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© 2013 Autonomia Editora Av. Carlos Gomes, 1998 – sala 1002 | Três Figueiras CEP: 90480-002 | Porto Alegre, RS Fone: (51) 3208-1292 editora@autonomiaedu.com.br www.autonomiaedu.com.br Coordenação Editorial Ana Carolina Valls e Elizabeth Torresini Diagramação Tavane Reichert Machado Capa Eduardo Nunes e Ana Carlota Jahn Revisão Lou Zanetti Revisão Técnica Evandro Alves Impressão Ideograf CD - O Desafio da Iniciação Científica Letra e Música: Rafael Korman Voz: Rafael Korman e Carolina Veloso Gravado, mixado e masterizado: Companhia Independente de Áudio - Porto Alegre, RS Arranjos e produção musical: Paulinho Barcellos e Marcelo Mendes Guitarras e violões: Paulinho Barcellos Baixo: Marcelo Mendes mailto:editora@autonomiaedu.com.br http://www.autonomiaedu.com.br/ Bateria e percussão: Diego Berquó Teclados e pianos: Fernando Spillari Harmônica: Geraldo Occa M538i Mendes, Fábio Ribeiro Iniciação científica para jovens pesquisadores / Fábio Ribeiro Mendes. - 2.ed. – Porto Alegre : Autonomia, 2013. 132 p. ISBN: 978-85-65717-05-2 1. Pesquisas Científicas. 2. Iniciação Científica. 3. Referências Bibliográficas - Normas Técnicas. I. Título. CDD 001.42 Bibliotecária Responsável Ginamara de Oliveira Lima CRB 10/1204 Edição digital: março 2019 Arquivo ePub produzido pela Simplíssimo Livros http://www.simplissimo.com.br/ Ao João, querido afilhado e jovem cientista. “A opinião verdadeira acompanhada de explicação racional é ciência.” Platão, Teeteto, 201 c. a) b) c) d) a) b) c) d) e) a) b) c) d) e) Sumário PREFÁCIO INTRODUÇÃO 1. O QUE É UM TRABALHO CIENTÍFICO? Ciência e opinião O formato científico As fontes O objetivo de um trabalho científico Escute no CD - O desafio da iniciação científica 2. A ESCOLHA DO TEMA Tema do trabalho e interesse do aluno Diferentes temas, diferentes dificuldades O problema do tema amplo A necessidade de um foco Originalidade Escute no CD - Tema Rima com Problema 3. O PROJETO DE PESQUISA O que é um projeto de pesquisa? Hipóteses da pesquisa Metodologia da pesquisa Pergunta norteadora e foco Objetivos gerais e específicos f) g) h) i) a) b) c) d) e) f) g) a) b) c) d) e) f) g) h) i) j) Sumário provisório Cronograma Fontes bibliográficas: onde encontrá-las Escolhas teóricas no TCC Escute no CD - Projeto de Pesquisa 4. A PESQUISA Por onde começar a pesquisa? Google Etapas da pesquisa Pesquisa de campo Entrevistas Pesquisa bibliográfica Resultados: provisórios ou definitivos? Escute no CD - Em Busca 5. O TRABALHO ESCRITO Por onde começar? Extensão do trabalho ABNT e formatação: objetivos gerais Quando citar e referenciar as fontes A Introdução Os Capítulos A Conclusão As Referências Capa, Folha de Rosto, Epígrafe, Agradecimentos, Dedicatória, Lista de Abreviaturas, Apêndices e Epílogo Resumo do trabalho l) a) b) c) d) a) b) c) d) e) f) Sumário e título definitivos Escute no CD - O Poder da Escrita 6. ELABORAÇÃO DO PÔSTER Por que elaborar um pôster (ou cartaz)? Como elaborar o pôster Figuras, gráficos e tabelas Problemas de design, cores e diagramação Escute no CD - Pôster 7. APRESENTAÇÃO ORAL O que deve conter a apresentação oral? O controle do tempo “e daí… e daí…”, “hããã… hããã…” O tom de voz e trejeitos Controlando o nervosismo com treinamento Respondendo a questionamentos Escute no CD - O Que Eu Sei Dizer EPÍLOGO REFERÊNCIAS APÊNDICE 1 APÊNDICE 2 Prefácio Por Mônica Estrázulas1 Alunos e professores de escolas brasileiras têm, cada vez mais, se envolvido com a realização de projetos de investigação que estimulam a aprendizagem autônoma, baseada na oportunidade de estudantes e professores agirem de forma interdependente ao longo do processo de construção do conhecimento. Tal empreendimento, também denominado, em muitas escolas, trabalho por projetos de pesquisa, encontra fortes aliados nos educadores que estão investindo na possibilidade de orientar tais projetos, e também nos novos meios tecnológicos de busca de informação e comunicação que concorrem para modificar, de modo profundo, o cenário dos ambientes escolares nos quais ainda se mantêm apenas o ensino expositivo e a aprendizagem receptiva. Neste livro, Iniciação Científica para Jovens Pesquisadores, o professor Fábio Ribeiro Mendes dialoga com o leitor, imaginando-o um aluno que se desafia a iniciar um projeto de pesquisa sem poder fugir da clássica pergunta dirigida a si, aos colegas e ao professor: “Por onde começo?”. Ao longo de seu texto, o professor Fábio mantém o leitor conectado com o desafio de levá-lo a se inteirar dos bastidores de um projeto de pesquisa. Em um processo de passo a passo, o autor não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas orientar ou guiar o aluno quanto aos procedimentos básicos, incluindo-se as orientações para o registro dos processos e a divulgação dos resultados. Um aspecto extremamente interessante do livro, além dos esclarecimentos quanto aos procedimentos inerentes à investigação em si, está relacionado às palavras de incentivo que o leitor nele encontrará, em correspondência com cada etapa do desafio de investigar. Por meio delas, e com muita propriedade, o professor Fábio não só explicita questionamentos, dúvidas e incertezas que acometem a todos aqueles que se propõem a realizar um projeto de pesquisa, mas oferece orientações que poderão contribuir para a solução dos impasses que se apresentarem. Este livro oferece orientações práticas, a partir do ponto de vista de um educador vinculado ao cotidiano escolar e, certamente, funcionará como um fiel companheiro de alunos e professores dispostos a ingressar no mundo da Ciência pela via da realização de projetos de pesquisa a partir da Educação Básica. Introdução A iniciação científica é parte fundamental na formação de estudante e no desenvolvimento da pesquisa. Nas universidades, e mesmo em escolas, criam-se espaços para exposição e apresentação de trabalhos de alunos que têm seu primeiro contato com a metodologia científica de pesquisa. Nessas ocasiões, os trabalhos, apresentados por meio de pôsteres e de exposições orais, muitas vezes em salões de iniciação científica, são comentados e avaliados pelas bancas de professores, gerando importante oportunidade de discussão sobre temas de extrema relevância, nem sempre tratados em sala de aula. Ao final dos encontros, geralmente são distribuídos prêmios de reconhecimento aos alunos pelo mérito do desempenho. Mas, cabe perguntar: por que investir em jovens pesquisadores e por que promover a iniciação científica? Para que serve essa distribuição de condecorações aos alunos que recém aprenderam o “feijão com arroz” de como elaborar um trabalho científico? A resposta a essas questões deve estar clara na mente de qualquer pesquisador ou aluno. O que os alunos que participam desses eventos têm a ganhar? Eles recebem a rara oportunidade de produzir um trabalho cuja relevância transcende a sua vida cotidiana. Seja o tema da pesquisa escolhido livremente, seja aquele escolhido dentre alguns previamente selecionados por ele mesmo ou pelo próprio orientador, o estudante tem o desafio de divulgar o conhecimento por ele produzido de maneira relevante e inteligível. Quer seu trabalho seja sobre “Os grandes felinos”, quer seja sobre “O índice de poluição do ar em Porto Alegre, no cruzamento das avenidas Protásio Alves e Carlos Gomes”, não se trata de, apenas, elaborar um trabalho para aprender bastante ou para conseguir uma boa nota final. Há outro objetivo: o da produção de conhecimento cuja relevância e validade públicas não o torna apenas gratificante, mas absolutamente necessário para a vida em sociedade. A habilidade de comunicar-se de forma clara, de colher informações e extrair delas o conhecimento, apontando para os passos seguintes da pesquisa, é, sem dúvida, o que diferencia – e cada vez mais irá diferenciar2– as pessoas na sociedade. A informação, tão abundante, traz a necessidade de que a pessoa seja capaz de organizar essa massade dados e dar-lhe alguma utilidade. Sem tal capacidade de organização, o aluno poderá tornar-se passivo, ter dificuldades diante de decisões importantes ao longo da vida, seja na família, no mercado de trabalho ou no exercício da cidadania. Assim, a iniciação científica é uma oportunidade para o aluno obter muito mais que prêmios e reconhecimento (esses são apenas meios de incentivo): é a oportunidade para o desenvolvimento de habilidades que lhe propiciarão mais espaço na sociedade. A capacidade de produzir um trabalho científico denota um avançado nível de autonomia no aprendizado. Da parte das instituições de ensino superior que promovem a iniciação científica também advêm benefícios, pois os membros dessas comunidades também se qualificam. O fato de os pesquisadores serem jovens e as pesquisas não apresentarem, muitas vezes, algo inovador (é uma boa surpresa quando ocorre algo do gênero) não diminui a importância do evento. Pelo contrário: está-se formando futuros pesquisadores que, desde cedo, se exercitam no campo da pesquisa. O aproveitamento geral desses alunos tende a melhorar, o que qualifica o trabalho produzido, dentro e fora da sala de aula. Promover, pois, esses eventos é uma boa forma de divulgar o que é produzido pelas instituições de ensino superior e escolas, funcionando como uma espécie de publicidade não fictícia do compromisso dessas instituições com o papel que lhes cabe. Aliás, é bom lembrar que tais instituições não possuem apenas a finalidade de produzir conhecimento, mas também a de tornar esse conhecimento acessível à sociedade3. A qualidade dos trabalhos de iniciação científica pode, portanto, ser um bom termômetro da qualidade da instituição. Finalmente, sabe-se que o objetivo da iniciação científica é produzir e promover o conhecimento e as habilidades necessárias para divulgá-lo. O aluno que irá participar de um evento de iniciação científica deve estar certo de que há muito mais a ganhar do que a satisfação em atender às expectativas de pais e professores; o mérito do seu trabalho é um meio