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Conceito 1. Poder Constituinte pode ser conceituado como a manifestação soberana da suprema vontade política de um povo, social e juridicamente organizado, que cria ou atualiza uma determinada Constituição mediante supressão, modificação ou acréscimo de normas constitucionais. 2. Sylvio Motta demonstra que o motivo para a construção da teoria do Poder Constituinte, elaborada por Sieyès, era “a necessidade de conferir legitimidade ao exercício do poder. As monarquias até então reinantes, principalmente na Europa, fundavam-se no Direito divino e no Direito hereditário. Tais bases ideológicas perderam seu valor como justificativa para o exercício do poder com a ascensão social da burguesia. Fazia-se necessário, pois, reconstruir ideologicamente seus fundamentos, a fim de conferir-lhe legitimidade. Foi a isto que se prestou a teoria do poder constituinte: assentou as novas bases de legitimidade, definindo um novo titular do poder e um novo fundamento para o seu exercício: não mais Deus (representado pelo monarca), mas a nação como titular; não mais a vontade divina, mas a razão humana como fundamento. Poder constituinte legítimo e poder constituinte usurpado 1. Poder Constituinte legítimo é aquele em que o exercício se qualifica pela formação de uma Assembleia Nacional Constituinte. O povo escolhe seus representantes que formam o órgão constituinte incumbido de elaborar a Constituição do tipo promulgada. 2. Poder Constituinte usurpado é quando o estabelecimento da Constituição se dá por um indivíduo, ou grupo líder do movimento revolucionário que o alçou ao poder, sem a participação popular. A constituição nesse caso é outorgada. Titularidade e exercício 1. A titularidade do poder constituinte pertence ao povo. 2. No poder constituinte usurpado o exercício pertence ao titular do poder político; no poder constituinte legítimo o exercício se dá pela Assembleia Nacional Constituinte. Espécies de Poder Constituinte O Poder Constituinte subdivide-se em originário, derivado, difuso e supranacional. Poder Constituinte originário 1. Conceito: é aquele que cria a Constituição de um novo Estado. Não deriva de nenhum outro poder, não sofre qualquer limitação na órbita jurídica e não se subordina a nenhuma condição, por tudo isso é considerado um poder de fato ou poder político. 2. Limitações extrajurídicas: serodem ser ideológicas, institucionais ou substanciais. · Ideológicas. São limites decorrentes da influência dos grupos de pressão. · Institucionais: consagra institutos sociologicamente reconhecidos pela comunidade (a família, a propriedade, a educação, etc.). · Substanciais: podem ser de três tipos. 1) transcendentes: dizem respeito aos direitos fundamentais. 2) imanentes: dizem respeito aos assuntos que consubstanciam a identidade do Estado (República Federativa). 3) heterônomas: condicionam o exercício do Poder Constituinte originário às normas de Direito Internacional. 3. Poder constituinte originário histórico e poder constituinte originário revolucionário · Poder constituinte originário histórico: é aquele que edita a primeira Constituição do Estado. Ex.: Constituição Imperial Brasileira de 1824. · Poder constituinte originário revolucionário: é aquele posterior ao histórico. Exemplo: a elaboração da Constituição Republicana de 1891 e das Constituições Brasileiras subsequentes. 4. Características do Poder Constituinte originário · Inicial: inaugura uma nova ordem jurídica; · Autônomo: não se submete a nenhum outro poder; · Ilimitado (sob a ótica jurídica): não está limitado pelo Direito anterior; · Incondicionado: não está submisso a nenhum procedimento de ordem formal; · Permanente: não se esgota no momento do seu exercício, já que não desaparece após a realização de sua obra (a Constituição). O seu exercício permanece em estado de latência, manifestando-se em caso de convocação de nova Assembleia Nacional Constituinte ou algum outro ato revolucionário. Poder constituinte derivado 1. Características. · Derivado: deriva de outro poder que o instituiu (o Poder Constituinte originário), retirando dele sua força; · Subordinado: encontra limitações no texto constitucional (exemplo: cláusulas pétreas); · Condicionado: seu exercício obedece às regras formais do devido processo legislativo constitucional (exemplo: art. 60). 2. Poder Constituinte derivado reformador. Poder de editar emendas à Constituição. 3. Poder Constituinte derivado decorrente: é a capacidade dos Estados-membros/Distrito Federal, unidades da federação, de elaborarem as suas próprias Constituições/Lei Orgânica. 4. As constituições dos Estados-membros devem observar os princípios constitucionais sensíveis, os princípios constitucionais organizatórios e os princípios constitucionais extensíveis. · Princípios constitucionais sensíveis encontram-se arrolados no art. 34, VII; · Princípios constitucionais organizatórios (ou estabelecidos) são elencados na Constituição Federal para regular a organização política, social e econômica da União e dos Estados-membros, devendo, portanto, ser refletidos nas Constituições Estaduais (exemplos: repartição de competências, sistema tributário nacional, organização dos Poderes, direitos políticos, nacionalidade, direitos e garantias individuais, etc.; · Princípios constitucionais extensíveis são regras de organização da União que também são de cumprimento obrigatório pelos Estados-membros, como o processo legislativo 5. A atual Constituição atribuiu aos Municípios um status diferenciado do que antes era previsto, considerando-os verdadeiros entes federativos com capacidade de auto-organização por meio de Leis Orgânicas. No entanto, é imperioso destacar que, neste caso, não se trata de Poder Constituinte derivado decorrente, mas mera possibilidade de auto-organização (doutrina majoritária). 6. Poder Constituinte derivado revisor. Possibilidade instituída pelo Poder Constituinte originário de ser realizada uma ÚNICA revisão, após 5 anos da promulgação da CF/1988. Poder Constituinte difuso e supranacional 1. Poder Constituinte difuso. É quando se atribui novo sentido às normas constitucionais, sem alteração de texto. 2. Poder Constituinte supranacional. Não é admitido no Brasil, é o poder de criar instituições supranacionais, pautadas na vontade de integração, que acabam por relativizar a soberania dos Estados (é o que acontece com a União Europeia). DUTRA, Luciano. Direito constitucional essencial. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
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