Buscar

Iniciação científica para jovens pesquisadores 2 ed

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

© 2013 Autonomia Editora
Av. Carlos Gomes, 1998 – sala 1002 | Três Figueiras
CEP: 90480-002 | Porto Alegre, RS
Fone: (51) 3208-1292
editora@autonomiaedu.com.br
www.autonomiaedu.com.br
Coordenação Editorial
Ana Carolina Valls e Elizabeth Torresini
Diagramação
Tavane Reichert Machado
Capa
Eduardo Nunes e Ana Carlota Jahn
Revisão
Lou Zanetti
Revisão Técnica
Evandro Alves
Impressão
Ideograf
CD - O Desafio da Iniciação Científica
Letra e Música: Rafael Korman
Voz: Rafael Korman e Carolina Veloso
Gravado, mixado e masterizado:
Companhia Independente de Áudio - Porto Alegre, RS
Arranjos e produção musical:
Paulinho Barcellos e Marcelo Mendes
Guitarras e violões: Paulinho Barcellos
Baixo: Marcelo Mendes
mailto:editora@autonomiaedu.com.br
http://www.autonomiaedu.com.br/
Bateria e percussão: Diego Berquó
Teclados e pianos: Fernando Spillari
Harmônica: Geraldo Occa
M538i Mendes, Fábio Ribeiro
Iniciação científica para jovens pesquisadores / Fábio Ribeiro Mendes. - 2.ed. – Porto
Alegre : Autonomia, 2013.
132 p.
ISBN: 978-85-65717-05-2
1. Pesquisas Científicas. 2. Iniciação Científica. 3. Referências Bibliográficas -
Normas Técnicas. I. Título.
CDD 001.42
Bibliotecária Responsável
Ginamara de Oliveira Lima
CRB 10/1204
Edição digital: março 2019
Arquivo ePub produzido pela Simplíssimo Livros
http://www.simplissimo.com.br/
Ao João, querido afilhado e jovem cientista.
“A opinião verdadeira acompanhada de explicação racional é ciência.”
Platão, Teeteto, 201 c.
a)
b)
c)
d)
a)
b)
c)
d)
e)
a)
b)
c)
d)
e)
Sumário
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
1. O QUE É UM TRABALHO CIENTÍFICO?
Ciência e opinião
O formato científico
As fontes
O objetivo de um trabalho científico
Escute no CD - O desafio da iniciação científica
2. A ESCOLHA DO TEMA
Tema do trabalho e interesse do aluno
Diferentes temas, diferentes dificuldades
O problema do tema amplo
A necessidade de um foco
Originalidade
Escute no CD - Tema Rima com Problema
3. O PROJETO DE PESQUISA
O que é um projeto de pesquisa?
Hipóteses da pesquisa
Metodologia da pesquisa
Pergunta norteadora e foco
Objetivos gerais e específicos
f)
g)
h)
i)
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
h)
i)
j)
Sumário provisório
Cronograma
Fontes bibliográficas: onde encontrá-las
Escolhas teóricas no TCC
Escute no CD - Projeto de Pesquisa
4. A PESQUISA
Por onde começar a pesquisa?
Google
Etapas da pesquisa
Pesquisa de campo
Entrevistas
Pesquisa bibliográfica
Resultados: provisórios ou definitivos?
Escute no CD - Em Busca
5. O TRABALHO ESCRITO
Por onde começar?
Extensão do trabalho
ABNT e formatação: objetivos gerais
Quando citar e referenciar as fontes
A Introdução
Os Capítulos
A Conclusão
As Referências
Capa, Folha de Rosto, Epígrafe, Agradecimentos, Dedicatória, Lista
de Abreviaturas, Apêndices e Epílogo
Resumo do trabalho
l)
a)
b)
c)
d)
a)
b)
c)
d)
e)
f)
Sumário e título definitivos
Escute no CD - O Poder da Escrita
6. ELABORAÇÃO DO PÔSTER
Por que elaborar um pôster (ou cartaz)?
Como elaborar o pôster
Figuras, gráficos e tabelas
Problemas de design, cores e diagramação
Escute no CD - Pôster
7. APRESENTAÇÃO ORAL
O que deve conter a apresentação oral?
O controle do tempo
“e daí… e daí…”, “hããã… hããã…”
O tom de voz e trejeitos
Controlando o nervosismo com treinamento
Respondendo a questionamentos
Escute no CD - O Que Eu Sei Dizer
EPÍLOGO
REFERÊNCIAS
APÊNDICE 1
APÊNDICE 2
Prefácio
Por Mônica Estrázulas1
Alunos e professores de escolas brasileiras têm, cada vez mais, se
envolvido com a realização de projetos de investigação que estimulam a
aprendizagem autônoma, baseada na oportunidade de estudantes e
professores agirem de forma interdependente ao longo do processo de
construção do conhecimento. Tal empreendimento, também denominado,
em muitas escolas, trabalho por projetos de pesquisa, encontra fortes
aliados nos educadores que estão investindo na possibilidade de orientar
tais projetos, e também nos novos meios tecnológicos de busca de
informação e comunicação que concorrem para modificar, de modo
profundo, o cenário dos ambientes escolares nos quais ainda se mantêm
apenas o ensino expositivo e a aprendizagem receptiva.
Neste livro, Iniciação Científica para Jovens Pesquisadores, o professor
Fábio Ribeiro Mendes dialoga com o leitor, imaginando-o um aluno que se
desafia a iniciar um projeto de pesquisa sem poder fugir da clássica
pergunta dirigida a si, aos colegas e ao professor: “Por onde começo?”.
Ao longo de seu texto, o professor Fábio mantém o leitor conectado com
o desafio de levá-lo a se inteirar dos bastidores de um projeto de pesquisa.
Em um processo de passo a passo, o autor não tem a pretensão de esgotar o
assunto, mas orientar ou guiar o aluno quanto aos procedimentos básicos,
incluindo-se as orientações para o registro dos processos e a divulgação dos
resultados.
Um aspecto extremamente interessante do livro, além dos
esclarecimentos quanto aos procedimentos inerentes à investigação em si,
está relacionado às palavras de incentivo que o leitor nele encontrará, em
correspondência com cada etapa do desafio de investigar. Por meio delas, e
com muita propriedade, o professor Fábio não só explicita questionamentos,
dúvidas e incertezas que acometem a todos aqueles que se propõem a
realizar um projeto de pesquisa, mas oferece orientações que poderão
contribuir para a solução dos impasses que se apresentarem.
Este livro oferece orientações práticas, a partir do ponto de vista de um
educador vinculado ao cotidiano escolar e, certamente, funcionará como um
fiel companheiro de alunos e professores dispostos a ingressar no mundo da
Ciência pela via da realização de projetos de pesquisa a partir da Educação
Básica.
Introdução
A iniciação científica é parte fundamental na formação de estudante e no
desenvolvimento da pesquisa. Nas universidades, e mesmo em escolas,
criam-se espaços para exposição e apresentação de trabalhos de alunos que
têm seu primeiro contato com a metodologia científica de pesquisa. Nessas
ocasiões, os trabalhos, apresentados por meio de pôsteres e de exposições
orais, muitas vezes em salões de iniciação científica, são comentados e
avaliados pelas bancas de professores, gerando importante oportunidade de
discussão sobre temas de extrema relevância, nem sempre tratados em sala
de aula. Ao final dos encontros, geralmente são distribuídos prêmios de
reconhecimento aos alunos pelo mérito do desempenho. Mas, cabe
perguntar: por que investir em jovens pesquisadores e por que promover a
iniciação científica? Para que serve essa distribuição de condecorações aos
alunos que recém aprenderam o “feijão com arroz” de como elaborar um
trabalho científico?
A resposta a essas questões deve estar clara na mente de qualquer
pesquisador ou aluno. O que os alunos que participam desses eventos têm a
ganhar? Eles recebem a rara oportunidade de produzir um trabalho cuja
relevância transcende a sua vida cotidiana. Seja o tema da pesquisa
escolhido livremente, seja aquele escolhido dentre alguns previamente
selecionados por ele mesmo ou pelo próprio orientador, o estudante tem o
desafio de divulgar o conhecimento por ele produzido de maneira relevante
e inteligível. Quer seu trabalho seja sobre “Os grandes felinos”, quer seja
sobre “O índice de poluição do ar em Porto Alegre, no cruzamento das
avenidas Protásio Alves e Carlos Gomes”, não se trata de, apenas, elaborar
um trabalho para aprender bastante ou para conseguir uma boa nota final.
Há outro objetivo: o da produção de conhecimento cuja relevância e
validade públicas não o torna apenas gratificante, mas absolutamente
necessário para a vida em sociedade.
A habilidade de comunicar-se de forma clara, de colher informações e
extrair delas o conhecimento, apontando para os passos seguintes da
pesquisa, é, sem dúvida, o que diferencia – e cada vez mais irá diferenciar2–
as pessoas na sociedade. A informação, tão abundante, traz a necessidade
de que a pessoa seja capaz de organizar essa massade dados e dar-lhe
alguma utilidade. Sem tal capacidade de organização, o aluno poderá
tornar-se passivo, ter dificuldades diante de decisões importantes ao longo
da vida, seja na família, no mercado de trabalho ou no exercício da
cidadania. Assim, a iniciação científica é uma oportunidade para o aluno
obter muito mais que prêmios e reconhecimento (esses são apenas meios de
incentivo): é a oportunidade para o desenvolvimento de habilidades que lhe
propiciarão mais espaço na sociedade. A capacidade de produzir um
trabalho científico denota um avançado nível de autonomia no aprendizado.
Da parte das instituições de ensino superior que promovem a iniciação
científica também advêm benefícios, pois os membros dessas comunidades
também se qualificam. O fato de os pesquisadores serem jovens e as
pesquisas não apresentarem, muitas vezes, algo inovador (é uma boa
surpresa quando ocorre algo do gênero) não diminui a importância do
evento. Pelo contrário: está-se formando futuros pesquisadores que, desde
cedo, se exercitam no campo da pesquisa. O aproveitamento geral desses
alunos tende a melhorar, o que qualifica o trabalho produzido, dentro e fora
da sala de aula.
