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(0 a 1 ano e 6 meses) João Batista Araujo e Oliveira Creche I Bebês (0 a 1 a n o e 6 m e s e s) C re c h e I • B e b ê s VOLUME 1 BOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTILBOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL EDUCAÇÃO INFANTIL B O A S P R Á T IC A S D E E D U C A Ç Ã O IN F A N T IL E D U C A Ç Ã O IN F A N T IL J O Ã O B A T IS T A A R A U J O E O L IV E IR A V O L U M E 1 (0 a 1 ano e 6 meses) Creche I Bebês VOLUME 1 BOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTILBOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTILBOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTILBOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTILBOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTILBOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL M AT ER IA L D E D IV U LG AÇ ÃO − VE RS ÃO S U BM ET ID A À AV A LI AÇ ÃO CÓ D IG O D A CO LE ÇÃ O : 0 0 5 7 P 2 2 0 0 4 CÓ D IG O D A O BR A: 0 0 5 7 P 2 2 0 0 4 2 0 3 CAPA_Interacoes_ATICA_PNLD_2022_Creche_Volume1_DIVULGACAO.indd All PagesCAPA_Interacoes_ATICA_PNLD_2022_Creche_Volume1_DIVULGACAO.indd All Pages 5/11/21 10:47 AM5/11/21 10:47 AM João Batista Araujo e Oliveira Doutor em Educação pela Florida State University, Estados Unidos. Presidente do Instituto Alfa e Beto. Dedicou a maior parte de sua vida acadêmica e profissional a questões ligadas à educação. Publicou dezenas de artigos científicos, livros técnicos e coleções de livros didáticos. Foi diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em Brasília, funcionário do Banco Mundial, em Washington, Estados Unidos, e perito da Organização Internacional do Trabalho, em Genebra, Suíça. Nos últimos vinte anos, vem desenvolvendo projetos voltados para o sistema público de ensino. 1ª edição, São Paulo, 2020 VOLUME 1 (0 a 1 ano e 6 meses) Creche I Bebês BOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTILBOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL EDUCAÇÃO INFANTIL FRONTIS_Interacoes_ATICA_PNLD_2022_Creche_Volume1.indd 1FRONTIS_Interacoes_ATICA_PNLD_2022_Creche_Volume1.indd 1 10/6/20 3:11 PM10/6/20 3:11 PM Presidência: Paulo Serino Direção editorial: Lauri Cericato Gestão de projeto editorial: Heloisa Pimentel Coordenação editorial: Claudia Morales Edição: Mariane Braz Brandão, Mirna Acras Imperatore e Cirilo Lemos Planejamento e controle de produção: Vilma Rossi e Camila Cunha Revisão: Denise Morgado (coord.), Alexandra Costa da Fonseca, Ana Paula C. Malfa, Ana Maria Herrera, Anna Emília Soares, Carlos Eduardo Sigrist, Catrina do Carmo Bittencourt, Cláudia Levy, Cristiane Maruyama, Ecila Cianni, Flavia S. Vênezio, Gabriela Macedo de Andrade, Heloísa Schiavo, Hires Heglan, Julia Kusminsky, Kátia S. Lopes Godoi, Luciana B. Azevedo, Luís M. Boa Nova, Luiz Gustavo Bazana, Patricia Cordeiro, Patrícia Travanca, Paula T. de Jesus, Sandra Fernandez, Sueli Bossi e Tamires Bonani Arte: Claudio Faustino (ger.), Erika Tiemi Yamauchi (coord.), Carlos Magno (edição de arte), Formato Estúdio (diagramação) Iconografia e tratamento de imagens: Roberto Silva (coord.), Claudia Balista, Alessandra Pereira, campos de iconografia, Carlos Luvizari, Célia Rosa, Cristina Akisino, Daniel Cymbalista, Danielle de Alcantara e Rodrigo dos Santos Souza (pesquisa iconográfica), Cesar Wolf (tratamento de imagens) Licenciamento de conteúdos de terceiros: Fernanda Carvalho (coord.), Erika Ramires e Márcio Henrique (analistas adm.) Design: Noctua Art (proj. gráfico e capa) Foto de capa: Monkey Business Images/Shutterstock Todos os direitos reservados por Editora Ática S.A. Avenida Paulista, 901, 4o andar Jardins – São Paulo – SP – CEP 01310-200 Tel.: 4003-3061 www.edocente.com.br atendimento@aticascipione.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua - CRB-8/7057 2020 Código da obra CL 719992 CAE 729817 (PR) 1a edição 1a impressão De acordo com a BNCC. Impressão e acabamento 2 V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Credito_LP.indd 2V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Credito_LP.indd 2 07/10/20 23:2307/10/20 23:23 Essa obra foi elaborada pensando em todos os educadores que trabalham em creches, com bebês e crianças bem pequenas. Queremos não só tratar de conceitos e propostas de atividades, mas principalmente tornar evidente a relevância dessa fase da vida para o desenvolvimento infantil: aprender brincando e brincar aprendendo. V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_003_LP.indd 3V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_003_LP.indd 3 10/7/20 11:13 PM10/7/20 11:13 PM INTRODUÇÃO 5 Sumário PARTE II ITINERÁRIOS PEDAGÓGICOS UNIDADE 7 Itinerários de rotina • Hora de Chegar, 39 • Hora da Rodinha, 41 • Hora da Higiene, 45 • Hora de Arrumar, 47 • Hora de Comer, 48 • Hora do Repouso, 49 • Hora de Pátio, 51 • Hora da Despedida, 55 UNIDADE 8 Itinerários pedagógicos Acompanhamento/ avaliação formativa dos itinerários de rotina e pedagógicos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMENTADAS 38 56 121 125 PARTE I O TRABALHO DO EDUCADOR NA CRECHE UNIDADE 1 Aspectos históricos e legais da prática docente na creche UNIDADE 2 Conceitos básicos de desenvolvimento infantil UNIDADE 3 Literacia e literacia familiar UNIDADE 4 Numeracia UNIDADE 5 Educação infantil e o envolvimento da família UNIDADE 6 Preparando-se para os itinerários 9 9 14 26 28 30 31 38 4 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_004_LP.indd 4P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_004_LP.indd 4 07/10/20 18:2907/10/20 18:29 Introdução Este Manual tem como objetivo ajudar o educador a promover o desenvolvimento das crianças nos anos iniciais de vida que estão sob sua responsabilidade. Está organizado da seguinte forma: ● uma parte conceitual – em que apresentamos os fundamentos para o trabalho, as orientações governa- mentais e a nossa proposta; ● uma parte operacional – em que apresentamos os dois tipos de atividade que fazem parte do dia a dia de uma instituição de Educação Infantil: as rotinas, assim chamadas por seu caráter repetitivo, e as demais atividades com intencionalidade. Nesta parte apresentamos: ● os instrumentos de trabalho; ● como integrar os instrumentos de trabalho ao dia a dia; ● o detalhamento de algumas orientações. Essas informações permitirão a você integrar teoria e prática e usar todos esses recursos, de forma con- sistente com a proposta pedagógica da instituição em que você trabalha. Partimos da ideia de que a Educação Infantil tem como propósito promover o desenvolvimento infantil em todas as suas dimensões – física, pessoal, social e cognitiva –, bem como preparar a criança para seu pos- terior sucesso escolar e na vida. O educador precisa conhecer os fundamentos do desenvolvimento, as pro- postas curriculares, a pedagogia da Educação Infantil e os indicadores relevantes para acompanhar o pro- gresso e o resultado de seu trabalho. Nossa proposta pedagógica se baseia no princípio “aprender brincando e brincar aprendendo”. Aprender brincando e brincar aprendendo. U lz a / S h u tt e rs to c k 5 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_005-008_LP.indd 5P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_005-008_LP.indd 5 06/10/20 22:2006/10/20 22:20 Todos nós, adultos, sabemos algo sobre o pro- cesso de desenvolvimento humano, seja pela cons- ciência das mudanças que ocorrem em nosso corpo na adolescência, seja pela convivência com pessoas de diferentes idades. Mas, para educar bem uma criança, não basta esse conhecimento intuitivo. Pre- cisamos conhecer também o que a ciência tem a nos dizer sobre isso. Nos últimos anos, houve enormes avanços cien- tíficos nessa área. Hoje sabemos muito mais sobre o tema do que há algumas décadas. Como sempre, o novo conhecimento confirma muito do que sabía- mos, mas também contesta algumas de nossas in- tuições e traz novas e valiosas informações para orientar o trabalho de pais e educadores. Isso se reflete nas políticas públicasde educa- ção e nos documentos que dão subsídios aos edu- cadores. Destacaremos de imediato dois desses documentos, que são fundamentais para o trabalho com a Educação Infantil: a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) e a Política Nacional de Alfabeti- zação (PNA). BNCC: em que consiste a proposta para a Educação Infantil Formulada sob a coordenação do Ministério da Educação (MEC) e com ampla participação da so- ciedade, a BNCC trata das aprendizagens essenciais da educação básica e serve de referência para que escolas e educadores de todo o pais organizem seu currículo com base nas próprias características, ne- cessidades e condições. Na Educação Infantil, a BNCC propõe seis direi- tos que visam assegurar à criança experiências e interações que possibilitem a aprendizagem. Esses direitos expressam um conceito de Edu- cação Infantil que ultrapassa o simples cuidado e a ideia, muito comum até bem pouco tempo, de que basta a criança pequena se desenvolver de forma espontânea. Na BNCC é enfatizada a concepção de intencionalidade: Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. BNCC, 2018, p. 36. Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. Essa intencionalidade consiste na organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas. Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças. BNCC, 2018, p. 37. Para auxiliar o educador nessa tarefa, a BNCC di- vidiu os objetivos de aprendizagem e desenvolvi- mento na Educação Infantil por campos de experiên- cia, atendendo assim a todos os direitos previstos. Os campos de experiência constituem uma forma de organizar por grandes áreas as experiências e o conhecimento que deve ser propiciado às crianças. 