito em indivíduos canhotos. Lobo temporal (indicado em verde na Figura 1): localizado na região das têmporas, essa parte está relacionada as diferentes funções, como a audição e a memória, a emoção e o aprendizado, etc. Ainda nessa aula, você verá que aspectos emocionais podem interferir na memorização e no processo de aprendizagem. Todos esses elementos são em grande parte processados pelo lobo temporal. 22 Lobo parietal (indicado em vermelho na Figura 1): localizado ‘atrás’ do lobo frontal e ‘acima’ do lobo temporal, o lobo parietal é caracterizado por relacionar as sensações táteis e imagens corporais, somatossensoriais, participando de processos sensoriais e perceptivos. Além disso, essa região é relacionada a capacidade de se orientar no espaço e essencial para a realização de cálculos matemáticos. Lobo occipital (indicado em amarelo na Figura 1): essa parte é localizada na parte posterior da cabeça, ‘acima’ do cerebelo.As suas funções estão relacionadas, principalmente, a visão. Por sua vez, a visão é um sentido essencial para o homem e possui aspectos bastantes complexos. Nesse lobo, ocorre o complexo processamento do reconhecimento de faces. Além da identificação de todas as características como cor e textura, o processamento de faces deve levar em consideração diferentes expressões e reconhece-las como pertencentes a um mesmo indivíduo. Ínsula: localizada na parte interna, ‘atrás’ do lobo temporal, ela está relacionada com o sistema límbico e a coordenação das emoções. Figura 1 – Divisões em lobos no córtex cerebral Fonte: ambassor806/Istock.com. Lobo parietal Lobo occipital Cerebelo Lobo frontal Lobo temporal Medula espinhal 23 4. O desenvolvimento cerebral O desenvolvimento cerebral dos indivíduos é algo único. Até mesmo em gêmeos idênticos, que são ‘cópias’ genéticas entre si, o desenvolvimento cerebral de cada um deles será distinto. Isso acontece porque o sistema nervoso não tem seu amadurecimento relacionado apenas a aspectos biológicos. Nesse sentido, embora a genética seja um fator importante, há outros fatores complementares com a tamanha importância, como: hábitos saudáveis durante a gestação, com nutrição adequada na vida uterina e após o nascimento, não uso de substâncias entorpecentes pela mãe (incluindo álcool) e ambiente rico de estímulos para o bebê. A estimulação é essencial, principalmente, porque o número de neurônios não sofrerá grandes alterações após o nascimento da criança, mas a conexão (sinapses) entre eles se alterará. Logo, o bebê precisa ser estimulado para aprender com os estímulos exteriores e são nos primeiros anos de vida que as crianças passam pela poda sináptica, em que as sinapses não estabelecidas ou fortalecidas pela repetição (aprendizagem) são descartadas pelo cérebro. 4.1 Aprendizagem e estímulos Além dos estímulos relacionados aos sentidos, como: estímulos visuais, auditivos, olfativos, de tato e gustativos, uma outra definição de estímulos também é fundamental para a promoção do aprendizado. Trata-se da motivação do indivíduo para aprender. Essa motivação é fundamental, pois ela interfere em importantes funções cognitivas, como a atenção. Não adianta ter o estímulo físico presente (por exemplo, essa aula aberta em seu computador) se a sua atenção e motivação estiver em ouvir uma música que está tocando no ambiente ou observar uma borboleta que está passando. 24 Nesse sentido, é comum ouvirmos que uma criança aprenda, ela deverá estar devidamente estimulada e que existe um período crítico para que essa estimulação ocorra. Mas, o que isso significa exatamente? Geralmente, esse conceito diz respeito a riqueza de elementos (estímulos) no ambiente que serão percebidos pela atenção da criança e detectados por seus sentidos, transformados pela sua percepção e processadas nas diversas e distintas regiões cerebrais. Assim, uma criança que vive em um ambiente rico em estímulos teria mais chances de se desenvolver do que uma criança em ambiente com poucos estímulos. Felizmente, esses “estímulos” não estão relacionados à brinquedos tecnológicos ou caros, pelo contrário, a estimulação infantil depende dos pais ou cuidadores, em ações como brincar, cantar, receber elogios e ouvir “nãos” em situações necessárias, manusear objetos diariamente etc. Nesse sentido, as neurociências evidenciam que ambientes ricos em estímulos favorecem as sinapses. O período crítico está intrinsicamente relacionado às características de desenvolvimento do sistema nervoso, já que ele se inicia muito antes do nascimento, já na fase embrionária, mas continua após o nascimento. Dessa forma, o homem não nasce “pronto”, pelo contrário, ele se desenvolve por muitos anos antes de ter a constituição de um adulto. Nesse período inicial, chamado de período crítico, o sistema nervoso é imaturo e o ambiente o influencia fortemente. O período crítico é diferente para diferentes regiões cerebrais e para alguns comportamentos, se eles não forem adquiridos dentro do período ideal, jamais serão adquiridos da maneira adequada. Por exemplo, a linguagem, que tem o seu período crítico até meados da adolescência, se ela não for adquirida até essa faixa etária sua aquisição deixará de ser possível. 25 4.2 – O papel das emoções, motivação, atenção, meio e memória na aprendizagem Esses conhecimentos de neurociências e de psicologia são muito importantes para a compreensão de como o aprendizado se dá e das limitações biológicas que apresentamos. O professor e educador deve utilizar essas fontes para buscar uma integração entre o indivíduo e seu meio. Entre os fatores que interferem na aprendizagem, destacam-se: 1. Emoções: as emoções estão amplamente atreladas a capacidade de aprendizado e tendemos a nos ater aos estímulos que nos despertam emoções (positivas ou negativas). Segunda Salla (2012), as emoções servem como “termômetro” para relevância dos acontecimentos e há relações entre a amígdala, região importante para o processamento das emoções, e estruturas relacionadas a memorização. 