Promover, pois, esses eventos é uma boa forma de divulgar o que é
produzido pelas instituições de ensino superior e escolas, funcionando
como uma espécie de publicidade não fictícia do compromisso dessas
instituições com o papel que lhes cabe. Aliás, é bom lembrar que tais
instituições não possuem apenas a finalidade de produzir conhecimento,
mas também a de tornar esse conhecimento acessível à sociedade3. A
qualidade dos trabalhos de iniciação científica pode, portanto, ser um bom
termômetro da qualidade da instituição.
Finalmente, sabe-se que o objetivo da iniciação científica é produzir e
promover o conhecimento e as habilidades necessárias para divulgá-lo. O
aluno que irá participar de um evento de iniciação científica deve estar certo
de que há muito mais a ganhar do que a satisfação em atender às
expectativas de pais e professores; o mérito do seu trabalho é um meio para
garantir seu espaço na sociedade atual e também de lhe dar o devido
retorno. Não seria exagero dizer que é dever do aluno, na qualidade de
cidadão, aproveitar essa oportunidade de aprendizado (hoje, tão especial)
como uma maneira de fazer do mundo em que vive o espaço para que o
conhecimento – sua produção, divulgação e utilização – seja a ferramenta
efetiva na evolução da sociedade.
Nos capítulos seguintes, discorre-se sobre os diversos passos para
elaborar, com competência, um trabalho de iniciação científica. Em
primeiro lugar, apresenta-se a definição do que é um trabalho científico,
mediante a distinção entre opinião e Ciência. No segundo capítulo, aborda-
se o primeiro passo em uma pesquisa, ou seja, a escolha do tema, tópico da
mais alta importância para o êxito da empreitada. No terceiro capítulo,
trata-se da elaboração do projeto, a primeira materialização da pesquisa,
quando se discute o que deve constar nele e o por quê. No quarto capítulo,
discorre-se sobre a prática da pesquisa, seu desenrolar e os vários
obstáculos que podem surgir no caminho. No quinto capítulo, o mais
extenso deles, orienta-se sobre a redação do texto da pesquisa, respeitando-
se os diversos tópicos exigidos. Finalmente, nos dois últimos capítulos
abordam-se os passos e dificuldades relacionadas à criação de um cartaz ou
pôster e à apresentação oral da pesquisa.
Não se pretende que este livro seja um manual completo de
normas técnicas para a apresentação de trabalhos científicos.
Há várias obras que cumprem essa função, além de uma
série de informações na internet. O que se deseja é ajudar o
estudante durante o percurso, muitas vezes obscuro, do texto
científico. O ponto de partida, em alguns casos, é a própria
experiência de estudante, do autor (e de seus colegas) às
voltas com as produções científicas e seus diversos
problemas, por vezes considerados intransponíveis e
recorrentes ao elaborar um trabalho dessa natureza.
Por fim, é necessário dizer que a motivação principal da produção deste
livro é a constatação de que muitos estudantes, diante das dificuldades da
resolução das tarefas de elaboração de um trabalho científico, desistem de
fazê-lo bem, optando pela não-observância das normas, pelo plágio ou
cópia de trabalhos de colegas, de publicações existentes na biblioteca e na
internet. Isso é realmente algo ruim, que precisa ser enfrentado, e a forma
de contribuir para diminuir essas dificuldades começa com uma conversa
direta com esse estudante. A intenção é ajudá-lo a superar as dificuldades
com as quais se depara, estimulando-o a optar pela elaboração de um bom
trabalho.
Mais do que as normas técnicas, o que os alunos precisam – e merecem!
é de um guia para entrar nesse continente bastante desconhecido: a
pesquisa. Esse livro pretende guiar e estimular os alunos a pensarem em
seu trabalho de pesquisa, em seus interesses e objetivos, sem perder de
vista a intenção de orientá-los sobre o que é fundamental e relevante nas
escolhas das formalidades científicas.
Boa leitura e mãos à obra!
 1. O que é um trabalho cientí�co?
O primeiro passo para elaborar um trabalho científico é entender suas
principais características e em que aspectos ele se diferencia de outras
produções intelectuais. É preciso ter em mente o que o torna científico. Esse
é o primeiro tema aqui abordado.
Inicialmente, pergunta-se: o que é Ciência e o que é opinião? A
diferença entre esses dois termos servirá de chave-mestra para as questões
que surgirão ao longo da pesquisa e da elaboração do trabalho. Em seguida,
aborda-se, em linhas gerais, o formato característico de um trabalho
científico, por que ele é necessário, as fontes de pesquisa e sua relação com
a opinião daquele que as utilizam. Assim, chega-se a uma ideia precisa,
ainda que preliminar, sobre o objetivo que se tem ao elaborar um trabalho
científico.
a) Ciência e opinião
Um texto que trata da produção de um trabalho científico precisa
começar pela diferença entre Ciência e opinião.
Apenas para ilustrar, citam-se dois ditados sobre o termo opinião: “cada
um tem uma opinião”; “se opinião fosse boa, não se dava, mas se vendia”.
O primeiro deles aponta para uma característica da opinião: ela varia de
pessoa para pessoa. Uma pessoa tem uma opinião sobre um assunto, outra
diverge da primeira e há aquela que não concorda com nenhuma das duas
anteriores; não há nada de errado nisso. O segundo ditado sobre a opinião,
considera que, pelo fato de cada indivíduo ter a sua opinião, ela não teria
muito valor.
De fato, se o indivíduo é livre para externar suas opiniões, sem
compromisso com nada, porque deveria dar ouvidos a determinada pessoa e
não a outra? De que modo pode-se dizer que alguém está certo e outro está
errado? Se o conhecimento humano fosse inteiramente constituído de
opiniões sobre o que é o mundo, o correto, o belo, a discussão sobre o que é
o conhecimento não teria valor algum. Todos teriam as suas opiniões e não
existiria um conhecimento legítimo, ou um conhecimento com maior grau
de legitimidade.
Depois de abordar a opinião, coloca-se em pauta à Ciência. Seria correto
pensar que a verdade científica é uma questão de opinião e que varia de
pessoa para pessoa? É possível afirmar que a lei da gravidade existe para
alguns e para outros não? Ou que a existência do genoma é uma questão de
ponto de vista? Obviamente, não. Geralmente, aceita-se o conhecimento
produzido pela Ciência, até que apareça uma prova em contrário. A Ciência
produz um tipo de conhecimento mais sólido do que a opinião. Esse
conhecimento adquire solidez por ser justificado por experimentos,
demonstrações e fatos incontestáveis. Platão dizia que Ciência era opinião
verdadeira e justificada, ou seja, que um conhecimento, para ser legítimo e
valer para todos, deveria corresponder ao mundo e ser reconhecido como
tal.
Ao se delimitar a diferença entre opinião e Ciência, surgem
as características básicas dessas duas formas de
conhecimento: a opinião varia de pessoapara pessoa, a
ciência não; a opinião se conforma a quem a profere, a
ciência se conforma ao que existe no mundo; a opinião não
precisa ser justificada, o que não ocorre com a ciência.
Pode-se buscar novamente auxílio em Platão para se entender essa
diferença. Platão defendia a existência de uma realidade inalterada e eterna.
Para ele, o mundo existia de uma maneira fixa. Contudo, esse mesmo
mundo fixo possui reflexos, imagens ou cópias, como se a partir de um
modelo se produzissem diferentes retratos de diversos ângulos4. Conhecer
como o mundo é, sua natureza fixa, seria uma tarefa da Ciência; conhecer
os reflexos dessa natureza fixa seria algo semelhante à formulação de uma
opinião.
Mesmo sendo uma forma de conhecimento sobre o que é mutável, a
opinião não deve ser completamente desconsiderada, pois há nela algo que
•
•
•
pode ser convertido em Ciência. O reflexo guarda em si os traços do objeto
original. O método de Platão – o diálogo – nada mais é do que a
contraposição de opiniões com objetivo de encontrar aquelas mais sólidas e
justificadas. Essas opiniões depuradas pelo método comporiam o repertório
da Ciência.
Portanto, é possível que ao se elaborar um trabalho científico se
comprove algo até então considerado crença popular, semelhante à opinião
corriqueira de que comer apenas geléia de morango por cinco dias seguidos
não faz bem à saúde. A diferença entre a opinião e a Ciência (o
conhecimento legítimo ou depurado das opiniões), quanto às consequências
do hábito alimentar inadequado, é que no segundo caso pergunta-se: em
quantos casos isso realmente ocorre? Quais são as consequências efetivas
para o organismo ao se ingerir tal produto? Alguma marca de geléia traz
mais prejuízos que outra? O conhecimento, desse modo, será consolidado e
a opinião, convertida em ciência.
b) O formato científico
Para que a opinião seja convertida em Ciência ela não pode ser
trabalhada de qualquer forma. Ela precisa ser justificada e mostrar-se
adequada à realidade (mediante pesquisa empírica). Além disso, deve ser
expressa de maneira absolutamente compreensível. Assim, os três requisitos
para se elaborar um trabalho científico bem-sucedido são:
Justificação
Adequação
Inteligibilidade
Sem justificação, o trabalho científico simplesmente não existirá. É
necessário explicar por que as coisas são tais e tais, ou pelo menos descartar
hipóteses de explicação. Sem adequação aos fatos, o pesquisador não
consegue mostrar que a opinião justificada relaciona-se ao mundo. O texto
deve, ainda, ter uma linguagem clara, compreensível, inteligível sobre o
tema e a proposta de pesquisa, sem o que de nada adiantará uma pesquisa
correta sobre um tema relevante e bem embasado. No caso da Matemática e
•
•
•
•
•
da Filosofia, a adequação e a justificação se fundem, pois o raciocínio
abstrato é que precisa ser demonstrado. Entretanto, fora desse caso
específico, é necessário ter sempre em mente os três requisitos citados,
conforme a síntese apresentada no quadro abaixo:
Quadro 1. CARACTERÍSTICAS DO FORMATO CIENTÍFICO
O formato científico é o que atende aos requisitos justificação,
adequação, inteligibilidade, facilitando o entendimento do leitor acerca
do que o pesquisador pretende provar. Para ser considerado na
comunidade científica é necessário que o pesquisador apresente:
as justificativas da escolha das hipóteses para explicação dos
fenômenos, e as razões do descarte de outras;
os fatos que embasam as hipóteses e os que as rejeitam, ou seja, os
fatores de adequação;
um texto dividido em capítulos e seções, seguindo os padrões de
citação de fontes;
as intenções do pesquisador, expressas de maneira compreensível,
atendendo aos aspectos da inteligibilidade;
respeito aos aspectos formais que caracterizam um texto científico,
decorrentes do método e da necessidade de atingir o padrão da
Ciência, mesmo que o ponto de partida seja a opinião comum.