6 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_005-008_LP.indd 6P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_005-008_LP.indd 6 06/10/20 22:2006/10/20 22:20 PNA – POLÍTICA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO A Política Nacional de Alfabetização trata es- sencialmente das condições necessárias e sufi- cientes para assegurar a alfabetização das crian- ças no início da escolaridade formal, ou seja, no 1º ano do Ensino Fundamental. A proposta de al- fabetização contida nessa política e expressa no referido documento se insere no contexto e no conceito de literacia. Esse conceito é conhecido e utilizado há alguns séculos em outros países, notadamente na língua inglesa (literacy), e refe- re-se ao equipamento cognitivo e linguístico ne- cessário para que os cidadãos se beneficiem da linguagem escrita (a palavra literacia vem do la- tim, “letra”). Antes da escola formal, o desenvolvimento do vocabulário de uma criança, assim como o desen- volvimento cognitivo e da linguagem, depende for- temente da qualidade da interação da criança com os adultos que a cercam – na família e nas institui- ções de Educação Infantil. E essa interação pode e deve ser mediada pela imersão no mundo dos livros – da leitura – desde o berço. No caso da creche – especialmente até os 18 meses –, as habilidades es- pecíficas destinadas à preparação para a alfabeti- zação se referem essencialmente à familiaridade com livros e materiais impressos. O documento da PNA também aborda outro con- ceito, mais recente: a numeracia. Esse conceito se re- fere à habilidade de lidar com números. Especifica- mente, a proposta contida no referido documento está diretamente voltada para o desenvolvimento das habilidades relacionadas ao ensino da aritmética nos anos iniciais e, de forma especial, ao desenvolvimen- to de conceitos e habilidades preparatórios que cabe desenvolver no contexto da Educação Infantil, tanto nas creches quanto na pré-escola. BNCC, PNA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL A criança nasce programada para sobreviver, e para isso ela precisa se desenvolver, interagir e aprender nesse processo. A família, os grupos so- ciais, os desafios do cotidiano promovem os estímulos para que esse desenvolvimento ocorra – quanto mais os estímulos forem apresentados no momento certo e de forma adequada maiores as chances de promover um desenvolvimento adequado. É nesse contexto que surge a Educa- ção Infantil, com papéis complementares e bem definidos entre os diferentes atores, com o obje- tivo de permitr que a criança atinja seu potencial máximo. A criança é uma só, ela se desenvolve como um todo. O desenvolvimento de uma área afeta o das demais. O desenvolvimento físico, por exemplo, ao Aprender a andar, por exemplo, contribui para a autonomia da criança, mas durante algum tempo pode comprometer a segurança e trazer medos. Afinal, trata-se de um processo interativo. Para aju- dar a criança a se desenvolver, é importante en- tender o todo e as partes. O educador precisa co- nhecer o desenvolvimento infantil para atuar com foco e saber oferecer estímulos adequados no mo- mento adequado e de forma adequada: cada coi- sa a seu tempo e no seu devido lugar. Diferentemente da educação formal – pautada por disciplinas – a Educação Infantil é pautada pe- lo processo de desenvolvimento infantil. Podemos considerar pelo menos quatro dimensões de desen- volvimento que os psicólogos utilizam para estudar o desenvolvimento infantil. O desenvolvimento pessoal e social refere-se ao processo pelo qual a criança toma consciência de si mesma, desenvolve sua personalidade, seu temperamento, sua autonomia. Isso se dá no rela- cionamento com o outro e requer o controle das emoções, da agressividade e o desenvolvimento progressivo de habilidades sociais para trabalhar cooperativamente. Para se desenvolver e conviver de forma adequada, a criança precisa desenvolver a atenção, a memória e o autocontrole emocional.A BNCC aborda essa área usando os termos “o eu, o outro e nós”. O desenvolvimento físico e motor inclui o equilíbrio e a coordenação, que possibilitam, por sua vez, o desenvolvimento sensorial e das habi- lidades motoras amplas. O desenvolvimento é es- sencial não apenas para a saúde e bem-estar, mas também para a aquisição de habilidades especí- ficas essenciais para o sucesso escolar posterior, como a postura adequada e as habilidades moto- ras finas associadas à aprendizagem e ao domínio da escrita. A BNCC trata do tema usando os con- ceitos de corpo, gestos e movimentos, de um la- do, e, no que se refere ao desenvolvimento sen- sorial, também inclui o desenvolvimento da percepção e da expressão corporal e estética. A BNCC estrutura cinco campos de experiência. Para saber mais, pesquise o conteúdo disponí- vel em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ abase/#infantil/os-campos-de-experiencias>. Acesso em: 24 ago. 2020. Para saber mais 7 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_005-008_LP.indd 7P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_005-008_LP.indd 7 06/10/20 22:2006/10/20 22:20 O desenvolvimento da linguagem constitui uma área de desenvolvimento em si mesma, mas tam- bém é a base para o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem escolar. A BNCC aborda o tema usando os conceitos de escuta, fala, pensamento e imaginação, o que engloba o desenvolvimento tan- to do vocabulário e da capacidade de compreensão oral quanto das habilidades de comunicação, ex- pressão oral e interação com as ideias, imagens e pessoas. O tema também é abordado de maneira mais específica pelo PNA com o conceito de litera- cia. No sentido amplo, o conceito de literacia se es- tende por toda a vida, mas nos anos iniciais, corres- pondentes ao período da creche, o fator crítico é o desenvolvimento da linguagem, especialmente do vocabulário, da compreensão oral, da familiaridade com livros e materiais impressos e, especialmente, a formação do gosto e do hábito pela leitura. Em- bora sem objetivo pedagógico intencional, as crian- ças também são expostas aos números e às letras do alfabeto por meio de brincadeiras e jogos. O desenvolvimento cognitivo refere-se essen- cialmente à capacidade do cérebro em articular os conceitos e tipicamente se expressa por meio de palavras como quem, que, quando, quanto, onde, como, por quê. O raciocínio lógico e matemático também é parte desse processo que permite arti- cular as ideias. A BNCC utiliza a nomenclatura “es- paço, tempos, quantidades, relações e transforma- ções”, bem como menciona o conhecimento do mundo natural e social no qual a criança vive e que precisa decifrar. O PNA se concentra de maneira mais acentuada nas questões associadas à nume- racia – envolvendo os conceitos e as habilidades para lidar com o sentido do número, os números, as quantidades, propriedades e relações pertinen- tes não apenas ao âmbito do raciocínio matemáti- co, mas também ao raciocínio lógico que permite à criança decifrar e fazer sentido de seu mundo. A criança nasce programada para assimilar esses con- ceitos, mas o que ela consegue assimilar nos pri- meiros anos de vida se faz de maneira informal. O quadro abaixo mostra como a BNCC e o PNA se situam em relação a essas dimensões. Como a ciência organiza o conhecimento Como compatibilizamos o conhecimento científico com as orientações oficiais Áreas do desenvolvimento infantil A BNCC (campos de experiência) A PNA Desenvolvimento pessoal e social O eu, o outro e nós Desenvolvimento físico e motor Corpo, gesto e movimentos Traços, sons, cores e formas Literacia/caligrafia Desenvolvimento da linguagem Escuta, fala, pensamento e imaginação Literacia Desenvolvimento cognitivo/ Conhecimento de mundo Espaço, tempos, quantidades, relações e transformações Traços, sons, cores e formas Numeracia O PNLD Corpo humano e seus sentidos Animais Fenômenos meteorológicos Astronomia Plantas Água e minerais Família e graus de parentesco Rotinas e hábitos do dia Esse quadro permite observar que as propostas do Ministério da Educação podem ser compatibilizadas com o que sabemos a respeito do desenvolvimento infantil – que deve ser o foco do trabalho dos educadores. É interessante que a entrada na creche seja vista como inserção de novas crianças e famílias em um es- paço em que já há algumas regras e rotinas. Acolhimento é uma palavra essencial nesse momento. É impor- tante que esse processo de inserção seja gradual. 