para garantir seu espaço na sociedade atual e também de lhe dar o devido retorno. Não seria exagero dizer que é dever do aluno, na qualidade de cidadão, aproveitar essa oportunidade de aprendizado (hoje, tão especial) como uma maneira de fazer do mundo em que vive o espaço para que o conhecimento – sua produção, divulgação e utilização – seja a ferramenta efetiva na evolução da sociedade. Nos capítulos seguintes, discorre-se sobre os diversos passos para elaborar, com competência, um trabalho de iniciação científica. Em primeiro lugar, apresenta-se a definição do que é um trabalho científico, mediante a distinção entre opinião e Ciência. No segundo capítulo, aborda- se o primeiro passo em uma pesquisa, ou seja, a escolha do tema, tópico da mais alta importância para o êxito da empreitada. No terceiro capítulo, trata-se da elaboração do projeto, a primeira materialização da pesquisa, quando se discute o que deve constar nele e o por quê. No quarto capítulo, discorre-se sobre a prática da pesquisa, seu desenrolar e os vários obstáculos que podem surgir no caminho. No quinto capítulo, o mais extenso deles, orienta-se sobre a redação do texto da pesquisa, respeitando- se os diversos tópicos exigidos. Finalmente, nos dois últimos capítulos abordam-se os passos e dificuldades relacionadas à criação de um cartaz ou pôster e à apresentação oral da pesquisa. Não se pretende que este livro seja um manual completo de normas técnicas para a apresentação de trabalhos científicos. Há várias obras que cumprem essa função, além de uma série de informações na internet. O que se deseja é ajudar o estudante durante o percurso, muitas vezes obscuro, do texto científico. O ponto de partida, em alguns casos, é a própria experiência de estudante, do autor (e de seus colegas) às voltas com as produções científicas e seus diversos problemas, por vezes considerados intransponíveis e recorrentes ao elaborar um trabalho dessa natureza. Por fim, é necessário dizer que a motivação principal da produção deste livro é a constatação de que muitos estudantes, diante das dificuldades da resolução das tarefas de elaboração de um trabalho científico, desistem de fazê-lo bem, optando pela não-observância das normas, pelo plágio ou cópia de trabalhos de colegas, de publicações existentes na biblioteca e na internet. Isso é realmente algo ruim, que precisa ser enfrentado, e a forma de contribuir para diminuir essas dificuldades começa com uma conversa direta com esse estudante. A intenção é ajudá-lo a superar as dificuldades com as quais se depara, estimulando-o a optar pela elaboração de um bom trabalho. Mais do que as normas técnicas, o que os alunos precisam – e merecem! é de um guia para entrar nesse continente bastante desconhecido: a pesquisa. Esse livro pretende guiar e estimular os alunos a pensarem em seu trabalho de pesquisa, em seus interesses e objetivos, sem perder de vista a intenção de orientá-los sobre o que é fundamental e relevante nas escolhas das formalidades científicas. Boa leitura e mãos à obra! 1. O que é um trabalho cientí�co? O primeiro passo para elaborar um trabalho científico é entender suas principais características e em que aspectos ele se diferencia de outras produções intelectuais. É preciso ter em mente o que o torna científico. Esse é o primeiro tema aqui abordado. Inicialmente, pergunta-se: o que é Ciência e o que é opinião? A diferença entre esses dois termos servirá de chave-mestra para as questões que surgirão ao longo da pesquisa e da elaboração do trabalho. Em seguida, aborda-se, em linhas gerais, o formato característico de um trabalho científico, por que ele é necessário, as fontes de pesquisa e sua relação com a opinião daquele que as utilizam. Assim, chega-se a uma ideia precisa, ainda que preliminar, sobre o objetivo que se tem ao elaborar um trabalho científico. a) Ciência e opinião Um texto que trata da produção de um trabalho científico precisa começar pela diferença entre Ciência e opinião. Apenas para ilustrar, citam-se dois ditados sobre o termo opinião: “cada um tem uma opinião”; “se opinião fosse boa, não se dava, mas se vendia”. O primeiro deles aponta para uma característica da opinião: ela varia de pessoa para pessoa. Uma pessoa tem uma opinião sobre um assunto, outra diverge da primeira e há aquela que não concorda com nenhuma das duas anteriores; não há nada de errado nisso. O segundo ditado sobre a opinião, considera que, pelo fato de cada indivíduo ter a sua opinião, ela não teria muito valor. De fato, se o indivíduo é livre para externar suas opiniões, sem compromisso com nada, porque deveria dar ouvidos a determinada pessoa e não a outra? De que modo pode-se dizer que alguém está certo e outro está errado? Se o conhecimento humano fosse inteiramente constituído de opiniões sobre o que é o mundo, o correto, o belo, a discussão sobre o que é o conhecimento não teria valor algum. Todos teriam as suas opiniões e não existiria um conhecimento legítimo, ou um conhecimento com maior grau de legitimidade. Depois de abordar a opinião, coloca-se em pauta à Ciência. Seria correto pensar que a verdade científica é uma questão de opinião e que varia de pessoa para pessoa? É possível afirmar que a lei da gravidade existe para alguns e para outros não? Ou que a existência do genoma é uma questão de ponto de vista? Obviamente, não. Geralmente, aceita-se o conhecimento produzido pela Ciência, até que apareça uma prova em contrário. A Ciência produz um tipo de conhecimento mais sólido do que a opinião. Esse conhecimento adquire solidez por ser justificado por experimentos, demonstrações e fatos incontestáveis. Platão dizia que Ciência era opinião verdadeira e justificada, ou seja, que um conhecimento, para ser legítimo e valer para todos, deveria corresponder ao mundo e ser reconhecido como tal. Ao se delimitar a diferença entre opinião e Ciência, surgem as características básicas dessas duas formas de conhecimento: a opinião varia de pessoapara pessoa, a ciência não; a opinião se conforma a quem a profere, a ciência se conforma ao que existe no mundo; a opinião não precisa ser justificada, o que não ocorre com a ciência. Pode-se buscar novamente auxílio em Platão para se entender essa diferença. Platão defendia a existência de uma realidade inalterada e eterna. Para ele, o mundo existia de uma maneira fixa. Contudo, esse mesmo mundo fixo possui reflexos, imagens ou cópias, como se a partir de um modelo se produzissem diferentes retratos de diversos ângulos4. Conhecer como o mundo é, sua natureza fixa, seria uma tarefa da Ciência; conhecer os reflexos dessa natureza fixa seria algo semelhante à formulação de uma opinião. Mesmo sendo uma forma de conhecimento sobre o que é mutável, a opinião não deve ser completamente desconsiderada, pois há nela algo que • • • pode ser convertido em Ciência. O reflexo guarda em si os traços do objeto original. O método de Platão – o diálogo – nada mais é do que a contraposição de opiniões com objetivo de encontrar aquelas mais sólidas e justificadas. Essas opiniões depuradas pelo método comporiam o repertório da Ciência. Portanto, é possível que ao se elaborar um trabalho científico se comprove algo até então considerado crença popular, semelhante à opinião corriqueira de que comer apenas geléia de morango por cinco dias seguidos não faz bem à saúde. A diferença entre a opinião e a Ciência (o conhecimento legítimo ou depurado das opiniões), quanto às consequências do hábito alimentar inadequado, é que no segundo caso pergunta-se: em quantos casos isso realmente ocorre? Quais são as consequências efetivas para o organismo ao se ingerir tal produto? Alguma marca de geléia traz mais prejuízos que outra? O conhecimento, desse modo, será consolidado e a opinião, convertida em ciência. b) O formato científico Para que a opinião seja convertida em Ciência ela não pode ser trabalhada de qualquer forma. Ela precisa ser justificada e mostrar-se adequada à realidade (mediante pesquisa empírica). Além disso, deve ser expressa de maneira absolutamente compreensível. Assim, os três requisitos para se elaborar um trabalho científico bem-sucedido são: Justificação Adequação Inteligibilidade Sem justificação, o trabalho científico simplesmente não existirá. É necessário explicar por que as coisas são tais e tais, ou pelo menos descartar hipóteses de explicação. Sem adequação aos fatos, o pesquisador não consegue mostrar que a opinião justificada relaciona-se ao mundo. O texto deve, ainda, ter uma linguagem clara, compreensível, inteligível sobre o tema e a proposta de pesquisa, sem o que de nada adiantará uma pesquisa correta sobre um tema relevante e bem embasado. No caso da Matemática e • • • • • da Filosofia, a adequação e a justificação se fundem, pois o raciocínio abstrato é que precisa ser demonstrado. Entretanto, fora desse caso específico, é necessário ter sempre em mente os três requisitos citados, conforme a síntese apresentada no quadro abaixo: Quadro 1. CARACTERÍSTICAS DO FORMATO CIENTÍFICO O formato científico é o que atende aos requisitos justificação, adequação, inteligibilidade, facilitando o entendimento do leitor acerca do que o pesquisador pretende provar. Para ser considerado na comunidade científica é necessário que o pesquisador apresente: as justificativas da escolha das hipóteses para explicação dos fenômenos, e as razões do descarte de outras; os fatos que embasam as hipóteses e os que as rejeitam, ou seja, os fatores de adequação; um texto dividido em capítulos e seções, seguindo os padrões de citação de fontes; as intenções do pesquisador, expressas de maneira compreensível, atendendo aos aspectos da inteligibilidade; respeito aos aspectos formais que caracterizam um texto científico, decorrentes do método e da necessidade de atingir o padrão da Ciência, mesmo que o ponto de partida seja a opinião comum. Ao longo deste texto, outros requisitos serão citados para que o trabalho elaborado seja considerado científico. Eles podem parecer, muitas vezes, limitadores. Em