Ao longo deste texto, outros requisitos serão citados para que o trabalho
elaborado seja considerado científico. Eles podem parecer, muitas vezes,
limitadores. Em alguns casos, verdadeiras camisas de força. Todavia, se não
houver uma padronização geral, cada um elaborando o trabalho como bem
entender, no final das contas, perder-se-ia a capacidade de julgar se eles
representam uma opinião justificada, adequada e inteligível ou não passam
de opiniões jogadas ao vento, com uma série de dados com os quais se
relacionam de forma não evidente.
As formalidades são guias de clareza, quando não se sabe
como proceder. Por exemplo, a necessidade de citar
corretamente uma fonte. A citação correta precisa de uma
espécie de bússola ou guia, ela será o norte para atingir a
clareza. Com o tempo, é possível perceber que essas
formalidades são caminhos naturais que se deve percorrer,
caminhos que, ao serem conhecidos, facilitam a jornada do
pesquisador em direção à Ciência.
c) As fontes
As fontes são o recurso central ao se elaborar um trabalho científico.
Nem sempre – em verdade, quase nunca, tratando-se de iniciação científica
– o pesquisador é a fonte de dados que utiliza em sua pesquisa. Ele consulta
livros, revistas científicas e a internet; ouve professores, especialistas,
colegas e outras pessoas conhecedoras do tema. No início, lança mão de
todas as fontes disponíveis para formar um bloco de informações
necessárias ao assunto que pretende pesquisar. Ao se realizar um trabalho
utilizando essas informações, muitas vezes fica-se na dúvida sobre se é
necessário, ou não, indicar a origem da informação. Às vezes, também pode
ocorrer certa confusão ao ouvir de outras pessoas justamente o que também
se pensa: “sim, o cara do jornal diz isso, mas assim também penso eu”.
Mas, na elaboração do texto científico, a fonte é sempre o outro: o autor
pesquisado, o entrevistado, ou seja, o que produz a informação de que o
pesquisador precisa. Ou, quando se julga boa a ideia de algum autor, é
comum deparar-se com as seguintes perguntas: “o autor desse livro teve
uma boa ideia que poderia ser aplicada em outro caso, mas ao aplicá-la a
outro caso continua sendo a mesma ideia? De quem é essa ideia nova,
minha ou do autor do livro lido? Afinal, devo fazer citação dele?”
Há casos em que as pessoas são tentadas a fazer um trabalho rápido. O
que há de melhor do que a internet para encontrar todo tipo de informação
(todo o tipo, boas e ruins)? Com alguns recortes e colagens o trabalho
estaria feito e pronto. Pode-se, também, copiar literalmente o texto de certos
autores, transcrevê-los e não apresentar as fontes. Mas, se as fontes são
copiadas, como indicar que elas foram lidas, compreendidas, selecionadas,
ou seja, realmente proveitosas para o aluno? Esse é um caso em que a
suposta malícia do aluno e a pressão das instituições e dos familiares leva a
uma produção sem valor. Mesmo que o texto tenha sido proveitoso para o
aluno, o trabalho resultante não poderá servir para indicar o mérito da
pesquisa.
São verdadeiros os casos de alunos que realmente aprenderam bastante
com a pesquisa, mas que não souberam convertê-la em um produto
científico. Por que não conseguiram? Porque não souberam separar sua
opinião do conhecimento produzido pelos autores pesquisados. É preciso
que o avaliador ou leitor consiga facilmente distinguir o texto produzido
pelo aluno (que demonstra que ele aprendeu) e o texto que o aluno utilizou
(e copiou) para compreender o assunto. Caso contrário, o leitor,
obviamente, não terá como avaliar o que o aluno produziu, indo tudo por
água abaixo.
Se alguém está prestes a elaborar um trabalho de iniciação científica,
deve ter em mente que não é preciso mostrar originalidade, mas apenas a
capacidade instrumental, inovadora e correta de apresentar um tema
científico. Se o aluno conseguir encontrar bons autores, citar pequenos
trechos, tirar suas conclusões, a partir dos dados apresentados, e chegar a
uma conclusão, mesmo que não seja surpreendente, ele terá elaborado um
ótimo trabalho de iniciação científica. É importante ter clareza quanto à
necessidade de usar as fontes depesquisa disponíveis.
O resultado final do texto, contudo, deve ser da autoria do aluno. Isso
significa que as fontes pesquisadas devem ser citadas, revelando o
conhecimento do jovem pesquisador. O modo de fazer uma citação correta
consta no Capítulo 5, seção “e”. Por hora, basta dizer que será uma enorme
perda produzir um trabalho com colagens de outros, ou seja, deixar de lado
a oportunidade de aprender sobre como sair do campo do cotidiano, das
opiniões cotidianas, e de adentrar no do conhecimento, da Ciência. Um
aprendizado que, com certeza, o aluno sentirá falta no futuro.
d) O objetivo de um trabalho científico
A partir do que foi exposto até aqui, acredita-se estar claro o objetivo de
um trabalho científico. Ele não serve para entreter (exemplo de certos
romances), para informar ou relatar casos (relatos jornalísticos), para expor
a opinião do autor (crônicas e resenhas), para desvendar traços e
contradições do homem e da sociedade (outros tipos de romance). O
objetivo do trabalho científico é separar o que é opinião e o que é
verdadeiro conhecimento. Dito de outra forma, mesmo que nele se
expressem diferentes opiniões e crenças, o objetivo é extrair um resultado
justificado, claro e adequado à realidade.
Elaborar um trabalho científico não é uma demonstração de vaidade,
mas um avançar na compreensão da realidade, quer seja constatando, por
motivos diversos, que o óbvio não pode ser posto em questão, ou
descobrindo, por motivos cabíveis, que o que parecia óbvio mostra-se falso.
Isso tudo requer um formato e, como em tudo na vida, vale lembrar, uma
dose de honestidade.
***
Ao chegar ao final desse capítulo, enfatiza-se a ideia da necessidade de
elaborar um trabalho científico, baseado no conhecimento das diferenças
entre opinião e Ciência, na importância de respeitar o formato científico e
de determinar o objetivo de um trabalho com essas características. Contudo,
deve-se frisar que a construção do conhecimento, ao invés do que possa
parecer, não é linear, mas um processo de idas e vindas e de crítica
constante.
Assim, o formato científico, mesmo que tenha padrões de execução bem
definidos, não é rígido, pois os métodos podem ser revisados e mesmo
alterados. O que é importante e que se relaciona à produção de
conhecimento é a constante revisão crítica do pesquisador. É preciso ter em
mente que alguns requisitos gerais apresentados neste capítulo, se
observados, permitirão a crítica, a reflexão e a construção da Ciência. Os
demais capítulos são uma consequência natural, a começar pelo próximo,
que trata de uma questão determinante no curso de todo o trabalho
científico: a escolha do tema de pesquisa.
Para o professor
 Sugestão de atividade
Discuta com seu grupo de alunos, a partir do texto e de outros
materiais (revistas científicas e não, vídeos, sites na Internet, etc.):
•
•
•
Distinções entre ciência e opinião;
Características do formato científico;
Objetivos do trabalho científico.
Escute no CD Faixa 1 
O desafio da iniciação científica
Letra e Música: Rafael Korman
O que nos move, senão a sede
Do algo novo que a gente aprende?
Ir à essência de cada ideia
Subir ao palco, não ser plateia
Conhecimento inteligível
Com relevância e acessível
Ser ferramenta de uma evolução magnífica
É o desafio da iniciação científica
Compreender que opinião não é ciência
Uma varia e a outra possui consistência
Um bom trabalho científico não é de qualquer jeito
Sem o formato adequado ele não tem respeito
Conhecimento inteligível
Com relevância e acessível
Ser ferramenta de uma evolução magnífica
É o desafio da iniciação científica
Livros, revistas, internet, especialistas
Com tantas fontes, o que eu ponho nessa lista?
Só não me venha fazer corte e colagem
O seu trabalho só reflete a sua imagem
O que importa no final é o instrumento
A autoria do aluno no conhecimento
Sem vaidade, compreendendo a realidade
Contribuindo pro futuro de verdade
Conhecimento inteligível
Com relevância e acessível
Ser ferramenta de uma evolução magnífica
É o desafio da iniciação científica
 2. A escolha do tema
O jovem pesquisador, após ter clareza sobre o que define um trabalho
científico, depara-se com seu primeiro desafio: a escolha do tema. Esse
momento gera muita apreensão ao estudante. De que modo se escolhe o
tema da futura pesquisa, se justamente é após a pesquisa que se obtém o
conhecimento do que é mais ou menos relevante dentro de um assunto?
Outra pergunta comum é: como escolher, dentre tantos temas, aquele que
resultará em melhor trabalho?
Neste capítulo, trata-se desse assunto difícil e crucial.
Começa-se traçando a relação entre o tema da pesquisa
e o interesse do estudante no tema, elementos que não
estão necessariamente de acordo. Após, trata-se da
escolha do tema, o que implica em assumir riscos e
desafios, e diferentes temas de pesquisa tendem a
produzir diferentes dificuldades. Na terceira seção,
aborda-se o que mais dificulta ao pesquisador encontrar
o fio condutor do trabalho: o tema amplo. Após, insere-
se o modo de fugir desse problema mediante o foco da
pesquisa. Finalmente, incluem-se considerações sobre o
espaço para a originalidade existente em um trabalho de
iniciação científica.
a) Tema do trabalho e interesse do aluno
O assunto “tema” surge no momento em que se precisa elaborar um
trabalho científico. Que tema pode ser esse? Ele pode ser de escolha livre
do aluno, pode ser apontado pelo professor ou pode ser uma escolha do
aluno a partir de uma seleção prévia feita pelo professor.
Quando a escolha livre do tema é permitida, tende-se a optar por algum
assunto de interesse próprio. Em um primeiro momento, essa possibilidade
anima, pois, se a escolha é livre, pode-se escolher qualquer assunto; e
podendo-se escolher, o trabalho será bom. Esse é um pensamento enganoso,
uma verdadeira armadilha. Nem todos os temas são bons para a pesquisa.