8 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_005-008_LP.indd 8P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_Iniciais_005-008_LP.indd 8 06/10/20 22:2006/10/20 22:20 1Parte O trabalho do educador na creche P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U1_009-013_LP.indd 9P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U1_009-013_LP.indd 9 07/10/20 12:5107/10/20 12:51 Jean-Jacques Rousseau foi um filósofo que viveu no século XVIII. Sua filosofia questionava as instituições de sua época, as insti- tuições educacionais – inclusive as poucas que existiam em sua época. Para ele, o homem é bom, nasce bom e só se torna mau pelo convívio com a sociedade. Se o homem vivesse de acordo com as leis da natureza, como viviam os homens primitivos, ele seria bom e não seria pervertido, cultivando as leis naturais da razão, a capacidade de se manter livre e a capacidade de julgar. Suas ideias – apresentadas no livro intitulado Emílio, ou da educação (São Paulo, Martins Fontes, 2004) – tiveram muita importância entre alguns educadores do século XIX e do século XX, como John Dewey, especialmente no respeito ao ritmo e às escolhas das crianças. Fonte Adaptada de CAMBI, France. História da Pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999. Lendo na fonte 1Unidade Aspectos históricos e legais da prática docente na creche Para falarmos sobre prática docente na creche, devemos refletir primeiro sobre o conceito de criança e infância. Por muito tempo a criança foi vista como um adulto em miniatura, porém essa concepção de infância foi se transfor- mando ao longo dos anos. Nos últimos vinte anos, consolidou-se uma ciência do desenvolvimento humano que não apenas descreve com precisão a continuidade do processo de desenvolvimento, mas identifica as características pró- prias e específicas relacionadas à infância. Cabe ao educador conhecer essas características para promover de forma eficaz o desenvolvimento, cujo objetivo é chegar à autonomia e independência próprias do adulto. Para compreendermos a educação infantil como ho- je ela se apresenta, é necessário o entendimento de seu caráter histórico, marcado por contextos diversos, de or- dem política, econômica e social. Educação infantil na perspectiva histórica As crianças sempre usaram suas habilidades de ob- servação e imitação para decifrar o mundo dos adultos. Em todos os tempos, há registros de crianças que brin- cavam e se divertiam em inúmeros tipos de atividades sem nenhum propósito definido – mas que certamente correspondia, como sabemos hoje, às suas necessidades de aprender. Aliás, esse fenômeno também se observa em diversos outros grupos de animais, especialmente en- tre os mamíferos e os primatas. Entre os povos primitivos, as crianças aprendiam primei- ro a observar e, aos poucos, iam sendo introduzidas nos ri- tuais da coleta de alimentos, da caça e da pesca. Nas socie- dades sedentárias, as crianças ficavam em torno da casa até que passassem a acompanhar os pais nas tarefas agrícolas. Mas é nas sociedades urbanas, principalmente a partir da Revolução Industrial, que começa a surgir a necessida- de de creches – com o objetivo de cuidar das crianças pa- ra que as mães pudessem trabalhar. Só no século XVIII, com Froebel, Pestalozzi e Rousseau, começa a surgir a preocu- pação com uma pedagogia específica para a educação in- fantil. Já Maria Montessori, aliou um profundo conhecimen- to científico sobre a criança a uma capacidade de aguda observaçãoe a propostas consistentes para promover o desenvolvimento. Foi a partir dessa tradição que se desen- volveu a ciência do desenvolvimento infantil tal como a co- nhecemos nos dias de hoje. R a w p ix e l. c o m / S h u tt e rs to ck 10 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U1_009-013_LP.indd 10P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U1_009-013_LP.indd 10 07/10/20 12:5107/10/20 12:51 Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) Os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) buscam uma contextualização do que é ensinado, trazendo temas que sejam de interesse dos estudantes e de relevância para seu desenvolvimento como cidadão. O grande objetivo é que o estudante não termine sua educação formal tendo visto apenas conteúdos abstratos e descontextualizados, mas que também reconheça e aprenda sobre os temas que são relevantes para sua atuação na sociedade. Assim, espera-se que os TCTs permitam ao aluno entender melhor: como utilizar seu dinheiro, como cuidar de sua saúde, como usar as novas tecnologias digitais, como cuidar do planeta em que vive, como entender e respeitar aqueles que são diferentes e quais são seus direitos e deveres, assuntos que conferem aos TCTs o atributo da contemporaneidade. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/ contextualizacao_temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 24 ago. 2020. Lendo na fonte De um lado as creches sempre tiverem um cunho eminentemente assistencial, ou seja, o de “cuidar”, sem maior preocupação com o desenvolvimento. Já os jar- dins de infância, tradicionalmente destinados a crianças de 4 a 6 anos, desde sua origem tinham um compromis- so com aspectos relevantes do desenvolvimento infantil. Nas redes de ensino privadas, o último ano da pré-es- cola, destinado a crianças de 6 anos de idade, há déca- das já vinha promovendo a alfabetização de maneira deliberada. O movimento que levou à aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, já refletia o embrião de um novo entendimento a respeito da edu- cação infantil. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/96 (Brasil, 1996), a educação infantil passou a ser reconhecida co- mo parte integrante da educação básica. Inicialmente abrangia os primeiros sete anos de vida – os primeiros quatro anos em creches e os três últimos (correspon- dendo aos antigos jardins de infância) na pré-escola. Atualmente o período da pré-escola foi reduzido, fican- do a educação infantil voltada para crianças de até 5 anos e 11 meses. O termo usado na legislação é “educação infantil”, e ela é subdivida em dois segmentos: creche e pré-escola. Esse termo, além da não obrigatoriedade de atendimen- to em creches, caracteriza a natureza não escolar da educação infantil. Isso sugere, de um lado, a importância e a responsabilidade da família e, de outro, a necessida- de de profissionais, processos, métodos e pedagogia diferenciada para operar as instituições que complemen- tam o trabalho das famílias. Como observado anteriormente, o “currículo” da edu- cação infantil está inscrito no próprio processo de de- senvolvimento. O que a Base Nacional Comum Curricu- lar - BNCC (Brasil, 1996) faz é chamar a atenção para os tipos de estímulos e experiências que devem ser pro- porcionados às crianças. O objetivo da educação infan- til, portanto, é promover o desenvolvimento infantil, se- ja no contexto familiar, no caso das crianças de até 4 anos que não frequentam creches, seja em um contexto institucional de creches e pré-escolas, mas não escolar. A BNCC e os documentos que a antecederam, espe- cialmente a LDB 9 394/96 (Brasil, 1996), o Parecer CNE/ CEB 20/2009 e as Diretrizes Curriculares Nacionais pa- ra a Educação Infantil (DCNEI), refletem o entendimen- to das autoridades brasileiras a respeito desses temas que têm de ser abordados nos currículos escolares. A CIÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL A infância vem assumindo um papel de destaque nas políticas públicas desde, pelo menos, o século XVIII. A educação infantil vem tomando vulto desde meados do século passado. A atenção à primeira infância vem au- mentando na medida em que aparecem evidências cada vez mais sólidas a respeito do seu impacto no desenvol- vimento cognitivo e socioemocional das crianças. O que acontece antes e durante a gravidez, as condições de nascimento das crianças e a qualidade das interações com adultos apresentam forte relação com a trajetória mais ou menos bem-sucedida do desenvolvimento. Tam- bém existem evidências sobre o impacto de creches – mas essas evidências, inclusive obtidas em países desenvolvidos, são pouco animadoras: apenas creches excelentes têm impacto positivo; creches medíocres cos- tumam causar mais danos do que benefícios (Shonkoff e Phillips, 2000). A pré-escola também gera efeitos positivos compro- vados, inclusive no Brasil. Também não basta oferecer pré-escola, sua qualidade tem maior ou menor impacto no futuro desempenho das crianças. Os efeitos da cre- che e pré-escola são mais fortes e duradouros no de- senvolvimento cognitivo do que intervenções posterio- res. Já no que diz respeito às habilidades socioemocionais, essas são mais maleáveis e suscetíveis a mudanças até pelo menos os 30 anos de idade. Nos anos 1960, a educação infantil passou a ser vis- ta como um instrumento potencial de redução de desi- gualdades sociais e recebeu importantes contribuições 11 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U1_009-013_LP.indd 11P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U1_009-013_LP.indd 11 07/10/20 12:5107/10/20 12:51 Nesses trabalhos, encontram-se evidências sobre a im- portância dos estímulos que as crianças recebem – ou devem receber – nos três primeiros anos e como esses estímulos estruturam a forma como elas irão adquirir novos conheci- mentos em fases posteriores da vida. Isto se deve ao fato de a infância ser um período em que o cérebro tem grande plas- ticidade para se remodelar em função das experiências. Ainda nas últimas décadas do século XX, foram pro- duzidos importantes documentos relacionados ao proces- so de alfabetização e ao desenvolvimento de habilidades preparatórias que podem e devem ser desenvolvidas antes da entrada da criança na escola formal. O livro de Adams (1990) e o relatório do National Reading Panel (2000) constituem marcos de referência sobre o tema. Na virada para o século XXI, são notáveis os avan- ços do conhecimento científico a respeito do impacto de determinadas intervenções no funcionamento cere- bral, o que produziu importantes revisões do conheci- mento científico acumulado até o início do século e deu impulso a um novo olhar científico interdisciplinar para as questões do desenvolvimento infantil. De modo par- ticular, foram notáveis os avanços científicos a respeito de como as crianças desenvolvem e aprendem algumas habilidades fundamentais, particularmente as funções