2. Motivação: Izquierdo afirma ([s.d.] apud SALLA, 2012, p. 3) que “[...] da mesma forma que sem fome não apreendemos a comer e sem sede não aprendemos a beber água, sem motivação não conseguimos aprender”. Nesse sentido, existe uma relação biológica para essa afirmação: a dopamina. A dopamina é um neurotransmissor liberado quando realizamos alguma atividade prazerosa, gerando bem-estar e fazendo com o indivíduo volte sua atenção para a situação que gerou a sua liberação. Com isso, podemos utilizá-la para promover a aprendizagem: frente a uma atividade muito difícil ou muito fácil a dopamina não será liberada, o indivíduo não estará devidamente motivado a realizar esta tarefa. No entanto, Salla (2012) afirma que diante de uma atividade que se mostra prazerosa e interessante o estudante se atentará e insistirá em aprender. Esse exemplo mostra como o professor deve estar atento ao desempenho dos alunos frente aos exercícios propostos, dosando a dificuldade de modo a tornar a aprendizagem mais prazerosa e, consequentemente, aprendizagem mais eficaz. 26 3. Atenção: como citado anteriormente, a atenção é de fundamental importância para a aprendizagem e deve ser utilizada pelos professores e educadores. Nesse sentido, tornar o conteúdo a ser aprendido interessante, utilizando relações com assuntos que interessam os jovens, recursos midiáticos, coloridos ou atrativos é fundamental para a promoção da aprendizagem. Segundo Salla (2012), é importante entendermos que a falta de atenção não deve ser considerada uma ‘falta’ do estudante, visto que é natural nos atermos apenas aquilo que nos parece interessante. Por isso, é importante que o professor seja incentivado a tornar a disciplina mais interessante. 4. Meio: o meio exerce um papel essencial na aprendizagem, pois ambientes ricos em estímulos oferecem condições mais propícias para a aprendizagem e no início da vida esse papel do é ainda mais determinante para o bom desenvolvimento cognitivo. 5. Memória: a memória deve ser entendida como uma função complexa e dinâmica, não consistindo apenas em lembrar as informações, mas também em refletir sobre elas e manipulá-las, de modo que haja a aprendizagem. Figura 2–Fatores que influenciam a aprendizagem Fonte: Deagreez/iStock.com. https://www.istockphoto.com/br/portfolio/Deagreez?mediatype=photography 27 Em resumo, tanto os estímulos captados pelos órgãos dos sentidos (visão, audição, cheirar, sentir gosto e tato) e a estimulação, no sentido de estar motivado, inclinado e propenso a aprender, são importantes para o processo de aprendizagem. Os conhecimentos neurobiológicos trazem uma importante vantagem para o educador, permitindo que ele busque ferramentas que promovam a aprendizagem, procurando a motivação do aluno para mantê-lo atento a suas aulas, utilizando materiais que despertem mais sentidos sensoriaisdos alunos e estando em alerta para o nível de dificuldade e o prazer que o aprendizado deve ser capaz de gerar. Com essas atitudes, a liberação de dopamina será garantida – e a qualidade da aprendizagem também. Referências Bibliográficas ANDRADE, A. L. M.; BEDENDO, A.; ENUMO, S. R. F.; MICHELI, D. Desenvolvimento cerebral na adolescência: aspectos gerais e atualização. Adolescência e Saúde, Rio de Janeiro, n. 15, supl. 1, p. 62-67, 2018. BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. São Paulo: Artmed, 2008. GROOME, D.; BRACE, N.; DEWART, H.; EDGAR, G.; EDGAR, H.; ESGATE, A., KEMP, R.; PIKE, G.; STAFFORD, T. An introduction to cognitive psychology: processes and disorders. 2. ed. Londres/Nova Iorque: Psychology Press, 2008. LENT, R. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2010. LENT, R. Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Priberam. Dicionário on-line. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/ est%C3%ADmulo. Acesso em: 2 jan. 2020. RIBEIRO, S. Tempo de cérebro. Estudos avançados, São Paulo, v. 27, n. 77, p. 7-22, 2013. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0103-40142013000100002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 2 jan. 2020. SALLA, F. Neurociência: como ela ajuda a entender a aprendizagem. Revista Nova Escola, [on-line], edição 253, 15 jun. 2012. Disponível em: https://novaescola.org.br/ conteudo/217/neurociencia-aprendizagem. Acesso em: 13 jan. 2020. ZACHÉ, J. Cérebro sarado. Istoé – Medicina e Bem-estar, 14 mar. 2001. Disponível em: https://istoe.com.br/39613_CEREBRO+SARADO/. Acesso em: 3 jan. 2020. https://dicionario.priberam.org/est%C3%ADmulo https://dicionario.priberam.org/est%C3%ADmulo http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000100002&lng=en&nrm=iso. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000100002&lng=en&nrm=iso. https://novaescola.org.br/conteudo/217/neurociencia-aprendizagem https://novaescola.org.br/conteudo/217/neurociencia-aprendizagem https://istoe.com.br/39613_CEREBRO+SARADO/ 28 Os recursos tecnológicos promovendo a aprendizagem Autoria: Tamires Araujo Zanão Mariano Leitura crítica: Neide Rodriguez Barea Tavares Objetivos • Identificar a possibilidade de promover a aprendizagem por meio do uso de recursos tecnológicos. • Identificar e enumerar os principais desafios da implementação de tecnologias da informação e comunicação nos ambientes escolares brasileiros. • Identificar a importância das tecnologias da informação e comunicação na acessibilidade. • Identificar o risco do uso excessivo, e sem a assistência de adultos, de tecnologias como concorrente ao processo de aprendizagem de crianças e jovens. 