Alguns são muito amplos, outros requerem dados que não podem ser
coletados, e, para outros, não há bibliografia. Além disso, quanto mais
pessoal for o tema, maior será a dificuldade de o orientador poder ajudar.
Imagine-se um aluno adepto de música eletrônica e que decida fazer a
pesquisa sobre isso. A que disciplina (ou disciplinas) está relacionada? Que
tipo de abordagem ou pesquisa pode ser feita? Que hipóteses podem ser
formuladas e como fazer para descartá-las? Essas são apenas algumas das
dificuldades. Elas aparecem justamente porque o aluno vai iniciar-se na
pesquisa, ou seja, não sabe ainda como pesquisar e elaborar um trabalho
científico. Ele ainda não conhece as técnicas, formalidades, não tem clareza
nem mesmo do tipo de aprendizado que poderá adquirir ao realizar tal
trabalho.
A prioridade é que o estudante faça um trabalho de iniciação científica e
não um trabalho qualquer sobre o tema que desejar. É bom e desejável que
ele aproveite essa oportunidade para aprender sobre um tema de interesse,
mas o objetivo da iniciação científica é aprender de que modo se faz uma
pesquisa. Assim, parece difícil que o estudante, sem os devidos
conhecimentos, elabore um texto de acordo com as formalidades científicas
se lhe couber a escolha do tema. Ao enfrentar essa situação, ao invés de
escolher o tema e procurar orientador, é primordial que se procure o
orientador e, com ele, se escolha o tema.
No outro extremo está o caso em que o tema é imposto ao aluno. Essa
situação pode, inicialmente, desmotivá-lo. A vantagem, contudo, é que o
tema, já escolhido por alguém experiente, provavelmente permitirá uma
pesquisa e um texto de qualidade. Portanto, é uma grande oportunidade para
o aluno aprender o método científico. Além disso, à medida que a pesquisa
avança, tende-se a começar a vislumbrar a relevância do tema e o interesse
aumenta. Ao final, com o trabalho bem orientado, o aluno provavelmente
atingirá os objetivos da iniciação científica: aprender o modo de
desenvolver a pesquisa e apresentar os resultados.
O caso intermediário é o mais comum. O aluno, movido parcialmente
por interesse próprio e, parcialmente, pelo orientador, escolheum tema.
Esse parece ser o mais interessante. Contudo, para que a iniciação científica
seja efetiva, o papel do orientador é imprescindível. Entre os extremos –
escolha livre e a simples indicação – é a escolha livre que pode colocar em
risco o trabalho de estudantes que ainda não possuem conhecimento e
experiência de pesquisa.
A dica é a seguinte: buscar um orientador e não
desanimar com temas que parecem sem interesse. O
interesse maior deve ser o aprendizado da metodologia
científica. Esse não é um conhecimento vazio. É a
chave para que o aluno tenha uma relação ativa frente
ao conhecimento, deixando de ser mero espectador.
b) Diferentes temas, diferentes dificuldades
Na seção anterior, tratou-se da dificuldade em escolher o tema. O
problema vem dos diferentes obstáculos que se deve transpor para atingir o
objetivo proposto. Caso não se esteja ciente desses obstáculos, a tendência é
travar a pesquisa ou a execução do trabalho. Citam-se, aqui, alguns casos.
Dificuldade 1: o número de fontes
É possível que o tema escolhido sofra da falta ou do excesso de fontes
para pesquisa. Desejando-se pesquisar, por exemplo, “a última tendência de
moda na Europa” tem-se centenas de revistas, com diferentes enfoques,
diversos estilistas, críticos de moda, milhares de lojas no mundo inteiro e
consumidores para serem consultados. Uma pesquisa com tantas fontes
disponíveis pode gerar dispersão, fazer com que se perca o foco. Por outro
lado, uma pesquisa com um tema muito específico, sem uma documentação
farta à disposição, por exemplo, “a história dos povos do sudeste da África
antes do contato com os Europeus”, também pode gerar entrave na
condução do trabalho.
Dificuldade 2: estatística adequada
Certos temas, principalmente os que envolvem populações, requerem
certo conhecimento de estatística para se obter dados relevantes, ou seja, as
pesquisas devem ser feitas de modo a gerar resultados compatíveis com as
questões levantadas. Esse tópico será tratado com mais detalhes no capítulo
4, mas, neste momento, lança-se um exemplo: se o tema for “o uso de
camisinhas pelos jovens entre 15 e 25 anos, em Porto Alegre”, a pesquisa
deve ser feita com jovens que representem a totalidade da população. Não
basta ir ao shopping e entrevistar 100 pessoas, sem ir ao centro ou à
periferia. Essa pesquisa deve ser proporcional. Nesse caso, o esforço de
pesquisa é enorme, dificilmente atingível em uma iniciação científica.
Dificuldade 3: tempo da pesquisa
Há temas em que o tempo necessário para a pesquisa torna o trabalho
inexequível, por demandar muitas entrevistas e número elevado de coletas
de dados. Os exemplos são os mais diversos. Um deles seria pesquisar “os
danos, a longo prazo, de próteses de silicone colocadas em jovens de até 20
anos”. Isso demandaria uma espera de anos. Outro seria “traçar uma relação
entre o cuidado diário com pitbulls e seu comportamento”. Se a pesquisa for
levada ao pé da letra, requer acompanhamento diário da rotina de diversos
cães e os reflexos dessa rotina no seu comportamento ao longo da vida.
Dentre todos os problemas na escolha de temas, o maior e mais
frequente – até porque abrange, em certa medida, os já citados – é o do
“tema amplo”. De qualquer forma, a mensagem aqui é que não se pode
escolher um tema sem estar atento às dificuldades. Um bom tema não é
sinônimo de tema relevante. Um bom tema é aquele que permite uma boa
pesquisa, bons resultados e a elaboração de um trabalho, este sim,
relevante.
c) O problema do tema amplo
Ao se escolher livremente um tema para pesquisa, é comum e natural
que se comece a pensá-lo em termos gerais – assuntos de particular
interesse, notícias na televisão, algum fato que se considere intrigante: “O
aquecimento global”, “Os meios de comunicação”, “O Facebook”, “A
religião”. Contudo, julgar que a escolha de um assunto tão amplo seja o
mesmo que encontrar um tema para pesquisa é um grande erro, que pode
custar caro e, até mesmo, impedir sua execução.
O estudante escolhe um tema amplo, pois teme não ter sobre o que
pesquisar. Se seleciona algo muito específico, pensa ele, não terá muito o
que escrever. Falar sobre a própria casa parece render pouco conteúdo, e é
muito menos interessante do que falar sobre a cidade de Porto Alegre, o
estado do Rio Grande do Sul, o Brasil, a América do Sul e o Planeta Terra.
Portanto, o estudante, ao descartar o tema específico, julga que a escolha de
um tema amplo lhe garantirá uma pesquisa relevante. Esta é mais uma
armadilha.
A questão, dita de forma breve, é que se um tema for muito amplo não
se saberá por onde começar. “O Facebook”, por exemplo, é um assunto que
pode ser abordado de inúmeras formas por possuir reflexos diversos na vida
dos vários tipos de internautas ao redor do mundo. Elaborar um trabalho de
iniciação científica sobre o Facebook, com a pretensão de abranger todos
esses aspectos, é maluquice. O mesmo ocorre caso se queira pesquisar sobre
o “O planeta Terra”: os enfoques são incontáveis, desde a sua diferença em
relação aos outros planetas até sua história natural e destruição pelos seres
humanos, passando pelos seres que aqui vivem.
Cada capítulo dessa pesquisa abrange milhares de fontes, tantas que se
torna quase aleatória a escolha de uma delas. Caso o aluno inicie uma
pesquisa dessas, deve começar a partir de que ponto, tratando de quê, com
que enfoque? A menos que tenha um foco, um interesse especial dentro
desse tema amplo, a pesquisa e o trabalho não começarão ou se tornarão
vagos.
Portanto, a solução para o problema do tema amplo é: definir
o foco da pesquisa.
d) A necessidade de um foco
Conforme se disse acima, sem um enfoque específico a pesquisa não se
realiza, pois não há ponto de partida e nem de chegada; não há como
formular hipóteses e pensar na metodologia a ser utilizada. E, ao contrário
do que pode parecer à primeira vista, definir um foco não significa deixar
de lado assuntos interessantes ou relevantes, mas organizar os dados de
modo que todos tenham uma relação clara entre si.
Um bom exemplo pode ser o tema “O derretimento das calotas polares”.
Um estudante que escolha esse tema terá o desafio de descrever as causas e
consequências deste fenômeno. Sem um foco específico, para o trabalho ser
completo, deverá fazer menção a todas as calotas vulneráveis e a todos os
locais do globo que ficarão submersos.
O resultado será um conjunto de observações gerais seguidos de uma
listagem de dados e relações possíveis, genéricas e pouco determinadas,
pois não será possível tudo abordar com profundidade e de forma
conclusiva. Aliás, a conclusão deste trabalho será muito provavelmente
idêntica à introdução – o derretimento das calotas polares representa um
risco para várias áreas povoadas e ocorre por diversas causas –, o que
significa avanço irrelevante ou inexistente sobre este tema de tanto
interesse. A quantidade de dados e abordagens presentes terá prejudicado a
profundidade e relevância da pesquisa.
Contudo, se o tema “O derretimento das calotas polares” tiver um foco
específico, a pesquisa poderá ser feita com um objetivo e o resultado será
um trabalho interessante. Seguem alguns passos para definir o foco de
pesquisa, tendo como exemplo o tema já mencionado.
Quadro 2. PASSOS PARA A DEFINIÇÃO DO FOCO DE PESQUISA
A) Delimitar por
Localização
espacial
Ao invés da localização geográfica genérica, escolhe-se uma área específica,
como a Baia da Guanabara, no estado do Rio de Janeiro, para ilustrar que tipo
de consequências o aumento do nível do mar afeta a vida de uma população.
Melhor ainda será escolher apenas uma parte desta localidade, pois sob uma
zona específica se poderá ganhar ainda mais profundidade.