de controle executivo (Diamond, 2011; Diamond et al., 2019) a importância da leitura desde o berço (Klass et al., 2010) e das habilidades preparatórias para o conhe- cimento matemático (Dehaene, 1997; relatório do Ins- titute of Education Sciences, 2013). de estudiosos. O tema passou a merecer especial atenção a partir dos achados de James Heckman, que ganhou notoriedade por conquistar um prêmio Nobel de Econo- mia por demonstrar os potenciais efeitos econômicos e sociais de investimentos no que se convencionou chamar de primeira infância. Em decorrência dessas mudanças, de pressões sociais, de evidências e do conhecimento científico acumulado, a partir da segunda metade do sé- culo XX, começaram a surgir pré-escolas e, progressiva- mente, desenvolveu-se a ideia de preparar a criança para a escolarização, especialmente para a alfabetização. A partir de meados dos anos 1960 começarama surgir políticas públicas voltadas para a primeira in- fância, a mais conhecida delas é o programa Head Start, cujas bases conceituais foram desenvolvidas por Eric Bronfebrenner – um dos maiores estudio- sos do desenvolvimento infantil da segunda me- tade do século XX. Essas iniciativas estimularam o surgimento de diferentes modelos de atendimento e muitas avaliações dessas iniciativas. Em paralelo, a psicologia do desenvolvimento, antes restrita ao âmbito dos psicólogos, tornou-se parte da ciência do desenvolvimento humano, incorporando conhe- cimentos de outras áreas, notadamente da Antro- pologia e da Neurociência. A publicação de Shon- koff e Phillips (2000) representa esse novo marco conceitual. Poucos anos depois, começam a surgir políticas consolidadas em outros países, especial- mente no âmbito da OCDE, que fez e continua fa- zendo uma série de publicações intitulada Starting Strong (“começando bem”), abundantemente cita- da no documento da PNA. O primeiro documento publicado no Brasil com ên- fase na ciência do desenvolvimento humano como base para formular políticas de educação infantil data de 2008. Esse documento é fruto de um even- to do qual participou James Garbarino, discípulo de Bronfebrenner, e John Bennett, o inspirador da série Starting Strong da OCDE (Bennett; Dickinson; Garba- rino; Freund; Oliveira, 2008). Esse tema foi retomado e aprofundado pela Academia Brasileira de Ciências, em 2011. Para saber mais BENNETT, J.; DICKINSON, D. K.; GARBARINO, J.; FREUND, L; OLIVEIRA, J. B. A. Educação Infantil: Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Brasília: Confederação Nacional do Comércio Sesc/Senac e Instituto Alfa e Beto, 2008. SHONKOFF, J. P; PHILLPS, D. A. (org.). From neurons to neighborhoods: the science of early childhood development. Washington, D.C.: National Academies Press, 2000. Referência de leitura para aprofundamento pedagógico DEAHENE, S. The number sense: how the mind creates mathematics. Oxford: Oxford University Press, 1997. INSTITUTE OF EDUCATION SCIENCES (Washington, D.C.). Teaching Math to young children. Washington, D.C: Department of Education. IES, 2014. KLASS, P.; DREYER, B.; MENDELSOHN, A. Reach Out and Read: um programa de incentivo à leitura a partir do atendimento em ambulatórios pediátricos. In: Leitura desde o berço: políticas sociais integradas para a primeira infância. Rio de Janeiro, p. 67- 92, 2010. Trabalho apresentado no 3º Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto, 2010. Referência de leitura para aprofundamento pedagógico Pedagogias da Educação Infantil: brincadeiras, intencionalidade e o papel do educador As grandes teorias do início do século XX deram lu- gar a conhecimentos mais específicos e bem fundamen- tados a partir da segunda metade do século passado e início do presente século. 12 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U1_009-013_LP.indd 12P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U1_009-013_LP.indd 12 07/10/20 12:5107/10/20 12:51 Dois dos mais importantes estudiosos do desenvolvi- mento infantil, Jean Piaget e Lev Vigotsky, são conside- rados os pais da psicologia do desenvolvimento no mun- do ocidental e nos países do Leste Europeu, respectivamente. Suas principais contribuições foram de- senvolvidas há cerca de 100 anos e deixaram marcas pro- fundas na ciência do desenvolvimento. Mas a ciência evo- lui, e hoje os conhecimentos sobre a primeira infância, embora ainda limitados, nos fornecem instrumentos de observação, de pesquisa e de intervenção muito mais avançados – como ocorre nas demais áreas das ciências. Hoje não mais existem “grandes teorias”, mas existem mi- ni teorias e conhecimentos específicos que nos permitem entender melhor o desenvolvimento infantil nos seus di- versos aspectos e na sua interação. E permitem a formu- lação de propostas pedagógicas, como a que é aqui apre- sentada, com base nessas evidências. CONTEÚDOS E BRINCADEIRAS A pedagogia da educação infantil apresenta duas di- ferenças importantes em relação à pedagogia da educa- ção escolar formal. A primeira refere-se aos conteúdos: os conteúdos da educação infantil não se exprimem na forma de disciplinas ou matérias escolares, e sim na for- ma de experiências ou habilidades a serem adquiridas. Isso afeta a forma como essas informações e conteúdos devem ser apresentados – e que tem a ver com a forma como as crianças adquirem conhecimento. A outra grande diferença da educação infantil em re- lação à educação formal reside justamente na forma como as crianças aprendem: a criança aprende brincando. Brin- car é a forma de aprender da criança: significa imitar, re- petir, interagir, testar o outro, testar o mundo, tentar de novo, testar os limites – inclusive os limites da paciência dos adultos, especialmente dos pais. É o ponto de partida em que pais e educadores se apoiam para estimular e pro- mover o desenvolvimento da criança. A brincadeira, inicia- da pela criança ou estimulada pelo educador, constitui a forma privilegiada de a criança aprender. Nesse sentido, é possível dizer que brincadeira de criança é coisa séria. Co- locando os dois conceitos juntos: a criança aprende muito brincando, mas não aprende tudo sozinha. Nem aprende por meio de aulas ou exposições didáticas formais – dada sua imaturidade para pensar de maneira abstrata. Ela apren- de por meio de brincadeiras – ou seja, experimentando e testando as informações. Para a criança é mais fácil apren- der a partir do que é familiar do que a partir do que é con- creto. Por exemplo, ela aprende melhor a relação de partes de um biscoito do que de um disco metálico. O lúdico não está no tipo de objeto, está na abordagem, na forma de lidar com os estímulos, que são integrados aos poucos. Por isso, não há aula de literacia, numeracia ou de ciências. Não há “aula” de nada: tudo se aprende ao mesmo tempo, mas com foco, uma coisa de cada vez. Tudo se aprende brincando. Para funcionar, é preciso uma organização ri- gorosa pelo educador – planejar com seriedade o que vai ser apresentado na forma de brincadeiras. A intencionalidade na atuação do educador A intencionalidade que caracteriza as ações do educa- dor, na educação infantil, apresenta características próprias trazendo à tona uma visão de que o papel do educador, nes- ta etapa, é diferente do modelo vinculado aos professores de etapas posteriores da escolaridade. Na educação escolar, a ênfase é maior no ensino. Só recentemente outros aspec- tos educativos, particularmente no âmbito das competên- cias pessoais e sociais, vêm sendo reconhecidos. Na educa- ção infantil isso é mais óbvio – cuidar e educar são indissociáveis. Os cuidados, inclusive com questões de se- gurança, são muito maiores, pois a criança é dependente. E o educar é integrado, não existem matérias, disciplinas ou aulas – o conhecimento deriva da qualidade da proposta de trabalho e, sobretudo, da qualidade das interações entre os adultos e as crianças. Um novo perfil profissional Considerando as mudanças pelas quais a educação infantil atravessou nas últimas décadas, saindo do foco meramente assistencialista e evidenciando o aspecto edu- cacional, com atenção principal ao desenvolvimento in- tegral de bebês e crianças pequenas, cresceu a necessi- dade de que o profissional que trabalha com este segmento seja cada vez mais capacitado e especializado, visto que para a proposta de educação voltada à primei- ra infância é necessária uma aprimorada compreensão do desenvolvimento infantil, assim como de característi- cas e potencialidades da criança. Além disso, requer uma boa formação geral, um conhecimento adequado da li- teratura e especialmente da literatura infantil. E, especial- mente, requer treinamento prático supervisionado por profissionais experientes para habilitar o profissional a desenvolver habilidadesadequadas de interação com as crianças, os colegas e colaboradores e os pais. Conceito de aprendizagem segundo a BNCC de Educação Infantil: 1 – Cuidar e educar. 2 – Formação de vínculo. 3 – Incentivar a autonomia. 4 – Compreender que as crianças, mesmo tendo idades iguais, possuem ritmos diferentes. 5 – Escuta ativa. 6 – Exploração livre e espaços planejados. As crianças devem ser estimuladas a explorar livremente, mas dentro de contextos planejados pelo professor. 