alguns casos, verdadeiras camisas de força. Todavia, se não houver uma padronização geral, cada um elaborando o trabalho como bem entender, no final das contas, perder-se-ia a capacidade de julgar se eles representam uma opinião justificada, adequada e inteligível ou não passam de opiniões jogadas ao vento, com uma série de dados com os quais se relacionam de forma não evidente. As formalidades são guias de clareza, quando não se sabe como proceder. Por exemplo, a necessidade de citar corretamente uma fonte. A citação correta precisa de uma espécie de bússola ou guia, ela será o norte para atingir a clareza. Com o tempo, é possível perceber que essas formalidades são caminhos naturais que se deve percorrer, caminhos que, ao serem conhecidos, facilitam a jornada do pesquisador em direção à Ciência. c) As fontes As fontes são o recurso central ao se elaborar um trabalho científico. Nem sempre – em verdade, quase nunca, tratando-se de iniciação científica – o pesquisador é a fonte de dados que utiliza em sua pesquisa. Ele consulta livros, revistas científicas e a internet; ouve professores, especialistas, colegas e outras pessoas conhecedoras do tema. No início, lança mão de todas as fontes disponíveis para formar um bloco de informações necessárias ao assunto que pretende pesquisar. Ao se realizar um trabalho utilizando essas informações, muitas vezes fica-se na dúvida sobre se é necessário, ou não, indicar a origem da informação. Às vezes, também pode ocorrer certa confusão ao ouvir de outras pessoas justamente o que também se pensa: “sim, o cara do jornal diz isso, mas assim também penso eu”. Mas, na elaboração do texto científico, a fonte é sempre o outro: o autor pesquisado, o entrevistado, ou seja, o que produz a informação de que o pesquisador precisa. Ou, quando se julga boa a ideia de algum autor, é comum deparar-se com as seguintes perguntas: “o autor desse livro teve uma boa ideia que poderia ser aplicada em outro caso, mas ao aplicá-la a outro caso continua sendo a mesma ideia? De quem é essa ideia nova, minha ou do autor do livro lido? Afinal, devo fazer citação dele?” Há casos em que as pessoas são tentadas a fazer um trabalho rápido. O que há de melhor do que a internet para encontrar todo tipo de informação (todo o tipo, boas e ruins)? Com alguns recortes e colagens o trabalho estaria feito e pronto. Pode-se, também, copiar literalmente o texto de certos autores, transcrevê-los e não apresentar as fontes. Mas, se as fontes são copiadas, como indicar que elas foram lidas, compreendidas, selecionadas, ou seja, realmente proveitosas para o aluno? Esse é um caso em que a suposta malícia do aluno e a pressão das instituições e dos familiares leva a uma produção sem valor. Mesmo que o texto tenha sido proveitoso para o aluno, o trabalho resultante não poderá servir para indicar o mérito da pesquisa. São verdadeiros os casos de alunos que realmente aprenderam bastante com a pesquisa, mas que não souberam convertê-la em um produto científico. Por que não conseguiram? Porque não souberam separar sua opinião do conhecimento produzido pelos autores pesquisados. É preciso que o avaliador ou leitor consiga facilmente distinguir o texto produzido pelo aluno (que demonstra que ele aprendeu) e o texto que o aluno utilizou (e copiou) para compreender o assunto. Caso contrário, o leitor, obviamente, não terá como avaliar o que o aluno produziu, indo tudo por água abaixo. Se alguém está prestes a elaborar um trabalho de iniciação científica, deve ter em mente que não é preciso mostrar originalidade, mas apenas a capacidade instrumental, inovadora e correta de apresentar um tema científico. Se o aluno conseguir encontrar bons autores, citar pequenos trechos, tirar suas conclusões, a partir dos dados apresentados, e chegar a uma conclusão, mesmo que não seja surpreendente, ele terá elaborado um ótimo trabalho de iniciação científica. É importante ter clareza quanto à necessidade de usar as fontes depesquisa disponíveis. O resultado final do texto, contudo, deve ser da autoria do aluno. Isso significa que as fontes pesquisadas devem ser citadas, revelando o conhecimento do jovem pesquisador. O modo de fazer uma citação correta consta no Capítulo 5, seção “e”. Por hora, basta dizer que será uma enorme perda produzir um trabalho com colagens de outros, ou seja, deixar de lado a oportunidade de aprender sobre como sair do campo do cotidiano, das opiniões cotidianas, e de adentrar no do conhecimento, da Ciência. Um aprendizado que, com certeza, o aluno sentirá falta no futuro. d) O objetivo de um trabalho científico A partir do que foi exposto até aqui, acredita-se estar claro o objetivo de um trabalho científico. Ele não serve para entreter (exemplo de certos romances), para informar ou relatar casos (relatos jornalísticos), para expor a opinião do autor (crônicas e resenhas), para desvendar traços e contradições do homem e da sociedade (outros tipos de romance). O objetivo do trabalho científico é separar o que é opinião e o que é verdadeiro conhecimento. Dito de outra forma, mesmo que nele se expressem diferentes opiniões e crenças, o objetivo é extrair um resultado justificado, claro e adequado à realidade. Elaborar um trabalho científico não é uma demonstração de vaidade, mas um avançar na compreensão da realidade, quer seja constatando, por motivos diversos, que o óbvio não pode ser posto em questão, ou descobrindo, por motivos cabíveis, que o que parecia óbvio mostra-se falso. Isso tudo requer um formato e, como em tudo na vida, vale lembrar, uma dose de honestidade. *** Ao chegar ao final desse capítulo, enfatiza-se a ideia da necessidade de elaborar um trabalho científico, baseado no conhecimento das diferenças entre opinião e Ciência, na importância de respeitar o formato científico e de determinar o objetivo de um trabalho com essas características. Contudo, deve-se frisar que a construção do conhecimento, ao invés do que possa parecer, não é linear, mas um processo de idas e vindas e de crítica constante. Assim, o formato científico, mesmo que tenha padrões de execução bem definidos, não é rígido, pois os métodos podem ser revisados e mesmo alterados. O que é importante e que se relaciona à produção de conhecimento é a constante revisão crítica do pesquisador. É preciso ter em mente que alguns requisitos gerais apresentados neste capítulo, se observados, permitirão a crítica, a reflexão e a construção da Ciência. Os demais capítulos são uma consequência natural, a começar pelo próximo, que trata de uma questão determinante no curso de todo o trabalho científico: a escolha do tema de pesquisa. Para o professor Sugestão de atividade Discuta com seu grupo de alunos, a partir do texto e de outros materiais (revistas científicas e não, vídeos, sites na Internet, etc.): • • • Distinções entre ciência e opinião; Características do formato científico; Objetivos do trabalho científico. Escute no CD Faixa 1 O desafio da iniciação científica Letra e Música: Rafael Korman O que nos move, senão a sede Do algo novo que a gente aprende? Ir à essência de cada ideia Subir ao palco, não ser plateia Conhecimento inteligível Com relevância e acessível Ser ferramenta de uma evolução magnífica É o desafio da iniciação científica Compreender que opinião não é ciência Uma varia e a outra possui consistência Um bom trabalho científico não é de qualquer jeito Sem o formato adequado ele não tem respeito Conhecimento inteligível Com relevância e acessível Ser ferramenta de uma evolução magnífica É o desafio da iniciação científica Livros, revistas, internet, especialistas Com tantas fontes, o que eu ponho nessa lista? Só não me venha fazer corte e colagem O seu trabalho só reflete a sua imagem O que importa no final é o instrumento A autoria do aluno no conhecimento Sem vaidade, compreendendo a realidade Contribuindo pro futuro de verdade Conhecimento inteligível Com relevância e acessível Ser ferramenta de uma evolução magnífica É o desafio da iniciação científica 2. A escolha do tema O jovem pesquisador, após ter clareza sobre o que define um trabalho científico, depara-se com seu primeiro desafio: a escolha do tema. Esse momento gera muita apreensão ao estudante. De que modo se escolhe o tema da futura pesquisa, se justamente é após a pesquisa que se obtém o conhecimento do que é mais ou menos relevante dentro de um assunto? Outra pergunta comum é: como escolher, dentre tantos temas, aquele que resultará em melhor trabalho? Neste capítulo, trata-se desse assunto difícil e crucial. Começa-se traçando a relação entre o tema da pesquisa e o interesse do estudante no tema, elementos que não estão necessariamente de acordo. Após, trata-se da escolha do tema, o que implica em assumir riscos e desafios, e diferentes temas de pesquisa tendem a produzir diferentes dificuldades. Na terceira seção, aborda-se o que mais dificulta ao pesquisador encontrar o fio condutor do trabalho: o tema amplo. Após, insere- se o modo de fugir desse problema mediante o foco da pesquisa. Finalmente, incluem-se considerações sobre o espaço para a originalidade existente em um trabalho de iniciação científica. a) Tema do trabalho e interesse do aluno O assunto “tema” surge no momento em que se precisa elaborar um trabalho científico. Que tema pode ser esse? Ele pode ser de escolha livre do aluno, pode ser apontado pelo professor ou pode ser uma escolha do aluno a partir de uma seleção prévia feita pelo professor. Quando a escolha livre do tema é permitida, tende-se a optar por algum assunto de interesse próprio. Em um primeiro momento, essa possibilidade anima, pois, se a escolha é livre, pode-se escolher qualquer assunto; e podendo-se escolher, o trabalho será bom. Esse é um pensamento enganoso, uma verdadeira armadilha. Nem todos os temas são bons para a pesquisa. Alguns são muito amplos, outros requerem dados que não podem ser coletados, e, para outros, não há bibliografia. Além disso, quanto mais pessoal for o tema, maior será a dificuldade de o orientador