B) Delimitar por
Localização
temporal
Definir que o trabalho versa sobre os próximos 50, 100 ou 200 anos permitirá
trabalhar com uma estimativa fixa sobre o aumento do nível do mar, abrindo
caminho para a análise da região escolhida. Deixar o limite temporal indefinido,
em um trabalho sobre derretimento de porções de gelo, impede qualquer análise.
C) Definira fonte
principal de dados
Diferentes centros de pesquisa podem ter estimativas diferentes sobre o que
ocorre com as calotas polares. Até que seja definido qual será a fonte principal,
o trabalho se resumirá à discussão ou à comparação das diferenças entre centros
de pesquisa. A definição do estudo que servirá de base para o trabalho permitirá
o avanço da pesquisa.
D) Definir a O impacto do derretimento será considerado em relação à economia da região, à
perspectiva da
análise
perda de espaços públicos, à nova configuração dos biomas ou à possível
migração dos habitantes atuais? Serão consideradas as causas e as
consequências? Como lidar com esse fenômeno? Se não for definida a
perspectiva, será abordado um pouco de tudo e não será possível definir um
objetivo para a análise. É importante notar que definir uma dessas perspectivas
torna possível aprofundar a análise, fazer projeções e tirar conclusões
relevantes, além de abrir espaço para mencionar os demais pontos, que poderão
ficar amarrados ao foco principal, ao invés de ficarem “soltos”. Nesse caso, a
perspectiva econômica para analisar as consequências do derretimento das
calotas polares poderia ser um enfoque interessante para o tratamento do tema.
Seguindo estas orientações, o tema geral “o derretimento das geleiras”
pode ser tratado em uma pesquisa sobre “O impacto do derretimento das
geleiras até 2100 sobre a vida econômica da região da praia de Copacabana
a partir dos dados do INPE”. Este tema poderá gerar hipóteses precisas,
permitirá refletir sobre a metodologia para testá-las, conferirá um norte para
a redação do texto. A consequência natural, então, será a produção de uma
pesquisa com uma conclusão justificada, adequada e inteligível.
A elaboração de um trabalho científico visa à transformação
de uma massa de opiniões e experiências em conhecimento
legítimo, sólido e justificado. Quanto mais preciso for o
tema, mais sólida e profunda tende a ser essa justificação.
A conclusão dessa importantíssima seção é que o tema escolhido deve
ser o mais preciso possível. Quanto mais específico, mais centrado, mais
fácil será organizar a pesquisa e daí extrair informações que podem ser
relacionadas umas às outras de forma clara, adequada e justificada. Elaborar
um trabalho sobre o que significam algumas das frases ditas por Capitu a
Bentinho tem mais chance de ser bem-sucedido, por estar bem delimitado,
do que um trabalho sobre todo o romance Dom Casmurro ou sobre a obra
Machado de Assis. O trabalho conterá obrigatoriamente dados sobre o
romance e o seu autor, que serão enfocados com um objetivo nada vago.
Aliás, essa é uma boa formulação do ponto aqui tratado: o tema amplo
tende a resultar em um trabalho vago; um tema preciso tende a resultar em
um trabalho profundo. Essa profundidade marca a solidez da Ciência contra
a superficialidade da opinião.
e) Originalidade
Uma questão recorrente é sobre a necessidade de originalidade de um
trabalho científico. O estudante, muitas vezes, tem o desejo de elaborar um
trabalho que não seja algo “batido”, repetido, que todos já conheçam ou
tenham certa familiaridade. Em outras palavras, quer elaborar um trabalho
original.
Esse sentimento é louvável. O conhecimento deve sempre avançar,
progredir. Contudo, esse não é o objetivo principal da iniciação científica.
O importante é conhecer e treinar métodos de pesquisa para que se elabore
conteúdos sólidos, pois a busca dessa solidez é o que caracteriza a Ciência,
independente da originalidade e das boas ideias que surgem no desenvolver
da pesquisa.
Não se sinta desmotivado por causa disso. A intenção não é,
definitivamente, cortar as asas de quem deseja voar. As novas e boas ideias
podem ser desenvolvidas no trabalho de iniciação científica. Conseguir
indicar uma alternativa diferente, fazer uma avaliação com certa
originalidade é um passo fabuloso. A reunião de dados sólidos e relevantes
para a matéria é grande motivo de orgulho. Contudo, isso é muito diferente
do querer provar com o trabalho, de forma definitiva, um ponto de vista
particular. Se esse for o objetivo, provavelmente o trabalho deixará a
desejar quanto à sua solidez.
***
Um avanço modesto e bem embasado é motivo para grande
comemoração e entusiasmo. Tendo definido um tema que possa ser objeto
de pesquisa, com enfoque bem definido, o passo seguinte é a elaboração do
projeto de pesquisa.
Para o professor
 Sugestão de atividade
Divida a turma em grupos (máximo, 4 alunos).
1.
2.
3.
4.
Proponha que cada grupo desenvolva um tema de pesquisa e
tente definir um foco.
Em grande grupo, peça para cada grupo apresentar seu tema.
Faça uma eleição do melhor tema e discuta a partir dele, com
todo o grupo, as caraterísticas do trabalho científico, definição
de tema e foco.
Solicite que os grupos retomem seus projetos e os aprimorem, a
partir da discussão.
Obs.: O resultado deste trabalho pode ser retomado para o
delineamento do projeto de pesquisa, atividade do próximo capítulo.
Escute no CD Faixa 2 
Tema Rima com Problema
Letra e Música: Rafael Korman
Hey, professor, tem algo me tirando o sono
Me livra, por favor, dessa maldita situação de abandono
Pro meu trabalho eu quero um tema
Mas achar o tema rima com problema
Seria fácil trabalhar assuntos só do meu interesse
Mas quem disse que eu vou saber falar tão bem daquele ou desse?
Como mantenho a minha pilha
Sem cair nessa famosa armadilha?
Você podia bem dizer pra mim qual é o caminho que eu sigo
Quem sabe, mas eu acho que eu não vou querer falar sobre o trigo
Então, você me orienta
E no caminho a gente se complementa
Depois eu só não quero me travar na execução
No tempo, na estatística ou no número de fontes
O tema específico evita alienação
E só um ponto, mas eu sei um monte!
Vai ser ainda ótimo poder organizar os meus dados
Isso se chama foco e todos eles estão relacionados
Fonte, tempo, espaço
E com perspectiva objetiva do que eu faço
Sabendo que não é preciso ser original
Pois métodos de pesquisa bem treinados e sabidos
Garantem solidez ao meu trabalho no final
Com conteúdos bem desenvolvidos
Hey, professor, tem algo me tirando o sono
Vem comigo, por favor, pois desse plano eu sei que sou dono
Pro meu trabalho eu tenho um tema
E fazer um bom projeto é o meu lema
•
•
•
•
 3. O projeto de pesquisa
Ciente do que é a elaboração de um trabalho científico e após a escolha
do tema apropriado, é chegado o momento de se elaborar o projeto de
pesquisa. Ele será uma espécie de esqueleto do trabalho científico, o que
permitirá ao aluno e ao orientador saberem o ponto de partida, o caminho a
ser seguido e em que lugar pretende chegar.
Esse capítulo aborda os passos da montagem do seu projeto,
explorando qual é a sua utilidade e como ele irá ajudá-lo na
execução do trabalho. Após, seguem considerações sobre as
hipóteses da pesquisa e a metodologia que deve ser adotada
para que apareçam os resultados pretendidos. O assunto
seguinte será a definição da “pergunta norteadora” e a sua
relação com o foco do trabalho, seguido da importância do
sumário provisório na estruturação do trabalho. Finalmente,
chega-se ao desafio de encontrar, por nós mesmos, as fontes
bibliográficas que serão utilizadas no trabalho mesmo sem
termos conhecimento prévio do assunto.
a) O que é um projeto de pesquisa?
Um projeto de pesquisa é um documento que contém todos os dados
relevantes para realizar uma futura pesquisa. Ele conterá os seguintes itens:
Título provisório
Tema
Justificativa do tema
Objetivos gerais e específicos
•
•
•
•
•
Hipóteses
Metodologia da pesquisa
Pergunta norteadora
Fontes bibliográficas
Sumário provisório
Os elementos exigidos por diferentes professores e por diferentes tipos
de trabalho variam. Entretanto, todo projeto deve ser capaz de mostrar a
estrutura do trabalho, os pressupostos da pesquisa, os resultados esperados.
Elaborar um projeto de pesquisa envolve reflexão, cuidado e certa dose
de comprometimento com a tarefa a ser desenvolvida. A boa notícia vem
agora: quanto mais bem feito for o projeto, mais fácil, tranquilae natural
será a pesquisa e a execução do trabalho. Vale à pena investir energia nessa
etapa (mesmo que essa não seja a mais demorada), pois já nesse momento
será possível antecipar problemas graves na pesquisa ou, por exemplo, que
o tema é inadequado, ou que falta bibliografia, etc. Com o projeto de
pesquisa em mãos, pode-se enxergar as lacunas da proposta, tendo a
chance de corrigi-las. Trata-se, sem dúvida, de um processo dinâmico, em
que o pesquisador precisa refletir sobre seus interesses, as possibilidades, a
execução, ir modificando suas expectativas iniciais, cortar partes,
acrescentar outras, mudar o foco da pesquisa ou, até mesmo, mudar o tema
completamente, elaborando outro projeto de pesquisa.
Em relação ao título provisório, ele deve dar uma ideia geral
da pesquisa, com referência direta ao tema e, talvez, apontar
para algum resultado que se pretenda obter. É um título
provisório exatamente porque ainda não se executou o
trabalho e o resultado final não está definido. Detalhes sobre
o título definitivo constam no capítulo 5, seção “l”.
Ao se elaborar o projeto deve-se voltar o olhar para o futuro. Empenhar-
se no projeto é um grande passo para realizar um ótimo trabalho.
b) Hipóteses da pesquisa
Logo após dar um título provisório e delimitar o tema, formulam-se as
hipóteses da pesquisa. Hipóteses são afirmações que se deve comprovar ou
descartar ao longo a pesquisa, ou seja, elas representam o que será testado,
o que será posto em questão.
Exemplo: Adotando o tema: “O uso de drogas por
adolescentes entre 12 e 15 anos residentes no bairro
Petrópolis”, as possíveis hipóteses seriam: a) a maioria dos
jovens já experimentou alguma droga; b) a droga mais
consumida é o álcool; c) uma minoria já experimentou
maconha; d) o consumo ocorre nas praças; e) a maioria dos
que se dizem consumidores frequentes estão cientes dos
problemas que a droga pode ocasionar.