7 – Organização do tempo. O professor deve reforçar a criação de uma rotina para o melhor aproveitamento do tempo. Em diálogo com a BNCC 13 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U1_009-013_LP.indd 13P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U1_009-013_LP.indd 13 07/10/20 12:5107/10/20 12:51 Conceitos básicos que todo educador precisa saber sobre desenvolvimento infantil 2Unidade O desenvolvimento se dá como um todo, mas existe uma programação genética que estabelece uma direção e um tempo – ou “janela” em que de- terminadas capacidades e habilidades começam a se desenvolver. Elas vão se desenvolver mais ou menos dependendo dos estímulos que a criança recebe e como interage com eles. Nesta unidade, vamos abordar os seguintes tópicos: ● Natureza e ambiente: como a genética interage com os estímulos. ● O que promove e o que inibe o desenvolvimento: fatores de proteção e fatores de risco. ● O processo de desenvolvimento não é contínuo: há vai e vens. ● Estímulos e interações promovem experiências: os campos de experiências da BNCC. ● Desenvolver significa adaptar-se, mas nem toda adaptação é adequada. ● Três aspectos fundamentais do desenvolvimento infantil: físico e motor, pessoal/social e linguagem. ● Natureza e ambiente: como a genética interage com os estímulos. A genética e os fatores genéticos são extrema- mente importantes; no entanto, tanto a genética como os fatores genéticos têm relação com os acon- tecimentos do meio ambiente e do contexto social da criança. Os genes podem se manifestar de uma maneira ou de outra, de acordo com o que ocorre no ambiente em que a criança é gerada e em que vive. Diferentemente de outros animais, a criança não consegue sobreviver sozinha, e sua infância é prolongada. Ela precisa de proteção, afeto e segu- rança, de um mínimo de estabilidade e de previsi- bilidade por parte de quem cuida dela. As primeiras experiências da criança são decisivas para traçar os rumos de seu desenvolvimento. O que acontece na gestação e nos primeiros meses e anos marca o resto da vida. O cérebro humano é dotado de enor- me “plasticidade”, as pessoas sempre são capazes de aprender. Há períodos mais favoráveis para a criança desenvolver certas habilidades, mas, para isso, são necessários estímulos adequados no mo- mento apropriado. Ou seja, é necessário que a crian- ça cresça em um ambiente propício, que, ao intera- gir em condições ideais com as predisposições genéticas, permita que determinadas habilidades sejam desenvolvidas e que a criança possa atingir seu pleno potencial. “Períodos sensíveis”, por exem- plo, são épocas da vida em que o cérebro e outras estruturas ou funções do organismo ficam mais sus- cetíveis a determinadas experiências. Por exemplo, há períodos sensíveis para aprender a enxergar ou a falar. Plasticidade é a capacidade do cérebro de reorganizar uma estrutura ou função (geralmente após um trauma ou uma perturbação). Por exemplo: a utilização de áreas do cérebro para reaprender a falar ou movimentar-se. A plasticidade dos neurô- nios é muito maior nos primeiros anos de vida. C ro M a ry / S h u tt e rs to ck 14 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 14P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 14 07/10/20 11:0807/10/20 11:08 O que promove e o que inibe o desenvolvimento: fatores de proteção e fatores de risco Quando mencionamos a importância do ambiente para o desenvolvimento adequado, é essencial deixar claro que, no ambiente, existem fatores que promovem o desenvolvimento e fatores que significam risco ao mesmo. Veja mais claramente no quadro a seguir. Fatores de proteção do desenvolvimento Fatores de risco ao desenvolvimento • Gravidez desejada. • Parto a termo e normal. • Afeto, carinho, contato físico. • Segurança, previsibilidade no atendimento às demandas da criança. • Estimulação dos sentidos (sons, iluminação, objetos para a criança pegar). • Oportunidades para conhecer a si mesma, os outros e o mundo. • Brincar, fazer caretas, falar com a criança, conversar, interagir, ler para a criança. • Alimentação adequada. • Higiene. • Privacidade. • Segurança de poder contar com proteção e apoio incondicio- nal de, pelo menos, um adulto. • Herança genética problemática. • Fatores tóxicos durante a gravidez. • Parto prematuro. • Falta de estímulos. • Falta de afeto. • Doenças. • Falta de previsibilidade no ambiente. • Ambiente que não promove a autorregulação. • Ambiente estressante típico de situações de elevado grau de pobreza (gravidez de adolescentes, separação de pais, violência doméstica ou do ambiente, falta de higiene, de- semprego, insegurança). • Má alimentação ou subnutrição. • Ambientes sujos e propícios à propagação de doenças. Fatores de desenvolvimento são acontecimentos, circunstâncias e estímulos saudáveis que promovem o desenvolvimento. Por exemplo, o nascimento a termo, proteção, afeto, estabilidade e previsibilidade são fatores que impulsionam o desenvolvimento satisfatoriamente. Fatores de risco são as circunstâncias que ameaçam o desenvolvimento normal, como uma gestação de risco, drogas de todo tipo, álcool, nascimento prematuro, falta de proteção, elevados níveis de estresse e fa- tores normalmente associados à pobreza – como instabilidade financeira e baixa escolaridade – podem pre- judicar o curso normal do desenvolvimento. Pais e cuidadores tanto podem ser fontes de risco quanto propiciar condições adequadas para estimular o desenvolvimento saudável das crianças. Um alto fator de risco: o estresse O estresse é uma experiência forte ou traumática que mobiliza respostas igualmente fortes. Em situações de es- tresse, o cérebro produz substâncias químicas (como cortisol, adrenalina e outros hormônios), que o ajudam a lidar com essas ameaças. Trata-se de um mecanismo natural e normal de adaptação. Mas o estresse decorrente de um ambiente ou situação tensa/estressante pode causar muitos problemas ao desenvolvimento cerebral e deixar mar- cas. Nos primeiros anos de vida, a criança dispõe de poucos recursos para lidar com o estresse: seu cérebro não é capaz de processar informações de forma adequada. Se for submetida à situação constante de estresse, a criança poderá desenvolver respostas inadequadas, como reações agressivas fortes ou apatia. Esses mecanismos de defesa e adaptação que ela desenvolve, por sua vez, tiram a fl exibilidade para aprender outras formas de lidar com o es- tresse. Nesse caso, a adaptação ocorre em prejuízo da adaptabilidade, ou seja, da capacidade de tornar-se fl exível para aprender novas formas de lidar com situações estressantes. Para saber mais 15 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 15P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 15 07/10/20 11:0807/10/20 11:08 O processo de desenvolvimento não é contínuo: há vai e vens Desenvolvimento significa mudança. O desen- volvimento é saudável quando as mudanças ocor- rem na direção esperada: a criança cresce, apren- de e, sobretudo, torna-se cada vez mais autônoma. Como ocorre em qualquer mudança, o desen- volvimento não é um processo linear. Há altos e baixos, avanços e retrocessos, continuidades e descontinuidades. Alguns processos são mais con- tínuos – como no caso do desenvolvimento mo- tor: a criança vira, senta-se, engatinha, fica de pé com apoio, depois sem apoio, etc.Outros processos são menos contínuos e se dão por “saltos”. Um exemplo o da autoconsciên- cia: a criança, que, por quase dois anos, não sabe muito bem quem ela é nem consegue se ver co- mo diferente do outro, de repente, por volta de 2 anos de idade, passa a se perceber como um “eu” separado, como mostra a imagem a seguir. Alguns processos – como a linguagem – são universais na sua sequência, mas seu tempo de início e sua duração podem variar. Como veremos no volume 2, por exemplo, a criança aprende de 10 a 12 palavras entre os 12 e 18 meses e logo ex- perimenta uma explosão de linguagem por volta dos 20 meses de idade. Outro exemplo: algumas crianças começam a falar entre 10 e 12 meses e outras só começam com 18 meses. Os processos emocionais e de autorregulação sofrem mais descontinuidades e retrocessos que outras áreas do desenvolvimento. Essas descon- tinuidades manifestam-se, sobretudo, diante de transições ou ameaças. Diante de ameaças, a criança que já era independente pode voltar a buscar a proteção da mãe. Diante do nascimen- to de um irmãozinho, por exemplo, a criança po- de voltar a engatinhar, fazer xixi na cama ou pe- dir colo, tornar-se mais infantil, para chamar a atenção. As descontinuidades e os retrocessos mencionados não constituem problemas de de- senvolvimento. Pelo contrário, eles fazem parte do processo normal; portanto, podem e devem ser contornados com atenção e estimulação ade- quadas. A retomada do curso e do ritmo normal do de- senvolvimento da criança vai depender da capa- cidade do adulto de compreender, isto é, a pessoa precisa perceber como os fatores do ambiente interferem no desenvolvimento infantil, entender a trajetória desse desenvolvimento e saber como lidar com a criança nessa situação. Já os chamados “problemas de desenvolvi- mento” são de natureza diferente e decorrem de razões distintas dessas que mencionamos. Algu- mas crianças nascem com doenças ou deficiên- cias causadas por desordens genéticas ou que são contraídas e/ou agravadas depois do nasci- mento e que podem comprometer, dificultar ou retardar o desenvolvimento físico, mental ou so- cioemocional. As crianças que nascem com essas dificuldades ou as manifestam desde cedo podem ser beneficiar de um diagnóstico precoce – quan- to antes, melhor – e de tratamentos adequados, que podem incluir intervenções de natureza mé- dica ou diversas formas de terapia e cuidados es- peciais. O quadro a seguir apresenta os principais ti- pos de problemas ou deficiências que acometem as crianças. A incidência desses problemas varia com o tipo de transtorno e alguns deles são su- jeitos a fatores regionais – relacionados a carên- cias e práticas alimentares. Outros “problemas de desenvolvimento” po- dem ser adquiridos como parte do processo de educação – o que ocorre, por exemplo, quando a criança é criada em situação de abandono ou em um ambiente que não oferece meios de ajudá-la a controlar sua ansiedade ou agressividade, crian- do um círculo vicioso que pode se tornar patoló- gico ou irreversível. Comportamentos típicos de criança que “regride” diante de ameaças ͥ choro; ͥ birra/manha; ͥ controle dos esfíncteres; ͥ desobediência/mentira; ͥ agressividade (física ou verbal); ͥ problemas relacionados ao sono/hora de dormir/ pesadelos; ͥ dificuldades relacionadas à alimentação; ͥ indisciplina. 