29 1. Introdução Em um passado não muito distante, as crianças não tinham à sua disposição telas de computadores, tablets e celulares. Elas brincavam em casa e na rua, com: bonecas, carrinhos, jogos, sozinhas ou entre si, mas não tinham telas pequenas à disposição. Mesmo para assistir televisão, aparelho antigo, havia um horário restrito para a atividade – até por causa da programação disponível, uma vez que a programação infantil não era vasta –, e era comum que as crianças tivessem que dividir um único aparelho televisor com os demais moradores da casa. Atualmente, o cenário de muitos brasileiros é bastante diferente desse. Não só a programação infantil se expandiu, com o surgimento de canais dedicados exclusivamente a esse público, como a internet tornou possível acessar conteúdos diferentes e a qualquer hora do dia, não sendo mais necessário esperar aquele determinado horário para assistir aos programas. Além disso, hoje também é comum vermos crianças pequenas sendo muito hábeis para escolher vídeos, trocar de canal e manusear aparelhos eletrônicos, enquanto as crianças ‘de antigamente’ mal tinham acesso ao controle remoto. Tudo isso facilita para que o acesso as diversas telas seja introduzido cada vez mais cedo e com maior frequência na vida das crianças. Por diversos motivos, existe uma preocupação de que o uso excessivo desses aparelhos possa prejudicar as crianças e jovens, pois muito tempo em frente as telas pode significar poucas horas de estudo, além de mais distrações e prejuízos na rotina de sono, devido às ondas de luz emitidas por equipamentos eletrônicos. Esses aspectos negativos fazem com que muitos pais, educadores e responsáveis declarem guerra as tecnologias e suas diversas vertentes. No entanto, parece pouco provável que esses equipamentos deixem de fazer parte do nosso cotidiano, portanto, o papel dos estudiosos 30 da educação é buscar formas para que essas novas tecnologias sejam empregadas a favor da aprendizagem. E, isso não é só possível como tem sido extensamente estudado, proposto e implementado em diversas escolas, colégios e ambientes educativos por todo o Brasil. Afinal, se computadores, tablets, celulares e a internet, de modo geral, são tão capazes de prender a atenção e motivar crianças e jovens a passar horas em frente a uma tela, por que não utilizamos dessa ferramenta para promover a aprendizagem? A neurodidática se utiliza dos conhecimentos das neurociências para, juntamente com a pedagogia e diferentes abordagens didáticas, promover a aprendizagem, portanto, considerando os princípios da neurodidática, o uso dessas tecnologias para instigar a aprendizagem é muito bem-vindo. Umas das funções da aprendizagem é preparar os indivíduos para os desafios da vida adulta. E, uma das grandes vantagens das tecnologias é a capacidade de simular situações de modo que elas sejam similares o suficiente com situações reais, mas sem os riscos associados às atividades reais. Imagine o quão arriscado seria para um piloto iniciante pegar um avião pela primeira vez sem ter treinado em simuladores. Da mesma forma, por diversas limitações, não podemos experimentar “ao vivo” tudo que aprendemos. Seria ótimo fazer uma visita aos Andes, ao Polo Sul, a Roma, enquanto aprendemos sobre as montanhas da América, os pinguins e o Império Romano, respectivamente, mas como isso tudo não é possível, uma simples consulta na internet pode nos trazer imagens desses lugares e informações complementares que facilitem a nossa compreensão e retenção de aprendizagem. Nós aprendemos melhor aquilo que experimentamos e atribuímos emoções e sentidos, nesse sentido, a internet nos possibilita viajar e simular experiências sem que tenhamos que sair de casa ou da escola. Além de poder facilitar a aprendizagem, tornando as tarefas a serem aprendidas mais interessantes, a tecnologia por si só também passa 31 a ser uma demanda de aprendizagem. Por exemplo, você não poderia ter acesso a essa aula se não tivesse aprendido a utilizar um computador ou navegar na internet. Assim, vale destacar que as telas, telinhas e telonas não são necessariamente boas ou ruins, e que os efeitos benéficos ou maléficos das tecnologias dependem do uso que fazemos delas. Nesta aula, aprenderemos como a utilização de recursos tecnológicos podem promover a aprendizagem. 2. O uso da tecnologia a favor da aprendizagem Há alguns anos, se seu objetivo era trabalhar em um escritório, seria necessário aprender a datilografar. Essa habilidade também era exigida de alguns outros profissionais, como professores. Os tempos eram outros e a máquina de escrever era a grande ferramenta para a escrita. Atualmente, o cenário é bem mais complexo e diversas tecnologias da informação e comunicação (TIC) fazem parte do dia a dia de trabalho de, praticamente, todas as pessoas. Lembre-se que, as neurociências buscam compreender como o cérebro e o sistema nervoso funcionam, bem como as suas relações com os comportamentos. Essas são informações acumuladas por vários estudos e pesquisas que possibilitam compreender, ao menos em parte, como as memórias se consolidam, incluindo a importânciade manter a atenção para memorizar, como tendemos a lembrar melhor fatos ou eventos marcantes e ainda como a motivação tem um importante papel no aprendizado. Já a didática consiste em conhecimentos pedagógicos para promoção de melhores condições de aprendizagem. A didática somada e aplicada aos conhecimentos de neurociências forma a neurodidática. Seguindo os princípios da neurodidática, as 32 TICs têm um papel importante na aprendizagem, justamente, por serem atrativas, chamativas e promovedoras da retenção da atenção, facilitando o processo de aprendizagem. Por sua vez, as TICs são um conjunto de recursos tecnológicos que podem ser utilizados com diversas finalidades, como no processo de automação da indústria, no comércio, em pequenos e grandes negócios, na saúde e na própria educação. No entanto, com a popularização e avanço da internet, as TICs se tornaram mais presentes e impactantes em praticamente todas as atividades humanas (ZANDVLIET, 2012; SANTOS; ALMEIDA; ZANOTELLO, 2018). Esse fato pode ser verificar se pensarmos em como seria a sua rotina sem o uso das TICs: quais tecnologias de informação e comunicação você utilizou hoje? Desde o agendamento de uma consulta médica pelo computador, a pesquisa de preços de um objeto desejado em sites na internet, as notícias sobre o Brasil e o mundo disponíveis nos meios eletrônicos e até os seus estudos e o acesso a essa aula EAD estariam seriamente comprometidos ou impossibilitados sem o uso das TICs. Em relação à educação, as TICs têm sido cada vez mais inseridas no contexto educacional, devido às grandes pressões políticas, econômicas, sociais e tecnológicas, marcadas pelo aumento da compra de equipamentos tecnológicos por escolas e pelo grande número de possibilidades de usos didáticos para essa ferramenta (SANTOS; ALMEIDA; ZANOTELLO, 2018). Há, inclusive, políticas públicas brasileiras que incentivam a criação de programas e projetos com os objetivos de capacitar professores para uso didático das TICs e criar laboratórios de informática em ambientes educativos, com distribuição de laptops e computadores. Essas políticas incluem a Secretaria de Estado de Educação (SEED), o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo), as Mídias na Educação e o Programa um Computador por Aluno (Prouca) (Souza; Linhares, 2011). 