Trata-se de uma parte breve do projeto. Se o tema foi bem delimitado,
não será difícil formular as hipóteses. Elas refletirão as expectativas que se
tem com a pesquisa e não interferirão no caráter científico do trabalho: o
importante é que elas sejam postas à prova, sendo confirmadas ou não por
pesquisa bibliográfica ou de campo. Não científico seria transformar as
hipóteses em conclusões sem nenhuma pesquisa. As hipóteses são opiniões
que se candidatam a ganhar um estatuto de conhecimento mais sólido.
Nenhuma será perdida, pois mesmo as rejeitadas trazem consigo o
conhecimento de que não eram adequadas, ou seja, que sua negação é
verdadeira.
c) Metodologia da pesquisa
Após formular as hipóteses, é preciso definir de que modo elas serão
postas à prova. Em outras palavras, é preciso definir qual a metodologia da
pesquisa que se deve adotar. O melhor modo de averiguar alguns dados é
através da pesquisa bibliográfica, principalmente no caso de dados de difícil
acesso ou uso de alguns pressupostos teóricos. Em outros casos, é
imprescindível fazer uma pesquisa de campo com coleta de dados, seja do
ambiente natural, seja da opinião e histórico do grupo humano pesquisado.
O mais importante é que essa metodologia seja adequada para obter os
resultados desejados. Uma enciclopédia utilizada para a pesquisa não
informará quantos jovens do Bairro Petrópolis são usuários regulares de
drogas. Da mesma forma, não se pode, ainda mais em se tratando de
iniciação científica, tentar desvendar que mecanismos neuroquímicos estão
por trás da depressão de adultos que têm perdas familiares importantes.
A metodologia deve conter algo do tipo “serão feitas
entrevistas com 50 pessoas, escolhidas segundo tais e tais
critérios, além de pesquisa bibliográfica e entrevista com um
especialista em neurologia”. Sempre, quanto mais
especificado, melhor. Isso ajudará no andamento da
pesquisa.
d) Pergunta norteadora e foco
A pergunta norteadora é aquela que guia a pesquisa. Ela deve refletir o
interesse principal, é como uma “superhipótese” do trabalho, expressa em
forma de questionamento, por exemplo, “É possível afirmar que os jovens
do bairro Petrópolis estão menos envolvidos com drogas do que os do
bairro Boa Vista?”. Percebe-se, portanto, que a pergunta norteadora é algo
que reflete o enfoque do tema do trabalho. Ela precisa perguntar o que se
quer saber ao final da pesquisa. É a essa pergunta que se deve fazer
referência no início de cada capítulo e analisar os dados apresentados no
final de cada um deles. Tudo no trabalho terá a finalidade de responder a
essa questão.
e) Objetivos gerais e específicos
Para que estudante e orientador enxerguem o todo do caminho proposto
é necessário que constem no projeto de pesquisa as considerações sobre os
objetivos gerais e específicos do trabalho. O objetivo geral será a exposição,
em um parágrafo, do que o aluno pretende demonstrar com sua pesquisa. É
como a organização, em forma de texto, da relação entre o tema, as
hipóteses e a metodologia. O objetivo geral deve conter os conceitos que
serão utilizados no trabalho. Do objetivo geral derivam os específicos, que
podem ser divididos em etapas. Cada uma delas pode ser apresentada em
um parágrafo. Isso permitirá visualizar o modo com que as partes do
trabalho proposto efetivamente se ligam umas às outras. Assim, surgirá uma
espécie de esboço do trabalho, o que ajudará ainda mais a pesquisa e a
elaboração da parte escrita.
f) Sumário provisório
Outra parte bastante útil de um projeto de pesquisa é a primeira ideia do
que será o sumário do trabalho. O exercício de elaborar o número de
capítulos e seus títulos envolve refletir sobre o conteúdo de cada um deles.
É uma maneira rápida e clara de ter uma visão geral do todo que se pretende
realizar. Aliás, após definir os objetivos específicos, pode-se realizar a
tarefa fácil de produzir um sumário provisório, pois os objetivos específicos
podem ser exatamente o que cada um dos capítulos do trabalho precisa
conter.
Um diagrama básico das relações entre os itens constantes do projeto de
pesquisa pode ser visto a seguir:
Figura 1 Diagrama básico dos itens de um projeto de pesquisa.
g) Cronograma
Elaborar um trabalho, de qualquer natureza, envolve a execução de
ações ao longo do tempo. No caso de um trabalho científico, que
geralmente conta um prazo final, faz-se necessário ter controle maior para
garantir que todas as etapas serão executas a tempo. Assim, deve-se montar
um cronograma, que nada mais do que uma listagem das ações necessárias
e o tempo consumido por cada uma. O cronograma permite ao pesquisador
e ao orientador acompanhar se o trabalho está adiantado, atrasado ou no
tempo esperado, programando ações corretivas necessárias. No caso de um
trabalho em equipe, pode-se incorporar ao cronograma quem é o
responsável por cada tarefa. Veja o exemplo.
ETAPA Responsável Conclusão
1. Pesquisa Bibliográfica João 19 de Setembro
2. Entrevistas Maria 26 de Setembro
3. Reunir e organizar dados Felipe 3 de Outubro
4. Redação dos Capítulos João 17 de Outubro
5. Redação da Introdução e Conclusão (Finalização) Felipe 24 de Outubro
6. Elaboração do Pôster Maria 31 de Outubro
É importante notar que o cronograma pode ser mais ou menos detalhado
e que as datas de conclusão das etapas podem ser revistas à medida que as
ações forem realizadas.
h) Fontes bibliográficas: onde encontrá-las
A questão das fontes bibliográficas que serão utilizadas na pesquisa é
algo que pode ser chamado de “intrigante”, porque o jovem pesquisador
precisa encontrar fontes bibliográficas confiáveis e relevantes sobre um
assunto que ainda não conhece com profundidade. Normalmente, é possível
selecionar uma bibliografia somente após um contato maior com a matéria,
não antes. Como saber se um livro sobre o assunto é melhor do que outro se
nenhum deles foi lido? Como saber o nome dos pesquisadores e autoridades
no assunto se não se tem conhecimento sobre o assunto em que são
especialistas?
O desafio parece similar ao de descrever os principais pontos turísticos
de uma cidade que nunca se visitou. De fato, é bastante similar. De que
modosaber, antes de chegar à cidade, quais são os seus principais pontos
turísticos? Simples: conversando com quem já foi à cidade, visitando uma
agência de viagens, um balcão com informações turísticas, procurando no
Google, e, assim, reunir informações suficientes para elaborar um roteiro.
O mesmo ocorre no caso da pesquisa bibliográfica. Deve-se
procurar em livrarias, bibliotecas e falar com pessoas que
conhecem o assunto para saber quais livros estão
disponíveis. É preciso ir à procura da informação. A internet
pode ser de grande ajuda, pois ela permite a pesquisa em
livrarias e bibliotecas ao redor do mundo! A existência dessa
rede mundial de computadores faz com que não exista
desculpa para não se conseguir muita e boa informação sobre
uma enormidade de assuntos.
Ao se acessar a página de alguma universidade tem-se à disposição a seu
sistema de bibliotecas. Do mesmo modo que se faz no Google, digita-se o
assunto, o nome de um autor, algumas palavras-chave e, caso se encontre
algum título que interesse, pode-se até ir ao local e, se possível, retirar o
livro. Vale lembrar que as bibliotecas, normalmente, são espaços de
visitação pública. De qualquer forma, nessa pesquisa por assunto é possível
encontrar obras necessárias ao projeto de pesquisa.
Muitas vezes, tem-se a impressão de que se dispõe de pouca bibliografia
— apenas uma reportagem ou um livro. No entanto, eles devem conter
notas de rodapé ou algum tipo de indicação de outras obras. Essas outras
obras contêm mais notas de rodapé ou bibliografias completas nas últimas
páginas. Porém, apenas uma pesquisa na internet não resolverá o problema
com a bibliografia.
Dicionários e Wikipédia são bons, mas insuficientes. Eles
são úteis para que se conheçam autores, palavras-chave e
assuntos correlatos, informações que conduzam o
pesquisador às bibliotecas e às livrarias em busca das obras
necessárias. As informações na internet, em alguns casos,
tratam de assuntos específicos. Em geral, são apenas
resumos ou um relato sobre determinado assunto. Isso é
pouco para uma pesquisa que pretende consolidar opiniões.
No seu projeto de pesquisa, procure listar as fontes que considerar úteis
para a execução do trabalho.
i) Escolhas teóricas no TCC
Grande parte das observações feitas nesse capítulo não se aplica somente
a trabalhos de iniciação, mas a qualquer trabalho científico. Como o
caminho natural de uma pesquisa é desenvolver-se e tornar-se um trabalho
não apenas de iniciação, mas uma pesquisa acadêmica substancial, cabe
fazer uma observação sobre a fase seguinte à iniciação científica, a
elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ou Monografia,
requisito parcial para obtenção do diploma de bacharel nas diversas áreas.
Nesse caso, será preciso construir um projeto de pesquisa mais elaborado.
Lembre-se que esta seção se aplica ao pesquisador já iniciado.
É preciso assinalar uma diferença importante entre a
iniciação científica e trabalhos que exigem maior
profundidade e fôlego, por exemplo, o TCC. Essa diferença
estará presente na escolha do tema, mas se faz sentir
concretamente na elaboração do projeto de pesquisa (por
esse motivo, esse assunto encontra-se neste capítulo), com
reflexos evidentes na escolha da bibliografia utilizada. É o
que pode ser denominado de “escolhas teóricas” feitas na
abordagem mais aprofundada de um tema de pesquisa.
O pesquisador não aborda um tema de pesquisa como quem descobre
um continente: seu olhar baseia-se em conhecimentos e teorias existentes
que se relacionam com o tema de diversas maneiras. Então, quando se
escolhe um tema, um enfoque e se passa para a construção de um projeto de
pesquisa mais elaborado, é preciso estar ciente de que essa escolha ocorre a
partir de determinado ponto de vista. Há vários modos de se tratar um tema
e, para cada um, há diversos autores que discutem o que consideram ser
mais relevante. Assim, é fundamental determinar a questão a ser
considerada, o que significa delimitar o pano de fundo da pesquisa.