16 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 16P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 16 07/10/20 11:0807/10/20 11:08 O tempo e a sequência do desenvolvimento são comandados pelo cérebro. Principais Problemas/Deficiências que podem acometer a criança TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM Transtorno da leitura (Dislexia do desenvolvimento) Transtorno da Matemática Transtorno da expressão escrita Transtorno da apendizagem sem especificação DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Deficiência intelectual leve Deficiência intelectual moderado Deficiência intelectual severo Deficiência intelectual profundo Deficiência intelectual com gravidade inespecifica TRANSTORNOS ALIMENTARES NA PRIMEIRA INFÂNCIA Transtorno alimentar de PICA Transtorno de ruminação Transtorno de alimentação na primeira infância TRANSTORNO DO COMPORTAMENTO NA INFÂNCIA Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade Distúrbio desafiador e de oposição Tiques Distúrbio depressivo de conduta Linguagem precipitada TRANSTORNO DA INFÂNCIA E ADOLESCENCIA Transtorno de ansiedade de sep;aração Mutismo seletivo Transtorno de apego seletivo de apego na infância Transtorno de movimentos estereotipados PRINCIPAIS SÍNDROMES GENÉTICAS ASSOCIADAS À DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Síndrome de Down Síndrome de Algeman Síndrome de Willians Síndrome X frágil Síndrome de Leight Síndrome de Prader-Will Síndrome de Kennedy Erros inatos do metabolismo Aberrações cromossômicas complexas Sindrome de Tumer Distrofia muscular de Duchenne Hemofilia Neurofibromatose Thalassemia Doença de Tay-Sachs Anemia falcifome Fenilcetonúria Fibrose cística TRANSTORNO INVASIVO DO DESENVOLVIMENTO Transtorno autista Sindrome de Rett Transtorno desintegrativo da infância Transtorno de Asperger Transtorno invasivo do desenvovimento Sem outra especificação TRANSTORNO DA COMUNICAÇÃO Transtorno da linguagem expressiva Transtorno misto da ligugaem receptiva-expressiva Transtorno fonológico Gagueira Transtorno da comunicação sem outra espedificação Fontes: I. organização Mundial da Saúde. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10. Porto Alegre: Artes Médicas Ltda. 1993. 2. American Psychiatric Association-APA. Diagnostic and statistical manual of mental disorders, 4. ed. (DSM-IV). O centro de comando para todo o desenvolvi- mento é o cérebro. Desenvolvem-se o tamanho do cérebro, a comunicação entre os neurônios e a ca- pacidade de lidar com mais e diferenciados estímu- los. Em consequência, o indivíduo coordena melhor o seu organismo e as suas ações: ele dá respostas mais organizadas aos estímulos que recebe. Quando a criança nasce, o cérebro ainda não está totalmente acabado. Ele continua crescendo em peso e tamanho. No primeiro ano de vida, o ta- manho da cabeça passa de 13 a 18 cm para 33 a 46 cm. Isso acontece porque o cérebro está crescendo. No final do segundo ano de vida, o órgão já atingiu 3/4 do tamanho do peso do cérebro adulto. Nos primeiros anos de vida: ͥ o cérebro forma setecentas conexões por segundo; ͥ se ativadas por estímulos, essas conexões vão se fortalecendo; ͥ se não forem utilizadas, as conexões são cortadas; ͥ as conexões formadas dependem dos estímulos e das respostas que a criança dá a esses estímulos, formando, progressivamente, circuitos mais ou menos adaptados, mais rígidos ou mais flexíveis; ͥ crianças que vivem em ambientes isolados ou com poucos estímulos, como em alguns orfanatos, perdem a oportunidade de formar milhões de co- nexões e têm seu desenvolvimento comprometido pelo resto da vida. S c ie n c e S o u rc e /F o to a re n a Desenvolvimento do cérebro. 17 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 17P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 17 07/10/20 11:0807/10/20 11:08 O desenvolvimento do cérebro guarda algumas semelhanças com o desenvolvimento dos demais órgãos: são programados pela natureza para se desenvolver de certa forma, crescer até determi- nado tamanho, localizar-se em lugares específicos do corpo e reagir de forma bastante previsível aos estímulos que recebem. Isso vale, por exemplo, pa- ra os estímulos que recebemos (o olho se fecha diante de muita claridade, e as pupilas dilatam-se no escuro), os alimentos (sofremos azia se ingeri- mos mais ácidos que o estômago pode processar). Em muitos casos, as respostas são programadas, em outros, adaptativas. Por exemplo, corremos mais e melhor com treino e engordamos se fica- mos parados. Muitos de nossos órgãos estãopron- tos ou quase prontos ao nascermos – especialmen- te os órgãos que formam nosso sistema vital. Outros levam mais tempo para se desenvolver e entrar em pleno funcionamento – como no caso do sistema reprodutivo. O desenvolvimento do cé- rebro também é parcialmente programado. Sua fiação segue uma ordem. ARQUITETURA CEREBRAL A fi ação do cérebro segue uma ordem fi xada pela na- tureza: ͥ visão e audição; ͥ motor (aos poucos); ͥ linguagem (depende da interação); ͥ pensamento (depende da linguagem); ͥ autocontrole (depende da experiência); ͥ as emoções desenvolvem-se em paralelo. Como a experiência modela o cérebro: o vaso e o oleiro Feche os olhos e imagine um oleiro que modela um vaso. O vaso é o cérebro, o oleiro é a experiência. Ele modela colocando e retirando o barro de determina- das partes, para dar a forma desejada. O que é a ex- periência que modela o cérebro? Como ela modela? Tipos de experiência O processo de desenvolvimento do cérebro tem uma característica diferente dos demais órgãos: o cérebro vai formando várias conexões, de acor- do com as experiências que a criança vivencia. Se alguma conexão deixa de ser usada por falta de estímulos, essa conexão acaba “morrendo”. Esse é um processo natural e acontece com milhões de conexões. Da mesma forma, quando a criança desenvolve uma maneira mais ágil de fazer algo – andar equilibrando-se em uma corda, por exemplo – o cérebro guarda aqueles circuitos que são mais efi cientes e corta ou “poda” os outros. Ao longo da infância e da adolescência, o cérebro se aperfeiçoa e elimina as conexões sem uso e as conexões ine- fi cientes. Quais experiências são necessárias para ajudar o cérebro a se desenvolver? Como promover essas experiências? Um importante neurocientista chamado William Greenough (1987) propôs uma classifi cação muito simples dessas experiências: as dependentes e as esperadas. Experiências dependentes são aquelas das quais o cérebro necessita para desenvolver alguma ca- pacidade ou função: se as experiências não acon- tecerem, o cérebro não fará conexão com deter- minado órgão, que não será estimulado e poderá, por sua vez, atrofi ar. Por exemplo: só vamos de- senvolver a visão se existir luz no ambiente onde vivemos. Se alguém for mantido no escuro duran- te os primeiros anos de vida, não desenvolverá o sentido da visão: os nervos oculares atrofi am-se. Se viver amarrada, a criança não conseguirá an- dar, pois os músculos atrofi am-se. Se não tiver convívio e feedback de adultos, a criança não for- ma vínculos de apego e não aprenderá a decifrar importantes sinais que permitem o convívio social. Basta isso para o cérebro se desenvolver. Mas, sem isso, ele não se desenvolve. Diferentes áreas do cérebro desenvolvem-se ou tornam-se prontas para reagir às experiências ao longo dos primeiros anos de vida. A área da linguagem é uma das que se desenvolvem mais rapidamente entre os 6 e os 24 meses. Se a crian- ça vive com brasileiros entre os 6 e os 24 meses iniciais de sua vida, falará português; se vive com chineses, falará chinês. Se a criança vive em de- terminado ambiente, poderá desenvolver certas fobias ou reagir de forma mais ou menos ansiosa. Experiências esperadas são aquelas para os quais o cérebro está programado para lidar e que podem ou não ocorrer em seu ambiente. Por exemplo, uma criança pode aprender uma, duas ou três línguas ao mesmo tempo, desde que conviva com pessoas que falem essas línguas e interaja com elas. Uma criança pode desenvolver mais ou menos sua Para saber mais As emoções também são formadas no cérebro, como parte e em decorrência de nossas experiên- cias, e elas desenvolvem-se em paralelo aos ou- tros aspectos do desenvolvimento físico e cogni- tivo. Isso significa que todas as áreas de nosso desenvolvimento estão profundamente interliga- das com as emoções associadas às experiências que adquirimos nas etapas iniciais de nossa vida. As primeiras experiências de vida – inclusive e es- pecialmente nos primeiros meses e anos de vida – são marcantes na consolidação de nosso tem- peramento, nos vínculos de apego e na nossa for- ma de nos relacionar com os desafios e estresses do ambiente. Isso dá-se porque grande parte do desenvolvimento do cérebro é modelado pela experiência. 