33 3. Desafios da implementação das TICs no contexto escolar brasileiro A compra de equipamentos tecnológicos é fundamental, mas está longe de ser a única medida para que as TICs sejam implementadas de forma efetiva no contexto escolar brasileiro. Nesse sentido, é importante salientar que uma das dificuldades para essa implementação está na própria preparação dos professores para utilização das TICs. Os professores passam por cursos teóricos e de modo paradoxal, e eles precisam ser capacitados dentro de sua formação para atuarem na promoção da autonomia intelectual de seus alunos, com reflexões críticas e formação de pensamentos e ideias a partir de suas reflexões (SANTOS; ALMEIDA; ZANOTELLO, 2018). Assim, é importante que a própria formação desses professores e educadores sejam modificadas, sem que lhes seja imposto consumir programas prontos e limitados, mas promovendo o pensamento crítico e reflexivo nos próprios professores, para que assim eles estejam capacitados a promoção do mesmo tipo de formação crítica para seus alunos. Nesse sentido, o acesso aos equipamentos para o uso das TICs é tão importante quanto saber como e quando usá-las para potencializar a aprendizagem. Para isso, é importante que o educador tenha conhecimento e familiaridade com o equipamento tecnológico a ser utilizado, sendo capaz de julgar em quais situações seria benéfico a sua inclusão nas atividades educativas propostas. Mas, esse processo, também precisar ser de forma natural, como ocorre em outras esferas da vida (SANTOS; ALMEIDA; ZANOTELLO, 2018). Para muitas pessoas, talvez para você também, não passar por seus pensamentos: “devo pesquisar na internet para aprender”. Provavelmente, o que acontece é que quando surge uma dúvida, naturalmente, você consulta à internet como a fonte mais fácil de obtenção de resposta (embora essa busca deva levar em consideração as fontes encontradas, uma vez que a internet possui boas fontes, com critérios 34 científicos, mas também há más fontes, com opiniões ou informações sem critérios científicos rigorosos). Não se trata de disponibilizar laboratórios de informática em horários específicos, mas de tornar a sala de aula um ambiente equipado com recursos que estejam à disposição de alunos e professores para uso regular e em condições adequadas, conforme suas demandas e seus interesses, como ação natural e constante. (SANTOS; ALMEIDA; ZANOTELLO, 2018, p. 334) Como podemos observar, os autores propõem uma alteração do ambiente escolar, com a inserção dos computadores de modo natural e integrado ao cotidiano da sala de aula e não como algo separado, em outro local, com horário marcado e específico para a aprendizagem. Segundo Papert (2008), o uso da tecnologia no aprendizado pode ocorrer de modo ‘construcionista’, no qual o aluno aprende na prática, interagindo com seus colegas, por meio da resolução de problemas e com a compreensão de que os erros fazem parte do processo de aprendizagem. Nesse sentido, Costa et al. (2012) propõem também uma mudança de paradigma sobre o que é ensinar e aprender, apresentando uma diferença importante sobre o aprender rico, sendo caracterizado por uma produção própria pós-aprendizado e um aprendizado pobre, marcado pela reprodução do que foi aprendido. Nesse cenário, as tecnologias digitais são consideradas “uma ferramenta cognitiva do aluno, porque o ajudam, sobretudo, a pensar e resolver problemas, a criar e a expressar-se, a interagir e colaborar com os outros” (COSTA et al., 2012, p. 31). 35 Figura 1–Utilização da TICs por adolescentes no ambiente escolar Fonte: monkeybusinessimages/Istock.com. 4. Tecnologias da informação e comunicação e acessibilidade na educação Como vimos, as TICs possuem potencial para facilitar a aprendizagem, preferencialmente, devendo ser integradas ao ambiente escolar de modo natural. A utilização das TICs também tem um importante papel na integração e na aprendizagem de pessoas com necessidades especiais. Para essas pessoas, as TICs podem ser utilizadas por meio das Tecnologias Assistivas. As Tecnologias Assistivas correspondem a uma área do conhecimento interdisciplinar que visa promover a funcionalidade da pessoa que tem deficiência, incapacidades ou mobilidades reduzidas, buscando “sua 36 autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social” (BRASIL, 2007). Nesse sentido, Galvão Filho (2009) traz exemplos que facilitam a compreensão sobre o uso das Tecnologias Assistivas. Segundo o autor, o uso das TICs como Tecnologia Assistiva se daria quando os equipamentos são utilizados como uma ferramenta para a realização de alguma tarefa que de outro modo não será possível ou será dificultada, por exemplo, um indivíduo que não pode escrever de modo cursivo devido a uma deficiência, mas ele pode ser capaz de digitar no computador. Já a utilização das TICs por meio das Tecnologias Assistivas ocorre quando o objetivo é utilizar o computador, mas o seu uso é dificultado ou impossibilitado devido a deficiência, então, com o uso de Tecnologias Assistivas como mouses e teclados adaptados essa ação se torna possível. Com isso, podemos notar que há uma relação próxima e intrínseca entre as TICs e as Tecnologias Assistivas. Independentemente do tipo de tecnologia utilizado, poder facilitar a vida de pessoas com necessidades especiais, tornando suas atividades mais fáceis, possibilitando maior independência e conforto são contribuições tecnológicas importantes que devem ser expandidas para atingir o maior número possível de pessoas que possam vir a se beneficiar desses equipamentos e tecnologias. Segundo Santarosa (1997),entre as categorias de utilização de TICs como Tecnologia Assistiva, destacam-se: • TICs como sistemas auxiliares ou prótese para a comunicação: visa facilitar ou possibilitar a comunicação de pessoas com deficiência motora ou incapacidade de fala, como pessoas com paralisia cerebral, autismo, afasia, etc. Esses sistemas utilizam de linguagem não verbal para possibilitar a comunicação, por meio da apresentação de figuras que representam coisas, objetos ou ideias. 