Isso pode parecer um tanto abstrato, mas pode-se
exemplificar: caso se escolha o tema “sexo”, o modo de
percebê-lo varia segundo a cultura de cada sociedade, uma
perspectiva mais biológica ou mais psicológica, com
finalidade descritiva ou de prevenção de doenças e gravidez
na adolescência, etc. Esse tema pode ter diferentes
significados, e a pergunta “quais são os requisitos para uma
relação sexual?” pode provocar diversas respostas a partir do
pano de fundo delimitado. As respostas serão evidentemente
diferentes porque a pergunta, aparentemente a mesma,
adquire diferentes significados se feita dentro de contextos
diversificados. As respostas dadas ou omitidas pelos autores
revelam diferentes “culturas” no campo teórico, que os
levam a ter diferentes preocupações e métodos.
No caso de um projeto de pesquisa elaborado com vistas à produção de
um TCC, precisa-se estar ciente das escolhas teóricas, do pano de fundo das
indagações, para evitar perguntas deslocadas e comprometer a pesquisa. Se
o interesse do pesquisador dentro de um tema não for semelhante ao dos
autores escolhidos na bibliografia, isso pode limitar o pesquisador ou, até,
impossibilitá-lo de construir o tão necessário diálogo com as fontes. Isso
não quer dizer que se precise repetir o que outros já disseram, longe disso.
O que precisa ocorrer é uma adequação no nível das preocupações, na
relevância dos pontos levantados entre o pesquisador e as fontes.
A importância das escolhas teóricas que se faz em uma
pesquisa mais densa, assemelha-se, então, ao problema de
encontrar o foco do tema. A diferença é que o nível dessa
preocupação, nesse caso, chega a ser mais decisiva pela
intenção de aprofundar a pesquisa no TCC. Se o que for
pretendido é mais do que um estudo panorâmico que
demonstre habilidades instrumentais de pesquisa, é
necessário ter a precisa consciência das escolhas teóricas
realizadas. Salienta-se, porém, que essa é uma questão mais
relacionada ao TCC do que à iniciação científica.
***
Bem, o projeto está pronto. Ficará evidente nos capítulos que se seguem
a importância de cada etapa do projeto para o sucesso do trabalho. Cada
uma delas tem uma razão de ser, não é algo em vão para tomar o tempo do
aluno. Ao executar cada uma delas com dedicação, tudo correrá bem.
Passar por cima de alguma delas é prejudicial, pois, em uma etapa mais
avançada do processo, será necessário correr atrás do que se deixou de
fazer.
Portanto, é preciso dedicar-se ao projeto de pesquisa, voltar a ele
quantas vezes for necessário, e completá-lo à medida que se avança
na pesquisa e na elaboração do trabalho escrito. Assim, o projeto se
converterá em um recipiente no qual tudo o que foi coletado e
relacionado será armazenado, até que se torne no trabalho final.
Para o professor
 Sugestão de atividade
Retome o resultado da atividade anterior, propondo que os
grupos façam o projeto de pesquisa a partir do tema.
Obs.: Se você está trabalhando no desenvolvimento de projetos
de pesquisa individuais, pode ser uma boa ideia discutir com o
grupo, a partir do tema e projeto de pesquisa escolhido, a
possibilidade de desdobrá-lo em 3 ou 4 subprojetos
independentes (um para cada aluno), mas complementares.
Escute no CD Faixa 3 
Projeto de Pesquisa
Letra e Música: Rafael Korman
Como um esqueleto que sustenta o corpo humano
Antes da pesquisa eu preciso ter um plano
Ponto de partida, um caminho pra trilhar
E que no final me mostre onde eu vou chegar
Um projeto de pesquisa me traz dados relevantes
Pra que no futuro eu prove o que não sabia antes
Quanto mais bem feito o projeto, mais tranquila a execução
Penso agora, pra depois não escrever nada em vão
Título, hipóteses, metodologia
Pergunta norteadora, objetivos gerais e específicos
Sumário provisório, cronograma, fontes de onde eu buscaria
Esses são os passos de projetos dos trabalhos científicos
Hipóteses são afirmações que eu comprovo ou descarto
Refletem as expectativas, pra saber de onde eu parto
E eu ponho estas à prova com a metodologia
Adequada ao meu caso prater o que eu gostaria
A pergunta norteadora vai guiar
Refletir o interesse principal
Pra depois ter o objetivo geral
E dele os específicos tirar
Título, hipóteses, metodologia
Pergunta norteadora, objetivos gerais e específicos
Sumário provisório, cronograma, fontes de onde eu buscaria
Esses são os passos de projetos dos trabalhos científicos
Capítulos e títulos eu esboço no sumário
Provisório só pra eu enxergar todo cenário
Com o cronograma pra cumprir cada etapa
Tendo um bom controle, eu sei que nada me escapa
Boas fontes bibliográficas são tudo
Livros ou especialistas pra ajudar você
Internet bem usada no estudo
Se aplica até no TCC
Título, hipóteses, metodologia
Pergunta norteadora, objetivos gerais e específicos
Sumário provisório, cronograma, fontes de onde eu buscaria
Esses são os passos de projetos dos trabalhos científicos
 4. A pesquisa
A pesquisa é o momento central para qualquer trabalho científico. O
motivo é evidente: nela se encontram dados, fatos, informações e
conhecimento de especialistas para fundamentar a tese que se quer
defender. A pesquisa permitirá que a opinião inicial seja solidificada pelo
material da experiência direta (a pesquisa do aluno) ou indireta (fornecido
por outros pesquisadores).
Neste capítulo, será abordado o modo de fazer a pesquisa, a
qual redundará na elaboração final do trabalho, de maneira
natural e eficiente. A internet e o Google podem ser
traiçoeiros e não resolverem todos os problemas que surgem
no decorrer da pesquisa. Além disso, citam-se os diversos
passos da pesquisa, começando pelas suas etapas a
preparação, a coleta de dados e a sua interpretação. A
pesquisa de campo, feita pelo próprio autor do trabalho, será
o assunto da quarta seção. O assunto da seção seguinte serão
as entrevistas com especialistas, sua utilidade e limitação.
Chega-se, então, ao assunto pouco comum para o aluno:
como fazer uma pesquisa bibliográfica que atenda aos
requisitos científicos. Finalmente, analisa-se o significado
dos dados coletados.
a) Por onde começar a pesquisa?
Com o projeto em mãos, se está apto a começar a pesquisa. Pode-se ficar
meio ansioso ou um pouco perdido no início. Afinal, deve-se coletar os
dados em que ordem? O que fazer ao chegar a um resultado? Anota-se o
resultado em folhas separadas, fala-se com o orientador? Como se faz para
que o projeto de pesquisa saia do papel e se transforme em uma pesquisa?
A resposta a essas perguntas é que não existe ordem definida para
coletar os dados. Se o projeto de pesquisa estiver correto, nele deve constar
a metodologia a ser utilizada para testar as hipóteses formuladas. Assim, o
que se deve fazer é a pesquisa, é ir atrás de dados que coloquem à prova as
hipóteses. Em que ordem? Isso não pode ser dito de antemão. Muitas vezes,
depende de uma escolha arbitrária; outras, do fato de algumas fontes
estarem mais à disposição. O fato é que se deve começar a pesquisa o
quanto antes, porque ela pode durar mais do que o esperado. É preciso
colocar a mão na massa e começar a coleta dos dados.
b) Google
O Google, inegavelmente, é uma ferramenta fantástica. Pode-se ficar
fascinado com a facilidade de encontrar, em centésimos de segundo, em
qualquer lugar, informações sobre qualquer assunto, com textos, imagens e
outras mídias. É uma tentação julgar que o Google é a solução de todos os
problemas, principalmente ao se fazer uma pesquisa que não envolva
pesquisa de campo. Cuidado!
Como já foi dito na última seção do capítulo anterior, Google, Wikipédia
e similares são pontos de partida possíveis de uma pesquisa. Enfatiza-se:
“pontos de partida possíveis”. Eles podem informar rapidamente o que é
básico sobre um assunto, mas não permitem que se vá muito além. Limitar-
se a eles é prender-se apenas a definições sobre os principais conceitos e
algumas linhas de respostas às questões que se precisa responder. Portanto,
use o Google conforme foi indicado na seção do capítulo anterior sobre as
fontes bibliográficas: para saber um pouco mais sobre o assunto, conhecer
palavras-chave, descobrir autores e nomes de livros que tratam do tema
pesquisado. Esse é o ponto de partida de sua investigação.
É impossível falar em Google sem tocar em um assunto desconfortável:
a tentação de copiar, recortar e colar partes ou até a totalidade de textos
encontrados na internet. Não se deve fazer isso. Mesmo sem mencionar a
parte óbvia de violação de direitos autorais e problemas éticos relacionados,
há um motivo suficiente: isso é, literalmente, um vício. Não produzir o
•
•
•
próprio trabalho, ou uma parte significativa dele, é algo que vicia e há
dificuldade de livrar-se desse vício.
Quando não há esforço em aprender a pesquisar, buscar informações e
organizá-las, perde-se a autonomia. Ao agir assim, o aluno se torna
dependente do que está disponível, do que outros dizem, do que é fácil e
imediato, e isso gera uma limitação crucial em uma sociedade em que há
informação tão vasta. A chance de aprender a produzir (e não apenas
utilizar) conhecimento é algo que não tem preço, pois essa é uma habilidade
absolutamente decisiva.5 É uma verdadeira estupidez – desculpem a palavra,
mas é exatamente isso – perder a chance de produzir um trabalho de
iniciação científica.
É difícil livrar-se do vício de copiar e colar? Sim, mas enfrentar esse
tipo de dificuldade é exatamente o que gera o aprender, o que faz
com as pessoas estejam mais preparadas e capazes de superar mais e
mais obstáculos. Enfrente pois, esse desafio! Copiar e colar é o
legítimo caso em que o barato sai caro.
c) Etapas da pesquisa
Pode-se distinguir claramente três etapas de uma pesquisa:
preparação;
coleta de dados;
sua interpretação.