poder ajudar. Imagine-se um aluno adepto de música eletrônica e que decida fazer a pesquisa sobre isso. A que disciplina (ou disciplinas) está relacionada? Que tipo de abordagem ou pesquisa pode ser feita? Que hipóteses podem ser formuladas e como fazer para descartá-las? Essas são apenas algumas das dificuldades. Elas aparecem justamente porque o aluno vai iniciar-se na pesquisa, ou seja, não sabe ainda como pesquisar e elaborar um trabalho científico. Ele ainda não conhece as técnicas, formalidades, não tem clareza nem mesmo do tipo de aprendizado que poderá adquirir ao realizar tal trabalho. A prioridade é que o estudante faça um trabalho de iniciação científica e não um trabalho qualquer sobre o tema que desejar. É bom e desejável que ele aproveite essa oportunidade para aprender sobre um tema de interesse, mas o objetivo da iniciação científica é aprender de que modo se faz uma pesquisa. Assim, parece difícil que o estudante, sem os devidos conhecimentos, elabore um texto de acordo com as formalidades científicas se lhe couber a escolha do tema. Ao enfrentar essa situação, ao invés de escolher o tema e procurar orientador, é primordial que se procure o orientador e, com ele, se escolha o tema. No outro extremo está o caso em que o tema é imposto ao aluno. Essa situação pode, inicialmente, desmotivá-lo. A vantagem, contudo, é que o tema, já escolhido por alguém experiente, provavelmente permitirá uma pesquisa e um texto de qualidade. Portanto, é uma grande oportunidade para o aluno aprender o método científico. Além disso, à medida que a pesquisa avança, tende-se a começar a vislumbrar a relevância do tema e o interesse aumenta. Ao final, com o trabalho bem orientado, o aluno provavelmente atingirá os objetivos da iniciação científica: aprender o modo de desenvolver a pesquisa e apresentar os resultados. O caso intermediário é o mais comum. O aluno, movido parcialmente por interesse próprio e, parcialmente, pelo orientador, escolheum tema. Esse parece ser o mais interessante. Contudo, para que a iniciação científica seja efetiva, o papel do orientador é imprescindível. Entre os extremos – escolha livre e a simples indicação – é a escolha livre que pode colocar em risco o trabalho de estudantes que ainda não possuem conhecimento e experiência de pesquisa. A dica é a seguinte: buscar um orientador e não desanimar com temas que parecem sem interesse. O interesse maior deve ser o aprendizado da metodologia científica. Esse não é um conhecimento vazio. É a chave para que o aluno tenha uma relação ativa frente ao conhecimento, deixando de ser mero espectador. b) Diferentes temas, diferentes dificuldades Na seção anterior, tratou-se da dificuldade em escolher o tema. O problema vem dos diferentes obstáculos que se deve transpor para atingir o objetivo proposto. Caso não se esteja ciente desses obstáculos, a tendência é travar a pesquisa ou a execução do trabalho. Citam-se, aqui, alguns casos. Dificuldade 1: o número de fontes É possível que o tema escolhido sofra da falta ou do excesso de fontes para pesquisa. Desejando-se pesquisar, por exemplo, “a última tendência de moda na Europa” tem-se centenas de revistas, com diferentes enfoques, diversos estilistas, críticos de moda, milhares de lojas no mundo inteiro e consumidores para serem consultados. Uma pesquisa com tantas fontes disponíveis pode gerar dispersão, fazer com que se perca o foco. Por outro lado, uma pesquisa com um tema muito específico, sem uma documentação farta à disposição, por exemplo, “a história dos povos do sudeste da África antes do contato com os Europeus”, também pode gerar entrave na condução do trabalho. Dificuldade 2: estatística adequada Certos temas, principalmente os que envolvem populações, requerem certo conhecimento de estatística para se obter dados relevantes, ou seja, as pesquisas devem ser feitas de modo a gerar resultados compatíveis com as questões levantadas. Esse tópico será tratado com mais detalhes no capítulo 4, mas, neste momento, lança-se um exemplo: se o tema for “o uso de camisinhas pelos jovens entre 15 e 25 anos, em Porto Alegre”, a pesquisa deve ser feita com jovens que representem a totalidade da população. Não basta ir ao shopping e entrevistar 100 pessoas, sem ir ao centro ou à periferia. Essa pesquisa deve ser proporcional. Nesse caso, o esforço de pesquisa é enorme, dificilmente atingível em uma iniciação científica. Dificuldade 3: tempo da pesquisa Há temas em que o tempo necessário para a pesquisa torna o trabalho inexequível, por demandar muitas entrevistas e número elevado de coletas de dados. Os exemplos são os mais diversos. Um deles seria pesquisar “os danos, a longo prazo, de próteses de silicone colocadas em jovens de até 20 anos”. Isso demandaria uma espera de anos. Outro seria “traçar uma relação entre o cuidado diário com pitbulls e seu comportamento”. Se a pesquisa for levada ao pé da letra, requer acompanhamento diário da rotina de diversos cães e os reflexos dessa rotina no seu comportamento ao longo da vida. Dentre todos os problemas na escolha de temas, o maior e mais frequente – até porque abrange, em certa medida, os já citados – é o do “tema amplo”. De qualquer forma, a mensagem aqui é que não se pode escolher um tema sem estar atento às dificuldades. Um bom tema não é sinônimo de tema relevante. Um bom tema é aquele que permite uma boa pesquisa, bons resultados e a elaboração de um trabalho, este sim, relevante. c) O problema do tema amplo Ao se escolher livremente um tema para pesquisa, é comum e natural que se comece a pensá-lo em termos gerais – assuntos de particular interesse, notícias na televisão, algum fato que se considere intrigante: “O aquecimento global”, “Os meios de comunicação”, “O Facebook”, “A religião”. Contudo, julgar que a escolha de um assunto tão amplo seja o mesmo que encontrar um tema para pesquisa é um grande erro, que pode custar caro e, até mesmo, impedir sua execução. O estudante escolhe um tema amplo, pois teme não ter sobre o que pesquisar. Se seleciona algo muito específico, pensa ele, não terá muito o que escrever. Falar sobre a própria casa parece render pouco conteúdo, e é muito menos interessante do que falar sobre a cidade de Porto Alegre, o estado do Rio Grande do Sul, o Brasil, a América do Sul e o Planeta Terra. Portanto, o estudante, ao descartar o tema específico, julga que a escolha de um tema amplo lhe garantirá uma pesquisa relevante. Esta é mais uma armadilha. A questão, dita de forma breve, é que se um tema for muito amplo não se saberá por onde começar. “O Facebook”, por exemplo, é um assunto que pode ser abordado de inúmeras formas por possuir reflexos diversos na vida dos vários tipos de internautas ao redor do mundo. Elaborar um trabalho de iniciação científica sobre o Facebook, com a pretensão de abranger todos esses aspectos, é maluquice. O mesmo ocorre caso se queira pesquisar sobre o “O planeta Terra”: os enfoques são incontáveis, desde a sua diferença em relação aos outros planetas até sua história natural e destruição pelos seres humanos, passando pelos seres que aqui vivem. Cada capítulo dessa pesquisa abrange milhares de fontes, tantas que se torna quase aleatória a escolha de uma delas. Caso o aluno inicie uma pesquisa dessas, deve começar a partir de que ponto, tratando de quê, com que enfoque? A menos que tenha um foco, um interesse especial dentro desse tema amplo, a pesquisa e o trabalho não começarão ou se tornarão vagos. Portanto, a solução para o problema do tema amplo é: definir o foco da pesquisa. d) A necessidade de um foco Conforme se disse acima, sem um enfoque específico a pesquisa não se realiza, pois não há ponto de partida e nem de chegada; não há como formular hipóteses e pensar na metodologia a ser utilizada. E, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, definir um foco não significa deixar de lado assuntos interessantes ou relevantes, mas organizar os dados de modo que todos tenham uma relação clara entre si. Um bom exemplo pode ser o tema “O derretimento das calotas polares”. Um estudante que escolha esse tema terá o desafio de descrever as causas e consequências deste fenômeno. Sem um foco específico, para o trabalho ser completo, deverá fazer menção a todas as calotas vulneráveis e a todos os locais do globo que ficarão submersos. O resultado será um conjunto de observações gerais seguidos de uma listagem de dados e relações possíveis, genéricas e pouco determinadas, pois não será possível tudo abordar com profundidade e de forma conclusiva. Aliás, a conclusão deste trabalho será muito provavelmente idêntica à introdução – o derretimento das calotas polares representa um risco para várias áreas povoadas e ocorre por diversas causas –, o que significa avanço irrelevante ou inexistente sobre este tema de tanto interesse. A quantidade de dados e abordagens presentes terá prejudicado a profundidade e relevância da pesquisa. Contudo, se o tema “O derretimento das calotas polares” tiver um foco específico, a pesquisa poderá ser feita com um objetivo e o resultado será um trabalho interessante. Seguem alguns passos para definir o foco de pesquisa, tendo como exemplo o tema já mencionado. Quadro 2. PASSOS PARA A DEFINIÇÃO DO FOCO DE PESQUISA A) Delimitar por Localização espacial Ao invés da localização geográfica genérica, escolhe-se uma área específica, como a Baia da Guanabara, no estado do Rio de Janeiro, para ilustrar que tipo de consequências o aumento do nível do mar afeta a vida de uma população. Melhor ainda será escolher apenas uma parte desta localidade, pois sob uma zona específica se poderá ganhar ainda mais profundidade. B) Delimitar por Localização temporal Definir que o trabalho versa sobre os próximos 50, 100 ou 200 anos permitirá trabalhar com uma estimativa fixa sobre o aumento do nível do mar, abrindo caminho para a análise da região escolhida. Deixar o limite temporal indefinido, em um trabalho sobre derretimento de porções de gelo, impede qualquer análise. C) Definira fonte