37 • TICs para controle ambiental: podem ser utilizadas para facilitar o controle ambiental de pessoas com dificuldades de locomoção, por meio de sistemas que permitam acender ou apagar as luzes, utilizar equipamentos eletrônicos, entre outros, dando mais autonomia a essas pessoas. • TICs como ferramenta/facilitador de aprendizagem: visa utilizar as TICs para possibilitar a aprendizagem. Por exemplo, em uma aula em que o professor apresenta slides, um aluno com baixa acuidade visual poderia ser beneficiado por um computador que apresente os slides mais perto dele, facilitando a leitura em comparação com o apresentado em sala de aula, possibilitando ao aluno seguir o conteúdo sem prejuízos. • TICs como meio de inserção no trabalho profissional: o uso das TICs pode tornar o indivíduo mais autônomo e capaz de realizar atividades remuneradas, tornando-o mais independente e atuando de forma positiva para auto estima e qualidade de vida. Essas diferentes classificações possuem caráter didático e, muitas vezes, as mesmas TICs podem ser utilizadas com diferentes propósitos, ou ainda um mesmo indivíduo ser usuário de mais de uma TICs para auxiliá-lo na aprendizagem. Como dito anteriormente, a Tecnologia Assistiva pode ser necessária para que pessoas com diferentes tipos de deficiência ou desabilidade tenham acesso às TICs. Esse acesso é importante pois a pessoa com de deficiência deve estar integrado e ser participante dos meios sociais, do trabalho e das comunidades. Entre essas possibilidades, destacam-se: • Adaptações físicas ou órteses: aparelhos que facilitam o manejo do computador por indivíduos com deficiências ou limitações físicas. Nessa categoria estão inclusos estabilizadores de punho com ponteira para digitação, necessário em casos de paralisia cerebral. 38 • Adaptações de hardware: adaptações físicas no computador, tornando o seu uso adaptado as pessoas com deficiências. O simples posicionamento do teclado de modo mais adequado para alguém com limitações motoras pode facilitar o seu uso. Outro exemplo é uma barreira de acrílico no teclado (máscara de teclado), que dificulta a pressão de teclas não intencionais, esse recurso é especialmente importante para as pessoas com dificuldade de coordenação motora. • Softwares especiais: programas realizados de maneira adequada ao uso de pessoas com deficiências. Um dos usos consiste na utilização de sopros ou pequenos ruídos em um microfone para ativar comandos no computador, o utilizando no lugar do mouse, ampliando o seu uso para muitas pessoas. Em resumo, o uso de tecnologias pode ser uma ferramenta importante para a educação, auxiliando pessoas a aprender em diversos contextos, com ou sem necessidades especiais. Os equipamentos tecnológicos podem facilitar explicações de aulas, fazer com que os alunos tenham experiências enriquecedoras e até facilitar atividades diárias, conferindo mais autonomia para os alunos. No entanto, é importante lembrar que apenas as tecnologias não promovem aprendizado. Logo, é importante que um plano pedagógico adequado seja estabelecido para que as TICs tragam benefícios educativos, bem como os professores conheçam bem as ferramentas para determinar quando elas podem ser empregadas. Por fim, as tecnologias devem ser integradas a realidade educativa de forma natural, assim como ocorre em outros âmbitos da vida. Referências Bibliográficas BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Ata da 7ª Reunião do Comitê de Ajudas Técnicas. Brasília: SEDH, 2007. 39 COSTA, F. (Coord.); RODRIGUEZ, C.; CRUZ, E.; FRADÃO, S. Repensar as TICs na educação: o professor como agente transformador. Lisboa: Santillana, 2012. GALVÃO FILHO, T. A. Acessibilidade tecnológica. In: DÍAZ, F. et al. (Orgs.) Educação inclusiva, deficiência e contexto social: questões contemporâneas [on-line]. Salvador: EDUFBA, 2009. p. 191-202. PAPERT, S. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Porto Alegre: Artmed, 2008. SANTAROSA, L. M. C. “Escola virtual” para a educação especial: ambientes de aprendizagem telemáticos cooperativos como alternativa de desenvolvimento. Revista de Informática Educativa, Bogotá, v. 10, n. 1, p. 115-138, 1997. SANTOS, V. G. dos; ALMEIDA, S. E. de; ZANOTELLO, M. A sala de aula como um ambiente equipado tecnologicamente: reflexões sobre formação docente, ensino e aprendizagem nas séries iniciais da educação básica. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 99, n. 252, p. 331-349, ago. 2018. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-66812018000200331&lng=e n&nrm=iso. Acesso em: 24 jan. 2020. SOUZA, A. G.; LINHARES, R. N. Políticas públicas de educação e tecnologia: o histórico das TICs no processo educativo brasileiro. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL EDUCAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE, 5., 2011, São Cristóvão. Anais... São Cristóvão: UFS, 2011. ZANDVLIET, D. B. ICT learning environments and science education: perception to practice. In: FRASER, B. J.; TOBIN, K. G.; McROBBIE, C. J. (Eds.). Second International Handbook of Science Education. Dordrecht: Springer, 2012. p. 1277-1289. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-66812018000200331&lng=en&nrm=iso. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-66812018000200331&lng=en&nrm=iso. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-66812018000200331&lng=en&nrm=iso. 40 Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem Autoria: Tamires Araujo Zanão Mariano Leitura crítica: Neide Rodriguez Barea Tavares Objetivos • Compreender e citar os estágios do desenvolvimento neuropsicomotor segundo Denver. • Compreender as principais características do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). • Identificar a problemática do termo “atraso” do desenvolvimento neuropsicomotor. • Identificar como a neurodidática se relaciona com desenvolvimento neuropsicomotor. 41 1. Introdução A ideia de educar pressupõe cuidar e zelar pela vida de uma criança ou jovem para que possa se desenvolver, evoluir, adquirir conhecimentos ou habilidades, que sem orientação não seriam capazes de adquiri- los. Por exemplo, um bebê em seu processo de transformação se transformará em uma criança. Antes de aprender a correr, a criança deve aprender a andar, ser capaz de dar os primeiros passinhos, no início eles serão, provavelmente, desajeitados, mas com a prática ele conseguirá manter as pernas mais fortes e na posição correta para, inicialmente andar e, posteriormente, correr. Do mesmo modo, para uma criança aprender a escrever, inicialmente, ela precisará manusear o lápis, saber como segurá-lo de modo apropriado, fazer rabiscos, formas, até conseguir o desenvolvimento motor para copiar as letras. Assim, atribuir sentido as palavras e frases é outro processo que deve acontecer em conjunto, para que essas formas possam ser lidas, dotadas de sentido e significado. Nesse sentido, não esperamos que um bebê recém-nascido seja capaz de sair correndo pela casa, assim como pode ser preocupante que uma criança com mais de cinco anos não seja capaz de segurar um lápis para fazer rabiscos simples. Isso ocorre porque o corpo do homem não nasce completamente pronto, mas ele tem a potencialidade de se desenvolver. Logo, espera-se por uma certa cronologia no desenvolvimento da criança, tanto na aquisição dos comportamentos mais simples aos mais complexos, como também há uma ‘ordem’,ou seja, alguns tipos de comportamento serão adquiridos antes do que outros, mesmo que não sejam da mesma natureza (em geral, um bebê deve sentar – atividade motora – antes de começar a falar palavras – linguagem, que também envolve motricidade). 42 Os primeiros anos da vida de uma criança são fundamentais para que o seu corpo se prepare para os desafios do futuro. Por isso, acompanhar o desenvolvimento psicomotor é essencial, atrasos nesses desenvolvimentos podem exigir uma atenção especial, a fim de que o aprendizado não seja prejudicado ou para facilitar que ele ocorra da melhor forma possível. Nesta aula, exploraremos alguns conhecimentos da neurociência – que nos auxiliam na neurodidática, ou seja, em conhecer as características cerebrais relacionadas com a aprendizagem e as melhores formas de aliar esses conhecimentos à didática – e do desenvolvimento neuropsicomotor. 2. Características do desenvolvimento neuropsicomotor O ‘desenvolvimento neuropsicomotor’ pode ser compreendido como: a aquisição de capacidades e habilidades adequadas e de acordo com a idade do indivíduo, seguindo uma sequência de estágios pré- determinados. Essas informações são importantes pois, por meio delas, é possível notar desvios no desenvolvimento e, assim, procurar o acompanhamento médico e terapêutico para auxiliá-la nesse processo. Os seres humanos têm o desenvolvimento no sentido ‘craniocaudal’, o que significa que primeiro o bebê será capaz de firmar a cabeça, em seguida, adquirirá a habilidade de controlar o tronco e, por último, os membros. Por sua vez, o cérebro se desenvolve no sentido póstero- anterior, ou seja, da região da parte de traz da cabeça para a região da frente. Como o lobo occipital está localizado na parte posterior e essa região é importante para a visão, a fixação do olhar ocorre primeiro que a movimentação dos braços (área motora localizada na porção mais anterior do cérebro, mais a frente) (DESENVOLVIMENTO..., [s.d.]). 43 Assim, podemos observar que o desenvolvimento segue uma lógica e que é possível acompanha-lo em cada fase. Para que os profissionais da saúde possam acompanhar e comparar o desenvolvimento de um determinado bebê com os demais é importante utilizar um instrumento padrão, nesse caso, utilizamos a Escala de Denver II. Segundo Moraes et al. (2010), inicialmente, esse teste foi criado por Frankenburg e col., em 1967, para identificar precocemente as condições de desenvolvimento da criança. Uma nova escala foi adaptada em 1990, com o nome Teste de Triagem do Desenvolvimento de Denver Revisado (TTDD-R) ou Denver II. Por sua vez, esse teste contém 125 itens e avalia quatro domínios, sendo: (1) desenvolvimento social; (2) desenvolvimento motor; (3) desenvolvimento da linguagem; e, (4) desenvolvimento do desenho. A seguir, apresentaremos uma breve lista de comportamentos ou habilidades esperadas para cada uma dessas quatro categorias (DESENVOLVIMENTO..., [s.d.]): 1. Desenvolvimento social: englobam habilidades e comportamentos que ligam o bebê aos cuidadores e aos demais: - Olhar o interlocutor e segui-lo com o olhar: 2 meses de idade. - Sorriso social: 3 meses. - Levar as mãos aos objetos: 4 meses. - Se sente apreensivo com estranhos: 10 meses. 2. Desenvolvimento motor: habilidades motoras que envolvem grupos musculares: - Sustentar a cabeça: 4 meses. - Sentar com apoio: 6 meses. - Sentar sem apoio: 9 meses. 44 - Ficar em pé com apoio: 10 meses. - Ficar em pé sem apoio: 18 meses. 3. Desenvolvimento da linguagem: aquisição da capacidade de articulação das palavras, a fala: - Lalação (balbuciar primeiros sons): 6 meses. - Falar primeiras palavras: 12 meses. - Pequenas frases: 18 meses. 