A preparação é importante para que a pesquisa ocorra exatamente do
modo como se a programou, é condição para que seja eficaz. Ao se elaborar
os passos de uma entrevista, selecionam-se, previamente, algumas
perguntas; ao se fazer a pesquisa bibliográfica, é preciso definir que tipo de
informações se deseja encontrar; caso seja uma pesquisa de campo,
estimase quanto tempo levará para que se tenha em mãos o material
necessário. É uma maneira de evitar a necessidade de repetir a coleta de
dados e de fazer interpretações sem validade.
É preciso estar atento, também, à diferença entre coletar dados e
interpretá-los.
Coletar é reunir os dados crus, tal como surgem de pesquisas de opinião,
de uma entrevista, de um parágrafo de um livro especializado.
Um exemplo: 56% dos jovens entrevistados para uma
pesquisa dormem entre 6 e 8 horas por noite; 28% dos
jovens entrevistados dormem menos de 6 horas por noite,
complementando o sono durante o dia; 16% dormem mais de
8 horas por noite.
Interpretar é trabalhar com essa informação crua, explorando suas
possíveis relações com outras informações coletadas, constatando, afinal, se
a hipótese construída foi confirmada, refutada ou não pode ser testada pela
metodologia adotada.
Por exemplo: “Considerando-se os dados obtidos, conclui-se
que uma parte considerável dos alunos não dorme o número
de horas mínimas recomendadas pelo especialista
entrevistado”. Ao final da pesquisa, os dados poderão ser
cruzados e as interpretações poderão ser mais ousadas, por
exemplo, relacionando os dados sobre o sono dos alunos e o
seu rendimento escolar.
d) Pesquisa de campo
Na pesquisa de campo, além da relevância da etapa da
preparação, deve-se estar atento, principalmente, à seguinte
questão: os dados a serem coletados serão capazes de
auxiliar na resposta da pergunta norteadora do projeto de
pesquisa?
É comum que jovens pesquisadores façam, por exemplo, pesquisas de
opinião sem se importar com o modo de escolher os entrevistados. Isso
poderá acarretar uma distorção dos dados, provavelmente significativa. Um
exemplo extremo seria fazer uma pesquisa sobre a importância do futebol
no cotidiano das pessoas indo a um estádio de futebol, quando a intenção
era pesquisar a opinião geral da população.
Há um caso verídico de estudantes de veterinária que colocaram
dispositivos, espécie de sacos plásticos, nagarganta de cabras que viviam
livremente para descobrir dados sobre sua alimentação no período de seca.
Não é preciso muito para perceber que esse dispositivo interferiu
grandemente na alimentação normal das cabras, o que obviamente
inutilizou os dados.6
Entretanto, existem diversos casos menos gritantes de coleta de dados
inadequada em pesquisas de campo. Os problemas se ligam à tarefa nada
trivial de escolher amostragens que efetivamente representem o objeto de
estudo analisado, ou seja, escolher um grupo relativamente pequeno de
dados que corresponda ao todo adequadamente.
Em pesquisas científicas de laboratórios credenciados, por exemplo, um
mesmo experimento é repetido à exaustão para se chegar à conclusão de
que determinada substância é saudável ou não. Essa é uma dificuldade real
da pesquisa de campo. Em dúvida, convém pedir ajuda do orientador. Será
uma grande oportunidade de aprendizado.
e) Entrevistas
As entrevistas podem ser uma maneira de tornar dinâmica a coleta de
dados que muitas vezes poderia ser feita mediante pesquisa bibliográfica;
outras vezes, não. Elas consistem em entrevistar um especialista na área ou
alguém que efetivamente conheça o tema sobre o qual se decide pesquisar.
Neste caso, a história de um morador de rua pode revelar uma trajetória de
vida, uma gama de problemas sociais e esboçar soluções efetivas para o
problema da exclusão. Esse relato será efetivamente original, não constará
em nenhum livro pesquisado e estará plenamente de acordo com a realidade
que se tem na experiência diária. Essa pesquisa com um morador de rua,
por centrar-se no estudo de um caso específico, denomina-se “estudo de
caso”.
A dificuldade na entrevista é encontrar uma pessoa que tenha a
autoridade que precisamos para servir como uma fonte confiável, alguém
que tenha formação específica ou que trabalhe com o tema. Além dos
contatos pessoais — universo muito restrito — é possível entrar em contato
com universidades, associações, fundações e profissionais envolvidos com
a questão. Esse é o caso típico em que a internet — ou mesmo uma lista
telefônica — pode ser de enorme valia.
Para estabelecer o contato inicial, deve-se dar preferência ao telefone,
por ser mais ágil. É importante deixar a timidez de lado, ligar, identificar-se,
perguntar quando e onde o entrevistado pode ceder cinco ou 10 minutos
para uma entrevista. Deve-se elaborar algumas perguntas, mas não se deter
nelas. Se for um assunto polêmico, é interessante ouvir mais de um ponto
de vista.
Na hora da entrevista, não esquecer de usar um aparelho de
áudio para gravar a entrevista e, também, de perguntar se o
entrevistado permite a gravação. Após a entrevista,
transcrever de imediato a gravação.
f) Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica tende a ser uma etapa difícil. Como se faz para
encontrar as informações que se deseja em livros que, somados, chegam a
centenas (ou até milhares) de páginas? Simplesmente não há tempo para
tanto. Além disso, sem um estudo prévio, como identificar, no texto, as
informações relevantes?
Com dificuldades desse calibre surge a tentação de transcrever
literalmente textos ou de copiar e colar da internet. Não se pode ceder a essa
•
•
•
•
tentação. A dificuldade é real, mas pode-se contorná-la, dando-se atenção à
etapa de preparação, tendo-se os livros na mão e não apenas sabendo o
título deles.
Recomenda-se reunir a maior quantidade de material que
possa estar relacionado diretamente à pesquisa. Além disso,
é importante ter clareza da pergunta que se deseja fazer ao
texto e da informação precisa que se deseja encontrar.
Para realizar uma boa pesquisa bibliográfica, organizando referências e
citações dos autores, é fundamental que se vá aos livros, lendo-se
atentamente o sumário de cada um, em busca de alguma seção ou capítulo
que trate exatamente do tema a ser pesquisado.
Caso se encontre algum item com essas características, deve-se lê-lo
com atenção, anotando-se as referências a outras obras que possam
encaixar-se na pesquisa.
Não encontrando o desejado nesse item, deve-se ler a introdução, a
conclusão e, após, alguns capítulos em busca das palavras-chave que
se deseja encontrar. Não obtendo sucesso, pode-se eleger um texto
aleatório para ler com mais vagar, a fim de conhecer um pouco mais
sobre a matéria e encontrar mais facilmente o que se procura.
Outros pontos a serem considerados na escolha de referenciais e
citações, dentro da pesquisa bibliográfica:
As informações buscadas nas obras que servem de fonte não precisam
ser todas profundas e grandiosas. Às vezes, pode ser a definição de
uma doença ou a opinião do autor sobre o tema pesquisado. “Eu acho
esse assunto escandaloso, porque põe em risco as instituições políticas
do Brasil”: pronto, é isso o que se buscava nesse autor.
Caso se acredite que a opinião geral é a de que mais pessoas se
afogaram no ano passado em rios e lagos do que no mar, busca-se
uma frase de um especialista, ou de uma entrevista com um deles que
diga: “No ano passado, mais pessoas se afogaram em rios e lagos do
•
•
•
que no mar”. É evidente que, dependendo do caso, parte de alguma
obra deva ser compreendida integralmente, de modo aprofundado.
Nesse caso, os dados coletados na pesquisa bibliográfica serão os
parágrafos mais importantes para a compreensão do texto.
Os dados bibliográficos devem ser anotados da seguinte forma: nome
do autor, título do livro, número da página e o ano de edição.
Se o trecho for pequeno, deve ser transcrito provisoriamente em
material a parte, com o objetivo de reunir em um mesmo local todos
os trechos que serão utilizados no trabalho escrito. Posteriormente,
todos ou alguns deles poderão ser inseridos no texto na forma de
citação direta, conforme for conveniente, e ajudar na argumentação
do trabalho.
Se o trecho for mais extenso, faz-se um resumo ao invés da
transcrição, sempre com as referências descritas acima (autor, livro,
página, ano), para que não se perca a informação encontrada a tanto
custo, pois a memória não é confiável o suficiente. Posteriormente,
todos ou alguns destes resumos poderão ser inseridos ou adaptados no
texto do trabalho, sob a forma de citação indireta, para auxiliar na
argumentação.
No caso de não se encontrar nenhuma fonte bibliográfica
(incluindo pesquisas na internet, em sites de livrarias e de
bibliotecas universitárias), deve-se mudar de tema ou de
enfoque, refazendo parte do projeto. Isso é algo natural. Não
há porque se preocupar.
g) Resultados: provisórios ou definitivos?
Ah, então se obteve os resultados desejados! O fato é que a busca de
dados no mundo é infinita. Pode-se passar a vida inteira coletando e
organizando informações sobre o mundo, tentando conhecê-lo mais e mais
(será que efetivamente não se faz isso ao longo da vida?). Assim, cabe
perguntar, depois do término da pesquisa, de acordo com o previsto no
projeto, se não é preciso fazer algo mais. É provável que sim. Mas também
é verdade que pode ocorrer o contrário: perceber que já se tem tudo o que se
precisava sem, com isso, esgotar todas as fontes de pesquisa selecionadas.
***
Em qualquer caso, deve-se perguntar constantemente sobre a adequação
dos resultados às hipóteses e ao tema.
Pode-se considerar que os resultados obtidos nunca são definitivos, pois
sempre sobra uma parte da realidade que não foi absolutamente conhecida.
Então, mesmo que se esteja satisfeito com os resultados obtidos, é
importante tratá-los como resultados provisórios no item Conclusão, ao se
elaborar o trabalho escrito. É preciso estar consciente de que a elaboração
do trabalho esclareceu diversas questões, mas há outras, sempre, a serem
esclarecidas. Talvez algumas delas devam ser respondidas para que o
trabalho ganhe a consistência desejada.
De posse dos dados da realidade, capazes de converter o que era
uma opinião em um conhecimento mais estabelecido, falta, ainda,
consolidá-los em um trabalho escrito claro, coerente e bem
organizado. Sem esse próximo passo, o conhecimento que se
adquiriu e que está fragmentado em anotações

Mais conteúdos dessa disciplina