principal de dados Diferentes centros de pesquisa podem ter estimativas diferentes sobre o que ocorre com as calotas polares. Até que seja definido qual será a fonte principal, o trabalho se resumirá à discussão ou à comparação das diferenças entre centros de pesquisa. A definição do estudo que servirá de base para o trabalho permitirá o avanço da pesquisa. D) Definir a O impacto do derretimento será considerado em relação à economia da região, à perspectiva da análise perda de espaços públicos, à nova configuração dos biomas ou à possível migração dos habitantes atuais? Serão consideradas as causas e as consequências? Como lidar com esse fenômeno? Se não for definida a perspectiva, será abordado um pouco de tudo e não será possível definir um objetivo para a análise. É importante notar que definir uma dessas perspectivas torna possível aprofundar a análise, fazer projeções e tirar conclusões relevantes, além de abrir espaço para mencionar os demais pontos, que poderão ficar amarrados ao foco principal, ao invés de ficarem “soltos”. Nesse caso, a perspectiva econômica para analisar as consequências do derretimento das calotas polares poderia ser um enfoque interessante para o tratamento do tema. Seguindo estas orientações, o tema geral “o derretimento das geleiras” pode ser tratado em uma pesquisa sobre “O impacto do derretimento das geleiras até 2100 sobre a vida econômica da região da praia de Copacabana a partir dos dados do INPE”. Este tema poderá gerar hipóteses precisas, permitirá refletir sobre a metodologia para testá-las, conferirá um norte para a redação do texto. A consequência natural, então, será a produção de uma pesquisa com uma conclusão justificada, adequada e inteligível. A elaboração de um trabalho científico visa à transformação de uma massa de opiniões e experiências em conhecimento legítimo, sólido e justificado. Quanto mais preciso for o tema, mais sólida e profunda tende a ser essa justificação. A conclusão dessa importantíssima seção é que o tema escolhido deve ser o mais preciso possível. Quanto mais específico, mais centrado, mais fácil será organizar a pesquisa e daí extrair informações que podem ser relacionadas umas às outras de forma clara, adequada e justificada. Elaborar um trabalho sobre o que significam algumas das frases ditas por Capitu a Bentinho tem mais chance de ser bem-sucedido, por estar bem delimitado, do que um trabalho sobre todo o romance Dom Casmurro ou sobre a obra Machado de Assis. O trabalho conterá obrigatoriamente dados sobre o romance e o seu autor, que serão enfocados com um objetivo nada vago. Aliás, essa é uma boa formulação do ponto aqui tratado: o tema amplo tende a resultar em um trabalho vago; um tema preciso tende a resultar em um trabalho profundo. Essa profundidade marca a solidez da Ciência contra a superficialidade da opinião. e) Originalidade Uma questão recorrente é sobre a necessidade de originalidade de um trabalho científico. O estudante, muitas vezes, tem o desejo de elaborar um trabalho que não seja algo “batido”, repetido, que todos já conheçam ou tenham certa familiaridade. Em outras palavras, quer elaborar um trabalho original. Esse sentimento é louvável. O conhecimento deve sempre avançar, progredir. Contudo, esse não é o objetivo principal da iniciação científica. O importante é conhecer e treinar métodos de pesquisa para que se elabore conteúdos sólidos, pois a busca dessa solidez é o que caracteriza a Ciência, independente da originalidade e das boas ideias que surgem no desenvolver da pesquisa. Não se sinta desmotivado por causa disso. A intenção não é, definitivamente, cortar as asas de quem deseja voar. As novas e boas ideias podem ser desenvolvidas no trabalho de iniciação científica. Conseguir indicar uma alternativa diferente, fazer uma avaliação com certa originalidade é um passo fabuloso. A reunião de dados sólidos e relevantes para a matéria é grande motivo de orgulho. Contudo, isso é muito diferente do querer provar com o trabalho, de forma definitiva, um ponto de vista particular. Se esse for o objetivo, provavelmente o trabalho deixará a desejar quanto à sua solidez. *** Um avanço modesto e bem embasado é motivo para grande comemoração e entusiasmo. Tendo definido um tema que possa ser objeto de pesquisa, com enfoque bem definido, o passo seguinte é a elaboração do projeto de pesquisa. Para o professor Sugestão de atividade Divida a turma em grupos (máximo, 4 alunos). 1. 2. 3. 4. Proponha que cada grupo desenvolva um tema de pesquisa e tente definir um foco. Em grande grupo, peça para cada grupo apresentar seu tema. Faça uma eleição do melhor tema e discuta a partir dele, com todo o grupo, as caraterísticas do trabalho científico, definição de tema e foco. Solicite que os grupos retomem seus projetos e os aprimorem, a partir da discussão. Obs.: O resultado deste trabalho pode ser retomado para o delineamento do projeto de pesquisa, atividade do próximo capítulo. Escute no CD Faixa 2 Tema Rima com Problema Letra e Música: Rafael Korman Hey, professor, tem algo me tirando o sono Me livra, por favor, dessa maldita situação de abandono Pro meu trabalho eu quero um tema Mas achar o tema rima com problema Seria fácil trabalhar assuntos só do meu interesse Mas quem disse que eu vou saber falar tão bem daquele ou desse? Como mantenho a minha pilha Sem cair nessa famosa armadilha? Você podia bem dizer pra mim qual é o caminho que eu sigo Quem sabe, mas eu acho que eu não vou querer falar sobre o trigo Então, você me orienta E no caminho a gente se complementa Depois eu só não quero me travar na execução No tempo, na estatística ou no número de fontes O tema específico evita alienação E só um ponto, mas eu sei um monte! Vai ser ainda ótimo poder organizar os meus dados Isso se chama foco e todos eles estão relacionados Fonte, tempo, espaço E com perspectiva objetiva do que eu faço Sabendo que não é preciso ser original Pois métodos de pesquisa bem treinados e sabidos Garantem solidez ao meu trabalho no final Com conteúdos bem desenvolvidos Hey, professor, tem algo me tirando o sono Vem comigo, por favor, pois desse plano eu sei que sou dono Pro meu trabalho eu tenho um tema E fazer um bom projeto é o meu lema • • • • 3. O projeto de pesquisa Ciente do que é a elaboração de um trabalho científico e após a escolha do tema apropriado, é chegado o momento de se elaborar o projeto de pesquisa. Ele será uma espécie de esqueleto do trabalho científico, o que permitirá ao aluno e ao orientador saberem o ponto de partida, o caminho a ser seguido e em que lugar pretende chegar. Esse capítulo aborda os passos da montagem do seu projeto, explorando qual é a sua utilidade e como ele irá ajudá-lo na execução do trabalho. Após, seguem considerações sobre as hipóteses da pesquisa e a metodologia que deve ser adotada para que apareçam os resultados pretendidos. O assunto seguinte será a definição da “pergunta norteadora” e a sua relação com o foco do trabalho, seguido da importância do sumário provisório na estruturação do trabalho. Finalmente, chega-se ao desafio de encontrar, por nós mesmos, as fontes bibliográficas que serão utilizadas no trabalho mesmo sem termos conhecimento prévio do assunto. a) O que é um projeto de pesquisa? Um projeto de pesquisa é um documento que contém todos os dados relevantes para realizar uma futura pesquisa. Ele conterá os seguintes itens: Título provisório Tema Justificativa do tema Objetivos gerais e específicos • • • • • Hipóteses Metodologia da pesquisa Pergunta norteadora Fontes bibliográficas Sumário provisório Os elementos exigidos por diferentes professores e por diferentes tipos de trabalho variam. Entretanto, todo projeto deve ser capaz de mostrar a estrutura do trabalho, os pressupostos da pesquisa, os resultados esperados. Elaborar um projeto de pesquisa envolve reflexão, cuidado e certa dose de comprometimento com a tarefa a ser desenvolvida. A boa notícia vem agora: quanto mais bem feito for o projeto, mais fácil, tranquilae natural será a pesquisa e a execução do trabalho. Vale à pena investir energia nessa etapa (mesmo que essa não seja a mais demorada), pois já nesse momento será possível antecipar problemas graves na pesquisa ou, por exemplo, que o tema é inadequado, ou que falta bibliografia, etc. Com o projeto de pesquisa em mãos, pode-se enxergar as lacunas da proposta, tendo a chance de corrigi-las. Trata-se, sem dúvida, de um processo dinâmico, em que o pesquisador precisa refletir sobre seus interesses, as possibilidades, a execução, ir modificando suas expectativas iniciais, cortar partes, acrescentar outras, mudar o foco da pesquisa ou, até mesmo, mudar o tema completamente, elaborando outro projeto de pesquisa. Em relação ao título provisório, ele deve dar uma ideia geral da pesquisa, com referência direta ao tema e, talvez, apontar para algum resultado que se pretenda obter. É um título provisório exatamente porque ainda não se executou o trabalho e o resultado final não está definido. Detalhes sobre o título definitivo constam no capítulo 5, seção “l”. Ao se elaborar o projeto deve-se voltar o olhar para o futuro. Empenhar- se no projeto é um grande passo para realizar um ótimo trabalho. b) Hipóteses da pesquisa Logo após dar um título provisório e delimitar o tema, formulam-se as hipóteses da pesquisa. Hipóteses são afirmações que se deve comprovar ou descartar ao longo a pesquisa, ou seja, elas representam o que será testado, o que será posto em questão. Exemplo: Adotando o tema: “O uso de drogas por adolescentes entre 12 e 15 anos residentes no bairro Petrópolis”, as possíveis hipóteses seriam: a) a maioria dos jovens já experimentou alguma droga; b) a droga mais consumida é o álcool; c) uma minoria já experimentou maconha; d) o consumo ocorre nas praças; e) a maioria dos que se dizem consumidores frequentes estão cientes dos problemas que a droga pode ocasionar. Trata-se de uma parte breve do projeto. Se o tema foi bem delimitado, não será difícil formular as hipóteses. Elas refletirão