4. Desenvolvimento do desenho na linguagem: aquisição da capacidade de desenhar: - Rabiscos, com posterior nomeação do significado pela criança: 2 anos. - Tentativa de representação da figura humana: 3 anos. Embora seja importante ter em mente essa cronologia de habilidades como base para o desenvolvimento, é preciso considerar que existem diferenças individuais que devem ser respeitadas. Os profissionais da saúde poderão salientar quando algo deverá ser realizado frente a um atraso no desenvolvimento. Para esses casos, a educação tem um papel fundamental. 3. Atraso de desenvolvimento: o que é? De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2005), as estimativas indicam que cerca de 200 milhões de crianças com menos de cinco anos no mundo todo estão sob risco de não atingirem o desenvolvimento pleno, por vários motivos. Segundo Dornelas et al. (2015), a estimativa da prevalência de casos de atraso 45 do desenvolvimento neuropsicomotor é dificultada, entre outras coisas, pela diversidade de termos utilizados para se referir a essa condição, mas a OMS (Organização Mundial da Saúde) considera que cerca de 4,5% da população mundial com menos de cinco anos apresenta algum atraso no desenvolvimento. No Brasil, várias medidas foram tomadas para contribuir com a diminuição dos casos de atraso no desenvolvimento, como o maior controle e cuidados neonatais, maior assistência à bebês no primeiro ano de vida e maior poder aquisitivo da população em geral. Logo, a queda na mortalidade infantil no Brasil deve, sem dúvidas, ser comemorada. No entanto, como consequência, com mais crianças prematuras sobrevivendo, a ocorrência de prejuízos no desenvolvimento é mais frequente. Nesse sentido, Dornelas et al. (2015) aponta que há outros fatores da infância interferem para que esses atrasos ocorram, mas vale salientar: (1) todas as fases de desenvolvimento do feto até o parto, estando relacionada à saúde da mãe; (2) alterações neurológicas, como paralisia cerebral e, ainda, (3) alterações genéticas. Mas, afinal, o que consideramos ‘atraso de desenvolvimento’? Segundo Santos (2015), inicialmente, esse termo foi utilizado para se referir aos bebês prematuros. Posteriormente, ele também foi utilizado para caracterizar as crianças com deficiência mental, paralisia cerebral, autismo, hidrocefalia, síndrome alcóolica, desordens cromossômicas, atraso motor, atraso de linguagem, atraso de comportamento, atraso global, entre outros. Em resumo, primeiramente, esse termo foi utilizado para se referir a crianças prematuras, em seguida, crianças com desempenho abaixo da média em testes de desenvolvimento e, por fim, para crianças abaixo de cinco anos com problemas neurodesenvolvimentais. Segundo Dornelas et al. (2015), em seu artigo intitulado Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor: mapa conceitual, definições, usos e limitações do termo, é questionável a ampla utilização desse termo, bem 46 como as confusões decorrentes dessa amplitude de significados. Um fato interessante levantado no artigo é a ausência do termo em manuais norteadores de condutas de profissionais de saúde, como a Classificação Internacional de Doenças (CID) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais (DSM-IV). Nesse sentido, o artigo apresenta a definição dada pelo Dictionary of Developmental Disabilities Terminology ([s.d.] apud DORNELAS et al. 2015, p. 90): “atraso do desenvolvimento é uma condição em que a criança não está se desenvolvendo e/ou não alcança habilidades de acordo com a sequência de estágios pré- determinados”. Uma das questões a cerca dessa definição é a ideia de que o atraso significaria que as habilidades serão adquiridas, porém em um tempo diferente, com demora, mas situações em condições diferentes são abarcadas pela mesma terminologia, fazendo com que os desfechos e caminhos sejam, também, muito distintos, com prognósticos diferentes. Logo, não há uma solução plena para essa situação, devendo que os profissionais de saúde esclareçam para os pais e/ou responsáveis qual a real situação de seus filhos e o que se espera dentro das possibilidades do quadro e condições de cada um. O atraso do desenvolvimento está associado a várias condições da infância, desde a concepção,gravidez e parto, decorrentes de fatores adversos como a subnutrição, agravos neurológicos, como a encefalopatia crônica da infância (paralisia cerebral), e genéticos, como a síndrome de Down. O atraso pode ser também uma condição transitória, não sendo possível definir qual será o desfecho do desenvolvimento da criança, o que pressupõe o acompanhamento com avaliações periódicas. (DORNELAS; DUARTE; MAGALHÃES, 2014, p. 90) 4. A educação em contexto de atraso neuropsicomotor Como apresentado na seção anterior, o número de crianças com diversos atrasos de desenvolvimento neuropsicomotor está cada vez 47 maior. Com isso, é necessário pensar em políticas de inclusão, tornando possível que esses jovens sejam verdadeiramente integrados no sistema educacional. Nesse sentido, permitir ou estimular a inclusão de jovens com atrasos pode ser benéfico tanto para as próprias crianças, como também para os colegas de classe, possibilitando a interação e ajuda mútua. Portanto, incluir um aluno com qualquer tipo de atraso significa garantir que ele possa aproveitar as atividades e conteúdos ensinados, mesmo que de forma diferente dos demais alunos. Para isso, o uso de tecnologias e a preparação dos educadores é fundamental, visto que estar apenas de ‘corpo presente’ pode ser muito prejudicial a criança que não consegue participar das atividades. Assim, é importante compreender que, em determinados casos, não será possível que as tarefas sejam realizadas da mesma forma por todos os alunos, o que não significa necessariamente que alunos com necessidades diferentes não possam se beneficiar de uma atividade realizada em conjunto. A inclusão ajuda a construir uma sociedade mais igualitária e menos preconceituosa, possibilitando que os jovens possam vivenciar diferentes realidades, aprendendo que existe diferentes possibilidades. Sobre os avanços da educação inclusiva, Dutra (2006, p. 3) afirma que: A educação inclusiva é hoje o debate mais presente na educação do país. Nunca antes foi tão discutido o princípio constitucional de igualdade de condições de acesso e permanência na escola, implicando na necessidade de reverter os velhos conceitos de normalidade e padrões de aprendizagem, bem como, afirmar novos valores na escola que contemplem a cidadania, o acesso universal e a garantia do direito de todas as crianças, jovens e adultos de participação nos diferentes espaços da estrutura social. 