18 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 18P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 18 07/10/20 11:0807/10/20 11:08 As crianças diagnosticadas com problemas de visão e audição até os 4 meses de idade têm mais chance de recuperar esses sentidos, pois, até essa idade, o cérebro ainda depende de experiências auditivas e visuais para desenvolver esses sentidos. Depois disso, as possibilidades de intervenção e cura se tornarão mais limitadas. Para muitas expe- riências, há um tempo mais adequado. Isso se apli- ca, por exemplo, ao aprendizado simultâneo e natural de duas ou três línguas “maternas” ou à época adequada para fazer um implante coclear e assegurar a audição para quem dela ficaria priva- do. O cérebro humano tende a ser um pouco mais flexível, mais maleável: ele tem mais plasticidade do que o dos outros animais. Há janelas que se fe- cham definitivamente – como vimos no caso da visão ou da recuperação de problemas auditivos. Há períodos que são mais favoráveis que outros para a aprendizagem de determinadas habilidades. Por exemplo: podemos aprender várias línguas sem sotaque nos primeiros anos de vida – depois fica mais difícil discriminar e reproduzir determinados sons. Há épocas em que somos mais sensíveis e flexíveis para aprender e desenvolver determina- das habilidades físicas ou intelectuais – como o uso de ferramentas, instrumentos musicais ou destre- zas físicas. Nos primeiros meses de vida, precisa- mos criar fortes vínculos de afeto com, pelo me- nos, um adulto – de outra forma, dificilmente conseguiremos nos ajustar socialmente. Entre o segundo e quarto ano de vida, precisamos convi- ver e interagir com outras crianças e adultos – de outra forma, podemos ter fortes sequelas em nos- so desenvolvimento social, intelectual e da lingua- gem. Entre 4 e 5 anos, tornamo-nos mais dispostos a distinguir os sons da língua, e, portanto, essa é a época mais adequada para preparar a criança pa- ra desenvolver a consciência fonológica – uma das bases para a alfabetização. A palavra “adulto” é sinônimo de tornar-se ma- duro, independente, capaz de se autorregular. A capacidade natural para música, dança ou ma- temática, a depender da qualidade dos estímu- los que recebe ao longo de seus primeiros anos de vida. Algumas dessas estimulações serão mais eficazes quando ocorrem em determinados mo- mentos: são os períodos sensíveis ou janelas de oportunidade. No reino animal, há determinados comportamentos que são aprendidos em certo mo- mento ou nunca mais são assimilados. O patinho segue o primeiro animal que passa andando perto dele. Alguns pássaros só aprendem o canto de sua espécie durante determinadas semanas – se passar do prazo, não aprendem a cantar. infância é a etapa de transição entre o nascimento e a idade adulta. É uma fase de amadurecimento lento e progressivo. O crescimento da capacidade de autorregulação é a pedra de toque do desenvol- vimento infantil. As habilidades de regular e contro- lar emoções e impulsos ajudarão no desenvolvimen- to e no aprendizado adequados. A autorregulação abrange todas as áreas do desenvolvimento, mas, especialmente, o autocontrole e o controle emocio- nal, que nos permitem viver em equilíbrio interno e em harmonia com nossos semelhantes. O ser humano foi feito para sobreviver e se adap- tar ao mundo. De todos os animais, o ser humano é o mais dependente e o que tem a infância mais pro- longada. A infância é um tempo de aprendizagem – aprender a se tornar adulto, independente, capazde lidar de forma adequada com os desafios do mun- do. Hoje, conhecemos alguns princípios do desen- volvimento humano e infantil que nos ajudam a com- preender melhor as crianças e a intervir a seu favor. A natureza e o ambiente interagem desde a con- cepção. A herança genética é forte e poderosa, mas não é inexorável. Há muito que podemos fazer des- de antes da gestação materna para que a criança chegue ao mundo em melhores condições de en- frentá-lo. Existem fatores de proteção e fatores de risco. O desafio reside em eliminar ou minimizar os fatores de risco e estimular os fatores que promo- vem um desenvolvimento saudável. O ser humano nasce equipado com mecanismos de adaptação, mas nem toda adaptação é adequada. Ambientes muito estressantes requerem que o indivíduo se adapte muito cedo para sobreviver, e, com isso, ele perde a flexibilidade para lidar com outras situações novas no futuro. Desenvolvimento significa mudança e implica continuidades e descontinuidades. Quando a crian- ça “regride” a comportamentos anteriores, ela está dando sinais de que tem dificuldades para lidar com os novos desafios e precisa de tempo e apoio. Afinal, o que se desenvolve? Dentre outros ór- gãos e funções do corpo humano, o mais impor- tante é que o cérebro se desenvolva. Nesse órgão, os estímulos são convertidos em impulsos quími- cos e físicos, e os comportamentos refletem a ex- periência acumulada pelo indivíduo. Experiências adequadas ajudam a gerar um desenvolvimento cerebral rico em conexões úteis e flexíveis. Desen- volver significa adquirir controle sobre os impulsos, tornar-se autorregulado. A infância é para ser vi- vida em suas características próprias, mas sua prin- cipal característica é a de ser uma fase de prepa- ração para a vida adulta madura e independente. 19 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 19P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 19 07/10/20 11:0807/10/20 11:08 Estímulos e interações possibilitam experiências: os campos de experiências da BNCC Os estímulos de que uma criança precisa para se desenvolver são encontrados nas pessoas com quem ela interage e em um ambiente social equili- brado. Os estímulos propiciam experiências – e a aprendizagem e o desenvolvimento decorrem do contato com objetos e acontecimentos do cotidia- no, em interação com os adultos. Tradicionalmente, isso ocorria de forma adequada no contexto fami- liar e confirma que, para promover o desenvolvi- mento, é menos importante a presença de determi- nados objetos materiais (como brinquedos comprados ou computadores) que a presença de outras crianças e adultos com os quais a criança tenha liberdade de interagir. A maneira como os estímulos são apresentados e a forma como a criança interage com eles – pes- soas, animais ou objetos – é o que promove as experiências e, em última instância, o desenvolvi- mento. A seguir, vejamos uma breve descrição dos campos de experiências: O eu, o outro e o nós – é a partir da interação e do convívio com outras crianças que a criança começa a construir sua identidade e a descobrir o outro. Quando ela chega na escola, seu foco é seu próprio mundo (eu). Com o trabalho realizado no ambiente escolar, ela passa a perceber seus cole- gas (outro) e bem depressa começa a interagir no meio dos outros (nós). Desse modo, é na Educa- ção Infantil que a criança aumenta a percepção de si, assim como a percepção do outro. Além de va- lorizar sua identidade, ela aprende a respeitar os outros e a reconhecer as diferenças entre si e seus colegas. Corpo, gestos e movimentos – a criança ex- plora o espaço em que vive e os objetos a sua volta por meio do corpo, dos sentidos, dos ges- tos e dos movimentos. Por isso é que a partir das linguagens, como dança, música, teatro e brinca- deiras, a criança estabelece relações, brincam e produz conhecimentos. Na Educação Infantil, o corpo da criança é uma peça central. Nesse sen- tido, a escola tem de ser promotora de atividades de interação, fazendo com que as crianças pos- sam vivenciar um amplo repertório de movimen- tos, gestos, olhares com o corpo, descobrindo sua ocupação corporal do espaço e do mundo. Engatinhar, escorregar, o toque da mão no chão, o equilíbrio, as cambalhotas são modos corporais de tatear o mundo. Traços, sons, cores e formas – a criança da cre- che pode conviver de várias formas com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas no espaço escolar, o que possibilita a vivência de vá- rios modos de expressão e linguagens. Por meio dessas experiências, as crianças de 0 a 1 ano e 6 meses podem desenvolver desde cedinho o olhar atento para prepararem-se para o futuro desenvol- vimento estético e crítico. Esse senso futuro vai in- fluenciar o protagonismo posterior para criar suas produções artísticas e culturais. Assim, é de funda- mental importância, já na creche, o contato com algumas cores, sons e percepções do entorno. Esse bebê, ao ser incentivado por percepções, poderá desenvolver seu olhar e seu corpo para um futuro criativo e expressivo. Escuta, fala, pensamento e imaginação – desde bebê, o contato com experiências de escuta e fala (desde o útero) são importantes para a participa- ção da futura criança na cultura oral, pertencente a um grupo social. Além do treino para a oralidade, é fundamental preparar o bebê para seu contato com a cultura e com o uso da imaginação a partir de mé- todos que instiguem suas curiosidades. Isso, desde a creche, pode ser feito com o estímulo de escuta musical e de fala. Espaço, tempo, quantidades, relações e trans- formações – a criança da creche está inserida em um mundo de descobertas, com espaços e tempos de diferentes dimensões. Logo, é nessa idade que ela começa a despertar sua curiosidade para o mun- do físico, seu corpo, os animais, as plantas, a natu- reza, conhecimentos matemáticos, bem como para as relações do mundo sociocultural. Por isso, a BNCC entende que, na creche e na Educação Infantil, a escola precisa promover experiências sensoriais por meio de brincadeiras e vivências. Dessa forma, a creche cria oportunidades para a criança ampliar seu conhecimento de mundo, de modo a utilizá-los em seu cotidiano. 