as expectativas que se tem com a pesquisa e não interferirão no caráter científico do trabalho: o importante é que elas sejam postas à prova, sendo confirmadas ou não por pesquisa bibliográfica ou de campo. Não científico seria transformar as hipóteses em conclusões sem nenhuma pesquisa. As hipóteses são opiniões que se candidatam a ganhar um estatuto de conhecimento mais sólido. Nenhuma será perdida, pois mesmo as rejeitadas trazem consigo o conhecimento de que não eram adequadas, ou seja, que sua negação é verdadeira. c) Metodologia da pesquisa Após formular as hipóteses, é preciso definir de que modo elas serão postas à prova. Em outras palavras, é preciso definir qual a metodologia da pesquisa que se deve adotar. O melhor modo de averiguar alguns dados é através da pesquisa bibliográfica, principalmente no caso de dados de difícil acesso ou uso de alguns pressupostos teóricos. Em outros casos, é imprescindível fazer uma pesquisa de campo com coleta de dados, seja do ambiente natural, seja da opinião e histórico do grupo humano pesquisado. O mais importante é que essa metodologia seja adequada para obter os resultados desejados. Uma enciclopédia utilizada para a pesquisa não informará quantos jovens do Bairro Petrópolis são usuários regulares de drogas. Da mesma forma, não se pode, ainda mais em se tratando de iniciação científica, tentar desvendar que mecanismos neuroquímicos estão por trás da depressão de adultos que têm perdas familiares importantes. A metodologia deve conter algo do tipo “serão feitas entrevistas com 50 pessoas, escolhidas segundo tais e tais critérios, além de pesquisa bibliográfica e entrevista com um especialista em neurologia”. Sempre, quanto mais especificado, melhor. Isso ajudará no andamento da pesquisa. d) Pergunta norteadora e foco A pergunta norteadora é aquela que guia a pesquisa. Ela deve refletir o interesse principal, é como uma “superhipótese” do trabalho, expressa em forma de questionamento, por exemplo, “É possível afirmar que os jovens do bairro Petrópolis estão menos envolvidos com drogas do que os do bairro Boa Vista?”. Percebe-se, portanto, que a pergunta norteadora é algo que reflete o enfoque do tema do trabalho. Ela precisa perguntar o que se quer saber ao final da pesquisa. É a essa pergunta que se deve fazer referência no início de cada capítulo e analisar os dados apresentados no final de cada um deles. Tudo no trabalho terá a finalidade de responder a essa questão. e) Objetivos gerais e específicos Para que estudante e orientador enxerguem o todo do caminho proposto é necessário que constem no projeto de pesquisa as considerações sobre os objetivos gerais e específicos do trabalho. O objetivo geral será a exposição, em um parágrafo, do que o aluno pretende demonstrar com sua pesquisa. É como a organização, em forma de texto, da relação entre o tema, as hipóteses e a metodologia. O objetivo geral deve conter os conceitos que serão utilizados no trabalho. Do objetivo geral derivam os específicos, que podem ser divididos em etapas. Cada uma delas pode ser apresentada em um parágrafo. Isso permitirá visualizar o modo com que as partes do trabalho proposto efetivamente se ligam umas às outras. Assim, surgirá uma espécie de esboço do trabalho, o que ajudará ainda mais a pesquisa e a elaboração da parte escrita. f) Sumário provisório Outra parte bastante útil de um projeto de pesquisa é a primeira ideia do que será o sumário do trabalho. O exercício de elaborar o número de capítulos e seus títulos envolve refletir sobre o conteúdo de cada um deles. É uma maneira rápida e clara de ter uma visão geral do todo que se pretende realizar. Aliás, após definir os objetivos específicos, pode-se realizar a tarefa fácil de produzir um sumário provisório, pois os objetivos específicos podem ser exatamente o que cada um dos capítulos do trabalho precisa conter. Um diagrama básico das relações entre os itens constantes do projeto de pesquisa pode ser visto a seguir: Figura 1 Diagrama básico dos itens de um projeto de pesquisa. g) Cronograma Elaborar um trabalho, de qualquer natureza, envolve a execução de ações ao longo do tempo. No caso de um trabalho científico, que geralmente conta um prazo final, faz-se necessário ter controle maior para garantir que todas as etapas serão executas a tempo. Assim, deve-se montar um cronograma, que nada mais do que uma listagem das ações necessárias e o tempo consumido por cada uma. O cronograma permite ao pesquisador e ao orientador acompanhar se o trabalho está adiantado, atrasado ou no tempo esperado, programando ações corretivas necessárias. No caso de um trabalho em equipe, pode-se incorporar ao cronograma quem é o responsável por cada tarefa. Veja o exemplo. ETAPA Responsável Conclusão 1. Pesquisa Bibliográfica João 19 de Setembro 2. Entrevistas Maria 26 de Setembro 3. Reunir e organizar dados Felipe 3 de Outubro 4. Redação dos Capítulos João 17 de Outubro 5. Redação da Introdução e Conclusão (Finalização) Felipe 24 de Outubro 6. Elaboração do Pôster Maria 31 de Outubro É importante notar que o cronograma pode ser mais ou menos detalhado e que as datas de conclusão das etapas podem ser revistas à medida que as ações forem realizadas. h) Fontes bibliográficas: onde encontrá-las A questão das fontes bibliográficas que serão utilizadas na pesquisa é algo que pode ser chamado de “intrigante”, porque o jovem pesquisador precisa encontrar fontes bibliográficas confiáveis e relevantes sobre um assunto que ainda não conhece com profundidade. Normalmente, é possível selecionar uma bibliografia somente após um contato maior com a matéria, não antes. Como saber se um livro sobre o assunto é melhor do que outro se nenhum deles foi lido? Como saber o nome dos pesquisadores e autoridades no assunto se não se tem conhecimento sobre o assunto em que são especialistas? O desafio parece similar ao de descrever os principais pontos turísticos de uma cidade que nunca se visitou. De fato, é bastante similar. De que modosaber, antes de chegar à cidade, quais são os seus principais pontos turísticos? Simples: conversando com quem já foi à cidade, visitando uma agência de viagens, um balcão com informações turísticas, procurando no Google, e, assim, reunir informações suficientes para elaborar um roteiro. O mesmo ocorre no caso da pesquisa bibliográfica. Deve-se procurar em livrarias, bibliotecas e falar com pessoas que conhecem o assunto para saber quais livros estão disponíveis. É preciso ir à procura da informação. A internet pode ser de grande ajuda, pois ela permite a pesquisa em livrarias e bibliotecas ao redor do mundo! A existência dessa rede mundial de computadores faz com que não exista desculpa para não se conseguir muita e boa informação sobre uma enormidade de assuntos. Ao se acessar a página de alguma universidade tem-se à disposição a seu sistema de bibliotecas. Do mesmo modo que se faz no Google, digita-se o assunto, o nome de um autor, algumas palavras-chave e, caso se encontre algum título que interesse, pode-se até ir ao local e, se possível, retirar o livro. Vale lembrar que as bibliotecas, normalmente, são espaços de visitação pública. De qualquer forma, nessa pesquisa por assunto é possível encontrar obras necessárias ao projeto de pesquisa. Muitas vezes, tem-se a impressão de que se dispõe de pouca bibliografia — apenas uma reportagem ou um livro. No entanto, eles devem conter notas de rodapé ou algum tipo de indicação de outras obras. Essas outras obras contêm mais notas de rodapé ou bibliografias completas nas últimas páginas. Porém, apenas uma pesquisa na internet não resolverá o problema com a bibliografia. Dicionários e Wikipédia são bons, mas insuficientes. Eles são úteis para que se conheçam autores, palavras-chave e assuntos correlatos, informações que conduzam o pesquisador às bibliotecas e às livrarias em busca das obras necessárias. As informações na internet, em alguns casos, tratam de assuntos específicos. Em geral, são apenas resumos ou um relato sobre determinado assunto. Isso é pouco para uma pesquisa que pretende consolidar opiniões. No seu projeto de pesquisa, procure listar as fontes que considerar úteis para a execução do trabalho. i) Escolhas teóricas no TCC Grande parte das observações feitas nesse capítulo não se aplica somente a trabalhos de iniciação, mas a qualquer trabalho científico. Como o caminho natural de uma pesquisa é desenvolver-se e tornar-se um trabalho não apenas de iniciação, mas uma pesquisa acadêmica substancial, cabe fazer uma observação sobre a fase seguinte à iniciação científica, a elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ou Monografia, requisito parcial para obtenção do diploma de bacharel nas diversas áreas. Nesse caso, será preciso construir um projeto de pesquisa mais elaborado. Lembre-se que esta seção se aplica ao pesquisador já iniciado. É preciso assinalar uma diferença importante entre a iniciação científica e trabalhos que exigem maior profundidade e fôlego, por exemplo, o TCC. Essa diferença estará presente na escolha do tema, mas se faz sentir concretamente na elaboração do projeto de pesquisa (por esse motivo, esse assunto encontra-se neste capítulo), com reflexos evidentes na escolha da bibliografia utilizada. É o que pode ser denominado de “escolhas teóricas” feitas na abordagem mais aprofundada de um tema de pesquisa. O pesquisador não aborda um tema de pesquisa como quem descobre um continente: seu olhar baseia-se em conhecimentos e teorias existentes que se relacionam com o tema de diversas maneiras. Então, quando se escolhe um tema, um enfoque e se passa para a construção de um projeto de pesquisa mais elaborado, é preciso estar ciente de que essa escolha ocorre a partir de determinado ponto de vista. Há vários modos de se tratar um tema e, para cada um, há diversos autores que discutem o que consideram ser mais relevante. Assim, é fundamental determinar a questão a ser considerada, o que significa delimitar o pano de fundo da pesquisa. Isso pode parecer um