48 Figura 1 – Crianças com e sem atraso do desenvolvimento psicomotor realizando atividades pedagógicas juntas Fonte: FatCamera/iStock.com. Para que a inclusão desses alunos realmente ocorra, são necessárias diversas ações, entre elas destaca-se a qualificação profissional. Segundo Gonzaga (2007), são diversos os desafios que dificultam que a inserção de pessoas com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor ocorra de modo adequado, como salas superlotadas de alunos e a ausência de monitores para auxílio dos professores, dificultando que o profissional possa se dedicar a todos os alunos de modo satisfatório. Nesse sentido, salas com alunos com diferentes tipos de necessidade exigem, necessariamente, que o profissional também se divida para acompanhar cada criança dentro de seu quadro individual. Logo, um aluno com mais necessidades pode precisar de mais atenção ou auxílio, e nesse cenário o professor também necessitará do auxílio de um monitor para executar suas tarefas adequadamente. Mais do que ter a disposição professores capacitados e monitores preparados, a infraestrutura também deve ser apropriada, adaptada para receber esses alunos. Além disso, o poder 49 público, a família e a sociedade também devem estar envolvidos na causa da inclusão social. 5. O desenvolvimento neuropsicomotor e a neurodidática Até esse momento, você já deve ter compreendido que o termo neuropsicomotor engloba diferentes questões e problemas. Logo, você deve ter em mente que podemos nos esforçar para que esses indivíduos sejam incluídos na educação formal, e que tanto os alunos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor quanto alunos de desenvolvimento padrão sejam beneficiados por essa convivência. Agora, realizaremos uma análise sobre como a neurodidática está relacionada com essa temática. A neurodidática baseia-se nos conhecimentos das neurociências, que podem ser um importante recurso para o professor e para os demais profissionais que trabalham na área da educação. Segundo Duque (2013), os professores que conhecem os aspectos neuropsicológicos e neurobiológicos dos processos cognitivos e sociais de crianças e adolescentes podem otimizar as suas práticas, buscando as melhores maneiras de transmitir e promover o conhecimento. Se os conhecimentos de neurociências são importantes para promover e facilitar a aprendizagem de alunos com desenvolvimento típico, para alunos com atraso eles devem ser ainda mais valorizados. Os conhecimentos dos professores sobre o que esperar de alunos com atrasos do desenvolvimento devem levar considerar quais as características desse “atraso” e de suas funções. O aluno apresenta atraso de linguagem ou motor? Ele é prematuro? Existem condições semelhantes na família? 50 Essas informações acerca do aluno devem ser feitas com cautela, mas elas são fundamentais, pois potencializam o trabalho do professor na sala de aula. Para isso, essa abordagem deverá ser realizada a família do aluno, essa relação tende a ser muito positiva para a escola, a família e, principalmente, para a criança. Pode ser muito angustiante para pais e cuidadores receber um diagnóstico de ‘atraso do desenvolvimento neuropsicomotor’ sem que este termo seja interpretado adequadamente, podendo levar a medos e anseios que não necessariamente fazem parte do prognóstico daquela criança. Assim, envolver os pais não apenas para buscar informações sobre a criança, mas também para fornecer informações para elas sobre o desempenho da criança na escola, seus avanços e dificuldades, pode trazer tranquilidade aos pais para que eles também incentivem o desenvolvimento dos pequenos da melhor maneira possível e dentro das possibilidades de cada um. Como pessoa que necessita cuidados, as crianças se beneficiam quando esse cuidado realizado pela escola e pelos pais é convergente, ou seja, age para o bem comum dela. Portanto, compartilhar os conhecimentos e pensar em alternativas metodológicas que auxiliem a aprendizagem dessas crianças é uma das funções que podem englobar o conceito de neurodidática. Referências Bibliográficas DESENVOLVIMENTO neuropsicomotor. Faculdade de Ciências Médicas–UNICAMP. Disponível em: https://www.fcm.unicamp.br/fcm/neuropediatria-conteudo-didatico/ desenvolvimento-neuropsicomotor. Acesso em: 11 fev. 2020. DORNELAS, L. de F.; DUARTE, N. M. de C.; MAGALHÃES, L. de C. Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor: mapa conceitual, definições, usos e limitações do termo. Revista Paulista de Pediatria, v. 33, n. 1, p. 88-103, mar. 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103- 05822015000100088&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 10 fev. 2020. DUQUE, M. E. A. La neurociencia en las ciencias socio-humanas: una mirada transdisciplinar. Ciencias Sociales y Educación, v. 2, n. 3, p. 153-166, jan./jun. 2013. https://www.fcm.unicamp.br/fcm/neuropediatria-conteudo-didatico/desenvolvimento-neuropsicomotor https://www.fcm.unicamp.br/fcm/neuropediatria-conteudo-didatico/desenvolvimento-neuropsicomotor http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-05822015000100088&script=sci_arttext&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-05822015000100088&script=sci_arttext&tlng=pt 51 Disponível em: https://revistas.udem.edu.co/index.php/Ciencias_Sociales/article/ view/808/748. Acesso em: 2 jan. 2020. DUTRA, C. P. Editorial. Revista da Educação Especial, ano 2, n. 3, dez. 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao1.pdf. Acesso em: 11 fev. 2020. GONZAGA, A. K. de S. O pedagogo como mediador
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