20 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 20P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 20 07/10/20 11:0807/10/20 11:08 Desenvolver significa adaptar-se, mas nem toda adaptação é adequada O ambiente pode ajudar ou dificultar o desenvol- vimento da criança, no entanto, em qualquer situação, o organismo da criança fará o possível para se adaptar à realidade da melhor forma possível. Ou seja, inde- pendentemente do ambiente em que se encontra, to- da criança é programada pela natureza para se adap- tar e sobreviver. Adaptar-se significa consolidar as capacidades essenciais para sobreviver e viver. Quanto mais saudável o ambiente, mais facilida- de a criança terá para se adaptar. Quanto mais adap- tada uma criança, maior a sua flexibilidade para se ajustar a novos desafios. Esses mecanismos são universais e necessários para a sobrevivência. A forma como eles se desen- volvem depende do ambiente e das interações da criança com esse ambiente, o que pode levar a ajus- tes mais ou menos adequados. Quando a sobrevi- vência fala mais alto, os ajustes ou adaptações, no curto prazo, podem representar grandes limitações no futuro – como no caso de uma agressividade pouco controlada ou um temperamento muito ar- redio ou muito forte. O quadro a seguir apresenta os principais mecanismos de adaptação que as crianças utilizam para sobreviver e desenvolver. PRINCIPAIS MECANISMOS DE ADAPTAÇÃO APEGO Apego é um vínculo emocional duradouro que se desenvolve entre o bebê e o cuidador – que é, ge- ralmente, a mãe, mas pode ser outra pessoa. Esse vínculo, que seconsolida por volta dos 6 aos 18 meses de idade, é essencial para dar segurança e previsibilidade à criança e permanece sólido para o resto da vida. A função do apego é preparar o indivíduo para adaptar-se à vida social como adulto. AGRESSIVIDADE “A única razão pela qual os bebês não se matam é que não lhes damos facas ou revólveres.” A afir- mação foi feita por Richard Tremblay, um dos maiores estudiosos do desenvolvimento infantil. A agressividade é essencial para a sobrevivência, mas precisa ser controlada para permitir o convívio social. Violência, impulsividade, agressões físicas ou verbais e bullying constituem os quatro tipos mais conhecidos de agressão. O controle da agressividade é parte do processo de educação e está associado à forma como pais e educadores estabelecem limites e orientam as crianças. FUNÇÕES EXECUTIVAS Referem-se à capacidade de coordenar diferentes funções para responder aos desafios do dia a dia. Não nascemos com a capacidade de controlar nossos impulsos, fazer planos e permanecer fo- cados em tarefas. Tais habilidades são desenvolvidas e modeladas pelas experiências que temos, especialmente na primeira infância, e têm ligação com o desenvolvimento do cérebro em contato com o ambiente inicial. Há três capacidades básicas: (1) a memória de trabalho; (2) a capacidade de inibir outros estímulos, para que possamos prestar atenção; e (3) a flexibilidade cognitiva, que permite nos adaptarmos a novas situações. Elas servem de base para três outras capacidades de nível superior: (4) planejamento; (5) solução de problemas; e (6) raciocínio. IMITAÇÃO É um dos mecanismos mais básicos de aprendizagem. É o exemplo, que pode ser bom ou mau. Desde os primeiros momentos de vida, a criança imita gestos e, a partir da reação dos adultos, aprende a refinar seus gestos e mensagens, para se comunicar e satisfazer suas necessidades básicas (dores, fome, companhia). A imitação está na base da pedagogia milenar do mestre-aprendiz, hoje comumente associada ao conceito de coaching. Para se converter em instrumento útil de aprendizagem, a imitação depende de feedback e de estímulo adequado por parte de quem mo- dela o comportamento das crianças. A imitação é como um ponto de partida para o desenvolvi- mento e a aprendizagem, mas não constitui todo o caminho. LINGUAGEM A linguagem é a base para o pensamento e para a comunicação – duas características únicas do ser humano. As crianças são programadas geneticamente para aprender a linguagem, mas isso depende da quantidade e da qualidade das interações verbais entre adultos e crianças. A linguagem é um fa- tor fundamental para o sucesso escolar e merece atenção especial dos educadores, pois grande par- te das crianças vive em ambientes que não favorecem o seu desenvolvimento adequado. TEMPERAMENTO Temperamento tem a ver com tempero. É um conjunto de disposições que levam a pessoa a inter- pretar o mundo e a agir de forma personalizada: não existem duas pessoas iguais. É a marca da nossa personalidade, do nosso modo de ser em relação a nós mesmos, a forma de nos relacionar- mos com os outros, de nos expormos aos desafios do mundo e a curiosidade maior ou menor para aprendermos a nos deixar surpreender pelo mundo e pelos outros. As dimensões mais importantes do temperamento são o grau de introversão ou extroversão. O temperamento manifesta-se desde cedo, é difícil de mudar, mas seus aspectos mais negativos podem ser atenuados – especialmente no que diz respeito à timidez no relacionamento social e à propensão a correr riscos. RESILIÊNCIA Resiliência é a capacidade de adaptar-se e sobreviver, mesmo em condições adversas e em exposi- ção a fatores de risco. Somos dotados de diferentes graus de resiliência. Uma criança submetida a situações estressantes ou de alto risco pode amadurecer mais depressa, mas, ao mesmo tempo, pode acostumar-se a assumir maiores riscos e compromissos mais instáveis: o custo da adaptação precoce é a perda de flexibilidade no futuro. 21 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 21P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 21 07/10/20 11:0807/10/20 11:08 Três aspectos fundamentais do desenvolvimento infantil A criança é um todo, mas para estudá-la há di- ferentes focos. Há o foco das políticas públicas, o foco da Sociologia, da Economia, da História. Ao educador interessa conhecer a fundo os processos pelos quais a criança se desenvolve. Embora não exista um consenso, a maioria dos estudiosos do desenvolvimento infantil se especia- liza em determinados aspectos, e dessa forma tornaram-se mais estudados os aspectos do desen- volvimento físico e motor, do desenvolvimento pes- soal, social, emocional, da linguagem e cognitivo. No quadro “Eu sou assim”, apresentamos um breve esquema das características mais salientes do de- senvolvimento nessas diversas áreas. Nos próximos parágrafos tratamos de três desses aspectos. Desenvolvimento Físico Desenvolvimento Motor amplo Desenvolvimento Motor fino Desenvolvimento Social Desenvolvimento Pessoal Desenvolvimento Linguagem Resolução de problemas 6 Corpo se alon- ga. Senta-se sozi- nho sem apoio das mãos. Usa as duas mãos ao mes- mo tempo para alcançar ou agarrar um brinquedo. Reconhece a voz da mãe. Sorri. Emite gritos agudos. Explora o am- biente pelos sentidos. 12 Corpo alonga- do, pernas ain- da vacilantes. Levanta-se so- zinho e dá vá- rios passos sem apoio. Pega um brin- quedo pequeno com a ponta dos dedos. Sente-se segu- ro com adultos conhecidos. Se você esten- de a mão, o be- bê entrega o brinquedo. Balbucia. Compreende e faz gestos sig- nificativos, co- mo palmas. 15 Corpo adquire proporção mais equilibrada. Move-se andan- do, em vez de engatinhar. Empilha sozi- nho um ou dois blocos. Chora com o afastamento da mãe. Maior consciên- cia de si, diferenciação entre o “eu” e o “outro”. Fala três pala- vras. Repete as brin- cadeiras várias vezes. 18 Corpo alonga- do, pernas fir- mes. Caminha com firmeza. Leva a colher à boca. Demonstra in- teresse por ou- tras crianças. Diante de um espelho, a criança oferece um brinquedo para a sua ima- gem. Fala oito ou mais palavras. Agrupa objetos por cor e tama- nho. 24 Corpo mais del- gado e muscu- loso. Corre. Consegue en- fiar pequenos objetos em um cordão. Brinca com bo- necas, dando colo e alimento. Reconhece a sua imagem, apontando para partes do seu corpo diante de um espelho. Fala frases cur- tas (sujeito, ver- bo, objeto). Usa critérios para categori- zar pessoas, objetos e rela- ções. 30 Corpo delgado, crescimento ascendente dos membros superiores e inferiores. Sobe escadas alternando os pés. Faz movimen- tos giratórios ao tentar girar maçanetas, dar corda em brin- quedos, enros- car tampas. Sente dificulda- de em partilhar e ceder nas re- lações com o outro. Responde “eu” ao ser pergun- tada sobre de quem é a ima- gem no espe- lho. Entende alguns comandos orais. Conta até 10. 36 Corpo ágil com grande ativida- de motora. Pula com os dois pés. Traça retas e círculos em um papel. Brinca em gru- pos pequenos. Veste-se sozi- nha. Constrói frases com três ou quatro palavras. Identifica as imagens e as nomeia. 48 Corpo esguio Rápido e crescente de- senvolvimento muscular. Pula com um pé só. Desenha figuras humanas. Brinca com mais crianças, desenvolvendo a compreensão de si e do outro. Realiza as ativi- dades de higie- ne e de rotina com autono- mia. Identifica pelo menos duas ca- racterísticas de um objeto. Recorre à fan- tasia e à imagi- nação nas brin- cadeiras. EU SOU ASSIM Domínios Meses Fontes: ASQ/Gesell Institute e Oliveira, 2017. 22 P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd 22P2_V1_EI_J_BATISTA_CRECHE_Atg22_PARTE-1_U2_014-016_LP.indd
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