tanto abstrato, mas pode-se exemplificar: caso se escolha o tema “sexo”, o modo de percebê-lo varia segundo a cultura de cada sociedade, uma perspectiva mais biológica ou mais psicológica, com finalidade descritiva ou de prevenção de doenças e gravidez na adolescência, etc. Esse tema pode ter diferentes significados, e a pergunta “quais são os requisitos para uma relação sexual?” pode provocar diversas respostas a partir do pano de fundo delimitado. As respostas serão evidentemente diferentes porque a pergunta, aparentemente a mesma, adquire diferentes significados se feita dentro de contextos diversificados. As respostas dadas ou omitidas pelos autores revelam diferentes “culturas” no campo teórico, que os levam a ter diferentes preocupações e métodos. No caso de um projeto de pesquisa elaborado com vistas à produção de um TCC, precisa-se estar ciente das escolhas teóricas, do pano de fundo das indagações, para evitar perguntas deslocadas e comprometer a pesquisa. Se o interesse do pesquisador dentro de um tema não for semelhante ao dos autores escolhidos na bibliografia, isso pode limitar o pesquisador ou, até, impossibilitá-lo de construir o tão necessário diálogo com as fontes. Isso não quer dizer que se precise repetir o que outros já disseram, longe disso. O que precisa ocorrer é uma adequação no nível das preocupações, na relevância dos pontos levantados entre o pesquisador e as fontes. A importância das escolhas teóricas que se faz em uma pesquisa mais densa, assemelha-se, então, ao problema de encontrar o foco do tema. A diferença é que o nível dessa preocupação, nesse caso, chega a ser mais decisiva pela intenção de aprofundar a pesquisa no TCC. Se o que for pretendido é mais do que um estudo panorâmico que demonstre habilidades instrumentais de pesquisa, é necessário ter a precisa consciência das escolhas teóricas realizadas. Salienta-se, porém, que essa é uma questão mais relacionada ao TCC do que à iniciação científica. *** Bem, o projeto está pronto. Ficará evidente nos capítulos que se seguem a importância de cada etapa do projeto para o sucesso do trabalho. Cada uma delas tem uma razão de ser, não é algo em vão para tomar o tempo do aluno. Ao executar cada uma delas com dedicação, tudo correrá bem. Passar por cima de alguma delas é prejudicial, pois, em uma etapa mais avançada do processo, será necessário correr atrás do que se deixou de fazer. Portanto, é preciso dedicar-se ao projeto de pesquisa, voltar a ele quantas vezes for necessário, e completá-lo à medida que se avança na pesquisa e na elaboração do trabalho escrito. Assim, o projeto se converterá em um recipiente no qual tudo o que foi coletado e relacionado será armazenado, até que se torne no trabalho final. Para o professor Sugestão de atividade Retome o resultado da atividade anterior, propondo que os grupos façam o projeto de pesquisa a partir do tema. Obs.: Se você está trabalhando no desenvolvimento de projetos de pesquisa individuais, pode ser uma boa ideia discutir com o grupo, a partir do tema e projeto de pesquisa escolhido, a possibilidade de desdobrá-lo em 3 ou 4 subprojetos independentes (um para cada aluno), mas complementares. Escute no CD Faixa 3 Projeto de Pesquisa Letra e Música: Rafael Korman Como um esqueleto que sustenta o corpo humano Antes da pesquisa eu preciso ter um plano Ponto de partida, um caminho pra trilhar E que no final me mostre onde eu vou chegar Um projeto de pesquisa me traz dados relevantes Pra que no futuro eu prove o que não sabia antes Quanto mais bem feito o projeto, mais tranquila a execução Penso agora, pra depois não escrever nada em vão Título, hipóteses, metodologia Pergunta norteadora, objetivos gerais e específicos Sumário provisório, cronograma, fontes de onde eu buscaria Esses são os passos de projetos dos trabalhos científicos Hipóteses são afirmações que eu comprovo ou descarto Refletem as expectativas, pra saber de onde eu parto E eu ponho estas à prova com a metodologia Adequada ao meu caso prater o que eu gostaria A pergunta norteadora vai guiar Refletir o interesse principal Pra depois ter o objetivo geral E dele os específicos tirar Título, hipóteses, metodologia Pergunta norteadora, objetivos gerais e específicos Sumário provisório, cronograma, fontes de onde eu buscaria Esses são os passos de projetos dos trabalhos científicos Capítulos e títulos eu esboço no sumário Provisório só pra eu enxergar todo cenário Com o cronograma pra cumprir cada etapa Tendo um bom controle, eu sei que nada me escapa Boas fontes bibliográficas são tudo Livros ou especialistas pra ajudar você Internet bem usada no estudo Se aplica até no TCC Título, hipóteses, metodologia Pergunta norteadora, objetivos gerais e específicos Sumário provisório, cronograma, fontes de onde eu buscaria Esses são os passos de projetos dos trabalhos científicos 4. A pesquisa A pesquisa é o momento central para qualquer trabalho científico. O motivo é evidente: nela se encontram dados, fatos, informações e conhecimento de especialistas para fundamentar a tese que se quer defender. A pesquisa permitirá que a opinião inicial seja solidificada pelo material da experiência direta (a pesquisa do aluno) ou indireta (fornecido por outros pesquisadores). Neste capítulo, será abordado o modo de fazer a pesquisa, a qual redundará na elaboração final do trabalho, de maneira natural e eficiente. A internet e o Google podem ser traiçoeiros e não resolverem todos os problemas que surgem no decorrer da pesquisa. Além disso, citam-se os diversos passos da pesquisa, começando pelas suas etapas a preparação, a coleta de dados e a sua interpretação. A pesquisa de campo, feita pelo próprio autor do trabalho, será o assunto da quarta seção. O assunto da seção seguinte serão as entrevistas com especialistas, sua utilidade e limitação. Chega-se, então, ao assunto pouco comum para o aluno: como fazer uma pesquisa bibliográfica que atenda aos requisitos científicos. Finalmente, analisa-se o significado dos dados coletados. a) Por onde começar a pesquisa? Com o projeto em mãos, se está apto a começar a pesquisa. Pode-se ficar meio ansioso ou um pouco perdido no início. Afinal, deve-se coletar os dados em que ordem? O que fazer ao chegar a um resultado? Anota-se o resultado em folhas separadas, fala-se com o orientador? Como se faz para que o projeto de pesquisa saia do papel e se transforme em uma pesquisa? A resposta a essas perguntas é que não existe ordem definida para coletar os dados. Se o projeto de pesquisa estiver correto, nele deve constar a metodologia a ser utilizada para testar as hipóteses formuladas. Assim, o que se deve fazer é a pesquisa, é ir atrás de dados que coloquem à prova as hipóteses. Em que ordem? Isso não pode ser dito de antemão. Muitas vezes, depende de uma escolha arbitrária; outras, do fato de algumas fontes estarem mais à disposição. O fato é que se deve começar a pesquisa o quanto antes, porque ela pode durar mais do que o esperado. É preciso colocar a mão na massa e começar a coleta dos dados. b) Google O Google, inegavelmente, é uma ferramenta fantástica. Pode-se ficar fascinado com a facilidade de encontrar, em centésimos de segundo, em qualquer lugar, informações sobre qualquer assunto, com textos, imagens e outras mídias. É uma tentação julgar que o Google é a solução de todos os problemas, principalmente ao se fazer uma pesquisa que não envolva pesquisa de campo. Cuidado! Como já foi dito na última seção do capítulo anterior, Google, Wikipédia e similares são pontos de partida possíveis de uma pesquisa. Enfatiza-se: “pontos de partida possíveis”. Eles podem informar rapidamente o que é básico sobre um assunto, mas não permitem que se vá muito além. Limitar- se a eles é prender-se apenas a definições sobre os principais conceitos e algumas linhas de respostas às questões que se precisa responder. Portanto, use o Google conforme foi indicado na seção do capítulo anterior sobre as fontes bibliográficas: para saber um pouco mais sobre o assunto, conhecer palavras-chave, descobrir autores e nomes de livros que tratam do tema pesquisado. Esse é o ponto de partida de sua investigação. É impossível falar em Google sem tocar em um assunto desconfortável: a tentação de copiar, recortar e colar partes ou até a totalidade de textos encontrados na internet. Não se deve fazer isso. Mesmo sem mencionar a parte óbvia de violação de direitos autorais e problemas éticos relacionados, há um motivo suficiente: isso é, literalmente, um vício. Não produzir o • • • próprio trabalho, ou uma parte significativa dele, é algo que vicia e há dificuldade de livrar-se desse vício. Quando não há esforço em aprender a pesquisar, buscar informações e organizá-las, perde-se a autonomia. Ao agir assim, o aluno se torna dependente do que está disponível, do que outros dizem, do que é fácil e imediato, e isso gera uma limitação crucial em uma sociedade em que há informação tão vasta. A chance de aprender a produzir (e não apenas utilizar) conhecimento é algo que não tem preço, pois essa é uma habilidade absolutamente decisiva.5 É uma verdadeira estupidez – desculpem a palavra, mas é exatamente isso – perder a chance de produzir um trabalho de iniciação científica. É difícil livrar-se do vício de copiar e colar? Sim, mas enfrentar esse tipo de dificuldade é exatamente o que gera o aprender, o que faz com as pessoas estejam mais preparadas e capazes de superar mais e mais obstáculos. Enfrente pois, esse desafio! Copiar e colar é o legítimo caso em que o barato sai caro. c) Etapas da pesquisa Pode-se distinguir claramente três etapas de uma pesquisa: preparação; coleta de dados; sua interpretação. A preparação é importante para que a pesquisa ocorra exatamente do modo como se a programou, é condição para que seja eficaz. Ao se elaborar os passos de uma entrevista, selecionam-se, previamente, algumas perguntas; ao se fazer a pesquisa bibliográfica, é preciso definir que tipo de informações se deseja encontrar; caso seja uma pesquisa de campo, estimase quanto tempo levará para que se tenha em mãos o material necessário. É uma maneira de evitar a necessidade de repetir a coleta de dados e de fazer interpretações sem validade. É preciso estar atento, também, à diferença entre coletar dados e interpretá-los. Coletar é reunir os dados crus, tal como surgem de pesquisas de opinião, de uma entrevista, de um parágrafo de um livro especializado. Um exemplo: 56% dos jovens entrevistados para uma pesquisa dormem entre 6 e 8 horas por noite; 28% dos jovens entrevistados dormem menos de 6 horas por noite, complementando o sono durante o dia; 16% dormem mais de 8 horas por noite. Interpretar é trabalhar com essa informação crua, explorando suas possíveis relações com outras informações coletadas, constatando, afinal, se a hipótese construída foi confirmada, refutada ou não pode ser testada pela metodologia adotada. Por exemplo: “Considerando-se os dados obtidos, conclui-se que uma parte considerável dos alunos não dorme o número de horas mínimas recomendadas pelo especialista entrevistado”. Ao final da pesquisa, os dados poderão ser cruzados e as interpretações poderão ser mais ousadas, por exemplo, relacionando os dados sobre o sono dos alunos e o seu rendimento escolar. d) Pesquisa de campo Na pesquisa de campo, além da relevância da etapa da preparação, deve-se estar atento, principalmente, à seguinte questão: os dados a serem coletados serão capazes de auxiliar na resposta da pergunta norteadora do projeto de pesquisa? É comum que jovens pesquisadores façam, por exemplo, pesquisas de opinião sem se importar com o modo de escolher os entrevistados. Isso poderá acarretar uma distorção dos dados, provavelmente significativa. Um exemplo extremo seria fazer uma pesquisa sobre a importância do futebol no cotidiano das pessoas indo a um estádio de futebol, quando a intenção era pesquisar a opinião geral da população. Há um caso verídico de estudantes de veterinária que colocaram dispositivos, espécie de sacos plásticos, nagarganta de cabras que viviam livremente para descobrir dados sobre sua alimentação no período de seca. Não é preciso muito para perceber que esse dispositivo interferiu grandemente na alimentação normal das cabras, o que obviamente inutilizou os dados.6 Entretanto, existem diversos casos menos gritantes de coleta de dados inadequada em pesquisas de campo. Os problemas se ligam à tarefa nada trivial de escolher amostragens que efetivamente representem o objeto de estudo analisado, ou seja, escolher um grupo relativamente pequeno de dados que corresponda ao todo adequadamente. Em pesquisas científicas de laboratórios credenciados, por exemplo, um mesmo experimento é repetido à exaustão para se chegar à conclusão de que determinada substância é saudável ou não. Essa é uma dificuldade real da pesquisa de campo. Em dúvida, convém pedir ajuda do orientador. Será uma grande oportunidade de aprendizado. e) Entrevistas As entrevistas podem ser uma maneira de tornar dinâmica a coleta de dados que muitas vezes poderia ser feita mediante pesquisa bibliográfica; outras vezes, não. Elas consistem em entrevistar um especialista na área ou alguém que efetivamente conheça o tema sobre o qual se decide pesquisar. Neste caso, a história de um morador de rua pode revelar uma trajetória de vida, uma gama de problemas sociais e esboçar soluções efetivas para o problema da exclusão. Esse relato será efetivamente original, não constará em nenhum livro pesquisado e estará plenamente de acordo com a realidade que se tem na experiência diária. Essa pesquisa com um morador de rua, por centrar-se no estudo de um caso específico, denomina-se “estudo de caso”. A dificuldade na entrevista é encontrar uma pessoa que tenha a autoridade que precisamos para servir como uma fonte confiável, alguém que tenha formação específica ou que trabalhe com o tema. Além dos contatos pessoais — universo muito restrito — é possível entrar em contato com universidades, associações, fundações e profissionais envolvidos com a questão. Esse é o caso típico em que a internet — ou mesmo uma lista telefônica — pode ser de enorme valia. Para estabelecer o contato inicial, deve-se dar preferência ao telefone, por ser mais ágil. É importante deixar a timidez de lado, ligar, identificar-se, perguntar quando e onde o entrevistado pode ceder cinco ou 10 minutos para uma entrevista. Deve-se elaborar algumas perguntas, mas não se deter nelas. Se for um assunto polêmico, é interessante ouvir mais de um ponto de vista. Na hora da entrevista, não esquecer de usar um aparelho de áudio para gravar a entrevista e, também, de perguntar se o entrevistado permite a gravação. Após a entrevista, transcrever de imediato a gravação. f) Pesquisa bibliográfica A pesquisa bibliográfica tende a ser uma etapa difícil. Como se faz para encontrar as informações que se deseja em livros que, somados, chegam a centenas (ou até milhares) de páginas? Simplesmente não há tempo para tanto. Além disso, sem um estudo prévio, como identificar, no texto, as informações relevantes? Com dificuldades desse calibre surge a tentação de transcrever literalmente textos ou de copiar e colar da internet. Não se pode ceder a essa • • • • tentação. A dificuldade é real, mas pode-se contorná-la, dando-se atenção à etapa de preparação, tendo-se os livros na mão e não apenas sabendo o título deles. Recomenda-se reunir a maior quantidade de material que possa estar relacionado diretamente à pesquisa. Além disso, é importante ter clareza da pergunta que se deseja fazer ao texto e da informação precisa que se deseja encontrar. Para realizar uma boa pesquisa bibliográfica, organizando referências e citações dos autores, é fundamental que se vá aos livros, lendo-se atentamente o sumário de cada um, em busca de alguma seção ou capítulo que trate exatamente do tema a ser pesquisado. Caso se encontre algum item com essas características, deve-se lê-lo com atenção, anotando-se as referências a outras obras que possam encaixar-se na pesquisa. Não encontrando o desejado nesse item, deve-se ler a introdução, a conclusão e, após, alguns capítulos em busca das palavras-chave que se deseja encontrar. Não obtendo sucesso, pode-se eleger um texto aleatório para ler com mais vagar, a fim de conhecer um pouco mais sobre a matéria e encontrar mais facilmente o que se procura. Outros pontos a serem considerados na escolha de referenciais e citações, dentro da pesquisa bibliográfica: As informações buscadas nas obras que servem de fonte não precisam ser todas profundas e grandiosas. Às vezes, pode ser a definição de uma doença ou a opinião do autor sobre o tema pesquisado. “Eu acho esse assunto escandaloso, porque põe em risco as instituições políticas do Brasil”: pronto, é isso o que se buscava nesse autor. Caso se acredite que a opinião geral é a de que mais pessoas se afogaram no ano passado em rios e lagos do que no mar, busca-se uma frase de um especialista, ou de uma entrevista com um deles que diga: “No ano passado, mais pessoas se afogaram em rios e lagos do • • • que no mar”. É evidente que, dependendo do caso, parte de alguma obra deva ser compreendida integralmente, de modo aprofundado. Nesse caso, os dados coletados na pesquisa bibliográfica serão os parágrafos mais importantes para a compreensão do texto. Os dados bibliográficos devem ser anotados da seguinte forma: nome do autor, título do livro, número da página e o ano de edição. Se o trecho for pequeno, deve ser transcrito provisoriamente em material a parte, com o objetivo de reunir em um mesmo local todos os trechos que serão utilizados no trabalho escrito. Posteriormente, todos ou alguns deles poderão ser inseridos no texto na forma de citação direta, conforme for conveniente, e ajudar na argumentação do trabalho. Se o trecho for mais extenso, faz-se um resumo ao invés da transcrição, sempre com as referências descritas acima (autor, livro, página, ano), para que não se perca a informação encontrada a tanto custo, pois a memória não é confiável o suficiente. Posteriormente, todos ou alguns destes resumos poderão ser inseridos ou adaptados no texto do trabalho, sob a forma de citação indireta, para auxiliar na argumentação. No caso de não se encontrar nenhuma fonte bibliográfica (incluindo pesquisas na internet, em sites de livrarias e de bibliotecas universitárias), deve-se mudar de tema ou de enfoque, refazendo parte do projeto. Isso é algo natural. Não há porque se preocupar. g) Resultados: provisórios ou definitivos? Ah, então se obteve os resultados desejados! O fato é que a busca de dados no mundo é infinita. Pode-se passar a vida inteira coletando e organizando informações sobre o mundo, tentando conhecê-lo mais e mais (será que efetivamente não se faz isso ao longo da vida?). Assim, cabe perguntar, depois do término da pesquisa, de acordo com o previsto no projeto, se não é preciso fazer algo mais. É provável que sim. Mas também é verdade que pode ocorrer o contrário: perceber que já se tem tudo o que se precisava sem, com isso, esgotar todas as fontes de pesquisa selecionadas. *** Em qualquer caso, deve-se perguntar constantemente sobre a adequação dos resultados às hipóteses e ao tema. Pode-se considerar que os resultados obtidos nunca são definitivos, pois sempre sobra uma parte da realidade que não foi absolutamente conhecida. Então, mesmo que se esteja satisfeito com os resultados obtidos, é importante tratá-los como resultados provisórios no item Conclusão, ao se elaborar o trabalho escrito. É preciso estar consciente de que a elaboração do trabalho esclareceu diversas questões, mas há outras, sempre, a serem esclarecidas. Talvez algumas delas devam ser respondidas para que o trabalho ganhe a consistência desejada. De posse dos dados da realidade, capazes de converter o que era uma opinião em um conhecimento mais estabelecido, falta, ainda, consolidá-los em um trabalho escrito claro, coerente e bem organizado. Sem esse próximo passo, o conhecimento que se adquiriu e que está fragmentado em anotações